Você está na página 1de 16

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez.

2011 367

Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica: levantamento dos estudos


realizados no Brasil de 2000 a 2010

Alana Batistuta Manzi-Oliveira – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil


Fernanda Belinassi Balarini – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil
Letícia Aparecida da Silva Marques – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil
Sonia Regina Pasian1 – Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil

Resumo
Diante da busca de aprimoramento técnico-científico nos processos de avaliação psicológica, este trabalho apresenta um
panorama das investigações científicas brasileiras acerca da adaptação de instrumentos de avaliação psicológica. Com base
em levantamento bibliográfico dos estudos publicados no período de 2000 a 2010, foram selecionados 24 estudos que
constituíram o corpus analisado. A maioria dos trabalhos seguiu diretrizes internacionais e nacionais de adaptação de
instrumentos, sendo que 24 estudos realizaram processo de tradução, 18 apresentaram análise de fidedignidade e 16,
evidências de validade. Pôde-se depreender, dentre os estudos analisados, que há uma variedade de procedimentos
empregados para a adaptação de instrumentos de avaliação psicológica no contexto brasileiro. Ainda, puderam ser
observadas algumas diferenças quanto à utilização de termos referentes à taxonomia psicométrica. Nesse sentido,
pretende-se oferecer elementos para reflexão de pesquisadores e profissionais no que diz respeito à adaptação de
instrumentos de avaliação psicológica no Brasil.
Palavras-chave: Avaliação psicológica, Adaptação transcultural, Revisão da literatura, Validade, Precisão.

Cross-cultural adaptation of psychological assessment instruments: Brazilian literature review


from 2000 to 2010

Abstract
Given the search for technical-scientific improvement in the psychological assessment processes, this paper presents an
overview of the Brazilian research about the cross-cultural adaptation of psychological assessment instruments. Based in a
literature review of studies published between the period from 2000 to 2010, 24 studies were selected that formed the
corpus analyzed. Most studies have followed international and national guidelines, among which 24 studies performed
translation process, 18 showed analysis of reliability and 16 studies presented validity evidences. It can be concluded,
among the analyzed studies, that there are a variety of procedures employed for the adaptation of psychological
assessment instruments in the Brazilian context. Still, some differences were observed regarding the use of terms referring
to the psychometric taxonomy. It is intended to provide reflection elements to researchers and professionals regarding the
adaptation of psychological assessment instruments in Brazil. .
Keywords: Psychological assessment, Cross-cultural adaptation, Literature review, Validity, Reliability.

A1 adaptação de instrumentos de avaliação termos de métodos e de comparabilidade entre os


psicológica tem ganhado espaço no âmbito da pesquisa escores (Hambleton, 2005).
científica atual, como uma importante área para o No Brasil, a maior parte dos instrumentos
desenvolvimento da prática e da ciência psicológica. A utilizados na área clínica e de pesquisa em psicologia é
literatura internacional salienta que hoje existem oriunda de outras culturas, despontando a adaptação de
evidências suficientes para afirmar a necessidade de instrumentos avaliativos em detrimento de sua
versões multilingues de instrumentos, entre elas o construção (Cassepp-Borges, Balbinotti & Teodoro,
aumento do número de pesquisas multinacionais e 2010). Espera-se ainda um aumento substancial da
multiculturais (Beaton & cols., 2002; Hambleton, adaptação de instrumentos no futuro, tendo em vista
2005). Além disso, é possível enumerar vantagens para que os intercâmbios internacionais de investigação
adaptação de testes em detrimento da construção de científica são cada vez mais comuns e o interesse em
instrumentos, como a economia de tempo e de pesquisas interculturais é gradativamente crescente
recursos financeiros, a possibilidade de comparação de (Hambleton, 2005).
estudos entre grupos de várias culturas e diferentes Com esse crescente intercâmbio de
linguagens e o alcance na equidade de avaliação, em informações e as diferenças internacionais quanto a
políticas sobre o uso e a comercialização de
instrumentos de avaliação psicológica, a International
Test Commission (ITC) criou diretrizes para uso correto
1Endereço para correspondência: dos mesmos, buscando encorajar melhores práticas no
Departamento de Psicologia – FFCLRP – USP processo de avaliação psicológica. As chamadas
Av. Bandeirantes, 3900 – Monte Alegre – 14040-901 – Ribeirão Diretrizes para o uso de testes (ITC, 2003) buscam conciliar
Preto (SP)
E-mail: srpasian@ffclrp.usp.br
diferentes práticas internacionais e foram elaboradas a
368 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

partir de espaços criados com o objetivo de promover Dessa forma, o presente trabalho tem como
a prática adequada na adaptação de instrumentos de objetivo apresentar e debater os achados de um
avaliação psicológica em diferentes contextos culturais. levantamento bibliográfico, pautado na literatura
No Brasil, a Resolução 02/2003 do Conselho Federal científica nacional, acerca dos processos de adaptação
de Psicologia (CFP) (2003) teve como um de seus de instrumentos de avaliação psicológica. Desse modo,
documentos de referência o material produzido pela buscou-se verificar e mapear as práticas utilizadas no
ITC e, na direção do que propõem as diretrizes, Brasil, relativas à adaptação desses instrumentos, com
salienta que os requisitos mínimos para instrumentos base em trabalhos publicados no período de 2000 a
de avaliação psicológica construídos no Brasil também 2010.
se aplicam àqueles advindos do exterior. Isso pode ser Método
visto no seguinte trecho desta citada resolução:
Art. 7º – Também estão sujeitos aos requisitos Procedimento
estabelecidos na presente Resolução os testes estrangeiros A revisão da literatura científica nacional sobre
de qualquer natureza, traduzidos para o português, adaptação de instrumentos de avaliação psicológica foi
que devem ser adequados a partir de estudos realizados realizada a partir do estabelecimento de critérios de
com amostras brasileiras, considerando a relação de inclusão e exclusão dos estudos e da análise crítica de
contingência entre as evidências de validade, precisão e seus resultados. Para operacionalizar essa revisão, as
dados normativos com o ambiente cultural onde foram seguintes etapas foram seguidas: (a) seleção da questão
realizados os estudos para sua elaboração. (CFP, temática; (b) escolha da base de dados; (c)
2003) estabelecimento dos critérios para a seleção/exclusão
As exigências abrangem, de maneira geral, a dos estudos; (d) análise e interpretação dos resultados;
apresentação da fundamentação teórica do construto, (e) apresentação da revisão bibliográfica em si.
das características psicométricas do instrumento, dos A fim de se elaborar um levantamento
procedimentos de aplicação, correção e das referências bibliográfico abrangente, foi realizada uma busca no
para a interpretação dos escores (CFP, 2003). Isso portal de pesquisa da Biblioteca Virtual em Saúde
significa que os instrumentos de avaliação psicológica (BVS), que reúne 14 bases de dados bibliográficas em
advindos de outras culturas, ainda que atendam a tais Ciências da Saúde, com acesso livre e gratuito. A busca
critérios na população original, devem passar por eletrônica foi efetivada usando das palavras-chave
procedimentos científicos e técnicos que garantam suas “instrumentos psicológicos” e “adaptação”, e o
qualidades no uso com a população brasileira. Nesse operador booleano “e” (and), no período de janeiro de
sentido, o maior desafio da adaptação de instrumentos 2000 a outubro de 2010. Antes da realização dessa
de avaliação diz respeito à equivalência do construto busca, foi feita uma pesquisa na lista de descritores que
medido pelo teste, em ambas as versões (Hambleton, o portal disponibiliza, de modo a examinar quais
2005; Pedroso, 2004, citado por Cassepp-Borges, seriam os termos mais adequados para atender ao
Balbinotti & Teodoro, 2010). objetivo do estudo. Os descritores encontrados
O conjunto das considerações precedentes tendiam a restringir a busca de estudos como, por
circunscreve uma área necessária de investimento exemplo, no caso de “validade de testes”, “estudos de
científico nos processos de avaliação psicológica: os validação” ou “tradução”, que não alcançavam,
cuidados metodológicos no processo de adaptação de necessariamente, a identificação de trabalhos voltados à
seus instrumentais. Essa necessidade já se encontra adaptação de instrumentos de avaliação psicológica.
sedimentada internacionalmente, de modo que uma Sendo assim, optou-se pela utilização das palavras-
tentativa de retrato da realidade nacional nessa direção chave “instrumentos psicológicos” e “adaptação”, que
se configura como possibilidade de contribuição a este permitiriam a recuperação de grande número de
campo de pesquisa e de atuação profissional. Nesse trabalhos no tema em foco, procurando mapear os
sentido, este trabalho procura apresentar um panorama estudos publicados na última década.
das investigações científicas brasileiras voltadas aos Em seguida, as publicações identificadas nessa
processos de adaptação de instrumentos de avaliação busca inicial foram submetidas a critérios de inclusão e
psicológica, de modo a esclarecer as estratégias de exclusão para o presente trabalho. Nesta revisão
utilizadas e os alcances dessas iniciativas nacionais, foram selecionados exclusivamente artigos científicos
abrindo possibilidades para futuros trabalhos nessa publicados em periódicos indexados nas bases
área, de maneira a assegurar sua qualidade técnica e o bibliográficas e excluídos trabalhos como teses,
compromisso de oferecimento de melhores alternativas dissertações, livros e capítulos de livro. Os artigos que
de ação profissional. apareceram mais de uma vez, em diferentes

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 369

combinações de palavras-chave ou em mais de uma Resultados e discussão


base consultada, foram computados uma única vez.
Além dos artigos repetidos, foram excluídos A partir da busca bibliográfica efetuada foram
artigos que não tratavam de estudos de adaptação identificados 93 trabalhos científicos. Os respectivos
transcultural de instrumentos de avaliação psicológica resumos desses 93 artigos foram estudados e neles
para a população brasileira; estudos que utilizavam aplicados os critérios de inclusão e exclusão
instrumentos de avaliação, porém sem o foco em determinados. Assim, ao final desse processo, 26
aspectos metodológicos (não eram sobre o artigos foram selecionados e 24 foram integralmente
instrumento); estudos ligados a outras áreas do saber recuperados, compondo os resultados básicos aqui
(como engenharia, administração), trabalhos de analisados, conforme itens avaliativos a seguir
tradução e adaptação cultural para o português de apresentados.
Portugal, estudos de revisão de literatura, propostas de
operacionalização de procedimentos de adaptação Justificativa, objetivos e procedimentos
transcultural e estudos que se propunham à construção Os 24 estudos recuperados neste levantamento
de instrumentos de avaliação psicológica. bibliográfico tiveram como objetivo adaptar para o
Os artigos científicos assim selecionados e Brasil instrumentos psicológicos de avaliação já
recuperados foram integralmente lidos e analisados, existentes em outros contextos, sendo em sua maioria
tomando por base um roteiro organizado nos seguintes originalmente apresentados em língua inglesa. A Tabela
eixos: (a) justificativa, objetivos e procedimento 1 apresenta e caracteriza, em termos gerais, os estudos
realizado; (b) características do instrumento; (c) aqui identificados, relatando brevemente o instrumento
procedimentos de tradução; (d) procedimentos de de avaliação psicológica em foco, os objetivos e os
verificação das qualidades psicométricas e (e) controles procedimentos técnicos desenvolvidos nessas
metodológicos. A seguir, os achados foram pesquisas.
sistematizados em tabelas descritivas, constituindo-se
nos resultados a serem apresentados e comentados.

Tabela 1. Estudos brasileiros de adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica no período de


2000 a 2010 (integralmente recuperados, n=24) Continua
Autoria Ano Instrumento Tradução e Retrotradução Fidedignidade Validade
Leme, Saccol, 2010 Athletic Shoulder 2 Traduções Teste-Reteste Construto
Barbosa, Outcome Rating Scale 1 Retrotradução Comitê de (convergente)
Ejnisman, Juízes
Faloppa & Estudo Piloto
Cohem
Moriguchi, Alem, 2010 Need for Recovery 3 Traduções Teste-Reteste e Construto
Veldhoven & Scale 2 Retrotraduções Comitê de Consistência (convergente)
Coury Juízes Interna
Sardinha, 2010 Questionário de 2 Traduções Não realizada Não realizada
Levitan, Lopes, Atividade Física 2 Retrotraduções Equivalência
Perna, Esquivel, Habitual (QAFH) Semântica
Griez & Nardi
Medeiros & 2009 Activities of Daily 2 Traduções Consistência Construto
Guerra Living Questionnaire 1 Retrotradução Interna (convergente) e
(ADLQ) Conteúdo (juízes)
Neves, Muniz - 2009 Behçet’s Disease 2 Traduções Reprodutibili- Critério
Caldas, Medeiro, Current Activity Form 2 Retrotraduções dade Inter- (concorrente)
Moraes & (BDCAF) observador
Gonçalves

Gambaro, 2009 The Geriatric Pain 2 Traduções Não realizada Conteúdo (juízes)
Santos, Thé, Measure 2 Retrotraduções Comitê de
Castro & Juízes
Cendoroglo
Gonçalves & 2009 Spirituality Self Rating 2 Traduções Consistência Construto
Pillon Scale (SSRS) 1 Retrotradução Comitê de Interna (convergente)
Juízes
Mengarda, 2008 Endometriosis Health 2 Traduções Teste-Reteste e Construto
Passos, Picon, Profile Questionnaire – 1 Retrotradução Consistência (convergente),
Costa & Picon EHP-30 Interna Conteúdo e Face

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


370 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

Tabela 2. Estudos brasileiros de adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica no período


de 2000 a 2010 (integralmente recuperados, n=24) Continuação
Autoria Ano Instrumento Tradução e Retrotradução Fidedignidade Validade
Sardinha, Nardi 2008 Cardiac Anxiety 2 Traduções Não realizada Não realizada
& Eifert Questionnaire 2 Retrotraduções Equivalência
Semântica
Estudo Piloto
Levitan, 2008 Social Avoidance And 2 Traduções Não realizada Não realizada
Nascimento, Distress Scale (SADS) 2 Retrotraduções Equivalência
Freire, Semântica
Mezzasalma & Estudo Piloto
Nardi
Mendes, 2008 Canadian Adverse 2 Traduções Não realizada Não realizada
Travassos, Events Study (CAES) 1 Retrotradução Comitê de
Martins & Juízes
Marques Estudo Piloto
Sant'Anna, 2008 Entrevista Inicial com 2 Traduções Fidedignidade Não realizada
Blascovi-Assis & os Pais (EIP) e 2 Retrotraduções Equivalência do Avaliador
Magalhães Avaliação do Conceitual
Comportamento Lúdico Estudo Piloto
da Criança (ACL)
Torriani, 2008 Dental Anxiety Scale 2 Traduções Teste-Reteste Face e Conteúdo
Teixeira, (DAS) e Behavior 1 Retrotradução (comitê
Pinheiro, Rating Scale multidisciplinar) Estudo Piloto
Goettems &
Bonow
Novato, Grossi 2008 Diabetes Quality of Life 2 Traduções Teste-Reteste e Construto
& Kimura Measure for Youths 2 Retrotraduções Equivalências Consistência (convergente),
Semântica, Idiomática, Cultural Interna Critério
e Conceitual (concorrente) e
Conteúdo (juízes)
Pereira, Costa, 2007 GERD-HRQL, 2 Traduções Teste-Reteste e Construto
Geocze, Borim & HBQOL e GSAS 1 Retrotradução Reprodutibili- (convergente)
Ciconelli Comitê de Juízes dade Inter-
Estudo Piloto observadores

Goldfeld, 2007 Inventory of 2 Traduções Não realizada Conteúdo (juízes) e


Wiethaeuper, Countertransference 1 Retrotradução Equivalências Face
Terra, Behavior (ICB) Conceitual e Semântica
Baumgardt,
Lauermann,
Mardini,
Abuchaim, Sordi,
Soares & Ceitlin
Ciconelli, Soárez, 2006 Work Productivity and 1 Tradução Teste-Reteste e Construto
Kowalski & Activity Impairment - 1 Retrotradução Consistência (convergente)
Ferraz General Health (WPAI- Comitê de Juízes Interna
GH) Questionnaire Estudo Piloto

Echevarría- 2006 Burns Specific Pain 2 Traduções Consistência Construto


Guanilo, Rossi, Anxiety Scale – BSPAS 2 Retrotraduções Interna (convergente)
Dantas & Santos e Impact of Event Scale Comitê de Juízes
– IES Análise Semântica
Estudo Piloto
Torres, Hortale 2005 Diabetes Knowledge 2 Traduções Teste-Reteste e Não realizada
& Schall Scale (DKN-A) e 2 Retrotraduções Consistência
Attitudes Comitê de Juízes Interna
Questionnaires (ATT- Equivalência Semântica
19) Estudo Piloto
Bandeira, 2005 Family Burden 1 Tradução Não realizada Não realizada
Calzavara & Interview 1 Retrotradução
Varella Schedule/Short Form – Comitê de Juízes
FBIS Estudo Piloto

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 371

Tabela 3. Estudos brasileiros de adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica no período


de 2000 a 2010 (integralmente recuperados, n=24) Conclusão
Autoria Ano Instrumento Tradução e Retrotradução Fidedignidade Validade

Camargo & Não cita o nome, mas 1 Tradução Não realizada Não realizada
Contel diz que é composto por 1 Retrotradução
dois questionários Comitê de Juízes

Yusuf, Jorge, 2004 FIQL – Fecal 2 Traduções Teste-Reteste e Construto


Habr-Gama, Kiss Incontinence Quality of 2 Retrotraduções Reprodutibili- (convergente) e
& Rodrigues Life Comitê de Juízes dade entre Critério
Estudo Piloto examinadores (concorrente)
Haase, Lacerda, 2004 Inventário de 2 Traduções Consistência Construto
Lima, Corrêa, Depressão de Beck, Interna (convergente) e
Brito & Lana- Questionário de Saúde Critério
Peixoto Geral, Questionário de (concorrente)
Fadiga Física e
Cognitiva (CPF-MS) e
Medida de Auto-
Eficácia específica para
Esclerose Múltipla
(MSSE)
Gobitta & Guzzo 2002 Inventário de Auto- 1 Tradução Consistência
Estima (SEI) - Forma A Interna

Em consonância com o que aponta a literatura avaliação psicológica. Esses requisitos acabam
internacional, a maioria dos estudos apresenta como funcionando como critérios de escolha dos
justificativa para a adaptação de instrumentos de instrumentos a serem utilizados pelo profissional
avaliação a economia de recursos e os ganhos com a psicólogo, seja como pesquisador ou em sua prática
possibilidade de comparação de resultados entre clínica (CFP, 2003).
amostras de diferentes países. Esta análise comparativa, Observando o presente levantamento
segundo Hambleton (2005), pode favorecer a bibliográfico, foi possível perceber que, de forma geral,
compreensão de diferenças e de similaridades os autores justificam a escolha do instrumento
existentes entre grupos com características linguísticas psicológico a ser adaptado com base em suas
ou culturais específicas. características técnicas, relatadas na literatura
A inexistência de instrumentos de avaliação internacional. Entre elas estão boas qualidades
nacionais com foco em construtos específicos de psicométricas (especialmente bons índices de validade e
interesse dos pesquisadores é recorrente e, muitas de fidedignidade), a forma de construção do
vezes, não só explica a necessidade da adaptação do instrumento ou a rapidez e facilidade na aplicação, e a
instrumento como também justifica a escolha de um capacidade de avaliar algum construto específico e
método de avaliação estrangeiro. Ainda como significativo em determinados grupos clínicos, como,
justificativa para a adaptação de instrumentos de por exemplo, evolução do tratamento de afecções do
avaliação, também é citada a não-aplicabilidade dos ombro em atletas, qualidade de vida em mulheres com
mesmos à população brasileira, demonstrada por endometriose. Também são citadas como motivadores
estudos anteriores. de seleção de um instrumento de avaliação psicológica
A recomendação do Conselho Federal de (para estudo de sua adaptação ao contexto brasileiro), a
Psicologia em relação à escolha de um instrumento a possibilidade de sua aplicação em diferentes níveis de
ser utilizado na avaliação psicológica é de que seja escolaridade e a grande utilização em práticas clínicas
levada em consideração a segurança em sua utilização, no país em que o mesmo foi desenvolvido.
de modo a garantir a legitimidade e a cientificidade dos Quando é referido que existem outros
dados obtidos (Werlang, Vilemor-Amaral & instrumentos que medem aquele construto específico,
Nascimento, 2010). As evidências de validade e de os autores justificam a adaptação com base em
fidedignidade, assim como a especificação do construto qualidades técnicas do material em relação aos demais,
que o instrumento pretende avaliar e a literatura que como sua aplicabilidade a determinada população ou as
fundamenta o desenvolvimento do instrumento, estão características da população (idade, comorbidades,
entre os requisitos obrigatórios que o Conselho Federal especificidades do diagnóstico). É importante ressaltar,
de Psicologia determina para todos os instrumentos de no entanto, que nem sempre se encontram descrições

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


372 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

completas das características do instrumento, como seu avaliação da pertinência da versão produzida, com
referencial teórico de base ou a população a que se ajustes semânticos e conceituais. Deste conjunto,
aplica, ou mesmo os índices psicométricos observados foram 16 os estudos que realizaram análises de validade
em estudos anteriores. e 18 avaliaram a precisão dos instrumentos de avaliação
Baseando-se nessas justificativas, nos artigos adaptados ao Brasil.
recuperados, os objetivos foram descritos As recomendações do Conselho Federal de
principalmente utilizando as expressões “traduzir e Psicologia (Anache & Reppold, 2010), amparadas pelas
realizar a adaptação transcultural” ou similares (traduzir Diretrizes da Internacional Test Comission (2003), deixam
e adaptar, por exemplo). Os estudos descreveram suas clara a importância das evidências de validade e
metas como: “adaptar e verificar as qualidades precisão dos instrumentos a serem utilizados, com
psicométricas” ou “analisar as qualidades implicações diretas na prática do profissional
psicométricas”. Alguns restringiram o objetivo à psicólogo. Alguns estudos recuperados no presente
realização da “adaptação transcultural”, englobando levantamento, como, por exemplo, o de Sardinha e
procedimentos de tradução, verificação da adequação cols. (2010), reconhecem a importância desses
semântica/conceitual e análise das propriedades procedimentos, apontando-os como indicações para
psicométricas. futuras investigações científicas. No entanto, o
Desse modo, o termo “adaptação conjunto de resultados deste levantamento tende a
transcultural” ora é utilizado como um procedimento indicar que a prática da adaptação de instrumentos de
mais abrangente, seguindo referências como Guillemin, avaliação psicológica para o contexto brasileiro ainda
Bombardier e Beaton (1993) e Hambleton (2005), ora não tem contemplado a totalidade de recomendações e
pareceu não incluir os procedimentos de tradução. esforços no sentido de garantir o rigor teórico e
Nestes casos, em que os procedimentos de tradução metodológico no emprego de instrumentos de
não são incluídos, a “adaptação transcultural” tende a avaliação psicológica na prática profissional. Atenta-se
compreender a avaliação da versão por comitê de para o fato de que esses limites na revisão
juízes, modificação dos itens, verificação da adequação metodológica dos instrumentos em si podem vir a
semântica com o grupo-alvo da população (validade de causar impacto negativo na qualidade do trabalho do
face) e testagem piloto. psicólogo, atingindo um de seus deveres fundamentais
Parece haver um consenso em relação à imposto pelo Código de Ética Profissional.
diferenciação entre a simples tradução do instrumento Neste levantamento não foram encontrados
avaliativo e sua adaptação transcultural, na direção do trabalhos que se propuseram a estabelecer as normas
que a literatura internacional aponta e recomenda. avaliativas do instrumento em uso para a população
Hambleton (2005) ressalta que a adaptação de técnicas brasileira como parte do procedimento de adaptação
de exame psicológico abarca todas as atividades que transcultural. É importante ressaltar que a construção
envolvem a verificação da capacidade do instrumento de normas é reconhecida pelo Conselho Federal de
de medir o mesmo construto em idioma e cultura Psicologia como requisito mínimo e obrigatório para a
diferentes do contexto original onde foi desenvolvido. adequação do uso de instrumentos de avaliação
Por sua vez, o processo de traduzir um instrumento de psicológica. As normas oferecem referenciais de
avaliação psicológica é descrito como uma tradução comparação de desempenho e permitem a avaliação
literal do conteúdo avaliativo do instrumento, correta do respondente em relação à população geral
constituindo-se apenas como uma das etapas do (Pasquali, 2001). Pode-se questionar, inclusive, se um
processo de adaptação. processo de adaptação transcultural está completo sem
No entanto, na prática profissional brasileira, o estabelecimento de padrões normativos, tendo em
historicamente, nem sempre os procedimentos de vista que a utilização do instrumento a partir de
verificação das qualidades psicométricas de um referenciais de outras populações pode não embasar
instrumento de avaliação psicológica de origem adequada interpretação dos resultados. O uso de
estrangeira fizeram parte do denominado “processo de padrões normativos de outros grupos populacionais, na
adaptação sociocultural” do instrumento em questão. verdade, contradiz diretrizes técnicas determinadas no
Alguns estudos, embora tenham como objetivo realizar Standards for Educational and Psychological Testing, que
a adaptação de instrumentos, não verificaram sua pressupõem a elaboração de normas desenvolvidas
validade e fidedignidade para o grupo-alvo, como para a população na qual o instrumento está sendo
recomendado por Hambleton (2005). Dos 24 trabalhos utilizado (Geisinger, 1994). No entanto, há que
recuperados, todos realizaram procedimentos de ressaltar que as publicações examinadas talvez retratem
tradução, acompanhados da retrotradução e da uma etapa ou parcelas dos estudos desenvolvidos no

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 373

contexto nacional sobre aqueles instrumentos de demais estudos se preocuparam em examinar as


avaliação em foco, relativizando inicialmente o versões em comitês multiprofissionais, comparando-as
argumento crítico, exigindo investigação complementar e examinando seu conteúdo (análise de face); ou apenas
sobre esses materiais. realizaram uma revisão do material, não oferecendo
detalhes informativos.
Tradução Segundo Beaton e cols. (2002), algumas etapas
Do total amostral de 24 estudos, todos devem ser seguidas para que ocorra uma tradução e
realizaram procedimentos relacionados à tradução do adaptação transcultural válida e eficaz de qualquer
instrumento de avaliação original. Em relação aos instrumento de avaliação ligado à área da saúde. Ainda
procedimentos utilizados, a análise aqui realizada de acordo com esses autores, essas etapas teriam início
considerou o número e a qualificação dos profissionais com (pelo menos) duas traduções feitas do material
que participaram de cada etapa do processo (tradução, original para a língua-alvo, garantindo, dessa forma,
retrotradução, análises posteriores), além de quais que possíveis discrepâncias e ambiguidades pudessem
foram os procedimentos adotados para verificar a ser identificadas. Quinze estudos preocuparam-se com
versão produzida. essa primeira etapa técnica proposta por Beaton e cols.
A primeira fase dos estudos correspondeu à (2002), produzindo duas traduções independentes por
tradução em si do instrumento de avaliação. A maioria tradutores bilíngues que tinham a língua-alvo como
dos estudos (15) descreve sua tradução como língua materna.
“conceitual”, realizada por dois tradutores profissionais Após esse primeiro estágio, ainda segundo
e independentes, com língua materna portuguesa. Beaton e cols. (2002), uma síntese da tradução deveria
Dentre estes, dois trabalhos também realizaram a ser feita por um terceiro profissional, tendo por base as
tradução literal por dois professores de língua inglesa. diferenças eventuais das versões traduzidas. Esse
Os demais trabalhos utilizaram diversas formas para profissional deveria trabalhar de modo imparcial, sem
esse processo, como: tradução por dois profissionais conhecimento prévio dos conteúdos abordados no
brasileiros e um nativo da língua inglesa; dois estudo. Nessa análise, apenas o estudo de Neves,
tradutores bilíngues e um professor de língua Muniz, Medeiros, Moraes, e Gonçalves (2009)
portuguesa; dois profissionais da equipe mais um descreveu ter realizado esse estágio técnico de modo
professor de língua inglesa; um tradutor bilíngue; dois completo.
pesquisadores da própria equipe do estudo. Um dos Em conformidade com as orientações de Beaton
trabalhos não mencionou a forma como conduziu esse e cols. (2002), a etapa seguinte consistiria na
processo. Além disso, também um dos artigos referiu retrotradução da versão-síntese alcançada. Nesse
ter realizado pré-teste após essa primeira tradução de momento o instrumento seria vertido para o idioma
instrumento de avaliação. original, totalmente às cegas, visando testar se os itens
Os trabalhos também se preocuparam com a traduzidos reflitiriam o conteúdo da versão original,
retrotradução (versão do português do Brasil para a verificando assim sua validade. Essa etapa também
língua original), sendo que, em 13 casos, ela foi deveria ser realizada por dois tradutores com língua
elaborada por um ou dois brasileiros bilíngues. Em materna igual a da origem do instrumento de avaliação
outros oito estudos, a retroversão foi feita por em foco. Dentre os estudos analisados neste atual
tradutores ingleses (seguindo estudo original), cuja levantamento, 22 se propuseram a realizar a
língua materna era o inglês, enquanto um estudo retrotradução, porém somente 13 deles se
contou com a participação de uma equipe preocuparam em incluir um profissional que realizasse
multidisciplinar nessa fase. Novamente, um dos artigos essa etapa totalmente às cegas, sendo que em oito
avaliados não mencionou como realizou essa parte do estudos os tradutores tinham a língua materna
processo de adaptação do instrumento de avaliação. equivalente à original do instrumento.
As etapas técnicas posteriores foram Para que se possa alcançar uma equivalência nas
constituídas, basicamente, de avaliações por comitês traduções e retrotraduções, faz-se necessário, conforme
multiprofissionais, com análises semânticas, Beaton e cols. (2002), que se forme um comitê de
comparações de versões preliminares e aplicações de avaliadores, composto tanto por membros da equipe
pré-teste em cinco dos trabalhos. Em outros três de pesquisa quanto por tradutores que participaram da
estudos, foram realizadas comparações das versões, primeira e da segunda fase. Apenas seis trabalhos se
análises de sua equivalência e consenso entre os preocuparam em formar um comitê de especialistas
tradutores. Em outros quatro casos, além disso, foram (multidisciplinar e que também abarcasse os
incluídas aplicações de pré-teste do instrumento. Os profissionais responsavéis pelas traduções), enquanto

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


374 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

12 dos trabalhos referiram ter recorrido a um comitê desse tipo de cuidado técnico, o que merece a devida
multidisciplinar para examinar a qualidade das versões reflexão pelos profissionais da área.
do instrumento trabalhadas até esse momento.
O trabalho desse comitê de avaliação deveria se Fidedignidade
pautar por quatro tipos de equivalências necessárias e De acordo com The Standards for Educational and
importantes: semântica (que analisa se as palavras têm Psychological Testing (AERA, APA & NCME, 1999), todo
o mesmo significado), idiomática (que avalia eventuais aquele que se propõe a desenvolver um instrumento de
coloquialismos), cultural (que avalia se as experiências avaliação tem a responsabilidade de investigar a
diárias podem ser traduzidas da mesma forma em fidedignidade do mesmo. Considerando que essa
diferentes culturas) e conceitual (que examina se o propriedade psicométrica diz respeito aos escores
construto estudado permaneceu com o significado obtidos pelo instrumento, o que é suscetível às
original). Dentre os trabalhos analisados neste mudanças de contexto e dos indivíduos avaliados,
levantamento, 12 citaram ter realizado estudo de torna-se relevante que também seja investigada a
equivalência entre as versões do instrumento, sem, precisão durante os processos de adaptação
contudo, especificar em qual nível se pautaram. Outros transcultural do instrumento avaliativo.
nove trabalhos avaliaram a equivalência semântica, três Considerando os estudos identificados neste
a idiomática, três a conceitual e apenas um citou ter atual levantamento bibliográfico, conforme dados
examinado a equivalência cultural. Além disso, dois sistematizados na Tabela 1, pôde-se notar que 18 deles
estudos falaram em validade de conteúdo e de face a realizaram algum procedimento relativo à análise da
partir dessa etapa de tradução e de adaptação do fidedignidade na adaptação de seus instrumentos para
instrumento, sem maiores informações. o contexto brasileiro. Dentre estes estudos, nove
A última fase do processo de tradução e de realizaram somente um método de avaliação da
adaptação de um instrumento avaliativo, segundo fidedignidade e oito trabalhos fizeram uso de dois
Beaton e cols. (2002), deveria ser um pré-teste ou um procedimentos técnicos nessa direção. Somente o
teste piloto com a nova versão do material, em um estudo de Pereira, Costa, Geocze, Borim, Ciconelli e
grupo de 30 a 40 participantes. Estes, por sua vez, Camacho-Lobato (2007) recorreu a três métodos
deveriam ser entrevistados logo após responder ao distintos para avaliar a fidedignidade em seus
instrumento, com o objetivo de informar sobre sua instrumentos de avaliação (teste-reteste, inter-
apreciação no tocante à qualidade do item e do material observador e consistência interna).
em si, oferecendo ricos dados sobre a aplicabilidade do Para analisar a precisão em um instrumento de
mesmo. Essa fase final foi descrita por 12 dos estudos avaliação, diferentes métodos podem ser utilizados a
apresentados. Ainda assim, os estudos que utilizaram o fim de estimar possíveis fontes de erros, expressos
pré-teste do material variaram sua amostra entre nove e pelos coeficientes de fidedignidade (Urbina, 2007). Os
24 participantes. Apenas um estudo apresentou delineamentos mais empregados nessa direção,
amostra compatível com o que é indicado por Beaton e segundo Nunes e Primi (2010), são: equivalência de
cols. (2002), composta por 40 participantes (Pereira, formas paralelas, consistência interna, estabilidade
Costa, Geocze, Borim & Ciconelli, 2007). temporal (também conhecido como método de teste-
No levantamento bibliográfico realizado não reteste) e precisão de avaliadores.
foram encontradas informações específicas sobre a Dentre esses diferentes procedimentos, o
utilização de bilíngues para testar os instrumentos. método de teste-reteste e o de consistência interna
Sireci (2010) propõe uma metodologia de testagem que foram os mais utilizados nas pesquisas aqui analisadas.
utiliza bilíngues, buscando se aproximar cada vez mais Destes, 11 fizeram uso do teste-reteste. Segundo
da equivalência entre as duas versões do instrumento Anastasi (1977), esse é o método que mais evidencia a
de avaliação (a original e a adaptada). O estudo precisão de um instrumento de exame psicológico,
conduzido por Ribas, Moura e Hutz (2004), no implicando uma segunda aplicação do mesmo, em
entanto, é um exemplo de trabalho brasileiro que momento posterior, guardando-se tempo de dias a
utilizou bilíngues na adaptação de um instrumento de semanas entre as avaliações. Para a autora, “a precisão
avaliação psicológica e que, entretanto, não foi captado do reteste mostra até que ponto os resultados em um
no presente trabalho. Trabalhos dessa natureza podem teste podem ser generalizados para outras ocasiões” (p.
não ter sido recuperados por conta das palavras-chave 93). Vale destacar que o procedimento teste-reteste foi
utilizadas na presente busca bibliográfica. Além disso, denominado em vários dos trabalhos analisados como
os unitermos empregados pelos pesquisadores em suas “reprodutibilidade intra-avaliador/intraobservador”.
publicações científicas podem limitar a visibilidade

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 375

Urbina (2007) e Anastasi e Urbina (2000) análise da fidedignidade. Ambas as nomenclaturas


ressaltam a importância da especificação do intervalo foram utilizadas pelos estudos para denominação do
de tempo transcorrido entre as aplicações, quando este método em questão. De acordo com Anastasi e Urbina
procedimento de teste-reteste é usado. Segundo as (2000), a fidedignidade do avaliador é realizada a partir
autoras, não há um período de intervalo fixo que possa da avaliação do mesmo instrumento por dois ou mais
ser preconizado, no entanto, deve-se atentar às profissionais, independentemente. Assim, os resultados
possíveis consequências inerentes à escolha do obtidos são comparados e o coeficiente de correlação
intervalo entre teste e reteste. Essa escolha deve-se resultante constitui-se na medida de fidedignidade do
basear nas características da população investigada avaliador. Esse método é geralmente utilizado quando
(estágio de desenvolvimento, presença de patologias, há indícios de que fatores subjetivos possam influenciar
por exemplo), assim como nos aspectos do na avaliação de um instrumento (Urbina, 2007). Dessa
instrumento utilizado (objetivos do teste, maneira, a fidedignidade do avaliador permite indicar a
comportamento que pretende medir ou predizer, entre coerência entre avaliações de determinada atividade,
outras características). realizadas por profissionais diferentes (Nunes & Primi,
Todos os estudos aqui examinados e que 2010).
utilizaram esse procedimento na análise da Dentre as pesquisas analisadas neste atual
fidedignidade especificaram o tempo do intervalo entre levantamento bibliográfico, nenhuma examinou a
teste e reteste variando de uma hora a trinta dias. De equivalência de formas paralelas como estratégia de
acordo com Urbina (2007), intervalos muito curtos análise da fidedignidade do instrumento avaliativo.
podem ser suscetíveis a efeitos de aprendizagem Ainda em relação aos possíveis métodos de análise da
(associados à memória), podendo afetar os escores na precisão dos instrumentos de avaliação, um dos
repetição da medida. Alguns dos estudos que utilizaram estudos analisados citou que foi utilizado o coeficiente
intervalo bastante curto na reaplicação referem-se a de correlação de duas metades, porém sem esclarecer,
instrumentos que avaliam presença ou intensidade de com detalhes, os procedimentos empregados.
sintomas, ou construtos relacionados à qualidade de A análise da fidedignidade em instrumentos de
vida. Segundo os pesquisadores, o tema em foco nesses avaliação é de suma importância. Como enfatiza
estudos voltava-se a condições temporárias ou Thompson (2003), ela deve ser testada em todos os
vivências situacionais. Nesse sentido, o curto intervalo estudos, principalmente pelo fato de que a
de tempo entre teste e resteste poderia estar justificado, fidedignidade é uma questão de precisão dos escores e
uma vez que abordaram construtos ou estados mais não do instrumento em si, havendo grande chance de
propensos a flutuações do que aqueles relacionados, que sofra variações entre grupos com características
por exemplo, a habilidades e aptidões (Urbina, 2007). distintas. Além disso, o autor acrescenta que escores
Dos trabalhos analisados neste levantamento, pouco precisos comprometem resultados de estudos e
11 recorreram também ao método da consistência avaliações, uma vez que podem inviabilizar análises de
interna. De acordo com a definição de Urbina (2007) validade no mesmo instrumento e fornecer evidências
“medidas de consistência interna são procedimentos pouco confiáveis, tanto estatisticamente, quanto para a
estatísticos que procuram avaliar a extensão da prática.
inconsistência entre os itens de um teste” (p. 133). Esse
método avalia a precisão baseando-se nos dados de Validade
apenas uma aplicação e uma única forma do A validade, em um teste psicológico, refere-se
instrumento. àquilo que é medido por ele e o quão eficazmente ele o
O método de consistência interna é um dos faz (Anastasi & Urbina, 2000). Nesse sentido, deve-se
mais conhecidos e utilizados, principalmente na levar em conta o que o teste se propõe a medir, além
avaliação da fidedignidade de escalas e instrumentos de considerar os conceitos implicados nessa medida
com um número variado de itens. O fato de a maioria (Fachel & Camey, 2000). Messick (1995) faz uma
dos estudos analisados tratarem da adaptação de ressalva de que a validade não diz respeito a uma
escalas, questionários e inventários (que são qualidade do instrumento de avaliação psicológica em
instrumentos compostos por vários itens), pode si, mas de seus escores e das inferências realizadas a
justificar o amplo uso desse método dentre eles. partir de suas interpretações.
Por fim, cabe destacar que cinco dos estudos Ao se retomarem, mais uma vez, as evidências
aqui analisados apontaram a utilização da sistematizadas na Tabela 1, sobre os estudos avaliados
reprodutibilidade inter-avaliador/interobservador ou na presente revisão, nota-se que 16 deles realizaram
“fidedignidade do avaliador” como método para algum procedimento relativo à análise da validade na

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


376 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

adaptação de seus instrumentos de avaliação para o justificar o fato de a maioria dos estudos analisados
contexto brasileiro. Dez desses estudos analisaram terem utilizado esse método para avaliar a validade.
somente um tipo de evidência de validade, mas outros Posteriormente, a validade relacionada a
cinco trabalhos recorreram a dois processos de conteúdo, assim classificada pelos estudos analisados,
validação. Somente dois estudos realizaram mais de foi efetivada em sete dos trabalhos aqui examinados,
três procedimentos na análise da validade de seu recorrendo a análises por comitês de especialistas.
instrumento adaptado para o Brasil. Como ressaltam Cassep-Borges e cols. (2010), a
A edição de 1985 do manual The Standards for validação de conteúdo compreende “estudos que
Educational and Psychological Testing (AERA, APA & investigam a clareza, a representatividade e a relevância
NCME, 1985) agrupou as evidências de validade em dos itens” (p. 511) de um instrumento de avaliação.
três categorias principais: validade relacionada a Normalmente, esse tipo da validação não exige cálculo
conteúdo, validade relacionada a critério e validade estatístico adicional, resultando, assim, do julgamento
relacionada a construto. Já na edição de 1999 (AERA, de pessoas com amplo conhecimento na área do
APA & NCME, 1999) houve a preocupação de conceito teórico investigado, denominadas juízes
salientar que o conceito de validade é unitário, ou seja, (Fachel & Camey, 2000).
há diferentes processos de validação que permitem A validade relacionada a critério, por sua vez,
demonstrar diversos aspectos desse conceito, mas não esteve presente em cinco dos estudos examinados no
tipos diferentes de validade. Essa nova classificação presente levantamento. Segundo Nunes e Primi (2010),
engloba os tipos de evidência de validade descritos na esse processo de validade caracteriza-se como um dos
edição de 1985 (AERA, APA & NCME, 1985), porém métodos mais importantes na avaliação da
mediante nova nomenclatura e novo agrupamento. aplicabilidade do instrumento, no que diz respeito,
Vale ressaltar que o crivo avaliativo utilizado pelo sobretudo, a diagnósticos. A validade relacionada a
Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos critério permite diferenciar grupos com características
(SATEPSI – Conselho Federal de Psicologia) para a distintas, constituindo-se em um procedimento
verificação da qualidade dos testes psicológicos baseia- bastante relevante para a demonstração da utilidade do
se nessa nova classificação de validade (Nunes & Primi, instrumento de avaliação. Esse tipo de validação pode
2010). ser do tipo preditivo ou concorrente (Fachel & Camey,
Observou-se, no presente levantamento 2000). Todos os estudos aqui examinados que
bibliográfico, que a maioria dos estudos analisados apresentaram validade relacionada a critério utilizaram
utilizou a nomenclatura de classificação dos tipos de o delineamento do tipo concorrente, ou seja, a
evidência de validade descrita na edição de 1985 do verificação do diagnóstico ou da característica clínica
manual The Standards for Educational and Psychological particular de cada grupo avaliado foi realizada
Testing (AERA, APA & NCME, 1985). Portanto, simultaneamente à administração do instrumento em
optou-se por adotá-la nas análises descritas a seguir. adaptação, ou em períodos próximos (Nunes & Primi,
Dentre as diferentes categorias de evidências 2010).
de validade, a validade relacionada a construto, do tipo O predomínio da validade concorrente sobre a
convergente, esteve presente em 11 dos estudos preditiva, dentre estudos analisados, pode ser explicado
analisados. Segundo Fachel e Camey (2000), a validade por critérios práticos. Anastasi (1977) salienta que
relacionada a construto verifica o alcance do estudos de validade concorrente são mais utilizados e,
instrumento em relação ao domínio de investigação, ou algumas vezes, até substituem a validade preditiva, já
seja, o quanto ele mede o traço ou conceito teórico que que esta se torna frequentemente impraticável pela
se propõe a medir. Para isso, todos os estudos questão do tempo entre a administração do
analisados que fizeram uso desse tipo de evidência de instrumento e o critério preditivo, além da difícil
validade realizaram-na pela comparação do obtenção de amostra pré-selecionada adequada para
instrumento em adaptação com outros tipos de essa finalidade.
medidas já validados e que examinam característica Por fim, a validade de face, como foi
similar, caracterizando a validade convergente (Nunes classificada nos estudos analisados, foi a menos
& Primi, 2010). frequente nesta revisão, observada em três estudos.
Segundo Urbina (2007), os estudos que Também conhecida como “validade aparente”, esta
realizam correlações entre resultados de diferentes avalia, de modo superficial, se o instrumento parece ou
instrumentos de avaliação são bastante frequentes, uma não válido à população à qual será administrado
vez que podem se pautar em amostras de conveniência, (Anastasi & Urbina, 2000). Refere-se, principalmente, à
facilitando o processo de coleta de dados. Isso pode forma de apresentação de seu conteúdo, à linguagem

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 377

utilizada e avalia se os termos usados são apropriados os objetivos para os quais o instrumento de avaliação
ao grupo específico ao qual o instrumento será foi elaborado e será utilizado.
aplicado (Fachel & Camey, 2000). Da mesma forma
que a validade de conteúdo propriamente dita, a Considerações finais
validade de face não requer análise estatística, sendo, de
modo geral, determinada por especialistas da área O levantamento bibliográfico realizado fornece
(Fachel & Camey, 2000). Vale ressaltar que os estudos um panorama geral de como têm sido efetuadas as
na presente revisão consideraram a avaliação de adaptações transculturais de instrumentos de avaliação
especialistas, assim como a de indivíduos componentes psicológica no Brasil. Podem ser apreendidas
da população-alvo à qual o instrumento seria aplicado. tendências que representam a prática em relação à
Dessa forma, pretendia-se garantir a adequação dos adaptação de instrumentos de avaliação não somente
itens do instrumento baseada na compreensão e no no âmbito da ciência psicológica, mas também em
entendimento dos mesmos por pessoas com as outras áreas do conhecimento. No entanto, como já foi
mesmas características do público-alvo. mencionado, alguns estudos que também realizaram
Além disso, todos esses estudos fizeram uso, adaptações podem não ter sido recuperados na
concomitantemente à validade de face, de outro presente revisão, especialmente pelas palavras-chave
procedimento de validação (de conteúdo propriamente utilizadas na busca bibliográfica, dada a falta de
dito ou de construto), o que concorda com as uniformidade entre os termos que se referem a esta
recomendações da International Test Comission (2003). metodologia. É importante considerar também que,
Segundo suas diretrizes, dever-se-ia evitar o julgamento por se tratar de uma revisão abrangente, a análise
de um instrumento de avaliação unicamente com base realizada pode não ter considerado peculiaridades de
em sua validade aparente. Nesse mesmo sentido, cada estudo que mereceriam destaque em análises mais
Anastasi e Urbina (2000) apontam que esse tipo de específicas, ou mais pontuais, ultrapassando as
validade não pode substituir aquela determinada de possibilidades de uma abordagem panorâmica sobre o
forma objetiva, sendo necessário, além da validade de tema, como aqui adotada.
face, avaliar a validade do instrumento em sua forma Foi possível observar que a maioria dos
final. estudos recuperados na presente revisão seguem
Embora cerca de 60% da totalidade dos diretrizes internacionais e nacionais de adaptação de
estudos analisados nesta revisão tenham realizado instrumentos. Entre os mais citados estão Bunchaft e
algum tipo de análise de validade na adaptação de seus Cavas (2002), Guillemin, Bombardier e Beaton (1993),
instrumentos, esse número pode ser considerado Vallerand (1989) e aquelas da Organização Mundial da
pequeno diante da relevância das evidências de validade Saúde (Beaton & cols., 2002). Essas diretrizes técnicas
nos processos de adaptação de instrumentos de norteiam a utilização dos instrumentos de avaliação
avaliação. Segundo o manual The Standards for psicológica, bem como a qualidade dos processos de
Educational and Psychological Testing (AERA, APA & adaptações em todo o mundo, contribuindo para a
NCME, 1999), a validade constitui-se em análise validade de pesquisas transculturais (Hambleton, 2005).
fundamental no desenvolvimento de instrumentos de Do ponto de vista dos controles
avaliação, sendo responsabilidade de quem cria a metodológicos, alguns estudos se destacam em relação
técnica, daquele que o adapta para outra cultura, assim a diferentes critérios utilizados em seus procedimentos
como do profissional que a utiliza, uma vez que os técnicos. Entre eles estão estudos cuja escolha
dados de validade fornecem evidências e criteriosa e a qualificação dos juízes e profissionais que
fundamentação teórica para seu uso pretendido. participaram dos procedimentos de adaptação dos
Nesse sentido, considerando a validade como instrumentos valorizam e fortalecem o rigor
conceito único e seus diferentes processos como vários metodológico do trabalho, como, por exemplo, o
aspectos desse mesmo conceito (AERA, APA & trabalho desenvolvido por Mendes, Travassos, Martins
NCME, 1999), torna-se relevante, dentre os estudos de e Marques (2008). Há estudos que esclarecem quais
adaptação cultural de instrumentos de avaliação foram os critérios de inclusão e exclusão dos
psicológica, colecionar o maior número possível dessas participantes e apresentam a caracterização da amostra
evidências empíricas e técnicas, garantindo a esses (por exemplo, de Mengarda, Passos, Picon, Costa &
instrumentos graus satisfatórios da validade de seus Picon, 2008) e estudos que deixam claros os critérios
escores e das inferências realizadas a partir de suas levados em consideração para escolha do instrumento a
interpretações. Para tanto, deve-se sempre ter em foco ser adaptado, como o realizado por Levitan,
Nascimento, Freire, Mezzasalma e Nardi (2008).

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


378 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

Cassep-Borges e cols. (2010) ressaltam que, empenho de vários pesquisadores da área, resultando
levando em consideração aspectos éticos, o primeiro na publicação do CFP (2010) relativa à avaliação
passo para realizar a adaptação de um instrumento é psicológica no Brasil.
solicitar a autorização formal do autor para sua As análises realizadas na atual revisão
utilização. Os trabalhos de Sant’Anna, Blascovi-Assis e bibliográfica pretendem fornecer parâmetros de ações
Magalhães (2008) e Camargo e Contel (2004) contaram para pesquisadores e para profissionais que realizam
não somente com a autorização para o trabalho com o avaliações psicológicas, tendo sido efetivadas sob a luz
instrumento, mas também descrevem contatos de importantes publicações científicas que norteiam a
posteriores com os autores (envio da retrotradução, prática da adaptação de instrumentos de avaliação
participação na versão final). Além de demonstrar rigor psicológica no Brasil. Dessa maneira, espera-se que
e cuidados em relação à versão original produzida, o estudos futuros que se proponham a adaptar
contato com os autores é fonte de possibilidades de instrumentos de avaliação para o contexto brasileiro,
trocas científicas enriquecedoras entre pesquisadores. tenham a preocupação de incluir em seus
É preciso destacar também a importância da procedimentos, além da tradução, as análises da
descrição detalhada do método. Como salientam Van precisão e da validade nessas medidas, com o intuito de
de Vijver e Poortinga (2010), a descrição da ordem dos disponibilizarem instrumentos suficientemente
instrumentos aplicados ou da forma de aplicação de pautados em termos científicos e adequados para o
cada um deles, bem como das análises dos dados uso, proporcionando expansão dos estudos e
realizadas são fundamentais para garantir a qualificação profissional nessa área.
replicabilidade e a confiabilidade do estudo, além de
evitar vieses metodológicos. A descrição dos Referências
instrumentos utilizados nos procedimentos de validade
convergente ou divergente, por exemplo, é AERA, APA & NCME – American Educational
fundamental nos procedimentos, ou os índices Research Association, American Psychological
apresentados como resultados não podem ser Association & National Council on Measurement
considerados suficientes e significativos pelo in Education (1985). The standards for educational and
pesquisador que examina o tema. psychological testing. Washington: American
No que diz respeito à análise da fidedignidade e Educational Research Association.
da validade, essas são qualidades atribuídas aos escores
AERA, APA & NCME – American Educational
e à interpretação de seus resultados, não sendo
Research Association, American Psychological
propriedades do instrumento em si. Isso implica que,
Association & National Council on Measurement
em diferentes grupos, com características e contextos
in Education (1999). The standards for educational and
distintos, a precisão, assim como a validade, deveriam
psychological testing. Washington: American
ser verificadas, sendo imprescindíveis nos processos de
Educational Research Association.
adaptação transcultural de instrumentos de avaliação.
Como enfatiza Thompson (2003), a análise da Anache, A. A. & Reppold, C. T. (2010) Avaliação
fidedignidade dos escores é tão significativa que sua psicológica: implicações úteis. Em CFP, Avaliação
imprecisão pode comprometer, ou até mesmo Psicológica: diretrizes na regulamentação da profissão. (pp.
inviabilizar os estudos de validade no mesmo 57-85). Brasília: CFP.
instrumento. Escores pouco precisos dificilmente
Anastasi, A. & Urbina, S. (2000). Testagem Psicológica. (M.
garantem a avaliação, de forma adequada, de
A. V. Veronese, Trad.). Porto Alegre: Artes
construtos específicos. Dessa forma, pode-se
Médicas. (Original publicado em 1997).
considerar que a precisão e a validade são análises
complementares, e que ambas devem estar presentes Bandeira, M., Calzavara, M. G. P. & Varella, A. A. B.
nos processos de adaptação transcultural de (2005). Escala de sobrecarga dos familiares de
instrumentos de avaliação (CFP, 2010). pacientes psiquiátricos: adaptação transcultural
Diante de algumas divergências referentes à para o Brasil (FBIS-BR). Jornal Brasileiro de
taxonomia das propriedades psicométricas Psiquiatria, 54(3), 206-214.
(fidedignidade e validade), seria de grande utilidade Beaton, D., Bombardier, C., Guillemin, F. & Ferraz, B.
técnica e clareza científica uma padronização desses M. (2002). Recommendations for the cross-cultural
termos, tendo em vista facilitar o uso e a identificação adaptation of health status measures. American
dos mesmos dentro do contexto brasileiro. Dentro Academy of Orthopaedic Surgeons. Institute for
desta perspectiva pode-se compreender o esforço e o Work & Health.

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 379

Bunchaft, G. & Cavas, C. S. T. (2002). Sob medida: um instruments to the Brazilian Portuguese language.
guia sobre a elaboração de medidas do Pro Fono, 20(3), 207-210.
comportamento e suas aplicações. São Paulo,
Gobitta, M. & Guzzo, R. S. L. (2002). Estudo inicial do
Vetor.
Inventário de Auto-Estima (SEI): Forma A/ initial
Camargo, I. B. & Contel, J. O. B. (2004). Tradução e study of the Self-Esteem Inventory (SEI): Form
adaptação de questionários norte-americanos para A. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(1), 143-150.
a avaliação de habilidades e conhecimentos na
Goldfeld, P. R. M., Wiethaeuper, D., Terra, L.,
prática psiquiátrica brasileira. Revista de Psiquiatria
Baumgardt, R., Lauermann, M., Mardini, V.,
do Rio Grande do Sul, 26(3), 288-299.
Abuchaim, C., Sordi, A., Soares, L. & Ceitlin, L.
Cassep-Borges, V., Balbinotti, M. A. A. & Teodoro, M. H. F. (2007). Adaptação transcultural do Inventory
L. M. (2010). Tradução e validação de conteúdo: of Countertransference Behavior (ICB) para o
uma proposta para a adaptação de instrumentos. português brasileiro. Revista de Psiquiatria do Rio
Em L. Pasquali e cols., Instrumentação psicológica: Grande do Sul, 29(1), 56-62.
fundamentos e práticas. (pp. 506-520). Porto-Alegre:
Gonçalves, A. M. S. & Pillon, S. C. (2009). Adaptação
Artmed.
transcultural e avaliação da consistência interna da
Ciconelli, R. M., Soárez, P. C., Kowalski, C. C G. & versão em português da Spirituality Self Rating
Ferraz, M. B. (2006). The Brazilian Portuguese Scale (SSRS). Revista de Psiquiatria Clínica, 36(1),
version of the Work Productivity and Activity 10-15.
Impairment: General Health (WPAI-GH)
Guillemin, F. Bombadier, C. & Beaton, D. (1993).
Questionnaire. São Paulo Medical Journal, 124(6),
Cross-cultural adaptation of health-related quality
325-33.
of life measures: literature review and proposed
CFP – Conselho Federal de Psicologia. (2003). Resolução guidelines. Journal of Clinical Epidemiology, 46(12),
CFP 02/2003: define e regulamenta o uso, a elaboração e 1417-1432.
a comercialização de testes psicológicos. Brasília: CFP.
Haase, V. G., Lacerda, S. S., Lima, E. P., Corrêa, T. D.,
Echevarría-Guanilo, M. E., Rossi, L. A. Dantas, Brito, D. C. S. & Lana-Peixoto, M. A. (2004).
Rosana A. S. & Santos, C. B. (2006). Adaptação Avaliação do funcionamento psicossocial na
transcultural da “Burns Specific Pain Anxiety Scale esclerose múltipla: características psicométricas de
– BSPAS” para ser aplicada em pacientes quatro medidas de auto-relato. Arquivos de
queimados brasileiros. Revista Latino-Americana de Neuropsiquiatria, 62(2A), 282-291.
Enfermagem, 14(4), 526-533.
Hambleton, R. K. (2005). Issues, designs, and technical
Fachel, J. M. G. & Camey, S. (2000). Avaliação guidelines for adapting test into multiple languages
psicométrica: a qualidade das medidas e o and cultures. Em R. K. Hambleton, P. F. Merenda
entendimento dos dados. Em J. A. Cunha (Org.). & C. D. Spielberger. Adapting educational and
Psicodiagnóstico – V (pp. 158-176). Porto Alegre: psychological tests for cross-cultural assessment (pp. 3-38).
Artmed. Londres: LEA.
Gambaro, R. C., Santos, F. C., Thé, K. B., Castro, L. A. ITC – International Test Commission (2003). Diretrizes
& Cendoroglo, M. S. (2009). Avaliação de dor no para o uso de testes (Instituto Brasileiro de Avaliação
idoso: proposta de adaptação do Geriatric Pain Psicológica, Trad.). Campinas. (Original publicado
Measure para a língua portuguesa. Revista Brasileira em 2000).
de Medicina, 66(3), 62-65.
Leme, L., Saccol, M., Barbosa, G., Ejnisman, B.,
Geisinger, K. F. (1994). Cross-cultural normative Faloppa, F. & Cohen, M. (2010). Validação,
assessment: translation and adaptation issues reprodutibilidade, tradução e adaptação cultural da
influencing the normative interpretation of escala Athletic Shoulder Outcome Rating Scale
assessment instruments. Psychological Assessment, para a língua portuguesa. Revista Brasileira de
6(4), 304-312. Medicina, 67(supl.3), 29-38.
Giusti, E. & Befi-Lopes, D. M. (2008). Tradução e Levitan, M. N., Nascimento, I., Freire, R. C.,
adaptação transcultural de instrumentos Mezzasalma, M. A. & Nardi, A. E. (2008).
estrangeiros para o Português Brasileiro (PB)/ Equivalência semântica da versão brasileira da
translation and cross-cultural adaptation of Social Avoidance and Distress Scale (SADS).

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


380 Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica

Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 30(1), 49- Pereira, G. I. N, Costa, C. D. S., Geocze, L., Borim, A.
58. A., Ciconelli, R. M. & Camacho-Lobato, L. (2007).
Tradução e validação para a língua portuguesa
Medeiros, M. E. & Guerra, R. O. (2009). Tradução,
(Brasil) de instrumentos específicos para avaliação
adaptação cultural e análise das propriedades
de qualidade de vida na doença do refluxo
psicométricas do Activities of Daily Living
gastroesofágico. Arquivos de Gastroenterologia, 44(2),
Questionnaire (ADLQ) para avaliação funcional
168-177.
de pacientes com a doença de Alzheimer. Revista
Brasileira Fisioterapia, 13(3), 257-266. Ribas Jr, R. C., Moura, M. L. S & Hutz, C. S. (2004).
Adaptação brasileira da Escala de Desejabilidade
Mendes, W., Travassos, C., Martins, M. & Marques, P.
Social de Marlowe Crowne. Avaliação Psicológica,
M. (2008). Adaptação dos instrumentos de
3(2), pp. 83-92.
avaliação de eventos adversos para uso em
hospitais brasileiros/ Adjustment of adverse Saliba, V. A., Chaves Júnior, I. P., Faria, C. D. C. M. &
events assessment forms for use in Brazilian Teixeira-Salmela, L. F. (2008). Propriedades
hospitals. Revista Brasileira de Epidemiologia, 11(1), psicométricas da motor activity log: uma revisão
55-66. sistemática da literatura. Fisioterapia em Movimento,
21(3), 59-67.
Mengarda, C. V., Passos, E. P., Picon, P., Costa, A. F.
& Picon, P. D. (2008). Validação de versão para o Sant’Anna, M. M. M., Blascovi-Assis, S. M. &
português de questionário sobre qualidade de vida Magalhães, L. C. (2008). Adaptação transcultural
para mulher com endometriose (Endometriosis dos protocolos de avaliação do modelo lúdico.
Health Profile Questionnaire – EHP-30). Revista. Revista de Terapia Ocupacional, 19(1), 34-47.
Brasileira de Ginecologia e Obstetricia, 30(8), 384-392.
Sardinha, A., Nardi, A. E. & Eifert, G. H. (2008).
Messick, S. (1995). Validity of psychological Tradução e adaptação transcultural da versão
assessement: validation of inferences from brasileira do Questionário de Ansiedade Cardíaca.
persons’ response and performances as scientific Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 30(2), 139-
inquiry into score meaning. American Psychologist, 149.
50, 741-749.
Sardinha, A., Levitan, M. N, Lopes, F. L., Perna, G.,
Moriguchi, C. S., Alem, M. E. R., Veldhoven, M. & Esquivel, G., Griez, E. J. & Nardi, A. E. (2010).
Coury, H. J.C. G. (2010). Cultural adaptation and Tradução e adaptação transcultural do
psychometric properties of Brazilian Need for Questionário de Atividade Física Habitual. Revista
Recovery Scale/ Adaptação cultural e parâmetros de Psiquiatria Clínica, 37(1), 16-22.
psicométricos da versão brasileira da “Need for
Sireci, S. G. (2010) Using bilinguals to evaluate the
Recovery Scale”. Revista de Saúde Publica, 44(1),
comparability of different langague versions of a
131-13.
test. Em R. K. Hambleton, P. F. Merenda & C. D.
Neves, F. S., Caldas, C. A. M., Medeiros, D. M., Spielberger. (Eds.). Adapting educational and
Moraes, J. C. B. & Gonçalves, C. R. (2009). psychological tests for cross-cultural assessment (pp. 117-
Adaptação transcultural da versão simplificada (s) 137). Londres: LEA.
do Behçet’s Disease Current Activity Form
Thompson, B. (2003). Score reliability: contemporary
(BDCAF) e comparação do desempenho das
thinking on reliability issues. Thousand Oaks, CA:
versões brasileiras dos dois instrumentos de
Sage.
avaliação da atividade da Doença de Behçet: BR-
BDCAF e BR-BDCAF(s). Revista Brasileira de Torres, H. C., Hortale, V. A. & Schall, V. T. (2005).
Reumatologia, 49(1), 20-31. Validação dos questionários de conhecimento
(DKN-A) e atitude (ATT-19) de diabetes mellitus.
Novato, T. S., Grossi, S. A. A. & Kimura, M. (2007).
Revista de Saúde Publica, 39(6), 906-911.
Instrumento de qualidade de vida para jovens com
diabetes (IQVJD). Revista Gaúcha de Enfermagem, Torriani, D. D., Teixeira, A. M., Pinheiro, R.,
28(4), 512-519. Goettems, M. L. & Bonow, M. L. M. (2008).
Adaptação transcultural de instrumentos para
Pasquali, L. (2001). Técnicas de exame psicológico volume i:
mensurar ansiedade e comportamento em clínica
fundamentos das técnicas psicológicas. São Paulo: Casa
odontológica infantil. Arquivos do Centro de Estudos
do Psicólogo.
do Curso de Odontologia, 44(4), 17-23.

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011


Manzi-Oliveira, A. B. & Cols. Adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica 381

Urbina, S. (2007). Fundamentos de testagem psicológica (C. Werlang, B. S. G., Villemor-Amaral, A. E. &
Dornelles, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Original Nascimento, R. S. G. F. (2010). Avaliação
publicado em 2004). psicológica, testes e possibilidades de uso. Em
Conselho Federal de Psicologia. (Org.). Avaliação
Vallerand, R. J. (1989). Vers une méthodologie de
psicológica: diretrizes na regulamentação da profissão (pp.
validation transcuturelle de questionnaires
87-100). Brasília: Conselho Federal de Psicologia.
psychologiques: implications pour la recherche en
langue française. Psychologie Canadienne, 30, 662-680. Yusuf, S. A. I., Jorge, J. M. N., Habr-Gama, A., Kiss,
D. R. & Rodrigues, J. G. (2004). Avaliação da
Van de Vijver, F. J. R. & Poortinga, Y. H. (2010).
qualidade de vida na incontinência anal: validação
Conceptual and methodological issues in adapting
do questionário FIQL (Fecal Incontinence Quality
tests. Em R. K. Hambleton, P. F. Merenda & C.
of Life). Arquivos de Gastroenterologia, 41(3), 202-
D. Spielberger. (Eds.). Adapting educational and
208.
psychological tests for cross-cultural assessment. (pp. 39-
63). Londres: LEA. Recebido em 27/04/2011
Reformulado em 12/10/2011
Aprovado em 01/11/2011

Sobre as autoras:

Alana Batistuta Manzi-Oliveira é psicóloga (FFCLRP-USP), mestranda (FAPESP) em Psicologia pela Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Desenvolvimento e Intervenção Psicossocial (GEPDIP). Atua na área de Avaliação Psicológica de Adolescentes em
conflito com a Lei (adaptação transcultural de instrumentos de avaliação de personalidade).

Fernanda Belinassi Balarini é psicóloga (FFCLRP-USP), mestranda (FAPESP) em Neurologia, especialidade


Neuropsicologia, pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Pesquisadora do Departamento de
Neurociências e Ciências do Comportamento, atua na área de Avaliação Neuropsicológica em Idosos (adaptação
transcultural de instrumentos de avaliação neuropsicológica).

Letícia Aparecida da Silva Marques é psicóloga (FFCLRP-USP), especialista técnica em Psicologia


(FUNDHERP), mestranda (FAPESP) em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto-USP. Pesquisadora do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Psicologia da Saúde. Atua na área de psicologia
hospitalar (avaliação de qualidade de vida).

Sonia Regina Pasian é psicóloga (FFCLRP-USP), professora associada do Departamento de Psicologia da


Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP. É, ainda, coordenadora do Centro de Pesquisas em
Psicodiagnóstico – FFCLRP-USP, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Rorschach e
Métodos Projetivos (ASBRo) e editora associada da revista Avaliação Psicológica (IBAP).

Psico-USF, v. 16, n. 3, p. 367-381, set./dez. 2011

Você também pode gostar