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Cabeçalho
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Ementa
O presente parecer trata do caso da Empresa Carnes para a Família, onde fora
apontado pela auditoria interna que ocorreu alimentação do rebanho com ração vencida.
Para a análise das funções e posicionamento da auditoria interna e da alta direção,
buscou-se esclarecer conceitos e finalidades de auditoria interna, controladoria e compliance.
Após breve narrativa dos fatos que causaram o impasse entre a alta direção e o auditor interno,
temos a análise das funções desempenhadas pelo auditor e pela empresa como empregadora,
bem como a análise da atuação da alta direção, com base em princípios do Compliance e da
governança corporativa.
A fim de esclarecer sobre a recomendação final, a de incremento na estrutura da
empresa, o parecer ainda aborda as semelhanças e diferenças entre as funções de auditoria
interna e do responsável pela área de compliance (compliance officer), além de considerações
relacionadas à independência da atuação dessas funções em relação a outros setores da empresa.
Por fim, destaca-se a importância de haver uma revisão de posicionamento e de
priorizações nas decisões da Alta Direção, com medidas para mitigar riscos, atrelando um
programa de Compliance, controles internos e auditoria, a fim de compor um conjunto de defesa
contra condutas irregulares, atos contrários à moralidade, à missão e aos valores cultuados pela
organização.
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Relatório
A Empresa Carnes para a Família é líder de mercado, atuando no mercado de
produção e distribuição de carnes. Para tornar-se líder de mercado, uma empresa deve, entre
outros fatores, oferecer produtos ou serviços de qualidade e, assim, satisfazer seus clientes.
Assim, sua imagem e reputação tornam-se favoráveis e positivamente destacadas em seu ramo
de atuação.
Como empresa estruturada, Carnes para a Família possui setor responsável pelas
auditorias no âmbito interno, para o exame de aspectos contábeis, financeiros, operacionais, de
pessoal e de controle. Após conclusão de um exame, seu colaborador Sr. José, na função de
auditor, constatou que a ração fornecida aos animais de seu rebanho estava com a data de
validade expirada.
Com isso, o Sr. José encaminhou o relatório para a Direção da Empresa, fazendo
constar a legislação que prevê que os animais dos rebanhos devem ser alimentados com ração
adequada, sendo uma inconformidade o uso de ração “vencida”, além de implicar diversos
riscos.
A Direção, por sua vez, informou ao Sr. José que tinha conhecimento prévio do
fato. Comentou que a ração foi adquirida com data de validade próxima ao vencimento, mas
que decidiu prosseguir com a compra por ter obtido preço menor na negociação, baixando os
custos de sua produção. A Direção ainda “lembrou” ao Sr. José que, apesar de estar no setor de
auditoria, ainda era funcionário da empresa e que não tocasse mais nesse assunto.
De acordo com esses relatos, é suposto que a Direção tenha considerado como baixo
o risco à saúde dos animais e dos consumidores, e visou ao aumento de margem de lucro, ao
adquirir, com preço menor que o de costume, um lote de ração com data de validade próxima
ao vencimento.
Em contrapartida, o Auditor observou, primeiramente, suas atribuições. Considerou
a legislação que dispõe sobre alimentação do gado de corte e os riscos decorrentes. Em paralelo,
recebeu alerta da alta direção para não prosseguir com medidas inerentes à irregularidade
observada, entendendo sua condição de funcionário da empresa e o risco de ser demitido.
Diante dessa situação, há um impasse entre o posicionamento da alta direção e o do
auditor interno. Com base nos conceitos e princípios inerentes às atividades de auditoria interna,
governança corporativa e Compliance, este parecer visa a esclarecer aspectos importantes para
nortear as melhores decisões e condutas inerentes à administração da Empresa e à sua
sustentabilidade no mercado.
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Fundamentação
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Sobre o Compliance, trata-se de um conjunto de práticas e conceitos para prevenir
corrupção, por meio de condutas e práticas mais aderentes a leis e regulamentos. Com o
lançamento da Lei nº 12.846/2013, a chamada Lei Anticorrupção, o Brasil importou o
Compliance das normas americanas contra corrupção. Segundo Manzi (2008), o Compliance
refere-se a estar em conformidade, a alinhar a execução de atividades aos regulamentos internos
e externos de uma organização, além de buscar a minimização de riscos.
Destaca-se a necessidade de existir setor de Compliance, positivada pela Lei
12.846/2013, na estrutura das organizações, dentro do qual o Compliance Officer será o agente
responsável pela sua implantação e pelo acompanhamento de seu funcionamento. Giovaninni
(2017) tece considerações sobre a escolha desse agente, a qual deve, pela relevência do cargo,
considerar qualidades como boas habilidades de comunicação, alto conhecimento sobre as
rotinas da organização e de sua normatização, a fim de cotejá-las com os aspectos técnicos de
Compliance, determinantes para o sucesso da empresa.
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integridade, adequação, eficácia e economicidade dos processos. Dessa forma, ao estruturar a
auditoria interna, sendo um importante fator de defesa e controle de riscos, a Empresa
demonstrou algum cuidado com a proteção de seu negócio e com gerenciamento de riscos.
Análise da atuação da alta direção com base nos princípios do Compliance e também
da governança corporativa
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os citados princípios de governança corporativa, ao priorizar o lucro em detrimento do risco ao
bem estar de seus clientes.
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ou subordinação a outras áreas com trabalhos que serão objetos de suas verificações, tendo em
vista eventuais conflitos de interesse. O auditor interno deve assessorar a alta administração,
mantendo-a informada de detalhes referentes à legalidade e eficiência das operações, com vistas
a subsidiar melhores decisões.
Maffei (2015) reforça que o sucesso e qualidade dos trabalhos de auditoria interna
dependerão, além da qualidade profissional da pessoa do auditor, da isenção de sua relação
pessoal com assuntos e colaboradores que produzem o objeto de seus exames.
Dessa forma, no presente caso, não pode haver previsão de o Sr. José dever
obediência a outros gestores da Empresa, pela possiblidade de haver influência indevida por
interesses próprios ou de outros companheiros de empresa.
Mas essa subordinação não pode ser utilizada pela alta direção como trunfo, para
exercer influência ou pressionar o auditor para ocultar ou alterar resultados que possam
interferir na sustentabilidade da organização, como verificado no caso ora analisado. Isso iria
contra os princípios de governança corporativa.
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Já a independência do compliance officer, segundo Azevedo et al. (2017), teria uma
independência num grau menor, em comparação ao do auditor interno. Os autores indicam três
linhas de defesa das organizações, onde o compliance encontra-se na segunda e a auditoria
interna, na terceira. Assim, o compliance officer deve se reportar, além da alta direção, aos
gerentes operacionais, relatando sobre todas as verificações que podem impactar negativamente
a consecução de fases de produção e os objetivos da empresa.
Nesse sentido, o compliance officer deve contar com apoio da alta direção e
trabalhar de forma harmônica com os setores operacionais e demais áreas da empresa. Sua
independência será refletida no respeito às suas recomendações e à sua liberdade de atuação,
podendo também ser percebida com a ausência de conflitos de interesses e de pressões exercidas
por outros setores, gerentes ou a alta direção da organização.
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Considerações finais
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Referências bibliográficas
______.IFAC. Página institucional. Disponível em: <www.ifac.org>. Acesso em: 01 Nov.
2020.
MAFFEI, José Luiz. Curso de auditoria: introdução à auditoria de acordo com as normas
internacionais e melhores práticas. São Paulo: Saraiva, 2015.
MANZI, Vanessa Alessi. Compliance no Brasil. São Paulo: Saint Paul, 1ª Ed, 2008.
PELEIAS, Ivan R. Falando sobre Controle Interno. Boletim IOB - Temática Contábil e
Balanços, São Paulo, Cad. 50, 2002.
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