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I'IIWO\trA frfrFf]IB]L]ICA'':
CASO ffiT]IMBI\INqIM ]DESIMI]IDA

A()6 fuUNTOS BES1TARÁ A Ï,JUT,A AfrU{IAIDA?

Wilmar Rocha D'Angelis*

(") Membro do Consel-ho Indlgenista Missionários - CIMI-SuI

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São trôs anos e quatro meses de tramitação do
processo administratlvo pelo quaÌ os índios Kaingang do
mas nenhuma providencia ocorreu que demonstrasse a priori
Toldo Chimbangue reivindicam a devoluçao de suas terras de zaçào prometida. Ao contrárlo, do dia 6 de maio reunia-
ocupaçao imemoriaf , âs margens do rio Irani, no lrlunicipio se por primeira vez na ',nova república, o GT Interminj-ste
de Chapecó, SC. Somente nos sete primeiros meses do Go- rial encarregado de terras Indígenas ( conforme o Decretã
verno Sarney, oito promessas de solução definitiva foram 88.118/83), mas as 6 áreas tratadas nessa reunião não in-
feitas aos índios pelos Ministórios do Interlor e da Refor cluiam o caso Chlmbangue. A prioridade e motivo da reu-
ma e Desenvofvimento Agrárlo: nenhuma cumprj,da. Somente nião fôra o interesse em reabrir o garimpo Maria Bonlta
na rrnova república" é a segunda vez que uma comissão in- (Cumaru), em temas indígenas dos Ka.yapó, no pará. Estava
dígena dos Kaingang vai a BrasílÍa buscar a solução final indicado aí, quaÌ tlpo de interesse determinaria sempre
para esse conflito: na primeira vez, permaneceram em Bra- as prioridades no Mlnistório do Interior (MINTER).
síti-- durante 93 dias; na segunda vez, já passa de 30 dias No dia 24 de Maio/85, pof muita pressão indíge-
que permacecem na capital da república. na e das entidades indigenistas, o presidente da IIUNAI
O que podem esperar ainda os índios de um Mlnls- convoca reuniao do GT Interminj-sterial ( o "grupão" ) para
tório do Interior onde abrigam-se Coronóis que já conduzi- definir a questão do Chimbangue. Antes da reunião, em au-
ram - mal - a FUNAI em anos anteriores? O que podem espe- diência com o Ministro Nelson Rlbeiro, do Ministério da
rar de um Ministro que deslgna, para presÍdir a FUNAI, um Reforma e Desenvolvimento Agrário (VifnAO;, os Kaingang
burocrata d9 notório comprometimento com as práticas vicia receberam a promessa do reconheclmento do dlreito indíge-
das do indigenlsmo da ditadura mlfitar? O que podem espe- na a toda área reivindicada. Aliás, desde o início de
rar do Minlstro Costa Couto que, mancomunado com o Minis- Maio o CIMI - órgão ligado à CNSB - , aportava ao MIRAD
tório das Mlnas e Energia, e ambos subservientes a interes i-nformações sobre áreas possíveis de utilização para reas
ses de mineradoras, estudam a abertura das áreas I ndíge- sentamento dos cofonos ocupantes da terra indígena, dados
nas à expì-oração mineraf? sobre distrlbuição dos colonos na terra indígena por
O caso do Toldo Chimbangue parece exemplar do tamanho da ocupação, etc. O próprio INCRA trabalhava Jm
indi"genismo da "nova repúb1ica". Tambóm parece indicar, levantamentos de áreas disponíveis para reassentamento
nitidamente, qual tlpo de procedimento tatico caracteriza- dos colonos nessa epoca.
rá o I4IRAD e sua maf chamada "reforma agrária".
RECONHECIMENTO OFICIAL DO DIREITO KAINGANG
OS VELHOS INTERESSES NA ''I{OVA REPÚBLICAII
Reunido o GT Intermlnisterial, a 30 de Maio,
No dia 22 de março, em audiencia com os Kaingang o representante do MIRAD, Simão Jatene, foi o primeì-ro a
assistida pelo Deputado Dante de Oliveira, al-óm da impren- manlfestar-se pelo reconheclmento integral da área indí-
sâ, o Ministro Ronal-do Costa Couto prometeu aos Kaingang gena como de ocupação imemoriaf, com base na documenta-
que, uma vez definida a sucessão na presidância da FUNAI, ção recolhida. A decisão do GT rnterminÍsteriaÌ, nesse
o caso do Chimbangue ganharia prioridade e seria soluclo* sentido, foi unânime. O MIRAD, no entanto, pede prazo de
nado. A solução para a presidência da ITUNAI ve j-o em AbriÌ , t5 dlas para definir área de reassentamento para os cofo-
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nos ocupantes do Chimbangue e para 11beraçao de recursos Ministros Costa Couto e Nelson Ribeiro, a1óm do Ministro
Jri.rra indenização de benfeitorias dos mesmos e gastos de Interino da Justiça, Josó Paulo Cavalcanti Fi1ho, ó assu-
reassentamento. Vencido o prazo, em 14 de junho, o Secretá mj-do perante o Secretárlo Geral da Ccnferência Nacional dos
nio Geral do MIRAD, Simão Jatene, surpreende os Kaingang Bispos do Brasif, Dom Luciano Mendes de AÌmelda.
c)om propostas de redução da terra indígena a dois terços
cìo que fora reconhecido pelo "grupão".
A lô de Setembro, com a greve de fome suspensa
em FlorianópoÌís a partir da intervenção de Dom Luciano,
No final de Julho os dois t{inistórios negociam reunem-se os Minlstros com o Governador de Santa CatarÌna-
oom os Kaingang uma redução ainda maior da área, em tro- que propugnava uma solução rrmeio a melorr para o litígio
r:a da expedição lmediata do Decreto de área indígena e entre índios e colonos -, e com o Prefeito de Chapecó- es
cla retÍrada rápida dos cofonos. Os Kaingang, convencidos te pelo fato de ser do PMDB, e que propunha a retirada
cla fraqueza do Governo, aceitam, mas o Decreto nunca apa- dos índios de suas terras, ou se€u confinamento em 120 hec-
neceu. tares. Os interesses po1ítico-el-eitoreiros prevaleceram.
Em Agosto, com a crlse gerada pela queima de uma
A decisão do GT Interministerial de 30 de Maio
escol-a dos brancos - numa ação dos índios, cansados de men
tiras do governo -, e pela retaÌiação dos colonos qreiman- é desconsiderada, os documentos comprobatórios do direito
clo casa e paiol indígena, estabeÌecido um cerco policial-
indígena idem, a própria Constituição e, por fim, a moraf
miÌitar sobre , os Kaingang, por duas vezes novas promessas e a óti"a, tudo ó tornado imelevante diante do mesquinho
cie solução imediata feitas peÌos Ministérios caíram no va-
interesse eleitoral. Buscam todos, Ministros, Governador e
'zio .
Prefeito unidos, o que Esperidião Amin denominou "so1ução
politicamente viáveÌ", ou seja, aquela que viabil-j-zasse
E menos perdas efeitorais ao Governo, pouco importando se is
GREVE DE FOME PELOS ÍruNTOS COLONOS
so inviabil-Ízasse a justiça para com os índios.
Em Setembro, como recurso extremo, um grupo de
pessoas inicia em Fforlanópolis uma Greve de Fome pela so- A reunião de 16 de Setembro fez da terra lndíge-
Ìr.rção imediata do conflito no Chimbangue, pela devoluçãoda na verdadeiro objeto de "pechi-ncha" (que parece ser uma
terra indígena e reassentamento digno aos colonos. De to- das características da t'nova repúblÍca'r e da rrreforma

cìo o país e do exterior, centenas de mensagens são dlrigl-


agrária" do MIRAD). Decidem peta negação da ocupação ime-
' ,.
morial- indigena provada e reconhecida pelo GT Interminis-
rlas ao Governo Federaf pedindo sol-ução imediata para o ca-
:jo, corn justiça para os índios. Ao final de cinco dias teriaÌ. Decidem, enfim, peÌa redução da terra indígena a
(fO SET) reunem-se em Brasil-ia os Mi-nistros do Interior, menos da metade ( de 1885 para 912 hectares ) , com a es-
cia Reforma e Desenvofvimento Agrárlo e da Justiça, e nova drúxula decisão de manter o cemitério indígena fora da ter
promessa é teita: soÌução final e lnadiável para 16 de Se- ra restituída aos índios.
Lembro; o direito indígena seria respeitado e o Decreto Para "legitimar" o esbulho que perpetuaram jun-
neconheceria a ocupação imemorial Kaingang, contemplando tos, dão os Ministórios ao Prefeito de Chapecó o p"aro de
nr:assentamento para os colonos. Esse compromisso dos mais oito dias para mobiÌizar seus partidárlos e coÌonos
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contra o direito indígena. A mobitizaçáo acontece' e reu - a manipulação política do .aso ó defenderam uma solu<;ão
nem-se em Chapecó, em passeata, entre 3 e 5 mi1 pessoas na .justa, com a devolução da terra aos índios. Consagrou-sc
tarde do dia 21 de setembro, o que foi noticiado peÌa Rede uma vitória contra os índios, orquestrada a partir do

Globo de teÌevisão a nível- nacionaf como manifestação de UIINTER e do MIRAD que, ao finaÌ, ainda buscavam posar co-
15 mil- pessoas, denotando um lobby político-empresarial an mo defensores intransigentes dos indígenas.
ti-indígena. Ao fina1, ainda um compromisso dos dois Minis-
tros: o Decreto desapropriatórlo seria assinado ató o fi-
Ínoros EM GREVE DE FoME
nal da semana seguinte,4 de outubro. Como de praxe, com-
Diante do inegável e injustificavel recuo do Go- promlsso não cumprido. Nessa data, completados 4 meses da
verno em prejuízo g"arríssimo ao direíto indígena, a L7 de reunião do "grupão", o MIRAD ainda não havia defj-nido on-
setembro, em Florianópolis, reiniciava-se a Greve de Fome, de reassentar os cofonos ocupantes da terra indígena.
desta vez com 16 pessoas, entre padres, pastores, agentes Esse motivo foi alegado por Josó Sarney para não assinar
de pastoral, operários e 3 índios Kaingang do Toldo Chim o Decreto.
bangue (Sebastião Koyoyt, GentÍ1 Yong Yóg e Romildo Ko'i).
Novamente a opinião púltic. nacional e internacional sen- INDTGENISMO E REF'ORMA AGRÁRIANA ''NOVA REPÚBL]CA''
sibilizou-se, e centenas de mensagens foram dirigidas ao
Toda a tramitação do caso Chimbangue desde 15
palácio do planalto, aos Ministros do fnterior e Reforma e de março, eu€ teve dezenas de audlôncias nos lrlinistó-
Desenvolvimento Agrário e ao Governador de Santa Catarina. rios envolvidos (N{INTER, MIRAD e Ministórlo da Justiça),
Em oito cidades catarinenses e em 4 cidades da ltá1ia, vi lncluídas mais de uma audiência minÍsterial - com Costa
gílias de jejum se fizeram, solidárias à Greve de Fome em Couto e Nelson Ribeiro -, permite identificar posturas de
Ftorianópolj-s. Em Porto Alegre um grupo Kaingang de Votou- finidas no indigenismo e na condução da política agráriã
ro manteve vigíIia em apoio aos Kaingang do Chimbangue' do Governo Sarney.
Embaixadores brasifeiros nas Nações Unidas e em Roma foram No Ministório do Interior pode-se identificar
interpelados sobre o chlmbangue. Mais de 1o mil assinatu - um discurso genérico de "defesa do indígena", tão vago
ras de populares foram cofhidas em abaixo-assinado na ca- e tão pouco convincente quanto o estilo Rangel Reis ou
pital catarine:nse em apenas 4 dias. General- Bandeira de Me1lo. A par desse discurso abriga-
No clia 23 de Seternbrc-r, sexto dia após o reinício se - como previsíveÌ -, uma postura prática sensí,rel ao
da greve de fome, reunem-Se novamente em Brasí1ia os Minis argumento d9 'rprogressorr, do "desenvolvimento", da "pro-
tros, Governaclor e Prefeito. Retificam suas decisões, ago- dução de riquezas", rrexploração de recursosrÌ. No caso
ra julgando-se "justificados" para lesar os índios, devido Chimbangue lsso ficou evidenciado nas declaraçoes do pro
às mensagens de Cooperativismo, Sindicatos patronais e pre curador Jurídico do Ministório, Tarcísio Cunha, em Chape
feitos do Oeste Catarinense. Os Ministros não desconheciam có (ago/as). No âmblto mais gera1, a revisão das proibì--
entretanto, eu€, entre outros, seis sindicatos de traba- ções de mineração e favra em á"eas indígenas, em conjun-
lhadores rurais da mesma região denuncj-aram pubÌicamente to com o Ministério de Minas e Energia, demonstra que ti
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l)() de riscos correm os povos lndigenas enquanto suas ter-
rlrs detiverem potenciaÌ de riquezas passíveis de explora- conflitos "à Justiça" toma, aÌiás, muitas vezes um caráter
(ìiìo economlca. de ameaça, de arma que o MINTER dispõe contra o lVovimento
Mantóm-se, no "novo" Ministório do Interior,
Indígena. É o caso do Chimbangue, onde em 23 de Setembro o
a
vr:lha prática do indigenismo oficial de somente agir quan- Ministro Costa Couto apresentou aos Kaingang a seguinte al-
rio obrigado pelas clrcunstâncias ou quando há interesses ternatlva: ou aceitam o esbulho cìecidido entre os Minis- il
,,c:onômicos afheios aos índios em jogo. No caso do Chimban- tros, na forma de desapropriação de 912 hectares para
criaçao de reserva indigena, ou o MINTER encaminha o caso
l1rìe, o movlmento indígena e a pressão da opinião púbtica
Ìcvaram o MINTER a sair do imobillsmo, a criar comissões, "à Justlça", o que signlfica, para nunca haver deflnição ju
rr neunir Ministros, a convocar o "grupão". Poróm,isso não dicial e garantir tempo e espaço aos coÌonos e afiaaos parã
r;ignifica que, obrigado a sair do imobilismo, o MINTER o tornar impossível a sobrevivência indígena na área.
f':-rça no sentldo de garantir direitos lndígenas. A tendôn- 0 caso Chirnbangue, afias, denota outras duas
r,.ia ó agir buscando novas acomodações, aÇões paliativas vi graves tendôncias do indigenismo oficial na "nova repúnti-
r;ando desmobilizar o movimento indígena e as articulaçõeã carr: Ì ) não reconhecimento dos direitos indígenas, o que
orn seu apoio. Segue também, como finha, abrir espaço à or faz d,e toda demarcação ou decreto de área lndígena uma ca-
ganizaçao e açao dos interesses anti-indigenas, eximindo ridade, uma Oáaiva do Estado ou, em tempos de retomada dos
o Ministório - sempre que possível - da responsabifidade cuftos pessoais, .e"cê do Senhor Presidente. Na prática,sig
l,or situaçoes que se criam onde a restauraçao do direito in
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nlfica a extinção - pelo desuso - do Artigo Ì98 da Consti -
clígena torna-se quase inexequíve1. Nessa linha, aÌiás, ptre tuiçao, o que tambem denota a tendencia das elibes na inves
lere que as tensões se reso]-vam a níve1 Ìocal , ao rí,ruf tida da Constituinte. Desse modo, todo fazendei-ro, todo in-
rìn disputa entre as partes envofvidas e seus aliados (no vasor de área indígena será regiamente recompensado (no ca-
(-'aso, a FUNAI nunca e aliado sincero dos índi,os), para as- so Chimbangue: indenização pelas terras a preço de merca -
r;im nao assumir o MINTER a responsabilidade de tomar deci- do, com pagamento f, vista, e indenização das benfeitorias
(a não ser quando seja ne
"ões em conffitos de interesses supervalorizadas monetariamente; opção de reassentamento
cessário defender interesses do Capital, como o caso do com crádito e assistôncla tócnica). Os próximos contempla -
garimpo Maria Bonita, no Pará, ou da Usina na terra dos dos serão os que se alegam donos do Parque do Xingu? -2) re
K;r.yabi e Apiaká, no lVato Grosso). dução sistemática dos territórlos indígenas. Uma vez que
Na mesma Ìinha de dar espaço às ações anti-indí- não há reconheclmento dos territórios de direito indígena,
t,,cnas e de não assumlr responsabif idades, transferindo-as uma vez que toda a documentação que se reunir comprovando
Íj()mpre que possivel, e que o Ministeri-o do Interior acena esse direito não ó considerada, uma vez, enfim, eu€ cria-
no caso das áreas indígenas - com a remessa dos confl-itos ção e demarcação da área indígena é benesse gratuita do Go-
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lro Judiciario. E sltuaçao inexplicavel-, quando o poder exe verno, os Ministérios dispõerT sobre quando rrdarri ou rrnão darrl
r:rrLivo tem lneios e instrumentos para lmplementar decisões, aos lndfgenas.
Ì'ccorrer ao Judiciário, mas ó sempre uma forma viáve1 para Observa-se ainda no t.lIlJTER, tomando por referôn-
cl;c;amotear pua omissão mantendo-se omisso. A remessa de cia o caso Chimbangue, eu€ os lnteresses político-econômi -
BI
cos regionals sao a palavra mais forte do Ministerio. sociedades que desconhecem as classes sociais?".
Significa que o Minlstro está ciente de quaÌ articulação
social fevou Sarney ao Governo, e mantém-se fj-el a e1a, Entretanto, o conhecimento resulta acadêmico. É
"às suas basestr se pode dizer. o que se depreende da p"ática do Ìr{inistório. Não se vâ,a1i
a experÍencia no trato dos conffitos reais; percebe-se faÌ
Por fim, partindo do caso Chimbangue mas tambóm ta de capacitação para dirlgir o aparelho do Estado. Isso
considerando as ações mais ampÌas do MINTER na área indi- resul-ta numa postura hesitante, muitas vezes omlssa (na
genista, evidencia-se aí uma postura de rejeição siste- prática, não na refl-exão e discussão) e, o mals das vezes,
mátlca das manlfestações ou propostas de entidades indi- protelatória das situações reais. Percebe-se uma contradi-
genistas nao oficiais, sejam antropologicos, missionarios ção entre assumir a proposta de ser governo e a prática de
ou outros. Não hesita o Ì,{INTER, pof outra parte, em uti protelar a intervenção nos conffj-tos, buscando deles sem-
Iizar a repressão contra os índios (como o episódio em pre maior cl-areza intelectual. Infelizmente, a essa pos-
que o Ministro Costa Couto pediu a presença da polícia tura alia-se a pouca abertura para as intervenções de fo-
Militar do Mato Grosso contra os Rikbaktsa em Jul-ho úf- ra. O PIIRAD trão é sensível aos reclamos e, até mesmo, a
timo), nem em comomper Ìlderanças pela concessão de be- demonstrações cabais de quem atua nos confl-itos sociais di
neficios
^a pessoais (o que ficou evidente na escolha do no- retamente, mesmo sendo aliados estratóglcos ou virtuaisl
vo Presidente da FUIJAI). Ao MIRAD, seus tócnicos e assessores bastam, mesmo quando
Se são essas as tendências evidenciadas no indi reiteradas vezes concl-uem tardiamente o que thes fora de-
genismo, anpartir do caso Chimbangue, tambóm del-e pode-se monstrado com tempo para programar intervenções. Tal foi,
depreender cfaras tendâncias do I,{IRAD na condução da po- no caso Chimbangue, com as áreas disponíveis para reassen-
títlca agrária. tamento dos coÌonos, com os al-ertas sobre o procedimen-
Cabe, primeiramente, comentar alguns aspectos to dos funcionários do INCRA de Chapecó, com os alertas so
que tornam-se relevantes na medida em que são as pessoas bre os riscos de protelar mais a decj-são sobre o Chimban]
que atuam hoje no NIIRAD as que, com beneplácito do p1anal gu€, com as informações sobre a intransigência dos colo-
to, conduzlrão a poÌítica agrária, incl-usive no que toca nos, com os afertas para o espaço de articulaçao que
a confl-j,tos com áreas indígenas. Grande parte das pessoas dava aos políticos regionais e lnteres"e= e.onômicos anti
em função de confiança no IViIRAD, ou eÍÌì suas assessorias, . ,:
indÍgenas. Em todos os casos o I,{IRAD preferiu suas pro-
demonstra um conhecimento teórico bastante profundo dos prias avaliações - sem conhecimento l-ocaf da questão -, e
conflitos sociaÍs ,ro p-ís, sobretudo no campo, portan$o, em todos os casos concl-uiu tardiamente que o CIÌvlI , a ANAÍ
um dÍscurso que evldencia o enfoque do instrumental- mar- e os índios estavam certos em suas proposições. InfeÌizmen
xista na anáfise desses confÌitos. Simão Jatene, Secretá- te, todas as vezes os prejuízos foram dos índios, exclusi-
rio Geral, do Ministério, diria na reunÍão do GT Intermi- vamente. Nenhum prejuízo ao IIIRAD, nenhum aos tnvasores
nister j-al , a 30 de l\laio: rA quem serve um Estado supra_ da tema indígena.
nacional, partindo do pressuposto de que nerül-rnEstado ó neu- Chega-se aqui a um ponto central em toda estra-
tro?tt; ou ainda: 'rComo um Estado, eu€ em si aiende a in- tógia dos homens que hoje dirigem o PIIRAD, eue acaba sendo
t-eresses de uma cl-asse, pode garantir a sobrevivêncla de estratégia do próprio t{inistório: a permanêncla do Mi_
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nisterio: a permanência do Ministro e seu quadro de cora-
boradores na condução do r{inistórlo. Em nome dessa questão Nacional de Reforma Agrária (PNRA) como serve para a inter_
para eles fundamentaÌ, tudo ó permissível. Ifudlr, cons_ venção em quaÌquer conffito, mesmo aqueles envofvendo
cientemente, aliados estratógicos ou potenciais, assumir in_
questionáveis direitos indígenas imemoriais: a concifiação.
compromlssos que se sabe - de antenão que não se vai cunr
-
prir; dar garantias sobre questões que, em realidade, usa-se muitíssimo no MrRAD expressões como: con-
decidem em outra esfera de poder, tudo isso são praxes do "ã senso, viáve], possível. para todo conflito social, desejam
atual- MIRAD em nome da sobrevivência do Ministro, e, por_ rrharmonizar' as partes' o que
se viu tambóm no episódio da
tanto; da reforma agrária". Daí que ao r,lrRAD não sensibi- aprovaÇão do r PNRA: pretendem ,harmonizarrÌ e chegar
a con
lize o sofrimento das famílias indígenas, a fome, o risco senso com os Ìatifundiários sobre a reforma agrárla.
Houvã
de um massacre contra os índios. A não ser que isso tenha retrocesso, no caso, ató com relação ao Estatuto da Te*a,
como repercussão um abalo no prestígio do l\,linistro. Foi o que foi editado pela ditadura m1litar.
próprio Nelson Ribeiro a dizer, para rnembros da CNBB No caso do Tofdo Chimbangue, o Secretário Geraf
- no
mesÌÌÌo tom com que seus assessores dlziam aos indigenístas do Ministério, assim como antropólogos que atuam na
que o caso do Chimbangue poderÍa derrubá_lo e, com eÌe, assesso
ria do órgão, insistiam que a demora de uma
a própria reforma agrária. o argumento era usado, ao mes- =of,rção a;;r;;:
tíva devia-se ao fato de que se pretendla fazer
mo tempo, como apaziguamento (ou ameaça indireta) aos in_ do caso
chlmbangue um caso exemplar de solução para
dì-genlstas e, por outra parte, como forma de tirar al_ia- situações seme-
thantes. Parece que fizeram: o caso exemplar representa per
dos dos í.,dios que - se acreditassem ingenuamente na co-Lo- nlcioso precedente para todas as te*as indígenas .,o prì"1
cação - teriam que optar entre os ínOios e a reforma agrá_ Larvez somente comparávet à t ei de Terras de lg5o em
ria. Uma espócie de opção por uma ,causa maior. para efei _
a tos nocivos, se podemos arriscar uma previsão (não pouco
qual o IUIRAD, sem dúvida, decidiu que os índios (no caso, fundamentada). A pretensão é, contraditoriamente, desenca-
do Chlmbangue) devem pagar o preço. Veja_se que, no eplsó_ dear o processo de reforma agrária a partir do aparelho
dio da votação da emenda Giavarina sobre a constituinte, do
Estado e, ao mesmo tempo, evitar quanto possíve1
no Congresso Nacionaf (outubro/gS), o mesmo argumento foi interven-
ções do Estado nos conflitos dando espaço para soÌuções par
utillzado por Franco Flontoro, governador paulista com pre_ tldas da própria sociedade civi1. se ó ,.rgà.,r., .
tensões à presidência: entre a constituinte e uma anistia gia nãopercebe que o espaço que se dá, de fato, é ""a""ïã_
ampla, tem-se que optar por uma causa maior (no caso, para -o" ini_
mi-gos da reforma agrária e dos povos indígenas,
ele, a "Constituinte Congressuaf"). eu€ tem in_
comparavelmente mais poderes, recursos e formas de penetra
l,{as a intransigência com que no MIRAD se enca_ ção, e contam invariaver-mente com o recurso dos instrumen
ra a questão da sobrevivência de tjelson Ribeiro e seus pa_ tos de repressão: polícla, exército, segurança particula_-
res na condução daquele tlinistério, não ó a mesma que se res. Há eÌementos, no entanto, para não se ingenuÍ_
observa com relação aos princípios da própria Reforma A_ dade dos homens do MIRAD. O que parece cometo""u"., q,,r"
é o
grária. Aliás, chegamos aqui à orientação maior da estra_ MIRAD, tambóm na estratógia de preservação
da pessoa do
tógia do t'IrRAD, eue tanto diz respeito à condução do plano Mini-stro (e, tafvez, tambóm por uma espécie d" i,"írrd"ome
de
Londrina" ) , busca preservar-se e ao Ministro
84 - de assumir
85
responsabilidades. Desse modo, o MIRAD busca que SUAS
açõe= pareçam ante a opinião púbfÍca - e, sobretudo, ante contingencias de seu nascedouro e de sustentaçao, com to-
os militares e a Presidância da RepúUtica - como fruto do tipo de interesses anti-indígenas? O que podem esperar
c1e sj-tuações de fato ante as quais taf ou qual decisão se quando mesmo aqueles homens do Governo que apresentam um
impõe. Em nenhum caso prefere assumir a responsabilidade discurso destoante da maiorla dominante, na prática agem
por decidir, por fazer opções. Assím, no caso Chimban- também contra todo dlreito e interesse indígena?
gu€, se deu ao Prefeito de Chapecó chance de criar "o fa-
As lideranças indígenas nem os que apoiam a cau-
to" da ilinconformidade da região" corn o reconhecimento do
direito lndígena e com a conseqüente devoÌução da área to- sa lndígena tem direito de cofocar a sobrevivôncia dos po-
tal aos Kaingang. A nível formal, no entanto, posou o
vos ameríndios nas mãos deste ou de qualquer governo rrdos
MIRAD para seus aÌlados e sirnpatizantes, ató o úftimo mo-
brancostt. Como nos governos militares, segui-remos sem pe-
mento, como defensor lntransigente do direito indígena, dir favores, dÍreitos não se mendigam. Exigiremos o respei
quando sabia tratar-se de jogo de cartas marcadas em que to às cufturas, à sobrevivência e aos meios de sobrevi-
seus reiterados erros (ou sua ação deli-berada) abriram to
vencia dos povos indigenas, sobretudo suas terras. Lança-
remos mão de todos os meios para isso, e não louvaremos go
dos os espaços aos inimigos dos índj-os.
vernos ou governantes porque tardiamente venham a fazer jus
Por fim, vale lembrar que assessores do MIRAD tiça aos índlos. Aos índios o governo da rtnova república"
criticaranr de forma contundente o Decreto 88.118/83 e a nada pode exigir, nenhum tipo de fealdade às leis que o
atuaf forma do "grupãorr sobre á".." indígenas, desejando proprio governo torna fetra morta. Nenhuma J-ei g$e pode
reformufação desse GT, contemplando maior partlcipação do ser invocada para justificar a morte de um povo ou o es-
MIRAD além de outros órgãos indigenistas na questão. Entre bul-ho de seus meios de sobrevivência. Se o for, essa lei
tanto, a atuação do MIRAD no atual rrgrspf,or'r e na defit-tiçãã nao presta, e crlminosa como os que a fizeram e os que a
de questões como o Chimbangue (onde o próprio Secretário invocam! Aos povos indígenas o recurso às leis "dos bran-
Geral do Ministório foi o primeiro a ignorar as decisões cos't para garantir a sobrevivôncia não tem mais qualquer
da reunião do rrgrupão" de 30 de Maio, consumindo com sua perspectiva na "nova repúb1ica".
Rta) denotam que não há dlferenças substanciais entre o
soluções Aos povos indígenas do Brasil, para sobreviver,
MÌRAD e o MEAF, seu antecessor. O número de de
áreas indígenas não sofreu alteração substantiva com refa- restará a afternativa da tuta armada?

ção a mesmo período nos anos anteriores e o tipo de pro-


cedimento, negociando com o direj-to indígena, já se conhe-
cia de outros regimes.

AOS ÍruNTOS, NADA?

0 que podem esperar, portanto, os povos indige-


nas no Brasil de um Governo totalmente comprometido, Por
B6
B7

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