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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO
PROCESSO Nº 00720.2005.402.14.00-7
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PROCESSO Nº: 00720.2005.402.14.00-7


CLASSE: RECURSO ORDINÁRIO E RECURSO ADESIVO
ORIGEM: 2ª VARA DO TRABALHO DE RIO BRANCO/AC
1ª RECORRENTE: CÍNTIA JOANA HESSEL
ADVOGADOS: ALEXANDRINA MELO DE ARAÚJO E OUTRO
2º RECORRENTE: MUNICÍPIO DE RIO BRANCO
PROCURADORES: ISAÍAS FERREIRA JÚNIOR E OUTROS
RECORRIDOS: OS MESMOS
RELATOR: JUIZ VULMAR DE ARAÚJO COÊLHO JUNIOR
REVISORA: JUÍZA MARIA DO SOCORRO COSTA MIRANDA

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO.


CIRURGIÃO-DENTISTA. SALÁRIO PROFISSIONAL. O salário
profissional do cirurgião-dentista está previsto na Lei nº 3.999/61,
pelo que sobre esse piso deve incidir o cálculo do adicional de
insalubridade.

1 RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário e


recurso adesivo, oriundos da 2ª Vara do Trabalho de Rio Branco/AC, em que são partes,
como recorrentes CÍNTIA JOANA HESSEL e MUNICÍPIO DE RIO BRANCO e, como
recorridos, OS MESMOS.
A sentença de origem, fls. 167/169, fixou o salário profissional como
parâmetro para o cálculo do adicional de insalubridade, tendo sido concedido, contudo, no
grau médio (20%).
Pretende a obreira recorrente seja essa parcela estipulada no grau máximo
legal (40%), conforme estabelecido em casos idênticos cujas ações tramitaram em outro
Juízo.
Contra-arrazoa o Município, fl. 122, alegando que o laudo do “expert” não
vincula o Juízo, de forma que deve prevalecer a sentença que levou em consideração
demais circunstâncias que envolvem o caso para fixar o percentual devido a título de
adicional de insalubridade.
A municipalidade, por sua vez, recorre adesivamente alegando que a
sentença incidiu em julgamento “extra petita” ao conceder o adicional em questão sobre o
salário-profissional quando o pedido exordial, distintamente, reporta-se à base da
remuneração do reclamante, sendo que o crédito em questão deve incidir sobre o salário-
mínimo, a teor do art. 192 da CLT, como também detém a mesma impropriedade a
decisão combatida quando defere diferenças pretéritas da mesma verba sem que haja
pedido inicial nesse sentido.
O Ministério Público do Trabalho exarou parecer, fls. 132/137, opinando

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pelo conhecimento de ambos os recursos e, no mérito, pelo provimento do recurso da


obreira e não provimento do recurso da municipalidade.
É o relatório.

2 FUNDAMENTOS

2.1 CONHECIMENTO

Conheço do recurso ordinário interposto, presente o interesse e


adequação.
Tempestividade constatada, pois a recorrente estava ciente, fl. 162, da data
da publicação da sentença, qual seria, 08/09/2006, sexta-feira, feriado, conforme atesta a
certidão de fl. 178, tendo se iniciado o lapso recursal em 12/09/2006, terça-feira, e
expirado em 19/09/2006, terça-feira, sendo que a interposição se deu no dia 18/09/2006,
fl. 169.
Não houve condenação em custas devido ter sido vencedora quanto ao
objeto dos autos.
Contra-razões oferecidas pelo Município, fls. 181/184, em ordem.
Igualmente, conheço do recurso adesivo da municipalidade por ter sido
interposto a tempo e modo, presente o interesse processual.

2.2 MÉRITO

Os recursos serão julgados em conjunto em face da identidade da matéria


relacionada à expressão monetária do adicional de insalubridade.
Conforme se infere dos autos, a empregada pública celetista foi contratada
pelo recorrido, em 09.06.2004, para exercer a função de “cirurgiã-dentista P.S.F – G3 –
N5 - 'A' - 40 horas semanal”, sem haver, desde então, percebido o adicional de
insalubridade.
Durante a instrução processual, ficou constatado por meio do laudo pericial
juntado às fls. 82/113, que as atividades estavam sendo desenvolvidas de forma
insalubre, enquadrada no grau máximo, ensejando a percepção do adicional no
percentual de 40%.
Em primeira instância, fls. 162/8, foi deferido o pedido de pagamento do
adicional, no grau médio (20%), calculado sobre o salário-profissional, desde o momento
de sua contratação, até o início da execução.
Postula a recorrente que ao adicional de insalubridade seja aplicado o
percentual de 40%, correspondente ao máximo legal, em consonância com o laudo
pericial produzido nos autos.
O Município, por sua vez, alega que a sentença incidiu em julgamento

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“extra petita” ao conceder o adicional em questão sobre o salário-profissional quando o


pedido exordial, distintamente, reporta-se à base da remuneração da reclamante, sendo
que o crédito em questão deve incidir sobre o salário-mínimo, a teor do art. 192 da CLT,
como também detém a mesma impropriedade a decisão combatida quando defere
diferenças pretéritas da mesma verba sem que haja pedido inicial nesse sentido.
Para iniciarmos a discussão à respeito da base de cálculo do adicional de
insalubridade, impende, em primeiro momento, procedermos à definição de algumas
denominações salariais.
Vamos nos apegar àquelas que estão elencadas na Súmula 17 do C. TST,
transcrita à seguir:

"SÚMULA 17. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - Restaurada -


Res. 121/2003, DJ 21.11.2003. O adicional de insalubridade
devido a empregado que, por força de lei, convenção coletiva ou
sentença normativa, percebe salário profissional será sobre este
calculado”. (RA 28/1969, DO-GB 21.08.1969).
Histórico: Cancelada - Res. 29/1994, DJ 12.05.1994.

Corrobora-nos em diferenciar as terminologias de remuneração o eminente


jurista Mauricio Godinho Delgado, que em sua obra nos orienta que “Há o salário
profissional, que traduz o parâmetro salarial mais baixo que se pode pagar a um
empregado no contexto de determinadas profissões, legalmente especificadas
(ilustrativamente, Lei n. 3.999/61, criando o salário profissional de médicos e cirurgiões-
dentistas e Lei n. 4.950-A, instituindo o salário profissional de engenheiro).(...)” (Curso de
Direito do Trabalho; 5ª ed.; Ltr; São Paulo; 2006; p. 690).
Reforça esse lecionamento Sérgio Pinto Martins ao doutrinar que “o salário
profissional é o mínimo que uma pessoa pode perceber a título de salário em determinada
profissão, como ocorre com os técnicos em radiologia (Lei nº 7.394/85), os engenheiros
(Lei nº 4.950-A/66), os médicos e dentistas (Lei nº 3.999/61) etc., sendo fixado em lei.”
(Direito do Trabalho; 22ª ed.; Atlas; São Paulo; 2006; p. 305).
Conforme os ensinamentos, podemos entender que salário profissional, no
contexto da Súmula 17, quer se referir ao piso remuneratório de profissões legalmente
especificadas e regulamentadas, a exemplo dos médicos, cirurgiões-dentistas e
radiologistas.
Nesses contornos, percebe-se que a situação ora em apreço se enquadra
na denominação de salário profissional, visto que a reclamante foi contratada para exercer
a função de cirurgiã-dentista, cuja remuneração se encontra regulamentada pela Lei nº
3.999/61, artigo 5º, que fixa o piso salarial desse profissional no equivalente a três vezes o
valor do salário mínimo.
O direito à percepção do adicional de insalubridade está previsto no artigo
7º, XXIII da CF, e regulamentado pelo artigo 192 da CLT, que assegura ao empregado
uma contraprestação atrelada ao mínimo legal.
Regra geral, orienta a Súmula nº 228 do C. TST, que o adicional de
insalubridade será calculado com base no salário mínimo nacionalmente unificado, salvo
as hipóteses previstas na Súmula nº 17.

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Embora se trate a obreira de empregada pública e o adicional venha a ser


estabelecido proporcionalmente ao salário mínimo, tais situações não se tratam de
empecilho ao deferimento do pedido, visto que os empregados públicos detêm pertinência
de direitos celetistas, tais quais os dos serviços privados, e que resta superado pela
iterada jurisprudência do TST, que a vinculação do adicional de insalubridade ao salário
mínimo não representa afronta ao texto do artigo 7º da Constituição Federal.
Nesse passo, colaciono o teor da OJ 71 da SBDI-2:

"AÇÃO RESCISÓRIA. SALÁRIO PROFISSIONAL. FIXAÇÃO.


MÚLTIPLO DE SALÁRIO MÍNIMO. ART. 7º, IV, DA CF/88. (nova
redação, DJ 11.11.04)
A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário
mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal
de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito
constitucional a fixação de correção automática do salário pelo
reajuste do salário mínimo."
Histórico
Redação original - inserida em 08.11.00
71. Ação rescisória. Vinculação do salário do servidor público ao salário
mínimo. Violação do art. 7º, IV, da CF/88.
Viola o art. 7º, IV, da CF/88, ensejando a procedência de ação
rescisória, decisão que defere reajuste de vencimentos a empregado
público com base em vinculação ao salário mínimo.”

Em suma, o pedido da recorrente em ser calculado o adicional de


insalubridade com base na sua remuneração estabelecida por lei municipal não deve
prosperar, pois não se trata de salário profissional, mas sim, de remuneração própria. Por
outro lado, sendo previsto o piso profissional na Lei nº 3.999/61, artigo 5º, onde se
estabelece o valor de três salários mínimos, sobre esse montante deverá ser computado o
percentual cabível segundo as normas do Ministério do Trabalho.
Somente a título de reforço a respeito da existência do salário profissional
do cirurgião-dentista, apresento, a seguir, os termos da Súmula 143 do C. TST:

"143. SALÁRIO PROFISSIONAL


O salário profissional dos médicos e dentistas guarda
proporcionalidade com as horas efetivamente trabalhadas,
respeitado o mínimo de 50 (cinqüenta) horas mensais."
Ex-prejulgado nº 15. (RA 102/1982, DJ 11.10.1982 e DJ
15.10.1982).

Por fim, quanto à alegação do recorrido de que na sentença se julgou fora


do pedido, não cabe consideração, visto que, na exordial, fl. 07, embora a autora tenha
pedido o adicional “no percentual a ser classificado pela perícia e determinada por esse
juízo sobre a remuneração mensal (...)”, maior até ao que corresponde atualmente o piso
salarial da obreira recorrida (3 salários mínimos), em passagem da inicial, fl. 05, externa o
entendimento jurisprudencial de sua aplicação sobre o “salário mínimo da categoria
profissional."

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Assim, a vinculação do adicional ao salário profissional não se trata de


julgamento “extra petita”, visto a informalidade do processo trabalhista, bem como porque
o magistrado não está adstrito às alegações das partes, podendo aplicar o ordenamento
jurídico pátrio para solver a lide, nos limites do pedido e da contestação, ainda que não
invocado pelos demandantes.
Portanto, revendo meu entendimento anterior externado no Processo nº
00928.2005.403.14.00-2, por ocasião da sessão de julgamento de 05.12.2006, em
relação ao qual fui vencido pela maioria de meus pares, mantenho a sentença recorrida
que estabeleceu o salário profissional, estatuído na Lei nº 3.999/61, como base de cálculo
para o adicional de insalubridade da recorrente.
Estabelecida a base de cálculo, resta saber em que percentual
corresponderá o adicional em tela a que faz “jus” a obreira recorrente, segundo o grau de
exposição de sua saúde, ditado pelo art. 192 da CLT e normas regulamentares do
Ministério do Trabalho.
É sabido que o supracitado artigo celetário, como uma norma em branco,
“deixa para a regulamentação ministerial o enquadramento das atividades consideradas
insalubres” (Carrion, Valetin, em “Cometários à Consolidação das Leis do Trabalho”, 30ª
edição, 2005, pág. 180), inclusive no que tange ao grau de exposição, se mínimo, médio e
máximo.
Assim, deve ser mantida a sentença que fixou o direito ao adicional em tela
em grau médio (20%), considerando que não guarda correspondência a atividade
exercida pela obreira, como relata o “expert” às fls. 89/92, com o enquadramento
realizado pelo próprio laudo à fl. 108, porquanto não foi identificada a manipulação de
compostos “orgânicos” de mercúrio, mas metálico (amálgama dentário), nem operações,
em contato permanente, com pacientes em “isolamento” portadores de doenças infecto-
contagiosas, tipificadas como atividades enquadráveis no grau máximo de remuneração a
título de adicional de insalubridade, conforme consta do Anexo 13 e Anexo 14 da Norma
Regulamentar 15, do Ministério do Trabalho, respectivamente.
Assim, acertada a sentença que tipificou as tarefas cumpridas pela obreira/
recorrente como “trabalho e operações em contato permanente com pacientes em
ambulatório”, conforme anexo 14 do supracitado normativo, das quais decorre
insalubridade apenas em grau médio (20%), uma vez que de fato não se verificou o
atendimento a pacientes em “isolamento” por serem portadores de doenças contagiosas.
Não prospera, contudo, a alegação de que não houve pedido do
pagamento retroativo das diferenças geradas pela concessão do direito ao adicional em
tela.
Nesse prisma, vejo que há pedido de condenação do reclamado a pagar o
adicional em tela “desde o início que passou a vigorar o seu contrato de trabalho”,
conforme consta à fl. 07 da exordial, e como o termo inicial do pacto laboral (09.06.2004)
sequer foi objeto de controvérsia, tenho que perfeitamente delimitado o pedido do
retroativo correspondente ao adicional de insalubridade, sob pena de entendimento
contrário significar apego exagerado ao formalismo que não se coaduna com o processo
do trabalho - o qual é instrumento para assegurar o direito à verbas de natureza alimentar
eventualmente sonegadas - nem se comunica com o princípio elevado à categoria de
garantia fundamental pela Emenda nº 45 da razoável duração das lides judiciais,
conforme expresso no art. 5º, LXXVIII, da Magna Carta.

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DESSA FORMA, conheço do recurso ordinário da obreira e adesivo do


Município. No mérito, nego provimento a ambos para manter inalterada a sentença.

3 DECISÃO

ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, à


unanimidade conhecer do recurso ordinário obreiro e adesivo do Município. No mérito,
negar-lhes provimento, nos termos do voto do Juiz Relator. Sessão de julgamento
realizada no dia 03 de abril de 2007.
Porto Velho (RO), ____/____/2007.

VULMAR DE ARAÚJO COÊLHO JUNIOR


JUIZ RELATOR

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

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