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(Por Prof. João A.

Correia – ESH)

É claro que não se pode provar empírica e cientificamente a existência


de Deus, ou que o mundo foi criado por sua vontade, ou que Ele dedica-
se a aperfeiçoar Sua obra de criação. Mas também, não se pode provar
que Ele não existe. A utilização de métodos racionais para provar a
existência ou a inexistência de Deus, na forma dos conhecidos métodos
escolásticos medievais pode até interessar alguns. No entanto, desde os
primórdios da filosofia moderna, estas "provas" tem sido questionadas.
Os argumentos contemporâneos a favor e contra são igualmente
inconsistentes. O Ser Supremo, Único, em quem Abraão e todos os seus
descendentes expressaram sua fé e serviço, desafia qualquer tentativa
de prova racional. Ele é infinito e o homem é finito. Não só fisicamente
finito é o homem, mas também é limitado em suas faculdades
intelectuais e perceptivas. Se Deus fosse parte do quadro dos cinco
sentidos físicos do homem, se pudéssemos percebê-Lo pelos sentidos
como "Deus", Ele seria algo ou alguém; porém, estaria limitado e não
mais poderia ser o Criador, o ser espiritual, todo poderoso e onipresente
a quem dedicamos nossa devoção e serviço. Tal "Deus" estaria então
reduzido até o finito, estaria alterado e assim, poderia sofrer outras
alterações por meio dos seres humanos. Esse "Deus" não seria único e
universal, mas apenas mais uma das muitas divindades a quem os
homens atribuíam poderes sobrenaturais, demonstrando-lhes
submissão através dos séculos. Se a prova da existência de Deus está
além da nossa própria compreensão, por que, então, o homem sábio
haveria de proclamar a sua fé em Deus com o mesmo fervor e
intensidade que resulta do verdadeiro "conhecimento do Eterno"?
De um ponto de vista negativo, pode-se supor que a negação da
existência de Deus diminuiria ainda mais a credibilidade racional
homem. Se Deus não existe, devemos considerar que a marcha do
mundo com a precisão matemática que só agora começamos a apreciar
plenamente, seria o resultado de uma coincidência e que o intrincado
fenômeno da vida desde sua forma mais primitiva até o ser humano
pleno seria mero resultado do acaso. Certamente essa visão exige uma
fé cega em si mesma. Creditar a “natureza” pelo funcionamento preciso
do universo e de todas as maravilhas da vida, é usar um sinônimo de leis
naturais que, por sua vez, exigem uma explicação. O mistério
permanece. Não hesito também em qualificar o ateísmo como uma
forma de fé que não difere muito de alguma outra forma de idolatria
praticada pelo homem ao longo de sua história.
Hoje em dia, o ateísmo é considerado como "sofisticado" e adequado à
nossa situação. Mas o mesmo ocorreu por exemplo, com o culto a Baal
na antiguidade. O que é preciso saber, dado o surpreendente
desenvolvimento científico atual se é mais razoável supor a existência
de Deus ou negá-la. A maioria dos sábios judeus antigos e modernos
nunca duvidou do grande nacionalismo existente nos princípios básicos
da fé judaica.
Os estudiosos e os líderes religiosos judeus sempre mostraram grande
sensibilidade às exigências da razão e sempre tem enfatizado o fato de
que o judaísmo é uma fé racional. Embora seus livros sagrados
contenham relatos de eventos considerados milagrosos ou
‘sobrenaturais’ o judaísmo distingue claramente entre eventos ou fatos
que contradizem a razão e aqueles que estão um pouco acima da razão.
Existe uma grande diferença entre os dois. Há muitos elementos da
experiência humana que excedem o âmbito do conhecimento e estão a
princípio e até agora além da compreensão humana, podendo ser
apenas percebidas pelos sentidos, mas não apreendidas pela ciência.
Não estamos diante de uma teologia que contradiz claramente a razão.
As premissas básicas da teologia judaica, que afirmam a existência de
Deus, a criação do mundo em conformidade com a Sua vontade, a
revelação dessa vontade a Israel e a humanidade desde os tempos mais
antigos até seu clímax no Sinai e em outros momentos da história,
mesmo quando eles estão todos no domínio do espiritual e dos
processos desconhecidos, sendo ainda velados para nós, nenhum desses
eventos pode ser classificado como contrário à razão. Como parte da
religião judaica, razão e fé não são antagônicos, mas pontos
complementares: cada item complementa as restrições do outro.
Mesmo em relação aos relatos tidos por ‘milagrosos’, presentes em
testemunhos religiosos, é importante lembrar que os ensinamentos do
judaísmo não confiam neles. Os relatos tidos por milagrosos foram e
ainda são os meios para atingir determinados fins históricos ou inspirar
a confiança; porém, a verdade do relato da Torá não depende deles.
Mesmo que nenhum deles tivesse de fato ocorrido, as verdades básicas
da Torá ainda assim seriam as mesmas. Avaliações mais detidas nos
fazem perceber que os relatos sobre eventos milagrosos na Torá podem
nos mostrar que tais eventos ocorreram sem que as leis naturais tenham
sido temporariamente suspensas – ou seja, as leis naturais não foram
alteradas, ainda que para nós hoje, pareçam terem sido. Os escritos
sagrados do povo judeu mencionam fatos científicos que só nos dias de
hoje puderam ser completamente averiguados. O livro de Jó, por
exemplo diz que a Terra repousa sobre o nada, sobre o vazio (26:7); No
mesmo livro, menciona-se que as camadas inferiores do planeta são
revolvidas como que por fogo (28:5); Isaías menciona o círculo da Terra
(40:22). Tais conceitos naquela época poderiam parecer milagrosos ou
sobrenaturais. Porém com o passar do tempo e o avanço do
conhecimento científico, pudemos compreendê-los e comprová-los. Da
mesma forma, os relatos que temos na Torá sobre eventos
potencialmente ‘milagrosos’ poderão ser compreendidos no seu devido
tempo, com o avanço da ciência e da tecnologia. A bem da verdade,
muitos desses relatos já foram explicados de forma bastante lúcida e
racional, por meio de novas descobertas do meio acadêmico científico.
No mais, há que se compreender que basicamente relatos do Gênesis
devem ser vistos como midrashim, que são parábolas intencionalmente
redigidas neste estilo para nos transmitirem lições mais profundas do
que a simples leitura superficial do texto poderia nos oferecer.
As primeiras palavras da Torá são: "Inicialmente Deus criou os céus e a
terra." Este é o Deus do Universo, Aquele que criou todas as coisas. Logo
adiante, no segundo livro da Torá lemos: “Eu sou o Senhor teu Deus, que
te tirei da terra do Egito." Estas são as palavras de abertura dos Dez
Mandamentos na revelação histórica dada a Israel. O Deus Universal é o
mesmo Deus que deu a liberdade a Israel tendo esta nação declarado sua
lealdade à esse “Deus Universal”. O conceito judaico de Deus é um Deus
que exige da humanidade um viver ético e justo. É um Deus universal
cuja soberania se estende por todo o mundo. Ainda que as orações
judaicas usem a expressão "Deus de Abraão, Isaac e Jacó" ou "Deus de
Israel", isto não significa que Deus pertence somente aos judeus ou é um
Deus especial. Isso implicaria numa limitação da soberania de Deus ou
na admissão de que existem outros deuses que velam por outras nações,
o que contraria o próprio espírito da crença nesse Deus Criador
universal, aquele que ‘criou’, ‘formou’ e ‘fez’ todos os homens e todas as
coisas, indistintamente. A criança que diz: "meu pai" não nega que este
mesmo homem é também o pai de seus irmãos e irmãs.
RAZÃO – OBRA DO ACASO?
Razão é a capacidade da mente humana que permite chegar a
conclusões a partir de suposições ou premissas. É, entre outros, um dos
meios pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações
para causa e efeito. A razão é particularmente associada à natureza
humana, ao que é único e definidor do ser humano.
A razão permite identificar e operar conceitos em abstração, resolver
problemas, encontrar coerência ou contradição entre eles e, assim,
descartar ou formar novos conceitos, de uma forma ordenada e,
geralmente, orientada para objetivos. Inclui raciocinar, apreender,
compreender, ponderar e julgar

O Rambam comenta em seu Moreh Hanevukhim, Chelek ‘A, capítulo 1


que a imagem de D’us, ou tselem elokim por meio da qual o homem foi
criado é a razão. Comprovamos que isso procede pois pelo relato
tradicional da criação do homem, não observamos no Genesis nenhum
outro animal recebendo essa dádiva, além do próprio ser humano. O
homem é capaz de reunir elementos abstratos em sua mente, de pensar
sobre conceitos e deles tirar conclusões. Como resultado da razão, o
mundo do ser humano foi construído, tendo sido moldado em
conformidade com esse enorme e vasto potencial que é a capacidade
racional. Foi a razão o alicerce da civilização humana tal como hoje ela
é. Todos os avanços científicos e tecnológicos só foram possíveis ao
homem a partir de sua observação da natureza e de suas conclusões
tiradas dali, seguindo-se de aplicações de princípios por meio de
cálculos abstratos que nos conduziram aos experimentos, fazendo-nos
evoluir até o clímax de nossa condição como seres pensantes e capazes
de moldar o seu próprio mundo à ‘sua imagem’.
Porém, como se processa a razão? Qual seria a sua quintessência?
Há notáveis esforços da parte dos céticos que tentam construir
argumentos encima de certos atributos e qualidades humanas
referindo-se aos mesmos como meras obras do acaso ou meros
acidentes, reações ou processos físico-químicos. Nesta categoria
estariam os sentimentos (amor, ódio, nojo, alegria, etc) e os sentidos e
sua dinâmica (visão, olfato, tato, paladar e audição). Em suma, eles
pensam nisso tudo como meras reações, produzidas a partir de
fenômenos físico-químicos, perfeitamente explicáveis pela ciência
moderna.
Porém, nos recônditos da mente humana, jaz aquilo que até o momento
nenhum cético foi ainda capaz de explicar. Como se processa a razão? É
muito óbvio que a razão não pode ser explicada como mero fenômeno
ou processo físico-químico. Todos sabemos que não estamos lidando
aqui com algo tangível ou que possa ser de alguma forma reproduzido
em laboratório. A razão não pode ser aprendida – ela é intrínseca aos
seres humanos, é afinal, o que nos define como tais. Ela é o limite claro
e muito bem definido entre nós, humanos, e o restante do reino animal.
Igualmente ainda que tomemos o modelo evolutivo como verdadeiro,
seremos confrontados ainda assim, por uma escolha ciosa e criteriosa,
única e singular do ser humano como portador desse dom. Se tivesse
sido mera obra do acaso, este acaso estaria organizado e pontual demais
para eleger sem critérios, uma única espécie de toda a vastidão do reino
animal para que se lhe concedesse capacidade racional. Mais uma vez
teríamos aqui uma verdadeira declaração ortodoxa de fé,
paradoxalmente da parte de um cético, que ainda teria que apostar um,
contra um número quase infinito de possibilidades.
A razão é a marca indelével e mais distinta na minha modesta opinião
de que somos criação de um Ser Inteligente e organizado.
A REALIDADE DE D’US
Citando do Chovot Halevavot 1 entendemos que há três premissas que,
quando comprovadas, demonstram que este mundo tem um Criador,
que o criou a partir do nada:
1) Coisa alguma pode fazer-se por si mesma.
2) Princípios (causas) são limitados em número e, portanto, eles devem
ter um primeiro princípio que não teve início antes dele.
3) Qualquer coisa composta deve ter sido trazida à existência (não pode
ser eterna).
Quando estas três premissas são estabelecidas, a inferência será, para
aquele que entende como usá-las e combiná-las - que o mundo tem um
Criador que o criou a partir do nada, como vamos esclarecer com a ajuda
de D'us. Todas as coisas que existem, antes de não terem existido, não
podem escapar de duas possibilidades: ou criaram a si mesmas ou
qualquer outra coisa as criou.
Se criaram a si mesmas, então, também não podem escapar de duas
possibilidades:
Ou criaram-se antes de existirem ou depois de existirem.
Ambos os termos são impossíveis, porque caso supormos que elas
criaram-se depois de existirem, então nada foi feito, uma vez que não
era necessário fazer-se, porque já existiam antes de se fazer qualquer
coisa, por isso, nada se fez.
Se supormos que se fizeram antes de existirem – então, naquela época
eram "efes v'efes" (absolutamente nada), e aquilo que é efes (nada) não
pode executar qualquer ação nem preparação (potencial) para a ação,
pois nada não pode fazer nada. Portanto, é impossível que algo se faça
de qualquer maneira.
Os físicos modernos descobriram que "partículas transitórias virtuais"
aparecem e desaparecem no espaço vazio em intervalos de tempo
extremamente curtos (flutuações quânticas). Alguns ateus
proeminentes afirmam esta é uma refutação da premissa de que uma
coisa não pode criar a si mesma, propondo que é possível que o universo
simplesmente tenha aparecido do nada.
O professor Stephen Hawking disse o seguinte:
"... você entra em um mundo onde conjurar algo do nada é possível (pelo
menos, por um curto tempo). Isso porque nesta escala, as partículas
comportam-se de acordo com as leis da natureza que chamamos de
'mecânica quântica', e elas realmente podem aparecer de forma
aleatória, permanecendo por algum tempo, e depois desaparecendo
novamente, para então reaparecerem em outro lugar. "
Outro exemplo: O professor Lawrence Krauss, um prestigiado
astrofísico americano, com uma longa lista de best sellers, afirma em sua
obra, “O universo do nada”:
"Só as leis conhecidas da mecânica quântica e da relatividade pode
produzir 400 bilhões de galáxias, cada uma contendo 100 bilhões de
estrelas e, em seguida, para além de que se transforma quando você
aplica a mecânica quântica para a gravidade, o próprio espaço pode
surgir do nada, assim como o tempo. Parece impossível, mas é
completamente possível ... "
Primeiro de tudo, a mecânica quântica permite, e até exige violações
temporárias de conservação de energia. As partículas virtuais são uma
consequência bem estabelecida e bem compreendidas da mecânica
quântica - não é algo a partir do nada.
Eles não são eventos sem causa do vácuo, mas sim propriedades do
vácuo espaço-tempo. As partículas virtuais "emprestam" por um
período muito curto de tempo a energia que já está disponível a partir
de princípios de incerteza de tempo/energia e convertem as partículas
virtuais com E = mc2. Nem isso mesmo viola as leis de conservação,
porque a energia cinética mais a massa da partícula inicial decadente e
o produto final da degradação são iguais. Para fazer com que essas
"partículas virtuais" no vácuo sejam reais (mais duradouras do que o
tempo/incerteza permitam), há a necessidade de se adicionar energia.
Assim, as alegações acima são extrapolações enganosas.
Para resumir, um vácuo espaço-tempo regido pela mecânica quântica
ainda é algo. Não é nada. Ele tem uma curvatura que varia em proporção
qualquer matéria e radiação que esteja presente como foi postulado pela
teoria da relatividade geral de Einstein e confirmada por experimentos.
Não pode haver nenhuma propriedade associada com o "nada" pois isso
seria uma contradição. Da mesma forma, só uma “coisa” ou um “algo”
pode ter estados, e só uma “coisa” ou um “algo” pode ser descrito em
termos de leis da física.
O autor do Chovot Halevavot, já estava alerta em sua época contra esses
tipos de afirmações absurdas, tanto que usou a expressão "efes v'efes",
uma repetição do termo ‘efes’ que significa assim "absolutamente nada".
Assim, não há como se descrever as flutuações quânticas ou algo
semelhante num inexistente espaço-tempo.
Primeira premissa - uma coisa não pode fazer a si mesma a partir do
nada. Se não existe um ambiente para a existência, ou seja, sem o espaço-
tempo, não há leis da física, absolutamente nada, então a partir dessas
condições, coisa alguma poderia simplesmente vir a existência por conta
própria, ou por acaso.
Segunda premissa: Não se pode ter uma regressão infinita de princípios
não-eternos. Isto significa que se você tem algo não-eterno no presente,
você não pode explicar a sua existência, dizendo que isso foi o efeito de
alguma outra coisa não-eterna (a sua "causa"), e que também isso por
sua vez, foi o efeito de outra coisa, não eterna (a sua "causa"), etc.
indefinidamente, porque esta é uma tentativa de explicar que algo no
princípio, deu origem a si mesmo a partir do nada, que como soubemos
pela primeira premissa, é coisa absolutamente inviável.
Da mesma forma, se você tem algo não-eterno no presente, isso pode ser
a causa de outra coisa que também não é eterna, e que poderia ser mais
uma vez a causa de outra coisa que também não é eterna, mas nunca
poderá ser a causa de algo que é eterno e não pode durar para sempre -
tal cadeia de causas e efeitos sempre deve chegar a um fim, caso
contrário - será também uma tentativa de criar "algo" (finito) a partir do
"nada" (infinito, eterno). Logo, a partir dessas duas premissas, deve
haver somente um ‘algo eterno’ (e somente ‘um’).
Terceira premissa - Qualquer coisa composta não pode ser eterna.
Todas as coisas finitas são inerentemente compostas, o que exclui a
possibilidade de que qualquer coisa física seja eterna ou que ainda assim
haja mais do que um ser eterno. Por séculos, a ciência pensava na
matéria como composta ou fabricada por unidades mínimas, chamadas
‘átomos’. Por muito tempo, pensava-se que teríamos chegado ao limite
da matéria, onde prevalecia o conceito do átomo como algo que fazia jus
ao seu nome original em língua grega, ‘indivisível’. Foi só em 1911 que
tivemos notícia do núcleo atômico, formado por duas subpartículas –
prótons e nêutrons. Percebeu-se daí que mesmo o átomo que até então
era tido como a unidade fundamental da matéria era subdividido. Foi só
recentemente que a física começou a perceber e a confirmar cálculos
que apontavam para algo além dessas unidades mínimas da matéria;
começávamos a ouvir falar sobre outras ínfimas subpartículas atômicas
que na verdade formavam prótons e nêutrons, denominadas como
‘quarks’ e ‘léptons’. E ainda que se pense que quarks e léptons poderiam
ser partículas elementares, isso já tem sido contestado. Algumas
evoluções do Modelo Padrão lançaram a ideia que os quarks e os léptons
têm uma subestrutura. Em outras palavras, este modelo presume que as
partículas elementares do modelo padrão são de fato partículas
compostas, feitas de algum outro constituinte elementar. Tais ideias
estão abertas para a fase de testes experimentais, e estas teorias são
severamente limitadas por falta de dados. Em suma, a cada nova
descoberta ou comprovação de certa teoria da física de partículas, mais
percebemos acerca da natureza composta de tudo o que existe.
Desta forma, se algo composto não pode ser eterno e tão pouco poderia
originar-se a si mesmo do nada por não existir um ‘ambiente’ propício
para isso (tempo-espaço), segue-se que faz-se necessário que tenha sido
originado primeiramente um ponto no nada para que a existência
pudesse vir a ser. Este ‘ponto no nada’ reflete uma Vontade – a Vontade
de criar, de engendrar o que existe agora. Chamamos isso de ‘Vontade’
(em hebraico, ‘ratzon’) porque as fontes judaicas nos ensinam que o
termo ‘ratzon’ está intimamente ligado à palavra ‘haaretz’, que
representa ‘o mundo’, ou a fisicalidade, a existência física. Este ‘desejo’ é
ordenado, coerente e ciosamente simétrico – pois o que notamos a partir
desse princípio criativo não é a desordenação ou o caos; Muito pelo
contrário. Percebemos uma espiral crescente de eventos evolutivos
onde a existência começa a se mostrar desde as ínfimas partículas
subatômicas até as maiores estrelas que começaram daí a se formar. A
partir desse ambiente, e a partir do Nada Infinito é que os acidentes
físicos começam a tomar forma, aparecem primeiramente os conceitos
e então o ‘ambiente’ é formado reunindo condições para que as leis
físicas surjam e comecem a tecer massa e matéria, o surgimento das
bases elementares de tudo que percebemos e tomamos como existente.
Esta Vontade única que engendra a criação é Deus. Os céticos diriam que
seria o acaso. Bem, se o acaso fosse assim tão organizado, tão simétrico
e tão preciso nos mais intrínsecos detalhes de tudo que existe, já não
mais poderíamos chama-lo de ‘acaso’ – posto que o acaso é exatamente
o oposto de tudo isso; Tal posicionamento dos céticos seria ainda assim
uma espécie de ‘crença’, porém, isso demandaria mais fé do que mesmo
um teísta conseguiria ter. De certa forma, concedendo à insistência dos
céticos poderíamos ter descoberto então um ‘novo nome’ para Deus.
Chamem-no de ‘acaso’ se assim desejarem.

Obras consultadas:
Guia dos Perplexos – Maimônides
Deveres do Coração – R. Ibn Pakuda
O Ser Judeu – R. Hayim Halevi Donim

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