Você está na página 1de 13

A Bíblia menciona mais de um Dízimo?

Estudo - Pr. Natanael Benvindo

Quantos dízimos são mencionados na Bíblia? Quais são os propósitos para os


dízimos descritos na Palavra de Deus?

Dízimo dos Levitas


Dízimo dos dízimos
Dízimo das festas
Dízimo dos Pobres
(Para melhor entendimento, os respectivos dízimos serão identificados também por cores seletivas.)

O DÍZIMO PARA A OBRA DE DEUS


O primeiro dízimo e o dízimo dos dízimos
Também todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das
árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR. Levítico 27:30
Sob a Sua aliança com Israel, Deus ordenou a Seu povo a dar Seu dízimo aos
Seus representantes na época, os levitas e sacerdotes.
Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que
prestam, serviço da tenda da congregação. Números 18:21
Deus deu um dízimo (o primeiro
dízimo) aos levitas para sustentá-los na
realização de suas responsabilidades em
transmitir ao povo de Deus a maneira correta
de adoração. As pessoas das outras tribos não
deviam usar esse dízimo para quaisquer fins
pessoais, pois era para ser dado todo
aos levitas.
E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não
levem sobre si o pecado e morram. Mas os levitas farão o serviço da tenda da
congregação e responderão por suas faltas; estatuto perpétuo é este para todas as
vossas gerações. E não terão eles nenhuma herança no meio dos filhos de Israel.
Porque os dízimos¹ dos filhos de Israel, que apresentam ao SENHOR em oferta,
dei-os por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de
Israel, nenhuma herança tereis. Números 18:21-24
Deus deu esse dízimo de forma integral a toda tribo de Levi. Isto é, as famílias
(homens com suas mulheres, filhos e filhas solteiras) que descendiam da tribo de
Levi eram sustentadas por um dízimo, como podemos ler: “dei-os por herança
aos levitas”.
Depois que os levitas recebiam o primeiro dízimo dos filhos de Israel, eles, por
sua vez, ficavam obrigados a separarem um dízimo desse primeiro dízimo, que é a
décima parte do primeiro dízimo entregues pelo povo de Israel, ou seja, 1% dos 10%
que o povo trazia pertencia ao sacerdote. Esse era o dízimo do dízimo. O sacerdócio
recebia assim 1 % do produto nacional, habilitando-o a devotar todo o seu tempo ao
seu designado serviço de Deus. Esta provisão para o sacerdócio, embora abundante,
contrastava com o luxo e o poder financeiro alcançado pelo sacerdócio de nações
pagãs. No Egito, por exemplo, os sacerdotes eram proprietários de terras (Gn. 47:22,
26), e, por manobras astutas, por fim se tornaram os homens mais ricos e mais
poderosos do Egito.
Disse o SENHOR a Moisés: Também falarás aos levitas e lhes dirás: Quando
receberdes os dízimos da parte dos filhos de Israel, que vos dei por vossa herança,
deles apresentareis uma oferta ao SENHOR: o dízimo dos dízimos. Atribuir-se-vos-
á a vossa oferta como se fosse cereal da eira e plenitude do lagar. Assim, também
apresentareis ao SENHOR uma oferta de todos os vossos dízimos que receberdes
dos filhos de Israel e deles dareis a oferta do SENHOR a Arão, o sacerdote.

De todas as vossas dádivas apresentareis toda oferta do SENHOR: do melhor delas,


a parte que lhe é sagrada. Portanto, lhes dirás: Quando oferecerdes o melhor que há
nos dízimos, o restante destes, como se fosse produto da eira e produto do lagar, se
contará aos levitas. Comê-lo-eis em todo lugar, vós e a vossa casa, porque é vossa
recompensa pelo vosso serviço na tenda da congregação. Pelo que não levareis sobre
vós o pecado, quando deles oferecerdes o melhor; e não profanareis as coisas
sagradas dos filhos de Israel, para que não morrais. (Números 18:25-32)

Nota: ¹ A palavra “dízimos” se encontra aqui no plural, não necessariamente porque se trata de vários tipos
de dízimos, mas por causa da variedade dos produtos a serem ofertados.

Deus disse a Moisés que os levitas, quando recebessem


dos israelitas o primeiro dízimo, eles deveriam dar a
décima parte desses dízimos como oferta especial a
Deus. Essa oferta especial era como se fosse a oferta que
os israelitas faziam do primeiro cereal e do primeiro
vinho. Então, do primeiro dízimo que eles recebessem
dos israelitas, os levitas deveriam dar também uma
oferta especial que pertence a Deus. Os levitas deveriam
entregar esse dízimo dos dízimos ao sacerdote Arão.
E das ofertas que eles recebiam deviam dar a melhor parte para o Senhor. Depois
que os levitas davam a melhor parte para o SENHOR, eles poderiam ficar com o
restante, Assim como faziam o povo que, depois de darem todas suas ofertas,
ficavam com o que sobrava.

O primeiro dízimo era para ser dado integralmente aos levitas.


O doador individual não podia usar nada dele para consumo pessoal.
É importante ter isso em mente enquanto examinamos outras instruções de Deus
sobre o dízimo.

O DÍZIMO PARA GUARDAR AS FESTAS DE DEUS


Muitas pessoas desconhecem que Deus instituiu sete festas anuais (Levítico 23) para
que o povo de Israel celebrasse. Essas ocasiões especiais do ano são chamadas de
“santas convocações” (versículos 2-4), reuniões ou encontros sagrados em que o
povo de Deus devia se juntar em assembleia. Assim como o Sábado semanal, Deus
também separou para Si esses festivais como sagrados para Ele.

Deus nos mostra em Sua Palavra que


essas festas sagradas eram ocasiões
dedicadas ao culto coletivo e abstenção
do trabalho secular. Elas serviam para
instruir o povo de Deus sobre o Seu
maravilhoso plano de salvação. São
recordações da intervenção de Deus em
favor do povo de Israel e de eventos
precursores significativos no
cumprimento de Seu plano divino.

A Bíblia registra que, em várias


ocasiões―quando um líder justo trazia o
povo de Deus de volta a Ele em períodos
de engano e negligência no seu relacionamento com Ele―as festas de Deus eram
observadas zelosamente como parte relevante dessa reforma espiritual
(2 Crônicas 30; Esdras 3, 6; Neemias 8).
Uma vez que havia a necessidade de observar essas festas como Deus tinha
ordenado, uma pergunta surge naturalmente: Onde conseguir os recursos
financeiros para observá-las?

A reunião do povo de Deus para a adoração coletiva muitas vezes envolvia custos
significativos: hospedagem temporária, refeições, transporte etc. Deus dá instruções
sobre como essas despesas da festa deveriam ser pagas? Sem dúvida. Deus deu
instruções a respeito de um dízimo do rendimento anual que é para ser usado para
observar essas festas. Vamos examinar as Escrituras para entender isso.

Deus ordenou a Seu povo para vir em grupo ao local que Ele iria escolher para se
observar as festas santas anuais. Quando viessem a esse lugar, eles tinham a ordem
de trazer seus dízimos.

A esse lugar fareis chegar os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos


dízimos, e a oferta das vossas mãos, e as ofertas votivas, e as ofertas voluntárias, e
os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. Lá, comereis perante o
SENHOR, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas,
no que vos tiver abençoado o SENHOR, vosso Deus. Deuteronômio 12:6-7
O primeiro dízimo, como já vimos, foi reservado total e exclusivamente para o uso
dos levitas. Mas agora Deus dá algumas instruções sobre um dízimo que era para ser
consumido pelo ofertante, porém não em sua casa. Esse dízimo era para ser
separado e consumido no local central da festa de adoração, exclusivamente durante
as festas anuais. Esse dízimo não pode ser o primeiro dízimo. Haveria uma
contradição lógica, se assim admitíssemos, pois em Números 18 Deus nos diz sobre
o primeiro dízimo “dei-os por herança aos levitas”. O melhor modo de
entendermos essa instrução, que é totalmente estranha ao dízimo dos levitas, como
temos percebido, é considerarmos que aqui está se falando de outro dízimo, o
“dízimo das festas”.

A esse lugar fareis chegar os


vossos holocaustos, e os
vossos sacrifícios, e os
vossos dízimos, e a oferta
das vossas mãos, e as
ofertas votivas, e as ofertas
voluntárias, e os
primogênitos das vossas
vacas e das vossas ovelhas.
Lá, comereis perante o
SENHOR, vosso Deus, e vos
alegrareis em tudo o que
fizerdes, vós e as vossas
casas, no que vos tiver
abençoado o SENHOR,
vosso Deus. [...] Nas tuas
cidades, não poderás comer
o dízimo do teu cereal, nem
do teu vinho, nem do teu
azeite, nem os primogênitos
das tuas vacas, nem das tuas ovelhas, nem nenhuma das tuas ofertas votivas, que
houveres prometido, nem as tuas ofertas voluntárias, nem as ofertas das tuas mãos;
mas o comerás perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que o SENHOR, teu Deus,
escolher, tu, e teu filho, e tua filha, e teu servo, e tua serva, e o levita que mora na tua
cidade; e perante o SENHOR, teu Deus, te alegrarás em tudo o que fizeres. Guarda-
te, não desampares o levita todos os teus dias na terra. (Deuteronômio 12:6-7, 17-
19)

Esta proibição de consumo pessoal em casa seria desnecessária se houvesse apenas


um dízimo, o primeiro dízimo que já foi explicado anteriormente. Deus havia
deixado claro que o primeiro dízimo era para ser dado totalmente aos levitas
(Números 18:21). No entanto, como vimos, em Deuteronômio 12:18, a pessoa recebe
o direito de comer o dízimo que era identificado como parte de sua alegre
observância da festa.
Este dízimo pessoal para uso durante a festa é um dízimo adicional ou segundo
dízimo, e é muito diferente do primeiro dízimo entregue aos levitas.
Em Deuteronômio 14:22-26 Deus dá mais explicações sobre o objetivo desse
segundo dízimo ou dízimo da festa.

Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano
se recolher do campo. E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para
ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu
azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer
o SENHOR, teu Deus, todos os dias. Quando o caminho te
for comprido demais, que os não possas levar, por estar
longe de ti o lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para
ali pôr o seu nome, quando o SENHOR, teu Deus, te tiver
abençoado, então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão,
e vai ao lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher. Esse
dinheiro, dá-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por
vacas, ou ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer
coisa que te pedir a tua alma; come-o ali perante o
SENHOR, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa; (Deuteronômio 14:22-26)

Esse dízimo era para ser usado pelo povo de Deus para desfrutar da abundância de
coisas materiais que Ele providenciava em Suas festas, quando O adoravam e
aprendiam a honrá-Lo e obedecê-Lo de uma maneira que Lhe é agradável, sendo
uma benção para eles.

O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu na época de Cristo e veio de uma família
de sacerdotes, documentou o entendimento de sua época a respeito desse dízimo da
festa. Em Antiguidades Judaicas, encontramos a seguinte declaração resumindo e
parafraseando os mandamentos de Deus entregues através de Moisés:

“Que seja retirado do vosso fruto um décimo, além das décimas devidas aos sacerdotes e aos
levitas. Este você pode vender no campo, mas é para ser usado naquelas festas e sacrifícios
que devem ser celebrados na cidade santa: porque é razoável que apreciem os frutos da terra
que Deus te deu para possuíres” (Livro 4, capítulo 8, seção 8, grifo nosso).

O DÍZIMO PARA OS POBRES

O Senhor Deus é defensor dos necessitados. Ele mesmo revela ser deles o refúgio (SI
14.6; Is 25.4), o socorro (SI 40.17; 70.5; Is 41.14), o libertador (1 Sm 2.8; SI 12.5;
34.6; 113.7; 35.10) e provedor ( SI 10.14; 68.10; 132.15). As leis que o Senhor
estabeleceu em Israel tratavam também do amparo aos necessitados.
O estrangeiro, o órfão e a viúva.

Na bíblia podemos ver três classes que representam bem os necessitados no meio do
povo: o estrangeiro, o órfão e a viúva. As leis eram um claro aviso de que tudo
pertencia a Deus; as pessoas só cuidavam das dádivas cedidas de forma graciosa por
Ele. Essas leis mostravam a generosidade e liberalidade de Deus para com os seres
criados a sua imagem e semelhança. Como povo de Deus, os israelitas tinha que
refletir a natureza e características de seu Senhor, não só em pensamento, mas em
suas atitudes e ações.

PROVISÃO DE VIABILIDADES

Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que


está contigo, não te haverás com ele como credor que
impõe juros. (Êxodo 22:25) Se teu irmão empobrecer,
e as suas forças decaírem, então, sustentá-lo-ás. Como
estrangeiro e peregrino ele viverá contigo. Não
receberás dele juros nem ganho; teme, porém, ao teu
Deus, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás
teu dinheiro com juros, nem lhe darás o teu
mantimento por causa de lucro. (Levítico 25:35-37)

Deus proibiu a cobrança de juros nos


empréstimos aos pobres. Se um israelita que morasse perto ficasse pobre e não
pudesse sustentar-se, outro israelita deveria de tomar conta dele. Ajudando-o como
se ele fosse um estrangeiro que mora no meio do povo, a fim de que ele continuasse
a morar perto. Não se podia cobrar juros sobre o dinheiro que lhe fosse emprestado.
Essa foi uma ordem de Deus para que esse homem continue a morar perto. Não
deviam cobrar juros sobre o empréstimo e nem tirar lucro dos alimentos que a ao
pobre fosse vendido. (Ex 22:25; Dt 23:19; Pv 28:8; Ez 18:8; Ez 22:12; 37)

Ao fim de cada sete anos, farás remissão. Este, pois, é o modo da remissão: todo
credor que emprestou ao seu próximo alguma coisa remitirá o que havia
emprestado; não o exigirá do seu próximo ou do seu irmão, pois a remissão do
SENHOR é proclamada. Do estranho podes exigi-lo, mas o que tiveres em poder de
teu irmão, quitá-lo-ás; (Deuteronômio 15:1-3)
A cada sete anos, eram canceladas todas as
dívidas dos pobres. Deus mandou que
israelitas ajudassem os pobres que havia
entre eles quando chegassem à terra
prometida. Esta era uma parte muito
importante. Muitas pessoas poderiam
chegar a uma conclusão de que o pobre é
pobre por sua própria culpa fazendo pouco
caso de sua situação. Este tipo de
raciocínio poderia fazer com que
facilmente os israelitas fechassem os
corações e também as mãos para ajudar os
necessitados. Todavia, eles não deveriam inventar razões para não ajudar ao pobre.
Eles deveriam perdoar a dívida. Não importava o que ou quem foi responsável pela
dívida, a cada sete anos, eram canceladas todas elas. Deus proveu ainda o ano para
a devolução de propriedades, o Ano do Jubileu, que ocorria a cada cinquenta anos.
Todas as terras que tivessem mudado de dono desde o Ano do Jubileu anterior
teriam de ser devolvidas à família de origem (Lv 25.8-55). Deus também exigiu a
devolução do penhor, ou garantia pelo empréstimo (uma capa ou algo assim) antes
do pôr-do-sol (Ex 22.26).

Deus também revela seu cuidado com os pobres


por meio de um chamado ao exercício da caridade
individual:

Quando entre ti houver algum pobre de teus


irmãos, em alguma das tuas cidades, na tua terra
que o SENHOR, teu Deus, te dá, não endurecerás
o teu coração, nem fecharás as mãos a teu irmão
pobre; antes, lhe abrirás de todo a mão e lhe
emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a
sua necessidade. Guarda-te não haja pensamento
vil no teu coração, nem digas: Está próximo o
sétimo ano, o ano da remissão, de sorte que os
teus olhos sejam malignos para com teu irmão
pobre, e não lhe dês nada, e ele clame contra ti ao
SENHOR, e haja em ti pecado. Livremente, lhe
darás, e não seja maligno o teu coração, quando lho deres; pois, por isso, te
abençoará o SENHOR, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo o que empreenderes.
Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente,
abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra.
Deuteronômio 15:7-11
A justiça haveria de ser imparcial, para com
pobres e ricos (Ex 23.2,3,6; Dt 1.17; Pv 31.9) Desta
maneira, Deus impedia que os pobres fossem
explorados pelos ricos, e garantia um tratamento
justo aos necessitados (Dt 24.14). Quando os ricos
tiravam vantagens dos pobres, o Senhor proferiu,
através dos profetas, palavras severas de juízo
contra aqueles (Is 1.21-25; Jr 17.11; Am 4.1-3; 5.11-
13; Mq 2.1-5;Hc 2.6-8; Zc 7.8-14). Deus abençoa
os que ajudam os pobres (Sl 41.1) e todo povo é
instruídos a acudir os necessitados, pois o cuidar dos pobres é também uma forma
de honrar a Deus (Pv 14.31).

Quando olhamos para as leis de Israel, vemos uma


estrutura criada por Deus que não ignora os direitos
dos necessitados. As leis instituídas por Deus eram
claras e não permitia que um pobre morresse por
falta de atendimento as suas necessidades básicas.
A economia em Israel dependia principalmente da
agricultura e pecuária. Era de onde os israelitas
tiravam o sustento. Eles adubavam a terra, aravam
a terra, plantavam na terra, regavam a terra etc.
Todavia observamos que Deus regulamentou
colheita dos frutos. O povo deveria refletir o caráter gracioso de Deus quando
estivessem recebendo os frutos pelo trabalho executado na terra. Como eles fariam
isso? Eles deviam agir com graça, não se esquecendo das leis de Deus quanto ao
atendimento das necessidades dos pobres. Por exemplo, os grãos que caíssem
deviam ser deixados para os pobres e também os cantos das searas de trigo. E Deus
os abençoaria fazendo com que eles prosperassem.

PROVISÃO DE UVAS

Não rebuscarás a tua vinha, nem


colherás os bagos caídos da tua vinha;
deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro.
Eu sou o SENHOR, vosso Deus. (Levítico
19:10) Quando vindimares a tua vinha,
não tornarás a rebuscá-la; para o
estrangeiro, para o órfão e para a viúva
será o restante. Lembrar-te-ás de que
foste escravo na terra do Egito; pelo que
te ordeno que faças isso. (Deuteronômio
24:21)
Os israelitas não podiam fazer uma segunda colheita nas plantações de uvas, para
colher os cachos que ficavam, nem poderiam voltar atrás para catar os cachos que
caíam no chão. Pois essa parte pertencia, por direito, aos necessitados. E também
todo israelita que estivesse andando por um caminho que atravessava a plantação
de uvas de outro israelita, ele poderia comer todas as uvas que quisesse, porém não
poderia carrega-las uvas num cesto.(Deuteronômio 23:24)

PROVISÃO DE AZEITONAS

Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás


a colher o fruto dos ramos; para o
estrangeiro, para o órfão e para a viúva será.
Deuteronômio 24:20

A mesma dinâmica é vista na colheita das


azeitonas, depois que as oliveiras fossem
sacudidas, eles não deviam voltar para pegar
as azeitonas que ficavam nas árvores; Pois
pertenciam aos estrangeiros, aos órfãos e as
viúvas.

PROVISÃO DE CEREAIS EM GRÃOS

Quando, no teu campo, segares a messe e,


nele, esqueceres um feixe de espigas, não
voltarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o
órfão e para a viúva será; para que o
SENHOR, teu Deus, te abençoe em toda obra
das tuas mãos. (Deuteronômio 24:19)
Quando também segares a messe da tua
terra, o canto do teu campo não segarás
totalmente, nem as espigas caídas colherás da
tua messe. (Levítico 19:9)

Quando os israelitas estavam colhendo os


cereais (trigo, cevada, painço, espelta etc.)
não era permitido colher o que estava nos
beirais do campo e se esquecessem de pegar
um feixe de espigas, por exemplo, eles não
poderiam voltar para apanhá-lo, mas deviam
deixar lá no campo para os estrangeiros, para os órfãos e para as viúvas. Dos campos
de cereais também é dito em Deuteronômio 23:25 que quando um israelita estivesse
atravessando o campo de cereais que pertencesse a outro israelita, ele poderia comer
todas as espigas que pudesse colher com as mãos; porém não poderia usar uma foice
para colher as espigas. Este mandamento impedia que alguém se assegurasse de
suas posses de forma egoísta. Também assegurava de que ninguém passasse fome.
Entretanto, não era uma desculpa para se aproveitar do próximo. E Deus os
abençoaria.

Em um momento de necessidade, Rute, ao chegar


à cidade Belém com sua sogra Noemi, recorreu a
esse direito. Provavelmente não era nem o terceiro,
nem o sexto e nem o sétimo ano.

...Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao


campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo
favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha! Ela se foi,
chegou ao campo e apanhava após os segadores.
Rute 2:1

PROVISÃO DO PAGAMENTO DIÁRIO

Não oprimirás o jornaleiro pobre e


necessitado, seja ele teu irmão ou
estrangeiro que está na tua terra e na tua
cidade. No seu dia, lhe darás o seu salário,
antes do pôr-do-sol, porquanto é pobre, e
disso depende a sua vida; para que não
clame contra ti ao SENHOR, e haja em ti
pecado. (Deuteronômio 24:14-15)

Se o pobre era contratado a prestar serviços


ao rico, este era obrigado a pagar-lhe
diariamente, para que ele pudesse comprar
alimentos.

PROVISÃO DO 7º ANO

Seis anos semearás a tua terra e recolherás


os seus frutos; porém, no sétimo ano, a
deixarás descansar e não a cultivarás, para
que os pobres do teu povo achem o que
comer, e do sobejo comam os animais do
campo. Assim farás com a tua vinha e com o
teu olival. (Êxodo 23:10-11)

Disse o SENHOR a Moisés, no monte Sinai:


Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra, que vos dou, então,
a terra guardará um sábado ao SENHOR. Seis anos semearás o teu campo, e seis
anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos. Porém, no sétimo ano, haverá
sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao SENHOR; não semearás o teu
campo, nem podarás a tua vinha. O que nascer de si mesmo na tua seara não segarás
e as uvas da tua vinha não podada não colherás; ano de descanso solene será para a
terra. Mas os frutos da terra em descanso vos serão por alimento, a ti, e ao teu servo,
e à tua serva, e ao teu jornaleiro, e ao estrangeiro que peregrina contigo; e ao teu
gado, e aos animais que estão na tua terra, todo o seu produto será por mantimento.
(Levítico 25:1-7)

Durante seis anos os Israelitas deveriam semear suas terras e colher o que elas
produzissem, respeitando todas instruções que Deus tinha ordenado, mas no sétimo
ano a terra devia descansar. Eles não podiam colher nada que crescer na terra. Pois
assim os pobres poderiam comer o que crescesse ali, e os animais selvagens
comeriam o que sobrasse.

PROVISÃO DE UM DÍZIMO

Além de todas essas provisões, Deus


também ordenou que um dízimo dentre os
outros dízimos fosse destinado aos
necessitados.

O primeiro dízimo e o dízimo da festa (o segundo


dízimo) deveriam ser guardados todos os anos. O
primeiro era para ser entregue em lugar central
de culto para a distribuição e o segundo era para
consumo próprio (Deuteronômio12:6, 17-18; 14:22-27). No entanto, o dízimo
especial do terceiro ano era tratado de forma bastante diferente. Esse era para ser
separado e guardado localmente dentro de cada cidade ou vila
(Deuteronômio 14:28; 26:12) para o uso dos levitas e dos pobres da comunidade (o
estrangeiro, o órfão e a viúva.)

Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os
recolherás na tua cidade. Deuteronômio 14:28

Quando acabares de separar todos os dízimos da tua messe no ano terceiro, que é o
dos dízimos, então, os darás ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que
comam dentro das tuas cidades e se fartem. Deuteronômio 26:12

É importante notar que existia um ciclo de sete anos. O sétimo ano era um ano de
descanso para a terra durante o qual nada podia ser plantado (Levítico25:1-7, 18-
22), então não havia “acréscimo” [ou rendimento] a cada sétimo ano. Deus
prometeu dar generosamente a seu povo fiel o suficiente no sexto ano para que eles
pudessem deixar a terra descansar no sétimo ano.

Então, podemos concluir que o dízimo reservado a cada terceiro ano, na verdade,
era separado nos anos três e seis (que são os anos dos dízimos) de um ciclo de
sete anos.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 - 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 - 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
Pois, se não fosse assim, haveria um problema no vigésimo primeiro ano. As duas
leis (o dízimo do rendimento a cada terceiro ano e o descanso da terra, sem qualquer
rendimento a cada sétimo ano) entraria em conflito no vigésimo primeiro ano.

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 - 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 - 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
O fluxo de Deuteronômio 14:28-29, que trata do dízimo especial para os pobres a
cada terceiro ano, logo seguido das instruções acerca da natureza especial de cada
sétimo ano em Deuteronômio 15:1, é uma indicação adicional que o terceiro dízimo
se aplica ao terceiro e sexto ano de um ciclo de sete anos.

Podemos também observar em Amós 4:4 "Vinde a Betel e transgredi, a Gilgal, e


multiplicai as transgressões; e, cada manhã, trazei os vossos sacrifícios e, de três em
três dias, os vossos dízimos;"

Ironicamente, este zelo exagerado, transformaram as tradições sagradas (o


dízimo trienal e o sacrifício anual) em adoração idólatra. Mas mesmo que os
israelitas oferecessem os seus sacrifícios anuais (I Sm. 1:3, 7, 21) todas as manhãs e
o dízimo do terceiro ano (Dt. 14:28; 26:12) cada três dias, seus sacrifícios estariam
corrompidos por sua apostasia.

Algumas fontes históricas confirmam a existência dos três dízimos e também a


forma de como eles eram entregues.
Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século, afirma claramente que o dízimo
recolhido pelos pobres era diferente dos outros dois:

“Além das duas décimas, que já disse que você deve pagar a cada ano, uma aos levitas e outra
para as festas sagradas, você deve trazer cada terceiro ano um terceiro dízimo para ser
distribuído àqueles com necessidades; às mulheres que também sejam viúvas, e às crianças
que são órfãos” ( Antiguidades Judaicas , Livro 4, capítulo 8, seção 22).

No livro apócrifo de Tobias, que muitos estudiosos datam cerca de 200 a.C., o
escritor relata:

“Muitas vezes, eu era o único a ir em peregrinação a Jerusalém, por ocasião das festas, a fim
de cumprir a Lei perpétua que obriga todo o Israel. Eu corria a Jerusalém com os primeiros
produtos da lavoura e as primeiras crias dos animais, com o dízimo do gado e a primeira lã
das ovelhas, e os entregava aos sacerdotes, filhos de Arão, para o altar. Aos levitas que
estavam exercendo função em Jerusalém, eu entregava o dízimo do trigo, do vinho, do óleo,
das romãs, dos figos e das frutas.

“Por seis anos consecutivos, eu converti o segundo dízimo em dinheiro e o gastava a cada ano
em Jerusalém. O terceiro dízimo, eu dava para os órfãos, as viúvas e os estrangeiros
convertidos que viviam com os israelitas, e o dava a eles de três em três anos. Então nós
comíamos juntos, conforme a lei de Moisés e a orientação que nos deixou Débora, mãe do
nosso pai Ananiel, pois meu pai tinha morrido, deixando-me órfão” (Tobias 1:6-
8, Bíblia da CNBB).

Você também pode gostar