O documento discute a relação entre fé e razão no judaísmo. Aponta que embora não seja possível provar empiricamente a existência de Deus, também não é possível prová-La inexistente. Defende que os ensinamentos judaicos não contradizem a razão e que razão e fé são complementares na religião judaica.
O documento discute a relação entre fé e razão no judaísmo. Aponta que embora não seja possível provar empiricamente a existência de Deus, também não é possível prová-La inexistente. Defende que os ensinamentos judaicos não contradizem a razão e que razão e fé são complementares na religião judaica.
O documento discute a relação entre fé e razão no judaísmo. Aponta que embora não seja possível provar empiricamente a existência de Deus, também não é possível prová-La inexistente. Defende que os ensinamentos judaicos não contradizem a razão e que razão e fé são complementares na religião judaica.
É claro que não se pode provar empírica e cientificamente a existência
de Deus, ou que o mundo foi criado por sua vontade, ou que Ele dedica- se a aperfeiçoar Sua obra de criação. Mas também, não se pode provar que Ele não existe. A utilização de métodos racionais para provar a existência ou a inexistência de Deus, na forma dos conhecidos métodos escolásticos medievais pode até interessar alguns. No entanto, desde os primórdios da filosofia moderna, estas "provas" tem sido questionadas. Os argumentos contemporâneos a favor e contra são igualmente inconsistentes. O Ser Supremo, Único, em quem Abraão e todos os seus descendentes expressaram sua fé e serviço, desafia qualquer tentativa de prova racional. Ele é infinito e o homem é finito. Não só fisicamente finito é o homem, mas também é limitado em suas faculdades intelectuais e perceptivas. Se Deus fosse parte do quadro dos cinco sentidos físicos do homem, se pudéssemos percebê-Lo pelos sentidos como "Deus", Ele seria algo ou alguém; porém, estaria limitado e não mais poderia ser o Criador, o ser espiritual, todo poderoso e onipresente a quem dedicamos nossa devoção e serviço. Tal "Deus" estaria então reduzido até o finito, estaria alterado e assim, poderia sofrer outras alterações por meio dos seres humanos. Esse "Deus" não seria único e universal, mas apenas mais uma das muitas divindades a quem os homens atribuíam poderes sobrenaturais, demonstrando-lhes submissão através dos séculos. Se a prova da existência de Deus está além da nossa própria compreensão, por que, então, o homem sábio haveria de proclamar a sua fé em Deus com o mesmo fervor e intensidade que resulta do verdadeiro "conhecimento do Eterno"? De um ponto de vista negativo, pode-se supor que a negação da existência de Deus diminuiria ainda mais a credibilidade racional homem. Se Deus não existe, devemos considerar que a marcha do mundo com a precisão matemática que só agora começamos a apreciar plenamente, seria o resultado de uma coincidência e que o intrincado fenômeno da vida desde sua forma mais primitiva até o ser humano pleno seria mero resultado do acaso. Certamente essa visão exige uma fé cega em si mesma. Creditar a “natureza” pelo funcionamento preciso do universo e de todas as maravilhas da vida, é usar um sinônimo de leis naturais que, por sua vez, exigem uma explicação. O mistério permanece. Não hesito também em qualificar o ateísmo como uma forma de fé que não difere muito de alguma outra forma de idolatria praticada pelo homem ao longo de sua história. Hoje em dia, o ateísmo é considerado como "sofisticado" e adequado à nossa situação. Mas o mesmo ocorreu por exemplo, com o culto a Baal na antiguidade. O que é preciso saber, dado o surpreendente desenvolvimento científico atual se é mais razoável supor a existência de Deus ou negá-la. A maioria dos sábios judeus antigos e modernos nunca duvidou do grande nacionalismo existente nos princípios básicos da fé judaica. Os estudiosos e os líderes religiosos judeus sempre mostraram grande sensibilidade às exigências da razão e sempre tem enfatizado o fato de que o judaísmo é uma fé racional. Embora seus livros sagrados contenham relatos de eventos considerados milagrosos ou ‘sobrenaturais’ o judaísmo distingue claramente entre eventos ou fatos que contradizem a razão e aqueles que estão um pouco acima da razão. Existe uma grande diferença entre os dois. Há muitos elementos da experiência humana que excedem o âmbito do conhecimento e estão a princípio e até agora além da compreensão humana, podendo ser apenas percebidas pelos sentidos, mas não apreendidas pela ciência. Não estamos diante de uma teologia que contradiz claramente a razão. As premissas básicas da teologia judaica, que afirmam a existência de Deus, a criação do mundo em conformidade com a Sua vontade, a revelação dessa vontade a Israel e a humanidade desde os tempos mais antigos até seu clímax no Sinai e em outros momentos da história, mesmo quando eles estão todos no domínio do espiritual e dos processos desconhecidos, sendo ainda velados para nós, nenhum desses eventos pode ser classificado como contrário à razão. Como parte da religião judaica, razão e fé não são antagônicos, mas pontos complementares: cada item complementa as restrições do outro. Mesmo em relação aos relatos tidos por ‘milagrosos’, presentes em testemunhos religiosos, é importante lembrar que os ensinamentos do judaísmo não confiam neles. Os relatos tidos por milagrosos foram e ainda são os meios para atingir determinados fins históricos ou inspirar a confiança; porém, a verdade do relato da Torá não depende deles. Mesmo que nenhum deles tivesse de fato ocorrido, as verdades básicas da Torá ainda assim seriam as mesmas. Avaliações mais detidas nos fazem perceber que os relatos sobre eventos milagrosos na Torá podem nos mostrar que tais eventos ocorreram sem que as leis naturais tenham sido temporariamente suspensas – ou seja, as leis naturais não foram alteradas, ainda que para nós hoje, pareçam terem sido. Os escritos sagrados do povo judeu mencionam fatos científicos que só nos dias de hoje puderam ser completamente averiguados. O livro de Jó, por exemplo diz que a Terra repousa sobre o nada, sobre o vazio (26:7); No mesmo livro, menciona-se que as camadas inferiores do planeta são revolvidas como que por fogo (28:5); Isaías menciona o círculo da Terra (40:22). Tais conceitos naquela época poderiam parecer milagrosos ou sobrenaturais. Porém com o passar do tempo e o avanço do conhecimento científico, pudemos compreendê-los e comprová-los. Da mesma forma, os relatos que temos na Torá sobre eventos potencialmente ‘milagrosos’ poderão ser compreendidos no seu devido tempo, com o avanço da ciência e da tecnologia. A bem da verdade, muitos desses relatos já foram explicados de forma bastante lúcida e racional, por meio de novas descobertas do meio acadêmico científico. No mais, há que se compreender que basicamente relatos do Gênesis devem ser vistos como midrashim, que são parábolas intencionalmente redigidas neste estilo para nos transmitirem lições mais profundas do que a simples leitura superficial do texto poderia nos oferecer. As primeiras palavras da Torá são: "Inicialmente Deus criou os céus e a terra." Este é o Deus do Universo, Aquele que criou todas as coisas. Logo adiante, no segundo livro da Torá lemos: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito." Estas são as palavras de abertura dos Dez Mandamentos na revelação histórica dada a Israel. O Deus Universal é o mesmo Deus que deu a liberdade a Israel tendo esta nação declarado sua lealdade à esse “Deus Universal”. O conceito judaico de Deus é um Deus que exige da humanidade um viver ético e justo. É um Deus universal cuja soberania se estende por todo o mundo. Ainda que as orações judaicas usem a expressão "Deus de Abraão, Isaac e Jacó" ou "Deus de Israel", isto não significa que Deus pertence somente aos judeus ou é um Deus especial. Isso implicaria numa limitação da soberania de Deus ou na admissão de que existem outros deuses que velam por outras nações, o que contraria o próprio espírito da crença nesse Deus Criador universal, aquele que ‘criou’, ‘formou’ e ‘fez’ todos os homens e todas as coisas, indistintamente. A criança que diz: "meu pai" não nega que este mesmo homem é também o pai de seus irmãos e irmãs. RAZÃO – OBRA DO ACASO? Razão é a capacidade da mente humana que permite chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. É, entre outros, um dos meios pelo qual os seres racionais propõem razões ou explicações para causa e efeito. A razão é particularmente associada à natureza humana, ao que é único e definidor do ser humano. A razão permite identificar e operar conceitos em abstração, resolver problemas, encontrar coerência ou contradição entre eles e, assim, descartar ou formar novos conceitos, de uma forma ordenada e, geralmente, orientada para objetivos. Inclui raciocinar, apreender, compreender, ponderar e julgar
O Rambam comenta em seu Moreh Hanevukhim, Chelek ‘A, capítulo 1
que a imagem de D’us, ou tselem elokim por meio da qual o homem foi criado é a razão. Comprovamos que isso procede pois pelo relato tradicional da criação do homem, não observamos no Genesis nenhum outro animal recebendo essa dádiva, além do próprio ser humano. O homem é capaz de reunir elementos abstratos em sua mente, de pensar sobre conceitos e deles tirar conclusões. Como resultado da razão, o mundo do ser humano foi construído, tendo sido moldado em conformidade com esse enorme e vasto potencial que é a capacidade racional. Foi a razão o alicerce da civilização humana tal como hoje ela é. Todos os avanços científicos e tecnológicos só foram possíveis ao homem a partir de sua observação da natureza e de suas conclusões tiradas dali, seguindo-se de aplicações de princípios por meio de cálculos abstratos que nos conduziram aos experimentos, fazendo-nos evoluir até o clímax de nossa condição como seres pensantes e capazes de moldar o seu próprio mundo à ‘sua imagem’. Porém, como se processa a razão? Qual seria a sua quintessência? Há notáveis esforços da parte dos céticos que tentam construir argumentos encima de certos atributos e qualidades humanas referindo-se aos mesmos como meras obras do acaso ou meros acidentes, reações ou processos físico-químicos. Nesta categoria estariam os sentimentos (amor, ódio, nojo, alegria, etc) e os sentidos e sua dinâmica (visão, olfato, tato, paladar e audição). Em suma, eles pensam nisso tudo como meras reações, produzidas a partir de fenômenos físico-químicos, perfeitamente explicáveis pela ciência moderna. Porém, nos recônditos da mente humana, jaz aquilo que até o momento nenhum cético foi ainda capaz de explicar. Como se processa a razão? É muito óbvio que a razão não pode ser explicada como mero fenômeno ou processo físico-químico. Todos sabemos que não estamos lidando aqui com algo tangível ou que possa ser de alguma forma reproduzido em laboratório. A razão não pode ser aprendida – ela é intrínseca aos seres humanos, é afinal, o que nos define como tais. Ela é o limite claro e muito bem definido entre nós, humanos, e o restante do reino animal. Igualmente ainda que tomemos o modelo evolutivo como verdadeiro, seremos confrontados ainda assim, por uma escolha ciosa e criteriosa, única e singular do ser humano como portador desse dom. Se tivesse sido mera obra do acaso, este acaso estaria organizado e pontual demais para eleger sem critérios, uma única espécie de toda a vastidão do reino animal para que se lhe concedesse capacidade racional. Mais uma vez teríamos aqui uma verdadeira declaração ortodoxa de fé, paradoxalmente da parte de um cético, que ainda teria que apostar um, contra um número quase infinito de possibilidades. A razão é a marca indelével e mais distinta na minha modesta opinião de que somos criação de um Ser Inteligente e organizado. A REALIDADE DE D’US Citando do Chovot Halevavot 1 entendemos que há três premissas que, quando comprovadas, demonstram que este mundo tem um Criador, que o criou a partir do nada: 1) Coisa alguma pode fazer-se por si mesma. 2) Princípios (causas) são limitados em número e, portanto, eles devem ter um primeiro princípio que não teve início antes dele. 3) Qualquer coisa composta deve ter sido trazida à existência (não pode ser eterna). Quando estas três premissas são estabelecidas, a inferência será, para aquele que entende como usá-las e combiná-las - que o mundo tem um Criador que o criou a partir do nada, como vamos esclarecer com a ajuda de D'us. Todas as coisas que existem, antes de não terem existido, não podem escapar de duas possibilidades: ou criaram a si mesmas ou qualquer outra coisa as criou. Se criaram a si mesmas, então, também não podem escapar de duas possibilidades: Ou criaram-se antes de existirem ou depois de existirem. Ambos os termos são impossíveis, porque caso supormos que elas criaram-se depois de existirem, então nada foi feito, uma vez que não era necessário fazer-se, porque já existiam antes de se fazer qualquer coisa, por isso, nada se fez. Se supormos que se fizeram antes de existirem – então, naquela época eram "efes v'efes" (absolutamente nada), e aquilo que é efes (nada) não pode executar qualquer ação nem preparação (potencial) para a ação, pois nada não pode fazer nada. Portanto, é impossível que algo se faça de qualquer maneira. Os físicos modernos descobriram que "partículas transitórias virtuais" aparecem e desaparecem no espaço vazio em intervalos de tempo extremamente curtos (flutuações quânticas). Alguns ateus proeminentes afirmam esta é uma refutação da premissa de que uma coisa não pode criar a si mesma, propondo que é possível que o universo simplesmente tenha aparecido do nada. O professor Stephen Hawking disse o seguinte: "... você entra em um mundo onde conjurar algo do nada é possível (pelo menos, por um curto tempo). Isso porque nesta escala, as partículas comportam-se de acordo com as leis da natureza que chamamos de 'mecânica quântica', e elas realmente podem aparecer de forma aleatória, permanecendo por algum tempo, e depois desaparecendo novamente, para então reaparecerem em outro lugar. " Outro exemplo: O professor Lawrence Krauss, um prestigiado astrofísico americano, com uma longa lista de best sellers, afirma em sua obra, “O universo do nada”: "Só as leis conhecidas da mecânica quântica e da relatividade pode produzir 400 bilhões de galáxias, cada uma contendo 100 bilhões de estrelas e, em seguida, para além de que se transforma quando você aplica a mecânica quântica para a gravidade, o próprio espaço pode surgir do nada, assim como o tempo. Parece impossível, mas é completamente possível ... " Primeiro de tudo, a mecânica quântica permite, e até exige violações temporárias de conservação de energia. As partículas virtuais são uma consequência bem estabelecida e bem compreendidas da mecânica quântica - não é algo a partir do nada. Eles não são eventos sem causa do vácuo, mas sim propriedades do vácuo espaço-tempo. As partículas virtuais "emprestam" por um período muito curto de tempo a energia que já está disponível a partir de princípios de incerteza de tempo/energia e convertem as partículas virtuais com E = mc2. Nem isso mesmo viola as leis de conservação, porque a energia cinética mais a massa da partícula inicial decadente e o produto final da degradação são iguais. Para fazer com que essas "partículas virtuais" no vácuo sejam reais (mais duradouras do que o tempo/incerteza permitam), há a necessidade de se adicionar energia. Assim, as alegações acima são extrapolações enganosas. Para resumir, um vácuo espaço-tempo regido pela mecânica quântica ainda é algo. Não é nada. Ele tem uma curvatura que varia em proporção qualquer matéria e radiação que esteja presente como foi postulado pela teoria da relatividade geral de Einstein e confirmada por experimentos. Não pode haver nenhuma propriedade associada com o "nada" pois isso seria uma contradição. Da mesma forma, só uma “coisa” ou um “algo” pode ter estados, e só uma “coisa” ou um “algo” pode ser descrito em termos de leis da física. O autor do Chovot Halevavot, já estava alerta em sua época contra esses tipos de afirmações absurdas, tanto que usou a expressão "efes v'efes", uma repetição do termo ‘efes’ que significa assim "absolutamente nada". Assim, não há como se descrever as flutuações quânticas ou algo semelhante num inexistente espaço-tempo. Primeira premissa - uma coisa não pode fazer a si mesma a partir do nada. Se não existe um ambiente para a existência, ou seja, sem o espaço- tempo, não há leis da física, absolutamente nada, então a partir dessas condições, coisa alguma poderia simplesmente vir a existência por conta própria, ou por acaso. Segunda premissa: Não se pode ter uma regressão infinita de princípios não-eternos. Isto significa que se você tem algo não-eterno no presente, você não pode explicar a sua existência, dizendo que isso foi o efeito de alguma outra coisa não-eterna (a sua "causa"), e que também isso por sua vez, foi o efeito de outra coisa, não eterna (a sua "causa"), etc. indefinidamente, porque esta é uma tentativa de explicar que algo no princípio, deu origem a si mesmo a partir do nada, que como soubemos pela primeira premissa, é coisa absolutamente inviável. Da mesma forma, se você tem algo não-eterno no presente, isso pode ser a causa de outra coisa que também não é eterna, e que poderia ser mais uma vez a causa de outra coisa que também não é eterna, mas nunca poderá ser a causa de algo que é eterno e não pode durar para sempre - tal cadeia de causas e efeitos sempre deve chegar a um fim, caso contrário - será também uma tentativa de criar "algo" (finito) a partir do "nada" (infinito, eterno). Logo, a partir dessas duas premissas, deve haver somente um ‘algo eterno’ (e somente ‘um’). Terceira premissa - Qualquer coisa composta não pode ser eterna. Todas as coisas finitas são inerentemente compostas, o que exclui a possibilidade de que qualquer coisa física seja eterna ou que ainda assim haja mais do que um ser eterno. Por séculos, a ciência pensava na matéria como composta ou fabricada por unidades mínimas, chamadas ‘átomos’. Por muito tempo, pensava-se que teríamos chegado ao limite da matéria, onde prevalecia o conceito do átomo como algo que fazia jus ao seu nome original em língua grega, ‘indivisível’. Foi só em 1911 que tivemos notícia do núcleo atômico, formado por duas subpartículas – prótons e nêutrons. Percebeu-se daí que mesmo o átomo que até então era tido como a unidade fundamental da matéria era subdividido. Foi só recentemente que a física começou a perceber e a confirmar cálculos que apontavam para algo além dessas unidades mínimas da matéria; começávamos a ouvir falar sobre outras ínfimas subpartículas atômicas que na verdade formavam prótons e nêutrons, denominadas como ‘quarks’ e ‘léptons’. E ainda que se pense que quarks e léptons poderiam ser partículas elementares, isso já tem sido contestado. Algumas evoluções do Modelo Padrão lançaram a ideia que os quarks e os léptons têm uma subestrutura. Em outras palavras, este modelo presume que as partículas elementares do modelo padrão são de fato partículas compostas, feitas de algum outro constituinte elementar. Tais ideias estão abertas para a fase de testes experimentais, e estas teorias são severamente limitadas por falta de dados. Em suma, a cada nova descoberta ou comprovação de certa teoria da física de partículas, mais percebemos acerca da natureza composta de tudo o que existe. Desta forma, se algo composto não pode ser eterno e tão pouco poderia originar-se a si mesmo do nada por não existir um ‘ambiente’ propício para isso (tempo-espaço), segue-se que faz-se necessário que tenha sido originado primeiramente um ponto no nada para que a existência pudesse vir a ser. Este ‘ponto no nada’ reflete uma Vontade – a Vontade de criar, de engendrar o que existe agora. Chamamos isso de ‘Vontade’ (em hebraico, ‘ratzon’) porque as fontes judaicas nos ensinam que o termo ‘ratzon’ está intimamente ligado à palavra ‘haaretz’, que representa ‘o mundo’, ou a fisicalidade, a existência física. Este ‘desejo’ é ordenado, coerente e ciosamente simétrico – pois o que notamos a partir desse princípio criativo não é a desordenação ou o caos; Muito pelo contrário. Percebemos uma espiral crescente de eventos evolutivos onde a existência começa a se mostrar desde as ínfimas partículas subatômicas até as maiores estrelas que começaram daí a se formar. A partir desse ambiente, e a partir do Nada Infinito é que os acidentes físicos começam a tomar forma, aparecem primeiramente os conceitos e então o ‘ambiente’ é formado reunindo condições para que as leis físicas surjam e comecem a tecer massa e matéria, o surgimento das bases elementares de tudo que percebemos e tomamos como existente. Esta Vontade única que engendra a criação é Deus. Os céticos diriam que seria o acaso. Bem, se o acaso fosse assim tão organizado, tão simétrico e tão preciso nos mais intrínsecos detalhes de tudo que existe, já não mais poderíamos chama-lo de ‘acaso’ – posto que o acaso é exatamente o oposto de tudo isso; Tal posicionamento dos céticos seria ainda assim uma espécie de ‘crença’, porém, isso demandaria mais fé do que mesmo um teísta conseguiria ter. De certa forma, concedendo à insistência dos céticos poderíamos ter descoberto então um ‘novo nome’ para Deus. Chamem-no de ‘acaso’ se assim desejarem.
Obras consultadas: Guia dos Perplexos – Maimônides Deveres do Coração – R. Ibn Pakuda O Ser Judeu – R. Hayim Halevi Donim