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O RIO GRANDE DO NORTE VISTO POR VIAJANTE

FRANCÊS NO SÉCULO XIX

José Ozildo dos Santos

Várias são as descrições relativas ao Rio Grande do Norte elaboradas no


século XIX. Dentre estas, uma que merece destaque é a apresentada por J. G. R.
Milliet de Saint-Adolphe em seu ‘Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo
do Imperio do Brazil’, publicado em Paris, pela ‘Casa de J. P. Aillaud Editor’, em
1845, com tradução feita pelo Dr. Caetano Lopes de Moura, “ornada de um mappa geral
do Brazil e de cinco planos das cidades e portos principaes”.
A referida obra é composta por dois volumes e faz referência a todas as vilas,
bem como a algumas povoações e acidentes geográficos da então província do Rio
Grande do Norte.
Saint-Adolphe era francês e viveu no Brasil. Seu ‘Diccionario Geographico,
Historico e Descriptivo do Imperio do Brazil’ foi coligido e composto “durante vinte
seis annos de residência e de longas peregrinações por diversas províncias do Imperio, com o
auxilio d’um semnumero de manuscriptos, e d’obras publicadas em diversas línguas por
escriptores tanto antigos como modernos, e de muitos documentos officaes”. Em 1865, o
referido livor teve uma segunda edição em português, também editada em Paris. No
entanto, não traz o editor. Hoje, o ‘Diccionario’ de Saint-Adolphe encontra-se entre as
principais obras raras, escritas no século XIX, sobre o Império do Brasil.

Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo do Imperio do Brazil

Num primeiro momento, Saint-Adolphe afirma que Rio Grande do Norte é


uma “Provincia septentrional do Brazil, cujo nome é derivado do rio Potengi, a que os
primeiros exploradores que se estabelecérão em suas margens chamarão impropriamente Rio-
Grande. Devia esta provincia ser parte da doação feita ao celebre historiador João de Barros
por El-Rei D. João III; porém tendo naufragado nas costas do Maranhão a grande expedição
que elle havia mandado de Lisboa em 1534, pouco ou nenhum conhecimento se teve das
provincias vizinhas até Philippe II; o qual, tendo ajuntado à coroa d’Hespanha a de Portugal,
determinou de por cobro no commercio clandestino que nesta colonia fazião em páo-brazil os
estrangeiros. Em conformidade com as ordens que d’este monarca recebéra D. Francisco de
Souza, que então oceupava o posto de governador general do Brazil, encommendou a Jeronimo
d’Albuquerque que fosse desinfestar o rio Potengi ou Grande, submettendo juntamente os
Indios que dominavão em suas margens”.
Acrescenta Saint-Adolphe, que Jerônimo de Albuquerque chegou às margens
do Potengi “em 6 de Janeiro de 1599, e tratou immediatamente de fazer um fortim, que se
converteo pelo decurso do tempo no forte conhecido actualmente com o nome dos Reis-Magos.
Teve o commandante d’esta expedição, ao mesmo tempo militar e agricola, de passar perto
d’um anno em frontaria com os Indios, antes de conseguir, por meio de algumas intelligencias
que teve com os Potigares, de fazer alliança com Sorobabé, cabeceira d’elles. O que tendo
efleituado, lançou os alicerces d’uma villa a que poz nome Natal, por isso que nesse dia do
anno de 1599 se dissera nella a primeira missa”.
Assim, segundo Saint-Adolphe, foram lançadas as primeiras pedras de
fundação da Cidade do Natal, que já nasceu com essa condição. O ilustre
pesquisador e aventureiro francês também informa que Jerônimo de Albuquerque
deixando o Rio Grande do Norte, foi para a Bahia, onde residia o governador. E, que
com sua saída, a população da primitiva Cidade do Natal, “desamparou
immediatamente a villa, que foi depois, no decurso do anno de 1608, occupada por Martim
Soares Moreno, que nella se estabeleceo com alguma tropa”.
É oportuno lembrar, que antes de Jerônimo de Albuquerque deixar o Rio
Grande do Norte, ele passou o governo da Capitania a João Rodrigues Colaço, em
1600. E seguiu para a Bahia. Não conseguindo o que pretendia, viajou para Lisboa, de
onde retornou após ser nomeado capitão-mor efetivo da capitânia do Rio Grande do
Norte, em 1603.
Sempre preocupado com os detalhes, Saint-Adolphe informa que em Natal,
Martins Soares Moreno tratou de “de travar amizade com o chefe Jacaúna, e fez-se amar
dos Indios amoldando-se com os seus usos, e pintando-se à moda d’elles, quando se via
obrigado a assistir à alguma de suas solemnidades; a ponto que quando em 1614 foi por mar,
em companhia de Jeronimo d’Albuquerque, expulsar os Francezes da ilha do Maranhão, 700
Indios debaixo das ordens do jovem Camarão, irmão de Jacaúna, partirão por terra, e se
apresentárão defronte da dita ilha, e contribuirão grandemente ao bom successo da expedição”.
De forma sucinta, Saint-Adolphe narra a conquista do Rio Grande do Norte
pelos holandeses, afirmando também que após a expulsão destes (1654), “no reinado
d’EI-Rei D. João IV, fez este monarca doação da cidade do Natal a Manoel Jordão; porém como
este donatario justamente no cabo da viagem fallecesse, voltou esta cidade outra vez para a
Coroa”.
O navio em que vinha Manoel Jordão naufragou na ocasião do desembarque
e não existem outros registros na história do Rio Grande do Norte, relacionados a
esse infortunado português.
Acrescenta ainda Saint-Adolphe, que “por ordem regia de 12 de Dezembro de
1687 foi a comarca do Rio Grande posta debaixo da jurisdicção do ouvidor geral da villa de
Parahiba, porém passados dous annos, foi a sobredita comarca erigida em condado por El-Rei
D. Pedro II em favor de Lopo Furtado de Mendonça; durou porém isso pouco tempo, e tornou
a ser segunda vez incorporada nos dominios da Coroa”.
É importante também ressaltar que antes do Rio Grande do Norte ter sido
uma espécie de condado sob o governo de Lopo Furtado de Mendonça, este foi
doado a um certo Francisco Barreto, e, sedido “com o título de condado”, a uma filha
sua que casou-se com o dito Lopo Furtado, que era almirante.
Nenhum dos donatários que teve o Rio Grande do Norte conseguiu
aproveitar completamente a concessão real e tornar o solo potiguar produtivo para
os cofres portugueses.
Nos últimos anos do século XVII, o Rio Grande do Norte foi governado por
onze capitães-mores. Contudo, a nenhum Saint-Adolphe faz referência, esclarecendo
apenas que “esta antiga capitania tinha sempre andado annexada e sujeita ao governo de
Pernambuco, de que era uma mera comarca, administrada por um capitão-mor; porém a
começar do anno de 1817, José Ignacio Borges, que era então o commandante militar d’ella,
entrou a corresponder-se directamente com os ministros; assim que é tido pelo primeiro
governador da comarca de Rio Grande do Norte, a qual foi definitivamente desannexada da de
Parahiba, por alvará de 18 de Março de 1813; e um decreto de 3 de Fevereiro de 1820 havendo
creado uma alfandega na cidade do Natal, tanto o povo, como as autoridades d’ella,
entendérão que por aquelle decreto havia o soberano erigido em provincia aquella antiga
comarca”.
Saint-Adolphe cometeu um pequeno equívoco quando afirmou que o Rio
Grande do Norte foi desanexado da Comarca da Paraíba, em 1813. Na realidade, isto
ocorreu em 1818, por força do Álvará de 18 de março, que criou “a nova comarca do
Rio Grande do Norte, da Capitania do mesmo nome”.
No referido alvará, o rei que Portugal afirmava que tomou tal decisão,
levando em “consideração os graves prejuízos que ao meu real serviço, ao interesse e
segurança pública e à boa administração da justiça, necessariamente resultam de se achar a
Capitania do Rio Grande do Norte anexa à comarca da Paraíba por não ser pra ticável que um
só Ministro, a quem é sumamente custoso corrigir bem a comarca da Paraíba, pela sua grande
extensão, tenha juntamente a seu cargo aquela Capitania, que também abrange um vasto e
dilatado território, e possa fazer nela, nos competentes tempos e na forma devida, as correições
tão necessárias para se manter pela influência saudável da autoridade e abrigo das leis, a
segura fruição dos direitos pessoais e reais dos povos e querendo dar as providências próprias
para que possam os habitantes da mesma Capitania gozar dos vantajosos proveitos de uma
vigilante polícia e exata administração da justiça, evitando-se as desordens e perigosas
conseqüências da impunidade dos crimes tão freqüentes em lugares administrados por juízes
leigos, quando não são advertidos nas anuais correições [...]”.
José Inácio Borges encontrava-se no governo do Rio Grande Norte, quando
eclodiu o movimento de 1817. Preso pelos revolucionários, foi enviado para o Recife.
Posteriormente, fracassado o referido movimento, retornou ao solo potiguar e
reassumiu seu governo.
Informa ainda Saint-Adolphe que “sobrevierão os acontecimentos de 1821, e
nesse mesmo anno entregou José Ignacio Borges o governo nas mãos d’uma junta constituida
segundo as bases da constituição de Portugal, e posto que o presidente e o secretario da
sobredita junta, e juntamente o governador das armas, fossem naturalmente de sentimentos
encontrados com os dos defensoresa independencia, continuárão a administrar até o fim do
anno seguinte”.
Após apresentar esse resumo da história do Rio Grande do Norte, Saint-
Adolphe passa a descrever a geografia potiguar, afirmando que a referida província
era limitada “da parte do sul, pelo rio Guajú e por uma linha recta tirada do nascente d’este
rio até a comarca do Crato; da do poente, pelo rio Appodi e pela cordilheira, as quaes a
dividem da provincia do Ceará nas adjacencias das serras dos Cairiris-Novos e do Tibáo; da do
norte e do nascente, servelhe o Oceano de estrema. Consta de 62 legoas em linha recta de
litoral, 35 na parte que respeita ao nascente, e 27 na que olha ao norte”.
Poucas alterações foram registradas nos contornos do território
norteriograndense, exceto na parte relativa aos limtes com o Ceará, que tomaram
outra definição após a chamada ‘Questão de Grossos’, que envolveu o Rio Grande do
Norte e aquele estado, na qual figurou ilustre jurista Rui Barbosa, como advogado
contratado pelo governo potiguar.
Numa descrição rica em detalhes para a época, face à precariedade de fontes
bibliográficas, Saint-Adolphe informa que o Rio Grande do Norte possui “uma
superficie de 2.000 legoas quadradas de terra; chã e arenosa da parte do norte, montanhosa da
do sul e nas adjacencias da capital. Acha-se actualmente dividida em duas comarcas, a de
Natal e a d’Assú”.
Recapitulando a história, a Comarca de Natal ou do Rio Grande do Norte, foi
criada pelo Álvará Régio de 18 de março de 1818, conforme informado
anteriormente. E, a do Açu, sediada na histórica Vila Nova da Princesa, foi criada
pela Lei Provincial nº 17, de 11 de março de 1835, um dos primeiros atos discutido e
aprovado por nossa Assembléia Legislativa.
Saint-Adolphe não faz referência à Comarca da Maioridade, criada pela Lei
Provincial nº 71, de 10 de novembro de 1841, sediada na vila de mesmo nome, depois
cidade da Imperatriz e atualmente, Martins.
Continuando sua descrição, o ilustre pesquisador e aventureiro francês,
afirma que o ar do Rio Grande do Norte é puro e que “o calor intenso, e os dias quasi
iguaes às noites; porém fallece de estradas para a facilidade do commercio por terra, e de
portos de mar que possão receber fragatas e outros navios do mesmo porte: os que existem,
tanto na costa de leste como na do norte, só admittem barcos, cuja carreira principal é para
Pernambuco. Consiste o commercio d’esta provincia em sal, que se tira das salinas d’Assú e
de Mossoró, em algodão, assucar, tabaco, couros curtidos e por curtir, peixe salgado, e drogas
de medicina. A costa de leste desde Petetinga até a ponta do Calcanhar, e a do norte, desde
esta ponta até a do Mel, são acompanhadas d’uma enfiada de parceis mais ou menos perigosos,
appellidados dos navegantes os Bancos de São-Roque. A gente do mar que anda conversada
nesta costa anda à pesca nella, e as embarcações ligeiras e barcos que nella vão tomar carga
fazem carreira por entre estes bancos e a terra, num esteiro que ahi ha de 30 legoas de
comprido e 2 de largo, que tem em todo o tempo 10 pés ou mais d’agua”.
Observador talentoso, Saint-Adolphe ao mesmo tempo que descreveu nossas
potencialidades econômicas, também enumerou os entraves que limitavam o
desenvolvimento do Rio Grande do Norte, na primeira metade do século XIX: a
inexistencia de “estradas para a facilidade do commercio por terra, e de portos de mar que
possão receber fragatas e outros navios do mesmo porte”.
Nos dois primeiros séculos de sua existência, o Rio Grande do Norte
priorizou o plantio da cana de açúcar, que começou a declinar a partir do final do
século XVIII. Sobre o assunto, Saint-Adolphe faz a seguinte observação: “a plantação
de cannaviaes, que ao principio era copiosa nesta provincia, tem ido progressivamente
diminuindo, e tomou-lhe o lugar a dos algodoeiros, cuja agricultação tem occasionado uma
diminuição consideravel na escravatura, mas não que se tenha augmentado em proporção o
numero dos brancos”.
Ainda nos primeiros anos do século XIX, com o declínio da economia
açucareira, as atenções passaram a serem voltadas para o interior, onde ampliaram-
se as áreas de plantações do algodão, que de tão importante para a economia da
província, passou a ser denominado de ‘ouro branco’.
Saint-Adolphe informa que a população do Rio Grande do Norte em 1815 era
de 50.000 habitantes, sendo “metade Indios e metade brancos, mestiços e escravos; d’então
em diante o numero dos escravos tem diminuido, e todavia a população se acha no mesmo ser
que d’antes”.
É importante registrar que na primeira metade do século XIX, o Rio Grande
do Norte passou por profundas mudanças. Em 1820, a população local era de 70.921
habitantes, incluíndo 9.109 escravos. No entanto, evolou-se para mais de 100.000
habitantes na década de 1830, quando novos municípios foram criados.
Quando abordou o potencial mineralógico da província, o ilustre
pesquisador francês informou que havia ouro, prata e ferro no Rio Grande do Norte.
No entanto, em quantidades tão pequenas que “é raro ver alguem tratar de mineração”,
e que “amianto, crystal, pedras calcareas, siliciosas e graniticas, e tabatingas de diversas
cores, são os productos mineraes que mais abundão”.
Saint-Adolphe foi o primeiro pesquisador a descrever com detalhes a fauna
do Rio Grande do Norte, informando que “as matas e catingas encerrão os mesmos
animaes, quadrupedes, e aves que as provincias vizinhas. As emas erão no principio mui
vulgares, actualmente são mui raras; as bordas dos rios e lagoas abundão em jacurutús ou
jabirús de Buffon, e em macaúhans, que dão cabo das serpentes, de qualquer tamanho que
sejão”.
Quando tratou da orografia, aquele ilustre pesquisador formou que “as serras
de Luiz Gomes e de Porto Alegre são as de maior altura da provincia, e as em que melhor se
dão os algodoeiros; nellas tambem se cultiva mandioca, milho e feijões, assim que são a parte
mais povoada do sertão da província”.
Sempre atento aos mais simples detalhes, Saint-Adolphe descreveu que no
final da primeira metade do século XIX, no litoral potiguar o terreno era arenoso e
“povoado de grande quantidade de coqueiros” e que “os bosques e matas do sertão abundão
em arvores resinosas, gommosas e balsamicas, nas que dão o melhor páo-brazil, e em varias
especies de palmeiras e de madeiras de construcção. As fructas mais vulgares são as
jubuticabas, ambuzes, araçás e mangas. Colhe-se tambem grande quantidade de plantas de
medicina, de cera e de mel que varias especies d’abelhas silvestres fabricão nos troncos
carcomidos das arvores”.
A atividade pecuária do Rio Grande do Norte também não passou
despercebida para Saint-Adolphe. Em seu ‘Diccionario Geographico, Historico e
Descriptivo do Imperio do Brazil’ ele informa que “os moradores que residem nas
partes da provincia menos cultivadas, fazem criações de gado vacum para o consumo das
villas vizinhas, e de cavallos que levão a vender à cidade do Recife”.
Ao abordar a nossa hidrografia, informou que “os principaes rios que correm
por esta provincia do sul para o norte, e do poente para o nascente, são: o Aguamaré, o
Appodi, o Ceará-Mirim, o Cunhahú, o Guajahi, o das Piranhas, entre todos o mais caudaloso;
o Potengi ou Grande, o Seridó e o Taréhiri, nos quaes desaguão um semnumero de ribeiros,
que engrossando-os, facilitão o transporte de districto a districto en canoas compridas e
estreitas que não demandão mais que 8 para 12 pollegadas d’agua”.
Os rios Aguamaré, Guajahi e Tarehiri citado do Saint-Adolphe tiveram suas
grafias alteradas para Guamoré (ou Gramoré), Guajiru (também Extremoz) e Trairi.
Este último, “atravessa os municípios de Santa Cruz, S. José de Mipibu e Nísia Floresta,
despejando na Lagoa de Papari e depois no mar pela barra do Gamorupim”. 
Quanto ao rio Piranhas, nasce em território paraibano, entra no Rio Grande
do Norte e após atravessar a região do Seridó, recebe o nome de Açu. E, na década de
1980 foi repressado após a construção da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro
Gonçalves.
À semelhança do Piranhas, o Rio Seridó também nasce no vizinho Estado da
Paraíba. Entra no território potiguar através do município de Parelhas, onde também
é represado no ‘Boqueirão da Serrota’. Recebendo água de diversos tributários, segue
seu curso original e desagua no Piranhas, poucos quilometros após a cidade de
Caicó.
O Potengi ou Rio Grande, conforme define Saint-Adolphe, foi o rio que deu
nome à capitania. E, em sua margem direita foram construídos os primeiros alicerces
da atual Cidade do Natal.
Em sua descrição, Saint-Adolphe informa que além da cidade do Natal, o Rio
Grande do Norte possuia no final da primeira metade do século XIX, a seguintes
vilas: Acari, Apodi, Estremoz, Goaninha, Portalegre, Santana dos Matos, São
Gonçalo, São José de Mipibú, São José dos Angicos, Touros, Vila da Princesa, Vila do
Princípe e Vila-Flor, deixando, portanto, de relacionar o município de Martins, à
época, denominado de Vila da Maioridade, criado pela Lei Provincial nº 71, de 10 de
novembro de 1841.
A título de esclarecimentos, registramos que a Vila de São José de Angicos,
teve sua denominação reduzida para Angicos e foi elevada à condição de cidade em
24 de outubro de 1936. A Vila Nova da Princesa, tornou-se a cidade do Açu em 16 de
outubro de 1845 e a Vila Nova do Princípe, a Cidade do Princípe, em 15 de dezembro
de 1868, posteriormente, Cidade do Seridó, em 1º de fevereiro de 1890 e, por fim,
Cidade do Caicó, em 7 de julho de 1890.
O município de Vila Flor teve a sua sede transferida para a povoação de
Canguaretama, aos 19 de julho de 1858. Reduzido à condição de povoado, Vila Flor
continuou vinculado à Canguaretama, tendo, posteriormente, adquirido o status de
distrito e conquistado sua emancipação política em 31 de dezembro de 1963.
A última informação prestada por Saint-Adolphe sobre o Rio Grande do
Norte é a seguinte: “o ex-presidente d’esta provincia, D. Manoel d’Assis Mascarenhas, em
um discurso improvisado, disse que ‘havia nella quinze villas, uma população de 100.000
almas, excellentes terras de lavra, pastos para a creação de gado vacum e cavallar, matas
abundantes em pao-brazil e em madeiras de construcção de toda a qualidade, e copiosas
salinas’; e todavia não manda esta provincia senão um deputado à assembleà legislativa do
Imperio, e um senador à camara alta. Sua assemblea legislativa provincial consta de 20
membros, os quaes em 1842 recebião 4.000 reis por dia durante o tempo das sessões”.
Dom Manoel de Assis Mascarenhas foi o nono presidente da Província do
Rio Grande do Norte. Nomeado por Carta Imperial datada de 17 de setembro de
1838, tomou posse no dia 3 de novembro daquele mesmo ano, tendo governado até o
dia 6 de julho de 1841, quando passou o cargo ao seu 1º vice-presidente, o coronel
Estevão José Barbosa Moura.
Nomeado para um segundo período, governou de 31 de maio a 15 de
novembro de 1842 e deixou o Rio Grande do Norte após ser eleito para representá-lo
como deputado na Assembléia Geral. Foi também o nosso quarto senador do
Império. Escolhido em 12 de junho de 1850, ocupou uma cadeira no Senado vitalício
até 30 de janeiro de 1867, quando faleceu.
O representante do Rio Grande do Norte na Assembléia Geral, a que se
refere Saint-Adolphe, possivelmente seja o próprio Dom Mascarenhas, visto que o
mesmo representou nossa província, na condição de deputado geral, no período de
1842 a 1844, quando a Câmara foi dissolvida.
Quanto ao representante do Rio Grande do Norte no Senado do Império, não
existem dúvidas. De 1837 a 1845, nossa província foi representada no Senado, pelo
padre Francisco de Brito Guerra. Vigário colado da histórica Matriz de Nossa
Senhora Santana, do Caicó, o Padre Guerra [que deixou descendência] foi o único
norteriograndense a representar a província na Alta Câmara, no Império.
Quantos aos deputados que integravam a Assembléia Provincial e que “em
1842 recebião 4.000 reis por dia durante o tempo das sessões”, eram os seguintes: Antônio
Álvares Mariz, Antônio José de Moura, Basílio Quaresma Torreão Júnior (bacharel),
Bartolomeu da Rocha Fagundes, Estevão José Barbosa de Moura, Francisco de Souza
Ribeiro Dantas (bacharel), João Carlos Wanderley, Joaquim Francisco de
Vasconcelos, José da Costa Pereira, João Marques de Carvalho, João de Oliveira
Mendes, João Teotônio de Souza e Silva (padre), Luís da Fonseca e Silva, Luís
Gonzaga de Brito Guerra (bacharel), Manoel Gabriel de Carvalho, Manoel Cassiano
da Costa Pereira (padre), Manoel José Fernandes (Padre), Pedro José de Queiroz e Sá
(padre), Rafael Arcanjo Galvão e Trajano Leocádio de Medeiros Murta.
Observa-se, portanto, que o pesquisador e viajante francês J. G. R. Milliet de
Saint-Adolphe faz uma importante descrição do Rio Grande do Norte, abordando
seu contexto histórico e sua geografia, principalmente, no que diz respeito aos
aspectos físicos e econômicos.
Rica em detalhes e dados, esta descresção é um importante roteiro para o
estudo da história do Rio Grande do Norte.

BIBLIOGRAFIA

SAINT-ADOLPHE, J. C. R. Milliet de. Diccionario geographico historico e


descriptivo do Império do Brazil. Volume II. Paris: J.P. Aillaud, 1845, p. 437-441.

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