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2020

«Logosérgon»
O triunfo da
moral ironivícia
e a crítica ao
discurso na
esfera política
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Valdimiro J. Paque
01-01-2020
O triunfo da filosofia
ironivícia e o

logosérgon
na esfera política
Legosérgon
O triunfo da moral ironivícia
e
A crítica ao discurso

Na Esfera política
Valdimiro J. Paque

2
Índice
Texto à laia de introdução .......................................................................................................... 5
PARTE I: O TRIUNFO DA FILOSOFIA «IRÓNIVÍCIA» ...................................................... 9
1.1. O propósito filosófico e o cerne da questão ........................................................................ 5
1.2 O semblante da Ironia: virtude ou vício! ............................................................................. 9
2. A NATUREZA MORAL DO HOMEM NO OLHAR CLÁSSICO .................................... 13
1.3.1 A natureza moral do homem em Platão .......................................................................... 14
2.2 A natureza moral do homem em Rousseau........................................................................ 15
1.3.3 O homem tridimensional e o seu transfazer-se à vida política ....................................... 20
1.3.3 Do carácter ironivícico do homem ao logos como critério da nova guerra .................... 22
1.4 Da fuga do «justo meio» aristotélico ao modelo de gente que nos tornamos .................... 26
1.5 Do comunismo à Democravício? Um caminho aturdido e perdido! ................................. 27
1.6 Os anti-ironivícios com uma luta sem ‘‘alvo na mira’’ ..................................................... 32
1.6.1 A superstrutura: um ‘‘betão’’ de mármore …critério de veridicabilidade ..................... 33
PARTE II: A VIDA INTER-CONTINENTAL ....................................................................... 40
2.1. Recursos naturais versos recursos humanos: um dilema da economia africana. .............. 40
PARTE III: ............................................................................................................................... 46
DA PROMESSA À ESPERANÇA PARA SUSTENTAR A BUSCA ................................... 46
2.1 O Legosérgon, uma alternativa de busca da racionalidade política ................................... 47
2.2. A emergência ‘‘Unanamnitica’’, o tpc do governo moçambicano ................................... 53
2.3. A transição à Democracia, uma questão de Responsabilidade ......................................... 55
2.4. O homem Oblativo para utopia; a sociedade digna é fruto humano ................................. 59
Texto em forma de conclusão .................................................................................................. 68
A Democracia e o verdadeiro «Homo africanus» no legosérgon ............................................ 68
Bibliografia .............................................................................................................................. 70

3
Abreviaturas

1. DF- Dicionário de filosofia


2. PCA- Presidente do Conselho administrativo
3. DP-Dicionário de política
4. PGR-Procurador Geral da República
5. CNE-
6. MW-Mega wat
7. ISCAM- Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria de Moçambique

‘‘A
única razão por que os homens ainda não são felizes
resulta de terem usado como arma política o ódio em vez de
amor’’1
Augusto Abeleira.

País do medo, cuidado com medo


Ninguém quer perder o desenvolvimento
Estão todos atentos ao sofrimento (Edson da luz)

O logos, uma arma com bala verbal e invisível mas audível é o critério da nova
guerra dos nossos actuais inimigos

1 A. Abeleira, As boas intenções, Portugal, Livraria Bertrand, 3ª edição, 1978.

4
Texto à laia de introdução

1.1. O propósito filosófico e o cerne da questão

A filosofia, património mundial, é enquanto pensamento engajado por uma causa. Ela tem
sido em função da sua preocupação de ‘‘resumir o tempo em um conceito’’ (Hegel) e depois
transforma-lo (Marx), assim expressa J. P. Castiano. De facto, se pensarmos como Hegel o
período actual precisa de uma conceptualização, de modo que o compreendamos melhor.
Independentemente da interpretação (e conforme a época) que cada ciência dará ao
fenómeno do mundo actual, a verdade no olhar de Castillo, é que o ‘‘nascimento da
civilização’’ no Oriente Médio em meados do terceiro milénio antes de Cristo, em simultâneo,
foi o ponto de partida de um crescimento assombroso das tecnologias e de uma
decomposição mais assombrosa das relações sociais.
Ora, a civilização com inúmeros conhecimentos moveu todo o rumo da história da
humanidade. Ante tudo isso, o crescimento foi contrário: na tecnologia havia, de facto, um
progresso, mas nas relações humanas notou-se um regresso; e mais, a tecnologia com o seu
progresso semeou o aumento profundo das desigualdades económicas, a hierarquia social
vertical e o poder despótico de alguns homens sobre os demais. Isso foi crescendo desde o
pretérito e, no seculo XXI o inumano tem triunfado. Quer dizer, a desumanização atingiu o
seu nível mais elevado. O mundo chora. Por quê? Se fosse Platão diria que os filósofos ainda
não se tornaram reis, ou se quisermos, os reis ainda não se tornaram filósofos, ou ainda, o
poder político e a filosofia ainda não convergiram no mesmo individuo. Mas por quê os
filósofos? Por que são racionais? São os que dedicam quase todo o seu tempo com a ciência, a
Verdade e o Bem?
Ora, há que dar-se conta de que a descoberta, na esfera político-social, da racionalidade
(classe política) _ [o que é racionalidade?] _ como distintivo humano em ralação aos demais
animais fez deste homem especial. Todavia, o erro do homem foi de ter achado que o facto de
participar da racionalidade (governante) seria tão humano como quando um dia estiver mais
próximo dela.
Aliás, o que diz Platão na A republica?
Desta feita, Platão concebeu-a como se a tivesse já achado para sempre, e
começamos a cultua-la com menos vigilância, o que de certa forma desviou-o do caminho à
excelência da mesma. O homem, ao pensar que já era racional interrompeu a busca por ela,
interrompeu também o propósito do progresso do espírito, e como efeito, tornou-se mais
mau que os óbvios animais. Tanto que hoje é sem rodeio que se pode dizer: ‘‘se Hobbes tinha
razão, de volta vamos ao estado de natureza. E se Rousseau acertou a divisa, estamos a
passos galopante longe do estado de natureza’’. O facto fala por si: o fenómeno da

5
desumanidade social. Por isso urge desconstruir a compreensão do que os clássicos
chamaram «classe dos racionais» [primeiro objectivo], aqueles que nortearam a cultura
superestrutura antiga, para uma visão clara de modo que se paute por uma interpretação que
nos leve à busca daquilo que é ideal ao Homem actual.
Além disso, é preciso compreender, aqui, especificamente: por quê o problema
anunciado é apelidado de ironivício? Por quê e como é o homem, catalisador do problema?
Afinal, qual é a predisposição moral, dentro de que circunstancias ou condições, o homem
pode provocar e evitar os problemas político-sociais? E a pergunta anterior só tem resposta
depois de se entender o que se percebe quando Platão e Aristóteles falam da classe dos
filósofos _ os dignos de reger a polis; daqui se propões uma desconstrução de compreensão,
na qual tentar-se-á aproximar e localizar a caverna donde se deve buscar «o filósofo rei», o
racional que poderá dirigir a polis»? Ora, compreender-se-á que a tal caverna onde reside o
«filósofo rei» é a responsabilidade cujo efectivo vê-se no novo princípio que se propõe: o
logosérgon.
Conforme aprendemos com Castiano, a filosofia enquanto engajada por África tem-se
orientado sob duas perspectiva ou paradigmas, a saber: ‘‘Libertária’’ (Ngoenha) e
‘‘Culturalista’’ (Bono). Este texto se desdobra em torno de um desses paradigmas no
‘‘terreno’’ da filosofia política, filosofia de libertação e filosofia social. O texto busca
fundamentações do futuro melhor, olhando o logos/discurso como nova arma do actual
inimigo da humanidade; trata-se de uma arma com bala verbal e invisível mas audível e, este
é o critério da nova guerra dos nossos actuais inimigos.
Dizendo de outra forma, para além do enriquecimento cultural, esta reflexão vai
tornar-se importante para a sociedade em quase todas as classes, se conseguir aproximar-se
àquilo que é o seu intento: tentar delinear e endireitar um dos caminhos por onde a
democracia, inevitavelmente, perpassa, isto é, o logos ou discurso que devia legitimar um
governante como «filósofo rei» _ como sonhou Platão. E, porque tem sido usado em favor
dos políticos à custa dos cidadãos (que passam fome, vivem na ignorância, sem cuidados
médicos promissores, e com efeito, baixo nível de vida) há que propor e aconselhar uma nova
forma de conceber e viver a política: transformar a política teórica em prática; isto é, tornar
real o discurso _ (logosérgon) _ quer seja propaganda, solução encontrada e achada
eficiente para problemas (dos moçambicanos).

Que perspectiva filosófica?


O carácter de uma filosofia é determinado pela natureza do seu problema ou da causa do
seu engajamento. Desse modo, ao longo da história e conforme o problema, a filosofia foi
cosmológica (pré-socráticos), Antropológica (Sofistas e Sócrates), Ontológica e Política
(Platão e Aristóteles), Ética (estoicismo, epicurismo, cepticismo e ecletismo) e Religiosa

6
(neoplatonismo); Na era contemporânea o semblante filosófico é outro. De facto, com os
olhos virados para ciência, alguns temas foram repisados com mais esclarecimentos; todavia,
no universo de temas, as reflexões ético-políticas e político-social não se excluem, isto é, há
demanda excessiva da melhor forma de convivência social. Trata-se de um problema que
engloba tanto a sociologia, a antropologia, a ética, bem como a economia política, os quais
são problemas já abordados em diferentes contextos por pensadores de grande gabarito, mas
que continuam com soluções pendentes, ou quando não, damos menos ouvidos aos seus
conselhos.
Esses problemas suscitam, no homem actual, questões que de certa forma, precisam ser
atendidas, e antes de responde-las é preciso medita-la, eis a razão deste extracto. Devido a
razão de engajamento desta reflexão (pela África), a filosofia neste estrato torna-se africana
no âmbito ético-política e social. A questão de base, a qual deve ser levantada antes de
qualquer outra é saber o por quê de tantos problemas que mais nos assolam neste tempo se
comparado com o passado; por quê é que, quanto mais o mundo se acha esclarecido,
pacificado e seguro, vive respectivamente mais ignorância, hostilidades, instabilidade e
insegurança? Por que é que, quanto mais estuda-se as grandes teorias de ética, de política
(forma de bem governar), de gestão económica (sistemas económicas), mais problemas
temos nessas áreas? Quer dizer, aqui, a evolução é tida como simples transformação, que
pode ser tanto para o mal, bem como (em menor escala) para o bem. São tantas questões que
se pode levantar a partir do contexto em que vivemos, tantas respostas também se pode dar
às mesmas questões, todavia longe de dar uma resposta quero, nesta reflexão, tentar
perceber o perfil de tais problemas e questões, talvez na última instância propor uma
alternativa.
Nos últimos anos, em Moçambique se verificou e nota-se séries de palestras (logos)2
cujos tratados eram para melhorar a situação da convivência social. Não obstante, pareceu
vão esforço. Pelo que se vê, a nossa sociedade parece continuar no mesmo estado se não na
pior das sociedades que se pode pensar, e os que deviam ser exemplo de tal ideal nos
brindam com contra testemunho. A gente fica perplexa com o período em que se vive; é um
período anónimo, sem sentido; um período que se identifica com aquilo que P. Guerra3
chamou de «horas sem nome». Que nome tem este momento? Não sei! _ Questionava-se e
respondia P. Guerra sobre suas horas _ E nós, sobre o momento moçambicano?
É o momento anónimo e errante, em busca dum nome. É momento à margem dos
nossos sonhos e expectativas, momento imprevisto que não coube no nosso projecto de
triunfos e grandezas. Soa-nos na alma _ continuaria Guerra _ num bater anónimo e discreto

2Sobre este termo far-se-á uma abordagem especial adiante.


3 Paulo Guerra é um sacerdote Jesuíta, que questionava-se rezando sobre certas horas, quiçá difíceis, e
denominava-as como «horas de amor» pois são de Deus, O qual sabe o por quê da sua existência. P. Guerra, S.J.
Liturgia das minhas horas, Editorial A.O., Braga, sd, pp. 100-105. Todavia, para nós não chegamos denominá-las
da mesma forma porque não vemos a razão certa da sua existência e necessidade.

7
desgastando as coisas e a vida; esse momento além de alimentar o nosso ser, alimenta-se da
nossa pobreza e obscuridade. Esse é o momento derradeiro. Não há nada que se possa
assinalar. Viver e morrer _ clamava Guerra por medo de tais horas _ não tem nome nem
história; simplesmente acontece, como o bater do coração ou o ar que respiramos.
As nossas questões aumentam cada dia: que nome daremos ao que acontece
diariamente na sociedade? Momento sem nome é o que vivenciamos; momento sem nome é
o período de mais de 40 anos da independência obscura e, ainda o percurso eleitoral do qual
soma-se VI eleições sem raio de verdade nelas. Uma vez pensei que o momento sem nome
seria um imprevisto, mas enganei-me pois ele é a monotonia e a obscuridade, frutos de
panejamento dos que se fazem ‘‘heróis’’.
Esse momento, embora sem nome, me esforcei para apelida-lo de momento irónico. De
facto a ironia é o grande problema da nossa actual sociedade. A ironia tomou e se apoderou
da nossa sociedade, está a reinar; ela está a triunfar. Mas o que é ironia? É verdade que ela é
tida como profissão de uma ideia ou palavra que significa o contrário do que no íntimo
pensamos. Não obstante a concepção anterior, é preciso ir além, de tal forma que se perceba
até que ponto constitui um problema, que possa merecer uma abordagem numa perspectiva
filosófica tal como se pensa fazer a seguir.

Não obstante, o érgon/prática da filosofia enquanto pensamento com propósito motiva qualquer cogitante. E o
retorno à ‘‘vida contemplativa’’ e ‘‘momento de interrupção’’ como paradigmas de libertários do séc. XXI, segundo Han,
possibilitou este estrato. Nela fareja-se o «cheiro» (nauseoso ou aromático) do tempo actual classificada como momento da
filosofia ironivícia. Disto chega-se às questões de base como: por que o momento actual é irónico? Como chegou-se a esse
estado? Quem assim o fez? E por que a tendência é sempre essa de ironiviciar o tempo? não4.

4 E.L.Bono-J.P.Castiano-L.Procesi, Filosofia Africana da traição a tradição, Maxixe, UniSaF Editora, 2019, p 153.

8
e

PARTE I: O TRIUNFO DA FILOSOFIA «IRÓNIVÍCIA»

1.2 O semblante da Ironia: virtude ou vício!


O termo ironia é de origem grega: ειρωνεία. Ele foi muito usado na cultura em que se
derivou, pelo que, isso nos obriga a reflecti-lo, hoje, a partir do contexto filosófico em que foi
originado. Segundo Abbagnano5, ironia não passa de uma forma de dar menor importância
que a devida, trata-se, por exemplo, de fazer de conta que não se tem qualquer preocupação
sobre alguma coisa quando muito se pensa o contrário; nesta linha, as pessoas com tal
comportamento são denominadas irónicas.
Na cultura filosófica encontramos duas concepções sobre a ironia: a famosa ironia
socrática e a romântica6. Nesta abordagem só importa tratarmos da primeira, aquela que
caracterizou o comportamento de Sócrates, sobretudo no âmbito intelectual.
Sócrates foi grande pioneiro da ironia por causa do seu comportamento, do qual ganhou
o mérito de Sábio de Atenas, e que confirmava a profecia da Pitonisa, _ uma sacerdotisa que
inspirada por deu Apolo respondia às perguntas dos visitantes do oráculo _, dirigida à
Querofone para a qual: «Sócrates era o homem mais sábio de Atenas». E de facto, (para si),
sábio era, pois estava consciente da sua ignorância, ou melhor, ele dizia não conhecer a
verdade quando muito estivesse a par; dizia que a verdade não estava ao alcance de nenhum
dos demandantes, quando ele a conhecesse. Outrossim, ele se desprezava diante do seu
companheiro de discussão. Na obra platónica, A Republica, eis o que dizia aquando da
discussão sobre justiça: ‘‘Acho que essa investigação está além das nossas possibilidades e
vós, que sois inteligentes, deveis ter piedade de nós, em vez de zangar-vos connosco.’’ E
Trasímaco responde: ‘‘[…] ó, Héracles! Aqui está Sócrates com a sua costumeira ironia’’7.
Esta forma socrática de ser (irónico) sofreu algumas interpretações dos grandes
pensadores. Aristóteles viu nesta ironia algo mau, devido ao seu exagero (exagero na
humildade) no que diz respeito ao anúncio da verdade, visto que para ele a verdade está no
justo meio, isto é, ‘‘quem exagera (n)a verdade é jactancioso e quem entretanto procura
diminuí-la, é irónico’’ dai que para Aristóteles a ironia é simulação.8 Ainda mais, S. Tomais
de Aquino via na atitude irónica de Sócrates como uma forma boa e aceitável de mentira9.
Ora, o contexto em que se delineia atitude socrática (no seu érgon10 filosófico) trata-se de
um manifesto de humildade no âmbito intelectual. Essa atitude revelava um homem de
célebre sabedoria, um homem prudente e virtuoso. Essa atitude que encontra o seu auge na

5 N. Abbagnano, DF., Martins Fontes, São Paulo, 2007, pp. 584-586.


6 A ironia romântica baseia-se no pressuposto da actividade criadora do Eu absoluto. Identificando-se com o Eu
absoluto, o filosofo ou o poeta […] é levado a considerar a realidade mais concreta como uma sobra ou jogo do Eu,
a subestimar a importância da-realidade, não tomá-la a sério […]. Ibidem, loc. cit.
7 Platão, A República, Trad. Port. Edipro, São Paulo, 20162, I, 337a.
8 Cf. Et. nic, II, 7, 1108 a 22.
9 Cf. 5. Th., II, 2, q. 113, a. 1.
10 Sobre este termo far-se-á uma abordagem especial adiante.

9
famosa arte da maiêutica tornou-o homem célebre. Neste caso, a ironia socrática estava
comprometida com a verdade; ela tinha como fim promover a investigação, que devia levar o
homem ao conhecimento, tanto de si em relação aos outro e dos outros em relação a si, daí a
divisa délfica de Sócrates: conhece-te a ti mesmo. A ironia socrática favorecia não só a ele,
mas às pessoas para e com as quais vivia e aplicava a sua ironia. Tanto que a atitude socrática
é bem-vinda, em muitos contextos devido o valor de humildade na busca da verdade e o
espírito de trabalhar não só para o logro pessoal, mas também ironizar em função do outro,
como ele fazia: ‘‘parir’’ a verdade nos seus co-intelectuais. Conquanto, sob essa ironia, os
filósofos podem, a exemplo de Sócrates, entender e conhecer a vida, os feitos, os
pensamentos e as perspectivas dos políticos, dos juristas, dos economistas, etc., reflectindo
com eles para o seu melhoramento _ ironia maiêutica. E essa é que devia ser uma das
melhores formas do uso da ironia, uma causa de cada homem implicado neste mundo
possível. Não obstante, a ironia actual é deveras diferente e estranha. Como assim?
Sabemos que a cultura clássica sempre nos brindou com o conhecimento, que
actualmente usamo-lo fora do contexto ou fim da sua génesis. A ironia foi usada no contexto
académico ou intelectual, mas actualmente é usada em diferentes áreas com múltiplos fins.
Isso, de certa forma, seria um avanço, todavia o que acontece é que nesses múltiplos, muitos
deles são negativos, os quais obstruem o seu sentido certo. Por isso reflecte-se, aqui, o
conceito da ironia e a sua prática efectiva.
Das possíveis interpretações da ironia, vamos rebuscar a perspectiva aristotélica, pois
essa consegue vislumbrar os dois lados, revelando o lado ofuscado do uso da ironia. Quer
dizer, com ele comungo a visão segundo a qual a atitude irónica pode ser boa (já mostrada
atrás) ou má. Será má quando vivida não em favor da verdade, pois como consequência, cair-
se-á na jactância, simulação, mentira, e por efeito na degradação da sociedade. Neste
sentido esta ironia torna-se vício11 (ironivício), distanciando-se cada vez mais da ironia como
virtude (ironivírtus)12. Neste caso, a ironia como vício (ironivício) é vivida para o logro
pessoal e individual, colocando em causa a ordem e segurança da sociedade em que tal
irónico integra; dai que essa forma de ironizar a filosofia da vida torna-se desnecessária,
visto que não está a favor da verdade.
Como disse anteriormente que o problema que assola a nossa actual sociedade
moçambicana (e quiçá África), antes de muitos outros, é a ironia (como vício), isto é, a
ironivício. Esse novo vírus ataca o século XXI, ataca todos os níveis da sociedade, desde a
pequena família, escola, mercado, até a política que é o umbigo da coesão social. Este vírus é
muito perigoso. Ele não é tão novo como se pode imaginar, aliás, Severino Ngoenha no

11Aqui concebe-se vício como acto amoral que, em oposição à virtude, leva o indivíduo a cometer delitos.
12 Ironivício é o termo, cunhado por mim, e que passo a usarei nesta reflexão para referir-me à ironia como vício
em relação ao seu contrário, a Ironivírtus. Daqui em diante farei o uso desses termos em referência ao que acho
referir-se a eles.

10
Resistir a Abadon, já denunciava a violência que sufoca a sociedade hodierna a exemplo da
fragilidade económica causada pela neocolonização (neoliberalismo) e etc. Este vírus, a
ironivício, em todos os tempos da história existiu, mas no século XXI, sobretudo no solo
africano está a triunfar.
Os seus sinais, no percurso histórico, se podem ver a partir de gestos de certos
indivíduos, uns a sofrerem e outros a praticarem. Só para citar poucos casos, no longínquo
tempo da sociedade israelita encontramos, na sua literatura, a história de Sansão (Jz 16),
homem forte que caiu na emboscada de uma mulher ironivícia; Eduardo Mondlane, herói
moçambicano que caiu numa encomenda ironivícia; aliás, antes de Eduardo Mondlane
importa recordar o caso de Pedre Gwenjere e de Urias Simango13, homens cuja história é
menos conhecida, mas que desapareceram devido o mesmo vírus. Ademais, não se pode
esquecer de lembrar o líder carismático Samora Machel, então presidente da República
popular de Moçambique, que sob o ironivício acordo de Nkcomate14 pode ter sido posto à
margem da vida; E quem esquecerá que os moçambicanos sob ironivícias propagandas
‘‘gebuzanas’’, culminaram nas dívidas ocultas (consideradas inconstitucionais pelo acórdão
nº 5/CC/2019), _ uma estagnação na lama da miséria económica. Quem não tem memória
para esquecer o jornalista Carlos Cardoso, que não viu a noite do dia 22 de Novembro de
2000 devido a ironivícia responsabilidade de certos moçambicanos. E no recente pretérito,
certos cidadãos foram manipulados, no exercício político (eleições autárquica de 2018)15,
devido esse vírus, etc. Esses factos denotam o quão o vírus ataca a nossa actual sociedade,
isso quer dizer que a ironivício (a ironia como vício) está a triunfar, daí que é urgente agir
contra ela.
Quando Ngoenha escreve sobre a globalização da violência, e chega dizer que ‘‘a maior
parte dos países africano [e do mudo] nadam em águas turvas’’16, está com outra vista a ver o
mesmo mundo; está a dizer que o mundo caiu na ironia como vício.
Em palavras simples se pode dizer que a «mentira» é a nova forma de lograr na guerra
interpessoal, interpartidário e intercontinental do séc. XXI. Quando aqui se diz que o
problema é da ironia como vício, está se dizer implicitamente que alguém faz acontecer esses
problemas.

13 Padre Gwenjere foi perseguido e morto pelo movimento no qual era militante. Ele foi um homem cuja ‘‘história
está muito ligada à liberdade do seu povo, à igualdade de direito e de oportunidade […]’’ dos moçambicanos.
Como diz o pensador moçambicano Caetano, a ‘‘história oficial’’ de Moçambique ‘‘nega o papel libertador e o
nacionalismo do Padre Mateus Gwenjere no processo de luta de libertação’’, mas já que isso não constitui a
verdade, é possível enxergar o aceitável na tese de Mestre Caetano. Também Urias Simango foi perseguido e
morto no mesmo contexto do Padre Gwenjere; a ele também nega-se o estatuto de nacionalista e libertador: B. C.
Caetano, A violência política em Moçambique de 1966 a 1988: O caso do Padre Mateus Gwenjere, Beira, 2015,
passim. [Dissertação para o grau de Mestre na Universidade Católica de Moçambique, no curso de mestrado em
ciências Politicas: Governação e relações internacionais; orientada e co-orientada por Prof. Doutora Elisabete
Azevedo-Harman e Pe. Luís Alberto].
14 A. Nhampossa em Mbuzini, Mistério sobre morte de Samora mantém-se, SAVANA, Maputo, 21 de Outubro

de 2016. Ao XXIII nº. 1189, pp. 2-3; Idem, apud D.Patta (editora da Rádio 702 da África do Sul) Samora assinou
a sua sentença de morte, Ibidem, 4.
15 Ver o falar do jornal @Verdade desse período das eleições. Pagina seguinte.
16 S.E. Ngoenha, Resistir a Abadon, Maputo, Paulinas, 2017, p. 24. [grifo nosso]

11
[nota nº.15] - Este foi o cenário das eleições 2018 em Moçambique. A tinta correu; o papel foi
pintado, deixando a nós o apanágio de dar crédito ou descredito .
_____________________

Este escrito, que se perceba, não quer falar da ironivícia em todos os âmbitos em que se
manifesta, mas simplesmente no contexto político, dos ironiviciantes políticos. Isto significa
que no universo dos ‘‘aeroportos’’ ironivícicos só se aterrará no político, sobretudo no
exercício político dos representantes dos cidadãos. Esses constituem o alvo desta escrita.
Mas por que eles? Pelo facto de se reconhecer que se existe uma coisa que cada cidadão pode
fazer em primeiro estão os políticos; dizendo melhor, as transformações profundas podem,
facilmente, serem levadas a cabo pelos representantes dos cidadãos. Não obstante, não
significa também o relaxamento dos que acham não representar ninguém, muito pelo
contrário esses também são pedidos, nas condições que podem, para fazer o possível. Estou

12
consciente da existência de democracias que menos defendem a representação,
independentemente da sua bondade ou maledicência, essas só serão úteis quando forem
adoptadas, mas agora tem de se questionar e usar o que se tem em vista a essas boas
(democracias). Deve soar assim: o problema, nesta visão, não é a forma do governo nem o
princípio económico a seguir, mas os que fazem o governo e o princípio funcionarem, _ o
actual político moçambicano (ou africano, se quisermos).
A ironivício é um mal que é preciso formatar, abater, censurar, e não permiti-lo;
desencorajar quem pautar por ela. Porque se ela triunfar em detrimento da ironivírtus, a
vida continuará um caos em quase todos os âmbitos da sociedade. Se ela triunfar, também
assistiremos o triunfo das instabilidades, injustiças intoleráveis, desamor no seio social,
corrupção em quase todas as instituições e, como consequência, nunca haverá prosperidade
no percurso da nossa história. Mas por que o homem pode ser ironivícico ou ironivírtico? É
possível que ele seja, em simultâneo, tudo isso? Por que é assim? Será que isso é-lhe
essencial? Vejamos laconicamente o que dizem os clássicos a respeito da possibilidade do
homem ser ironivícico ou ironivírtico (Platão, Aristóteles, Hobbes, Rousseau e Kant).

2. A NATUREZA MORAL DO HOMEM NO OLHAR CLÁSSICO

Não vamos, … concluir como Hobbes, que por não ter


nenhuma ideia de bondade, o homem seja naturalmente mau.

(Rousseau: Discurso sobre a origem e os fundamentos


da desigualdade entre os homens, 74.)

Ao querer reflectir sobre a verdadeira natureza humana, um retorno aos clássicos é


indispensável, pois das variadas formulações sobre a natureza humana surgem a partir da
sua influência. Os pensadores que aqui serão abordados foram escolhidos propositadamente
por considerá-los mais próximos do tema sobre a concepção da natureza moral do homem.
Existem várias perspectivas sobre a moralidade humana na cultura filosófica, uns que
conheço-os, e muitos outros que ignoro-os.
Na abordagem sobre a natureza moral do homem, ninguém, pelo menos quem trilhou o
labirinto de filosofia, ignora a concepção hobbesiana da natureza moral do homem: o
homem, naturalmente, é lobo do outro homem; e conforme a síntese de D. Marcondes17, para
Hobbes o homem é naturalmente agressivo e belicoso. Trata-se, sob ponto de vista
comportamental, do seu ‘‘ser’’, aquilo que o define; daí que ‘‘movido por suas paixões e
desejos não hesita em matar e destruir o outro, seu semelhante’’

D. Marcondes, Iniciação à História da Filosofia: Dos pré-socráticos à Wittgestein, RJ, Ed. Zahar, 200813º,
17

pp.222-223.

13
Na mesma perspectiva, muitos estão a par da negação da sentença anterior, pela
roussiana o homem nasce bom, a sociedade o corrompe. Esta dupla (Hobbes e Rousseau)
formulou explicitamente os seus extremos sobre a natureza moral do homem; um a favor da
natureza viciosa e outro a favor da natureza virtuosa da humanidade. Se estes tivessem que
extrair parte dos seus textos e constituísse único, formulando única síntese, eu não se teria
dificuldades de defender as suas ideias. Mas foram extremistas demais.
A seguir, traz-se o pensamento de Platão e depois Rousseau. Como se sabe esses
pensadores escreveram muito sobre aspectos diversificado, desde a política, forma do bem
governar, sobre a liberdade humana em relação ao estado e aos outros, etc., conquanto, esses
aspectos não são meu alvo aqui. Antes de levar o leitor para mais longe, importa dizer que,
nesse intervalo de páginas, procura-se trazer o sentido da verdadeira natureza humana, e
não mais que isso. Repiso, pura e simplesmente se quer perceber, a partir desses dois, como
são os homens desde a sua origem, isto é, qual é a inclinação moral do homem ante as
relações com os semelhantes, sobretudo diante do poder. Ou melhor, a partir do nascimento
quais têm sido as suas tendências morais; tendências essas que o tem influenciado negativa
ou positivamente na sua vida sociopolítica _ como piloto da grande barca, a polis.

1.3.1 A natureza moral do homem em Platão


Platão é filósofo clássico e escritor da obra famosa e monumental, A república (ou Da
Justiça). É aprendiz e porta-voz da pregação ética e política do mestre Sócrates. Estes,
mestre e discípulo, reclamavam segundo O. Pegoraro18 o declínio do esplendor de Atenas, e o
discípulo ficaria decepcionado com a condenação à morte do ‘‘homem mais sábio e mais
justo do seu tempo’’, por causa das suas ideias filosófica. Foi a partir deste choque que o
jovem Platão, com medo de expor-se abertamente a suas ideias, pois a liberdade de
expressão fora colocada em causa com a morte do mestre, mudaria de estratégia para seguir
um caminho logo e quiçá seguro, que é a educação dos cidadãos. Por isso a obra platónica ‘‘é
um processo de educação para a justiça e para um Estado bem ordenado _ tese da sua obra
central, A república.’’
No universo de vários aspectos, também aborda o homem moral em relação a sua
posição na polis. O homem em Platão é, sob ponto de vista moral, segundo as tarefas que
exerce na polis isto é os da classe baixa são…., os da classe media são…., e os da classe
dirigente são… ……………. Importa refletir em torno do homem filosofo, pois é esse que mais
importa para este escrito, aafinal de conta estamos a tratar de ……
Platão concebia homem sob duas perspectivas: matéria (corpo _ sensível e por efeito
mau) e espiritual (alma _ supra-sensível e consequentemente bom).

18 O. Pegoraro, Ética dos maiores mestres através da história, Brasil, Editora vozes, 20065ª, p.20.

14
Para este, o homem corporal tende ao vício, pois o ‘‘corpo é raiz de todo mal, fonte de
amores insensatos, de paixões, inimizades, discórdias, ignorância e loucura’’19, e tudo isso
mortifica a alma, que é a parte perfeita do homem. Na república20, Platão vai mais longe,
sobretudo na divisão das classes, onde desvenda o mistério da alma tida como parte
«angélica» do homem, e divide-a em: 1- epithymetikós (alma apetitiva); 2- thymoieidés
(alma irascível); 3- loghistikón (alma racional21). Disto vê-se que até a alma que antes diferia
do corpo por não ter mácula, na sua imaculidade divide-se em menos, mediana e mais boa.
Embora parecesse que com Platão encontramos um homem racional, na verdade a
racionalidade em Platão não está, essencialmente, no homem natural. A racionalidade, como
se pode ver (e se verá a seguir), é uma qualidade adquirida, tanto que é apanágio daqueles
que deveriam nortear a polis, _ o filósofos reis.
Ora, sendo a alma apetitiva ligada a paixão/consumo (lugar do homem hobbesiano),
a irascível por natureza encontra-se ao lado da razão, mas é passível de corrupção devido a
má educação ao ponto de aliar-se à parte mais baixa da alma (é exactamente aqui onde
reside o homem «pêndulo»22 de Rousseau). Mas quando este homem irascível ‘‘sabe manter
com firmeza os ditames da razão em meio a todas as diversidades’’ e vícios que o mudo
oferece, torna-se sábio e por efeito homem racional (desejo e projecção utópica de Platão).

2.2 A natureza moral do homem em Rousseau

É preciso ver o homem não como foi


feito [pela sociedade] mas como é
[em si]. (Rousseau)

De Jean-Jacques Rousseau sabemos que é natural de genebra desde 1712, tendo


desistido da vida em 1778. Foi um pensador científico e literal da França que defendeu o
retorno ao estado de natureza, para se recuperar a excelência humana. E defendeu o contrato
social como garante da liberdade que colocava-se em causa aquando da origem da associação
pela qual os homens juntos lutariam pela sua conservação_ conforme delineia no livro I do
Contrato social (onde formula a sua teoria política).
A obra que de forma explicita aborda a realidade moral do homem é Discurso sobre a
origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1753), que se divide em duas
partes; e que a primeira parte, por sua vez, subdivide-se em duas: a primeira que trata do
homem físico e a segunda que aborda o homem moral_ é aqui onde aterei aquando da

19 G. Reaale-D. Antiseri, História de filosofia, filosofia pagã antiga, São Paulo, Paulus, Vol. 1, 2003, p. 152-162.
[grifo nosso].
20 Platão, A República, Trad. Port. Edipro, São Paulo, 20162, I, 349a-487a.
21 Nestes textos, a qualidade racional é concebida enquanto qualidade que faz do homem um ser moral.
22 Homem pêndulo, pois conforme a educação será um coisa. Ora bom ora mau.

15
minha viagem pela obra, porque é exactamente o homem moral que se pretende abordar.
Aos outros, se forem citados, apenas o farei extraindo o necessário, que acho formular o
sentido da natureza moral do homem sem, no entanto, querer estudar a sua teoria política,
porque não é intento deste escrito abordar aspecto político de Rousseau muitos menos a
abordagem sobre sua concepção de liberdade do cidadão enquanto relacionar-se com Estado.
Rousseau, ao iniciar a reflexão, no prefácio do Discurso sobre a origem e os
fundamentos da desigualdade entre os homens, faz uma epoché na sua investigação, pois
acha que os livros que abordam sobre a humanidade, só revelam o homem tal como foi
‘‘feito’’_ ou tornado _ transformado _ e não como é. Isso lhe possibilitaria ‘‘meditar bem
sobre […] as mais simples operações da alma humana’’, onde percebe dois princípios ou
comportamento anteriores a razão (perceba que são inferiores à razão_ a desejável parte
perfeita anunciada por Platão), a saber: o bem-estar e a conservação do homem, e o outro, a
repugnância natural de sofrer e morrer.
À primeira vista e com um olhar desinteressado, a sociedade humana, Rousseau escreve
no prefácio, parece mostrar violências dos homens poderosos e a opressão dos fracos, mas
tudo isso não passa de engano e falsa sabedoria para quem assim vê. É preciso, diz Rousseau,
‘‘examinar de perto e só depois de haver tirado o pó e arreia que rodeiam o edifício, poderá se
perceber a base inabalável sobre a qual foi elevado, e se aprende a respeitar os seus
fundamento’’. Rousseau parece aconselhar que, para que se perceba o homem não basta
simples olhar, como o fez Hobbes, é preciso um trabalho semelhante ao do garimpeiro, para
no final encontrar a verdadeira natureza humana. Em muitas passagens dos livros de
Rousseau que abordam esse tema o faz, muitas vezes, em contraposição a Hobbes e Górcio
(no Contrato).
Já na introdução deste Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens, não deixa de atacar os autores dos livros contra os quais faz epoché pois
para ele,

[…] todos, falando sem cessar de necessidade, de avidez, de opressão, de


desejos e de orgulho, transportaram ao estado de natureza ideias que
tomaram na sociedade: falavam do homem selvagem e pintavam o homem
civil.23

É preciso afastar-se desses pronunciamentos, continua Rousseau, porque não passam de


raciocínios hipotético que pouco chegam a mostrar a verdadeira origem das coisas.

23J-J. Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, Brasil, Ridendo
Castigat Mores, 1762. p .40.

16
Logo no início da primeira parte do discurso em quesito, Rousseau começa o esboço do
seu homem físico24 (não moral), um homem biológico (Aristóteles), que não comente erro
algum pois segue instintos naturais. Na segunda parte da primeira, do livro referenciado, o
parágrafo que introduz a reflexão sobre a moralidade humana inicia comparando um animal
qualquer em relação ao animal-homem, os quais da mesma maneira são criados com a
diferença de que os homens são criados livres. Quer dizer, os animais óbvios são
eternamente projectados como

uma máquina engenhosa, à qual a natureza deu sentido para prover-se ela
mesma, e para se preservar, até certo ponto, de tudo o que tende a destrui-la
ou perturba-la25.

Para Rousseau, o homem é um ser criado livre que, em si próprio, pode por instinto
ou por acto de liberdade assemelhar-se ou não às condições que foram pré-disposta pela
natureza aos outros animais. Para clarificar, sobre a condição de ‘‘não-livre’’ (maquina pré-
programada) existente no animal, recorre ao exemplo do pombo que morre a fome ante
vasilha de carnes; o gato que diante de uma porção de frutas ou de grãos com os quais
pudesse se nutrir numa situação de carência, não tem iniciativa de experimentar e morre a
fome; e no contexto da liberdade/escolhas intrínseca ao homem, deste ‘‘dissoluto se entrega
aos excessos que ocasiona a febre [no inverno mesmo com febre continua tomando cerveja
gelada] e a morte, porque o espírito deprava os sentidos, e a vontade fala ainda quando a
natureza se cala’’. Melhor falando, a natureza manda em todo animal, inclusive ao homem,
mas a diferença é que enquanto o animal obedece, o homem ‘‘se reconhece livre de aquiescer
ou de resistir’’; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a espiritualidade
de sua alma. Rousseau está a dizer que diante de um apetite que a natureza nos predispôs a
senti-lo ou desfruta-lo podemos aderi-lo ou abstermo-nos dele devido a liberdade de escolha
ante o mesmo.
Ainda acrescenta Rousseau, ‘‘ perceber e sentir são estados comuns entre os animais e
o homem, mas o homem distingue-se por esta faculdade de pautar pelos contrários: querer e
não querer, desejar e temer, que são operações da alma’’. Dessas operações contrárias, o
homem torna-se o que for a preferir. É como se disséssemos que diante de uma acção moral

24 Sob ponto de vista físico Rousseau vê o Homem como um animal menos forte e menos ágil que alguns, mas
organizado vantajosamente do que todos outros. Um homem com uma vida facilitada pela natureza se
comparando com os outros. À ideia hobbesiana segundo a qual ‘‘o homem é naturalmente corajoso tanto que na
sua vida não procura se não atacar e combater’’, Rousseau objecta, apoiando-se aos ilustres com Cumberland e
Pufendorf, dizendo que se existe algo que caracteriza o homem nesse estado é a timidez, quer dizer, o homem no
estado de natureza é trémulo com um instinto de defesa que não resiste à fuga sob menor ruído que este se dê
conta. Ademais, para Rousseau, ‘‘as faculdades do homem selvagem, que estão mais para sua conservação (o seus
único cuidado) tem por objecto principal o ataque e a defesa … seja para se preservar do ser dos outros animais’’.
Essa caricatura do homem deve-se ao nojo que Rousseau sentia pela cidade ou sociedade civil: Ibidem, pp. 40-63.
25 Ibidem, p. 64.

17
a nossa escolha em fazer ou não, torna-nos seres contrário àquilo que seriamos se fizéssemos
ou não fizéssemos o mesmo acto.
Embora Rousseau caricaturasse o seu homem numa ‘‘folha’’ chamada natureza e que não
admitisse que este fosse capaz de relacionar-se moralmente com outros, bem como de viver
certos deveres, e que por via disso não houvesse bons nem maus, e ainda por efeito homens
viciosos e virtuosos, admite mesmo assim a pré-compreensão e pré-existência do vício e da
virtude enquanto for, respectivamente, qualidades que prejudicam a conservação do homem
(vício) e qualidade que contribui para conservação (virtude). E como frisa, ‘‘não é nem o
desenvolvimento das luzes, nem o freio da lei, mas a calma das paixões (pathos) é a
ignorância [inocência] do vício que os impede de fazer mal’’.
Na sentença anterior, Rousseau está a concordar com Platão sobre o domínio do
pathos, que leva o homem irascível ou thymoieidés (alma irascível) a regredir ao homem
apetite (epithymetikós), pesa embora traga um nova posição, quando diz que a ignorância
do vício (característica do seu homem selvagem) impede o homem de fazer o mal; o que na
verdade a ignorância do mal não deixa o homem impune por mal feito. A anterior afirmação
roussiana deve-se a primeira posição segunda a qual os homens selvagens
(físicos/biológicos-morais/ético) não se relacionavam moralmente daí que não havia acto
positivo ou negativo para os mesmos. Esta posição é aceite se o homem for concebido como
simples ser físico, isto é, apenas um ser biológico.
[Este homem físico, é o mesmo que, segundo O. Pegoraro que invoca Kant, é
influenciado por várias inclinações biológica, que estão fora do campo moral. E dessas
inclinações biológicas, para transitar pela razão, vontade e liberdade, em vista ao inteligível
(lado moral do homem) vive-se o mal radical, isto é, conflito entre a lei do dever moral
(universal) e a lei do prazer e da satisfação sensível (particular). Trata-se, diz Kant, de tentar
converter a sensibilidade em norma da moralidade (mal radical)].26
Todavia, Rousseau precisou de saber que a acção viciosa praticada por um ignorante
do vício não deixa de ser amoral porque o seu actor a ignorava como vício. Quer dizer, o facto
de eu chegar na sua casa e arrancar a manga verde só porque não sei que isso é mau para as
regras que estabeleceste no teu pomar, não significa que o acto em sim não seja mau, embora
eu pudesse me justificar assim e merecer perdão.
Rousseau consegue observar o perigo da predominância das paixões nos homens, tanto
que consegue notar a necessidade de buscar meios para limitá-las, os quais seriam as leis.
Todavia, sabe-se que para ele as leis só são possível na sociedade civil que, segundo ele,
corrompe o homem, por isso convida-nos a pensar se as desordens e crimes, que achamos
terem sidos causados pelas paixões, não nasceram com as próprias leis. Aqui Rousseau

26 O. Pegoraro, Ética dos maiores mestres através da história, Brasil, Editora vozes, 20065ª, pp.101-103.

18
parece acreditar na impossibilidade das leis serem capazes de reprimir todo tipo de
desordem.
Se falasse no auditorium moçambicano, Rousseau diria que o direito moçambicano não
consegue reprimir a corrupção que suja-nos.
A esse respeito Rousseau viu o problema na lei que naquele que a faz respeitar. Tanto
que no Contrato fala de como as leis deve e não como são. [Daqui se pode dizer ainda que
não é apenas o direito em si que não funciona, mas o pouco do que o direito moçambicano
pode, não o fazemos funcionar. Mesmo se o executivo funcionasse correctamente, se as leis
admitem situações de corrupção, a mesma vivê-la-emos como justa]. Conquanto as leis só
são importantes quando são exequíveis e, executadas quando os que podem os fazem ser
executadas.
Rousseau não via na perfectibilidade do homem, sobre tudo no estado civil como o
progresso das ciências e das artes, como alternativa para direcciona-lo ao bom senso, mas via
nela uma deterioração da espécie humana, pregando assim um retorno. Agora, se em 1712
não conseguiram um retorno ao estado da natureza, muito menos o faríamos nós do séc. XXI.
O que nos resta é traçar caminho para, a partir daquilo em que nos tornamos, dominar a
nossa forma de vida.
Como se depreende, as duas tendências do homem (hobbesiana e rousseana) tem
seus exageros embora queiram revelar ou desvendar a real natureza humana. A ideia
hobbesiana _ todo homem por natureza é mau _ foi muito contestada por carecer de sentido,
dado que o homem não seria capaz de fazer um juízo sobre o seu comportamento (bom ou
mau) pois tudo lhe pareceria absolutamente bom ou o contrário. Aliás, se de facto fosse
absolutamente mau não teríamos uma família (pois antes da luta entre sociedades haveria a
luta entre parentes), clã, tribo e sociedade tal como questiona B. Wiker,

Como poderiam as famílias evoluir para tribos, se os homens não eram nada
além de assassinos sanguinários e estupradores ambulantes, e se as
mulheres se tornassem canibais logo após terem se tornado mães, ou então
esmagassem a cabeça da sua prole só porque a considerava inconveniente? 27.

Daqui torna se insustentável.

…algo de inumanidade …todos temos e carregamos dentro de nós mesmo. … somos de tal
maneira que cada um de nós , o «humano» está inevitavelmente unido, associado e
vinculado ao «inumano». Isso, se pensarmos seriamente, nos obriga a perceber que o

27B. Wiker, 10 livros que estragaram o Mundo: e outros cinco que não ajudaram em nada. São Paulo, Vide
Editorial, 2015. p.32.

19
problemas central, que todos temos na vida, consiste em superar a desumanização
(autocontrolo) que todos levamos inscrita no mais profundo de nosso ser, para ir alcançando,
até onde nos seja possível, a humanidade que nos é própria e na memida em que possamos
alcançá-la. 287. Castillo.

1.3.3 O homem tridimensional e o seu transfazer-se à vida política


Como vimos, em Platão encontramos um homem tripartido: homem apetite, homem
irascível em vista ao homem racional (estado por alcançar). Depois reflectimos com
Rousseau que provavelmente foi leitor de Platão. E este mostra um homem pêndulo passível
a maleficência e benevolência dependendo do domínio de pathos.
Embora a concepção platónica, bem como a de Rousseau seja um dualismo exacerbado
como notaram os historiadores de filosofia Reale e Antiseri, esses reconhecem as duas
tendências humanas que precisam de ser completadas pela tendência racional _ e isso é que
deve ser sabido. Saber que o homem tem as duas tendências (virtude e vício) de ser, onde a
predominância de uma em relação a outra depende, muitas vezes, de auto-controlo (virtudes
intelectuais de Aristóteles e vontade de Kant) e não tem nada a ver com a educação como
formação académica 28 . À luz das afirmações dos dois autores, sobre a «tendência» à
racionalidade, encontramos a resposta da pergunta: por quê o homem pode ser ironivícico
ou ironivírtus? Quer dizer, é sua natureza; é o que o homem é; ele é suas paixões e sua
dominação.
No entanto é bom convidarmos Aristóteles neste debate para nos dizer que ‘‘na vida
humana não há abismo que separa a vida vegetativa [apetitiva], sensitiva [irascível] e
intelectiva [racional_ (caso se adquira)] ‘‘como queria Platão quando separa o corpo da alma.
Aristóteles, conforme Pegoraro, quer que saibamos que o homem embora tenha três vidas _
que para Platão são duas em direcção à terceira _ uma é a sua forma, a racionalidade que
comanda todas elas. Importa perceber também que, enquanto para Platão o objectivo é
encontrarmos o «homem racional», isto é, ‘‘achar’’ o homem bem-educado de modo a gerir a
polis de então, para Aristóteles o homem já é racional (só por intelecto?), todavia a parte
‘‘racional (virtudes intelectuais) deve agir, orientar e educar os instintos e as sensibilidades
para esse homem encontrar melhor caminho, de modo a contornar problemas (prudência)
individualizados à luz da sabedoria que aponta o bem geral’’29. Na mesma percebe-se que

28 Muitas vezes, a escola, dependendo de quem ensina, pode fazer do homem mais cruel, menos feliz, menos
simpático. A generosidade de alma não necessariamente vem acompanhada de sofisticação do pensamento. Mas
isso não signifique que o homem não mereça educação. [Ver: L. F. Pondé, Filosofia para corajosos, São Paulo,
Planeta, 2016. pp. 62-63].
29 Cf. Ética a Nicómaco, V, 7. [o grifo é nosso].

20
Aristóteles também sonhou. Ou melhor, tanto Platão bem como Aristóteles sonharam num
«bom homem», que talvez seja o que, de verdade, chamaríamos de «homem racional».
Retomando, a predominância de uma tendências em relação a outra _ em vista ao
racional ou irracional _ não tem nada a ver com a excelência humana no progresso
intelectual (já disse Rousseau), porque se assim fosse, as questões levantadas atrás não
teriam sentido. Questionava-se: por que quanto mais o mundo se acha esclarecido, vive
mais hostilidades, instabilidade e insegurança? Por que quanto mais estuda-se as grandes
teorias de ética, da moral, de política e gestão económica, mais problemas se tem nessas
áreas? etc.
Em Platão percebe-se que quando o homem irascível ‘‘sabe manter com firmeza os
ditames da razão [domínio de si] em meio a todas as diversidades’’ e vícios que o mudo
oferece, torna-se sábio e por efeito homem racional (desejo e projecção de Platão). Disto
deduz-se que o homem não é totalmente racional, mas uma parte da racionalidade, tanto que
se assim fosse não teria a primeira parte fraca (alma apetitiva) que obedece aos apetites do
corpo. Parece mesma interpretação quando Fukuyama30 diz que, para Platão, o homem além
da bondade, também participa do thymos, isto é, o homem tem também, além da parte boa,
o lado violento e passional.
Se Fukuyama fala de thymos, não está a usar termos fora do vocabulário platónico. É
só prestar atenção na divisão da alma, segundo Platão, onde encontramos, em grego
transliterado [bem juntas as palavras]: epi_thym_etikós (alma apetitiva); - thym_oieidés
(alma irascível). Como se vê, o radical da palavra nos remete a essa parte inferior da alma em
relação à loghistikón (alma racional). Veja que o sonho de Fukuyama é também encontrar o
que ele chama de último homem, que possivelmente seja exactamente o homem sonhado por
Platão, o loghistikón _ homem racional. Isto, mostra claramente quão é necessário, esse
ideal. Para esse pioneiro de democracia liberal, o novo/último homem, que aparece depois
«do fim da história»31, é aquele que terá renunciado a thymos. Nesta perspectiva Fukuyama
não se deu conta que a thymos, pathos, apetites, que animam prazerosamente a alma e o
corpo do homem não é possível dissocia-los, conforme afirmou Aristóteles, esse não seria
homem em si. Se, se acredita que os ascetas, monges, etc., dedicados à contemplação o
conseguiram renunciar, penso terem moderado ou o substituído com apetites que não
levariam degradação do mesmo. Aliás, conforme O. Pegoraro, ‘‘os teólogos medievais se

30 Cf. F. Fukuyama, O fim da história e o último homem. Trad. Maria Goes Gradiva, Lisboa, 20114. P. 48.
31 O fim da história é uma teoria de Francis Fukuyama, que a defende de no sentido de ruptura de uma era a
outra. Esta, melhor se contextualiza no período que se assinala uma nova era pois guerra fria simbolizada pelo
quedamento do muro de Berlim, pela reunificação da Alemanha, pela queda de uma serie de Partidos autoritários
e totalitários. [Ver também em: S. F. I. Santo Agostinho, O fim da história em Santo Agostinho e Francis
Fukuyama: u itinerário para uma Democracia Liberal em Moçambique. Matola, 2018. Síntese da XIX Semana
Filosófica, apresentada ao Seminário Interdiocesano Santo Agostinho, como requisito parcial para conclusão do
triénio académico e formativo em Filosofia. Tutorado por Pe. Alberto Maquia, SJ.

21
equivocaram na interpretação de Aristóteles, pois a felicidade humana é muito mais que a
contemplação, mas um conjunto de condições que inclui também o desfrute dos prazeres.’’32
Contudo, o homem é o que delineamos atrás. Esse é o mesmo que encontramos em
muitas esferas da vida. Ora, o homem que acabámos de demonstrar é aquele médico,
professor, engenheiro, padre, pastor, etc. Mas o que é importante perceber é que esses, de
certa forma, não são percebidos sob ponto de vista da sua menoridade (apetitividade,
irascibilidade). O que deve ser notado é que esse homem que tanto pode ser ironivícico bem
como ironivírtico é o mesmo que transfaz-se à vida política sob capa do «bom homem» -
homem racional. Lembre que Platão disse que os que deviam governar seriam os reis
filósofos, os racionais. Mas como delineou-se, este actual político não passa de um simples
homem em perfectibilidade, por isso estando, no ‘‘jogo de poder’’ [política] deve ser vigiado
porque em si ele não é filósofo rei (já racional), mas um ser de apetite (rascivel), de
irascibilidade em busca do «seu melhor» (a racionalidade). Esqueçamos o político
representante, deixemos de apreciá-lo como já racional [filosofo rei], vigié-mo-lo a cada hora,
no seu logos sem érgon de modo que exijamos o legosérgon _ efetivação do discurso (logos)
pela prática do mesmo (érgon)33.
Em outros termos diz Castillo: «…algo de inumanidade todos temos e carregamos
dentro de nós mesmo. Somos de tal maneira que cada um de nós, o «humano» está
inevitavelmente unido, associado e vinculado ao «inumano». Isso, se pensarmos seriamente,
nos obriga a perceber que o problemas central, que todos temos na vida, consiste em
superar a desumanização _ autocontrolando-se _ que todos levamos inscrita no mais
profundo de nosso ser, para ir alcançando, até onde nos seja possível, a humanidade que nos
é própria e na medida em que possamos alcançá-la»34.

1.3.3 Do carácter ironivícico do homem ao logos como critério da nova guerra

‘‘A razão é algo que se busca com o mesmo


sofrimento que a santidade. É um esforço que
merece nosso cuidado’’
[L.F Pondé: Filosofia para corajosos, 2016]

Desta feita, se o homem é biforme (apetitivo, irascível) em direcção à triformidade (apetitivo,


irascível e racional) significa que, conforme as circunstâncias, pode causar mal ao outro. Mas
como Rousseau nos disse que na sua análise (não preconcebida), o homem constitui-se por
dois princípios anteriores a razão, que são: o bem-estar e a conservação do homem, e o

32 O.Pegoraro, Ética dos maiores mestres através da história, Brasil, Editora vozes, 20065ª, p. 46.
33 É uma teoria moral (para os políticos) por discutir nas páginas seguintes.
34 J.M CASTILLO, La humanización de Dios : ensayo de cristología, Madrid, Editorial Vozes, 2009. p. 287.

22
outro, a repugnância natural de sofrer e morrer. Quer dizer, já que todos homens têm um
instinto natural de querer conservar-se e repugnar todo mal possível, nas circunstâncias em
que o outro quererá causar mal, o outro ao querer defender-se criará guerra. Disto resulta a
grande necessidade do homem loghistikón (homem racional) _ que sabe encolher os
apetites/vícios/desejos/prazeres e viver em tranquilidade [que significa harmonia 35 entre as
partes: apetitiva e irascível, donde resulta o racional]. Outrossim, o homem loghistikón torna-se
mais necessário neste período neoliberal para não perder na concorrência do mercado
(mercantilismo do século XXI). Aliás, a demanda crónica e proclamação exacerbada da
verdadeira racionalidade humana, segundo L. F. Ponde 36 , é necessidade do homem
contemporâneo que procura a melhoria para vantagens do fenómeno mercantil; quer dizer,
‘‘precisa de uma sociedade racionalizada […] para que o dinheiro [capital] circule com
segurança de retorno ainda maior’’ 37 , isso notou-se com baboseira racionalista do
iluminismo, no culto à razão.
Como se disse, e se assegura em L. F. Ponde, o que faz de um homem roussiano _ o
totalmente bom _ em não totalmente bom, em não absolutamente angélico ou cabalmente
racional, são as qualidades que pesam sobre si: ‘‘instintos, […] patologias, contexto
psicológico em que nasceu: o ressentimento que o afoga em inveja do ‘‘cunhado’’ mais rico e
bem-sucedido ou da cunhada mais gostosa […].’’ 38 Daqui se deve lembrar que quando
anteriormente se disse que o domínio de uma das duas tendências intrínseco ao homem
dependia do autocontrolo, posto que, como disseram os gregos, existe o pathos (paixão,
emoção ou ainda patologia) que corresponde às forças internas ou externas domináveis, mas
que são capazes de nos corromper ao vício.
Agora, a nossa capacidade de agir em direcção à racionalidade, afirma L. F. Ponde,
depende do quanto este pathos age sobre nós, ao que infere-se que quem não o domina
tende à apetitividade e por efeito ironivícico. Na idade média o pathos foi traduzido por
pecado, que obstaculiza a capacidade humana em direcção à santidade fazendo-o escravo da
concupiscência. Na modernidade com Freud encontramos os traumas inconscientes e
pulsões infinitas que dominam a personalidade humana e o limita de ser dono de si mesmo
alimentando o seu ego (o seu eu). Conquanto, o homem não é absolutamente mau, nem
absolutamente racional, mas um ser de apetites que se deixa levar pelo pathos e um ser de
desprendimentos ou irascível em peregrinação ao racional, pois que a racionalidade é um
tornar-se. E conforme frisa Ponde, ‘‘razão é algo que se busca com o mesmo sofrimento que a
santidade. [e] é um esforço que merece nosso cuidado’’

35 E foi que……disse. Veja que em cant a harmonia é…., e em ……, harmonia é……etc.
36 L. F. Pondé, Filosofia para corajosos, São Paulo, Planeta, 2016. pp. 62-63.
37 A mais-valia denunciada por K. Marx. Da mais valia lutam os servos (classe baixa) e os senhores (classe alta);

lutam os capitalistas e os em direção ao capitalismo; lutam Americanos e Moçambicanos, por exemplo.


38 Ibidem, loc. cit., [Grifo nosso].

23
Dessa abordagem fica claro que o homem é (seu eu_ ele mesmo), sob ponto de vista de
maleficência ou benevolência, conforme a alimentação do eu pelo pathos. Quanto mais o
pathos ocupa o lugar da sua pessoa a tendência é para maleficência, e quanto mais o pathos
desaparece na sua pessoa a tendência é para o sofrimento, pois se estará a negar os prazeres
que são benéficos; agora a benevolência é o justo meio aristotélico; dessa benevolência, quer
seja harmonia ou autodomínio, resulta um homem equilibrado, o chamado racional.
Mas, porque muitas vezes, o homem tende a fazer algo para satisfazer ou realizar o [seu]
ego [Eu], e tem-se revelado mais com sentimento da alma apetitiva (triunfo do pathos)? A
resposta é simples. Saibamos que o egoísmo do homem tendem a criar, ao longo do percurso
vital e conforme o contexto, um «mundo passional» de ambições. O contexto faz com que
haja diversas paixões, por isso as ambições também são diferentes, mas a maior parte delas
estão para satisfazer o ego (eu); e no caso da política vemos a ambição pelo poder em vista a
aquisição da pecúnia.
Esse mundo passional de inúmeras ambições e incontáveis vaidades humanas está em
muitos homens (não olvido os políticos) que integram a sociedade, por isso as vaidades e
ambições também se multiplicam na sociedade; e não havendo condições de suprir todas
essas ambições de cada homem, começa-se a luta hobbesiana. Mesmo com o contrato social
como alternativa de resolução a luta continua de fase a outra e de forma diferente. Como?
Aprendemos com Hobbes que Deus criou os homens e os delegou à Mãe Natureza para o
cuidado. Mas como Esta não tinha o suficiente, como produto acabado para dá-los,
enfrentavam-se pelo pouco que Ela lhes beneficiava até que decidiram unirem-se e domina-
La (revolução científica) para que dela tivessem o produto acabado e dela sobrevivesse. Já
tendo alguma coisa para a sobrevivência (muita exploração da natureza), verificou-se outro
problema, de quem poderá ocupar o lugar do agenciador ou administrador das relações
humanas e dos produtos da natureza, desde a mega administração (presidencial) à micro (de
autarquias ao regulo). Mas Devido o princípio físico de impenetrabilidade, todos não pode
ocupar a mesma cadeira.
Ademais, porque o contrato das relações humanas prevê a punição e a repugnância de
quem quer que use, intencionalmente, a força maior clara e visível (a guerra) para chegar à
tal «cadeira», os ‘‘disputadores’’ mais astutos pensaram no meio pelo qual se pode chegar à
cátedra política. E, além da fraude eleitoral, que em si é má, já que demonstra claramente
quão sujo, patológico e ironivícico é o sujeito que a pratica e por isso repugnado,
transformam o logos em arma de luta política. Uma arma que desencadeia uma luta não
bélica _ é contra essa luta que se escreve essas páginas. Este logos é o motivo de muitos
enganos nos assuntos políticos e económicos. O logos, uma arma com bala verbal e invisível
mas audível é o critério da nova guerra dos nossos actuais inimigos. A final o que é logos? E
que logos se refere?

24
1.3.3.1 O Logos
O Logos, da transliteração grega Λóγος, que significa ‘‘palavra’’, ‘‘verbo’’ ‘‘discurso’’
pensamento, inteligência, razão, etc., tem várias interpretações em variadas correntes
filosóficas. Ele faz-se soar bem na filosofia antiga, aliás, conforme Hobuss39, ele (o logos) é o
distintivo da filosofia clássica ou sua característica fundamental. Segundo Heráclito 40 , o
logos é entendido como Razão; a razão de ser das coisas; a coisa pela qual as coisas são
tornadas. Por isso, para ele, a verdadeira sabedoria consiste na compressão da razão (logos),
isto é, perceber como as coisas são tornadas possíveis. E a participação nessa razão [‘‘comum
é a todo o pensar’’_ pensamento (logos)] torna-nos racional, porque o que nos abarca,
segundo Heraclito, é inteligente e dotado de razão41.
Essa posição é próxima da partilhada pelos estóicos, segundo os quais o logos é o
‘‘sémen’’ (semente), o princípio divino, criador e activo.
Noutra perspectiva Platão42 vê o logos como uma definição, isto é, a sentença que
expressa a qualidade essencial de alguma coisa. De igual modo, para Aristóteles, o logos é
uma sentença que expressa o pensamento (através do logos apophatikós), todavia ela pode
ser classificada sob ponto de vista da sua veracidade ou falsidade.
Como se pode ver, de Heráclito fica claro que todo homem participa do logos
pensamento, e/ou discurso, quer consciente ou não. Isto significa que o homem, todo ele, é
um logos; toda a sua vida é um logos; inclusive as etapas da sua vida são um logos. Isto
tornar-se-á compreensível caso concebamos o logos como pensamento (quem não pensa?);
discurso (os que tem motivo o fazem); palavra/Fala (toda a nossa vida é fala). Desta feita, o
homem como falante, pensante, discursante é um logos, que Aristóteles chamaria-o de logos
apophatikós _ aquele que anuncia o discurso.
O homem sendo logos apophatikós, aquele que anuncia o logos (discurso,
pensamento, ideia), muitas vezes procura alimentar aquele «mundo passional» de ambições
e vaidades que me referi atrás. E quando assim o faz torna-se alvo do juízo de Aristóteles,
para o qual ‘‘o logos é uma sentença que pode ser classificada sob ponto de vista da sua
veracidade ou falsidade’’. Quer dizer, o logos (pesamento-palavra-discurso) do logos
apophatikós (anunciador) pode ser verdadeiro ou falso. Se for verdadeiro tem-se nesse
discurso a ironivírtus, e caso contrário ter-se-á a costumeira ironivício.
Mas já que o logos político do logos apophatikós, dependendo do quanto o pathos age
nele, torna-se necessário um princípio que ajude-o a meditar e preferir as melhores
propostas de discurso, propostas não influenciadas pelo triunfo, nele, do pathos. E porque
acredito que existe, na segunda parte far-se-á uma abordagem sobre ele. Nesta primeira

39 J. Hobuss, Introdução à Historia da Filosofia Antiga, Dissertation-Filosofia, p. 28.


40 Cf. DIELS, H.; KRANZ, W. I presocratici (A cura de G. Reale). Milano: Bompiani, 2014. p. 40.
41 J. Hobuss, op. cit., p. 41.
42 Cf. Teeteto; Sofistas.

25
parte, apenas quis mostrar o «Ser» real do homem, isto é, um ser de desprendimentos e
apetites, e que pode deixa-se levar pelo pathos. Um ser irascível em peregrinação ao racional,
um ser em busca da razão, como me proponho aqui a procurá-la pois é um esforço que
merece nosso cuidado e, quem achar ter encontrado é dever anunciá-la. Daí a aberração que
trago na segunda parte, na qual abordo e reflicto em torno da proposta de correcção do logos
_ a arma pela qual se engana e chacina-se os actuais cidadãos _, para propor uma alternativa
na busca da racionalidade humana como já o fizeram os outros.

1.4 Da fuga do «justo meio» aristotélico ao modelo de gente que nos tornamos

Se Hobbes tinha razão, de volta vamos ao


estado de natureza. E se Rousseau acertou a
divisa, estamos a passo galopante longe do
estado de natureza.

O homem que o rebuscamos, um homem de desprendimentos e apetites encontrará a sua lei


de bem viver no domínio do phatos que consiste no evangelho aristotélico. Pois essa ética
aristotélica é uma das que melhor oferece meios resolutivos, sem que neguemos o nosso ser
real. Porque como dissemos, quanto mais o pathos ocupa o lugar da sua pessoa a tendência é
para maleficência, e quanto mais o pathos desaparece na sua pessoa a tendência é para o
sofrimento, pois se estará a negar os prazeres que são benéficos; agora a benevolência é o
justo meio aristotélico, que consiste em alimentar o prazer dentro das condições humanas
em consideração com as necessidades do outro.
O carácter do homem depende do quão o mesmo domina o pathos, donde tenderá
para virtude ou vício. Na convivência social, a preocupação não tem sido dos actos virtuosos,
pois esses não constituem um problema em si, os actos viciosos é que mais incomodam a
coesão comunitária, por isso, torna-se importante perceber quando é que o homem torna-se
alvo do pathos e o que este homem se torna ao deixar-se dominar por essa patologia. Atrás
teríamos dito que quem deixa-se dominar por apetites vira um ironiviciante da sociedade em
todos os contextos. Mas o que se entende por gente ironivícica ou ironiviciante?
O ironiviciante é qualquer político que mal exerce a sua acção política. A gente pode
pensar, logo na primeira impressão, dos políticos que, de certo modo, constituem ou fazem
parte da equipe da vanguarda, mas é preciso lembrar que Aristóteles disse que o homem é
essencialmente político. Estou a dizer que o ironiviciante é qualquer mau gerente de
quaisquer instituições. O ironivíciante é todo homem que estando em frente de uma
instituição, família, grupo social não a orienta como deve ser. É ainda, o político, governante,
que mesmo estando a par dos seus deveres faz o contrário; o ironiviciante é aquele Pai, Mãe
que em frente da sua família não presta devida conta; é aquele que na esteira dos seus

26
deveres como alguém (que devia ser) responsável desorienta os outros, sobre tudo os mais
novos, sufocando-os a partir do seu status social; é sobretudo o PCA de tal empresa «j», que
mesmo a par de sua incompetência aceita cargo por ganância a dolacracia, e para piorar,
ofusca os intentos da mesma instituição em vista a valores particulares (quando devia servir
a communitas); o ironiviciante é também o professor que sob o rosto ironivícico cobra
certas taxas para transitar os alunos, atitude que o torna cúmplice da ignorância de pseudo-
intelectuais do século XXI, a exemplo de alguns estudantes de medicina que cumprido o
corolário formativo, não dedicaram-se como devia na sua especialidade de modo a
convalescer melhor os pacientes, como consequência temos o deficiente atendimento nos
pontos de exercício do seu múnus
Ainda são ironivícicas as instituições governamentais e não-governamentais, que
capazes de denunciar todo tipo de corrupção e problemas que assolam a sociedade, não o
fazem devidamente. São ainda os parlamentares que esquecendo dos seus deveres (de
discutir positivamente os problemas da nação), discutem as mordomias pessoais, facto que
torna suas actividades um teatro de mão gosto que ninguém preferiria assisti-lo; ironivícios
são também os polícia que no lugar de amainar os problemas e proteger seus compatriotas,
do seu ofício aproveitam tirar vantagens particulares criando mais desmando na sociedade.
São contudo, ironivícicos aqueles que fazem das doações estatais, propriedade particular;
Ainda são, as multinacionais que enganam os países em capitalização para beneficiar-se dos
seus recursos, sufocando desse modo a economia desses países conforme denunciou
Ngoenha43.

1.5 Do comunismo à Democravício? Um caminho aturdido e perdido!


Durante mais de 400 anos Moçambique, vivenciou a presença portuguesa, que com eles
fomos continuando e construindo a nossa história. De um contexto ao outro, essa presença
viu-se insuportável, razão pela qual foi necessário traçar um plano que pudesse esforçar o
nosso «irmão» a dirigir-se às suas terras. Depois de variadas formas pacífica chegou-se,
infelizmente, ao último, o plano da guerra denominada «luta de libertação» levada a cabo de
1964 a 1973. Agora, a saída deles foi também um dilema, porque os revolucionários da guerra
apenas tinham direito a bandeira e ao hino nacionais e, mais questões pendentes: da
educação à economia (garante de qualquer plano de acção); a preocupação era, como
liquidar a pobreza que atinge a maior parte da população? Com que meio se podia alcançar a
independência económica em relação aos países supostamente colonizadores e os futuros
neo-colonizadores?
A tomada de decisões para avançar na resolução desses problemas é que revela o
dilema. Quer dizer, de duas ideologias que Moçambique tinha como alternativa, se orientaria

43 S. E. Ngoenha, Resistir a Abadon, Maputo, Paulinas, 2017, p. 18.

27
também para dois mundos. Em outras palavras, ou tinha que assumir o capitalismos, que é
exploração do homem pelo homem para enriquecer a minoria possidente à custa da maioria
população segundo o «direito» da propriedade privada, ou assumir-se-ia o socialismo ou
marxismo-leninismo e tornar os libertados como escravos na medida em que ao se ver um
cidadão a protestar, exigir direitos, irritar-se contra os erros do governo, executar e pensar
diferente será tido como inimigo e traidor, daí que deve ser sacrificado.
Em nome da orientação socialista, os tidos como democratas revolucionários tomaram o
poder como Estado, com o intento de limitar o capitalismo nacional, evitando que este se
transforme em modo de produção dominante, de modo que se crie condições políticas,
económicas e sociais para transformação socialista subsequente. Isto funcionou um pouco,
mas logo a seguir, Moçambique viu-se num fracasso. Isso está bem claro no falar de Ngoenha,
para o qual,

Depois das independências africanas, certos países optaram por economias


planificadas, outros por modelos de desenvolvimento autocentrados, outros
fizeram programas de promoção das próprias exportações, outros
privilegiaram o desenvolvimento de um setor do Estado, outros aderiram
aos programas de ajustamento estrutural, etc. mas sempre com mesmo
resultado: insucesso.44

De facto, a estratégia económica de Moçambique apenas foi uma planificação


centralizada, conforme advertiu o sociólogo germano-ocidental R. Richarde Löwenthal e do
francês Charles Favrod45, e o erro para o cientista americano G. Johnson foi de ter levado a
planificação económica e industrialização para o nacionalismo económico ao invés de ligá-
los aos princípios políticos verdadeiramente socialistas46. Agora se Moçambique está ainda
numa das etapas, já que para V. I. Lénine, ‘‘a transição para o socialismo não é imediata’’, é
algo a ser discutido e reprovado pelo tempo, pois parece não haver mais esperança. Sabe-se
pouco, se de facto, a falência do percurso económico moçambicano, em via socialista, foi por
incompetência dos seus dirigente, ou porque foi um golpe característicos dos países
capitalistas contra os da orientação socialista como tem reclamado Avsenev, para o qual este

país [Moçambique] sempre viu-se obrigado a despender forças e recursos


para a luta contra os bandos contra-revolucionários apoiado pela RAS,
bandos que realizam acções terroristas em importantes objectivos
industriais e de transportes e assassinam activistas partidários 47.

44 S.E. Ngoenha, Das independências às liberdades, Maputo, paulinas, 20142, p.5.


45 Cf. Tachan F. (ed.). «The Developing Nations. What path to Modernization? ». N.Y., 1972, p. 161; Ch. Favrod.
«L’Afriqueseule». Paris, 1969, p. 132. apud, M. Avesenev, A orientação socialista e os seus críticos, Moscovo,
edições da agência de imprensa Nóvosti, 1983. p. 22.
46 Cf. «Crisis and continuity in word polities. Ready in international Relations». N, Y., 1973, p. 76. Apud, Ibidem,

loc. cit.
47 Ibidem, pp. 56-57.

28
Mergulhado no colapso económico, veio o pior, isto é, os libertados e tornados escravos
dos seus libertadores tinham certo interesse pelo percurso do novo Estado moçambicano e
viram a necessidade de se libertarem do novo jugo. Por razões democrática, que talvez não
tenha sido o importante, mas sim um meio de infiltrar o capitalismo ocidental,
desencadearam uma guerra (por 16 anos) até que em 1992 conseguiram um acordo (o logos
se fez sentir neste acordo) cuja afirmação real foi em 1994 aquando das primeiras eleições
multipartidárias (companhia Chissano, L. Diogo etc).
Após a frustração da orientação socialista, com a morte do seu grande militante
(Machel48), por razões achadas importantes, adopta-se, a pretendida democracia, uma porta,
pelo que pareceu, para a entrada do capitalismo burguês. Os achados vanguardas da nova
democracia foram se alternado do presidente Chissano ao Guebuza e até ao Nyusi, tentando
a todo custo, manter o partido revolucionário socialista, agora com capa democrática. Com o
segundo (Guebuza) sentiu-se a entrada triunfal do capitalismo, que contrariamente ao
socialismo não estava de acordo com a divisão do rendimento nacional no interesse dos
trabalhadores. As vanguardas moçambicanas tinham aderido aos economistas ingleses A. M.
Kamar, e «F. Hayek, e o americano M. Friedman» 49 segundo os quais ‘‘só era possível
alcançar um progresso económico real com base na iniciativa privada absolutamente livre’’,
aliás, esse seria a fim da luta contra um dos dilemas da economia deste país: liquidação do
atraso económico, ou, liquidação da dependência económica em relação aos países capitais.
E conforme esclarece Avsenev, estes foram convencidos pela ‘‘ideia de que só o
reforço do poder da economia, inclusive a atracção do capital estrangeiro [razão do então
colapso económico moçambicano], e a condução do «livre mercado» os podia tirar das
dificuldades com que se defrontam’’ 50 . Experimentamos um caminho sem rascunho e
aprendemos que havia necessidade de termos tido a cautela, pois de uma ideologia chega-se
a um mundo (bom ou mau). E em que mundo ou sociedade estamos? No mundo dos olhos
do Guy Debord, sociedade do espectáculo? ou no poço de abismo, onde reina Apollyon, ou
Abadon de Ngoenha!?
Devíamos ter escutado o pronunciamento do destacado economista americano e Prémio
Nobel, V. Leontiev, invocado por Avesenev, para o qual: independentemente da ideologia,
‘‘não é possível tentar desenvolver a economia do país, deixando as decisões mais

48 A citada entrevista concedida à revista Londrina «África» em Setembro de 1979, confirma-o como grande
adepto do marxismo-leninismo. Ele afirma: ‘‘O marxismo-leninismo não é uma doutrina trazida para o país. A
nossa luta, a luta de classe dos nossos trabalhadores, a experiência dos seus sofrimentos dão-nos o direito de
aceitar e compreender a base do socialismo científico’’. Ibidem, p. 39.
49 Cf. CASTIANO, José P. A ‘‘Liberdade’’ do Neoliberalismo: leituras críticas, Maputo, Editora Educar, 2018, 45-

114. E F. Hayek tem como obras de base: O Caminho da servidão voluntaria (1979) e O erros do socialismo
(1988); M. Friedman escreveu: Capitalismo e liberdade.
50 M. Avesenev, op. cit. Loc. cit. [grifo do autor]

29
importantes ao cuidado de grupos privados completamente autónomos’’51. Aliás segundo o
mesmo autor, a via do livre mercado pressupõe que a classe capitalista tenha pecúnia (não
subornada), bem como um espírito patriótico muito forte _ [algo desconfiável às vanguardas
do período que se discute aqui, visto que em certos casos, colocaram os seus interesses
egoístas acima dos nacionais (que o diga Changue)]. É prova do facto a aposta às dívidas
inconstitucionalmente reconhecidas, de algumas vanguardas. Consequentemente, e como
prevê o nosso Avsenev, o país tornou-se ‘‘objecto de exploração dos monopólios
transnacionais’’52, e como eles não gostam de afirmar a verdade, vão cantando: estamos a
crescer, embora sem desenvolvimento, como diz economista egípcio Samir Amin: ‘‘um
crescimento quantitativo apoiado por forças externas _ [dinheiro para Proindicus,
EMATUM, e MAM] _, e que não traz consigo as transformações estruturais necessárias para
a liquidação de subdesenvolvimento. Este é exactamente o triunfo da ironia, da qual
precisamos do homem oblativo para libertar Moçambique. Moçambique está numa situação
muito complicada, porque aquele que sempre prometeu «leite e mel», agora não está mais a
dar, as coisas pioraram.
Com os pré-socráticos, para os quais a mudança não se observa na substância mas sim
nos acidentes do objecto, aprendemos muito. Com eles adquire-se uma iluminação que possa
nos esclarecer sobre a situação dos nossos líderes. À luz da ideia pré-socratiana da
imutabilidade da substância do objecto, se pode dizer que o ser humano nasce, cresce e, no
seu desenvolvimento é educado na base de certos valores, os quais moldarão a sua
personalidade. Ora, com personalidade moldada (à luz de certos valores) será difícil se não
impossível livrar-se dos mesmos valores, posteriorimente.
Metaforicamente, no que diz respeito à situação da nossa política, sobretudo no que
tange aos partidos políticos, eles foram criados no seu contexto sob fundamento de certos
valores. Esses, militam cada um com seus meios conforme o tempo e as circunstâncias
indicarem. Quero crer que tenham sido criados para responder certo défice político (isso é
louvável), independentemente dos desvios posteriores. Agora, que se perceba que o partido
em si mesmo não constitui um problema, o grande desafio tem sido o agir dos seus lideres,
isto é, procurar efectivar os intentos e valores, sobre os quais os partidos foram criados, sem
que se deixem enganar, desviar e desvirtuarem se pelas maiores doenças que afectam a
história, isto é, o ‘‘cratos’’_ ( κρατος=poder) _ e os seus derivados: dolarcracia (poder do
dólar), imunicracia (poder de imunidade), etc.
A outra preocupação neste âmbito é de saber se é possível que o partido cujos lideres
tenham sido formados sob valores democráticos, comunista, socialista, republicanos,
tiranos sejam capazes de mudar de perspectivas ou pensamentos depois de muitos anos fiéis

51 Cf. «Matin», 5.1. 1982.


52 M. Avesenev, op. cit., p. 68.

30
à esses valore/frivolidades, caso sejam pedido que o façam assim? Aliás sabe-se que o
partido libertador e governante criou-se sob fundamentos comunistas e socialistas, cujas
‘‘exigências […], são legítimas e, encerem se na afirmação dos direitos humanos’’, todavia as
suas consequências são drásticas na medida em que no Estado de um partido comunista, o
comportamento de cidadão ‘‘consiste em nunca protestar; […] nunca exigir direitos [...]
nunca irritar-se [contra os erros do governo], executar e nunca pensar [diferente]’’,
conforme sublinha Ferreira53, para o qual

na Frelimo ainda existe um núcleo duro que ainda vive a ideologia […]
comunista […] ainda não se abriram na totalidade os conservadores [e]
normalmente os conservadores fazem atrasar um pais que queira crescer
muito; […] alguns políticos continuam a pensar num Moçambique com
partido único.54

De certeza, quantas vezes vimos em Moçambique pessoas a ser silenciadas por pensar
diferente (Cistac, Advogado Licinio etc.)? Ora, quando na sociedade vive-se, como
expressou-se atrás, significa que são colocadas em causa os valores importantes como
liberdade, igualdade, solidariedade, direito de opinião, emancipação social e política dos
cidadãos, _ que são valores que compõe os direitos e liberdades fundamentais do Homem,
prescritas no Art. 3º da lei mãe. Contudo, o marxismo-leninismo, arma de acção do partido
de revolução têm tudo ao mesmo tempo, isto é, tem frivolidades e valores.
A pergunta é se tais valores/frivolidades ainda são vigentes? Ou se ainda são bons
para a actual sociedade. Será que é possível substituí-los caso não sejam dos melhores? Não
me parece tão fácil se é que é possível substituí-los. Até pode haver boa vontade para isso,
mas o exercício de certos valores/princípios/frivolidades ao longo de anos da governação do
país (desde séc. 1975 a dois mil e …) foi e vem se tornando o semblante de ‘‘hábito de
monges’’, de tal forma que mudar o seu habitat é fazer desaparecer tal partido. Mas é
urgente que se veja mecanismos de trocar esse ‘‘hábito de monge’’ e ter outro visual de modo
que se crie condições de convivência na sociedade. Duvido que, partidos que foram criados
sob vários valores/frivolidades referidos, cujos líderes andam por seus 70 a 90 anos estejam
em altura de, 50 anos depois, negar, corrigir, acrescer ou revisar os valores/frivolidades que
os tornaram políticos desde século XX.
Neste contexto a máxima popular ensina muito: ‘‘quem foi não deixa de ser’’, por isso
o caminho da democracia foi aturdido e perdido. Ora, já, é hora de tomar consciência disso.
Este é o momento de os nossos Pais ou Mestre tomarem consciência de que já cresceram. É
ocasião de apreciar a sua obra continuada pelos seus filhos ou discípulos; oportunidade de

53 A. J. Ferreira, Totalitarismo e Democracia: por que faliu o projecto libertário de Marx? Maputo, Paulinas
Editora, 2004, p. 103-104. [Grifo meu].
54 FERREIRA, Alberto. Entrevista. ‘‘Governação das seis províncias é debate inútil da Renamo.’’ Novela,

Constantino, Jornal Zambeze, ed. SENGO, Anselmo, Ano XIII. Nº 739. Maputo, 26 de Janeiro de 2017. p. 3.

31
corrigi-la (a obra) nas mãos do servo; instante de exercer a sua função de ancião, isto é,
aconselhar o discípulo, dizer filho fizemos assim no ano 70, 80, 90..., por isso não valerá, que
pense em outra proposta; dizer já pagamos caro pela dívida semelhante a que pensas em
fazer, por isso não irão nos ajudar, muito menos perdoar; já tentamos resolver problemas
sem recursos ao diálogo e caímos na guerra, evite; já tentamos gerir assim as empresas
estatais X, F e G, mas faliram, por isso pense bem na melhor maneira de geri-la; já
implementamos o projecto ‘‘K’’ e deu errado, planeje o outro... etc. Contudo, é ensejo de dar
visão aos filhos em vista ao futuro e, não é mais o momento de estar na mesma fileira
autárquica, com o seu discípulo, a disputar o poder, além das oportunidades de mudar e
trazer uma nova e digna sociedade para convivência humana.
Quando se diz que os erros passados perspectivam melhor o futuro significa que, os que
viveram tal período de obscuridade devem o reconhecer para não o repetir, aliás isso soa
bem nas palavras do filosofo moçambicano, segundo o qual: ‘‘haverá um uso do bom passado?
A única maneira é julgar pelos resultados: […] à guerra preferir a paz […]’’55, do fracasso o
sucesso. Se não o fazer assim os mais experientes, que legado deixarão às próximas gerações?
Que testemunho de boa-fé e optimismo transmitirão? É claro que sempre recebemos
algumas coisas, sempre há influências, mas isso não merecerá o nome de legado pois trata-se
de erros e problemas transmitidos às gerações futuras. Se até agora, existe um político, que
não se deu conta de que o caminho de mudança proposto em 1992 e 1994, de assumir novo
‘‘hábito de monges’’ (novo semblante político) foi um caminho aturdido, não saberá mais,
quer dizer, foi uma ‘‘semente à beira do caminho; em terra pedregosa e entre os espinhos’’;
trata-se ainda de um caminhar em veredas pedregosas; Um evangelho em cabeças grandes e
tontas; água colorida por todo tipo de corrupção. O caminho foi falhado, o destino não foi o
reino desejado. É preciso rebuscar, repensar, com novos ideais, tudo à luz da própria
responsabilidade, pois tudo depende do querer humano. Quando quisermos, vamos nortear
bem está pátria amada, é só uma questão de cada um fazer o que lhe é devido, sob
fundamento de responsabilidade enquanto vivente da sociedade. A primeira alternativa para
quem deseja contribuir para o novo rumo da sociedade moçambicana é desejar e ter Vontade
de ser oblativo. O que é ser oblativo? Mais em frente perceberá.

1.6 Os anti-ironivícios com uma luta sem ‘‘alvo na mira’’


A situação político-económica (miséria, injustiça social reinante e crescente) da Europa de
Karl Marx, influenciou este a dirigir para elite política de então uma crítica e ao mesmo
tempo uma teoria económica-politico-ideológica. Tratou-se, como diz A. V. Pinto, de uma
visão integral da Natureza, História, Homem e Filosofia da prática. Para Marx que vivia
numa situação de miséria, via na economia a razão da luta e do garante vital das classes

55 S. E. Ngoenha, Resistir a Abadon, Maputo, Paulinas, 2017, p. 136.

32
sofredora ou dos proletariados. A alienação económica (capitalismo) seria a grande ferida
para o filho de Marx. Esta alienação vê-se directamente no processo de produção de bens
materiais e indirectamente no processo de produção de conhecimento (ideologia), por
conseguinte, estas facetas (directa e indirecta) tem ajuda mútua para o seu logro.
Em outras palavras, Marx está dizer que a Infra-estrutura (organização económica da
sociedade) fortifica no modo de organização da Cultura-superestrutura. E o que é
Superestrutura? É o conjunto das instituições (Política, Direito, Religião) das ideias, da
cultura de uma sociedade.
Agora, se aqui invoca-se esse pensamento deve-se a abordagem que se quer fazer sobre
uma daquelas instituições que fazem parte da chamada Cultura-superstrutura. E a escassez
de clara abordagem sobre o papel que tal instituição pode exercer, quer para uma sociedade
ordeira quer para o inverso dessa, leva-me a dedicar algumas linhas de reflexão e dizer que
enquanto a luta dos anti-ironivícios não esforçar-se a diagnosticar bem essa instituição, será
vã a sua luta. Se o âmago da «reflexão filosófica» dos anti-ironivícios não contempla essa
instituição não tem na ‘‘mira’’ o seu alvo, isto é, não estão a mirar (de olhar com atenção).
Afinal qual dessas instituições, da Superstrutura, pode ser tão perigosa ou benéfica?
Antes de avançarmos é preciso saber, conforme A. Louis56, que Marx chegou a clarear os
aspectos característicos da Superstrutura, para o qual, este tem um carácter ideológico forte
capaz de neutralizar o antagonismo social, e enfim, a sua realidade de prática do poder
concretamente exercido pelas categorias dominantes (Política e Direito) dentro do aparelho
de domínio. Quer dizer, se um Estado se encontra em certos, quiçá, graves problemas de
convivência (antagonismo) e harmonia social, com ajuda ou bom proveito da Política e do
Direito, se pode voltar num possível estado de paz para os homens. Mas se nós temos as duas
asas para voar, por que não conseguimos? A seguir descreve-se as complexidades.

1.6.1 A superstrutura: um ‘‘betão’’ de mármore …critério de veridicabilidade


Nesta cessão reflectiremos sobre a pergunta feita no último período. Por que não
conseguimos possibilitar a realização feliz dos cidadãos moçambicanos quando nos
dispomos de meios mínimos e se calhar suficientes?
Lembremos que o triunfo do pathos nos homens do Oeste, levou-os ao domínio dos
homens do Sul durante mais de 400 anos. Estes últimos recusaram o domínio, lutaram e
demonstraram também a sua ferocidade. Agora, o lobo forasteiro regressou à casa; e os
outros ficaram entre autóctones, já que também são lobos se atacavam entre si (a luta dos 16
anos). Mas como era preciso transforma-los em ‘‘ovelhas’’, um outro lobo, o terceiro Lobo
além dos que lutavam entre si, a terceira entidade tinha que se tornar soberano; criou-se,
nessa perspectiva, o Estado (terceira violência), na medida em que se estabeleceu a diferença

56 A. Louis, De Estado-Predicado ao Estado-Ideológico, in DP, Editora UnB, Brasília, 199811ª, p. 1230.

33
entre o governante (soberano) e os governados (os que lutavam entre si) e a sua posterior
institucionalização; de facto nascia a organização política e jurídica da sociedade
moçambicana. Ora, a paz fora estabelecida (1992), o que reinava era a cooperação, troca de
favores, isto é, uma taxa a fornecer ao soberano de modo que ele pudesse fornecer os seus
serviços de protecção que tragam o ‘‘bem-estar’’ dos cidadãos.
Todavia, embora isso se entendesse como legítimo, para Hoppe57 tratou-se de grande
pecado, na medida em que o novo Estado começou com a monopolização da protecção. É
verdade que a sua lei mãe prescreve o pluralismo jurídico.58 Mas, a partir do momento em
que o Estado, que tem juízes, reconciliadores, polícia, etc., diz, «Eu, o estado» sou a única
agência ou ‘‘pessoa’’ que pode, efectivamente, exigir que todas as pessoas de um determinado
território devam se dirigir exclusivamente a «Mim» para receber a justiça e protecção, ou
quando não, conforme o mesmo artigo citado anteriormente, as outras entidades (pluralismo)
de resolução de conflito nunca devem contrariar a «Mim» que sou Estado.
Ou seja, que ninguém possa depender exclusivamente ou apenas da autodefesa, ou
associar-se a alguma outra pessoa para receber protecção fora dos meus prescritos. Uma vez
obtido o monopólio, então o financiamento deste protector não é mais totalmente voluntário,
mas em parte se torna compulsório, por isso o seu preço será súper elevado, dessa feita a
qualidade da protecção irá subir. E o que irá acontecer?
O Estado tornar-se-á menos protector e mais explorador sistemático dos proprietários.
Agora o Estado instaurou um monopólio e consegue explorar os seus clientes; que passo se
segue? Como se sabe, todo monopolista procura obter vantagens da sua posição através da
sua imposição, que segundo Mazzilli, «[…] vem ‘‘floreada’’ com muitos nomes convenientes
como ‘‘direito’’ ‘‘lei’’ e ‘‘soberania’’ embora continuasse como violência»59. O Estado, com
conteúdo dessa violência (a lei) que deverá ser alterada em consideração a eles e em
detrimento do protegido vai sufocando os cidadãos. Neste sentido, como revela Hoppe, ‘‘a
justiça será pervertida, e o protector será cada vez mais um explorador e um expropriador’’.
Disso, a realidade se torna cada vez mais difícil, pois conforme acrescenta o mesmo autor,

O preço da protecção é enorme, a qualidade da justiça fornecida tem


constantemente caminhado ladeira abaixo. Ela se deteriorou ao ponto em
que a ideia de leis de justiça imutáveis, ou a lei natural, desapareceu quase
totalmente da consciência do povo.60

Como já dizíamos, a única lei válida não é se não aquela que é positiva, a produzida pelo
Estado. Quer dizer, a lei e a justiça é aquilo que o Estado diz, ninguém deve o contradizer.

57 H.-H. Hoppe, o que DEVE SER FEITO. São Paulo, Mises Brasil, 2013, passim.
58 Constituição da Republica de Moçambique, 2018, Art. 4º.
59 M. Mazzilli, Estado? Não, Obrigado. São Paulo, Instituto Lodwing Von Mises Brazil, 2010. p. 15. Grifo do autor.
60 H.-H. Hoppe, op. cit., passim.

34
Aliás, em nenhum momento é necessário esse comportamento, sob risco de se instaurar
conflito contra a Lei sem a qual a nação não se explica.
Todavia, o leitor deve perceber o que se alude quando fala-se de contradizer o Estado.
Afinal quem é o Estado? O conjunto de entidades da organização política e jurídica da
sociedade, que aparecem em paralelo àquele que seria a terceira entidade, o juiz e promotor
do bem-estar (dos dois em conflito) após a institucionalização do seu poder. Refiro-me dos
cinco órgãos de soberania61, que são: a) – Presidente da República _ Chefe do Estado _
Chefe do Governo _ Comandante-Chefe das forças de Defesa e Segurança e Chefe do Partido
(que soberania/poder); Sê visionário: aqui está o Estado como individualidade (o
Comandante-Chefe) _ «o Estado sou eu, dizia o rei Luís XIV»; b) – Assembleia da República;
c) – Governo; d) – Os Tribunais; e) – Conselho Constitucional. Como vê, essas entidades
são chamadas de órgãos de soberania, porque são elas que detêm o poder ou soberania e
não o povo. Se é verdade que a soberania reside no povo deve ser de forma indirecta (pela
Assembleia da República), de modo que é passível a obstruções. Afinal o que entende-se por
soberania?
A soberania, conforme N. Matieucci corresponde ao ‘‘poder de mando de última
instância, numa organização politica’’, trata-se de um poder supremo que em si é abstracto
pois não aparece vinculado a ninguém, mas na medida em que existe numa organização
política passa a ser exercido por certos divíduos. De certa forma a soberania, para o mesmo
autor, é a transformação da força em poder legítimo, e isso dá a entender que em si não é um
bem absoluto, afinal de contas é um poder coercivo. A essência de soberania, na visão do
jurista Bodin citado por Matieucci, reside no ‘‘poder de fazer e de anular as leis’’ bem como

decidir acerca da guerra e da paz, nomear os chefes militares e os


magistrados, emitir moeda, suspender impostos, conceder indultos e
amnistias e julgar em última instância.62

Na sociedade moçambicana quem assim pode directamente se não os órgãos de


soberania, sobretudo a pessoa do Presidente da República _ Chefe dos Estado? Se o povo
exerce a soberania, deve ser de forma indirecta passível à limitações.
Está mais claro que o Presidente da Republica está acima de todas as quatro entidades e
por efeito acima de todos os poderes. Como assim? A ele compete nomear63 os membros do
governo; os Presidentes: do Tribunal Supremo, Tribunal Administrativo e Vice-Presidente do
Tribunal Supremo; o Presidente do Conselho Constitucional e o seu Vice-Presidente. Como
se não bastasse compete-lhe ainda a nomeação dos Reitores das Universidades Estatais e o
Vice-Presidente do Banco de Moçambique. Isso está claro que ainda há falta de consciência

61 Constituição da Republica de Moçambique, 2018, Art. 133. Ver também o artigo 145.
62
N. Matieucci, Sítio, Estado de. –V. Estado de Sítio in DP, Editora UnB, Brasília, 199811ª, pp. 1189-1192.
63 Constituição, op. cit., Artigo 158 e 159.

35
sobre a necessidade da limitação do poder. É nestes moldes que se deve dizer «Não» ao
Estado, pois de certa forma obstrui a harmonia dessas entidades na medida em que a «Um»
depende e que por mais que se escreva que ele se submete à Constituição não há como julgá-
lo. Eu, por estranho que pareça, em nenhum momento condenaria o meu pai, e por quê o
presidente do Tribunal Supremo julgaria quem o nomeou? E o presidente do Conselho
constitucional nem um pouco pensaria.
Essas instituições quando funcionam independentemente, sem influência, trazem
harmonia e coesão social, e por via disso o bem-estar. O comando de todas elas é a
Constituição da República, que manda até o próprio Chefe do Estado (que contradição). Se o
cidadão do Estado em questão, sentir-se coçado pela injustiça ou mal-estar, significa que
uma das instituições na funciona conforme, isto é, ou os seus gerentes são incompetentes, ou
o Alguém inviabiliza o seu funcionamento, e normalmente tem sido o Comandante e os seus
comparsas de má-fé; de facto, neste instante o cidadão implicado pode contradizer (quiçá
impossível) o Estado (Indivíduo), na pessoa de quem obstrui o funcionamento do Estado
(como conjunto das instituições da organização política e jurídica da sociedade). Isto é, o
cidadão pode reclamar os seus direitos, contra o Comandante-chefe, através daquelas
instituições. Mas garanto que, se de facto ele e a sua equipa (pois que não trabalha só)
obstrui o funcionamento das instituições, a sua reclamação nada valerá, porque o facto de ele
ser capaz dessa máfia é porque controla todas elas. Mas como?
Ate aqui compreende-se a estrutura da Superstrutura. Agora, onde há problema?
Dissemos atrás que quando a justiça é pervertida deve-se a alguma coisa que não está bem. E
o que não está bem não é outra coisa que o que afirmamos no início da abordagem desta
reflexão: monopolização da protecção _ assim é protecção do poder ou monopolização do
poder; sim, o que deve saber é que onde reside a monopolização da protecção (que se traduz
em poder/soberania) superabunda também o ‘‘monopólio da coerção’’. Estas duas realidades
jazem no Estado. E conforme João Ribeiro64, se ‘‘se ambiciona a conquista de posição dentro
do Estado, pretende-se conquistar o ‘‘governo’’: para usar […] o poder decisório e coercivo do
Estado com finalidade de satisfazer interesses, ou realizar aquilo que se considera certo’’.
Muitos caem na primeira alternativa.
O grande problema é o Poder institucionalizado _ recorde no início da exposição _
aqui resido o por quê, daquele que manda. O estado detém a posição formal do poder, o que
significa que Ele representa e serve alguém. Deve-se partir do pressuposto de Ribeiro, para o
qual todo aquele que manda leva vantagem, e numa nação onde encontramos: o Estado _ e
os que estão por detrás do Estado (os confuncionários do Presidente) e o Povo. Agora quem
está em vantagem entre esses? Independentemente da resposta à qual o leitor possa chegar,
Ribeiro assegura que está em vantagem quem está mandando. Com a conclusão a que

64 J. U. Ribeiro, Quem manda, Por que manda, Como manda, Objectiva, Rj, 2011. passim.

36
chegamos fica claro que as propagandas políticas dos nossos líderes, não devem ser
tomadas acriticamente, pois existem complexidade para chegar àquilo que eles prometem.
Contudo, a tentativa de contradizer o ponto em que chegamos faz parte da obstrução das
instituições, pelas quais se domina os cidadãos. Quer dizer, em nenhum momento a polícia,
o Direito (tribunais) facilitariam isso, isto é, essas pequenas entidades estão para impedir
compressão desse fenómeno, queiram crer ou não, esse é um facto.
Todo o dito não acontece de forma única e simples, mas de variados semblantes que
podem assumir o mesmo conflito: a dominação; eu apenas quis demonstrar como o
processo de dominação funciona. Na nossa sociedade moçambicana há vários exemplos de
obstrução de instituições. E a estrutura jurídica do Estado moçambicano é que mais padece
dessa ironia. Que se lembre como foram resolvidos os problemas das eleições autárquicas de
2018. Eu pessoalmente verifiquei a não autonomia das instituições implicadas no processo.
Perante este problema gigantesco _ o triunfo da filosofia ironivícia _ o que fazer?
Como deter essa ironia? Sabe-se, conforme Hoppe, que em qualquer sociedade humana, é
necessária a lei (que nos protege), bem como são necessárias a justiça e a imposição da
própria lei. Todavia não há razão que justifique o seu monopólio pelo Estado (Presidente do
Estado e do Partido), muito menos que alguém apareça do nada a se autoproclamar como
protector. Porque este, efectivamente, irá destruir os princípios vitais da justiça e da lei» e,
consequentemente, a sociedade fica indefesa.
Ora o primeiro passo a ser tomado como nos aconselha Hoppe é desmonopolizar a
protecção da justiça, isto é, o Conselho Constitucional e os Tribunais deverão responder às
causas que lhe são de direito sem coação Estatal (na pessoa do Chefe do Estado). Sobre o
Conselho Constitucional, que se recorde o acórdão nº 9/2018, no qual elencava-se 7
entidades, que tem o privilégio ou o direito de reclamar a inconstitucionalidade da lei; mas
nessa altura, quando procurou-se saber da linha partidária das 5 primeiras individualidades
entre as 7 entidades, ficou claro que todos pertenciam ao único partido, o do poder. Isso leva
a pensar que se esses, a não ser que estejam imbuídos por um espírito patriótico e um senso
de responsabilidade maior e indubitável, não a reclamariam nunca. Por mais que a lei fosse
inconstitucional, por que colocaria em causa o cratos do partido no poder? Não estou a
defender a extinção daquelas entidades, mas os que as ocupam deixam a desejar pelo seu
comportamento. O segundo passo, na detenção desta ironia, seria necessário, por razões de
princípios, a rejeição de qualquer centralização política, isto quer dizer que se deve apoiar a
toda tentativa de descentralização. Aliás, é exactamente isto que Ferreira frisou aquando das
respostas à entrevista dada ao jornal Zambeze65.
***

65 . Ferreira. Entrevista. ‘‘Governação das seis províncias é debate inútil da Renamo.’’ Novela, Constantino,
Jornal Zambeze, ed. SENGO, Anselmo, Ano XIII. Nº 739. Maputo, 26 de Janeiro de 2017.

37
No princípio da abordagem invocamos duas asas (Política e Direito) entre as que
constituem o universo da superstrutura. Se o leitor conseguiu notar, a abordagem tinha
norte na perspectiva da estrutura jurídica do Estado, porque embora a infra-estrutura
garanta a superstrutura, este último, por sua vez, cria condições e prepara o capo para as
jogadas do primeiro (infra-estrutura). A minha preocupação é perceber o nível da
Superstrutura Jurídica, como Direito (moçambicano). Mas por quê essa preocupação?
Ultimamente, o Direito ‘‘tornou-se a forma das relações de mercado da sociedade
burguesa’’, assim disse G. Gozzi66, pois o jogo tem sido: eu te emposso como PGR (por
exemplo), mas ai de ti se um dia pensar em processar-me pelos meus crimes’’ (obstrução
referida atrás); nesse contexto, o fim último tem sido de ‘‘tornar o homem (fazedor e não
fazedor de Direito) abstracto de direito […]’’, isto é, no novo mercado o sujeito só tem
posição de subalterno, daí que não há negociações dos sujeitos nem posições próprias dos
juristas. Ou ainda, ‘‘os sujeitos são representados por relações jurídicas como agentes
envolvidos em abstractas relações de aquisição, enquanto estão ligados por variadas relações
de dependência’’. O Direito, pelo seu carácter impessoal (pois ora é lei, ora é seu conteúdo)
exprime, sobre a forma de vontade Geral (Rousseau), e torna clara o domínio de uma classe
(gerente da infra-estrutura) em relação a outra (gentalha).
Como frisei repetidas vezes, o «teatro» das eleições em Moçambique é uma das formas
para perceber isso. Vejamos que decorrida a contagem dos resultados, estes são remetidos ao
Conselho Constitucional, última instância para ratifica-los e evitar absurdos autoproclames.
Sabe-se que nas mesas de voto há todo tipo de manobra que, de certo modo, levaria a
reprisão das eleições. E é lógico que a parte que se sente lesada pode recorrê-lo. Mas se
verificados casos muitos dos que certa vez assim o fizeram, chegam ao Conselho
Constitucional com o processo expirado ou fora das datas reclamáveis; isto mostra quanta
«teia» antes da superstrutura jurídica para não atingi-la, pois quem quiser lá chegar a «teia»
não o vai deixar escapar. Ora, por mais que as atrocidades nas eleições intransparente sejam
despoletadas, se o Conselho Constitucional não se simpatizar com as vítimas dessas
situações _ se julgar por sí_ manifestará certa indiferença sobre o caso e, consequentemente
anunciar-se-á o vencedor (sob o aspecto da vontade Geral: vontade do Povo) quando na
verdade não tratou-se da tal vontade. Nesta perspectiva, segundo Kelsen67 o Estado torna-se
ordenamento Jurídico coactivo (já evidenciado como funciona) que embora não assuma a
exploração, pressiona a ordem jurídica para seus interesses.
Outrossim, para M. Adller 68 (1922), o Estado torna-se a forma politica-jurídica
(monopolização da protecção), na medida em que confere a exploração uma forma
determinada, a do ordenamento jurídico da lei e da vontade Geral, através da qual se

66G. Gozzi, Estado e Direito como Superstruturas Ideológicas, in DP, Editora UnB, Brasília, 199811ª, p. 1231-1232.
67 Cf. Kelsen, Essenza e valore dalla democracia, 1981.
68 Cf. M. Adler, La concezione dello statonu marxismo, 1922.

38
expressa o interesse de uma parte, mas que pode soar interesse de muitos. Contudo a
superstrutura a nível jurídico, de certa forma, tem tendência de salvaguardar os fins de gente
fluente e, é auxiliado pelas estruturas repressivas do Estado, trata-se das estruturas materiais
como Polícia e os Tribunais, com os quais, ultimamente, torna-se difícil ver resolvido, a seu
favor, um caso nele imitido, pior se tratar se de assunto que retarda o sistema
antidemocrático dos seus coactores.
Diante disso, é preciso repensar sobre a superstrutura moçambicana, de modo que
tenhamos outro rumo do Direito moçambicano. Já se sabe que o Direito é o constituinte do
poder que integra os outros três, isto é, poder Judicial (Direito), que se comporta com o
poder Executivo e Legislativo. John. Lock reza a divisão dos mesmos para que sejam
exequíveis de forma justa. Moçambique está a bom termo porque a sua Lei Mãe reza isso nos
numero……. Mas Freira revela que essa divisão não é nítida. Ainda falta muito, que cada
poder seja o que ele é em si. Primeiro é preciso uma reforma constitucional na perspectiva de
despartidarizar o Estado, fazendo que o Presidente da Republica não tenha o poder
Executivo, não seja o maior poder que domina todos os outros poderes, assim aconselha
Ferreira ao fazer soar as suas palavras da seguinte forma:

nós temos que abandonar o presidencialismo atípico africano para


passarmos para sistemas constitucionalistas ou parlamentares , onde há o
primeiro-ministro a controlar o executivo como acontece em Portugal,
Alemanha, Espanha e outros países europeus. 69

A despartidarização dessas instituições fará com que as mesmas sejam independentes.


E torna-los independentes significa não dar-lhe apenas o apanágio de pronunciar casos
premeditados pelo partido ‘‘A’’ ou ‘‘C’’. De facto, é preciso que instituições como
Procuradoria-geral, Tribunal Administrativo, Universidade, Conselho Constitucional
sejam independentes; os seus directores não sejam nomeados pelo presidente da República,
visto que esses actos, conforme clarifica Ferreiras, são antidemocráticos e isso significa que o
presidente engoliu todos os poderes, pelo que, os nomeados, ate certo ponto, serão apenas
marionete do alto-comissário, que também é passível, feito pelo seu partido.
O que tem acontecido em alguns países, a exemplo EUA70, não deve ser temido num
Estado como nosso, isto é, as decisões do Presidente ou qualquer individualidade que integre
a estrutura do Estado, podem ser anuladas caso limitem o bem-estar dos homens. Outrossim,
a outra que merece o mesmo tratamento descrito atrás é a CNE; que não seja dirigida

69 A. Ferreira. Entrevista. ‘‘Governação das seis províncias é debate inútil da Renamo.’’ Novela, Constantino,
Jornal Zambeze, ed. SENGO, Anselmo, Ano XIII. Nº 739. Maputo, 26 de Janeiro de 2017. pp. 2-4.
70 Anulação do Decreto Trump sobre os refugiados por parte dos juízes da Corte Suprema. Cf. S.E. Ngoenha,

Resistir a Abadon, Maputo, Paulinas, 2017, p. 154.

39
segundo as cores partidárias, mas deve fazer sentir a sua autonomia (não libertinagem e
abuso do poder) dentro dos trâmites.

PARTE II
A VIDA INTER-CONTINENTAL
Interdependência
A vida entre continebtemhffsfavvvvvvvv hbbbbbbbbbbvgggvvvvvvvv

2.1. Recursos naturais versos recursos humanos: um dilema da economia


africana.
Os países africanos são conotados, na estatística industrial e económica do mundo,
como países subdesenvolvidos. De facto, segundo Hernecker e Uribe71, a expressão «país
subdesenvolvido» faz acreditar a muitos que os países assim chamados ‘‘estão simplesmente
atrasados’’ em relação aos denominados «países desenvolvidos» ou «avançados», realidade
essa que em dados estatísticos dizem: ‘‘baixo rendimento per-capita, alta taxa de
analfabetismo, alta taxa de doenças endémicas, escassos números de médicos por
habitantes’’.
Todavia, a ideia de subdesenvolvimento não é melhor para idealizar a nossa realidade,
aliás eu não diria o semelhante, pois vejo a ideia de Subdesenvolvimento como ironia
proclamada por outros, para nos fazer trilhar por um caminho errado na resolução dos
nossos problemas; quer dizer, ela ‘‘oculta da verdadeira causa desta realidade, impede-nos
de encontrar os verdadeiros meios de superar’’ e assim continuaremos no tradicional
derrotismo dos nossos antecessores, que acreditaram na injustiça e predestinação natural,
isto é, nascemos pobres e, por mais que lutemos nunca atingiremos uma economia igual aos
países chamados «primeiro mundo», ou melhor, morreremos economicamente débeis. Não
obstante, Harnecker e Uribe72 asseguram que isso é uma miragem, porque o nosso nível de
vida, sob ponto de vista das possibilidades económicas, não é tão baixo em relação aos
industrializados, o que acontece é que os dois grupos _ desenvolvidos e os chamados
subdesenvolvidos (os em capitalização) _ tem evoluído ao mesmo tempo, mas não no mesmo
sentido, nem da mesma maneira devido ao sistema de produção (capitalista, imperialista,
socialista, etc.). Será que a realidade é a mesma para a situação moçambicana? Se pode
discutir, mas o inquestionável é que este país está numa dependência crónica sob ponto de
vista económico.
Ante a realidade da dependência, se pode ainda dizer que a nação moçambicana é rica,
pois possui um potencial energético muito elevado. Em outras palavras, Moçambique é rico

71 M.HARNECKER et G.URIBE, Imperialismo e Dependência, porto 1976², p. 12


72 Ibidem, p. 13.

40
potencialmente, porque tem o possível para ser uma nação competente sob ponto de vista
económico mundial, todavia, à sua frente há um ‘‘tpc’’, uma tarefa por cumprir.
Moçambique precisa colocar em concreto a sua potencialidade (logosérgon), visto que
não basta ter um mosaico de recursos naturais, mas é preciso fazer qualquer coisa de modo a
transformar Moçambique potencial (logos) em concreto (érgon). Não basta ter recursos para
ser um país estável economicamente, aliás, existe países como Japão, suíça, etc., que embora
não tenham enormes recursos naturais são estáveis economicamente.
O primeiro ‘‘tpc’’ dos moçambicanos é de superar a ‘‘pobreza’’ (teoria do «círculo
vicioso), a qual é a ponte para o sucesso económico. A superação da pobreza é um imperativo
porque depende, de facto, da vontade do Estado moçambicano. Esta pobreza é entendida,
como dão a conhecer as pensadoras Hernecker e Uribe, sob a teoria do «círculo vicioso»73,
pois embora os recursos naturais sejam enormes, mas os recursos humanos para a
produtividade do trabalho são débeis devido a não especialização da sua mão-de-obra
(pobreza nos recurso humanos). E se não despertar e pegar as rédeas, até na metade do
século XXI estará na mesma situação. Alguém pode pensar do seguinte modo: que vivam
assim os que estiverem nesse período, contudo a ética de responsabilidade de Hans-Jona74
fala muito alto, precisamos viver dignamente de modo que os efeitos ou resultados da nossa
vivência sejam compatível com o futuro bem-estar humano, ou ainda, as nossas actuais
escolhas devem garantir a integridade do futuro do homem. É nesse sentido que os
moçambicanos são chamados a premeditar as suas soluções e regimes a adoptar, tudo sobe
base da responsabilidade.
Agora, o «calcanhar de Aquiles» do continente em causa em relação aos continentes
desenvolvidos, no que toca aos seus recursos, nada mais, nada menos é, que a diferença na
forma de produção, quer dizer, enquanto na América e Europa usa-se os tractores
debulhadores, para agricultura, em Moçambique usa-se o arado de madeira. E segundo a
teoria de círculo vicioso, o factor atrás referido e outros semelhantes, levam-nos à ‘‘uma
produção escassa e que ao ser inteiramente consumido na subsistência da população, não
permite poupar para reinvestir e melhorar os meios de trabalho’’, os quais o facilitam a
produção. Em outras palavras, devido o défice de tecnologia, produz-se pouco que não basta
para consumo e melhoramento do enriquecimento da qualidade de produção, de tal forma
que sendo pouco apenas serve para o consumo e não para desenvolver, daí que nunca se
sonha na elevação a nível do desenvolvimento económico considerável próximos aos mais
avançados, por isso que tarde ou cedo, esses países (como Moçambique) sentir-se-ão

73 Para a teoria do «círculo vicioso» os homens são pobres porque produzem pouco e, produzem pouco porque
são demasiados pobres. Cf. Ibidem, p. 9.
74 Cf: H. Jonas, Le príncipe Responsabilité, Paris, Cert, 1990, pp.30-31. Apud, J.N. Vicente, Razão e Diálogo.

Filosofia I 10.º Ano, Porto, Porto Editora, Sd.

41
obrigados a recorrer, como sublinha Hernecker e Uribe, à ‘‘ajuda externa, para um possível
investimento que produza avanços económicos indispensáveis’’.
Ademais, as pensadoras esclarecem, a troca comercial altamente desigual desde a área
da saúde, construção civil, agronomia, etc, que retarda cada vez mais os países do continente
africano e aceleram o desenvolvimento dos países com os quais faz-se trocas, sobre tudo de
recursos naturais. Os seus sistemas políticos monopolizam o capital a partir das grandes
empresas, as multinacionais75, das quais, por parte dos países em desenvolvimento, se detêm
pequena percentagem.
Conforme sublinhei no artigo O fenómeno das Empresas multinacionais na África, o
caso de Moçambique: um eminente retorno do colono? 76 , em África, especialmente em
Moçambique, nos últimos anos, a economia tem sido dominada pelo Investimento Directo
Estrangeiro (IDE), pois essa

possui enorme potencial energético conforme a recente descoberta de carvão


mineral, cujas reservas são estimadas em mais de 20 biliões de toneladas, e
de gás natural estimada a 277 triliões de pés cúbicos associadas aos
abundantes recursos hídricos cujo potencial é de 18.000 MW,77

Isto, possivelmente, poderá proporcionar condições favoráveis para a satisfação não


apenas das suas necessidades domésticas bem como as da região Austral, todavia corre um
perigo de expropriação dos seus recursos. Com certeza, devido o baixo nível industrial e a
escassez de mão-de-obra altamente qualificada que caracteriza Moçambique há esforço de
recorrer às empresas transnacionais e sua mão, de modo a receber ajuda para explorar o que
existe. Este facto, no mesmo sector está passível

‘‘[…] a inúmeros prejuízos associados ao grão de cometimentos da


responsabilidade social das grandes corporações multinacionais e o impacto
negativo que pode criar sobre a vida das comunidades locais, condições de
trabalho e o meio ambiente’’78.

Mas na visão do Plano Director do gás79 de 2014, essa presunção negativa pode ser
invertido com o uso sustentável e perspectivado de tais recursos, por isso é urgente a

75 As empresas multinacionais (transnacionais) assim cunhado o nome pelo economista norte-americano David
Lilienthal em 1960, se denomina às companhias cuja actividade é em escala internacional, isto é, as suas
actividades vão além-fronteiras. Sendo que essas empresas são de cariz importante pois na visão da Lúcia
Domingos (economista), elas assumem 66% do comércio Mundial, criam novas formas de divisão de trabalho, de
modo a condicionar nova forma de acumular a mais-valia. (2014:8).
76 Artigo Publicado no jornal o @Verdade em 2018, cujo tema é: O fenómeno das Empresas multinacionais na

África (o caso de Moçambique): um eminente retorno do colono?


77 Conselho de ministro, RM, Plano director do gás natural, Maputo, 2014, p. 4. Este documento foi aprovado na

16.ª Sessão ordinária do Conselho de Ministro, no dia 24 de Junho de 2014.


78D. Biahale, Industria Extractiva em Moçambique: Perspectivas para desenvolvimento do país, Friedrich Ebert

Stiftung, 2016, p. 7.
79 Conselho de ministro, op. cit., pp. 2-6.

42
definição de uma visão de longo prazo, que assegure que os recursos naturais não-
renováveis, em particular o gás, sejam explorados e usados de forma racional, ou melhor, a
necessária revisão legislativa defendida por economista Castelo-Branco80, a qual ‘‘redea’’ as
actividades das multinacionais, que garanta que as transnacionais contribuam para o
desenvolvimento socioeconómico do país, ao mesmo tempo que preservem o meio ambiente
e garantam que as futuras gerações usufruam destes recursos e possam satisfazer as suas
necessidades e continuar a desenvolver o pais. Essas empresas, que explorem tendo em
conta o melhoramento de infra-estruturas, desenvolvimento do capital humano e combate
contra a pobreza. Na mesma linha da revisão constitucional invocada atrás, há também a
necessidade de uma revisão legislativa aplicável ao sector industrial para que contribua
consideravelmente para o desenvolvimento socioeconómico do país. Isso significa que a
revisão legislativa deve garantir a atração de investimentos para o sector extractivo,
assegurar competitividade e transparência, assim como salvaguardar o interesse nacional e
benefícios das comunidades.
Há certo reconhecimento afirmado sobre contribuição das multinacionais, a título de
exemplo, cita-se certas empresas como a Anadarko81, que se preocupa com a preparação de
mão-de-obra local para futura operação. Evidentemente, segundo D. Bihal 82 , a empresa
referida atrás, firmou acordos de formação com instituições de ensino nacionais e
estrangeiros, com destaque para a UEM, onde financia o curso de Engenharia de Petróleo ao
nível de mestrado, em parceria com Universidade de Texas dos EUA. Todavia, isso a
ninguém pode hipnotizar ao ponto de não questionar e procurar saber sobre os relatórios
exaustivos do processo de propensão, pesquisa, desenvolvimento e produção de recursos
minerais e petrolíferos, incluindo as questões ambientais e laborais, de modo a garantir a
exploração mais transparente equitativa, saudável e sustentável. As vantagens à vista não
devem ser o motivo de indolência para questionar a observância legislativa, por parte das
multinacionais, que regulam o sector extractivo no país. É sabido que os países detentores e
proprietários das multinacionais, sem dúvida,

[...] são vanguarda da criação tecnológica e da renovação dos métodos de


produção, pois a concentração do capital em suas mãos levou também à
concentração do saber, da pesquisa e do conhecimento. O monopólio do
conhecimento e da tecnologia faz das multinacionais aptos para comandar a
dinâmica do processo de desenvolvimento económico [e de comandante do
futuro] dos países em desenvolvimento [ou em capitalização]83.

80 Cf. C.Branco, 2010.


81 Era uma empresa americana, já vendida à companhia europeia por 56 bilhões de dólar norte-americano. ……
82 Cf. D. Biahale, Industria Extrativa em Moçambique: Perpectivas para desenvolvimento do país, edt. Friedrich

Ebert Stiftung, 2016.


83 B. Kucinski, O que são Multinacionais, Editora brasiliense, 198114, p. 36.

43
A operação de algumas dessas empresas é caracterizada pelo suborno e corrupção em
alguns países por onde actuam. E sabe-se que os salários dos trabalhadores das
multinacionais é discrepante, isto é, as afirmações de Kucinski nos dizem que os
trabalhadores dos países anfitriãs precisam de mais dez horas de trabalhar para ganhar o
que o trabalhador do país proprietário da empresa ganha em uma hora (pouco exagerado),
embora em alguns casos, sejam do mesmo nível de formação técnica, aliás, como alguma vez
afirmou o Professor Severino Ngoenha, uns da Europa e Ásia saem mecânicos, enfermeiros,
desempregados e prisioneiros, mas chegam, respectivamente, já engenheiros, médicos,
cooperantes e empresários (ou Empreiteiro) em Moçambique84.
Esta situação está calamitosa e não parece existir uma luz capaz de nos levar,
actualmente, ao debate com instâncias competentes sobre esses problemas, de modo a
mitigarmos o futuro nefasto; Não se vê ainda caminhos que possam fazer evitar a possível
ironiviciação do futuro desenvolvimento deste país. E as multinacionais, em nome de
projectos económicos para África vão se tornando nova via para a actual e contemporânea
colonização. É preciso questionar, sem negar ajuda delas, se é que o actual programa das
suas actividades é a melhor e a única forma de ajuda que podem oferecer. Se não, trata-se de
umas empresas ironivícias, daí que devem ser combatidas e submete-lo à legosergonia.
O outro caso é do capital financeiro (união bancário e industrial), que enfraquece os
países africanos endividando-os com a chamada ‘‘ajuda económica’’, onde os juros cobrados
pela mesma ajuda económica são constituídas pela riqueza extraída destes povos, tirando
lhes os recursos necessários ao seu sustento e desenvolvimento da sua economia,
constituindo, deste modo, um grande saque’’ incalculável e mortificadora. Outrossim,
Hernecker e Uribe continuam aclarando a realidade: a chamada ajuda económica ou
financeira é para os países mais capitalizados uma ‘‘arma’’ para pressionar politicamente os
em capitalização, e como consequência, esses últimos não terão alternativa primeira que a de
submeterem-se a quaisquer exigências dos primeiros85.
Toda essa complexidade faz com que os países proprietários das multinacionais
controlem a economia dos países dependentes das multinacionais, bem como os sectores
vitais da sua economia, submetendo-os aos seus interesses. Como exemplo disso, imagine o
quão ganha (na mais-valia) a Anadarko ou qualquer outra empresa chinesa, italiana,
americana, por investir nos países em capitalização do que teria nos seus próprios países,
aliás, se em casa ganhasse mais porque viria à África? Não só, quando dada empresa lança o
produto no mercado, do qual foi produzido o produto, é menos capital de transporte, menos
imposto aduaneiro e, consequentemente mais-valia. Contudo, é nessa perspectiva, conforme
afirma Avsenev, que o capitalismo proposto e aceite como única saída a partir da

84 S.E. Ngoenha, Resistir a Abadon, Maputo, paulinas, 2017, pp. 17-18.


85 M. HARNECKER et G.URIBE, Imperialismo e Dependência, porto 1976², p. 20.

44
Conferência dos chefes do governo e dirigentes dos países capitalistas e em
desenvolvimento para problemas internacionais nos quadros do diálogo «Norte-Sul», em
Cancu, no México (1981)86 pelo então presidente Ronald Reegan, o ex-secretário do Estado
Alexandre Haig, o então secretário das finanças D. Gigan e outros, então representantes dos
americanos, aos jovens Estados, enfraquece até hoje os Estados africanos e eleva cada vez
mais a economia dos países capitalistas, aliás, para mim o capitalismo entre cooperação de
dois Estados só beneficia quem tiver o controlo, mas como é lógico só controla quem possui o
capital (poder).
A África (Moçambique) precisa saber copiar. Aliás, copiar bons talentos é sensatez. África
precisa, para afastar a extrema dependência crónica, ter um objectivo económico claro para o
nosso contexto e, é exactamente isso que rezavam os dois professores de Ottava, os esposos
Higgins. É preciso ter o que chamaram de «democracia indígena»87, próprio de nós mesmos.
Um objectivo que não seja condicionado pelos outros países. Com objectivo certo deverá
organizar as pesquisas científicas em função dos seus objectivos. O orçamento para tal
projecto deve atrair quantidade considerável de investigadores e orientá-los em variados
sectores de modo a possibilitar a rápida especialização da África, que seja capaz de ser
concorrente na escala económica mundial.
Já alfabetizamos, agora é hora de intelectualizar e especializar a África. Os nossos
intelectuais não se devem atrair às grandes universidades internacionais e se esquecerem dos
seus países. Que sirva de exemplo as figuras como Eduardo Mondlane, Kuame Krumah,
Leopold Sedar Senghor, etc., que tendo estudado e trabalhado nas Américas e Europa. Não
se esqueceram de lembrar as origens e visita-la, fizeram-se de bons selvagens (Ngoenha),
voltaram às origens, é esse que deverá ser o nosso perfil. Pois que quando o intelectual
africano estiver além-fronteiras dever-se-á lembrar do perigo eminente de «rapto de
cérebros», que consiste em ‘‘privar a certas nações fontes intelectuais necessárias para o
desenvolvimento das indústrias de ponta’’88 ou qualquer outro sector de importância, trata-
se de contratar gente madura e excelente para as universidades de renome prometendo
valores além da concorrência normal das outras universidades, sobretudo dos países
autóctones. E esses, vendo isso como oportunidade para sua elevação ao status de
celebridade aceita sem levar em conta o quanto vai custar para a sua nação; significa, ainda
mais, desviar ‘‘as elites intelectuais dos trabalhos mais imediatos menos lucrativos e portanto

86 M. Avesenev, A orientação socialista e os seus críticos, Moscovo, edições da agência de imprensa Nóvosti, 1983,
pp. 7-8.
87 Cf. B.Higgins, J.Higgins. «Economic Development of a small Planet». N.Y., 1979, p. 65. Apud, M. Avesenev, A

orientação socialista e os seus críticos, Moscovo, edições da agência de imprensa Nóvosti, 1983, p. 34.
88 P. A. NEVES, Textos de introdução à política 2, porto editora, porto 1977, p. 68.

45
essenciais ao desenvolvimento económico’’89. Mas tudo acontece devido o melhor uso do
discurso para convencer e enganar os com possibilidade económica maior.
O verdadeiro cenário é o que já afirmei: sabemos que os homens foram criados e
delegados ao cuidado da Mãe Natureza, a qual não tendo o suficiente como produto acabado
para dá-los, enfrentavam-se pelo pouco que Ela lhes beneficiava até que decidiram unirem-
se e domina-La (revolução científica) para que dela tivessem o produto acabado e dela
sobreviverem. E Já tendo alguma coisa para a sobrevivência (assaz exploração da natureza),
verificou-se outro problema, porque a mãe, não tendo ‘‘mamilos’’ em todo corpo, há partes
com leite e outra não. Disto surge outra guerra da posse das partes com leite (regiões de
recursos naturais), mas devido os contrato social que visa também a protecção da
propriedade privada, desencadeia-se uma nova luta não bélica, mas sim através de Logos _
que já a denunciei atrás. Este logos é motivo de muitos enganos nos assuntos políticos e
económicos. O logos, uma arma com bala verbal e invisível mas audível é o critério do novo
retorno e nova colonização. É o discurso em promessa (logos) que os outros nos convencem
para ceder os nossos recursos e entregar a nossa mais-valia.

PARTE III:
DA PROMESSA À ESPERANÇA PARA SUSTENTAR A BUSCA
Todo povo, toda cultura vive sob um ideal prometido, independentemente donde a promessa
advém, celestial ou terrena. O patriarca e antepassado do povo Israel (Abraão) deixou a sua
terra (Ur dos caldeus) e emigrou para Canaã devido a aliança feita com Deus; e a busca por
Canaã foi motivada por um voto divino que lhe prometia terra e uma grande descendência.
Os cristãos são implicados com o bem viver em função da vida eterna (nos céus). Os
muçulmanos projectam peregrinações à Meca (sua terra santa) porque tem a esperança de se
beneficiar da purificação em vista a salvação, aliás, depois de haramos vivem a submissão a
Deus pois tem esperança de assim superar esse pecado. Quem não conhece Hachiko90 que
teve de esperar na estação de trem, por nove anos, porque acreditava no retorno do seu dono,
Dr. Eisaburo Ueno.
Moçambique desencadeou a guerra contra Portugal porque esta prometia ou traria a Paz.
O partido RENAMO perpetrou a guerra dos 16 anos, porque acreditava que um dia
Moçambique seria governado sob parâmetros democráticos. Todo cidadão vai às urnas,
porque por detrás desse processo há uma promessa de melhoria das condições de vida da
Nação. De facto, os cidadãos, antes de se fazerem às urnas, têm escutado os manifestos

89 M. Avesenev, A orientação socialista e os seus críticos, Moscovo, edições da agência de imprensa Nóvosti,
1983, p. 34.
90 Hachiko é o nome de um Cão retratado no filme Sempre ao seu lado por um menino que o considera seu herói.

Esse cão nasceu em 1923 em Odate Japão, tendo sido encontrado errante na estacão de trem pelo Prof. Dr.
Eisabura Ueno, que morrendo em 1923, e porque o cão tinha o habito de o esperar na estacão, este continuou
esperando em Shibuya por nove anos na esperança de ver retornando o senhor Ueno que morreu em missão de
serviço, até que ele também morreu esperando em 1934.

46
eleitorais, os quais acarretam certas promessas. Embora tenhamos tido decepções dos
líderes do passado, as novas promessas é que nos dão esperança, e essa esperança sustenta a
nossa busca. A esperança que de que um dia este país terá um raio da democracia a pairar
nele; a esperança de que um dia teremos as instituições de justiça a dizer não ao que não
convém e sim ao que é lícito; a esperança de que um dia teremos parlamentares que fazem
da razão que lhes levam ao parlamento como dever da primeira ordem; a esperança de que
um dia teremos um presidente que saiba, de facto, orientar os poderes divididos e
interdependentes ao bom termo; a esperança de que um dia teremos uma polícia que
trabalhe conforme o múnus orienta; contudo, a esperança de que este País um dia será
aquilo que se poderá chamar de Nação e um Estado verdadeiramente democrático, não
paramos de Buscar. Buscar o quê? Buscar os meios pelos quais chagaremos à essa
esperança. As promessas das propagandas políticas dão-nos esperança e esta por sua vez
sustenta a nossa busca. Sabemos que as promessas sempre existirão, e porque o homem
tende a alimentar o ‘‘mundo da ambições’’, por isso há necessidade de mostrar as condições
pelas quais o mesmo pode chegar a concretizar o seu manifesto e diminuir a distância da
esperança. Ora, qual pode ser o caminho que leve laconicamente ao tesouro da nossa
esperança? A seguir…

2.1 O Legosérgon, uma alternativa de busca da racionalidade política

[…] não tenho nenhuma duvida sobre a potência do


capitalismo em produzir felicidade e qualidade de vida
material na grandeza que produz. Nenhum outro
sistema conseguiu fazer isso. Minha dúvida é se nossa
espécie suporta tanta felicidade sem se tornar uma
espécie irrelevante.91

No item I desvendamos sobre a natureza humana, onde a partir de Platão nos


simpatizamos com a Hobbes e Rousseau, pois o homem possui duas tendências, para o bem
e para o mal. E das duas tendências o negativo pode predominar, caso este se deixe dominar
pelos apetites do corpo (pathos). Disto ficou claro que o Homem pela tendência natural é um
ser sensível, um ser real passível ao desvio de várias patologias ou vulnerável aos seus
desejos, paixões, ambições, realizações. O Homem, seja qual for a perspectiva para defini-lo,
não é possível considerá-lo plenamente como bom, muito menos achá-lo absolutamente mau,
pois as duas tendências coexistem.
Dessa abordagem ficou claro e evidente que:
[Recapitulação por isso dispensável]
[o homem é (seu eu_ ele mesmo), sob ponto de vista de maleficência ou benevolência, conforme a alimentação do
eu pelo pathos. Mas, porque muitas vezes, tende a fazer algo para satisfazer ou realizar o [seu] ego [Eu], tem se
revelado mais com sentimento da alma apetitiva (domínio do pathos). Esse egoísmo do homem tendem a criar,

91 L. F. Pondé, Filosofia para corajosos, Planeta, São Paulo, 2016, p. 121.

47
ao longo do percurso vital e conforme o contexto, um «mundo passional» de ambições. Esse mundo passional de
inúmeras ambições e incontáveis vaidades humanas está em muitos homens da sociedade, por isso as vaidades e
ambições também se multiplicam, e não havendo condições de suprir todas essas ambições de cada homem,
começa-se a luta hobbesiana. Mesmo com o contrato social como alternativa de resolução a luta continua de fase
a outra e de forma diferente. E na fase actual a luta tem sido em vista a conquista do lugar do agenciador ou
administrador das relações humanas e dos produtos da natureza, desde a mega administração (presidente) ao
micro (de autarquias ao regulo). Bem sabemos, conforme a máxima popular, que onde duas ovelhas (dois lideres)
se confrontam o capim (povo) sofre.
E devido ao princípio de impenetrabilidade não pode ocupar a mesma cadeira. Mas porque o contrato das
relações humanas prevê a punição e a repugnância de quem quer que use, intencionalmente, a força maior, clara
e visível (a guerra) e os disputadores mais astutos pensaram no meio pelo qual se pode chegar à cátedra política.
E, além da fraude eleitoral, que em si é má, já que demonstra claramente quão sujo, patológico e ironivícico é o
sujeito que a pratica e por isso repugnado, transformam o logos (discurso) em arma de luta política. Uma arma
que desencadeia uma luta não bélica. Este logos é motivo de muitos enganos nos assuntos políticos e económicos.
O logos, como já disse, é uma arma com bala verbal e invisível mas audível é o critério do novo retorno e nova
colonização.
Como vimos, Heráclito ensinou-nos que em tudo quanto a natureza nos tornou, não deixou de tornar-nos
logos: seres discursivos, seres pensantes (já dizia Descartes) para vivermos neste mundo social. Disto infere-se
que o homem, todo ele, é um logos (ser discursivo); toda a sua vida é um logos (passa a vida a pensar e a falar);
inclusive as etapas da sua vida são um logos (balbucia, fala, dialoga, expressa, relata, discorre e tartamudea).
Ante a guerra recomendava-se o discurso (diálogo) para a resolução dos seus problema, mas o uso do discurso
foi demais a ponto de ser transformado em método de nova luta. Quer dizer, o homem actual se faz sentir neste
mundo com o uso do logos para a sua sobrevivência pois onde não consegue enfrentar o outro pode persuadi-lo e
convencê-lo para sua vantagem.
Desta feita, o homem como falante, pensante, discursante é um logos, cuja denominação correcta seria a
aristotélica: logos apophatikós. E na medida em que o logos apophatikós serve do logos não só para convivência
e resolução de problemas, mas também como meio de perpetuar a luta hobbesiana, torna-se urgente concordar
com Aristóteles, segundo o qual o logos é uma sentença que pode ser classificada sob ponto de vista da sua
veracidade ou falsidade. Se for verdadeiro teremos nesse discurso ou fala a ironivírtus, e caso contrário teremos a
costumeira ironivício.]

Se diante da guerra o logos era o bom meio de convivência; diante do discurso, já


perigoso, torna-se necessária uma nova recomendação para uma busca contínua da nossa
estabilidade. Alias, está sabido que no tridimensional homem platónico (apetitivo, irascível
e racional) se descobre o homem hobbesiano (apetitivo), rousseano (irascível) e
contemporâneo (racional). O contemporâneo foi o homem que Platão e outros, ao longo da
história, quiseram formar tanto que até hoje ainda se prende teclas, se gasta papeis e tinta a
transfigura-lo. E por que nós vamos escapar nessa tentativa? Eis a razão pela qual tentamos
e tentar-se-á buscar uma nova, quiçá diferente desta que apresento a seguir. Que não é outra
coisa se não Érgon. O érgon é uma alternativa para aperfeiçoamento do logos apophatikós
(homem falante e discursante) para que o seu logos seja frutífero. Mas o que é Érgon?

2.1.1 O Égon
O érgon é um conceito grego, que em termos de significado é polissemicamente usado como
o logos. Não obstante, as diversas significações se correlacionam. No caso de logos temos
como significado os seguintes correspondentes: pensamento, palavra, discurso, etc. Agora,
se interpretarmos o érgon a partir das obras que o abordam percebe-se que ele significa
«função, actividade, tarefa, obra, trabalho»92. Trata-se do prático de cada realidade. E

92 A. M. Ribeiro, O philosophein como ergon: Sócrates de Platão no Sólon de Heródoto, 2017, passim; Ver
também o artigo de: Camila, A herança poética, o uso sofístico de Hesiodo e o Érgon filosófico em Platão, p. 11-15.

48
conforme a aplicação platónica citado por Abbanhano93 é a operação, trabalho, função e
actividade própria de cada realidade. Platão dava exemplo dos membros do corpo, onde o
érgon do olho, ouvidos seria, respectivamente, ver e ouvir. Trata-se, contudo, da virtude de
cada realidade, isto é, aquilo que cada coisa faz melhor do que outras coisas94.

2.1.2 O Legosérgon
Deste modo, concebido o érgon como acção prática, actividade, obra, torna-se
necessário a sua associação ao logos para que este último seja frutífero. Pois conforme revela
a história a coordenação dessas componentes trouxe resultados positivos para o homem.
Para não parecer desnecessário a coordenação dessas formas de vida (discurso e prática do
discurso) há necessidade de perceber «o por quê» da não preferência do simples discurso ou
simples pensamento.
Com certa atenção percebe-se que os piores políticos chegam ao poder por duas
alternativas mais comuns, ora por fraude eleitoral, ora por manifesto eleitoral (que convence
o eleitor). A fraude concretiza-se por que houve, antes, um discurso que convencesse os
agentes secundários e terciário para sua efectivação; trata-se de um discurso para resolver
certo problemas fora do aspecto político, muitas vezes de ganância a pecunia, tanto que esse
discurso é, por si, mau a ponto de não ter aceitação para a sua aplicabilidade [aqui temos
ciência]. No manifesto eleitoral também encontra-se um discurso que embora seja aceitável
para a sua concretização, não é aplicado por quem o proferiu. Nos dois pontos há sempre um
discurso (logo): um desnecessário e o outro necessário. Este último, não é concretizado, visto
que o seu dono pode ser o do primeiro. Que só pratica o que é bem para ele, e não a pratica
quando é bem para a sociedade. Conquanto, os dois discursos são duas pontas de uma
mesma cobra, no fim das contas o que pegamos é uma cobra, o logos, por isso viciante.
Quando o discurso é necessário (para os cidadãos) o discursante, muitas vezes, não o
pratica; e quando é, em si, desnecessário ou mais importante apenas para o seu ego vive-o e
pratica-o. Nos dois casos o discurso torna-se enganador. Enquanto na primeira o discurso
em si não tem nada de virtude e por efeito engana os menos vigilantes, no segundo caso, o
discurso tem dose de verdade para confundir os vigilantes [aqui reside a nossa preocupação].
Neste último caso caímos sempre porque misturam verdade com mentira para os
admitirmos como sérios e virtuoso. Logos político
O discurso homogéneo (só com vício) ou vicioso, em si, tem no seu soar sabor de maldade,
que não é preciso esforço para perceber à primeira impressão, tanto que facilmente se pode
esquivar dele. Todavia o discurso heterogéneo (mistura de vício e virtude), que é mais

93 Platão, Republica, I, 352ss, apud, N. Abbagnano, DF, p. 458.


94 N. Abbagnano, 458; ver também a interpretação de: C. E.S. Prado de Oliveira, A herança poética, o uso
sofístico de Hesiodo e o Érgon filosófico em Platão, Kléos N. 18: 33-50, 2014.

49
perigoso, é o bem premeditado com ciência de melhor enganar, e que juntando-o com um
pouco de verdade necessitada pelo ouvinte torna-se acolhível, sobretudo pelos menos
atenciosos (que são muitos). É aqui onde se encontra o grande ironivíciante, que tudo
planeja para enganar anunciando (logos) e não cumprindo (aérgon). É este discurso que
mais nos preocupa, por isso a necessidade de conciliar o discurso e prática. A tarefa é dupla:
dominar o pathos e tentar buscar logosogonia.
Os homens que assim o fizeram foram dignos de honra por ter vivido de forma ideal
sem conturbações contra a comunidade, embora tenham sido mal tratados visto que os
irónicos não os admitiram como justos. Que o diga o ‘‘Sócrates de Platão’’, cuja vida foi logos
(discursar ensinando) e érgon (viver o ensinado); esse ‘‘[…] Sócrates de Platão apresenta-se
em tribunal, discursando para, pelo logos, por seu discurso, definir e efectivar seu érgon’’.95
Que se diga da vida de Jesus de Nazaré venerado pelos cristão como seu Rei, pois segundo
Castillo96, este «foi, ‘‘poderoso em actos [érgon] e palavras [logos]’’»; Do logos apophatikós
(anunciador do discurso) ao homem anunciador e praticante do discurso.
O título deste item reclama o aprimoramento do homem para que este saiba viver com
e na comunidade sem colocá-la em causa. Desta feita, também invoca-se nessas linhas, o
aperfeiçoamento do político logos apophatikós, isto é, homem político que anuncia o
discurso (propaganda, manifesto, promessa etc.), aquele que orienta a polis. É este político
que precisa orientar a sua vida política nos moldes daquilo que a partir de agora chamo de
Logosérgon, que é a harmonia, concordância, conciliação ou coerência entre o que se diz
(logos) e o que se faz (érgon). O Logosérgon deve ser o princípio base para a vida do homem
político. O político deve se orientar por ele. Ou seja, o exercício político deve consistir na
harmonia entre o logos (discurso, manifesto, propaganda) e o érgon (prática do manifesto
ou propaganda), que significa coerência entre o discurso e a acção ou prática.
Todavia, ao se propor que o homem não seja apenas logos (conforme a natureza lhe
destinou) mas também érgon não se está a dizer aqui que quaisquer pensamentos, discursos,
etc., deva ser executado. Mas conforme esclarece Camila97 que cita Chatraîne, o ergon do
verbo Ergázomai significa ‘‘obrar’’ ou ‘‘causar’’ o objecto do outro. E recorrendo à ilustração
de Crítias, Camila esclarece que: ‘‘fabricar … o objecto do outro pode ser fazer … o que é
próprio, isto é, realizar a sua tarefa (ergon)’’. Quer dizer, o ergon que estamos a aconselhar
não é outra coisa se não aquilo que um político na sua arte de governante devia saber fazer; o
que a priori, o faz não em favor de si, mas sim dos cidadãos _ [realizar a sua tarefa que visa
fabricar o objecto (bem-estar) do outro]. E como conclui Camila, citando Hisíodo, o ergon é

95 A.M. Ribeiro, O philosophein como ergon: Sócrates de Platão no Sólon de Heródoto, Revista de Estudos
clássicos, ISSN 2176-1779, Rio de Janeiro, vol.5, n.2, jul.-dez., 2017, pp. 109-136. p. 22.
96, J.M CASTILLO, La humanización de Dios : ensayo de cristología, Madrid, Editorial Trotta, Vozes, 2009. p. 94.
97 C. E.S. Prado de OLiveira, A herança poética, o uso sofístico de Hesiodo e o Érgon filosófico em Platão, Kléos

N. 18: 33-50, 2014, pp. 14-15.

50
uma actividade que ‘‘tem em vista a beleza e utilidade’’. Pois o que é alheio a essas qualidades
é prejudicial e desnecessário.
Está claro que as nossas acções/labor/trabalho, muitas vezes, acontecem em função da
resolução de um problema que pode ser relevante ou não, singular ou comunitário. Por
exemplo, o ladrão rouba ora pela necessidade, ora por ganância (ambição); O marido mente
à esposa, ora para preservar a imagem de digno diante da esposa, ora para evitar intrigas
entre os dois; o professor é empreendedor de notas, ora para alimentar o seu desequilibro
afectivo (na raparigas), ora para ganhar valores além. Agora, não se vai admitir, que esses
façam o descrito atrás porque antes defenderam argumentos que justificam as suas
posteriores acções.
De forma alguma chamaremos isso de Legosérgon. O legosérgon deve ser todo o bom
discursar e praticar que constituem uma boa alternativa que cada um propõe para a
resolução de um problema. O ergon do professor é ensinar ensine bem………..platao arte de
cada coisa…..….; Achou que há problema a ser resolvido (logos) e que é possível por via de
diálogo, dialogue verdadeiramente (érgon); Acha que a sua vida é repleta de miséria daí que
precisa enriquece-la (logos) e viu como alternativa entrar na política para melhor resolver o
problema, está enganado, pois essa acção em nenhum momento pode ser considerada
legosérgon. Primeiro, porque entra na política por razões erradas esquecendo-se que o
érgon (virtude, acção) da política é a boa direcção da polis; segundo, porque entrar na
política para resolver injustamente o problema da miséria individual não é a melhor
alternativa para o seu problema, pois bem faria por um negócio, bem como quaisquer outras
actividades que rende.
Ora, para saber se a alternativa é boa ou não, basta seguir a nossa instância judicatória,
isto é, a consciência recta, porque todos homens são dela dotada, embora moldada conforme
o ambiente cultural. Se existe um problema político que urge solucionar, antes de anunciar,
discursar, já se sabe que a guerra não é melhor alternativa, por isso não deve ser anunciada.
Mas é preciso encontrar a boa alternativa, e achando o Diálogo como opção, só será melhor
alternativa depois de anunciado e praticado verdadeiramente. Como é necessário, o
legosérgon exige e ajuda meditação das nossas posições, alternativas e opções de resolução
de problemas; depois exige que se tenha a melhor opção dentro de várias; a preferida não
deve ser melhor em função dos benefício do pensante ou meditante, mas sim em razão do
menor dano (caso todas as opções acarretem) a causar à comunidade se for praticado, pois
que o seu anúncio, por princípio do legosérgon, implicará a sua posterior e real prática.
Contudo, sublinha-se que quem cuja vida é o legosérgon, toda a sua vida será laboriosa, uma
vida que custa, mas também repleta de felicidade visto que será uma vida digna, com
propósito (virtude) e sem peso de consciência; esse Homem de trabalho, de actividade,
Homem atarefado com o que melhor sabe fazer é, conquanto, o ‘‘Homem Oblativo’’.

51
É possível que o leitor questione-se, e não saber o por quê de tanta preocupação. Pode
não lhe parecer evidente o que se descreve nessas páginas dependendo da posição em que se
encontra, porque segundo o princípio hermenêutico, do palácio ou mansão vê-se a vida e o
mundo de maneira muito diferente de como se vê tudo isso a partir de uma barraca/palhota.
Mas importante notar que o verdadeiro cenário de gente que temos em Moçambique,
sem olvidar os que se esforça a viver a logosergonia, é o já descrito nas primeiras páginas,
isto é, homem logos, ou se quisermos, logos apophatikós; homem ironiviciante, aquele que
mal exerce a sua acção política; aquele gerente de qualquer instituição, pequena que seja; o
homem que estando em frente de uma instituição, família, grupo social não o orienta como
devia ser; o político, governante, que mesmo estando a par dos seus deveres faz o contrário;
aquele Pai e Mãe que mesmo com possibilidades, diante da sua família não presta a devida
conta; aquele que na esteira dos seus deveres como alguém (que devia ser) responsável
desorienta os outros, sobre tudo os mais novos, sufocando-os a partir do seu status social; o
PCA de tal empresa «j», que mesmo a par de sua incompetência aceita cargo por ganância a
dolacracia (Ngoenha), e para piorar, ofusca os intentos da mesma instituição em vista a
valores particulares (quando devia servir a communitas); o professor que sob o rosto
ironivícico cobra certas taxas ou coito para, respectivamente, transitar os alunos e alunas,
atitude que o torna cúmplice da ignorância de pseudo-intelectuais do século XXI; outrossim,
as instituições governamentais e não-governamentais, que embora fossem capazes de
denunciar todo tipo de corrupção e problemas que assolam a sociedade, não o fazem
devidamente; os parlamentares que esquecendo dos seus deveres (de discutir positivamente
os problemas da nação), discutem as mordomias pessoais; não se olvida os polícias que no
lugar de amainar os problemas e proteger seus compatriotas, do seu ofício aproveitam tirar
vantagens particulares, criando mais desmando na sociedade. São contudo, aqueles que
fazem das doações estatais, propriedade particular; ainda são, as multinacionais que
enganam os países em capitalização para beneficiar-se dos seus recursos, sufocando desse
modo a economia desses países; não se esquece ainda, os que pelos seus negócios
contribuem consideravelmente para o desmoronar dos valores sociais, e por via disso,
implantar frivolidades; para o último caso, cita-se a vergonhosa publicidade da CDM98 e
outras companhias de produção de bebidas, as quais fazem mais propaganda de álcool que a
exaltação dos valores que formam o homem. Este é o verdadeiro triunfo da filosofia irónica,
pois não se sabe, actualmente distinguir o bem do mal. A verdade-valor-virtude tem
semblante do falso-frivolidade-vício e vice-versa. E quando as mentiram dão graça, as
verdades não merecem nenhum aplauso (Dário camal). O álcool transforma o cidadão
(activo) em assistente e aprovador do teatro político; piora quando este bêbado vai às urnas
sem consciência do que vai fazer; ou ainda sai de casa consciente e chega nas urnas bêbado e

98 Cerveja de Moçambique

52
consequentemente de lá sai sem saber a quem votou restando lhe lamentações quando
descobre que só foi lá manter a desgraça.
Este é o cenário da sociedade actual em Moçambique, quiçá noutros países. Estou a
dizer que a nação moçambicana está moribunda; Eu, você, e ele somos constituintes da
nação moçambicana; por isso nós (eu você e ele) estamos moribundos. Este homem
moçambicano se encontra em situações de estrema complicação. Sabemos também que o
homem, como se sabe, ‘‘é um ser no mundo e aberto ao mundo’’; A sua vida caracteriza pela
uma certa busca incessante de algo valioso, queira chame de Deus (que traz felicidade e
tranquilidade), Felicidade (que lhe traz tranquilidade), Realização (que lhe traz felicidade),
etc. Ora, a abertura ao mundo, mostra-se como abertura ao futuro (utopia), para o qual vai
escrevendo e vivendo a sua história. E a sua utopia (Futuro) é fruto humano, mas a utopia
planeja-se e realiza-se na responsabilidade. De facto, é assim que se pode pensar numa
sociedade digna e fruto do homem. Aliás,

hoje é difícil pensar que uma benevolência divina zele sobre o mundo, onde
há tanta miséria, guerra e sofrimentos. O decisivamente importante é que
com Deus ou sem Ele, cabe a nós mudar o mundo [Moçambique]. Nossos
males não resultam de descuidos ou cochilos divinos: são provocados por
nós, pelo mau uso da liberdade. Se os provocamos, somos também capazes
de corrigi-los99

Todavia, não basta que se pense: sociedade digna é fruto do homem; Assim,
«Guebuza» é homem; neste caso, «Guebuza» pode projectar uma sociedade digna. Muito
pelo contrário o Homem que possa projectar o mundo, África, Moçambique, não é um «M.
Changue», Um «João», etc., mas um Homem que coloca em acção o logosérgon, um
Homem oblativo. É preciso pensar-se mais alto. Quer dizer, ao pensar-se na edificação de
um ‘‘prédio’’ deve se matutar também no seu ‘‘engenheiro’’. E se se quer algo de qualidade
deve se projectar e pensar-se num engenheiro de qualidade, eis a razão pela qual, nestas
linhas precisamos olharmos o estilo do Homem que precisamos tê-lo e sê-lo para sociedade
que desejamos: o Homem oblativo.

2.2. A emergência ‘‘Unanamnitica’’, o tpc dos cidadãos moçambicanos

Para os pastores, a coisa mais tremenda e mais vergonhosa de todas é criar cães
para os ajudarem a cuidar do rebanho, de tal modo que, devido à falta de
disciplina, à fome ou a qualquer outro mau
costume, se pusessem eles mesmos a tentar fazer mal às ovelhas e a assemelhar-
se a lobos, em vez de cães. [ …], devemos vigiar por todos os modos, não vão os
nossos auxiliares fazer assim aos seus concidadãos, visto serem mais fortes do
que eles, e em vez de aliados benevolentes, assemelharem-se a déspotas
selvagens?

99 A. Sem, apud O. Pegaroro, Ética dos maiores mestres através da história, Editora vozes, Brasil, 20065ª, p. 149.

53
[Platão: A república: 102-103]

O problema político, em quase toda a sua esfera, na sociedade em que vivemos nos obriga a
desconfiar a personalidade de qualquer político. Em muitos casos esses políticos são tão
bons antes de chegar à escalada vanguardante. Mas isso não devia parecer assim, por que
sabemos que por mais que a certa altura manifeste bondade, tem também uma parte
negativa. Eles, a priori, comungam mesmas ideias e valores com os cidadãos, mas
posteriormente não parecem terem tido e vivido pelos valores que à dada altura eram, junto
com eles, o ideal dos cidadãos. Questiona-se: será que agem de má-fé? Poucos deles
negariam essa possibilidade. Será que agem por incompetência? Não se crê, pois alguns
chegam ao governo pelo princípio da meritocracia. Será que é por pressão dos colegas
corruptos? Não se admite pois há uns que mesmo assim dizem não à corrupção! Deve tratar-
se de ‘‘amnésia’’ e falta de vontade de praticar o bem? Quiçá! É por ganância? Talvez!
Todavia o que se pode afirmar à primeira vista é que o cratos, o poder, a ganância (todos os
elementos que alimenta o mundo do Eu) leva à amnésia, isto é, leva o político representante
ao esquecimento do seu propósito; o poder e a ganância hipnotizam os bons actos políticos _
logosergonia, dai que, embora soe exagero, o político representante precisa daquilo que
proponho chamar de Unanamnese100_ universidade para anamnese. Trata-se de composição
de uma «turma» composta apenas por políticos representantes dos cidadãos (alguns
aproveitarão aqui abordar um pouco sobre a política). Os docentes da mesma turma, de
princípio, devem ser realmente filósofos reconhecidos, bem preparados e aptos para mostrar,
aos seus alunos, ‘‘as sombras de Platão’’ _ para reminiscência _ da causa do seu estar no
governo. A tarefa do docente é simples, é só para recordar, porque embora sejam amnesiados
pelo poder, já sabem, _ assim se crê _, qual devia ser o seu propósito. Os docentes, maior
parte dos filósofos, e outros das ONGs avaliam a prática política dos seus discentes daí que
caso andem por maus caminhos (toda espécie de corrupção) sejam chumbados e demitidos.
Aliás a demissão devia ser tornada realidade pelas instituições implicadas (Conselho
Constitucional; Tribunal Supremo).
É claro que isto pode soar mal como se tratasse de uma grande instituição conforme
insinua o nome que a atribuí _ Universidade Anamnética _, mas tratas de abundar as
oportunidades que certas vezes os filósofos de renome, como Ngoenha, têm tido na
assembleia, para dar aulas magnas aos parlamentares. A referência como docente é para os
filósofos, pois esses além de Platão que os cita como os que devem governar a República, são
para Ngoenha, os que possuem ‘‘a coragem de pensar por sim mesmo, e não se deixar

Unanamnese é uma palavra justaposta, por mim proposto, a partir de ‘‘Un’’que traz a ideia de Universidade, e,
100

Anamnese que que insinua a ideia de recordação. Contudo Unanamnese significa, nessa perspectiva, uma
Universidade com fim último de recordar o intento dos políticos-mor.

54
possuir pelas modas e pelas correntes da época’’101 e, isso é que faz acreditar que trata-se de
personalidades com censo de responsabilidade aceitável para despertar os outros
(governantes); são os capazes de fazer um retorno à caverna, ‘‘pôr o que viu (de bem) à
disposição da comunidade […] e obedecer ao vinculo de justiça que o liga à humanidade na
sua própria pessoa e na dos outros’’102.
De certo, sabe-se que os governantes estão a par dos seus deveres, mas parece haver
necessidade de reeduca-los e re/consciencializar as suas mentes para o reconhecimento e
re/descobrimento da dignidade de que o cidadão moçambicano merece no seio comunitário
(e não individualmente); É preciso ‘‘[re]desarmar as mentes’’ para abandonar o belicismo
(Castiano), de modo que, se forme uma comunidade coesa, fundada sob alicerce da Paz
mazulana (não voadora) 103 , Justiça ngoenhana (em vista à integração comunitária). O
Homem precisa sair desse ‘‘beco’’ do individualismo para a communitas. A tarefa dos
mestres da Unanamnese é manter os governantes vigilantes durante a grande noite dos
quatro anos de mandato, para não se deixar atrair à ganância, a qual junto com o poder são
os grandes atentados de uma boa governação.

2.3. A transição à Democracia, uma questão de Responsabilidade


Queremos a democracia! Isto não/é democracia! É assim o cantar diário do povo (cidadãos)
e dos parlamentares. A democracia é um sistema político que se faz sentir desde os
primórdios do pensamento político e filosófico grego, na cidade-Estado de Atenas, tendo
como vanguarda Clístines. Este é considerado o «Pai da democracia», porque foi o primeiro
reformador de dessa cidade e ampliou, nessa altura, a assembleia popular da cidade. Foi
quem colocou os atenienses como ‘‘cobaias’’ da democracia entre 508-507 a.C. O modelo
desta democracia era a que os grandes pensadores chamam-na de directa, com duas
características:

a selecção aleatória e de cidadãos comuns para preencher poucos cargos


administrativos e judiciais existentes no governo e uma assembleia
legislativa composta por todos os cidadãos atenienses 104.

Todos os cidadãos elegíveis eram autorizados a falar e votarem na assembleia, que


estabelecia as leis da cidade-Estado.
Este modelo era exequível pois a cidade de Atenas era composta de um número não tão
alto como as cidades actuais e, nessa altura havia mais ou menos 200 a 400 mil habitantes,

101 S.E. Ngoenha, Resistir a Abadon, Maputo, Paulinas, 2017, p. 14.


102 N. Abbagnano, Storiadella Filosofia, Lisboa Trad. Port. A. B. Coelho, F.Sousaet M. Patrício, História da
Filosofia, Editorial Presença 2º edição Vol. I, 1976, p. 189.
103 B. Mazula, A Construção da democracia em África: o caso moçambicano. Maputo, Ndjira, 2000, p. 64.
104 C. P. Rodrigo (org). Limites da Democracia. Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidade, v.1, pp.1-15,

2017. (ISSN1 1982-3231).

55
de dentre os quais 30 e 60 mil eram cidadãos105. A inferioridade do número de cidadão
facultava a execução deste modelo, de facto, a forma pela qual se dirigia esse regime, dava a
possibilidade de as decisões serem tomadas pelas pessoas reunidas na assembleia, mas
também era mais directo no sentido de que elas, através da assembleias e tribunais de justiça
controlassem todo processo político e uma grande proporção dos cidadãos estava envolvida
constantemente nos assuntos públicos106.
Agora para o caso actual a realidade é outro devido o número de cidadãos que é muito
elevado, razão pela qual este modelo, ao invés de seguir o aspecto grego, o original, da
primeira polis de Atenas, deve ser o modelo representativo (democracia indirecta), por isso
temos os parlamentares, os deputados, para que em nome, dos ‘‘cidadãos’’ deliberem e entre
em consenso sobre as nossas vontades e sonhos, aliás, como salienta Ferreira, o consenso é
um dos aspectos que legitima a democracia, ou melhor, a democracia é a forma do governo
baseado no consenso. E se admite-se que com a democracia se chega a uma sociedade de Paz,
essa paz, embora tenha sido entendida de diferente perspectivas ao longo do percurso
histórico, isto é, paz como felicidade, liberdade e ataraxia (na antiguidade); paz interpretada
como relação interior de amor a Deus e ao Próximo (idade média); e, desde o período
modernos até aos nossos dias, ela ‘‘tem aspecto de contrato social traduzido num acordo
entre cidadãos’’107, e, é exactamente o problema do consenso que degenera a democracia
moçambicana.
Ora, os parlamentares moçambicanos deviam saber que o consenso ou o mútuo
entendimento não cairá do céu, pelo que, depende deles e, só é possível através de certo
diálogo, o qual para nosso caso pode ser o ‘‘calcanhar de Aquiles’’, pois o Diálogo para
reedificação e consolidação da paz deve ser, conforme Cebola (informação verbal)108, à luz do
que reza a ética do discurso, _ que é uma emergência para parlamento moçambicano _ visto
que além dessa orientação o risco é de se chegar àquilo que o Professor Catedrático Brazão

105 Nesse período era cidadão apenas aquele que tinha idade (superior a 20 anos de idade) suficiente para
participar do combate bem como os que viviam nas circunscrições das cidades e não nos seus subúrbios.
106 A. J. Fereira, Totalitarismo e Democracia: por que faliu o projecto libertário de Marx? Maputo, Paulinas

Editora, 2004, p. 7.
107 S. Agostinho, Interpretações ético-filosóficas sobre a possibilidade de edificação da Paz em Santo agostinho e

Jürgen Habermas, Matola, 2016, pp. 12-13.


108 A ética do discurso é uma urgência no nosso parlamento, pois o estabelecimento do consenso depende,

infelizmente, da cor partidária, e não da força do melhor argumento. Para Habermas envolvidos numa
comunidade de comunicação, a admissão de propostas de lei válidas toma por base o poder do melhor argumento,
independentemente de quem o profere. Caso contrário, agir-se-ia estrategicamente, validando argumentos por
meio da força coerciva de quem emana. O diálogo não deveria ser ressonância dos interesses partidários. A
multiplicidade de vozes deve representar múltiplas visões acerca da coisa pública. O número de parlamentares
moçambicano não devia expressar, infelizmente, em apenas três orientações e visões acerca da coisa pública, pois
isso empobrece o discurso, daí a necessidade de redefinição do parlamento como espaço público de negociação do
saber. A obediência às vontades políticas escamoteia a noção de consenso, substituindo o querer pelo conformar-
se ao saber inconsciente e mutilador. O desprezo, a não-aceitação e a desqualificação do Outro, características do
debate parlamentar, fundamentam-se no princípio de que ‘‛[…] tudo o que provém do adversário, tudo o que
apoia uma ideia adversa não merece sequer ser examinado, pois o adversário vive no erro, senão na mentira’’. (P.
C. Mazi, Palestra da ACAFIL, dada no Seminário Filosófico Interdiocesano de «Santo Agostinho» – Matola, no
dia 29 de Julho de 2017, cujo tema foi: Reconstrução e consolidação da Paz enquanto problema de uma ética do
discurso).

56
Mazula no seu livro: A construção da democracia em África, o caso moçambicano, chamou
de Paz escorregadia ou Voadora, pois

quanto mais o homem contemporâneo procura a paz, esta parece fugir-lhe


das mãos, ela torna-se escorregadia e, no nosso caso vem por um tempo e
depois voa, esboroa-se nas nuvens dos discursos políticos e de interesses
individuais109.

Ademais para que o parlamento paute pelo caminho da ironivírtus e funcionar


dignamente deve, segundo o catedrático110, ‘‘saber conquistar a sua independência do poder
[…] Executivo’’, interagindo com este como seu complemento e não como o único sem o qual
nada pode decidir.
Em Moçambique, a democracia foi acolhida aquando da decaída do marxismo-
leninismo111 em 1994. Era óbvio que Moçambique, depois da ida dos portugueses, pautaria e
devia pautar por uma alternativa. E de facto, os com visão impuseram o socialismo, com a
FRELIMO como único partido. Mas foi necessário, conforme aconselhavam as
circunstâncias, reverter a situação e abraçar o multipartidarismo, isto é, pautar pela
democracia. E a democracia que os moçambicanos dizem ter abraçado desde 1994 (com as
primeiras eleições multipartidárias), até certo ponto é teórico, pois apenas nos ofereceu a
bandeira, o hino nacional e a possibilidade de falarmos única língua, e isto é consequente
para países como Moçambique cuja independência é de recente pretérito, pois diz Avsenev:

[… ] a transmissão do poder dos colonizadores para uma direcção local dá,


nos primeiros momentos, apenas o direito à bandeira e ao hino nacionais
[ …] [ e a economia e o bem-estar?], se os dirigentes dos jovens Estados
querem resolver estes problemas, então eles tem de escolher a via [muitos
falham aqui] por que devem seguir os seus países: […] exploração do
homem pelo homem que enriquece a minoria possidente […] à custa […] da
maioria população segundo o «direito» da propriedade privada […], [ou
qualquer outra alternativa].112

De facto, Moçambique sob a orientação socialista abraçou primeiramente o marxismo-


leninismo, isto é, ‘‘tomada do poder do estado pelos democratas revolucionários [companhia

109B. Mazula, A construção da democracia em África: o caso moçambicano, Maputo, Edt. Ndjira, 2000. p. 64.
110 Idem (ed), Eleições, Democracia e Desenvolvimento, Maputo, 1995. p. 69.
111O marxismo é um regime com ricas intenções democráticas, mas que pecas nas suas consequência, isto é, o

comunismo, que é ‘‘a negação de propriedade privada e dos meios de produção para colectivizar os bens’’, quer
dizer, para comunismo, o Estado é gestor mor da economia em vista o bem de todos os cidadãos. De facto devia
ser assim, mas o nosso Estado não teve como primeiro anelo o tal intento. Como regime de revolução socialista,
se impôs como partido único e esqueceram o propósito do seu surgimento que era libertação e a revolução do
povo moçambicano. A. J. Fereira, Totalitarismo e Democracia: por que faliu o projecto libertário de Marx?
Maputo, Paulinas Editora 2004, p. 18.
112 Foi a via pela qual rapidamente se desenvolveram os países da Europa Ocidental, América do Norte, Austrália,

Nova Zelândia, República da África do sul e já em último lugar Japão, Singapura, Taiwan, Brasil. [M. Avesenev, A
orientação socialista e os seus críticos, Moscovo, edições da agência de imprensa Nóvosti, 1983. pp. 6-7.]

57
Machel, Chissano, etc.] que exprimem os interesses dos trabalhadores […]’’113, todavia esta
decisão virou o libertador dono do escravo a ponto de se pensar noutra alternativa, a
democracia.
A democracia que os moçambicanos dizem ter abraçado, talvez, representa aquilo que
uma sociedade absolutamente justa seria. Ela é aquele regime (ideal) para onde, em termos
de dignidade humana a alcançar, muitos outros regimes dizem conduzir-se a ela, ou seja,
‘‘Democracia é tudo que cada regime diz-se orientar’’ 114 . É verdade que ela, segundo
Tocqueville, ‘‘[...] amplia a esfera da liberdade individual, [...] atribui a cada homem o valor,
máximo [...] é ela que procura igualdade na liberdade’’115. A Democracia que emerge de todos
os discursos políticos, com o seu ideal utópico prega a: promoção de um Estado de direito e
liberdade dos cidadãos numa ordem em que prevaleça a prevenção do pluralismo, isto é,
do respeito do diferente; O consenso e a tolerância, como condição indispensável da
convivência social e humana. É de facto isso que devia caracterizar a nossa sociedade,
todavia todos os dias vemos os mass media116 a gastar tinta e papel registando os casos de
corrupção […] de violação de liberdades de expressão, de exercício político, desvio de fundo
de Estado, sem esquecer as famosas ‘‘dividas ocultas’’ 117 enfraquecedoras da economia
nacional. Ora esses relatos revelam-nos que, embora diariamente cantemos a democracia,
ainda não estamos em altura de fazê-la, se é que a temos, beneficiar os cidadão, pois o poder
não está assente neles, não obstante devíamos saber que ‘‘[…] além dos cidadãos não existe
nenhum outro fundamento que possa justificar e dar legitimidade do poder político’’
conforme sublinhou Ferreira118.
Agora, há que ressaltar algo mais, a democracia por si só por mais que sejam prescritas
todas as condições (caso impossível) não basta, é preciso que os democratas tenham um
senso de responsabilidade para que estejam consciente do motivo pelo qual os faz chegar ao
governo. Aliás, a própria democracia não é que tenha tido aplausos como bom governo,
muito pelo contrário os grandes pensadores a viam como um governo com certos desvios.
Mesmo os nossos filósofos africanos asseguram isso, não é por acaso que Ferreira entende-a
como desvio menos ruim. A democracia por si só nada muda aliás, quaisquer regimes. Mas o

113 Ibidem, p. 10.


114 J.U. Ribeiro, Política: quem manda, por que manda, como Manda. RJ. Edt. Le Livros. 2011: 24.
115 F. A. Ayaek, The road to Serfdom.Trad. CAPOVILLA, A. M., STELLE, J. I. et RIBEIRO, L. Caminho da

servidão. São Paulo, Editora Mises Brasil. 20106ª, passim.


116 A imprensa sempre levantou a voz sobre actos de corrupção. A título de exemplo se pode citar o Jornal

@Verdade da sexta-feira do dia 24 e 31 de agosto de 2018, que relatam a vergonhosa exclusão de alguns dos
candidatos às autárquicas de Outubro do mesmo ano; da terça-feira do dia 28 de agosto de 2018, que revela o
escândalo da LAM ; da terça-feira do dia 30 de Outubro, que coloca-nos a par dos cidadão, através de Índice Mo
Ibhrahimde governação africana (IIAG) divulgado no dia 29 de Outubro de 2019, que o Presidente Nyusi fez o
Moçambique regredir duas posições se comparado com o ano 2017, isto é, da posição 27 regrediu para 25. Ainda
mais a mesma fundação, Índice Mo Ibhrahim, revela que o ambiente comercial é incompatível com o crescimento
da população em idade activa; etc.
117 Já declaradas inconstitucionais pelo Conselho Constitucional no acórdão nº. 5/2019.
118 A.J. Ferreira, Totalitarismo e Democracia: por que faliu o projecto libertário de Marx? Maputo, Paulinas

Editora 2004, p. 97.

58
homem, sim esse pode. De facto, é necessário é rebuscar a democracia, e torná-la boa e
melhor.
A nossa está suja, não é mais digna desse nome, mas sim Democravício (democracia
como vicio). É preciso limpá-la e Torna-la Democravírtus (democracia como virtude). Digo
mais: não basta conhecer o mal, é preciso, como diz Ngoenha, resistir dela; e não basta o
querer resistir, é preciso coragem de assim o fazer. Ora, sabe-se que resistir é um bem para
comunidade, todavia não basta conhecer o ‘‘Bem’’ que os cidadãos esperam, aliás, era isso
que Platão acreditava na divisão do seu Estado ideal onde os Filósofos, classe privilegiada, já
que se dedicava a contemplação do Bem faria e traria sempre o ‘‘Bem’’ para a plebe. No
Protágoras, Platão119 co-relacionava a virtude e saber, onde quem conhece o ‘‘Bem’’, faz o
‘‘Bem’’, mas como evidenciou Rousseau não é exactamente dessa forma porque é preciso ter
‘‘Vontade’’ de fazer, viver, praticar e trazer o ‘‘Bem’’.
Outrossim, não basta conhecer a teoria do funcionamento da democracia, e saber que
ela não está bem, é preciso ser ‘‘Responsável’’, ter Compromisso e Vontade de fazer, viver,
praticar e trazer o ‘‘Bem’’ para a sociedade _ logosérgon. Agora, se sabemos que estamos
mergulhados na Democravício como limpa-la? Como traze-la da Democravício à
Democravírtus. Esse é que deve ser o Plano do Homem Oblativo comprometido com a
história da sua sociedade.

2.4. O homem Oblativo para utopia; a sociedade digna é fruto humano


No universo dos homens capazes de nortear Moçambique se denota o Oblativo. Este é,
sim, capaz. Mas que é Homem Oblativo? O que significa ser homem Oblativo? Antes de mais,
ser oblativo significa ser homem de palavra e praticante da mesma. Não só, significa também
não estar definido. Não que não tenha identidade, não por que não saiba o que seja e o que
precisa. Não porque não tenha plano de vida. Aliás, o ter plano é o essencial para se tornar
oblativo. Muitos estão a par de que homem pode nascer, numa situação em que a sociedade
ou os seus parentes, sejam estáveis ou instáveis sob ponto de vista socioeconómica, todavia
sabe-se ainda que, o mesmo não nasce pré-definido como pobre, rico, miserável, ladrão,
corrupto, etc, mas Ele se define ao longo da sua história concreta de liberdade e autonomia.
Escutemos em si as palavras de A. V. Pinto,

o que define o Homem real e concreto, paradoxalmente, é o facto de Ele não


estar previamente definido: tem de ser definido, através da história concreta,
história de uma liberdade […] real, que reage perante os condicionamentos
externos e internos optando [e] construindo-se a si próprio. O Homem

119 N. Abbagnano, Storia della Filosofia, Lisboa Trad. Port. A. B. Coelho, F. Sousaet M. Patrício, História da
Filosofia, Editorial Presença 2º edição Vol. I, 1976, pp. 167-168.

59
define-se e constrói-se a si próprio, não está definido à partida. O Homem é
história.120

Quer dizer que o facto de a Nação estar em um momento (difícil ou não) não significa
que estará assim para sempre. O seu proprietário, (o «moçambicano») é que fará com que
passe para outro estado. Se está numa boa situação, deve melhorá-lo; se na pior, merece uma
conversão imediata, sair do Homem «Novo» (Machel), sair do Homem de «geração de
viragem», sair do homem «camarada», ir além do seu ser natural logos (discursivo sem
prática) para que seja Homem cuja vida é o legosérgon, o Homem oblativo, aquele cuja
virtude é praticar, concretizar a solução tida como melhor e o que lhe tiver sido incumbido.
Ser Homem ablativo não se trata apenas de não estar definido e por conseguinte,
definir-se a ser quaisquer dos seis animais de Mazula121: macaco (ladrão), cabrito (corrupto),
leão (feroz, para atacar), coelho (astuto, para enganar), polvo (traidor, para roubar) e
camaleão (memitista, para enganar). Ser oblativo é dar e entregar-se ao serviço da sua
sociedade. A sua intenção é o bem dos membros da sociedade à qual integras e à qual foi
confiado um cargo. É do homem oblativo que ter-se-á ou far-se-á uma politica oblativa. A
política oblativa tem o seu fazer a democracia na responsabilidade difinida pela logosergonia,
isto é, anunciar a solução e torna-la real ou coloca-la a resolver e conquanto, ser prático.
Significa que tudo quanto a política oblativa prevê na sua democracia, que é a mesma
almejada por muitos, deve ser feito sob rosto da ética de responsabilidade.
Um político oblativo deve antes de tudo prometer o que se considerar aceitável, sério
para melhoria da sua sociedade. A melhor figura que pode representar o político oblativo
(legosergónico) é o sétimo animal de Mazula, «a Abelha». O que ele vê na Abelha? Citando a
Agenda 2025, assim soam as palavras de Mazula:

Não sei se há animal que trabalha com tanta lisura como a abelha. A lisura
reúne ao mesmo tempo sinceridade e franqueza, dignidade e honestidade,
disciplina e dedicação ao trabalho. Parecendo voar dispersa e sem rumo, a
abelha vai cumprir a tarefa que lhe coube, a de procurar flores para delas
extrair o pólen e levá-lo para a produção de mel e cera. Realiza essa tarefa
com todo o empenho e fidelidade à rainha-mãe e ao colectivo que é a
comunidade de abelhas onde está inserida. Trabalha com dedicação e sabe
situar-se na hierarquia e com disciplina. A abelha […] modelo de ‘‘modéstia
e dignidade com que encara a vida e o trabalho’’. […] ‘‘Trabalhadora, forte,
persistente e empreendedora, poupada e prevenida no que respeita ao seu
futuro e vivem em comunidade’’. […] entre as abelhas ‘‘a divisão do trabalho
está bem definida , respeita uma hierarquia onde a disciplina é a norma’’ ,
por tanto a abelha não é invejosa nem traiçoeira; ‘‘ela produz mel e cera, o
que significa que é útil aos outros’’; ‘‘adicionalmente, a abelha vive num

120A. V. Pinto, Ateísmo e Fé, à busca de Deus, Editorial A.O-Braga, Porto, 1997, p. 291-292.
121ISCAM (ed), Ética de responsabilidade e os seis animais mais um, 2012, pp. 1-19. Este texto é fruto de uma
oração de sapiência proferido pelo Prof. Catedrático, na cerimónia de abertura do ano académico de 2012 no
Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria de Moçambique (ISCAM).

60
meio que empresta cor e alegria, que provém das flores em que vai
poisando’’. Finalmente, ‘‘ela avisa a aproximação de perigo como fogo e
tempestade’’.122

Como se denota, o político oblativo que possa estar em frente de uma sociedade deve
assemelhar-se a uma abelha que dentro das suas possibilidades e, de forma instintiva,
trabalha de forma clara e séria. Como ela, o homem que pretender projectar Moçambique, é
imperativo que reúna as qualidades de abelha, como sinceridade e franqueza, dignidade e
honestidade, disciplina e dedicação ao érgon (trabalho) pela Nação. Como abelha o Homem
oblativo é aquele que está determinado como os seus deveres, que consiste em procurar
flores para delas extrair o pólen e levá-lo para a produção de mel e cera, isto é, traçar
alternativas de menor risco, de modo que possibilite o bem-estar social e a não redução de
estado de vida socioeconómico, sobretudo no que toca às necessidades básica dos cidadãos.
Este Homem/político deve fidelidade à rainha-mãe e ao colectivo. Mas o que pode ser
mãe rainha e colectividade na sociedade? Nada é, senão a Constituição da República (Lei-
mãe) e o santo povo que o delega para seu serviço. As abelhas têm um dado muito
importante na medicada em que até tem noção do poder. É certo que onde há trabalho há
poder, e para que o trabalho ande cada um deve aplicar o seu poder de forma independente e
interdependente sem abusá-lo; eis o exemplo instintivo das abelhas. Quão racional o homem
é, deverá dividir (não só no papel) os três poderes e torná-los independente como sinal de
oblatividade. Contudo o Homem oblativo que é o mesmo que se tornará político oblativo,
para fazer política oblativa digna à democracia, igual à abelha, saiba que é muito importante
na sua sociedade, como os outros o são também em relação a ele, mas isso não deve ser
motivo de vanglória; é ainda importante para outras sociedades com as quais deve criar
relações que assegure paz entre as duas partes, sem que exista extremo endividado e extremo
doadora (Neoliberalismo). A obediência à hierarquia, que não seja uma obediência
apaixonada_ denunciada por La Boétie123 _ incapaz até de discernir o bem do mal. Se o
triunfo da ironia é também carência do uso da liberdade, da livre consciência e do
pensamento _ também triunfo de Abadon _ é ora de reverter e nos afirmarmos como
íntegros impassíveis à manipulações de quaisquer poderes.
Sabe-se que, em quase todas as instituições existe vários cidadãos, cada um com certo
perfil de responsabilidade; sabe-se que esses indivíduos se comportam como os sete animais:
macaco (ladrão), cabrito (corrupto), leão (feroz, para atacar), coelho (astuto, para enganar),
polvo (traidor, para roubar) e camaleão (memitista, para enganar) de, de que fala Mazula. A
tarefa primeira diante desse é manifestar contra o comportamento referente, para que se
evite.

122 Ibidem. pp. 29-30.


123 Cf. L. Boétie, Discurso sobre servidão voluntaria, 1976.

61
Como vê estamos a sonhar muito alto. E isso não é nenhuma novidade, pois sabemos
que durante o percurso histórico na cultura filosófica encontramos homens que projectaram
vários rumos de aperfeiçoamento humano. Sem querer esquecer, por exemplo, Platão que
projectou a República; Tomás Mouros com a utopia; Condorcet propôs outro homem novo,
é preciso recordar o saudoso Samora que morreu com desejo de um Homem novo, o qual
não foi concretizado visto que apenas foi pensado e não ergonizado (feito). E agora, dos
sonhos dos homens que queremos para nossa sociedade devemos os ergonizar. Se achamos
que Moçambique precisa de engenheiro, economistas, políticos, médicos, professores (todos
esses no verdadeiro sentido da palavra) devemos os ergonizá-los. Se há necessidade do bem
político em Moçambique deve ser colocado em prática. Não basta pensar o ‘‘Bem’’ é preciso
praticar-lo _ logosergonia. Ser responsável no bem praticar e fazer o que se pensou.
Mazula e companhaneiros 124 , na Eleições, Democracia e Desenvolvimento, dá a
chave da governabilidade desta nação. Uma chave que apontava a cinco (5)125 nortes cabendo
ao moçambicano fazer chegar à quaisquer dessas «pentanortes» espaciais conforme os seus
desejos e intentos. Das cinco importa destacar três. Para eles, na governação deste país, ou
pauta-se pela anarquia e ingovernabilidade, que levará Moçambique a uma sociedade
ironivícia, do reino de Abadon, onde a sociedade se caracteriza pelas tréguas entre
instabilidades _ quanto a isso foi profeta, pois vivemos; ou caminha-se por critério de
cooptação política, que é a negação real da democracia, pois trata-se, como esclarecem, de
tendência à centralização e concentração do poder, de modo a ‘‘resistir […] às interpelações
da história, da diversidade cultural e da descentralização’’. Com esse estratagema, prolifera-
se as falácias sobre a consolidação da unidade nacional de modo a enfraquecer e fazer
desaparecer partidos da oposição. É quase que um plano de hegemonizar o partido no poder.
Nessa perspectiva, o Estado, desprezando a sua sociedade na projecção do seu futuro,
‘‘adopta medidas de acomodação e evita-se reformas profundas [a exemplo] do sistema
judicial, e educacional’’ e qualquer ministro que ousar, se verá fora do mandato. Outrossim,
para o estado manter-se, o sistema de cooptação política o ajuda a ‘‘instaurar uma paz
policial [isso vemos agora], reduzida a manutenção da lei e ordem e um relacionamento com
uma sociedade burocratizante. A reconciliação nacional passa a ser condicionada pelos
interesses do partido no poder’’126, e qualquer influência, como se sabe, dos outros partidos
será tida com desordem social e, logo a seguir deve se estabelecer a paz policial;
Ou ainda, pode se enveredar pelo cenário misto, isto é, a ‘‘ambiguidade do
funcionamento das instituições’’ onde os problemas são atendidos com reservas para não
perder ou para conquistar o poder e, simultaneamente garantir a paz _ é quase o que sucede

124 B. Mazula (ed), Eleições, Democracia e Desenvolvimento, Maputo, 1995, pp. 65- 69. (Grifo do autor).
125 O cenário de anarquia e ingovernabilidade (1); cenário de cooptação política (2); cenário da real convivência
democrática (3); cenário misto (4); cenário de instabilidade político-militar (5), [Ibidem, p. 65. Grifo do autor].
126 Ibidem. pp. 65- 66. (Grifo do autor).

62
actualmente, apelidado por nome de negociações entre o Governo e o líder da Renamo _ até
que isso pode trazer certa tranquilidade pois o caminho à democracia passa por isso, mas
também há que recear pois não sabemos qual é o sul, quando gostaríamos de localizar o
norte. Agora, já que este mostra a luz donde vamos, de facto, Mazula e os seus trazem aquilo
que chamou de terceiro cenário, o qual obrigou-me a ilustrar os outros, e esse é o que a nação
moçambicana precisa projectar e viver. A oblatividade do homem consistirá exactamente
nisso; Trata-se além do mais da real convivência democrática, é exactamente esta que
Moçambique deve procurar. Os objectivos de reafirmação de paz e democracia devem
consistir nisso. Mas o que é exactamente real convivência democrática? Trata-se de
construção de uma cultura democrática promissora:

[de] respeito mútuo entre as forças políticas [partidos], entre a política, a


ciência, economia, a técnica e a cultura. Cultiva-se a consciência da
complementaridade, a cultura da tolerância; fortalece-se o relacionamento
horizontal mantendo o respeito da hierarquia. Há um clima de confiança
social, do estado para com o cidadão. Os conflitos são resolvidos pelo
diálogo [numa ética de discurso_legosergonizado] e caminha-se para
cultura de debates publico [o que ainda falta para Moçambique] Não se tem
medo de sujeitar ao debate público questões vitais para a nação, como a
revisão da Constituição [que actualmente clama], … etc., antes de se tornar
uma decisão e assumir compromisso social internacionais. A relação
partido-sociedade-Estado é de colaboração, de intercomunicação. Há uma
presença da sociedade civil [e não é banalizada]. Os partidos consideram-se
parte da sociedade. A sociedade possui os partidos políticos. Estes assumem
o seu real papel de activadores da sociedade e tornam – se a sua consciência
política. […], isso estimula a participação do cidadão nos projectos de
desenvolvimento. Esta participação passa pela descentralização do poder,
que reforça o papel do Estado. 127

De certo modo, é este estilo de cultura política e democrática que os políticos moçambicanos
devem aspirar e direccionar a ele, para quiçá termos e sermos modelo de uma sociedade
fundada sob alicerces da cultura política afinada e digno de reconhecimento. Mas tudo isto
depende do homem conforme afirma Amartiya Sem:

Hoje é difícil pensar que uma benevolência divina zele sobre o mundo, onde
há tanta miséria, guerra e sofrimentos. O decisivamente importante é que
com Deus ou sem Ele, cabe a nós mudar o mundo (Moçambique). Nossos
males não resultam de descuidos ou cochilos divinos: são provocados por
nós, pelo mau uso da liberdade. Se os provocamos, somos também capazes
de corrigi-los128.

Ibidem, pp. 66-67. (Grifo do autor).


127
128A. Sem, apude O. Pegaroro, Ética dos maiores mestres através da historia, Editora vozes, Brasil, 20065ª, p.
149.

63
De facto, esta deve ser o tpc moçambicano. E quando se diz é tpc moçambicano significa
que é para ser feito não na China, EUA, Europa, mas em Moçambique. Tudo isso depende do
homem moçambicano. Neste contexto o Homem moçambicano é a medida de todo o seu
futuro político. A sociedade pacífica, ou seja, a construção de uma sociedade de paz e
solidariedade apenas depende deste Homem, isto é, o bem da sociedade depende de pequena
gota de bem e bom gesto que cada um doa a favor dela. A construção da sociedade de paz e
solidariedade funda-se na perspectiva da edificação de justiça pregada pelo nosso filosofo
moçambicano Severino Ngoenha, segundo o qual: ‘‘a justiça é uma senhora costureira que
sobre a máquina vais juntado muitas partes de tecido para criar único tecido (justiça), e
quanto mais cores (várias ideias e gesto bem diferentes) quanto mais bela ficará’’129. Trata-se
de saber desde já que o gesto de cada singularidade moçambicana conta muito.
É fácil qualquer cidadão reclamar sobre o quão são injustos, egoístas, predadores,
irónicos, corruptos, déspotas os nossos governantes. Até um certo ponto reclamações e
interrogações desse género podem ter sua razão de ser conforme referenciei anteriormente,
os políticos criam condições para que não sejam confiados, mas também se pode questionar
sobe o que muitos moçambicanos fazem para uma boa estabilidade da sociedade. O que já
fez para ajudar a integração comunitária do teu irmão vizinho, colega, concidadão e
compatriota? Muitas vezes imbuído de espírito individualista, lutamos (injustamente) para o
particular progresso. Que fique claro, se apreciamos a indústria, a tecnologia e a economia
europeia, americana asiática, etc, é porque eles sonharam, trabalharam e fizeram daquela
forma, e ainda o fazem assim. A nossa sociedade depende de nós os donos, não precisamos
que o outro repita o passado: o africano não tem história, não pensa, não tem filosofia e
teologia, muito menos a ciência, etc. para que amanhã possamos mudar e tomarmos a rédeas.
Precisamos, e sim precisamos mudar hoje e decidir agora! É um imperativo! Não
esperemos que hoje digam: os africanos não sabem se governarem, não sabem trabalhar, de
modo que comecemos a aderir a estas realidades; não precisamos que alguém diga que os
moçambicanos são irresponsáveis (por sinal corruptos) para que futuramente pensemos ser;
não é agora que precisamos ouvir que os valores em Moçambique estão sobre o fundamento
do álcool para que possamos minimizar o consumo excessivo, mas é já que precisamos tomar
as rédeas e arregaçar a magas e mãos a obra. Se trabalhas o faça com responsabilidade. Se
estuda, faça o como deve ser para que tua mediocridade não comprometa a coesão da nossa
sociedade. Se és polícia faça o que respeita ao seu dever. Se és professor não seja cúmplice da
ignorância do teu aluno que amanha será o semblante do teu país e da tua sociedade. Se és
jurista seja a famosa costureira da justiça, isto é, criar coesão e solidariedade social. Se és
economista seja fiel para com salvaguarda da estabilidade da economia estatal. Se és gestores
de recursos estatais a prioridade é a tua pátria e não o teu umbigo, aliás por um bom

129 S.E. Ngoenha, Resistir a Abadon, Maputo, paulinas, 2017, passim.

64
trabalho o estado vai o recompensar. Se és cúmplice de alguma maldade que comprometa a
solidariedade e a Paz social mude, se comporte e se faça presente às autoridades. Se és
legislador, que a leis não estejam a favor de grupos elitistas, e dos governantes, mas sim para
manter a ordem e coesão social, que elas sejam anti-corruptas, anti-nepotistas.
Foi exactamente essa atitude que Platão na sua república chamou de Justiça, quer
dizer, o Estado só pode ser justo e harmonioso ‘‘quando cada cidadão, (classe social) se
dedica (bem) à tarefa que lhe é própria (…) ’’ e, ‘‘nenhuma comunidade humana pode
subsistir sem a justiça’’130, a qual é a condição fundamental do nascimento e da vida de um
Estado, por isso que somos obrigados, se de facto precisamos desse ideal social, a trabalhar
bem e responsavelmente no que podemos. Quando Rosseau gritava nas terras dos franceses
a pedir para os enciclopedistas, Diderot Delambert para que voltassem ao estado de natureza
era para que França fosse o que é hoje, será que não vale apenas a república francesa do que
a moçambicana? Ora, penso que não seria tão mau se ouvíssemos e entendêssemos o clamor
de Roussau nas terras moçambicanas para que voltemos às origens; ele está a gritar dizendo:
rebusquemos aqueles ideais com os quais Moçambique como nação, viu-se a nascer.
Voltemos a viver aquela união que levou-nos a vencer o colono, esqueçamos as lutas
fratricidas. Que as actuais filosofias de vida nos ajudem a ‘‘viver juntos e em harmonia’’131.
Actualmente, quer tenhamos escolhido, quer não, não é mais o momento, de saber se
o socialismo ou capitalismo é que vale ou não, pois sabemos as duas teoria, levam aos seus
extremos nefastos. Ngoenha132 já afirmava algo igual, para o qual não importava quem ganha,
mas sim o que demonstrar simpatia para com os homens. É claro, como foi demonstrado
anteriormente, Moçambique está, de certa forma, a nadar em águas turvas, eis a razão pela
qual é preciso reverter a situação. Aqui reside o imperativo de Glucksmann133, citado por
Ngoenha: os homens de cada período têm de olhar a forma pela qual irão resistir. Nessa
perspectiva, no momento e caso moçambicano encontramos Ngoenha que delineia uma luta
contra toda ironia (Abadon). Ele aconselha antes de tudo a vontade de resistir, e a vontade
de resistir traduz-se na coragem; depois de mostrar o quão a história moçambicana é
marcada pela desconfiança, promotora da guerra _ prato forte reflectido no Abadon _
aconselha antes de tudo a reconciliação e a retomada da confiança mútua (a exemplo dos
vários acordos assinados em Moçambique), sem no entanto violá-la pelo individualismo
denunciado por Ngoenha.
Sabe-se que parece haver contradição entre a profecia de unidade e a profecia capitalista
do mercado livre, tanto que há necessidade de conciliar essas duas asas para o bem de todos.
O problema não deve ser da igualdade, que desde a nossa génesis a natureza nos quis

130 N. Abbagnano, Storiadella Filosofia, LisboaTrad. Port. A. B. Coelho, F.Sousaet M. Patricio, História da
Filosofia, Editorial Presença 2º edição Vol. I, 1976, pp. 182-183.
131 S.E. Ngoenha, op. cit., p. 32.
132 Ibidem, p. 108.
133 A. Glucksmann, Discurso sobre a Guerra, 2004. apud , ibidem, pp. 109-140.

65
diferente, mas a grande preocupação deve ser da diminuição do nível de pobreza entre os
moçambicanos, e isso deve se fazer em união. A diminuição do nível de pobreza é que deve
ser o plano forte do governo que pode criar mais oportunidade para os cidadãos afins.
O individualismo limita a ordem social, desrespeita as instituições e esquece o bem
nacional. Por fim, o individualismos ‘‘[…] nega as condições indispensáveis para a
sobrevivência [e convivência] dos seres humanos e para dar sentido à sua existência […]’’.
Mais adiante, o filósofo moçambicano convida a revisão dos princípios filosóficos do
liberalismo e da democracia, no sentido da autoafirmação moçambicana, isto é,
‘‘reformulação do nosso projecto político e pela refundação das instituições’’ sem esquecer o
que antes caracterizava a nós «irascíveis», o viver em comum e, acima de tudo comungar os
mesmos valores e objectivos, mas sem cair no unanimismo, assim delineia Ngoenha; É muito
feliz Ngoenha com sua exposição, que para a demonstrar melhor traz como exemplo e
modelo a equipe de futebol, na qual há diversidade de jogadores, mas que comungam os seus
talentos ao serviço do colectivo. Mas neste exemplo precisamos ir mais além, pois nela
questiona-se: quem são os jogadores? _ o povo; e, pressupõe-se que haja o seu treinador: o
socialista ou capitalista? E o arbitro? _ o Estado, o Governo, o partido ou os observadores
internacionais.
Seja como se queira perceber, nesta equipe de Ngoenha colocada como nosso modelo, é
preciso notar que ela joga ajuizada por um árbitro, que dependendo do seu senso de
responsabilidade, pode apitar a favor ou contra; e se o faz contra, quem for a reclamar é claro
que apanha vermelho. De facto é esse sangue (vermelho) perpetrado pelos ajuizadores do
Estado que temos medo. Quer dizer, enquanto uns ocupam o lugar de jogadores, uns ocupam
o lugar de arbitragem; quer sejam bem formados para que o façam com mestria e
determinação. Agora seria necessário que os jogadores façam o seu jogo a semelhança do
trabalho feito pela sociedade das abelhas, onde cada um o faz com mestria o que lhe é de
dever e direito.
É preciso uma revolução do pensamento. Cada homem precisa reflectir em torno da
sua situação em favor da sociedade em que se encontra inserido sem que se beneficie dos
valores alheio. Já houve tempo para estudar o nosso caso, as palestras já foram várias. E o
que importa agora? É logornizar, praticar, viver e concretizar o dito; já sabemos o que é
preciso para que exista uma sociedade coesa, que Moçambique merece; se não o fazemos não
é por ignorância, mas desleixo e irresponsabilidade. Pois como disse Protágoras: «O homem
é a medida...» daí que, o que ele almejar, bem determinado, alcançará. E quem não sonha
uma sociedade solidária e por efeito de paz douradora? E essa sociedade que idealizas
depende de um pouco do teu, meu, dele ou nosso esforço, mas antes de perspectivar mundo
sem fundos precisamos fazer uma retrospectiva, bem como fazer auto-avaliação para

66
sabermos melhor o que fomos; e tal pretérito nos tornou o quê? De modo que saibamos o
que precisamos ‘‘ser’’, pelo nosso ser.

As eleições consiste, segundo Mazula, legitimam a tomada do poder, mas não


automaticamente o seu exercício, pelo que qualquer se o seu exercício não na forma
democrático perde a sua legitimidade. A democracia faz se pelo recurso ao diálogo
colaboração e consultas regulares entre o estado, as forças políticas e os centros de poderes
(família, escola, direito, cultura, sindicatos dos trabalhadores) pois esses é trabalham com o
ser humano e conhece-o bem, de igual modo as suas necessidades (B. Mazula (ed), Eleições,
Democracia e Desenvolvimento, Maputo, 1995. pp. 75. (Grifo do autor).

67
Texto em forma de conclusão
A Democracia e o verdadeiro «Homo africanus» no legosérgon
Antes de escrever este texto senti-me acusado por B-C. Han (Psicopolítica), aquando do meu
‘‘pouso’’ nas Leituras críticas (2018) de J.P. Castiano, onde denunciava ante mim, o
desaparecimento da política. Pois o sujeito, ou se quisermos, o cidadão ‘‘reage de forma
passiva à politica protestando pelos serviços que lhe desagradam’’. A transparência que este
indivíduo do séc. XXI exige é tudo menos reivindicação política, pois essa reivindicação
pressupõe a posição de um espectador que se escandaliza. ‘‘Não é uma reivindicação de
cidadão com iniciativa, mas de um espectador passivo’’ e consumidor que transforma a
democracia republicana em democracia para espectadores _ assim nos acusa (a nós os
tel/espectador) Han. Ou melhor, para J. P. Castiano, como ekprosōpos (porta-voz) de Han, o
que preocupa o cidadão da actual República (quiçá de Moçambique) é parar de longe
assistindo e reclamando o teatro político esperando que resolvam enquanto espera outro
líder, sem no entanto, reagir.
Essa acusação de B-C Han, se é que é, foi dirigida para todos os moçambicanos,
cabendo a cada um provar ser ou não. Ao provar inocente da acusação terá de provar o
contrário, isto é, agindo e reagindo para o bem da almejada democracia. Quer dizer, um
cidadão deve confirmar a B-C Han que na sua vida politica (já que todos por natureza são
políticos) não é um simples ‘‘espectador passivo’’, não é ‘‘consumidor e transformador da
democracia republicana em democracia para espectadores’’. Mas precisa ser fautor e
construtor activo da democracia, para que seja exigente consciente dos valores democráticos.
Consciente na medida em que sabe o que esperar, exigir e como exigir do Estado e do
governo em mandato. Isso requer comprometimento com o que se sonha (democracia).
Foi característico de muitos países africanos, conforme as vicissitudes que enfrentava,
reclamar a incompatibilidade, devido o insucesso (sobretudo económico), da democracia
com a realidade africana. De facto, com a democracia é possível fracassar por vários motivos.
Porque segundo Hayek citado por J.P. Castiano134 «a democracia tem ‘‘fraquezas intrínseca
ao seu próprio sistema, isto é, a forma de pensar e de funcionamento. Uma das fraquezas
mostra-se pela dificuldade dos parlamentares, de executar a vontade do povo; e essa
incapacidade parlamentar leva aos terceiros (externos ou internos) muitas vezes ditadores’’»,
os quais apenas prometem _ disso classificamos a nossa polis como a República em estádio
ou estado do logos, na qual se governa à luz da «ditadura democrática»135. É por isso que
muitas soluções em Moçambique terminam nos tratados, nos contratos, nos acordos, no

134 F. Hayak (2014) apud J.P. Castiano, A ‘‘Liberdade’’ do Neoliberalismo: leituras críticas, Maputo, Editora
Educar, 2018, p. 60- 63.
135 Conforme F. Hayak ditadura democrática é quando a democracia deixa de garantir a liberdade individual em

nome de um fim mais nobre, o bem comum, justiça social, etc., centralizando e dirigindo o sistema económico a
partir da pequena minoria partidária [as vezes terceiros referidos atrás] que aumenta a probabilidade de destruir
a liberdade individual como qualquer aristocracia o faria. Ibidem, p. 63.

68
papel e daí a nossa proclamada República em estado do logos, isto é, o que importa,
actualmente, é dizer, expressar, discursar, palestrar, e nada mais. Questiona-se, do
necessário aos cidadãos o que não está previsto na nossa constituição? Agora qual é o
problema?
É agora que se deve questionar se o discurso em promessa vale apenas. E não valendo
torna-se eminente recordar os prometedores políticos para honrar com suas as promessas
(propagadas). Quer dizer, precisamos passar de política do logos (teóricas) _ existe os que se
atarefam por isso _, para a de logosérgon (prática). Somos chamados a transitar da política
teórica (logos) para a teórico-prática (logosérgon): discurso e acção.
Parece ser defeito nosso de esperar que alguém diga a verdade ou afirme ao contrário
daquilo que somos para começarmos a proliferar os escritos defendendo-nos. Se o ontem
pessimista construiu a nossa história com adjectivos negativos, de modos que, mais tarde,
provemos o contrário, hoje não é mais dessa forma. Hoje em dia, aprecia-se e elogia-se o que
nós somos e, caberá a nós provar que de facto somos o que dizem de bom ou não. Sabemos
com E.L. Bono que os subsarianos (não sei os actuais) são pessoas com fé no Supremos e ao
mesmo tempo integrante de uma comunidade de valores crescidos, não indiferentes. O que
caracteriza a nós africano, isto é, a ‘‘abertura ao transcendente e aos outros’’136, longe de
contradizer o nosso viver a democracia, é o que afirma a vida democrática. Esta abertura aos
outros, uma abertura de diálogo e de comprometimentos com a causa da comunidade mostra
os traços da humanidade que mais se adequaria com a vivência de democracia. O
Muntuismo _ I Am baecause I Belive and I Love _ é grande referencia daquilo que somos.
‘‘Eu Sou (Muntu: Pessoa) ’’, é o que sempre reclamamos do passado pessimista. Mas hoje,
com Ezio, aprendemos que não basta contradizer o pessimista, é preciso justificar a contra
afirmação, isto é, ‘‘porque [Creio (em Deus) e] amo/gosto a minha Comunidade’’ ou o meu país.
De facto, é exactamente isso que deve nos ‘‘ajudar a reencontrar o sentido perdido de
ser pessoas’’137, é este ser pessoa que tanto lutamos para afirma-lo; e que devemos conservá-
lo. A nossa acção prática dirá o quão somos. Outrossim, ser o muntu significa ‘‘relação e
comunicação’’ 138 , ou melhor, estar a altura de diálogo com os outros; significa também
‘‘tornar-se sujeito da historia’’139. Quer dizer, fazer e afirmar conscientemente os projectos da
nossa história; significa ainda estar aberto aos outros (cultura) _ ‘‘intersubjectividade’’140 _,
isto é, uma abertura aos outros em vista ao bem comunitário.

Dfgg.

136 E. L. Bono, Mutuísmo, A ideia de «pessoa» na filosofia africana contemporânea, Paulinas, Maputo2, p. 213.
137 Ibidem, loc. cit.
138 Cf. E. Boulaga, apud Ibidem, 191.
139 Cf. S. E. Ngoenha, …. ??????????????????
140 Cf. J. Castiano……????????????????????????

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