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O nome de 

movimento das Cruzadas é dado a um conjunto de oito


expedições militares de cristãos do Ocidente que se dirigiram ao Oriente com
o objetivo de libertar o Santo Sepulcro das mãos dos muçulmanos.
O crescente número de marginais e o elevado índice de belicosidade
representavam uma ameaça à estabilidade e à segurança dos feudos. Logo,
esse era um problema que afetava diretamente os Senhores Feudais. Como a
Igreja já era a maior senhora feudal da Europa, a marginalização social e a
belicosidade feriam frontalmente os seus interesses. Mostra evidente disso
foram as tentativas perpetradas através da promulgação da Paz de Deus e da
Trégua de Deus.
Como essas medidas anteriormente citadas não atingiram os objetivos
almejados, era necessário que a Igreja, apoiada no senhorio feudal leigo,
encontrasse uma outra solução para o problema. Essa solução veio através
do movimento das Cruzadas.
 

 
À medida que as Cruzadas foram expedições militares, elas não teriam sido
possíveis se não existisse, na Europa Ocidental e Central, um contingente de
mão de obra militar disponível em função da crise feudal. Em síntese, as
Cruzadas só foram possíveis em consequência da crise feudal e ao mesmo
tempo elas representam uma forma de preservar as estruturas feudais, à
medida que representaram o afastamento, da Europa, de toda uma massa
humana marginal.
Há diversos fatores que devem ser apontados como determinantes para a
ocorrência das Cruzadas. Dentre eles, destacamos:
 a espiritualidade e o sentimento religioso do homem medieval eram muito
fortes; eles eram, antes de tudo, fiéis servidores de Deus e da Igreja; as
Cruzadas representavam para eles, além de uma possibilidade de
satisfação material (através da eventual conquista de terras), também o
cumprimento de uma obrigação religiosa.
 no contexto de afirmação do poder papal, consagrando desde a Querela
das Investiduras, as Cruzadas poderiam desempenhar um papel
importante.
 com o Cisma ocorrido durante a Querela das Investiduras, a Igreja passou
a ter dois papas (o verdadeiro no exílio e o antipapa em Roma); Urbano II,
o Papa no exílio, para demonstrar que era o verdadeiro Papa e que tinha
autoridade perante toda a Igreja, convocou as Cruzadas como uma
demonstração de força e prestígio junto aos fiéis.
 a ocorrência, em 1054, do, Cisma do Oriente.
 o Patriarca de Constantinopla rejeitou definitivamente a supremacia do
Papa e passou a se considerar o chefe supremo da Igreja no Império
Bizantino, dando origem à Igreja Ortodoxa fez com que as Cruzadas
pudessem ser um veículo eficaz na retomada da supremacia papal no
Oriente.
 o apoio do Imperador Bizantino às Cruzadas, uma vez que elas poderiam
fazer diminuir as pressões muçulmanas ao seu Império.
 o fato de os turcos seldjúcidas, recém-convertidos ao Islamismo,
impedirem os cristãos de peregrinar a Jerusalém (Santo Sepulcro).
O Papa Urbano II, ao receber do Imperador bizantino Alexandre Clemont-
Ferrand um pedido de ajuda militar contra os muçulmanos, convocou, para
1095, o Concílio de Clermont, no qual exortou os fiéis para uma guerra santa
contra o Islã.
Antes que a Cruzada pudesse ser efetivamente organizada, um grupo de fiéis
exaltados, originários das baixas camadas sociais, partiu para Jerusalém sob a
liderança de um místico chamado Pedro, o Eremita. Sem organização, armas e
sistema de abastecimento, a Cruzada dos Mendigos, como ficou conhecida,
foi totalmente destruída ao chegar à Ásia Menor.
Em 1096, partiram oficialmente os cavaleiros da Primeira Cruzada (1096-
1099). Seus chefes foram Roberto da Normandia, Godofredo de Bulhão,
Balduíno de Flandres, Roberto II de Flandres, Raimundo de Tolosa,
Boemundo de Tarento e Tancredo, este um chefe normando do sul da Itália.
Como se vê, era uma Cruzada da nobreza, sem a participação de um rei
sequer.
Após terem passado por Constantinopla, onde receberam o apoio do
Imperador Bizantino, os cruzados sitiaram Niceia, tomaram o sultanato de
Dorileia, conquistaram Antioquia e avançaram sobre Jerusalém, que foi
conquistada em 1099 após um cerco de cinco semanas.
Os chefes cruzados fundaram então uma série de Estados Cristãos no Oriente
Médio: o Reino de Jerusalém ficou sob a chefia de Godofredo de Bulhão, que
após sua morte foi substituído por Balduíno, que tomou o título de Rei de
Jerusalém o governou de 1100 a 1118; havia ainda o Principado de Antioquia
e os condados de Edessa e de Trípole.
As rivalidades entre esses estados cristão eram intensas e isso enfraquecia
suas posições.
A reconquista de Edessa pelos muçulmanos, em 1144, provocou a
organização da Segunda Cruzada (1147-1149), que foi chefiada por Conrado
III do Sacro Império e Luiz VII da França. Esta cruzada foi pregada na Europa
por S. Bernardo.
A aliança de Conrado III com Miguel Comneno, imperador bizantino, e de
Luiz VII com Rogério II da Sicília, provocou o rompimento entre os dois
chefes cruzados e, ao empreenderem a ofensiva na Palestina, foram derrotados
em Dorileia.
A Terceira Cruzada (1189-192) foi organizada em consequência da
conquista de Jerusalém pelo Sultão Saladino, fato ocorrido em 1187. Esta
expedição é conhecida como “A Cruzada dos Reis”, pelo fato de ter sido
chefiada por Ricardo Coração de Leão (Rei da Inglaterra), Felipe Augusto
(Rei da França) e Frederico Barba Ruiva (Imperador do Sacro Império). O
Papa Inocêncio III foi o grande pregador desta Cruzada.
Frederico atacou e venceu os muçulmanos em uma brilhante batalha, mas,
logo depois, morreu afogado. Seu filho Frederico de Suábia, o substituiu, mas
morreu durante o cerco de São João D´Acre. Ricardo e Felipe tomaram São
João D´Acre pouco depois. Ricardo assinou um armistício com o Sultão
Saladino, segundo o qual os cristãos eram autorizados a peregrinar até
Jerusalém.
Inocêncio III, o mesmo Papa que pregara a Terceira Cruzada, foi o
responsável pela pregação da Quarta Cruzada (1202-1204), cujo objetivo era
o Egito. Seu organizador foi Henrique VI, Imperador do Sacro Império, que
contou com o apoio de diversos nobres franceses, tais como Bonifácio de
Mont-Ferrat e Balduíno de Flandres.
Ao contrário das anteriores, essa cruzada foi essencialmente marítima, o que
foi possível em função do Dodge (título dado aos governantes da República de
Veneza que eram eleitos em caráter vitalício) Enrico Dandalo, ter fornecido o
transporte para os cruzados.
A combinação entre os cruzados e os venezianos era a seguinte: para pagar o
transporte, os cruzados tomariam a cidade de Zara, no Mar Adriático, que era
um importante entreposto comercial a meio caminho entre Veneza e
Constantinopla.
As atrocidades cometidas contra os cristãos de Zara levaram o Papa Inocêncio
III a excomungar os cruzados e os venezianos. Entretanto, nesse meio tempo,
Aleixo, príncipe bizantino que fora marginalizado ao trono, em função de seu
pai Isaac, o Anjo, haver sido deposto por Aleixo III, propôs ao Doge Enrico
Dandalo um acordo, segundo o qual os cruzados ajudariam a tomar o trono
imperial e, em troca, os venezianos receberiam o monopólio comercial de
Constantinopla e os cruzados recebiam o suficiente para que pudessem pagar
o seu transporte até o Egito.
Em função desse acordo, os cruzados, ao invés de seguirem para o Egito,
tomaram o rumo de Constantinopla, conquistaram a cidade e colocaram
Aleixo no trono bizantino com o título de Aleixo IV. Mas este não conseguiu
arrumar o dinheiro que havia prometido aos cruzados. O não cumprimento de
sua parte no acordo custou a Aleixo IV o trono. Mais uma vez, os cruzados
liderados pelos venezianos, tomaram Constantinopla, cujo governo foi
entregue a Balduíno de Flandres, tutelado pelos venezianos.
O Império Latino de Constantinopla durou até 1261, quando Miguel
Paleólogo, com a ajuda dos genoveses, reconquistou a cidade.
Satisfeitos com o saque de Constantinopla e com o monopólio comercial para
Veneza, os cruzados abandonaram seus objetivos e voltaram para a Itália.
Em 1212 foi organizada a chamada Cruzada das Crianças, que consistiu em
um exército formado por jovens, que teria o objetivo de retomar Jerusalém. Os
cristãos acreditavam que os jovens, inocentes e sem pecados, conseguiriam,
com a ajuda de Deus, vencer os muçulmanos. Esse exército aportou em
Alexandria e os jovens foram todos aprisionados e vendidos como escravos.
Em função das pregações do Papa Honório III, foi organizada a Quinta
Cruzada (1217-1221). Os responsáveis pela montagem desta expedição
foram André III, rei da Hungria, e Leopoldo VI, duque da Áustria. O comando
foi entregue ao Barão João de Brienne e o objetivo era, mais uma vez, o Egito.
Depois de algumas vitórias, os cruzados ficaram isolados em consequência
das inundações do Nilo e desistiram da Campanha Militar.
Na Sexta Cruzada (1228-1229), aproveitando-se da discórdia entre o sultão
do Egito e o sultão de Damasco, o Imperador Frederico II, do Sacro Império,
conseguiu, através de negociações diplomáticas, que os turcos lhe
entregassem Jerusalém, Belém e Nazaré, após o que os cruzados regressaram
à Europa.
O Papa Gregório IX pregou a Sétima Cruzada (1248-1250) a partir de 1239,
mas, antes que ela partisse, os turcos reconquistaram definitivamente
Jerusalém em 1244. Então, Luiz IX, o rei da França que se tornaria o São
Luiz, tomou a iniciativa de assumir o comando dos cruzados.
Depois de alguns êxitos militares, o exército do rei foi dizimado pelo tifo e
acabou cercado pelos turcos que aprisionaram Luiz IX. Seu resgate custou o
abandono das posições que haviam sido conquistadas e um vultoso pagamento
em ouro.
A Oitava Cruzada aconteceu em 1270. Nesta época, reinava a anarquia entre
os cristãos do Oriente Médio. As ordens religiosas de monges cavaleiros (os
Templários que eram responsáveis pelos hospitais na Terra Santa, e os
Cavaleiros Teutônicos que davam atendimento aos doentes), criadas para
permanecerem na região e defendê-la, viviam em permanentes conflitos entre
si. Além disso, os interesses comerciais dos genoveses e venezianos criavam
outras dificuldades, provocando até choques armados entre os cristãos.
Entre os turcos, os problemas não eram menores, pois eles vinham sendo
pressionados pelos mongóis que, vindos do Oriente, sob a liderança de Gengis
Khan, conquistaram a Síria muçulmana e ameaçavam outras posições turcas.
A presença dos mongóis favorecia os cristãos, pois muitos deles haviam se
convertido ao cristianismo. Mas, apesar de instigados pelos cristãos contra os
turcos, estes conseguiram afastá-los da região.
Os seldjúcidas do Egito começaram então a realizar diversas ofensivas contra
os cristãos, empurrando-os em direção ao mar. Isso decidiu o rei Luiz IX a
organizar a Oitava Cruzada, sendo que logo após o desembarque dos
cruzados em Tunis, Luiz IX morreu e a Cruzada foi suspensa.
Em 1291, São João D´Acre, última fortaleza cristã, caiu nas mãos dos
muçulmanos. Os cristãos também abandonaram Beirute, Sidon e Tiro. A ilha
de Chipre ainda permaneceu sob controle cristão até 1489. Rodes ficou nas
mãos dos cavaleiros da ordem de São João até 1523 e com isso a colonização
cristã no Oriente Médio tinha chegado ao fim.
As razões desse fracasso devem ser buscadas, fundamentalmente, no caráter
superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio limitou-se aos
quadros administrativos, não criando raízes entre as populações locais. Há de
se levar em conta também as constantes divergências entre os cristãos que
enfraqueciam qualquer possibilidade de consolidação do domínio. Em
resumo, o fracasso foi uma consequência da rivalidade entre as potências
ocidentais e da incapacidade do papado em organizar uma força que fosse
capaz de sustentar essas dissensões.
A expansão europeia iniciada com as Cruzadas não se limitou às expedições já
descritas. Ao mesmo tempo, os pequenos reinos ibéricos de Leão, Castela,
Navarra e Aragão iniciaram a reconquista da Península Ibérica aos
muçulmanos. A ofensiva teve início com a tomada de Toledo, em 1086 e se
prolongou até a conquista de Granada em 1492.
As cidades italianas de Gênova, Pisa e Nápoles também iniciaram uma
política de reconquista: retomaram as ilhas do Tirreno e a partir delas
passaram a atacar posições muçulmanas no norte da África.
De um modo geral, a expansão europeia contribuiu para dinamizar as relações
comerciais entre o Oriente e o Ocidente. Após séculos do bloqueio
muçulmano, os cruzados reabriram parcialmente o Mediterrâneo para o
comércio europeu.
O desenvolvimento dessas atividades comerciais mediterrâneas deu vida a
vários portos do Ocidente, dentre os quais destacaremos os seguintes: Gênova,
Pisa, Nápoles, Amalfi, Bari, Veneza e Marselha. Os comerciantes italianos
organizaram entrepostos comerciais (os chamados fondacos) em diversas
cidades do Mediterrâneo Oriental, dominadas pelos cristãos, e no litoral
mediterrâneo da África. Muitas vezes, esses fondacos foram estabelecidos à
força, mediante vitórias bélicas contra os muçulmanos.
Através desse comércio, apesar de ele ser contrário ao pensamento da Igreja,
as mercadorias do Oriente se espalharam por todo o mundo ocidental.
O contato estreito com as civilizações bizantinas e muçulmanas despertou nos
cristãos do Ocidente um gosto mais apurado e um maior refinamento no modo
de vida. Esse fato fez com que o mercado consumidor para produtos orientais
se visse ampliado. Entre os artigos introduzidos no Ocidente, podemos
destacar: as especiarias (cravo, canela, pimenta, açúcar), o arroz, o algodão, o
café, o marfim, as frutas cítricas, os perfumes, os tecidos de seda. Os cristãos
aprenderam também novas técnicas de irrigação, de fabricação de tecidos e de
produção de aço. Outros elementos importantes foram as práticas financeiras
como a letra de câmbio, o cheque e a contabilidade.
O renascimento das atividades comerciais provocou o crescimento das
cidades, o desenvolvimento de uma classe de comerciantes, a difusão do
espírito de lucro e o racionalismo econômico.

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