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Copyright © Ricardo Ernesto Rose (junho 2019)
Parte do conteúdo deste e-book foi anteriormente publicado no jornal “GIRO ABC”
de São Caetano do Sul (SP) e no blog “Da Natureza e da Cultura”
(www.danaturezaedacultura.blogspot.com.br), editado por Ricardo Ernesto Rose,
proprietário dos direitos autorais destes textos.
Autorizamos a reprodução parcial para fins não comerciais, desde que devidamente
citada a fonte.
Capa:
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Índice
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Faltam locais de lazer nas cidades (94-95)
Meio ambiente e tecnologias de informação (96-97)
Atividades econômicas e externalidades negativas (98-99)
Crise econômica, desemprego e meio ambiente (100-101)
Os raios e o meio ambiente (102-103)
A ameaça da degradação dos solos (104-105)
Aves urbanas (106-107)
Catástrofes e sobrevivência humana (108-109)
Vida e sobrevivência (110-111)
Aspectos do saneamento no Brasil (112-113)
Lucro fácil e rápido (114-115)
Queda do desmatamento e saúde (116-117)
Melhorar a eficiência no uso dos recursos (118-119)
Extinção em massa (120-121)
Produção de carne e redução de CO² (122-123)
A influência da natureza (124-125)
Cidade, a grande invenção humana (126-127)
Sal, açúcar e gordura (128-129)
Verde do extremo sul de São Paulo corre perigo (130-131)
Por que a questão ambiental avança tão lentamente? (132-133)
Produção, distribuição e consumo de alimentos (134-135)
O clima e o oceano (136-137)
A parábola do sapo e do Leviatã (138-139)
Os rios e o espaço urbano (140-141)
Brasil não dispõe de banheiros públicos (142-143)
Natureza e felicidade (144-145)
Proteção aos animais (146-147)
Meio ambiente: natureza e cultura (148-149)
Avanço tecnológico e gestão de recursos (150-151)
Extinção de espécies, o que perdemos? (152-153)
Crescimento da população, consumo e impacto ambiental (154-155)
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E agora, meio ambiente?
Já o primeiro governo Dilma foi para muitos ambientalistas “o pior da história para o
meio ambiente”, como disse em entrevista à revista IHU Online, publicada em
20/01/2014, o geógrafo e diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata
Atlântica, Mario Mantovani. Alteração do Código Florestal, ausência de criação de
novas Unidades de Conservação (UC) e aumento do desmatamento na região
amazônica, foram algumas das principais críticas ao governo Dilma.
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A saída do acordo climático traria a redução de recursos financeiros internacionais,
utilizados internamente para implantação e manutenção de projetos ambientais de
impacto social e econômico. Uma segunda hipótese é que ao deixar o Acordo, o Brasil
poderia ser alvo de sanções econômicas por parte de países pertencentes ao pacto.
Felizmente, tal saída não se concretizou, apesar da declaração do ministro das
Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de que a “ideologia das mudanças climáticas”
havia sido criada pela esquerda globalista.
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O mercado brasileiro de energias renováveis
Além dos leilões o governo dispõe de outros instrumentos para fomentar o mercado
das energias eólicas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) oferece linhas de financiamento para todas as energias renováveis, a juros
mais baixos e prazos mais longos, do que usualmente oferecidos pelos bancos
privados no mercado. Para obter tais financiamentos, é preciso que a empresa esteja
estabelecida no Brasil, cadastrada junto ao BNDES e atenda regras de conteúdo local
(local content) de 60%. Em muitos casos este critério é mais seletivo, dependendo de
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quais componentes do equipamento são de fabricação local (a ideia por trás deste
financiamento é fazer com que cada vez mais componentes de alto valor agregado
sejam fabricados localmente). Outro tipo de financiamento, criado em 2013, é o
programa INNOVA ENERGIA, que subsidia até 90% dos custos dos projetos de P&D
(Pesquisa e Desenvolvimento) nas áreas de smart grids, energias renováveis,
veículos híbridos e eficiência energética nos transportes.
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Florestas, biodiversidade e pobreza
A maior parte das áreas de grande diversidade biológica está localizada em florestas
e savanas das regiões tropicais. Não por acaso, estes extensos territórios com alta
concentração de biodiversidade, estão situados em países onde por fatores históricos,
geográficos e econômicos, estas riquezas naturais ficaram relativamente conservadas
até as últimas décadas. O difícil acesso e o diminuto interesse econômico que estas
regiões despertavam, fez com que se conservassem quase intactos muitos de seus
ecossistemas ao longo da evolução da vida na Terra.
Este quadro quase idílico, no entanto, começou a mudar depois da Segunda Grande
Guerra. A expansão do capitalismo industrial para todos os continentes habitáveis do
planeta, incorporou estes países – muitos deles recentemente criados – como
consumidores de produtos e supridores de matéria de matérias primas, ao sistema
econômico mundial. Crescia a atividade econômica, chegavam os avanços da
moderna medicina, como a vacinação e o saneamento, e assim decresciam os índices
de mortalidade na infância. Com mais pessoas a serem alimentadas, a agricultura
precisava avançar sobre territórios inexplorados, cobertos por florestas e savanas,
onde a biodiversidade ainda era alta.
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aumento no desflorestamento de 62% na primeira década do milênio. No Brasil o
processo de derrubada da floresta vinha diminuindo nos últimos dez anos, mas
apresentou considerável crescimento, notadamente no período 2017-2018.
Ao final deste processo, que pode durar alguns anos, a população não tem mais
possibilidade de exercer nenhuma atividade econômica baseada na terra, que está
esgotada. O passo seguinte é abandonar a região e dirigir-se para outras áreas ainda
inexploradas ou se estabelecer na periferia das pequenas cidades da região. A falta
de infraestrutura de saneamento, assistência médica e educação, faz com que este
processo, do uso incorreto da floresta até a fixação na cidade, aumente a pobreza e
o atraso nestas regiões.
Os países em cujos territórios ainda sobrevivem florestas originais, ainda têm alguns
anos para mudar a maneira como vêm utilizando – e destruindo – suas reservas
vegetais. Além de repositório de grande biodiversidade e fonte de matérias primas e
produtos naturais, estas (ainda) extensas áreas têm um importante papel no equilíbrio
do clima do planeta. Seja como grandes sistemas que distribuem considerável parte
das chuvas e da umidade, ou como sumidouro de imensos volumes de carbono. Se
este gigante processo for afetado consideravelmente pelas atividades humanas, o
clima da Terra sofrerá alterações ainda mais rápidas e drásticas.
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Gestão de resíduos e saúde pública
Supondo, no entanto, que em futuro próximo possa aqui chegar – por aeroporto ou
porto – algum portador do vírus ebola, convêm estarmos preparados. Além de leitos
em hospitais equipados é preciso que objetos e resíduos em contato com o portador
da doença também sejam tratados de maneira segura.
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Tal necessidade implica que os aeroportos e portos brasileiros disponham de um
sistema de gestão de resíduos, devidamente implantado e preparado para lidar com
materiais patogênicos infectados com um vírus de alta periculosidade, como o ebola.
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Tratamento e consumo de água
A água, apesar de ser relativamente comum no universo é rara na forma líquida sobre
a superfície dos planetas. A Terra é um dos poucos planetas que abriga grandes
quantidades deste elemento: os oceanos contêm 97% da água superficial do planeta;
as geleiras e calotas polares têm 2,4%; rios, lagos e lagoas abrigam 0,6%. A água
disponível para consumo das espécies vivas, incluindo os humanos, é limitada, mas
não insuficiente. Através do ciclo hidrológico o líquido é depurado e redistribuído,
atendendo às necessidades dos ecossistemas da Terra. Este processo ocorre desde
a formação do planeta, há 4,6 bilhões de anos. Os problemas efetivamente
apareceram quando pela ação do homem seu uso se tornou excessivo e a água
passou a ser devolvida ao meio ambiente contaminada por elementos orgânicos e
inorgânicos, na forma de efluentes e lodos. Nesta situação, o ritmo de depuração
natural da água é lento demais para as necessidades de uma civilização perdulária
com os recursos naturais e aí começam a aparecer os problemas. Aqui vale lembrar
que toda a preocupação com a poluição e a crescente escassez da água em
determinadas regiões da Terra, afeta principalmente os seres humanos. Se, por algum
acaso, desaparecermos como espécie, o ciclo hidrológico cuidará da despoluição das
águas ao longo das eras. Não somos necessários para o funcionamento do planeta.
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Este processo fará com que sua limpeza para usos mais nobres se tornará
gradualmente mais cara e sua concentração - em lagos, rios e no subsolo – poderá
mudar. Por exemplo: a água que se tornou cada vez mais rara no Norte da África nos
últimos dez mil anos – seja na forma de precipitação ou no subsolo –, propiciando a
formação de um deserto, deslocou-se para outras regiões do planeta, através do ciclo
hidrológico. São os fatores climáticos como os ventos e temperatura, associados aos
aspectos geográficos (montanhas, oceanos, rios, vegetação), que fortemente
influenciam a incidência de chuvas, principal fator no ciclo da água. Este processo de
realocação dos recursos hídricos é constante e sujeito a inúmeros aspectos
adicionais, que ocorrem ao longo de extensos períodos de tempo, como as radiações
solares, a mudança do eixo da Terra, erupções vulcânicas, maremotos, etc. Daí a
grande dificuldade de se desenvolver modelos simulados de ciclos hidrológicos de
grandes regiões ou longos períodos.
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Os documentos mais antigos tratando deste tema foram encontrados em tumbas
egípcias e em documentos da antiga Índia, onde um texto médico denominado
Sus´ruta Samita, datado de 2.000 a.C., dá instruções sobre o tratamento da água. Os
métodos incluem a fervura, aquecimento da água pela luz solar, a colocação de ferro
aquecido na água, processos de filtragem com gravetos e areia e mistura de certas
sementes ou pedras à água. Nas paredes dos túmulos de Amenophis II e Ramses II,
faraós do 15º e 13º séculos a.C. respectivamente, encontram-se desenhos de
equipamentos para limpeza da água. Os gregos e romanos também desenvolveram
técnicas para purificação, já que os últimos tinham criado sofisticada engenharia para
captação e transporte de água através dos aquedutos.
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A partir da década de 1940, com o aumento do êxodo rural e o crescimento da
demanda por saneamento, surgem as primeiras empresas públicas e autarquias de
serviços de tratamento da água. O setor de saneamento – especificamente o
tratamento de água – tem um grande impulso a partir do início da década de 1970
com a implantação do Plano Nacional de Saneamento – Planasa. O plano criou as
companhias estaduais de saneamento, obrigou os estados a investirem no setor e
estabeleceu linhas de crédito com base em recursos do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço (FGTS). A década de 1980, também para o setor de saneamento, foi de
relativa estagnação, dado o alto endividamento do Estado e as elevadas taxas de
inflação. A retomada dos investimentos e a ampliação da infraestrutura do setor só
ocorrem a partir da estabilização da economia em 1994, com um aumento dos
recursos principalmente com a criação do Plano de Aceleração do Crescimento, em
2007. No entanto mesmo com a criação do Plano Nacional de Saneamento Básico
(Plansab), criado pelo Ministério das Cidades em 2012, e que prevê investimentos de
R$ 270 bilhões até 2030, as perspectivas para o setor ainda são incertas.
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Nessa época já havia uma série de novos produtos químicos e farmacêuticos, que
chegando às fontes de fornecimento acabavam poluindo as águas e não eram
eliminados nos sistema de tratamento – mesmo com tecnologias de adsorção em
filtros de carvão ativado. Hoje o número de substâncias químicas de todo o tipo, que
por vária maneiras chegam às fontes de captação da água para consumo são bem
maiores. Em pesquisa realizada pelo Instituto de Química da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP) com a água consumida na Região Metropolitana da Região
de Campinas, foi constatada forte presença de interferentes endócrinos, substâncias
que se ingeridas por longos períodos podem interferir no funcionamento das
glândulas. Durante o período de pesquisa foram encontrados diversos tipos de
hormônios e de esteróides derivados do colesterol, produtos de origem farmacêutica
e industrial. As concentrações identificadas são em alguns casos mil vezes mais altas
do que em países da Europa. Estas substâncias são relacionadas com o
aparecimento de diversos tipos de câncer e não são eliminadas pelos sistemas
convencionais de tratamento de água em funcionamento no País, segundo
especialistas. Mas informações sobre o assunto estão em
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/dezembro2006/ju346pag03.html.
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Na Alemanha e Holanda o elemento só é utilizado em alguns casos, já que as fontes
de fornecimento são protegidas e controladas, proporcionando a captação de água de
alta qualidade, com pouca necessidade de tratamento. Pesquisas indicam que a
exposição prolongada ao cloro pode ocasionar câncer de bexiga, do aparelho
digestivo e de mama, devido à tendência do cloro de interagir com compostos
orgânicos na água, formando trialometanos (THM) e ácidos haloacéticos (HAA5).
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Economia, complexidade e capacidade de resposta à crise
A economia, assim como vários outros sistemas existentes - uma colônia de animais,
uma eleição, o clima, a bolsa de valores - são considerados sistemas complexos
porque suas propriedades emergentes decorrem principalmente de relações não
lineares entre suas partes constitutivas. Estes sistemas são compostos por vários
aspectos que interagem entre si, formando uma nova estrutura, que por sua vez
incorrerá em novas e mais complexas relações, e assim por diante. Os sistemas
complexos não são simplesmente a soma de suas partes, como mecanicismo
cartesiano; são muito mais. Não é por outra razão que para se estudar o
desenvolvimento destes sistemas são necessários computadores de altíssima
potência, processando bilhões de informações por segundo.
A crise econômica e financeira por que passa o país terá uma série de consequências,
numa cadeia de causa e efeito de resultados imprevisíveis, gerando novos fatos agora
ainda imperceptíveis. Sem nos preocuparmos em fazer a genealogia da crise pela
qual passa o país - já que esta também tem origens complexas - comecemos pelo fato
mais palpável e imediato: a alta da inflação e a consequente ascensão dos juros. A
elevação do custo do dinheiro (juros) já se baseia em princípios simplistas,
cartesianos, de mera causa e consequência: eleva-se o juros, tornando os
empréstimos ao consumidor mais caros, reduz-se o poder de compra, provocando a
queda da demanda e, como corolário, os preço das mercadorias. É através deste
artifício reducionista que muitos burocratas do Banco Central e do governo esperam,
não se sabe depois de quanto tempo, conseguir finalmente a queda dos juros. Fato é
que até agora, apesar de doses maciças do amargo remédio, a inflação resiste e até
aumenta.
Por enquanto, o xarope dos juros altos, além de não surtir efeito no combate da
inflação, está minando outras partes da estrutura da economia brasileira. Em sistemas
complexos cada providência tem suas consequências. Assim, a queda da demanda
provoca a redução do poder de compra. Este gera queda no faturamento das
empresas, forçando-as a demitir mão de obra.
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Com o crescimento do desemprego em setores importantes, como o da construção,
de serviços e indústria ocorre uma queda ainda maior no consumo, resultando em
mais redução da produção e mais dispensas. Em todas as fases deste processo
"queda de vendas -> aumento do desemprego -> queda de vendas..." ocorre uma
queda na arrecadação de impostos. Sendo assim, o recente aumento de impostos
também não deverá surtir o efeito desejado, já que o aumento das alíquotas não
compensará a diminuição da base de cálculo.
As medidas de ajuste ora implantadas são necessárias, pelo menos nos primeiros
instantes, para conter a hemorragia do paciente e evitar que a situação do Brasil se
agrave. Mas o tratamento para sua definitiva recuperação, implicaria medidas de
reforma política do estado, da política econômica e fiscal, além de outras providências
gerais de modernização, desburocratização e democratização do acesso aos serviços
do Estado.
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Estratégias de exploração dos recursos naturais
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O termo estratégia de exploração por quota fixa e esforço fixo refere-se à exploração
econômica de um ecossistema, do qual se extrai quantias fixas de produto natural.
Um exemplo típico é a fixação de cotas de pesca de peixes, caranguejos ou lagostas,
durante certos períodos do ano em certas regiões. Não se sabe exatamente como
anda, por exemplo, a taxa de reprodução dos caranguejos – é por isso que estes
ecossistemas precisam ser constantemente monitorados. A pesca da lagosta no
Nordeste, por exemplo, atinge volumes cada vez mais baixos, devido a um histórico
de pesca predatória que ainda continua. Além disso, é preciso acompanhar
constantemente a tecnologia empregada no processo da pesca, já que a melhoria
desta tecnologia pode proporcionar a captura de maiores quantidades de pescado em
menos tempo. Atinge-se uma alta produtividade que, todavia, em pouco tempo exaure
os recursos naturais – neste caso as lagostas.
Bibliografia:
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Cresce a preocupação com o clima da Terra
Há alguns anos escrevi um artigo sobre a teoria das mudanças climáticas, no qual
comparava a atitude de nossa civilização à do fumante em relação ao cigarro. Este
sabe que o fumo faz mal à sua saúde e que, mais cedo o mais tarde, terá que
abandonar o vício. A grande maioria dos dependentes consegue largar o vício ao
longo da vida, com menores ou maiores prejuízos para a saúde. Alguns, no entanto,
por diversas razões, não querem ou não conseguem abandonar o mal hábito e
acabam falecendo, direta ou indiretamente por complicações causadas pelo cigarro.
Existem ainda aqueles que negam a existência das mudanças climáticas ou sua
origem antrópica. O fenômeno, caso efetivamente exista, é para eles parte de um
processo cíclico – os períodos glaciais e interglaciais – pelo qual regularmente passou
o planeta nos últimos 30 milhões de anos e relacionado com a mudança do eixo da
Terra. No entanto, dizem os cientistas favoráveis à teoria da origem antrópica do
aquecimento global, há apenas cinco chances em 1 milhão, de que o fenômeno esteja
ocorrendo de forma natural, sem interferência humana.
Outro aspecto é que a ideologia dos indivíduos também influencia sua opinião em
relação às mudanças climáticas. Através do site Amazona Mechanic Turk foi
recentemente realizada uma pesquisa nos Estados Unidos. Dividiram-se 2.400
participantes em dois grupos com igual número de integrantes; um formado por
pessoas politicamente conservadoras e outro por progressistas. Os participantes
tinham que prever a direção da curva de um gráfico, que mostrava a evolução do
degelo nos polos.
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Os conservadores opinaram que a tendência da curva seria para baixo, com queda
no degelo, enquanto que os progressistas estimaram que a curva mostraria
crescimento, ou seja, aumento do degelo. Uma das explicações do resultado da
pesquisa, dada pelos organizadores, é de que pessoas conservadoras refletem a
noção de que para diminuir a emissão de gases, a atividade econômica deverá sofrerá
impedimentos.
Mesmo com tudo isso são mínimas, até agora, as iniciativas de redução das emissões.
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Continuamos, assim como o fumante, pensando que ainda temos tempo e que os
efeitos danosos de nosso comportamento se farão sentir – se o fizerem – somente em
um futuro quase remoto, quando já tivermos mudado nossa maneira de produzir e
consumir. Países, políticos, empresas e consumidores, em sua grande maioria,
sabem do perigo que corremos, mas não querem ou não podem implantar mudanças
a curto prazo. Essa foi, até o momento, a atitude da maior parte dos agentes
envolvidos com o tema.
Como resultado deste crescente impacto a WWF prevê em seu estudo que, a
continuar com este ritmo de degradação dos recursos naturais, até 2050 as atividades
humanas terão afetado 90% de toda a remanescente área natural do planeta. Na
prática, já estamos caminhando nessa direção; a Floresta Amazônica foi destruída em
20% e o Cerrado brasileiro em 50%, no período entre 1970 e 2018.
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Em entrevista à BBC News o pesquisador do instituto de pesquisas Stockholm
Resilience Centre, da Suécia, Johan Rockström declarou: “Nós estamos no controle
agora, mas se ultrapassarmos os 2º C (de aumento de temperatura da atmosfera)
veremos o sistema Terra deixar de ser amigo para se tornar inimigo – colocaremos
nosso destino nas mãos de um sistema planetário que está começando a se
desequilibrar.”
Entre outras coisas tais objetivos significariam a eliminação completa dos veículos
movidos a combustível fóssil, a abolição do carvão mineral nas usinas termelétricas e
o uso de biocombustível em aviões. Países onde a agropecuária e o desmatamento
são os maiores responsáveis pelas emissões de CO² e metano, caso do Brasil, teriam
que reduzir suas taxas de emissões nestas áreas para valores bem próximos a zero.
A situação é difícil e, segundo José Marengo, climatologista do Centro Nacional de
Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) disse em declaração ao
jornal Folha de São Paulo, “os tomadores de decisão querem ser o mais realistas o
possível, mas sem ser muito negativos para não gerar pânico na população e nos
mercados.”
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população local. Na agricultura os efeitos também seriam adversos. A produção de
milho cairá se a temperatura estiver acima de 35º C e o limite da soja é de 39º C.
Ainda não existem estudos detalhados sobre outras regiões do pais, como por
exemplo o interior do estado de São Paulo, um dos maiores polos econômicos do
Brasil, que recentemente já enfrentou um longo período de estiagem.
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Uso e exploração dos oceanos
"A origem da vida está nos mares", diz a ciência. Apesar de ainda não termos uma
resposta definitiva sobre como e em que ambiente a vida teria surgido - se é que
alguma vez teremos -, permanece válida a ideia lançada por Darwin no século XIX,
de que a vida deve ter se originado em um meio aquático, provavelmente em mares
rasos e quentes. Assim, a vida na Terra não teria sido possível sem a existência dos
oceanos e do ciclo hidrológico.
Os mares, todavia, nunca foram o nosso habitat - uma comunidade humana vivendo
como a descrita no filme futurista Waterworld (1995), sem qualquer contato com terra
firme, muito provavelmente nunca existirá. Os oceanos sempre foram para nós fonte
de alimentos e rotas de navegação. Há 60 ou 65 mil anos, povos que habitavam a
atual região da Indonésia aproveitaram o baixo nível do mar no período glacial, e,
navegando de ilha em ilha, alcançaram a Austrália. Os antepassados dos índios
americanos utilizaram a mesma estratégia, viajando da Ásia para o atual Alasca ao
longo da costa. Os polinésios, provavelmente o primeiro povo de navegadores de
longas distâncias, iniciaram sua grande epopeia de colonização das ilhas do oceano
Pacífico há cerca de 3.200 anos. Expandiram-se através de uma região de formato
triangular, onde cada lado do triângulo tem aproximadamente 10 mil quilômetros. No
norte desta figura situa-se o arquipélago do Havaí, ao sul a Nova Zelândia e a leste a
ilha de Páscoa. Um feito memorável, dado o pequeno tamanho das embarcações, a
tecnologia primitiva e as imensas distâncias oceânicas a serem vencidas.
O crescimento da população mundial está fazendo com que cada vez mais pessoas
dependam de atividades pesqueiras costeiras e oceânicas para suprirem sua
demanda por proteínas. No entanto, o volume de peixes e outras espécies capturadas
não têm aumentado significativamente nos últimos anos. Especialistas alertam que
fatores diversos estão provocando uma gradual queda no volume de pescado.
Segundo relatório da FAO (Organização das Nações para Alimentação e Agricultura)
publicado em 2015, 90% dos estoques pesqueiros dos oceanos encontram-se
sobrepescados ou completamente explorados. 90% dos grandes peixes marinhos,
como atum-azul e o espadarte já foram eliminados do oceano pela pesca muitas vezes
predatória, como no caso de certas espécies de tubarão, das quais só se aproveita
comercialmente as barbatanas.
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Grande parte do dióxido de carbono (CO²) dissolvido na atmosfera e resultado da
queima de combustível fóssil nas atividades econômicas (indústria, transporte,
geração de energia, etc.) é incorporada pelo oceano. Dissolvido na água, o dióxido de
carbono gera ácido carbônico, o que faz com que os oceanos se tornem cada vez
mais ácidos, inviabilizando a reprodução e a sobrevivência de diversas espécies,
principalmente daquelas que tem um esqueleto de carbonato de cálcio, como conchas
e corais.
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Estas "zonas mortas", segundo estudos, variam em tamanho de dois a quarenta
quilômetros quadrados. Em todo o planeta, estas áreas ocupam aproximadamente
160 mil quilômetros quadrados e estão localizadas no Golfo do México, no Mar Negro
e Báltico, no Golfo de Bengala e no sudeste da Austrália e da China; basicamente em
todas as regiões onde rios que recebem grandes cargas de resíduos de fertilizantes e
esgotos domésticos encontram o mar. Algumas regiões da costa brasileira, como a
baía da Guanabara e partes do litoral paulista, começam a apresentar o fenômeno.
Rios que passam por regiões altamente industrializadas e com grande concentração
populacional carregam milhões de toneladas de resíduos, principalmente plástico,
para os mares. Ao longo dos últimos trinta anos estes resíduos, levados pelas
correntes marinhas, se concentraram em certos pontos dos oceanos, formando
verdadeiras ilhas de resíduos plásticos. A maior parte deste lixo tem dimensões
menores que cinco centímetros, o que faz com que frequentemente sejam
confundidos com alimento, por peixes, tartarugas e aves. Vagando pelos mares em
águas internacionais, estas concentrações possuem dezenas de quilômetros e
concentram-se principalmente no Pacífico Norte, entre o Japão e os Estados Unidos.
Os fatores que afetam a qualidade das águas dos oceanos - e com isso toda a fauna
e flora marinha - são variados e tendem a aumentar. Como por exemplo os
derramamentos de petróleo dos poços de exploração, lastros e combustíveis de
navios e diversos outros produtos e substâncias que secreta e ilegalmente são
lançados nos oceanos. O impacto das atividades humanas nos oceanos poderá em
futuro próximo, em seus efeitos, se aproximar daqueles de algumas das cinco
extinções em massa ocorridas na história da vida na Terra.
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A exemplo das florestas tropicais, os oceanos ainda devem guardar grandes
quantidades de moléculas, nos tecidos vivos de seus habitantes, que poderão nos
ajudar a desenvolver novas substâncias para uso na medicina, na indústria, na
eletrônica, etc.
Uma coisa, porém é certa. Nosso planeta já passou por cinco grandes extinções e
pelo menos uma delas devastou quase 90% da vida marinha. A vida é resiliente e
mesmo que nossa civilização venha a destruir grande parte dos oceanos - e
provavelmente venha a sucumbir por isso -, a vida continuará o seu curso.
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Em alguns milhões de anos a diversidade biológica terá se recuperado e novas
criaturas povoarão os mares.
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Plástico: a grande ameaça aos oceanos
No entanto, é nos oceanos que o plástico exerce seu maior impacto ambiental. Em
2010, quando se realizou o até agora mais completo estudo sobre o assunto, já se
estimava que aproximadamente oito milhões de toneladas de plástico vão parar nos
oceanos anualmente. A maior parte deste volume de detritos não é jogada lá
diretamente, mas carregada através dos rios. 90% de todo este plástico, apontam
estudos, são jogados nos mares por dez rios: rio Yangtze (China); rio Indo (Paquistão);
rio Amarelo (China); rio Hai (China); rio Nilo (Egito); rio Ganges (Índia); rio das Pérolas
(China); rio Anum (Gana), rio Níger (Nigéria) e rio Mekong (Vietnã). Provavelmente,
se fluísse em direção ao oceano Atlântico o rio Tietê também seria incluído nesta lista.
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Todos estes rios têm algo em comum. Percorrem regiões densamente povoadas (e
alguns países), que na maior parte dos casos não dispõem de serviços adequados de
coleta de lixo e de reciclagem, aliado ao baixo nível da educação ambiental das
populações. Na América Central ocorre um fato que, noticiado recentemente pelo site
BBC Brasil, é um exemplo desta situação. O rio Motagua nasce na região Oeste da
Guatemala e em seus últimos quilômetros, antes de desembocar no mar do Caribe,
faz divisa com Honduras. O rio recebe descargas tão volumosas de lixo, que ao longo
da região costeira, tanto da Guatemala quanto de Honduras, se estende uma imensa
ilha de embalagens plásticas. Honduras acusa a Guatemala de ser o poluidor do rio
porque os municípios guatemaltecos jogam nele seus resíduos. A Guatemala, por sua
vez, também não quer assumir toda a culpa. A discussão entre os países continua.
O acúmulo de plástico nos oceanos começou a ser percebido como impacto ambiental
a partir dos anos 1970. De lá para cá os indícios são cada vez maiores. A maior parte
do plástico que vai para os oceanos acaba retornando às praias onde, se não
recolhida, o resíduo pode permanecer por várias décadas, até se desfazer. No
ambiente natural, os fatores que mais contribuem para a degradação do plástico são
a luz do sol, o oxigênio e a água. No entanto, através deste processo de desintegração
permanece um resíduo de micro ou nanopartículas do material, que podem causar
grandes danos aos organismos.
A parte do plástico que, levada pelas correntes não retorna a terra, é muitas vezes
confundida com alimento pelas diversas espécies que vivem no mar, causando
acidentes no sistema digestivo e respiratório que muitas vezes resultam em morte.
Em grandes quantidades e levadas pelas correntes este material se degrada
transformando-se em uma "sopa concentrada" de pequenas partículas plásticas de
tamanho menor que cinco milímetros.
Nas regiões onde ocorre o encontro de correntes marinhas, como no Pacífico Norte,
na região do Caribe e na parte Sul dos oceanos Atlântico e Índico, a rotação das águas
forma imensas ilhas de plástico, com centenas de quilômetros de extensão. A maior
parte destas ilhas não é formada por resíduos grandes, como garrafas e potes de
iogurte, mas por partículas que já sofreram um processo de desgaste, de poucos
milímetros de tamanho e até menores. Existem evidências de que gradualmente estas
partículas micrométricas afundam e juntam ao solo marinho.
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A maior destas formações até agora avistadas, a Grande Ilha de Lixo do Pacífico
possui, segundo fontes talvez exageradas, um tamanho equivalente ao território dos
Estados Unidos.
O problema está se tornando cada vez mais sério e as consequências a médio e longo
prazo são imprevisíveis. É certo que o volume de plástico continuará aumentando
cada vez mais e o tempo de degradação do material é relativamente longo, podendo
variar de 50 anos, no caso de um copo de isopor, até 600 anos para a linha de pesca.
Enquanto isso aumenta a quantidade de plástico finamente dissolvido na água,
afetando toda a cadeia alimentar dos mares. Na Inglaterra, por exemplo, já foi
constatado que um terço dos peixes capturados tem resíduos de plástico em seus
tecidos, na forma de micropartículas.
O Brasil, segundo um estudo da revista Science de 2015, ocupa o 16º lugar entre os
países mais poluidores dos oceanos. A pesquisa levou em conta o número de
habitantes dos países vivendo em regiões litorâneas, o tamanho da costa e o nível de
desenvolvimento dos programas de gestão de resíduos. É previsto que a partir desse
ano (2018) as regiões metropolitanas já comecem a implantar a Política Nacional de
Resíduos Sólidos. Sucessivamente, até 2022, todos os 5.570 municípios brasileiros
deverão ter instaurado a política.
39
Novas maneiras de incentivar a eficiência energética
Enquanto as economias avançadas envidam cada vez mais esforços para reduzirem
o consumo de energia, o Brasil continua preso à ideia de que para crescer é preciso
gerar mais energia. A Alemanha, o Japão e os Estados Unidos aumentaram
consideravelmente o tamanho de suas economias nas últimas décadas, sem que este
crescimento tenha vindo acompanhado de um proporcional aumento da geração de
energia; seja eletricidade, calor, vapor, ou trabalho de máquinas.
40
A energia solar fotovoltaica, a energia da queima de biomassa e biogás, já se
preparam para alcançarem desenvolvimento semelhante nos próximos anos.
Mas, como dizem os especialistas, a melhor energia é aquela que não foi preciso
gerar. Ou seja, não foi necessário fazer qualquer investimento, queimar qualquer
combustível, derrubar qualquer floresta ou mudar o curso de um rio. Esta energia não
foi gerada e não causou todas estas externalidades, simplesmente porque não era
necessária. Mas esta poucas vezes foi a maneira de pensar de nossos governos e de
nossos empresários. Assim, a eficiência energética foi sempre relegada a um segundo
plano.
41
A lei que obriga as distribuidoras de eletricidade a investirem 0,5% da receita anual
líquida em projetos de uso racional de energia, alcança apenas 0,08% de economia
de energia ao ano. Muito pouco em relação ao que precisa ser feito para que o país
possa alcançar suas metas até 2030.
O próprio autor do projeto afirma que tudo ainda é uma proposta, que está sendo
apresentada ao MME e à ANEEL. O mecanismo dos "White Certificates" é bastante
parecido com o sistema de negociação de créditos de carbono (Certificates of
Emission Reduction) muito negociados no início da década de 2000, principalmente
por companhias americanas e países europeus. O cálculo do valor destes certificados
era feito baseado na quantidade de toneladas de emissões de derivados de petróleo
ou equivalentes (tep) capturados ou não emitidos, através de um projeto
(reflorestamento, substituição de combustível fóssil, etc.). A tonelada de tep tinha uma
cotação no mercado internacional e, desta forma, eram remunerados os certificados
gerados pelos projetos.
O mecanismo proposto parece ser interessante, mas precisa ser encampado pela
ANEEL e MME, além de obter o apoio de instituições como a CNI, a Bolsa de Valores
e outros organismos. Mais importante é que estes certificados tenham credibilidade,
sendo auditados por auditorias internacionalmente acreditadas.
42
Paralelamente, é necessário que o governo continue com programas de
financiamento tecnológico, apoio a projetos, campanhas de esclarecimento e outras
iniciativas, visando divulgar a ideia da eficiência energética.
Em tempos de "Indústria 4.0" é cada vez mais importante que o país implante a política
da eficiência. Esta não só se limita aos recursos energéticos, mas a todos os outros
recursos naturais usados nos processo indústrias e no comércio. Eficiência no uso da
matéria prima, de insumos, e outros que entrem nestes processos. Quanto menos
recursos naturais forem usados, mais serão preservadas as espécies vivas e os
ecossistemas. Tudo, afinal, é feito para somente para nossa sobrevivência, já que se
desaparecermos a vida continua. Desenvolve outras formas de organismos e vai em
frente.
43
O ciclo da energia e da matéria através dos organismos
Da matéria orgânica as bactérias extraem sua energia e liberam metano (CH4) para
a atmosfera. Este, por sua vez, depois de queimado, libera CO2, gás que as plantas
“respiram” durante o processo de fotossíntese.
44
Caso os decompositores sejam inexistentes, o acúmulo de substâncias orgânicas é
cada vez maior. Na ausência de decompositores não há o que chamamos de processo
de putrefação. Aconteceria, então, o que sucede com certos corpos colocados ou
mortos em locais muito secos ou muito frios, onde quase inexistem os insetos e
microorganismos decompositores: um processo de mumificação. Os corpos iriam, aos
poucos, perdendo os líquidos e as gorduras, ficando apenas as peles e os ossos (ou
os exoesqueletos). A degradação desta matéria orgânica, sem a presença de
organismos decompositores, se daria basicamente por processos físico-químicos.
Depois de muitos anos, a matéria orgânica se esfacelaria e iria, gradualmente, se
transformando em pó. Na ausência de oxigênio (se, por exemplo, soterrado por uma
avalanche ou areia trazida por um tsunami) este corpo ou esta matéria orgânica
poderia se petrificar (uma possibilidade é que o carbonato de cálcio penetre nos
espaços ocupados pelos ossos e outras partes do corpo, formando o fóssil) ou
transformar-se em carvão mineral (no caso de plantas) ou petróleo (no caso de
microrganismos).
Luz solar (fornece energia) -> Produtores (plantas absorvem e transforma energia) -
> Macro consumidores (se alimentam de plantas e entre si, absorvendo energia) ->
Micro consumidores (se alimentam de produtores e macro consumidores,
absorvendo energia e restituindo as substâncias orgânicas aos seus elementos
constituintes principais ATRAVÉS DE PROCESSOS BIOQUÍMICOS, rápidos
eficientes) -> Elementos e substâncias químicas (C, H, O2, N, CO2, CH4, etc).
Estes elementos, por sua vez, passam a constituir novos organismos produtores e
assim são reincorporados à cadeia da vida.
Luz solar (fornece energia) -> Produtores (plantas absorvem e transforma energia) -
> Macro consumidores (se alimentam de plantas e entre si, absorvendo energia).
45
Elementos e substâncias químicas (C, H, O2, N, CO2, CH4, etc.)
Neste caso parte da energia se dissipa no meio ambiente, sem ser utilizada. Aumenta
assim o processo de dissipação (perda) de energia de um ecossistema (aumento da
entropia), principalmente pelo fato de que os resíduos não são “desmontados” pelos
decompositores.
46
Turistas e degradação ambiental do litoral
Já faz alguns anos, mudei para o litoral. Cidade pequena e agradável, rodeada por
montanhas e de frente para o mar. Ar puro, bem diferente da atmosfera cinzenta de
São Paulo. O trabalho não é problema, já que minha principal ferramenta é a internet.
Vez ou outra apenas uma reunião de negócios na capital; bate e volta, porque não
suporto mais a cidade grande.
Algumas vezes, durante o ano, a calma da cidade é interrompida pelos feriados, finais
de semana prolongados e férias, principalmente as do verão, quando o afluxo de
pessoas é maior. Milhares de turistas põem o pé na estrada e descem para o litoral,
abarrotando as cidades e vilarejos dos cerca de 500 quilômetros do litoral paulista.
Nos outros estados a situação deve ser igual; mas nem em todo lugar se "desce a
Serra", como aqui. Nessas épocas, a população da região litorânea chega a triplicar,
até quadruplicar.
Durante dias ou semanas, tudo na minha cidade está lotado, com gente saindo pelo
ladrão. Padarias, supermercados, farmácias, bares, restaurantes, todos cheios. As
principais avenidas congestionadas, já que até pra ir até a adega, a duas quadras de
casa, usa-se o carro. Existe prazer maior do que desfilar com seu veículo, símbolo de
status social, mostrando a todos - principalmente aos vizinhos - o que o dinheiro pode
comprar (mesmo que seja em 60 prestações)?
Sob o sol forte e céu azul, as praias transformam-se no principal local de lazer. Praia
cheia, por todos os lados. Guarda-sóis, esteiras e barracas montadas por famílias de
turistas, debaixo das quais acomodam cadeiras de alumínio e as indefectíveis
geladeiras de isopor, repletas de latas de cerveja e, evidentemente, alguns
refrigerantes para as crianças. Perto da água, o jovem casal jogando frescobol e no
areão a garotada correndo atrás da bola. Sorveteiros, pipoqueiros, vendedores de
raspadinha, salgadinhos e até um carrinho vendendo roupas, chapéus e óculos de
sol. Perto da água, dezenas, centenas de pessoas caminhando, pra cá e pra lá.
47
Na região central, onde a concentração de pessoas é maior, principalmente à noite,
os resíduos jorram das lixeiras - sem contar a grande quantidade de lixo que é jogada
na rua, em qualquer lugar, sem qualquer consideração.
O que toda esta invasão traz para a cidade? Quais benefícios revertem para a
população local? Muito pouco. Algumas centenas de empregos e subempregos no
comércio e no setor de serviços, quase todos temporários, por um período máximo
que vai de outubro a março. Para os comerciantes e prestadores de serviços, trata-se
da época do ano em que se deveria faturar o suficiente para cobrir a temporada das
vacas magras, que vai de março a junho e de agosto a novembro.
Também é nas férias de verão, ou nas semanas que as antecedem, que aumenta a
demanda por serviços de pedreiro, pintor, encanador, faxineiro, jardineiro, corretor
imobiliário, e outros: são os turistas preparando suas casas para a família ou para os
potenciais locadores. Lojas, hotéis, bares e o comércio em geral fazem reformas e
ampliações.
48
As florestas do entorno, atravessadas por estradas com pouco ou nenhum controle
da polícia florestal, recebem visitantes que arrancam plantas, cortam árvores e
arbustos, fazem fogueiras e depositam ofertas para supostas entidades espirituais. Ao
deixarem o local ao final do dia, é comum abandonarem garrafas, restos de comida,
latas, embalagens e outros resíduos, profanos e religiosos.
Ocorre que parte destes visitantes, não tendo incorporado noções de higiene e
civilidade que deveriam ter aprendido desde a infância, pouco se importam com o lixo
e outro tipo de sujeira que vão descartando por toda a cidade e seus arredores. É
interessante observar que estes poluidores muitas vezes possuem carros novos, até
usam roupas de marca. Mas a educação... Nestas situações penso o quanto nosso
país ainda precisa evoluir culturalmente até mesmo nas noções básicas de
convivência humana.
O progresso de um povo não se mede pelo tipo de objetos que compra, pelo tipo de
carros que dirige, pelas roupas que veste. Não é só o crescimento econômico, o
consumo, a conta bancária. O parâmetro de progresso de uma sociedade é a maneira
como se comporta com seus semelhantes e, consequentemente, como trata o meio
ambiente urbano e natural. A considerar estes parâmetros ainda estamos muitos anos
distantes de um grau de desenvolvimento aceitável.
49
Eficiência energética no Brasil
50
Não é por outra razão que a elaboração de um projeto específico para reduzir o
consumo de energia ainda é bastante desconhecido e pouco implantado fora do
âmbito das grandes empresas ou empresas cujos processos são eletro intensivos. Na
situação atual, projetos de eficiência energética podem incluir, por exemplo:
51
Centro- 8 2.006 126 29.358
Oeste
Couro 9 89 123.413
Metalurgia 14 60 428.810
Outros 44 61 953.116
Papel e Celulose
9 74 257.637
Químico 22 59 1.029.730
Siderurgia 55 4.888.238
12
52
Têxtil 12 103 325.380
A pesquisa do CNI constatou que os setores industriais nos quais foram feitos os
maiores investimentos, foram:
Apesar das iniciativas das associações de classe (CNI, SENAI, entre outros), de
órgãos do governo (ANEEL, EPE) e da ABESCO (associação que representa as
empresas de engenharia e consultoria que atuam na área da eficiência energética)
ainda há muito por fazer para que o setor deslanche.
53
Uma das maiores barreiras, no entanto, é a mentalidade que continua presente na
maior parte do governo e do setor privado, de que para crescer o país precisa
aumentar o consumo de eletricidade e outras energias. Enquanto isso, economias
altamente industrializadas como as do Japão e da Alemanha, seguem reduzindo o
consumo de energia por unidade produzida.
54
Efluentes domésticos e reuso de água no Brasil
a) Aspectos históricos
b) Aspectos político-administrativos
Obras de saneamento geralmente requerem prazos mais longos. Por isso, geralmente
quando se falava em saneamento, queria se dizer tratamento de água. É impossível
abrir novos bairros ou loteamentos sem disponibilidade de água. No entanto, para o
esgoto haviam as fossas céticas e a descarga dos efluentes em rios e no mar. Existe
também o aspecto de que obras de saneamento, principalmente o tratamento de
esgoto, têm custo elevado e não têm impacto político alto. Ficou famoso o bordão de
gerações de políticos brasileiros: "Obra enterrada não traz votos!".
55
A Lei da Concessões (1995) permitiu que investidores privados pudessem atuar em
serviços públicos (energia, saneamento, transporte), através do investimentos em
projetos e posterior exploração dos serviços. A lei abriu uma série de oportunidades,
mas aspectos legais ainda impedem que o setor se desenvolva plenamente.
c) Aspectos econômico-financeiros
Não existem fatores que impeçam o reuso de efluentes tratados no Brasil. Afora a
legislação que estabelece determinados padrões de qualidade da água a ser
reutilizada - equivalentes aos internacionais - não há impedimentos no reuso do
líquido. O que ocorre é que até o momento são poucas as iniciativas para a
reutilização de efluentes, principalmente em grande escala. Empresas privadas,
dependendo de sua área de atuação já reutilizam seus efluentes no processo
produtivo. No setor público o maior projeto nesta área no Brasil é o de
reaproveitamento de efluentes na região de Capuava, na grande São Paulo. O projeto
é uma parceria entre a SABESP (companhia estatal de saneamento do estado de São
Paulo) e a construtora Odebrecht, reciclando 395 milhões de litros de efluentes
domésticos por mês.
A reutilização de água para outros fins ainda é ideia recente no Brasil, já que os custos
da água eram relativamente baixos.
56
A indústria e a agricultura até há pouco nada pagavam pelo uso da água de rios e
lagos - a lei de pagamento do uso da água é de 1997 e ainda está em fase de
implantação pelos Comitês de Bacias Hidrográficas. As estiagens de 2000/2001 e
2014/2015 aumentaram a conscientização em relação à água e forçaram um maior
número de empresas a implantarem medidas de reuso e uso eficiente de
água/efluentes.
57
Agricultura, fome e desperdício de alimentos
A busca por alimento, como em todos os seres vivos, sempre foi a maior preocupação
da humanidade. Nossos antepassados do Paleolítico, ainda desconhecendo a prática
da agricultura, dependiam da coleta e, principalmente, da caça. Durante mais de 100
mil anos o homem moderno, o Homo Sapiens, perseguiu manadas de gnus, zebras e
antílopes pelas estepes africanas e mamutes, renas e bisões pelas geladas planícies
da Eurásia. Aproximadamente há oito mil anos, no final do último período glacial, a
caça começa a minguar. Com o aumento da temperatura, o clima começou a mudar
e com isso flora e fauna também passam por mudanças adaptativas. Os animais, que
por milhares de anos eram abundantes e proporcionavam grandes quantidades de
proteína, decresceram em número, deslocaram-se para outras latitudes mais frias ou
se tornaram extintos.
Nossos antepassados, espalhados por uma extensa área que se estendia da África à
Europa e do Oriente Médio à Ásia até a América – onde os antepassados dos povos
indígenas já haviam chegado através de uma ponte de gelo cobrindo o estreito de
Bering – iniciaram a primeira grande revolução da humanidade: a prática da
agricultura. Observando o crescimento de plantas perto dos acampamentos, resultado
da queda ocasional de sementes, os homens devem ter percebido que este processo
poderia ser repetido em escala mais ampla, gerando volumes maiores de sementes.
Nos vales pantanosos à época dos rios Tigre e Eufrates, na região onde atualmente
se situam a Turquia, o Iraque e a Síria, a agricultura passou a ser praticada pela
primeira vez em larga escala a partir de 5.000 A.C. Cerca de milênio e meio depois, a
atividade agrícola já havia se espalhado para outras regiões; como o vale do rio Nilo,
no Egito; o vale do rio Amarelo, na China; e o vale do Indo, entre o Paquistão e a Índia.
58
Ou no século XVI, quando espanhóis e portugueses descobriram imensas extensões
territoriais agricultáveis no outro lado do Atlântico, além de uma grande variedade de
novas plantas comestíveis, como a batata, o milho, tomate, abacaxi, abacate,
amendoim, baunilha, mandioca, feijão, cacau, pimentas, entre outras.
No final da Idade Média, entre 1315 e 1317 ocorreu na Europa o que se passou a
chamar de "A Grande Fome". Devido ao excesso de chuvas e frio em diversas regiões,
perderam-se colheitas em extensas áreas, o que acabou provocando uma grande
fome em todo o Velho Mundo. Milhões de pessoas morreram por falta de comida e
em consequência de problemas sociais ligados à carestia, como o aumento de crimes,
doenças e de assassinatos. Foi somente a partir de 1322 que a Europa conseguiu,
aos poucos, se recuperar do terrível caos social que havia se instalado.
Assim, mesmo com grande variedade de alimentos conhecidos a partir das Grandes
Navegações – muitos autores falam em uma globalização do consumo de certas
plantas, frutos e sementes – grande parte da humanidade ainda continuava a comer
mal ou passar fome. O pintor e gravador alemão Albrecht Dürer (1471-1528), pintou
em 1498 o famoso quadro “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”, representando os
maiores terrores da sociedade europeia à época: a peste, a guerra, a fome e a morte.
59
Mesmo assim, a fome ainda era uma ameaça real para a maior parte da população
mundial, provocando grandes fluxos migratórios, principalmente da Europa para as
Américas. Uma lista detalhada das principais ondas de fome ocorridas no mundo
desde a Antiguidade até os dias atuais encontra-se em:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_famines.
Ainda na década de 1960 a fome era uma preocupação para cientistas, políticos e
empresários – além do perigo de uma guerra atômica. O aparente problema da
progressão aritmética no aumento da produção de alimentos, frente à progressão
geométrica no crescimento populacional, ocupava grande parte das discussões
acadêmicas da época. Tomando como base a taxa média anual de crescimento da
população mundial naquele período (2,1%), previa-se a explosão de uma bomba
populacional. Mantido a taxa de crescimento, a população se multiplicaria oito vezes
no espaço de um século, 64 vezes em dois séculos, 512 vezes em três séculos, 4.096
vezes em quatro séculos e 32.768 vezes no espaço de cinco séculos. Isto significava
que a população mundial de três bilhões de habitantes em 1960, chegaria a 98 trilhões
de habitantes no ano de 2460; um número assustador. Muitos cientistas diziam que
as previsões feitas pelo economista e demógrafo Thomas Malthus (1766-1834) em
seu "Um ensaio sobre o princípio da população ou uma visão de seus efeitos passados
e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas expectativas
quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona” poderiam se
concretizar em um futuro próximo. A humanidade cresceria tanto em número, que não
haveria mais alimento para todos. Esta foi, inclusive, a principal preocupação das
primeiras reuniões do Clube de Roma, em 1968.
60
A disseminação destas tecnologias em todo o mundo a partir da década de 1970, fez
com que as colheitas aumentassem e que o espectro da fome – pelo menos aquele
causado por falta de alimentos – desaparecesse ao longo dos últimos trinta anos.
Ainda persiste a fome originada por guerras, falta de recursos financeiros ou por
especulação; mas esta não tem causas naturais.
Resolvido por ora o problema da fome por falta de alimentos para grande parte da
humanidade, defrontamo-nos agora com novo desafio: o desperdício de alimentos.
Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) dão
conta que no mundo são desperdiçados 1,3 bilhões de toneladas de comida ao ano.
Um estudo preparado pela entidade, intitulado Global food; waste not; want not
(Alimentos globais; não desperdice; não sinta falta), mostra que grande parte dos
alimentos em todo o planeta é perdida, principalmente, por condições inadequadas de
colheita, transporte e armazenagem; por adoção de padrões visuais muito rígidos para
os alimentos (maçãs vermelhas, bananas sem manchas, etc.); e fixação de prazos de
validade rigorosos demais. Na Inglaterra, por exemplo, segundo reportagem do site
da BBC, cerca de 30% dos legumes, frutas e verduras são sequer colhidos, por não
corresponderem aos padrões de aparência que agradam aos consumidores. Outro
aspecto apresentado pelo relatório da FAO é que depois de comprados
aproximadamente 50% dos alimentos são jogados fora, tanto na Europa quanto nos
Estados Unidos. O descarte de tão grande volume de alimentos representa uma perda
de aproximadamente 550 bilhões de metros cúbicos de água, usados para produzir
estas frutas e vegetais. Adicionalmente, segundo os cientistas, é preciso computar o
volume de gases de efeito estufa (CO² e outros) emitidos para a produção e o
transporte destes produtos, bem como o volume de metano (CH4) emitido quando de
sua decomposição, sem terem sido consumidos.
Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foi
criado um movimento mundial, com o objetivo de reduzir as perdas e o desperdício de
alimentos. A ideia, que surgiu durante a Rio+20, está sendo divulgada através de um
site (www.thinkeatsave.org) no qual constam informações, relatórios, dados, dicas,
eventos e iniciativas, sobre como economizar alimentos e evitar o desperdício.
61
A ideia já estava em circulação há algum tempo: em 2012 o Parlamento Europeu
aprovou uma recomendação para que fosse reduzido o desperdício de alimentos, que
naquele ano chegou a 89 milhões de toneladas (equivalente a 179 Kg/ano/pessoa),
com uma previsão de aumento para 126 milhões de toneladas até 2020.
62
A política da prevenção
63
Isto porque a maior parte das atividades humanas envolvendo o uso de tecnologia –
seja na forma de conhecimento ou equipamentos – pode ser acompanhada através
de processos de checagem e verificação, identificando o mau funcionamento do
sistema, a incipiente capacitação de funcionários, a quebra do equipamento e
prevendo as eventuais consequências do problema detectado. Em setores de
infraestrutura, onde a correção de qualquer falha estrutural geralmente necessita de
tempo, como o fornecimento de eletricidade, gás, água e tratamento de esgoto, as
verificações e correções precisam ser realizadas com grande antecedência.
64
45 mil anos de impacto ambiental
Atualmente, não há mais dúvidas para a ciência de que o homem, o homo sapiens,
vem alterando o ambiente em que vive há centenas de milênios. À medida que a
tecnologia se desenvolvia - desde as ferramentas de corte feitas de pedra e o domínio
do fogo até a invenção do arco -, o impacto do homem sobre o ambiente foi
gradativamente aumentando. No entanto foi com a Revolução Cognitiva, período a
partir do qual houve um acelerado desenvolvimento da cultura (tecnologia, religião,
arte), ocorrida há cerca de 50 mil anos, que o sapiens consolidou sua posição no topo
da cadeia alimentar dos diversos biomas que habitava.
A primeira incursão humana para um mundo fora dos continentes africano e eurasiano
se deu há aproximadamente 45 mil anos. O historiador israelense Yuval Noah Harari,
em sua obra "Sapiens - Uma breve história da humanidade" relata a ocupação da
Austrália por humanos vindos de ilhas da Indonésia. Logo depois disso, dados
arqueológicos dão conta do rápido desparecimento de diversas espécies de animais,
num ritmo além do natural. Cangurus imensos de 200 quilos e dois metros de altura,
coalas gigantes, leões marsupiais do tamanho de um tigre moderno, lagartos de 7
metros e até 600 quilos; o diprotodonte, ancestral do vombate que tinha três metros
de comprimento e o genyorni, ave carnívora com dois metros e pesando 230 quilos.
Todos extintos. Harari diz em seu texto: "Em alguns milhares de anos, virtualmente
todos estes gigantes desapareceram. Das 24 espécies animais australianas pesando
50 quilos ou mais, 23 foram extintas." Também há muitos indícios fósseis de grandes
queimadas efetuadas pelos primitivos habitantes da ilha, provavelmente para o abate
simultâneo de manadas de animais. O eucalipto, raro há 45 mil anos, espalhou-se por
todo o continente australiano, pois é muito resistente ao fogo, diferentemente de
outras árvores e arbusto que desapareceram.
65
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo o representante do instituto Max Planck,
realizador do estudo, informou que a queima da vegetação era realizada de maneira
controlada, de modo a criar áreas abertas, propícias ao crescimento de certas plantas
comestíveis e à presença de certos animais. O que de maneira geral a pesquisa
indica, é que essas populações, através da experiência, já dominavam técnicas de
manejo da vegetação e com isso aumentavam suas chances de obter alimentos.
Outro estudo realizado pela Universidade de São Paulo entre 2016 e 2017 também
coloca em cheque o conceito de que a floresta amazônica era um ambiente quase
intocado até a poucas décadas. A identificação de mais de 400 geoglifos (grandes
figuras feitas no solo através da deposição ou remoção de sedimentos) no Acre,
atestam a ocupação destas áreas há quatro mil anos, através do manejo da vegetação
original. Os pesquisadores descobriram que a mata era substituída por espécies
comestíveis, como milho, abóbora e palmeiras.
O impacto ambiental de nossa espécie não se limita aos últimos 200 ou 300 anos,
com o aumento da população mundial e o advento da industrialização. A ação do
homem em seu ambiente tem relação direta com o desenvolvimento tecnológico das
sociedades.
66
Mais controle na atividade pesqueira
67
No Brasil existem mais de um milhão de pessoas que dependem economicamente da
atividade pesqueira, que a cada ano captura volumes maiores de pescado para
abastecer o crescente mercado consumidor. O excesso de pesca, aliado à utilização
de redes de trama fina que não deixam passar os indivíduos pequenos, fazem com os
barcos atuem como verdadeiras dragas, carregando tudo que se encontra no fundo
do mar. Peixes pequenos ou espécies sem valor comercial são posteriormente
descartados, quando estão mortos. Outro aspecto é que a pesca de fêmeas em
período de reprodução (quando ocorre o defeso), reduz a possibilidade de procriação
da espécie. Todos estes fatores, além dos já citados, poderão contribuir para a
diminuição gradual do volume de pescado e eventual desaparecimento das espécies.
Segundo o Instituto Chico Mendes (ICMBio) o Brasil tem oficialmente 19 espécies de
peixes marinhos ameaçados de extinção.
68
Evolução da questão ambiental
Para evitar a exaustão destes bens, a ONU criou diversos acordos internacionais
para reduzir o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente. Tratado para
eliminação dos gases destruidores da camada de ozônio; acordos para proteger a
biodiversidade e os mares; para a redução das emissões de gases causadores do
efeito estufa, regular o transporte de cargas perigosas; proibir a caça e pesca de
certos animais, são muitos. Enfim, existem diversos pactos estabelecidos entre
todos os países membros da ONU, com o compromisso de reduzir a exploração
excessiva dos recursos do planeta.
69
Pelos noticiários, no entanto, fica evidente que apesar de todos os compromissos
assumidos, são diferentes os graus de empenho dos países em reduzirem seus
impactos ambientais. Enquanto grandes poluidores, como a China e a Índia,
começam a fazer investimentos para reduzirem emissões, há outros países que se
tornaram exemplo, como a Alemanha, que até 2020 deverá fechar todas as suas
usinas nucleares. O maior consumidor de recursos, os Estados Unidos, apesar dos
avanços em diversas áreas, está retrocedendo no controle de suas emissões
atmosféricas, por orientação da atual administração.
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Se, por um lado o setor de energias
renováveis avança rapidamente com aportes de capital do setor privado, o
saneamento, que em grande parte ainda depende de recursos públicos, progride
lentamente. Para a maior parte dos governos a preservação dos recursos naturais
ainda não é prioridade; por uma série de razões. Cria-se, assim, uma grande
expectativa em relação aos novos administradores que assumirão o país em 2019.
Enquanto isso, o fenômeno climático evolui, e fica evidente de que não é mais possível
separar a gestão da economia da dos recursos naturais.
70
Previsão incorreta
Em uma primeira avaliação, já é possível estimar que o mercado ambiental está sujeito
às mais variadas influencias. Desde a disponibilidade de recursos financeiros por
parte de governos e empresas privadas para a implantação de projetos, à aprovação
de leis que podem criar demandas tecnológicas ao impedirem determinadas práticas
de alto impacto ambiental.
71
Da necessidade de cumprir normas técnicas internacionais, no caso de exportadores
de determinados produtos, até a identificação de novos fornecedores de matérias
primas, extraídas ou fabricadas por processos menos poluentes. Resumidamente,
três fatores exercem forte influência em mercados ambientais em desenvolvimento:
a) disponibilidade de recursos; b) legislação e normas técnicas; e) desenvolvimento
de tecnologias mais eficientes.
Disto exposto, é fácil depreender que a tarefa da inteligência de mercado num setor
altamente complexo como este não é trabalho fácil. A grande quantidade de
elementos que entram em consideração – e a escolha dos que exercem mais ou
menos influência no quadro geral – pode confundir as análises e levar a conclusões
que mais tarde não se confirmarão. Forma-se uma “hipótese desalinhada” do provável
desenvolvimento do mercado, o que faz com que as conclusões da análise teórica
também acabem se desencontrando da realidade no futuro.
a) Tendências econômicas:
72
Hoje sabemos que em final de 2013 já se descortinava uma crise econômica no país,
que, entre outros efeitos ao longo do tempo, reduziu drasticamente os recursos do
governo, diminuindo repasses para o PAC, e, mais especificamente, para o setor de
saneamento. Por outro lado, a PNRS, depois de prevista para 2012, teve sua
implantação prorrogada para 2018. Mesmo assim, os avanços foram pífios, já que a
maior parte dos municípios não dispõe, até o momento, de recursos para dar início às
práticas de atendimento da lei.
73
alfandegárias instituídas por países e blocos econômicos. Todavia, a dinâmica
internacional das negociações dos acordos ambientais foi diferente, principalmente
com a eleições de Trump e suas consequências na atuação dos Estados Unidos no
cenário internacional da proteção ambiental. Como sabemos, internamente o
presidente Trump cancelou diversos programas ambientais implantados por seu
antecessor, e a nível internacional abandonou o Acordo Mundial sobre o Clima.
Também havíamos considerado que uma maior atividade econômica levaria, muito
provavelmente, a uma melhor aplicação da legislação ambiental por parte das
agências controladoras. A retração da economia, no entanto, levou a uma menor
atividade produtiva, menor arrecadação de impostos e, assim, a uma diminuição dos
recursos direcionados para as agências controladoras e reguladoras.
c) Tendências tecnológicas:
Por último, havíamos apostado que empresas locais, colocadas numa situação de
competição dado o crescimento da economia, demandariam tecnologias mais
eficientes, o que teria como consequência o aumento na procura por equipamentos e
serviços ambientais. Todavia, a crise econômica na qual o país afundou, fez com que
projetos de ampliação ou retrofit de unidades de produção fossem postergados.
74
Concluindo:
75
Origem e transformação dos materiais
Poucas vezes pensamos acerca das origens dos produtos e dos materiais que
utilizamos diariamente em nossas atividades. Não sou químico nem físico, mas como
leigo interessado no tema sei que qualquer produto é formado por um ou mais
materiais, que para existirem precisaram sofrer um processo de transformação. Esta
transformação físico-química pode ser de dois tipos: a natural e a produzida pelo
homem.
É desta maneira que surgem os diversos materiais dos quais nos utilizamos; seja
através da extração direta da natureza (mineração) ou através de processamento
físico-químico. O problema inerente a tudo isso é que essa transformação - do minério
em ferro ou aço; da argila em cerâmica, do gás natural em metanol até os solventes -
demanda grandes quantidades de energia, seja na forma de eletricidade ou calor.
Outro aspecto é que todos os processos de produção geram grandes quantidades de
resíduos, muitos dos quais com custo altíssimo de reaproveitamento.
76
O que então ocorre é que estes restos de materiais são incinerados ou depositados
em aterros especiais, destinados a produtos com alguma periculosidade. Quando os
resíduos do processo produtivo não são dispostos de modo correto, terminam
poluindo o ambiente - as ruas, terrenos baldios, aterros clandestinos, áreas
desabitadas e às vezes cobertas de vegetação original. Dependendo da toxicidade
destes resíduos (ou refugos), o material contamina os lençóis freáticos, poluindo
águas de nascentes, poços, rios e lagos.
77
Lucrécio e o consumo
Escrevia o poeta e filósofo romano Lucrécio (99 a.C-55 a.C) que “nada vem do nada
e nada acaba em nada”, referindo-se ao fluxo do universo; a energia a matéria e a
vida. Este mesmo princípio, se pensarmos bem, também se aplica perfeitamente ao
nosso mundo humano: a economia, com todos os seus fluxos de matérias primas,
insumos, energia e produtos. Podemos não nos dar conta disso, mas todo e qualquer
produto tem uma origem anterior e mesmo depois de descartado não desaparece.
Pronto o sapato, este é distribuído para as lojas, geralmente por via rodoviária. Os
caminhões operam com diesel e ainda têm motores relativamente poluentes, emitindo
grandes quantidades de CO² e outros gases causadores das mudanças climáticas.
Também precisamos considerar o fato de que para comprar o par de sapatos, o
consumidor necessita se deslocar – geralmente com seu próprio carro – e assim
também contribuiu com emissões de gases poluentes.
78
Depois de alguns meses ou até anos, dependendo da frequência do uso e da
qualidade do produto, o sapato está gasto – nem o sapateiro pode ajudar mais.
Geralmente o destino do calçado é o lixo e dali para um aterro sanitário, onde levará
em média 50 anos até que se decomponha.
Esta é uma descrição bastante simplificada dos impactos ambientais que ocorrem na
produção de um par de sapatos. As matérias primas e insumos têm sua origem na
natureza. Estas, somadas à energia dos derivados de petróleo, à eletricidade de
hidrelétricas e ao trabalho humano físico e mental, formam os bens e serviços
necessários à nossa sobrevivência. Este processo ocorre e se repetirá por bilhões de
vezes com os produtos e serviços que diariamente são consumidos pela humanidade,
até que acabem as matérias primas, a fertilidade dos solos, a disponibilidade de água,
as fontes de energia e outros insumos. Quanto a isso, Lucrécio também escreveu:
“Para quem vive segundo os verdadeiros princípios, / a grande riqueza seria viver com
pouco, / serenamente: o que é pouco nunca é escasso.
79
Herbicidas e impasse na agricultura
As ervas daninhas são espécies vegetais diferentes das cultivadas e com elas
competem pela luz, água, solo e adubo, comprometendo parte ou toda a colheita da
espécie cultivada. Estas ervas aparecem de diversas maneiras: podem estar inertes
no solo aguardando condições propícias para germinar ou ter suas sementes trazidas
por pássaros, pelo vento ou pela água; por vezes chegam misturadas às sementes a
serem plantadas ou podem ser espalhadas por pessoas, animais ou equipamentos
(tratores, colheitadeiras) em seu deslocamento. Enfim, é muito difícil encontrar uma
cultura sem nenhum tipo de erva daninha.
O método mais antigo de combate às ervas daninhas era a associação da capina com
a monda - o arranque manual. Esta situação persistiu até quando os primeiros
cultivadores de tração animal e depois mecânica passaram a ser usados na
agricultura. No início do século XX tem início a utilização de substâncias químicas,
mais tarde classificadas como herbicidas, no combate às ervas daninhas. Nessa
época, pesquisadores nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, começaram
usando sais de cobre e depois o ácido sulfúrico para o combate destas intrusas. O
primeiro marco no uso moderno de um produto químico para estes fins na agricultura
ocorreu em 1941, como a síntese do 2,4 D, o ácido 2,4 diclorofenoxiacético,
posteriormente. Nos anos 1960 e 1970 com o surgimento da Revolução Verde, que
visava aumentar a produção agrícola através da mecanização, adubação química,
seleção de sementes e uso de pesticidas (inseticidas, fungicidas e herbicidas), o
combate às ervas daninhas se tornou mais eficiente.
80
No entanto, ao longo dos anos, diversas espécies de ervas daninhas foram adquirindo
resistência aos produtos químicos. Segundo a EMBRAPA (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária), o problema é mundial. 252 ervas daninhas já se tornaram
tolerantes a herbicidas atingindo 92 culturas agrícolas, semeadas em 69 países (jornal
Valor de 3/11/2017). No Brasil, as espécies que são imunes aos herbicidas são: a
buva, o capim-amargoso, azevem, capim-pé-de-galinha, cloris e caruru. O problema
já está provocando o aumento nas despesas de produção de diversas commodities
agrícolas, como a soja, por exemplo, cujo custo poderá mais que triplicar, devido as
necessidade de maior uso de herbicidas e da queda da produtividade.
O fenômeno é mundial, tendo sido identificado em diversos países a partir dos anos
1990. Junto com o já conhecido impacto ambiental dos herbicidas, representa um dos
maiores desafios do setor agrícola. Agora, a maior preocupação de organismos
internacionais e governos é saber em que velocidade mais de ervas daninhas se
tornarão imunes aos herbicidas atualmente disponíveis e qual será o impacto disso
na produção de alimentos.
81
Do universo ao ambiente
A teoria da evolução do universo também prevê que este terá um fim. De acordo com
a hipótese mais recente, que leva em consideração a descoberta da energia e da
matéria escura (sobre as quais não falaremos aqui), tudo indica que o universo se
expandirá indefinidamente, até perder a energia e dissolver toda matéria. Os cientistas
não estabelecem tempo para que isso ocorra; dezenas, centenas de bilhões de anos
ou trilhões de anos, como conjecturam alguns. Um tempo inimaginável em padrões
humanos, mas finito. O nosso universo, segundo a ciência, terá um fim.
82
Voltemos agora à Terra, onde nós e todas as outras espécies de seres vivos
nascemos e vivemos - a maioria já definitivamente extinta. A vida surgiu há cerca de
3,5 bilhões de anos; os primeiros organismos pluricelulares apareceram há 700
milhões de anos; o homem moderno há 200 mil. A civilização organizada surgiu há
menos de 10 mil anos; a escrita há seis mil e a ciência moderna tem pouco mais de
400 anos. Somos a única espécie viva na Terra e no universo (ao que saibamos) que
tem a capacidade de alterar o ambiente em que vive e de prever, com razoável
probabilidade de acerto, o resultado destas ações.
A Terra e o universo não foram feitos para o homem, como se supunha no passado.
Este surgiu provavelmente por acaso na história da vida, como filho da Terra e do
universo, junto com milhões de outras espécies. Temos o privilégio de olhar e
interpretar o universo. Como já escreveu outro autor: "O homem é o universo olhando
para si mesmo".
83
Ecossistemas e complexidade
Este novo ambiente, se usado para a agricultura, será submetido a soluções lineares
e mecanicistas - preparação do solo para o plantio, semeadura, adubação, irrigação,
aplicação de herbicidas e inseticidas. São intervenções que atacam apenas alguns
pontos do sistema de plantio, como suprir alimento e água e afastar eventuais
concorrentes e predadores; mas sem conseguir aprofundar a interação entre seus
elementos originais, como acontecia no ecossistema original.
84
Um dos aspectos a observar neste caso é que a vegetação original, que ocupava a
área, era um sistema com milhares, talvez milhões de anos de interação entre seus
membros e outros elementos (solo, água, clima). A cada mudança de condições -
enchentes e secas prolongadas, períodos de frio ou de calor mais intensos - este
ecossistema teve condições de lentamente se adaptar e voltar a entrar em equilíbrio,
mesmo com o desaparecimento (ou aparecimento) de uma ou outra espécie, em
função da mudança das condições.
A demanda por alimentos no mundo será cada vez maior. Assim, o maior desafio do
setor agrícola será desenvolver conhecimentos sistêmicos, a fim de aumentar a
produção sem destruir completamente os ecossistemas originais.
85
Prefeituras não conseguem implantar a PNRS
Nem mesmo a queda na geração nacional de resíduos, que em 2016 com 78,3
milhões de toneladas geradas diminuiu 2,04% em relação a 2015, está ajudando os
municípios. A recessão econômica, provocando a queda do consumo, fez com que na
média nacional o brasileiro produzisse 2,9% menos lixo do que em 2015, segundo a
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelp). Mesmo assim, as
prefeituras de todo o pais, com menos recursos arrecadados, estão acumulando uma
dívida de R$ 8 bilhões com empresas que prestam serviços de coleta, segundo dados
da Câmara dos Deputados. A inadimplência das prefeituras junto às empresas de
coleta, fez com que até agora o setor tivesse que dispensar 17mil funcionários,
segundo informação da Abrelp.
Mesmo no estado de São Paulo, o mais rico e desenvolvido do país, uma pesquisa
do Tribunal de Contas do Estado (TCE) realizada em 2016, constatou que 71,17% do
municípios paulistas não dispõem de áreas específicas para disposição dos resíduos
de saúde. 58,28% das cidades avaliadas não possuíam local para descarte de
resíduos da construção civil, 94,48% não contavam com usinas de compostagem de
resíduos orgânicos e 38,4% dos municípios nem dispunham de cooperativas de
catadores organizadas. O quadro no restante do país deve ser o mesmo ou talvez até
pior.
86
Outro fato levantado por um estudo realizado pela Abrelp em 482 municípios, cujos
dados foram extrapolados estatisticamente para todas as 5.570 cidades brasileiras, é
que vem aumentando o número de administrações municipais que passaram a usar
lixões para destinar os resíduos urbanos. Segundo dados da associação, em 2016
havia 2.239 cidades que dispunham de aterro sanitário; 1.772 tinham aterro controlado
e 1559 utilizavam o lixão. O estudo revela que 81 mil toneladas diárias de lixo são
depositadas em locais inadequados e que também não houve um aumento da
reciclagem de materiais.
O quadro geral não permite otimismo, já que será lenta a recuperação da economia e
da arrecadação dos municípios. A Abrelp sugere que as cidades instituam a cobrança
de taxas específicas para a gestão da limpeza municipal, a taxa do lixo. Segundo a
associação, das cidades que planejam e têm orçamento para o setor, 75% dispõem
seus resíduos urbanos de forma correta, em aterros sanitários. A solução deveria
funcionar, desde que a população perceba que os recursos estão efetivamente sendo
destinados à implantação de um programa de gestão de resíduos, e não para outros
fins.
87
O impacto das mudanças climáticas no litoral brasileiro
O litoral do Brasil tem 8.698 quilômetros de extensão e área de 514 mil quilômetros
quadrados. Ao longo da costa se alinham aproximadamente 300 municípios de
diversos tamanhos, que com diversas atividades econômicas, como a pesca, o
turismo, portos, indústrias, exploração de petróleo e centros administrativos, entre
outros, respondem por 30% do PIB brasileiro e concentram 60% da população. A
preocupação dos especialistas tem fundamento, já que 18 das 42 regiões
metropolitanas brasileiras estão estabelecidas na região costeira ou então são
diretamente influenciadas por ela: Macapá, Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal,
Aracaju, Maceió, João Pessoa, Recife, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Vale do
Paraíba/Litoral Norte de São Paulo, Baixada Santista, Joinville, Foz do Itajaí,
Florianópolis e Porto Alegre.
88
Nessa situação, as cidades mais prejudicadas serão aquelas que terão menos
recursos financeiros e capacidade de planejamento.
Sendo assim, não faltam dados e indicações, para que cidades litorâneas de todo o
Brasil deem início ao planejamento de ações concretas para proteger as cidades. No
entanto, segundo Carlos Rittl, o plano ainda não começou a sair do papel. Para o
secretário, o Brasil está retrocedendo em suas políticas ambientais e climáticas.
Pressões de grupos econômicos, apoiados por bancadas de congressistas, estão
propiciando o aumento de desmatamento e a implantação de projetos que contribuirão
ainda mais para destruir os recursos naturais do país.
89
Saneamento básico no mundo e no Brasil
Cerca de 4,5 bilhões de pessoas em todo o planeta ainda não têm acesso ao
saneamento básico. Os dados fazem parte de um relatório recentemente publicado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF). Os números refletem a situação da maior parte dos países pobres
e em desenvolvimento, nos quais parte significativa de seus habitantes, que juntos
perfazem cerca de 60% da população mundial, ainda não dispõem de acesso regular
a tratamento de água e/ou esgoto. Com relação à água, ainda são 2,1 bilhões de
pessoas - 27% dos habitantes do planeta - que têm não são atendidos por suprimento
de água potável. Atualmente, ainda cerca de 600 milhões de pessoas compartilham
latrinas com estranhos e quase 900 milhões não dispõem de qualquer tipo de
instalação sanitária.
90
Esta nova edição do programa anterior é composto por 17 metas, das quais a sexta
tem por objetivo assegurar saneamento básico (água e esgoto) para toda a população
mundial, até 2030.
O Brasil é um dos países com o mais baixo nível de saneamento na América Latina.
Segundo a ONG brasileira Trata Brasil, o país ainda possui mais de 100 milhões de
cidadãos (50,3% da população) sem acesso à coleta de esgotos e somente 42,6% do
volume do esgoto coletado é tratado (dados de 2013). No mesmo ano ainda havia 35
milhões de pessoas sem acesso à água, fornecida por rede de abastecimento. Na
média do país, as perdas de água nas tubulações de abastecimento eram de 37%.
91
Crise, mudanças e adaptação
A história nos mostra que tempos de crise são tempos de mudanças. Os períodos de
perturbação na economia e nas relações sociais representam uma ruptura com o
passado, com uma situação existente, indicando que a forma como a sociedade vinha
se organizando já não funciona mais. As consequências de tais condições podem ser
as crises e as reformas econômicas, os conflitos e o aparecimento de novos grupos
sociais, e o surgimento de novas ideias no âmbito da cultura. Assim, para que os
indivíduos, grupos sociais e sociedades possam continuar existindo, é necessário que
se adaptem às mudanças com a criação de novas estruturas econômicas e sociais.
93
Faltam locais de lazer nas cidades
O problemas, como já escrevemos uma vez em outro texto, começam nas grandes
cidades. Sem suficientes opções de lazer, principalmente na periferia dos grandes
centros urbanos, os moradores das regiões metropolitanas ficam limitados a
frequentarem shopping centers, cinemas, shows de música, algumas exposições e os
poucos parques urbanos disponíveis. Todos superlotados, devido à pouca oferta de
lazer. A exceção são as grandes capitais litorâneas do Nordeste, a cidade do Rio de
Janeiro, Florianópolis e mais uma ou outra cidade de maior porte localizada no litoral,
como Santos. No entanto, mesmo assim, a população que mora na periferia destas
cidades litorâneas, morando distante do mar, também encontra seu principal lazer na
praia. Mesmo porque, outros logradouros, quando existem, muitas vezes são mal
cuidados e com pouca segurança, frequentados por assaltantes e consumidores ou
traficantes de drogas.
Assim, basta surgir um feriado - o Reveillon e o Carnaval são festas muito especiais
na cultura popular brasileira - para que grandes massas se desloquem para as praias.
Uns, vindo de longe e utilizando as autoestradas, e outros, deslocando-se dentro da
própria cidade ou região metropolitana, como ocorre no Rio de Janeiro, em Salvador
e outras cidades.
94
Os clubes com piscinas públicas, nos quais os cidadãos passam a ter contato com os
esportes aquáticos, são muito comuns na Europa e deveriam ser construídos em
grande número nas cidades brasileiras - principalmente considerando o clima tropical
do país, onde em sua maior parte é possível utilizar a piscina durante o ano todo.
Apesar de continuarmos sendo uma das oito maiores economias do mundo, nossas
grandes cidades em pouco melhoraram sua infraestrutura de lazer nos últimos 50
anos. Existem poucas opções, principalmente para as pessoas de menor poder
aquisitivo e os moradores das periferias. É só olhar para os rios e lagos localizados
no ambiente urbano, para ver o descaso com estão sendo tratados pelo poder público.
Lixo, esgoto, invasões, entulho de obras, focos de doenças. O lazer ocorre somente
uma vez ao ano, quando muitos extravasam sua revolta e decepção - à luz dos fogos,
embalados pela música.
95
Meio ambiente e tecnologias de informação
96
Os projetos de logística reversa estão em fase de implantação e envolvem todos os
fabricantes e importadores de produtos de informática.
No entanto, ainda é reduzido o número de locais onde se faz a reciclagem de IT. Como
ainda não existe a obrigatoriedade da lei, grande parte da população ainda não
adquiriu o costume de reciclar seus equipamentos. Na maior parte das vezes, os
equipamentos acabam sendo depositados em aterros sanitários ou lixões; estes
últimos simples depósitos de resíduos, sem qualquer tipo de controle técnico.
97
Atividades econômicas e externalidades negativas
O que de imediato chamou a atenção foi a morosidade das autoridades dos dois
estados envolvidos - governadores, agências ambientais e demais órgãos ligados ao
assunto. O governo federal e seus ministérios - Minas e Energia, Meio Ambiente,
Integração Social e outros - só esboçaram alguma reação quando o ocorrido já tinha
tomado grandes proporções. Nas primeiras horas da tragédia, a população foi
abandonada à própria sorte. A Samarco, responsável pelo derramamento da lama -
já que este era resíduo de suas atividades de exploração - limitou-se a afirmar que as
barragens haviam sido vistoriadas e que "não é o caso de desculpas à população".
Aos efeitos de uma atividade econômica sobre terceiros (aqueles que nada têm a ver
com o que a empresa faz, como o morador que perdeu a casa e demais bens por
causa da lama), os economistas costumam chamar de externalidades negativas.
Neste caso, o vazamento da lama é uma externalidade negativa pela qual a empresa
terá que assumir todos os custos de reparação.
98
O que alguns economistas defendem, principalmente aqueles embasados pelas
questões sociais e ambientais, é que às atividades econômicas sejam incluídos os
custos das externalidades de produtos e serviços. Assim, o criador de gado na
Amazônia deve incorporar ao custo do boi que venderá ao matadouro o valor da
floresta derrubada para fazer as pastagens, da água para dessedentar os animais, de
salários condizentes para seus capatazes e peões, das emissões de gases
provocadas pela atividade, etc. Todos estes custos deveriam ser incorporados ao
valor final do produto, para que este tivesse um preço real, incluindo as externalidades
negativas inerentes à sua produção. O mesmo princípio deveria ser aplicado a outros
setores da economia, como a mineração, a exploração de madeiras, agricultura,
indústria, produção e destilação de petróleo, serviços de limpeza, etc.
99
Crise econômica, desemprego e meio ambiente
Há outros fatos, mais evidentes, que demonstram o efeito negativo da crise econômica
e do desemprego sobre o meio ambiente.
100
Recentemente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto
através do qual voltará a dar incentivos à exploração do carvão, com o objetivo de
gerar mais empregos neste setor. A mineração de carvão já passava por uma crise
de empregos há alguns anos, devido à automação de processos e a queda no
consumo - carvão vinha sendo substituído por gás natural. A medida, criticada por
ambientalistas, também pretende liberar novas áreas para exploração do carvão.
Assim, para reabrir alguns milhares de postos de trabalho e beneficiar um setor em
crise, o presidente Trump aumentará consideravelmente as emissões de gases de
seu país.
101
Os raios e o meio ambiente
O aumento médio da temperatura da Terra nos últimos anos está trazendo verões
mais quentes, com trovoadas mais fortes e maior número de relâmpagos. Segundo o
Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), morrem no Brasil cerca de 120 pessoas anualmente devido às
descargas de raios. A tendência é que quanto mais alta a temperatura, maior a
incidência destas descargas elétricas. Devido à sua localização geográfica e extensão
territorial, o Brasil é o país no mundo com maior incidência destes fenômenos
atmosféricos.
Segundo a revista “Super Interessante”, cerca de 3,15 bilhões de raios caem sobre a
Terra por ano. As regiões de sua maior incidência são a África Central (Congo e
Ruanda) e a região do Lago Macaraibo, na Venezuela. O Brasil recebe descargas
anuais de cerca de 100 milhões de raios, em sua maior parte na região Sudeste, nos
estados de São Paulo e Minas Gerais.
102
Ao longo da evolução da vida, os relâmpagos sempre estiveram presentes nas
tempestades, produzindo óxido de nitrogênio (NOx), que reagindo com a luz do Sol e
outros gases da atmosfera gera o gás ozônio. Este, próximo ao solo, pode afetar a
saúde de todos os seres vivos; plantas, animais e o homem. Nas partes mais elevadas
da atmosfera, na troposfera com altura de até 12 km, o ozônio é causador do efeito
estufa. Na estratosfera, entre 12 e 50 quilômetros, o ozônio passa a atuar como
bloqueador da radiação solar ultravioleta, causadora do câncer de pele.
103
A ameaça da degradação dos solos
Atualmente cerca de 38% das terras do planeta são usadas para atividades agrícolas.
No entanto, em grande parte dos países, principalmente as nações pobres, a
agricultura tem sido feita de maneira insustentável, sem levar em conta o impacto da
atividade sobre o meio ambiente e os demais recursos naturais, principalmente o solo.
Assim, por exemplo, a falta de técnicas de combate à erosão, como o plantio em
terraços, faz com que a chuva arraste parte da terra fértil, encharcada de adubos e
defensivos agrícolas, para a parte mais baixa do terreno e dali para os riachos e
córregos.
A eliminação da mata ciliar que vai beirando os cursos d’água, tendo para estes uma
função protetora, faz com que parte da terra lavada pela chuva da área de plantio,
acabe assoreando os rios e poluindo suas águas com excesso de fertilizantes e
defensivos. Muitas vezes são destes mesmos rios que os agricultores vizinhos e
cidades da região captam água para consumo humano. Ao mesmo tempo, não
penetrando devidamente no solo, o lençol freático não é suficientemente abastecido
com água, sofrendo queda constante e forçando os agricultores a buscarem água em
profundidades cada vez maiores – fato que acontece na Índia e no Paquistão há
alguns anos e que por fim secará o subsolo.
104
Da mesma forma, solos originalmente indicados para o plantio são desequilibrados
por uma prática incorreta. Esta é a razão pela qual a atividade humana aumentou em
10 a 40 vezes a velocidade de ocorrência da erosão, em comparação às condições
naturais. Aqui vale lembrar que a natureza leva em média 500 anos para repor 2,5 cm
de solo fértil. A prática agrícola necessita em média de uma camada de 15 a 30 cm
de solo e esgota 2,5 cm deste solo fértil a cada 25 anos. Com isso, os Estados Unidos
estão perdendo solo 10 vezes mais rápido que a capacidade natural de reposição; a
China e a Índia 30 a 40 vezes.
Uma das maiores preocupações da FAO é manter a produtividade dos solos, para que
no futuro não ocorra uma queda na produção de alimentos. Desflorestamento,
formação excessiva de pastos, técnicas agrícolas ultrapassadas, são os maiores
responsáveis pela perda de solos férteis no Brasil. Num mundo que em 40 anos
perdeu 30% de seus solos aráveis, nosso país ainda está em posição privilegiada,
mas precisa aumentar os cuidados com a manutenção desse patrimônio natural.
Fertilidade é um presente da natureza, que para ser recuperado demanda muito
tempo e recursos.
105
Aves urbanas
O Brasil abriga 1.833 espécies de aves, cerca de 20% do total mundial. Este número,
no entanto, continua crescendo, já que são constantes as descobertas novas espécies
nas diversas regiões do país, até nos arredores de grandes cidades como São Paulo
e Curitiba. O número de variedades de pássaros habitando a região metropolitana de
São Paulo (RMSP) gira em torno de 400, segundo a Secretaria do Verde e do Meio
Ambiente da cidade de São Paulo. Somente na área do Parque do Ibirapuera, já foram
observados 159 tipos de aves, cujo número aumenta em direção à Serra da
Cantareira, na região Norte da cidade, e do parque Capivarí-Mono, no extremo sul da
cidade, nos contrafortes da Serra do Mar.
Muitos dos habitantes antigos das cidades da região têm a impressão de que as
espécies e o número de aves urbanas, as aves sinantropicas (que sendo selvagens
se beneficiam da presença humana), vêm crescendo ao longo das últimas décadas.
Mais plantio de árvores frutíferas e floríferas, aumento das áreas verdes e praças,
conscientização em relação à proteção das aves (as crianças nem conhecem mais os
estilingues e as arapucas); são alguns dos motivos que parecem ter atraído mais
pássaros para áreas urbanas da RMSP. Tal interpretação é defendida pelo
engenheiro e ornitólogo brasileiro Johan Dalgas Frisch, um dos maiores estudiosos
das aves brasileiras.
Impressão ou não, o fato é que quanto maior o número de aves urbanas em nossas
cidades, tanto melhor. Os pássaros, além dos seus cantos e de suas belas cores,
prestam-nos serviços ambientais como o controle biológico de pragas (insetos,
pequenos vertebrados), a polinização de flores e a disseminação de sementes. As
aves também são um indicador ambiental; quanto maior a presença e a variedade de
pássaros, melhor a qualidade do ambiente. Por isso é importante que os habitantes e
os administradores municipais façam o plantio de árvores frutíferas e floríferas,
atraindo grande número e tipos de aves para os ambientes urbanos.
106
As aves mais comuns na RMSP são o pardal e o pombo doméstico (ambas as
espécies trazidas da Europa durante os primeiros anos de colonização), o sabiá da
terra, sabiá laranjeira, tico-tico, saíra, sanhaço, bem-te-vi, cambacicas, beija-flor,
coleirinha, corruíra, periquito, joão de barro, pica-pau anão, coruja buraqueira, entre
outros. Para aqueles que querem alimentar as aves urbanas, especialistas
recomendam recipientes colocados em árvores ou lugares abertos, contendo frutas
como mamão, laranja, banana, tangerina, maçã, pera, carambola; e sementes como
o girassol, painço, quirera de milho e alpiste.
107
Catástrofes e a sobrevivência humana
Com certa regularidade encontramos artigos na mídia, falando sobre o provável fim
da nossa civilização ou do desaparecimento da humanidade, por algum cataclismo.
Nestes relatos, as possíveis causas da destruição de nosso modo de vida são
geralmente ambientais; mudanças do clima afetando regimes de chuva e a
temperatura, prejudicando colheitas e reservas de água, etc. Um longo encadeamento
de fatos, cujas origens estão na nossa maneira irresponsável de explorar os recursos
naturais do planeta.
A origem destes mitos muito provavelmente está baseada em fatos reais, já que desde
o seu aparecimento sobre a terra, diversas gerações de humanos presenciaram
fenômenos naturais impressionantes, que através de relatos transmitiram às gerações
posteriores. Grandes terremotos sucedidos por maremotos, chuvas torrenciais e
enchentes, explosões vulcânicas, quedas de meteoritos; fenômenos cujas descrições
foram incorporadas aos relatos folclóricos e religiosos. Mitos como os do Dilúvio e de
Atlântida (civilização situada no oceano Atlântico, destruída por explosões vulcânicas
e maremotos, segundo relatos do filósofo grego Platão), muito provavelmente tiveram
origem em fatos reais, ocorridos em passado remoto.
108
Apesar de não podermos antever com exatidão o tipo de catástrofe que poderá nos
atingir, sabemos pela ciência que o desastre, se ocorrer, será causado por fenômenos
naturais até certo ponto previsíveis, ou pela interferência humana. Assim, desde o final
da década de 1940, temos conhecimento do risco que corremos em destruir o planeta
com explosões de armas nucleares. Estamos cada vez mais cientes dos efeitos das
atividades econômicas sobre o meio ambiente, destruindo os ecossistemas e, através
de reações em cadeia que ainda não conseguimos explicar em detalhes, minando
gradualmente nossas condições de sobrevivência nas condições atuais.
109
Vida e sobrevivência
O rápido desenvolvimento da espécie humana se deu nos últimos 35 mil anos. Por
essa época, por motivos ainda não esclarecidos pela ciência, nossos antepassados
começaram a produzir armas mais sofisticadas, desenvolver adornos, fazer pinturas
rupestres, adotar regras de convivência social sofisticadas, incluindo uma linguagem
elaborada e religião. Antropólogos, paleontólogos, sociólogos, biólogos e geneticistas,
entre outros, tentam achar uma explicação para este repentino desabrochar da
inteligência especificamente humana; o surgimento da cultura. Os humanos não
seriam mais limitados por ambientes e climas, já que com o processo de acumulação
de conhecimentos desenvolveriam tecnologias para sobreviver e, posteriormente
dominar. A invenção da agricultura, das cidades, da escrita, da fundição de metais, do
Estado e das grandes religiões (não necessariamente nessa ordem), estabeleceu a
base dos grandes impérios, do comércio mundial, da industrialização, até chegarmos
ao período da globalização.
110
Nesse processo esquecemos que fomos guiados principalmente pelo instinto de
sobrevivência, que herdamos dos nossos primeiros antepassados, as cianobactérias.
111
Aspectos do saneamento no Brasil
A prática do tratamento e coleta de esgotos não faz parte da história do Brasil. Durante
o processo de colonização e até o início da industrialização no final do século XIX, a
maior parte das cidades mais populosas situava-se à beira mar (São Luiz, Recife,
Salvador, Rio de Janeiro) ou rio (Belém, Manaus). Providencialmente, as
administrações construíam apenas sistemas de canalização, e os esgotos corriam
tranquilamente para algum canto afastado de uma praia ou para uma curva afastada
do rio. Esta prática era geral até quase meados do século XX e em muitos lugares
ainda ocorre hoje.
Assim, por algum tempo, ainda teremos outras coisas se deslocando nas águas da
Baía de Guanabara e do rio Tietê, além de peixes. Espécie que no Tietê não existem
mais – pelo menos no trecho paulistano.
113
Lucro fácil e rápido
Esta visão exploratória começou cedo sua história no Brasil. Os bandeirantes foram
os primeiros que com parcos recursos materiais e humanos, ingressavam nos sertões
à procura de riquezas - índios e pedras precisas -, sendo muitas vezes bem sucedidos.
Tornaram-se, junto com os senhores de engenho do Nordeste, as primeiras elites
econômicas e políticas da colônia. Mais tarde, esta mentalidade também foi fortalecida
pelas atitudes dos funcionários do reino e pelos investidores. Vindos de Portugal, os
primeiros queriam amealhar pequenas fortunas, para voltar à metrópole em melhor
situação social. Os segundos, planejavam multiplicar seus investimentos, aplicando
seus recursos em empreendimentos de lucro fácil e rápido, como o tráfico negreiro e
a mineração.
114
O tempo passou, o Brasil se tornou independente de Portugal, mas permaneceu no
arquétipo da cultura colonial brasileira a componente exploratória, visando o lucro
imediato.
Findo o ciclo econômico do ouro, começa o do café, nos arredores da cidade do Rio
de Janeiro. Florestas foram derrubadas, para o plantio da rubiácea. A destruição da
mata no maciço da Tijuca, gradativamente provocou a diminuição de água nas
nascentes que serviam a cidade. Foi preciso remover a cultura cafeeira para a região
do vale do rio Paraíba e reflorestar os arredores do Rio de Janeiro. Do vale do Paraíba
a cultura do café se estendeu para o interior da então província de São Paulo, em
direção Oeste. A expansão da cultura cafeeira envolveu a eliminação de grandes
extensões de floresta atlântica e, principalmente no interior de São Paulo, a morte de
milhares de remanescentes de povos indígenas.
115
Queda do desmatamento e saúde
A pesquisa científica identifica, cada vez mais claramente, a relação existente entre
os sistemas ecológicos e os seres vivos, que aparentemente nada têm em comum por
estarem distantes.
116
Há trinta ou quarenta anos atrás, quem imaginaria que as queimadas na floresta
amazônica, tão extensa e tão distante (do sul do continente), poderiam ter algum efeito
sobre a saúde das pessoas em São Paulo, Assunção ou Buenos Aires?
A preservação das florestas e de outros biomas deveria ser prioridade nas macro
estratégias de todos os governos. A relação destas áreas naturais com o clima, os
recursos hídricos, a qualidade do ar e diversos outros aspectos do ambiente urbano e
rural, ainda são em grande parte desconhecidos. A destruição destes recursos
naturais em nome da expansão econômica e do crescimento populacional causará
fenômenos imprevisíveis - a crise hídrica é um pequeno exemplo disso.
117
Melhorar a eficiência no uso dos recursos
Este raciocínio pode parecer novo, mas não é. Durante toda a história, uma das
grandes metas do conhecimento aplicado às atividades humanas sempre foi o de
fazer com que uma organização, um processo, uma máquina, uma operação,
funcionassem de maneira mais eficiente; de uma forma mais organizada, mais rápida,
mais econômica e com menos falhas. Com o avanço das ciências humanas e exatas
este princípio universal pôde ser aplicado tanto ao governo de países, à administração
de empresas, ao gerenciamento de linhas de produção, ao desenvolvimento de
máquinas, à administração de uma casa e muitas outras áreas. Diz a física que quanto
mais organizado, mais eficiente for o funcionamento de qualquer sistema – seja algo
simples, como o motor de um automóvel ou muito complexo, como uma minúscula
célula – tanto melhor atuará esta estrutura, aproveitando da melhor maneira possível
os recursos – combustível ou alimentos – que tem a sua disposição.
118
Mesmo empresas de médio e pequeno porte estão implantando sistemas de gestão
de processos produtivos modernos e automatizados, encurtando o ciclo de produção
de um produto e reduzindo o uso de insumos. Medidas como estas deixam o processo
de fabricação mais limpo e organizado; reduzindo perdas (resíduos) e custos de
produção; aumentando a qualidade e a competitividade do produto; e reduzindo o
impacto ambiental do empreendimento.
O Brasil está pronto para promover mudanças em seu sistema político, legal e
tributário; criar normas, técnicas e estratégias que possam levar o país a dar um salto
de qualidade – seja no setor público ou privado. A má gestão, a incapacidade e o
desperdício podem ser reduzidos, tornando o país mais eficiente, competitivo e
reduzindo os impactos ambientais de suas atividades econômicas.
119
Extinção em massa
Não sabemos ao certo quantas espécies existem na Terra. A estimativa mais recente,
divulgada em 2011 pelo Instituto Censo da Vida Marinha (Census of Marine Life -
http://www.coml.org/), informa que o planeta tem 8,7 milhões de espécies vivas; 6,5
milhões vivendo na Terra e 2,2 milhões habitando os oceanos. A pesquisa, segundo
o Instituto, pode ter uma margem de erro de 1,3 milhões de espécies para mais ou
para menos. Estes dados não incluem seres vivos que não possuem núcleo celular,
como as bactéria e os vírus, cujo número de espécies pode exceder o dos outros seres
vivos. As espécies vivas efetivamente conhecidas e catalogadas giram em torno de
1,2 milhões. Assim, mais de sete milhões de tipos de seres vivos continuam
desconhecidos e ainda não foram estudados.
Nos últimos 500 milhões de anos a vida do planeta foi afetada por diversos
cataclismos que causaram grande mortandade entre as espécies vivas. Estes
acontecimentos, que podiam se estender por milhões de anos, foram chamados de
extinções em massa - quando ecossistemas são totalmente destruídos ou afetados
de tal maneira, que a vida já não é mais possível. A ciência conta cinco grandes
extinções; sendo a maior delas a extinção do período Permiano, há cerca de 250
milhões de anos, que eliminou 95% de todas as espécies marinhas e 70% das
terrestres. A outra extinção em massa importante - especialmente para nós,
mamíferos - foi a extinção do Cretáceo-Paleógeno, ocorrida há 65 milhões de anos,
exterminando 60% de toda a vida, incluindo todas os tipos de dinossauros, espécie
dominante que foi substituída pelos mamíferos.
Fala-se hoje de uma sexta extinção, causada pelo homem, que começou há cerca de
50 mil anos, quando nossa espécie passou a ocupar novas regiões.
120
Indícios do rápido desaparecimento de espécies, associadas à chegada do homo
sapiens, são encontrados na Europa, Austrália e Américas. Com a disseminação da
prática da agricultura, há nove mil anos, o processo se acelerou cada vez mais,
aumentando com a industrialização. Somos hoje uma civilização planetária, abrigando
7,5 bilhões de pessoas, explorando todos os recursos disponíveis, à custa da
sobrevivência das outras espécies. Segundo estudo da universidade de Stanford,
desaparecem anualmente entre 11 e 58 mil espécies (o número é uma estimativa em
função do número de espécies existentes); outras tiveram suas populações reduzidas
em até 30% nos últimos quarenta anos. Cálculos estimam que cerca de cinco mil
espécies estão sendo dizimadas a cada ano nas florestas tropicais.
121
Produção de carne e redução de CO²
A carne bovina é e continuará sendo por muito tempo a mais importante fonte de
proteínas para a humanidade. O aumento do padrão econômico de milhões de
pessoas faz com que o consumo de carne continue crescendo, haja vista o que vem
ocorrendo na China e entre a classe média ascendente, de religião islâmica, na Índia.
Com o aumento da demanda, o Brasil expandiu em 727% suas exportações de carne
entre 2000 e 2014, o que representou um salto de 779 milhões de dólares para 6,4
bilhões de dólares.
122
Outro aspecto negativo, que poderá gerar barreiras comerciais à nossa carne e aos
seu derivados, é a grande emissão de metano, durante o processo de digestão de
bois e vacas. O metano, como sabemos, é um dos gases de efeito estufa, responsável
pelo aquecimento da atmosfera e das mudanças do clima. Os 115 milhões de
toneladas de gás carbônico emitido por nosso rebanho, é equivalente à poluição
produzida por uma frota de 115 milhões de veículos 1.0, rodando cada um 20 mil
quilômetros por ano. Uma quantidade imensa de gás poluente.
123
A influência da natureza
Todo ser vivo existe em constante interação com seu ambiente. O elefante, o homem,
as bactérias e o vírus; todos têm seu habitat para sobreviver. Ao mesmo tempo em
que está imerso no meio em que vive, o ser vivo também é uma unidade independente
do resto da natureza. Fechado em si mesmo, cada indivíduo precisa gerar energia
para manter-se vivo, através da incorporação de alimentos. Perdida a capacidade de
subsistir e manter sua estrutura, o ser vivo se desfaz e volta incorporar-se ao
ambiente.
A influência do meio ambiente sobre o indivíduo é tão grande que quase não é mais
possível estudar uma espécie abstraída de seu entorno. Assim cada ser vivo pode ser
visto como um nó de uma vastíssima teia de relações, onde cada parte influencia a
outra. Esta ideia é relativamente recente, foi criada na teoria dos sistemas, disciplina
que estuda de modo interdisciplinar a organização e interação de fenômenos,
incluindo seres vivos. Com o desenvolvimento da ecologia, da biologia molecular e de
outras ciências ligadas ao estudo do meio ambiente, este conceito da interação entre
ambiente e espécie tornou-se mais importante.
Por esse motivo são tão complexos os Estudos de Impacto Ambiental e os Relatórios
de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA), necessários para avaliar os efeitos de um
projeto no local onde será instalado. No entanto, mesmo contando com uma infinidade
de conhecimentos e equipamentos científicos, além de pesquisas feitas in loco, ainda
não é possível estabelecer definitivamente todos os impactos de uma atividade.
Efeitos microscópicos a longo prazo ainda são desconhecidos em muitos casos, como
por exemplo o uso de sementes geneticamente modificadas e seu efeito sobre a flora
do entorno.
124
No passado, os cientistas admitiam que nosso genoma (o conjunto de nossos genes)
era basicamente determinante para nosso desenvolvimento. Atualmente, no entanto,
descobriram que existem três aspectos adicionais, de grande impacto na maneira
como nossos genes se comportam e nossos corpos (e de todas as espécies vivas) se
desenvolvem e funcionam: o epigenoma (as substâncias que envolvem os genes); o
microbioma (trilhões de bactérias que habitam nossos corpos células); e o viroma
(trilhões de vírus que habitam essas mesmas bactérias, nossas células e todas as
partes do nosso corpo).
125
Cidade, a grande invenção humana
A cidade foi uma das maiores invenções da humanidade, há cerca de sete ou oito mil
anos. De um modo geral, o surgimento das primeiras aglomerações humanas está
ligado à prática da agricultura. Esta atividade começou a se difundir em toda a região
do Crescente Fértil, área que engloba os atuais Iraque, Síria, Líbano, Egito, Israel,
Jordânia, parte da Turquia e Irã. Sob a influência dos rios Nilo, Tigre e Eufrates, a
população local desenvolveu a cultura de plantas que passariam a ser incorporados
ao cardápio da posteridade, como a cevada, trigo, aveia, ervilha, lentilha, cebola;
frutas como o figo, a tâmara, o pêssego e a ameixa.
Foi no espaço das cidades de todo o mundo que se desenvolveram outras grandes
criações humanas: o Estado, as religiões organizadas, a escrita e o cálculo, a ciência
e a tecnologia. No entanto, apesar de serem as capitais dos impérios, os centros
administrativos, religiosos e comerciais, as cidades tinham uma importância relativa,
já que a maior parte da população vivia no campo de forma autossuficiente e
necessariamente não precisava frequentar a cidade. Muitas pessoas, até o fim do
período medieval, visitavam a vila ou aldeia mais próxima somente algumas vezes em
suas vidas.
A partir dos séculos XIII e XIV ocorreram diversas mudanças econômicas, sociais e
culturais na Europa, que fizeram com que as cidades passassem definitivamente a
ser o centro das principais atividades humanas.
126
O campo ainda produzia alimentos e matérias primas, mas os centros urbanos agora
é que ditavam os destinos das nações; eram as sede dos governos, do comércio, dos
bancos, das universidades, da administração de impérios ultramarinos e da vida
cultural. As metrópoles foram os focos irradiadores das novas ideias religiosas e
políticas. A partir da segunda metade do século XVIII, as cidades também se tornaram
o local das atividades industriais e da pesquisa científica.
A cidade foi uma invenção tão bem sucedida que atualmente cerca de 55% da
população mundial vive em metrópoles - no Brasil já são mais de 80% da população.
Mas, como toda invenção humana, a cidade está sujeita a melhorias e adaptações, já
que é o local onde se concentram inúmeras atividades humanas, sujeitas às
condições históricas e ambientais do local onde ocorrem.
A cidade, seja de que tamanho for, é a amostra de como funciona um país. De como
atende às necessidades da população através do urbanismo, arquitetura, transporte,
saneamento, segurança, lazer, condições de saúde, educação e cultura. É uma
construção coletiva, da qual todos participam e devem se beneficiar.
127
Sal, açúcar e gordura
A alimentação representa o mais antigo e fundamental vínculo que o ser humano tem
com a natureza. Apesar de todo avanço da tecnologia agrícola, são as condições
ambientais - como a temperatura e o ritmo de chuvas e as características do solo e
de seus micro-organismos - que continuam sendo determinantes na produção dos
alimentos. Durante centenas de milhares de anos nos alimentamos principalmente de
carnes, acompanhadas de algumas raízes e eventuais frutos. Foi apenas nos últimos
10 mil anos, quando passamos a praticar a agricultura, que a base da nossa dieta
passou a ser de cereais e grãos - trigo, aveia, arroz, milho.
128
O aumento de peso das crianças se dá principalmente entre a população mais pobre,
que consome quantidades maiores de alimentos processados, por serem mais
baratos que os outros. Esta população tem menos acesso à informação e a recursos
como médicos e clínicas especializados, academias e remédios. O filme brasileiro
"Muito além do peso" (https://www.youtube.com/watch?v=8UGe5GiHCT4) aborda
este problema, em reportagens sobre a má educação alimentar infantil no país.
129
Verde do extremo sul de São Paulo corre perigo
O extremo sul da cidade de São Paulo ainda dispõe de áreas verdes, constituídas por
remanescentes da mata atlântica, repletos de nascentes e corpos d'água. Formada
pelos atuais distritos de Parelheiros e Marsilac, a área viveu em relativo isolamento
ao longo da história da cidade. Esta situação só foi interrompida em 1829, com a vinda
de colonos alemães que por lá se estabeleceram. O núcleo deste povoamento é o
atual bairro de Colônia. Sempre foi grande o número de chácaras e sítios na região,
que com sua produção de hortaliças e produtos de granja abasteciam as cidades de
Santo Amaro e de São Paulo - Santo Amaro foi município independente até 1935.
A partir dos anos 1970 a cidade de São Paulo começou a crescer fortemente em
direção ao leste e ao sul, regiões mais afastadas do centro e onde havia mais terra
desocupada disponível. Na região de Santo Amaro e Capela de Socorro formaram-se
extensos bairros e tiveram início as ocupações das margens das represas
Guarapiranga e Billings. Ao longo dos anos 1980 e 1990, com a crise habitacional por
que passava o país, estas ocupações clandestinas só aumentaram. O impacto
ambiental deste processo era diverso: derrubada da vegetação original, geralmente
formada por mata atlântica; formação de lixões clandestinos, já que o precário
arruamento impedia a entrada de caminhões de coleta; e poluição das águas dos
reservatórios, com a descarga de efluentes domésticos sem qualquer tratamento. O
poder público pouco fez para barrar ou organizar a ocupação destas áreas de
mananciais. As represas Guarapiranga e Billings são o maiores reservatórios da
região da grande São Paulo e poderiam ser melhor aproveitados - principalmente a
represa Billings - se suas água não estivessem contaminadas por tão grande volume
de efluentes e resíduos.
Nos últimos quinze anos o processo de ocupação irregular começou a avançar ainda
mais para o extremo sul da cidade de São Paulo, alcançando Parelheiros e Marsilac.
Áreas que até há alguns anos eram propriedades agrícolas do cinturão verde da
cidade, foram transformadas em loteamentos. As ocupações clandestinas também
avançam para dentro do perímetro da APA (área de proteção ambiental) Bororé-
Colônia, área de mananciais localizada entre as represas Billings e Guarapiranga.
130
O conhecido desmatamento "formiga" - invasões, adensamento populacional e
pequenos desmatamentos - são comuns na região. Segundo reportagem publicada
no jornal O Estado de São Paulo, a situação é do conhecimento da Secretaria
Municipal do Verde e do Meio Ambiente, mas a fiscalização da região é quase
inexistente.
131
Por que a questão ambiental avança tão lentamente?
Por que a questão ambiental avança tão lentamente no Brasil? A velocidade em que
outros países industrializados implantaram mudanças estruturais na área ambiental -
políticas governamentais, legislação, normas técnicas, controle das empresas
públicas e privadas - foi bem mais rápida. Basta ver o progresso em toda a Europa e
Estados Unidos, no que se refere à atuação ambiental de governos e empresas,
ocorrido entre o final da década de 1960 e os anos 1980. Em pouco mais de uma
década, houve uma verdadeira revolução no que se refere à redução dos impactos
diretos ao meio ambiente - água, solo e ar -, concretizada através de grandes projetos
de despoluição, modernas estruturas de gerenciamento de resíduos e melhores
controles das emissões atmosféricas.
O processo foi relativamente rápido: da pressão popular para melhores leis e normas,
e destas para obras que ajudaram a reduzir a poluição e o impacto aos recursos
naturais. Para colocar este processo em marcha foi necessário o desenvolvimento de
novas tecnologias, para o que contribuíram os financiamentos governamentais e a
cooperação entre institutos de pesquisa, as universidades e o setor privado.
132
Já faz mais de trinta anos que o país criou a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente
(6938 de 17/01/81), a mais importante. Outras normas importantes foram elaboradas
entre os anos 1980 (em sua maior parte) e nos anos 1990. Mais detalhes em:
http://planetaorganico.com.br/site/index.php/meio-ambiente-as-17-leis-ambientais-
do-brasil/. Portanto, não nos faltam leis. Recursos também não faltam ao governo e
às empresas; principalmente aquelas com maior impacto ambiental como
mineradoras, construtoras, agronegócio e pecuária, empresas públicas de
saneamento, setor químico e petroquímico, entre outros. Poucos recursos do PAC,
além daqueles destinados ao saneamento e que também foram reduzidos, estão
sendo utilizados para controle da poluição.
A grande falha, a nosso ver, ainda está no baixo grau de conscientização da sociedade
civil. Apesar de ter uma vaga noção sobre poluição, grande parte da população
desconhece suas causas econômicas e políticas e não exerce seu direito a um
ambiente limpo, assegurado pela Constituição. A mídia crítica faz seu papel da melhor
maneira possível, mas devido ao baixo nível educacional do povo acaba falando
sempre para os mesmos. Assim, sem pressão e mobilização "fica tudo como dantes
no quartel de Abrantes", como já diziam os portugueses.
133
Produção, distribuição e consumo de alimentos
Este é o ciclo vicioso a que são condenadas regiões pobres em todo o mundo: falta
de acesso a alimentos gera subnutrição. Esta prejudica o desenvolvimento intelectual
e profissional de parte da população. Na falta de cidadãos preparados, o crescimento
da economia fica comprometido e desta forma não geram-se menos recursos para
produzir ou comprar alimentos para toda a população - principalmente aquela mais
necessitada. Por isso, é preciso que os países detentores de tecnologia agrícola
desenvolvida atuem nestes países na transferência de conhecimentos.
A fome ainda presente no século XXI não é por falta de alimentos. A produção mundial
de comida é suficiente para abastecer os atuais 7,3 bilhões de habitantes da Terra.
Se parte da população dos países menos desenvolvidos não tem acesso a
quantidades suficientes de comida, isto se deve a fatores como insuficiente produção
local; falta de recursos do país para adquirir alimentos no mercado internacional; e
elevação dos preços internacionais devido a ações especulativas, entre outros.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alerta que a
população mundial deverá atingir 9 bilhões em 2050, o que incrementará a procura
por alimentos. Segundo os especialistas, para fazer frente a esta demanda, o mundo
deverá atacar este problema em três frentes principais. Primeiro, aumentar a produção
de produtos agrícolas, sem comprometer os recursos naturais, não avançando sobre
áreas de vegetação natural. Isto significa que o Brasil, por exemplo, precisará investir
muito mais em pesquisa e tecnologia - o que em parte já vem fazendo - para obter
uma melhor produtividade das áreas agrícolas já existentes.
134
O segundo aspecto a ser considerado é a melhoria dos sistemas de armazenagem e
distribuição das colheitas. Dados apontam que cerca de 30% dos produtos agrícolas
mundiais são perdidos entre o campo e o ponto de venda do produto. Será necessário,
na maioria dos países produtores, construir mais silos e armazéns, ampliar a rede
rodoviária, ferroviária e ampliar e modernizar as instalações portuárias.
135
O clima e o oceano
O oceano foi muito provavelmente o local onde se originou a vida, há 3,8 bilhões de
anos. Ali ela permaneceu e se desenvolveu até que há cerca de 380 milhões de anos
os primeiros seres vertebrados passaram a ocupar terra firme. Desde então, os mares
continuaram a ser o habitat de centenas de milhões de tipos de animais, que se
sucederam ao longo da história da vida. Durante este longo período, as espécies
estiveram sujeitas àquilo que a ciência chama de extinções em massa: cataclismos
que causaram o desaparecimento de dezenas de milhares até milhões de espécies,
em um período de tempo relativamente curto, de algumas alguns milênios. Estas
extinções foram causadas por grandes erupções vulcânicas, espalhando cinzas na
atmosfera e impedindo a entrada de parte da luz solar, esfriando a temperatura do
globo; terremotos seguidos de imensos maremotos, com ondas colossais com altura
de dezenas de metros, inundando e destruindo toda vida em seu caminho. De uma
maneira ou de outra os mares eram bastante afetados, tendo sua temperatura ou
constituição química das águas alterada, o que frequentemente provocava grande
mortandade de espécies.
Aqui vale lembrar que muitas espécies não desapareciam por causa das condições
físico-químicas das águas, mas pela falta de alimento. Se espécies que estavam na
base da cadeira alimentar - como atualmente as anchovas e sardinhas - fossem
afetadas pela mudança das condições, todos os seus predadores também
desapareceriam por falta de alimento. Essa a razão por que as mudanças climáticas
e suas consequências no planeta são um evento tão complexo; sabe-se como se
iniciam, mas é difícil prever seu desenvolvimento e consequências.
Por causa das atividades humanas interferindo nos oceanos aproximamo-nos de mais
uma era de extinções de espécies em massa, segundo os cientistas. As condições
dos mares, segundo especialistas, estão se aproximando daquelas de 55 milhões de
anos passados, no período geológico conhecido como Máximo Térmico do
Paleoceno-Eoceno, que se caracterizou por uma mudança brusca no clima, alterando
em curto espaço de tempo a circulação do oceano e da atmosfera.
136
Em um breve período de seis mil anos, segundo dados geológicos, a temperatura
média da Terra aumentou em 6º Celsius, fazendo com que subisse o nível do mar e
crescesse a concentração de dióxido de carbono (CO²) e metano (CH4) na atmosfera.
A consequente escassez de oxigênio das águas oceânicas provocou uma mortandade
em massa de espécies.
137
A parábola do sapo e do Leviatã
Famosa é aquela história (ou será parábola?) do sapo e da panela sobre o fogo.
Segundo dizem, se você colocar o animal na água ainda fria, ele não perceberá que
a água está esquentando e morrerá quando o líquido ferver. Mas se você pegar o
anfíbio e jogá-lo em água já quente, ele imediatamente saltará do recipiente. Verdade
ou não - e existem aqueles que afirmam que experiências comprovam o relato - a
história não quer nos ensinar nada a respeito das reações deste pobres animais
submetidos a experiências tão dolorosas, mas nos dizer algo sobre nós mesmos.
Para nós modernos, tudo parece muito natural. Grandes obras, imensas cidades,
largas áreas de monocultura, enormes fábricas empregando milhares de operários;
tudo grande para produzir e distribuir vastas quantidades de produtos a serem
consumidas por milhões de pessoas. A imagem lembra o gigantesco Leviatã, descrito
pelo filósofo Thomas Hobbes. O monstro, que segura um cetro e uma espada
representa o Estado, que por ser formado por milhões de cidadãos tem a aparência
de um homem, constituído por inúmeras imagens de pessoas.
É aí que entra a parábola do sapo, mas que nos tempos atuais se transformou em
Leviatã. O colossal personagem - na realidade formado pelos interesses, apetites e
ações de bilhões de criaturas humanas - não percebe que através de sua atuação
está destruindo suas próprias possibilidades de sobrevivência a longo prazo. A
exaustão dos recursos naturais e a destruição dos ecossistemas que os abrigam,
colocarão em risco, cedo ou tarde, a sobrevivência dos estados na forma como os
conhecemos hoje.
138
Secas, tornados, nevascas, chuvas torrenciais, serão fenômenos climáticos que se
tornarão cada vez mais comuns. A exaustão dos solos, dos recursos hídricos; a
diminuição das espécies de peixes comestíveis; a destruição das florestas
temperadas e tropicais. Tudo isto já está acontecendo, basta prestar atenção aos
noticiários ou escutar as palavras dos cientistas. Enquanto isso, a economia faz
questão em ignorar o assunto. "É preciso que a economia funcione a um ritmo cada
vez mais rápido, para que cada vez mais pessoas possam consumir. Mais consumo,
mais empregos, mais riqueza."
Ou sabe. Basta ver a maneira como estamos degradando o ambiente com nossas
atividades econômicas. Somos o sapo que se transformou em Leviatã e que não se
dá conta de que a cada dia, ano e década a água está mais quente. Ainda há tempo
para saltar da panela. Mais um pouco, no entanto, e será tarde para a maior parte de
nós.
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Os rios e o espaço urbano
Nos dias quentes do verão suíço, milhares de pessoas tomam banho no rio Limmat,
que liga o lago Zurique ao rio Aare. Até aí nada de especial. Milhões de pessoas
tomam banho em milhares de rios no mundo inteiro. O detalhe é que esta cena se
passa no centro financeiro da cidade de Zurique, a mais populosa cidade da Suíça
com mais de 400 mil habitantes. Muitos dos banhistas são pessoas que trabalham no
bairro central da metrópole e que usam parte de sua hora de almoço para dar um
mergulho no rio de águas límpidas.
Dois exemplos de como é possível conviver com os cursos d'água em plena área
urbana, mesmo em grande metrópoles. Seoul, por exemplo, tem uma população de
10,1 milhões de habitantes concentrada em uma área de 605 km²; pouco mais de um
terço da área da cidade de São Paulo (1.522 km²) para uma população quase
equivalente (São Paulo tem 12 milhões de habitantes). Assim, quando aqui no Brasil
invadimos as áreas de várzea, ocupando as baixas dos rios com avenidas e obras
urbanas, não se trata absolutamente de falta de espaço.
Isto ocorre porque em grande parte das administrações municipais ainda persiste uma
visão urbanística que tem origens no passado. Segundo este tipo de pensamento,
muito em voga entre os urbanistas e planejadores no final do século XIX e início do
XX, as regiões baixas das várzeas e dos rios continham miasmas, "ares ou vapores"
que podiam transmitir doenças como o cólera e o tifo. O médico inglês William Farr,
responsável pelo censo populacional de Londres em 1851, foi um ferrenho defensor
e propagador desta teoria. O argumento também foi usado para que o arquiteto
140
francês Hausmann pudesse promover a reurbanização da capital francesa,
desalojando milhares de pessoas pobres que viviam em prédios antigos, localizados
perto do rio Sena.
141
Brasil não dispõe de banheiros públicos
A falta de banheiros públicos nos centros urbanos também tem explicações históricas.
Até os anos 1960 a maior parte da população vivia em áreas rurais, as cidades eram
menos populosas e de menor área. Na maior parte das aglomerações urbanas então
existentes, seus habitantes não tinham necessidade de longos deslocamentos por
grandes distâncias. Era possível resolver as pendências pessoais em torno dos
quarteirões que cercavam a praça da matriz, já que era por ali que se situavam os
cartórios, bancos, consultórios médicos, etc. Se o transeunte precisasse “aliviar suas
necessidades”, havia sempre um bosque, uma beira de rio ou local ermo. Quem
estava em viagem pela cidade, tinha um hotel, hospedaria ou pensão como local de
permanência.
Nas estradas brasileiras a situação não é diferente. O país possui uma malha
rodoviária de aproximadamente 1,3 milhão de quilômetros, dos quais apenas 140 mil
estão pavimentados. Destes, 14 mil quilômetros foram transferidos a 51 empresas
privadas, que operam estas rodovias em regime de concessão.
142
Nesta modalidade, as concessionárias são responsáveis pela manutenção e
conservação das estradas e se remuneram através da cobrança de uma taxa, o
pedágio. As autovias privadas são melhores do que aquelas sob responsabilidade dos
governos municipais, estaduais e federal, dispondo de boa infraestrutura, sinalização,
telefones de emergência e equipes de apoio. No entanto, um importante item que
mesmo as estradas sob administração privada não dispõem são os banheiros
públicos. Não fosse algum restaurante, lanchonete ou posto de gasolina no percurso,
o usuário teria que aliviar suas necessidades à beira da estrada, como de fato muitas
vezes acontece. Recentemente vimos em uma importante estrada em São Paulo, de
altíssimo fluxo de veículos, alguns banheiros químicos, colocados lá para atender a
“demandas urgentes”. Instalações de alvenaria, limpas, higiênicas, principalmente
para mulheres e crianças, não existem nas estradas brasileiras.
O poder público tem como obrigação zelar pela higiene e pelo bem estar da população
– pelo menos é o que acontece em países civilizados e modernos. A exemplo do que
ocorre nestes lugares, já é hora de nossos prefeitos e do Ministério dos Transportes
pensarem em soluções para este problema tão humano.
143
Natureza e felicidade
Hoje nossa cultura dá muito valor ao bem-estar, à alegria e, cada vez mais
frequentemente, à felicidade (ou aquilo que as pessoas consideram como tal).
Atendidas as necessidades básicas de alimentação e proteção para a maior parte da
população – pelo menos nas nações desenvolvidas e em desenvolvimento, sob
influência da cultura europeia – a ideia da simples sobrevivência passa a dar lugar a
viver bem; viver com qualidade. E isto, além de incluir uma barriga cheia e um teto
sobre a cabeça, também abrange segurança quanto ao futuro e saúde para desfrutá-
lo. A este estado comumente se chama de bem estar, com momentos de alegria e,
mais raramente, felicidade.
Por toda a história também houve pessoas que defendiam uma vida mais simples.
Desde os antigos filósofos cínicos e estoicos da Grécia e de Roma, passando pelas
ordens religiosas mendicantes da Idade Média, até chegar aos intelectuais e ativistas
modernos. Figuras como o poeta inglês William Blake (1757-1827), o escritor e filósofo
americano Henry David Thoureau (1817-1862) e o escritor alemão Hermann Hesse
(1877-1962) transmitiam em suas obras uma oposição ao industrialismo e contra a
ilusória busca da felicidade baseada na obtenção de bens de consumo.
144
Influenciado por estes e outros pensadores críticos, nasceu nos Estados Unidos nos
anos 1960 o movimento “hippie” (palavra derivada de “hip”, que em inglês indica
pessoa bem informada), que em poucos anos se espalhou por todo o mundo. Os
hippies defendiam uma vida simples, livre do excessivo consumismo da sociedade
industrial e valorizavam a natureza, em seus diversos aspectos. Pensadores que
influenciaram o ideário hippie foram filósofos como Alan Watts (1915-1973) e Herbert
Marcuse (1898-1979), além da filosofia indiana, o pensamento anarquista e o
movimento da contracultura. Muito daquilo que os ambientalistas passaram a
defender no final dos anos 1960 e início de 1970 tinha suas origens no pensamento
hippie. Alguns fundadores de importantes ONGs, como o Greenpeace, são oriundos
de grupos da contracultura americana e inglesa.
145
Proteção aos animais
A ciência, neste caso, tem muito a dizer sobre a complexidade dos animais. Frans de
Waal, zoólogo e estudioso de renome internacional, relata em recente artigo (Scientific
American Brasil/outubro de 2014), o caso de uma fêmea de chimpanzé que sofre de
artrite. Em diversas atividades ela é ajudada por outros macacos de seu grupo. De
Waal conclui sobre a cooperação entre primatas: 1) A cooperação não exige laços
familiares; 2) A cooperação é muitas vezes baseada na reciprocidade; e 3) A
cooperação pode ser motivada por empatia, emoção despertada quando outros
sentem dor ou sofrimento. Em toda a sua extensa obra sobre os macacos primatas, o
zoólogo procura mostrar que muitas atitudes e reações tidas como humanas, já se
encontram, pelo menos em sua forma simples, no comportamento dos nossos primos
chimpanzés – pela teoria darwiniana descendemos de uma espécie comum.
146
Assim, comportamentos de colaboração, partilha e divisão justa, são comuns a muitas
espécies. Waal escreve que “A sobrevivência depende de partilhar, o que explica por
que humanos e animais são extremamente sensíveis às divisões justas. Experiências
mostram que macacos, cães e algumas aves sociais rejeitam algumas recompensas
inferiores às de um companheiro que executa a mesma tarefa; chimpanzés e humanos
vão ainda mais longe, moderando sua porção de recompensa conjunta para evitar
frustração alheia. Devemos nosso senso de justiça a um longo histórico de
cooperação mútua” (SCIAM 149).
A revista Página 22, da FGV, publicou em sua edição de julho de 2014 que a França
recentemente alterou seu Código Civil, no qual agora os animais não humanos
obtiveram o status de “seres vivos dotados de sensibilidade”. No Brasil tramita na
Câmara dos Deputados o Projeto de Lei no. 6.799/13 do deputado Ricardo Izar (PSD-
SP), propondo a mudança da natureza jurídica dos animais de “bens de posse” para
“sujeitos de direito”, já que segundo o deputado a legislação sobre crimes ambientais
é insuficiente para proteger os animais dos maus-tratos. Uma sociedade que respeita
os animais não humanos tende a respeitar mais ainda os humanos.
147
Meio ambiente: natureza e cultura
Há pelo menos vinte anos escutamos falar cada vez mais sobre temas ecológicos. A
proteção do meio ambiente, o aumento da poluição, a exaustão dos recursos naturais,
o uso dos recursos hídricos, a conservação das florestas, o aquecimento global, a
gestão dos resíduos urbanos. São todos temas que se incluem na questão ambiental,
tão tratada pela mídia e cada vez mais importante nas decisões políticas e econômicas
de nações e empresas, além de afetar diretamente a vida do cidadão comum.
Mas o que é o meio ambiente, do qual todos falam? São as florestas e os desertos, a
atmosfera e os oceanos; são os rios que cortam as cidades e as lavouras, os animais
selvagens e domésticos; é a área verde do nosso prédio e o canteiro central da
avenida? Parece que é tudo isso e muito mais, incluindo todas as atividades que de
alguma maneira causam efeito sobre este ambiente em que habita a nossa civilização.
Aí podemos incluir a agricultura, a criação de gado e a pesca em alto mar; a produção
de tudo o que consumimos; desde a extração das matérias primas até o transporte à
loja ou nossa casa. A coisa vai tão longe que até o nosso lixo, o combustível e a
fumaça dos nossos carros, a descarga de todos os banheiros e a água de chuveiros
faz parte do meio ambiente. Incluso o nosso corpo, os alimentos que ingerimos, os
milhares de tipos de bactérias que vivem em nosso intestino, tudo isto faz parte do
meio ambiente. Meio ambiente é tudo. Em uma linguagem religiosa podemos dizer
que meio ambiente é tudo aquilo que Deus colocou em existência nos primeiros seis
dias da Criação.
No entanto, meio ambiente é tudo isso e ainda mais. Não são somente as coisas que
existem na natureza, mas principalmente a relação entre elas. Sim, porque o mundo
natural não é estático; todas as coisas exercem influência umas sobre as outras. O
Sol evapora a água dos oceanos, que cai na forma de chuva e é absorvida pelo solo,
que molhado libera os alimentos para as raízes das plantas, que para crescer
incorporam CO², que causa o aquecimento da atmosfera, que aquecida causa os
fenômenos climáticos, que, que, que... Uma complexa teia de causas e efeitos
classificada pelos cientistas como sistemas complexos - um conjunto de coisas e
relações complicadas e difíceis de serem estudadas.
148
Mas não é somente a geleira do Ártico que se derrete com o aquecimento da
atmosfera, a floresta amazônica que é dizimada pela agricultura e pecuária ou os
tubarões que são mortos indiscriminadamente. Nossa civilização planetária
desenvolveu-se tanto tecnologicamente e exerce cada vez mais pressão sobre a
natureza, utilizando-se de seus recursos, que é impossível que alguma atividade
humana não cause certo impacto sobre o ambiente, seja localmente ou globalmente.
Isto é ainda mais verdade há pelo menos 200 anos, quando o processo de
industrialização e da moderna urbanização que teve início na Europa, espalhou-se
gradualmente por todo o mundo.
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Avanço tecnológico e gestão de recursos
A exploração dos recursos só não era maior, porque faltava tecnologia. O carvão
mineral, por exemplo, parece ter sido usado como combustível nos séculos II e III em
certas regiões da então província romana da Germânia. Depois, sua utilização foi
esquecida, vindo a ser redescoberta no século XII, como substituto à lenha, que
estava escasseando em certas regiões da Europa. Seu uso, porém, não se tornou
disseminado, já que o carvão não era encontrável em todos os lugares e seus custos
de transporte eram muito altos. Assim, foi somente no século XVIII, com o advento da
industrialização na Europa, que o carvão mineral passou a ser explorado em
quantidades cada vez maiores.
150
Ainda no século XIX se inventaria uma máquina (turbina) que, aproveitando o
movimento da água, geraria eletricidade. Ao mesmo tempo aumentava a utilização da
água na nascente indústria química, na siderurgia e nas primeiras estações de
tratamento de água e de esgotos, instaladas nas grandes cidades europeias. As
diversas aplicações da água à movimentação da economia aumentavam
exponencialmente.
A partir dos anos 1950 do século XX toma importância cada vez maior a gestão dos
recursos hídricos, associada à implantação de grandes obras de infraestrutura,
expansão da revolução verde na agricultura e financiamento internacional de projetos
hídricos em países pobres e em desenvolvimento. No Brasil, foi o período em que
começaram a aparecer os projetos das estações de água e de efluentes, sem que
chegassem a atender toda a demanda – pelo menos até hoje.
A recente crise hídrica por que passam diferentes regiões do Brasil, reflete também a
má gestão do precioso recurso. Atualmente, dispomos de conhecimentos técnicos e
recursos, que, se bem utilizados, poderiam ter diminuído o impacto deste fenômeno.
Faltou vontade.
151
Extinção de espécies, o que perdemos?
O desaparecimento de uma espécie vegetal ou animal, na maior parte dos casos, não
tem nenhum efeito sobre nossas atividades diárias – pelo menos é o que a maioria de
nós pensa. Que efeito terá sobre nosso dia a dia a extinção de uma planta que só
existia nos arredores da região sul da metrópole de São Paulo e que foi extinta com a
construção do Rodoanel (tal fato quase ocorreu efetivamente)? O que importa para o
país, às voltas com tantos problemas econômicos e sociais, o desaparecimento de
uma ave, recentemente identificada na Amazônia, mas que já está em processo de
extinção? Pouco ou nada, diremos.
152
Estudar propriedades químicas da seiva da planta e as cores da plumagem do pássaro
proporcionaria, eventualmente, novas substâncias para o combate de doenças e
conhecimento sobre microestruturas nas penas que, copiadas, melhorariam técnicas
de camuflagem. Estas oportunidades, importantes para a nossa vida diária e para os
problemas do país, desaparecem quando espécies se tornam extintas. Se cada
espécie, planta ou animal, para muitos não tem importância em si e nem por sua
função na cadeia da vida, pelo menos deveria ter importância sob aspecto científico e
econômico.
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Crescimento da população, consumo e impacto ambiental
A redução do crescimento da população mundial ainda não se fez notar com tanta
clareza, já que grande parte das pessoas nascidas nos últimos 50 a 70 anos ainda
continua viva. O que se espera é que a redução do crescimento vegetativo médio seja
perceptível a partir da metade deste século quando, segundo previsões, a população
humana deverá alcançar os nove bilhões e lentamente decair, segundo algumas
fontes. A ONU (Organização das Nações Unidas), todavia, prevê que a população
continuará a aumentar, chegando a aproximadamente 11 bilhões no final do século.
O maior crescimento ocorrerá no continente africano, cuja população deverá chegar
aos 4,2 bilhões de habitantes até 2100.
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Segundo um estudo do instituto americano Wolfensohn Center for Development, em
2030 aproximadamente cinco bilhões de pessoas – cerca de 2/3 da população global
– poderão pertencer à classe média mundial, dispondo de 10 a 100 dólares por pessoa
por dia (dependendo do país) para gastar.
O efeito que esta demanda por produtos provocará no meio ambiente é imenso:
mineração, agricultura, criação de gado, pesca, indústrias de todos os tipos,
construção civil, transportes e fornecimento de energia e água. Além disso, há que se
considerar a geração de resíduos de todas estas atividades e o impacto no solo, nas
águas e na atmosfera, aumentando as emissões de gases de efeito estufa e
acelerando as mudanças climáticas. A expansão das atividades econômicas
aumentará a pressão sobre os ecossistemas remanescentes, apressando a
destruição de espécies, muitas delas extintas antes de terem sido estudadas.
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