Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de Janeiro
Janeiro de 2003
A ARQUITETURA ALÉM DA VISÃO:
uma reflexão sobre a experiência no ambiente construído a partir
da percepção das pessoas cegas congênitas.
ii
PAULA, Kátia Cristina Lopes de
A Arquitetura Além da Visão: uma reflexão sobre a
experiência no ambiente construído a partir da
percepção das pessoas cegas congênitas / Kátia
Cristina Lopes de Paula – Rio de Janeiro: UFRJ/FAU,
2003.
xiv, 208 f.: il.; 23 cm.
Orientadora: Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Dissertação – UFRJ/ PROARQ/ Programa de Pós-
graduação em Arquitetura, 2003.
Referências Bibliográficas: f. 193-208.
1. Arquitetura 2. Ambiente Construído 3.
Experiência Ambiental 4. Percepção e Cognição
Ambiental 5. Cegueira. I. DUARTE, Cristiane Rose de
Siqueira. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-graduação em Arquitetura. III. Título.
iii
DEDICATÓRIA
iv
AGRADECIMENTOS
v
A todos os professores do PROARQ pela grande contribuição à minha vida
acadêmica, especialmente aos professores: Vicente del Rio; Mirian Carvalho,
Beatriz Oliveira e Claudia Krause.
A minha família, que nos momentos mais delicados me deram grande carinho
e incentivo, especialmente a Alair de Paula, Sandra Capriglione, Clayton e
Giovanna de Paula.
vi
Ao Fernando Lara e sua esposa Letícia Marteleto, meu muito obrigado.
vii
RESUMO
PROARQ/FAU-UFRJ
Rio de Janeiro
Janeiro de 2003
viii
ABSTRACT
PROARQ/FAU-UFRJ
Rio de Janeiro
January of 2003
ix
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ix
RESUMO – BRAILLE xi
RESUMO xiv
ABSTRACT xv
INTRODUÇÃO 01
x
PARTE I – RELAÇÕES DE PERCEPÇÃO, COGNIÇÃO E
COMPORTAMENTO NO AMBIENTE CONTRUÍDO
3 COGNIÇÃO AMBIENTAL 76
xi
PARTE II – ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA ESPACIAL DOS CEGOS
CONGÊNITOS
xii
LISTA DE FIGURAS
xiii
FIGURA 06-01: Anotações de Percurso 124
FIGURA 06-02: Anotações de Percurso 125
FIGURA 06-03: Anotações de Percurso 126
FIGURA 06-04: Anotações de Percurso 127
FIGURA 06-05: Anotações de Percurso 128
FIGURA 06-06: Anotações de Percurso 129
FIGURA 06-07: Vista geral do Foyer 131
FIGURA 06-08: Vista geral do Acesso da Rua Presidente Vargas 133
FIGURA 06-09: Vista geral da cafeteria, livraria e restaurante 143
FIGURA 06-10: Vista geral da bilheteria 144
FIGURA 06-11: Vista detalhe da Pilastra 146
FIGURA 06-12: Vista geral do Foyer 152
FIGURA 06-13: Vista geral do café 158
FIGURA 06-14: Mapeamento Cognitivo 169
FIGURA 06-15: Mapeamento Cognitivo 170
FIGURA 06-16: Mapeamento Cognitivo 170
xiv
INTRODUÇÃO
1
Tradução livre da autora.
2
Assim como diversos autores que se debruçam sobre a questão da cegueira,
estaremos usando, no presente trabalho, o termo “vidente” para nos relacionarmos às
pessoas que enxergam.
3
Segundo VEIGA (1983:274): “80% de toda a nossa informação sensorial passam por
nossos olhos”.
2
profunda do usuário com o ambiente construído4. A esse respeito, vale
ressaltar que, em alguns casos, na contemplação da arquitetura, a
audição, os cheiros e o tato, são mais importantes que a própria visão
(VON MEISS, 1997:15).
4
Por ambiente construído, compreendemos: “todo espaço criado e construído pelo
homem, portanto, aborda arquitetura e urbanismo [...], pois, afinal sabe-se que
atualmente o homem passa 95% de seu tempo em ambientes artificiais” (SOUZA,
1995:01).
3
Nesse contexto, percebemos que a arquitetura, em prol de uma
estética estabelecida por modelos e padrões meramente visuais, vem
ignorando diversas características que aprofundariam a vivência dos
seus usuários com o espaço circundante. Com isso entendemos que a
Arquitetura se encontra em um momento de estagnação. Como nos
diz COELHO NETTO (1979: 70):
4
pelos conceitos do Barrier Free Design5, acabamos por investir nossos
trabalhos na maneira de adequar o meio urbano, eliminando as suas
barreiras para os cegos. Desta forma, fomos conduzidos pelos
paradigmas estabelecidos por diversas normativas e pudemos concluir
que, mesmo sendo a legislação brasileira bastante desenvolvida,
poucas leis são efetivamente cumpridas, o que leva invariavelmente à
transgressão de direitos os mais básicos, como o de ir e vir, por
exemplo. Abandonamos então as perguntas iniciais e nos dedicamos
mais à acessibilidade. Contudo, no decorrer da nossa vida profissional
(em escritório e na universidade), constatamos que não são as regras
de acessibilidade que vão sensibilizar os arquitetos, e sim a
compreensão do que é ser humano, eliminando o mito do “homem
6
padrão ”.
5
Para GUIMARÃES (1991:08), a tradução do Barrier-free Design consiste no projetar
livre de barreiras, ou seja, Arquitetura sem Barreiras
6
“De acordo com pesquisas desenvolvidas por arquitetos europeus, hoje, 80% da
população mundial fogem ao modelo do “homem-padrão”. São pessoas com
capacidade física reduzida, idosos, obesos ou excessivamente altos ou baixos -
incluindo as crianças.”(CAMISÃO, 1994:13)
5
Por este motivo é que, neste trabalho, propusemo-nos a fazer uma
reflexão sobre como a arquitetura pode ser experimentada e
vivenciada por outros sentidos que transcendam o da visão.
Vale ressaltar, entretanto, que nossos estudos não tiveram e não têm a
intenção de defender a criação de uma “Arquitetura para cegos” e
sim, sem pretender esgotar o tema, contribuir para a formação de um
campo teórico que enfoque e investigue experiências outras que as
6
meramente visuais.
7
usuários; nas colocações de Rapoport, ao dividir, a nível investigatório,
os processos de interação homem-ambiente em percepção,
cognição e avaliação; nas reflexões de Machado, que estabelece
uma metodologia de análise para avaliar as diferentes maneiras de o
homem experimentar e interpretar os espaços; e na contribuição do
psicólogo Villey, cego congênito, ao afirmar que a arquitetura, por
suas grandes proporções, abrange todo o poder de imaginação dos
cegos, resultando, sempre, numa compreensão intelectual e
individual.
8
É preciso ressaltar aqui, como será detalhado mais adiante, que a
pesquisa que desenvolvemos se estabeleceu a partir de um recorte
constituído unicamente de indivíduos cegos congênitos (cegos “de
nascença”). A opção por este universo deveu-se ao fato de que, para
conhecer o mundo dos cegos, não nos bastaria simplesmente fechar
os olhos, pois seus processos cognitivos são diferentes. Neste caso, ao
fecharmos os olhos, estaríamos experimentando o espaço da mesma
forma que aqueles indivíduos que tornaram-se cegos no decorrer de
suas vidas, que possuem referências visuais anteriores à cegueira e
passam a compreender o espaço a partir de suas antigas vivências.
Trabalhamos apenas com indivíduos que jamais tiveram visão e que,
portanto, possuem referências espaciais diferentes das comumente
utilizadas.
9
Nas considerações finais, serão discutidos os atributos espaciais
passíveis de favorecer a transformação do espaço em lugar. Essas
análises certamente criarão subsídios para o estabelecimento de
algumas estratégias para o planejamento de espaços plenamente
acessíveis para todos.
7
“Denominamos de manualidade o modo de ser do instrumento em que ele se revela
por si mesmo...” HEIDEGGER, 2000:11
10
11
1 SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES NO ESPAÇO COMO
FORMADORAS DA ESTRUTURA DO
CONHECIMENTO
12
descrevem como as modalidades sensoriais se relacionam com os
processos cognitivos8 vêm dominando o pensamento de filósofos
desde a Antiguidade até os dias atuais.
8
Com base na Teoria do Conhecimento, o processo cognitivo é também denominado,
por muitos autores, como processo de conhecimento.
9
Surgiu a partir de então a tese do nativismo, ou seja: “as capacidades racionais
nasciam com o homem.” (BAILLY, 1979:87)
13
Todos os homens têm, por natureza, o desejo
de conhecer. O prazer causado pelas
sensações é a prova disso, pois, mesmo fora de
qualquer utilidade, as sensações nos agradam
por si mesmas e, mais do que todas as outras,
as sensações visuais (apud CHAUÍ, 2000:116).
10
Aristóteles acreditava na teoria da “tábula rasa”, ou seja, é pela experiência que o
homem conhece seu mundo, não possuindo ele nenhuma aptidão ao nascer. Seus
conceitos, como veremos, influenciaram toda a tradição do empirismo inglês que teve
início com Locke.
14
1) O lugar é indeterminado [...] Porém, não é
indiferente [...] 2) O lugar não é simplesmente
um ‘algo’, senão um algo que exerce certa
influência, isto é, que afeta o corpo que nele
está. 3) O lugar, embora determinado, não está
determinado para cada objeto, mas [...] para
classes de objetos. 4) Embora o lugar seja
‘propriedade’ dos corpos, isto não significa que
o corpo arraste consigo o seu lugar [...] 5) O
lugar é uma propriedade que não é inerente
aos corpos nem pertence à sua substância [...]
6) [...] pode ser comparado com um vasilhame,
sendo vasilhame um lugar transportável. 7) [...]
define-se como uma maneira de ‘estar em’. 8)
[...] pode definir-se como ‘o primeiro limite
imóvel do continente, como o limite do corpo
continente’ (apud GALCERÁN, 1981:44-45).
15
Enfim, desses legados antagônicos de Platão e Aristóteles, surgiram os
racionalistas - que acreditavam nas idéias inatas – e os empiristas – que
acreditavam na “tábula rasa11” – e que formaram, na modernidade, a
matriz cultural do Ocidente, a qual buscou explicar como o homem
conhece e reflete sobre o mundo a sua volta (BARKI, s.d.: 03).
11
Estado de vazio total que caracteriza a mente humana antes de qualquer
experiência.
16
A sensação conduz à percepção como síntese
ativa, isto é, que depende da atividade do
entendimento. [...] a sensação e a percepção
são sempre confusas e devem ser
abandonadas quando o pensamento formula
as idéias puras. Neste caso, o sujeito é ativo e a
coisa externa é passiva, ou seja, sentir e
perceber são fenômenos que dependem da
capacidade do sujeito para decompor um
objeto em suas qualidades simples (a
sensação) e de recompor o objeto como um
todo, dando-lhe organização e interpretação
(CHAUÍ, 2000:120-121).
17
Ao aprender a utilizar a linguagem, ou, mais do que isso, ao descobrir o
mundo, Helen Keller, não foi somente a maior prova dos intelectualistas
versus os empiristas; esta experiência representa, para o nosso estudo
de caso, um exemplo de como é possível perceber e dialogar com os
espaços sem a visão, e também, neste caso, sem a audição.
18
Os empiristas consideravam que todo o conhecimento era derivado
da experiência sensível12 e, esta, causava e controlava as idéias da
razão. Ou seja, para eles “a sensação conduz à percepção como
uma síntese passiva, isto é, que depende do objeto exterior. [...] e as
idéias são provenientes das percepções” (CHAUÍ, 2000:121).
12
Segundo Marilena Chauí (2000:120) a experiência sensível pode ser, também,
chamada de conhecimento sensível ou conhecimento empírico e suas formas
principais são a sensação e a percepção.
19
Assim, ele provou seus conceitos ao sugerir, no ano de 1690, um
experimento para o qual foram utilizados três recipientes: o primeiro
contendo água fria, o segundo água morna e o terceiro água quente.
A experiência sugerida consistia em se colocar uma das mãos no
recipiente com água fria e a outra no de água quente e, depois de
um certo tempo, com o desaparecimento da diferença de
temperatura inicialmente sentida, inseri-las, a um só tempo, no
recipiente contendo água morna. Resultado: a sensação de que a
água contida no mesmo recipiente possui temperaturas diferentes.
Com esta demonstração, Locke pretendia provar que “as qualidades
aparentes dos objetos não se encontram nos próprios objetos, e sim,
na mente das pessoas que os percebem” (Valera et al, 2002:05) e
desta forma, diferenciar a sensação - captada pela adaptação
térmica das mãos - da percepção de temperatura. Ou seja, para ele,
todos os conhecimentos provêm dos sentidos.
20
que, estando o cubo e o globo colocados
sobre uma mesa, o referido cego venha a
usufruir da vista; e se lhe perguntam se, vendo-
os sem tocá-los, poderá discerni-los e dizer qual
é o cubo e qual é o globo? (apud DIDEROT,
2000:127)
Berkeley (1685-1753), que com sua obra “Ensaio Sobre Uma Nova
Teoria da Visão”, causou uma revolução nas teorias que até então
vigoravam, chegou à conclusão que:
21
Dessa maneira, Berkeley conduziu sua tese da heterogeneidade dos
sentidos - pois não tocamos com os olhos - e de que o único critério de
certeza é a experiência. Para ele, não existe percepção sem
experiência e a distância só se torna visível quando experienciada. A
noção de distância passa a ser um produto da cinestesia13 e do
tangível.
13
Sentido produzido pelo movimento.
22
As evidências organizadas ao longo destas páginas são um forte
testemunho a favor da experiência humana. Vimos que foi com
Molyneux que surgiu uma das hipóteses mais importantes da história da
filosofia do conhecimento humano. Como dissemos, existem duas
linhas de pensamento que, apesar de serem contrastantes, mudaram
toda a maneira de pensar no Ocidente moderno. Discutiremos agora
se existem pontos em comum entre as duas teorias e como se
encontra, na atualidade, o estado da arte.
23
No século XX, entretanto, essas doutrinas foram alteradas
significativamente, conduzidas pela fenomenologia de Hussel e seus
seguidores - dentre os quais destacamos Merleau-Ponty - e pela teoria
da Gestalt. Ambas demonstraram que não existe separação entre
sensação e percepção e sim, que “sentimos e percebemos formas, isto
é, totalidades estruturadas dotadas de sentido ou de significação”
(CHAUÍ, 2000:121).
Desta forma, parece-nos claro que, para o autor, o espaço tátil nunca
24
deixa de existir, mesmo que os aspectos visuais passem a ser
percebidos pelo usuário. Os aspectos táteis do espaço inserem-no,
portanto, num mundo de sensações que estimulam o pensamento,
formando mentalizações e gerando valores que darão significados a
estes espaços, independentemente de suas características visíveis.
25
Ao formular essa crítica, Serres acaba por inverter o problema
levantado por Molyneux, estabelecendo um novo paradigma entre o
visível e o tangível. Este seria: o vidente estaria preparado para
distinguir a diferença entre uma bola e uma esfera?
14
Tradução livre feita pela autora.
26
Neste capítulo pudemos investigar os mais importantes legados
deixados pelos filósofos para a compreensão da percepção humana
do espaço. Além disso, tal como fez MILLAR, utilizaremos estes
referenciais para estudar, com o auxílio das pessoas cegas congênitas,
o papel que a visão desempenha na experiência espacial.
Averiguaremos até que ponto a agradabilidade da arquitetura e do
espaço urbano estaria vinculada às suas qualidades plásticas,
captáveis através do sentido da visão e, ainda, quais atributos, outros
que além daqueles percebidos pela visão, proporcionam qualidade e
agradabilidade ao espaço construído.
27
2 PROCESSOS QUE ATUAM NA INTER-RELAÇÃO
HOMEM -AMBIENTE
15
Tradução livre feita pela autora do trabalho.
28
experimentais. Dessas pesquisas, destacamos, no final do primeiro
capítulo, aquelas realizadas pela psicóloga MILLAR que, ao descartar o
pensamento de que a visão é a responsável direta pela experiência
espacial, suscitou em nós diversas questões sobre a exploração e a
experiência ambiental dos cegos congênitos.
16
Como dissemos na Introdução, compreendemos como Ambiente Construído: “todo
espaço criado e construído pelo homem, portanto, aborda arquitetura e urbanismo [...],
pois, afinal sabe-se que atualmente o homem passa 95% de seu tempo em ambientes
artificiais” (Souza, 1995:01).
29
Não nos propomos - e nem poderíamos - esgotar esse tema, visto que,
por definição, ele deve ser sempre reavaliado. O que pretendemos é
traçar um panorama das principais teorias e suas atuais revisões,
partindo do entendimento dos processos de percepção e cognição
do meio pelo Homem até chegar à compreensão das formas de inter-
relação entre os cegos congênitos e o ambiente construído.
30
de entrada para toda a informação que a pessoa recebe e processa
[...] e [...] é também uma janela para a observação de pesquisadores”
(SIMÕES & TIEDERMANN, 1985: IX).
31
No início dos anos 60, a arquitetura começou a fazer uso dos
instrumentos de análise criados pelos psicólogos ambientais17. O
arquiteto Kevin Lynch partiu das investigações psicológicas de Piaget e
Gibson, para determinar categorias de análise e incorporar uma maior
atuação do usuário nos projetos dos espaços urbanos. Conforme
destacou DEL RIO (1990:40), Lynch talvez tenha sido o pesquisador que
mais influenciou os estudos de Desenho Urbano em todo o mundo.
Suas idéias estavam calcadas na análise comportamental, nos valores
e nas imagens públicas compartilhadas pelos utentes. Dessa maneira,
Lynch criou diversas categorias de análises para conhecer a vivência
dos espaços que foram por nós, arquitetos, projetados.
17
Um dos motivos parece residir no fato de que foi no início desta década que
surgiram as primeiras críticas ao Movimento Moderno. Os moradores e usuários das
edificações modernistas mostraram-se descontentes com suas obras, não apenas na
parte estética, quanto no seu conforto (DEL RIO, 1990:35).
32
1- Quando o termo percepção é usado para
definir avaliações do meio, qualidade do meio,
seleção de meios ótimos, etc., o melhor termo
parece ser Avaliação Ambiental ou Preferência
Ambiental;
2- quando usa-se para saber como as pessoas
estruturam, aprendem ou conhecem seu meio,
o melhor termo é Cognição Ambiental;
3- quando descreve-se a captação sensorial
diretamente, aqui deve-se usar o termo
Percepção Ambiental, e trata-se do processo
menos abstrato.18 (Rapoport, 1997:46)
18
O negrito é nosso.
33
que consideramos questionável reside no fato deste autor conceber
esses processos isoladamente. Evidentemente, sabemos – através das
bibliografias consultadas, como RAPOPORT, MACHADO, TUAN, VALERA et al,
entre outros - que estes processos não ocorrem de forma
independente e sim numa interposição mútua. Porém, se tendemos a
denominá-los de forma distinta, assim o fazemos apenas por razões
expositivas e pela tradição existente nas investigações científicas.
34
O caráter antecipador da percepção corresponde à propriedade que
algumas das modalidades sensoriais apresentam e que permitem ao
homem conhecer de antemão a disposição, o tamanho e o tipo de
objeto que se situa num determinado ambiente (HUERTAS, OCHAÍTA &
ESPINOSA, 1993). Segundo alguns autores, das modalidades sensoriais, é
a visão a que mais proporciona a antecipação perceptiva, pois:
19
Tradução livre feita pela autora do trabalho.
35
Enfim, iremos denominar de Experiência Ambiental20 (e não de
Percepção Ambiental), o processo que interliga a Percepção,
Cognição e Avaliação Ambiental. TUAN (1980; 1983), MACHADO (1996;
1988) e VALERA et al (2002), foram alguns dos autores que defenderam
este conceito. Para VALERA et al:
20
Por compreendermos a importância deste conceito para a nossa pesquisa, iremos
dedicar o terceiro capítulo para seu estudo.
21
Grifo feito pela autora do trabalho.
22
Tradução livre feita pela autora.
36
ele propõe um esquema denominado de “Esquema teórico do
processo perceptivo” (figura 2-1).
23
Para Del Rio, dos cinco sentidos, o mais importante é a visão (1996:03).
37
atuam os diversos filtros, a motivação, a avaliação e a conduta do
sujeito. Esse processo culmina numa organização mental onde a
realidade percebida é representada por esquemas e imagens
mentais. Ou seja, del Rio considera o processo perceptivo partindo de
uma visão abrangente da interação entre homem e ambiente.
24
Dentre esses estudos, destaca-se o trabalho de Gordon Cullen, que utilizou os
aspectos visuais do meio ambiente construído para formular sua metodologia de
análise da forma urbana (Cullen, 1971).
25
Grifo feito pela autora do trabalho.
38
pode agradar aos olhos, mas freqüentemente carece da
personalidade estimulante que pode ser proporcionada pelos odores
variados e agradáveis” (TUAN, 1983:12).
39
confrontando as teorias que foram discutidas com o tema do nosso
trabalho, onde verificamos que o cego congênito, embora não
possua lembranças visuais, percebe o seu meio através das diferentes
estruturas dos seus órgãos sensoriais.
26
Os receptores sensoriais podem ser, também, denominados de sistemas perceptivos
(BAILLY, 1979:65).
40
• a que enfatiza a função dos receptores sensoriais e é
dividida em quatro grupos: Mecanorreceptores;
Fotorreceptores; Termorreceptores, Quimiorreceptores e
Nociceptores (não seria Nocirreceptores?);
41
Exterorreceptores são responsáveis pela
captação de estímulos externos ao organismo.
[Suas fontes de estímulos] podem estar
distantes, como os estímulos visuais e auditivos,
ou próximos, como os estímulos gustativos,
olfativos e cutâneos. No primeiro caso, são
denominados telerreceptores e, no segundo,
proxirreceptores. [...] Os interorreceptores [...]
são destinados à percepção do estado interno
do nosso organismo [...] propriorreceptores
fornecem informações sobre o movimento,
postura e equilíbrio do corpo, e consistem em
receptores do sistema cinestésico e vestibular
(OKAMOTO, 1996:42-45).
42
Exterorreceptores Propriorreceptores Interorreceptores
Paladar Orgânico
43
Para isso, [relação entre o sujeito e o ambiente
construído] realiza-se a integração de
diferentes informações: percepções visuais dos
aspectos espaciais do ambiente; dados
sensoriais proprioceptivos e cinestésicos dados
pelos músculos, o que indica sua tensão na
manutenção do corpo em posição erecta, e
mudanças de tensão em movimento, bem
como dado dos órgãos dos sentidos nas juntas,
o que indica a posição do corpo e dos
membros com relação à gravidade; dados
sensoriais do labirinto, que também indicam a
postura estática e mudanças na orientação
corporal com o movimento. Normalmente não
estamos conscientes dessa informação
integrada [...], e reagimos a ela de maneira
automática rápida e adequada. (VERNON,
1974:155).
27
VEIGA é escritor e cego congênito.
44
o homem se acomoda a quaisquer
circunstâncias que a vida lhe oferece. Nisso
reside, aliás, o eixo de explicação da vida do
homem que não vê28. Suprima-se a um cão a
vista, o ouvido e o olfato, e ele morrerá, por
certo. Sem a vista, sem o ouvido e sem o olfato
viveu Laura Bridgam, logrando assimilar uma
boa parcela de conhecimentos (VEIGA,
1983:04).
28
Grifo feito pela autora do trabalho.
45
fisiológicas carregadas de emoção e
experiências íntimas (TUAN, 1983:100).
29
BOSI “O homem de hoje é um ser predominantemente visual. Alguns [psicólogos]
chegam à exatidão do número: oitenta por cento dos estímulos seriam visuais”
(1998:65).
46
Se, como parece, a função desenvolve o
órgão, a não-função o atrofia. Será que no
futuro veremos homens sem orelhas? Ou sem
nariz? Ou com a coluna e o assento
deformados pela transpiração deficiente? Será
esse o homem do futuro? Esperemos que não
(MUNARI, 1998:374).
Este mesmo autor relatou que, das lições aprendidas por ele com a
cultura oriental, no Japão, a mais importante delas foi projetar para
todos os sentidos. MUNARI (1998) acrescentou, ainda, que, mesmo que
um objeto agrade à primeira vista, se não agradar aos outros sentidos
será desprezado. Assim, numa forma de conscientizar os profissionais
ligados aos projetos de arquitetura e design, ele conclui que:
47
sensorial global do espaço – nos desafia, enquanto planejadores
ambientais, a repensar a ênfase dada à visão, nas pesquisas
metodológicas, às teorias e concepções projetivas.
48
ambiental, ampliando nossos princípios de organização espacial. Esses
princípios devem ser estruturados, segundo TUAN (1983:39), em dois
fatores: “a postura e a estrutura do corpo humano e as relações (quer
próximas ou distantes) entre as pessoas”. Assim, é pela exploração e
interação do nosso corpo-mente (espaço situado) com o meio (corpo
situado) que a nossa percepção do espaço é processada.
49
que se encontrava a fonte sonora, e então deu
início a uma seqüência de comportamentos
que culminaram com a presença diante do
berço. Através da visão, olfato e tato você
pode coletar mais informações a respeito do
estado físico e emocional do bebê. [...] Suas
conclusões seriam bem diferentes se o bebê
fosse membro da família dos seus vizinhos e
estivesse acomodado na casa adjacente à
sua. Nestas circunstâncias, as informações
seriam, provavelmente, apenas auditivas
(Simões & Tiedermann, 1985:86).
50
2.3.1 Visão
51
cinestésico).
30
Denomina-se vidente o homem visualmente capacitado.
31
Denomina-se de antecipação perceptiva a capacidade proporcionada pelos sentidos
para conhecer de antemão as propriedades do espaço.
52
As respostas aos questionamentos acima destacados, podem ser
verificadas nas teorias de HALL (1977); seguido por TUAN (1980; 1983) e
OKAMOTO (1996). Esses autores, ao estudarem a percepção ambiental,
indicaram que:
53
o perigo e com o desejo, aumentando, ainda mais, as nossas
desconfianças com relação aos outros sentidos, considerados por
BLANCO & RUBIO, (1997:52) “nebulosos” diante da “clareza” visual.
Figura 02-03: Instituto do Entendemos que, embora esse projeto esteja conceitualmente
Mundo Árabe (vista
parede diafragma e calcado nas tradições culturais e no conforto térmico, as pupilas,
acesso) dilatando-se e contraindo-se com a mudança lumínica, são,
Fonte: <http: realmente, “uma grande homenagem ao olho”.
/www.greatbuildings.co
m/cgi-
Essa consideração de que a arquitetura é, acima de tudo, da ordem
bin/gbi.cgi/L_Institut_du_
Monde_Árabe.html/cid_ do visível, pode ser verificada, não apenas com Jean Nouvel, mas,
3027883.gbi > Acessado
com a grande maioria dos arquitetos. Le Corbusier, por exemplo,
em:08/08/02.
afirmava sempre que a arquitetura: é um “jogo sábio, correto e
54
magnífico dos volumes reunidos sob a luz” (1981:16).
2.3.2 Tato
Figura 02-04: Detalhe A pele, tal como uma roupa, nos envolve completamente, e
de uma cariátide na
representa o maior órgão do tato e o primeiro meio de comunicação
Acrópole, Athenas.
humana com o mundo. No processo evolutivo da humanidade, o tato
Fonte: VON MEISS,
1997:19. foi o primeiro a surgir, originando os nossos olhos, ouvidos, nariz e boca.
55
“O tato, como sentido, veio a diferenciar-se dos demais, fato este que
parece estar constatado no antigo adágio ‘matriz de todos os
sentidos’” (MONTAGU, 1988:21, grifo da autora). A esse respeito
Baudrillard, escreve: “o tato é uma interação dos sentidos, mais que
um simples contato da pele ou de um objeto” (apud BRUZZI, 2001:88).
56
A maior prova de que o tato compensa a perda dos outros sentidos,
foi dada pelo exemplo de Helen Keller que, mesmo tendo nascida
cega e surda, teve sua “mente” estimulada pela sensação tátil.
Conforme escreveu a professora Anne Sullivan, responsável pela
educação de Helen Keller:
Desta forma, a história de Helen Keller permite- nos inferir que o tato
forma o meio pelo qual percebemos o mundo externo. Este mundo
57
externo é apreendido por todo o nosso corpo, na medida em que,
apenas assim, é possível ter a noção de “tridimensionalidade, que é a
base da experiência arquitetônica e da orientação”, (OKAMOTO,
1996:105). Ou seja, por abranger toda a extensão do nosso corpo, o
tato nos faz distinguir o alcance do “eu” (e conseqüentemente o do
“não eu”), fornecendo informações espaciais do que está à nossa
frente ou atrás, acima ou abaixo, à esquerda ou à direita etc.
58
A partir dessa análise e considerando a escassa bibliografia sobre a
percepção tridimensional dos cegos congênitos, iremos, por meio das
nossas pesquisas, tentar averiguar quais as estratégias utilizadas pelos
cegos para explorar o ambiente construído.
2.3.3 Audição
59
ambiental. Desta forma, a localização e a distância são
características espaciais apreendidas através da audição.
Tal como a visão, a audição não requer contato físico com os objetos,
proporcionando, ainda que inferior ao olhar, uma suficiente
antecipação perceptiva (HUERTAS, OCHAÍTA & ESPINOSA, 1993:208).
HUERTAS, OCHAÍTA & ESPINOSA (1993) compartilham as suas idéias sobre a
relação entre a visão e a audição com HALL, o qual afirma que:
32
Negrito feito pela autora do trabalho.
60
detectar obstáculos a partir de fontes sonoras. Essa habilidade para
detectar obstáculos, denominada de “visão facial” ou “sentido do
obstáculo”, é, para os cegos, o fenômeno perceptivo “mais
importante para a deambulação e a elaboração de representações
espaciais do meio ambiente”. (BLANCO & RUBIO, 1993:96)
61
de extensão num recinto fechado33 (VILLEY,
1936:279).
2.3.4 Olfato
33
Tradução livre feita pela autora.
62
sentido olfativo dá “colorido à nossa imagem visual” (OKAMOTO,
1996:94). O olfato, de natureza fundamentalmente química, é
encontrado próximo ao “sistema límbico, [e] tem uma forte relação
emocional, quase sempre inconsciente.” (OKAMOTO, 1996:95)
63
Portanto, pelo sistema olfativo recebemos informações qualitativas do
espaço imediato e distante. Assim, quando ingressamos num
ambiente, podemos avaliar se ele está arejado ou abafado, se existe
cloro na água da piscina, se existe vazamento de gás, entre outras
informações que são reconhecidas através dos odores e que não
poderiam ser fornecidas pela visão, tato ou audição (SIMÕES &
TIEDEMANN, 1985:18)
2.3.5 Cinestesia
Figura 02-05: O deste sentido que tomamos consciência de nossa postura, força, além
movimento do corpo. de ser, por ele viabilizado nossos deslocamentos no escuro.
Fonte: VON MEISS,
1997:20. Por estar associada ao movimento, a cinestesia nos fornece a relação
64
de tempo e espaço, uma vez que sabemos que estas estão
intrinsecamente associadas. VAIDERGON (2000:s.p.), ao relatar sobre
tempo e espaço, compara a música à arquitetura, para ele:
65
desempenhada pelos sentidos na interação homem X ambiente
construído. O estudo do desempenho dos sentidos foi de fundamental
importância para compreendermos o “mundo dos cegos”. Desta
maneira pudemos confrontar nossos conhecimentos teóricos com a
análise das experiências espaciais dos cegos congênitos.
66
Da mesma forma, Bruno Munari nos propõe um esquema (figura 02-04)
de como as informações ambientais são, por nós, “filtradas”. Segundo
o autor, a comunicação “ocorre por meio de mensagens visuais, que
formam parte da grande família das mensagens que atingem os
nossos sentidos: sonoras, térmicas, dinâmicas, etc.” (1997:68)
67
Desta forma, podemos observar que os vários “filtros34”, ou melhor, as
diferentes variáveis atuantes no processo perceptivo agem na seleção
de informações, eliminando algumas ou destacando outras, conforme
o seu receptor. Evidentemente, essas variáveis agem em conjunto,
porém, por razões expositivas, iremos dividi-las em: sensoriais, pessoais e
culturais.
34
Não utilizaremos a palavra “filtro” - tal como sugeriu VALERA et al, entre outros
autores – por sua terminologia conotar o uso de um utensílio para purificar algo
(Dicionário Aurélio Eletrônico). Assim, consideramos mais apropriado o termo
variável, por estar relacionado a algo sujeito a variações, mudanças, inconstância (tal
como o processo experiencial do homem).
68
O sentidos mais conhecidos são: visão, audição, tato, olfato e
paladar. Porém, possuímos outros sentidos que influenciam na nossa
captação e filtragem das informações. Para YAARI, que considera que
todos os sentidos são utilizados pelo “E U ” para sentir, querer e pensar,
nós possuímos doze sentidos divididos em:
69
importante, também verificado, consiste na diferença perceptiva-
sensorial de cada indivíduo. Nosso informante LA (cego congênito, 46
anos, informante da nossa pesquisa) contou- nos sobre a perplexidade
que causou em seus amigos cegos quando demonstrou, para eles, a
sua capacidade de identificar postes e portões. “Para mim era uma
coisa tão natural que eu nunca imaginei que eles não soubessem [...]
nós ficamos perplexos juntos, eles comigo e eu com eles.”
70
amplitude das respostas humanas para o mundo.” Assim:
71
Como veremos, mais detalhadamente, no item 6.1.4 é a bagagem das
experiências acumuladas ao longo dos anos que faz o adulto cego
interagir de maneira satisfatória, ou não, com o ambiente construído.
72
vivenciam uma cidade dos que, apenas, a visitam. Pois, enquanto
para o primeiro, algumas características do meio já não são mais
perceptivas, para o segundo sua relação com o meio é normalmente
superficial – estética. (TUAN, 1980:72-75)
73
relacionar com os espaços e de agregar-lhes valores. Assim,
características estéticas – a noção de belo - varia dependendo dos
aspectos culturais de cada grupamento humano (GEERTZ, 1983), e as
sensações de conforto térmico, acústico ou lumínico apresentam
variações que oscilam de uma cultura a outra, conforme comentam
SANTOS e DUARTE (1999), apesar de estes estarem dentro dos limites
fisiológicos do homem.
74
variáveis acima descritas, dada a sua formação, têm a percepção
aguçada para a compreensão do espaço e de suas articulações.
75
3 COGNIÇÃO AMBIENTAL
Na relação adequada do
comportamento com a percepção das
relações e dimensões espaciais do
ambiente, tem igual importância a
consciência constante da posição do
corpo no espaço, bem como a
adaptação a qualquer mudança em sua
orientação espacial. (VERNON, 1974:155)
76
OCHAÍTA & ESPINOSA, 1993:210; RAPOPORT, 1977:114, entre outros). Suas
principais atribuições são a aquisição de um conhecimento e sua
memorização.
35
Representação Mental é aqui entendida como sendo “uma representação do meio
por parte do indivíduo, através de uma experiência de qualquer classe que o segundo
tenha do primeiro” (RAPOPORT, 1977:54)
77
• armazenamento das informações ambientais pela
memória;
78
Assim todos podem perceber um edifício num
lugar preciso, no entanto, não podem
reconhecê-lo como botequim, a não ser que a
noção de botequim tenha um significado
cultural previamente existente.36 (RAPOPORT,
1977:46)
36
Tradução livre feita pela autora.
79
Assim, quando um cego locomove-se por um ambiente no qual a
informação recebida é insuficiente, ele utiliza os conhecimentos
prévios armazenados em sua memória e em suas representações
espaciais, fazendo da antecipação cognitiva um suporte para a sua
autonomia.
80
estar sempre prevenido para isso. Mas a minha
expectativa é que eu vou caminhar em frente
e... bom... eu vou encontrar uma parede. Por
exemplo e eu vou ter de decidir se eu vou virar
para a direita ou para a esquerda, por
exemplo. Aí ..... tem alguns elementos que
podem me ajudar embora não sejam
necessariamente seguras que é, por exemplo, o
barulho se está vindo mais barulho de um lado
do que do outro se eu tenho a impressão de
que próximo de mim tem uma parede de um
dos lados, enfim .... se tem uma porta ali do
lado....” (AH, cego congênito, 53 anos,
informante da nossa pesquisa)
81
inferências e os prognósticos deste sujeito no deslocamento por um
ambiente desconhecido ou complexo (HUERTAS, OCHAÍTA & ESPINOSA,
1993:220).
82
4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA
HUMANA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO
37
Grifo nosso.
83
construção?” (BENJAMIN, 1992). Estas indagações não são nossas,
porém, fazem parte dos atuais debates sobre o comportamento
humano perante o ambiente construído. Consideramos ser importante
para nós, arquitetos e urbanistas, mantermo-nos em constante reflexão
sobre o assunto, para que nossos projetos sejam adequados às
expectativas e necessidades dos seus usuários.
84
Assim, diante de tantos conceitos, principalmente aqueles advindos
das áreas de psicologia ambiental, geografia e fenomenologia,
embasaremos nossa pesquisa nos trabalhos de Tuan, Machado,
Valera et al e Scruton.
38
Grifo nosso.
85
sem precedentes, único. Assim, a maneira pela qual ele sente, pensa,
percebe, classifica e compreende o espaço é também única.
Portanto, a experiência está relacionada à vivência particular de cada
ser humano e deve ser vista, tal como nos asseverou MORA (1998:205),
MACHADO (1988:02) e TUAN (1983:9-21), como um somatório de
sensações, percepções, concepções, emoções e pensamento, sendo
este último compreendido como consciência, análise, julgamento e
reflexão social sobre essas sensações e percepções.
86
Deste modo, devemos vivenciar nossos ambientes, devemos residir
neles, descobrir seus segredos, invadir suas nuances de cor, sons,
cheiros, movimentos. Pois segundo SERRES:
87
seguro e confortável. Assim:
88
espaço - poderá determinar o conhecimento e a emoção gerada
pelo ambiente - empatia. TUAN (1983:77) ao discorrer sobre habilidade
e conhecimento espacial, assegura que :
89
lanche. Na realidade eu queria entender, o
porquê eu me perdia, assim voltava pro lugar
de novo que era pra saber onde foi que eu me
perdi, então isso me dá curiosidade. Eu tenho
muita facilidade em memorizar os lugares que
eu vou, sabe casas eu memorizo com
facilidade, geralmente com muita facilidade.
Acredito que eu deva isso a minha habilidade e
experiência que tenho acumulada dos lugares.
90
(1996:93) enfatiza a importância da experiência na geração de
habilidades, fazendo um paralelo com o ato de criar novas regras dos
jogadores de xadrez:
91
Assim sendo, a arquitetura, enquanto construção do homem para o
homem, acaba criando, na maioria das vezes, palcos
comportamentais onde as atitudes são induzidas, as emoções são
definidas e a percepção humana apurada.
92
mesmo um atributo espiritual.” (TUAN, 1983:65-66) Assim, as
características espaciais são alteradas conforme a ótica cultural.
93
solução, mesmo que seus critérios não sejam claros. Cabe ao
arquiteto, portanto, com sua formação estética e capacidade
adquirida de perceber as formas como “acompanhamentos cheios
de significado e apropriados à vida humana” (SCRUTON, 1979: 42),
buscar a “alma da experiência” do homem com a arquitetura.
94
Portanto, ele acredita que exista um único processo de imaginação
envolvido em toda a percepção, imagens e lembranças, e este
argumento está fundamentado na afirmação de que nesses processos
mentais, o pensamento e a experiência são inseparáveis. Portanto,
experienciar a arquitetura depende da participação ativa do
observador e resulta, sempre, em uma compreensão intelectual. Desta
forma, para o autor, é uma utopia pensar que existe uma única forma -
global - de experienciar um edifício, pois mesmo que esta experiência
seja forçada, ela dependerá sempre da cultura de quem a observa.
95
Teremos uma real noção da experiência arquitetural quando
relacionarmos unificadamente “o movimento, o som, a mudança e o
tacto.” (SCRUTON, 1979: 101) Desta forma, a experiência da arquitetura
passa a englobar a associação de todos os sentidos para a
compreensão de um espaço construído. Segundo o autor, porém, não
são todos os sentidos que se colocam à disposição da apreciação
estética. Para ele, os olhos e os ouvidos são, ao contrário do gosto e
do cheiro, formas de contemplação objetiva de um objeto. Esta
contemplação faz parte da natureza humana e está intimamente
ligada às questões de compreensão, gosto e apreciação estética. No
entanto, a compreensão só será possível se a nossa experiência for
persuasiva para nós. Ela está diretamente associada à experiência,
pois “uma capacidade de compreensão intelectual que não conduza
a uma experiência de unidade não é ainda um ato de compreensão”
(SCRUTON, 1979: 105). Com isso, devemos observar que a experiência,
uma vez que sucede à compreensão, está, de certo modo, livre,
podendo ser alterada e ampliada ao longo do tempo.
96
Desta forma, a compreensão do caráter estético de um edifício não
consiste num conhecimento teórico, mas sim, na organização das
nossas percepções e sensações. Experienciar a arquitetura é sentir o
significado do espaço construído. (SCRUTON, 1979: 203)
39
Tradução livre feita pela autora.
40
O sentido pessoal da percepção foi enfatizado pelos integrantes do grupo New Look
in Perception e “procura destacar [...] o fato de que a percepção não se dá em abstrato,
mas como processo que, efetivamente, é vivido por um perceptor” (PENNA, 1993:36-
37)
97
percebemos aquilo que nossos objetivos mentais nos preparam para
perceber” (DEL RIO, 1990:92). Desta forma, “as experiências adquiridas
durante o crescimento melhoram a capacidade de seleção da
informação.” (BAILLY, 1979:88)
41
Esse assunto será melhor abordado no item Vivências Espaciais: a construção do
lugar.
98
imaginações. Partindo destes conceitos, delineamos nosso estudo de
caso, que será relatado no próximo capítulo.
99
PARTE II. ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA ESPACIAL DOS
CEGOS CONGÊNITOS
100
5 MATERIAIS E MÉTODOS
101
Com base no que vimos nos capítulos anteriores a respeito da
percepção ambiental, cognição, experiência e formação de imagens
mentais, foi possível delinear nosso estudo de caso para averiguar
como a arquitetura e o ambiente construído podem ser
experienciados além das percepções visuais. Os demais objetivos
desta pesquisa são: (1) verificar como os outros sentidos podem ser
colocados a serviço da compreensão da arquitetura e do
conhecimento espacial; (2) distinguir quais atributos podem ser
percebidos e apreciados pelos cegos; e, (3) subsidiar a ação projetual
para a criação de espaços acessíveis em relação às dificuldades
deste grupo, enfatizando a necessidade de uma abordagem
específica por parte do profissional de arquitetura e projeto urbano.
102
noções foram delineadas nas Partes I e II desse trabalho mas, a fim de
melhor formular nossa metodologia, resumiremos abaixo o significado
que estaremos adotando para cada um destes conceitos.
103
situado) que nos cerca.
104
5.2 Procedimentos da Pesquisa
42
Considera-se cegueira congênita aquela adquirida no nascimento ou até 5 anos de
idade, onde a partir deste momento o homem passa a ter lembranças do mundo visual
(AMIRALIAN, 1997:33).
105
as pessoas que ficam cegas com mais idades
[...] fazem um esforço muito grande para
conservar as imagens visuais, pela importância
que teve para elas [...] se você ficasse cega,
você já teve uma vida que foi muito importante
para você, com o tempo isso vai
desaparecendo, a sensação de ver que você
provavelmente teria em sonhos duraria durante
um tempo, mas você não perderia o senso de
organização das coisas que você tem usando
a visão. O que você aprendeu com a visão não
se perderia. (HH, cego congênito, 55 anos,
informante da nossa pesquisa)
Sabemos então que o mundo dos cegos não pode ser conhecido
com o fechar dos olhos, pois seus processos perceptivos são diferentes.
Assim, ao tentarmos fechar nossos olhos para vivenciar o espaço como
os cegos, estaríamos iguais àqueles indivíduos que tiveram a cegueira
adquirida após os seis anos de idade e que, por isso mesmo, possuem
referências visuais, passando a compreender o espaço a partir de suas
antigas vivências:
106
Vale destacar ainda que para o indivíduo cego congênito, a cegueira
faz parte do seu ser. Hans Furth, ao tratar o assunto relacionando-o
com a surdez congênita, argumentou que:
Por todos esses motivos, optamos por trabalhar apenas com cegos que
nunca enxergaram, mesmo sendo considerado cego congênito a
pessoa que enxergou até os cinco anos, a fim de evitar interferências
de possíveis experiências visuais anteriores nos resultados da pesquisa.
107
do processo de conhecimento espacial e não uma análise sócio-
cultural da comunidade de cegos congênitos, privilegiamos os
métodos de coleta de dados e análise qualitativos, nos quais a
validação dos resultados é dada, não pela quantidade de
informantes, mas pelos fenômenos percebidos, os quais sustentam a
qualidade dos resultados. Da mesma forma, no que se refere à
representatividade dos relatos, consideramos suficiente o total de 8
(oito) informantes. Este número foi determinado no decorrer da coleta
de dados, quando as narrativas tornaram-se repetitivas e alcançaram
o “ponto de saturação”. PREUSS (1999:112) define “ponto de
saturação” como sendo o momento no qual o pesquisador:
108
resultados que deveria então incluir diferentes variáveis que
influenciariam a apreensão espacial.
109
fornecer as informações necessárias.
Figura 05-01: Vista externa • ser um espaço ainda não explorado pelos informantes;
do CCBB
Fonte: da autora • ter diferentes ambientes;
110
• não possuir relação afetiva com o informante;
43
A coleta de dados foi realizada de segunda à sábado durante os quatro meses
descritos acima.
44
Para cada informante foram gastos cerca de 4 horas de gravação, o que acarretou,
somando-se às entrevistas filmadas, um total de aproximadamente 53 horas de
duração.
111
em fita cassete e transcritas. Parte deste material encontra-se
anexado a este trabalho. As fitas de filmagem, a totalidade de fotos e
as fitas de áudio estarão arquivadas no PROARQ/FAU/UFRJ para permitir
eventuais futuras consultas de pesquisadores interessados no assunto.
112
Esta observação participativa permitiu-nos conhecer o processo
experiencial dos informantes em um espaço não conhecido. Os
registros sobre as atividades desenvolvidas por alguns dos informantes
foram feitos em caderno de campo, bem como as observações e
anotações sobre a maneira como os espaços afetavam seus
desempenhos, estimulavam suas autonomias e em que medida estas
realmente atendiam às suas reais necessidades.
113
Assim, após a introdução da lógica da entrevista45 e as perguntas
iniciais, destinadas a caracterizar os respondentes, prosseguíamos com
aquelas que buscavam explorar o nível de percepção, cognição e
avaliação do ambiente construído pelos cegos congênitos.
45
Anunciávamos no início de cada entrevista: “nesta entrevista, eu irei lhe pedir várias
vezes que você me conte situações em que teve certas experiências com o ambiente
construído”
114
A segunda parte da entrevista explorou o nível de avaliação
ambiental, ou seja, buscou identificar quais atributos os respondentes
reconheciam no ambiente. A primeira pergunta “há ocasiões em que
você se sente melhor num ambiente do que em outro? poderia me
falar de uma situação deste tipo?” procurou constatar os sentimentos e
as experiências individuais e relevantes de nossos entrevistados.
115
Como dissemos anteriormente, este instrumento foi previamente
testado em entrevistas- piloto, para que fossem avaliados a
linguagem e o tempo de duração de sua aplicação.
116
• elaboração de um plano de deslocamento, composto
por cinco metas46;
46
Os sujeitos deveriam localizar: o café; a livraria; os dois acessos e o guarda-volume.
117
e em que medida esse espaço realmente atendia às suas reais
necessidades.
118
5.4.1 Mapeamento
119
recebidas.
120
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
121
6.1 Percepção Ambiental
122
em características individuais e constituem a chave para o sucesso da
exploração ambiental. Teceremos agora algumas considerações
sobre esse nosso estudo das sensações sonoras, táteis-cinestésicas e
olfativas relacionadas ao ambiente construído.
123
Figura 06-01: Anotações de Percursos
(HH, cego congênito, 55 anos, informante da nossa
pesquisa)
124
Figura 06-02: Anotações de Percursos
(MZ, cego congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
125
Figura 06-03: Anotações de Percursos
(AH, cego congênito, 53 anos, informante da nossa
pesquisa)
126
Figura 06-04: Anotações de Percursos
(JS, cego congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
127
Figura 06-05: Anotações de Percursos
(LA, cego congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
128
Figura 06-06: Anotações de Percursos
(MG, cego congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
129
6.1.1 Sensações Sonoras
47
Grifo feito pela autora.
130
De fato, nós pesquisadores – videntes – temos muita dificuldade em
analisar as mudanças sutis de sons; ficamos tão impressionados com os
aspectos visuais que não valorizamos estas variáveis ambientais.
131
aos sons do ambiente, principalmente o badalar de um sino48 que
ecoava por toda a extensão daquele espaço, jamais lembraria um
bar.
48
Nós pesquisadores tínhamos percebido o sino que ecoava de tempo em tempo no
ambiente, mas foi nosso informante que verificou a correlação existente entre as
batidas e o horário.
132
do Vazio – do Universo, do Infinito. [...] a imensidão é tão misteriosa [...]
tão habitada por fantasmas” (COELHO NETTO, 1979:65), é simples
compreender o teor imagético de “temor e medo” deste depoimento
feito por nosso informante cego congênito.
Figura 06-08: Vista geral do Acesso facilmente identificados. Essa destreza, segundo os cegos, se deu
da Rua Presidente Vargas principalmente pelos ruídos, que vinham das ruas, produzidos pelos
Fonte: da autora automóveis.
133
“O barulho do carro me orienta [...] Aí, ouvindo
esse barulho, ou eu chego na saída ou numa
janela aberta, eu posso encontrar uma janela
aberta, com certeza.” (MZ, cego congênito, 46
anos, informante da nossa pesquisa)
134
congênito, 45 anos, informante da nossa
pesquisa)
135
“A janela está aberta [...] Então, eu, ao ouvir o
barulho lá de fora, tenho sentido de distância e
altura,não é? Por isso que o mundo
murmurante é mais interessante. Por que com
a janela aberta, tem o murmurante para me
ajudar.” (MZ, cego congênito, 46 anos,
informante da nossa pesquisa)
136
Como observamos, esta característica perceptiva de uma “arquitetura
murmurante” facilita a locomoção dos cegos e também os habilita a
49
Esta capacidade é conhecida como visão facial ou sentido do obstáculo. (ver item
relacionado à audição)
137
“a coisa mais importante para os cegos na
locomoção é a audição [...], se você não ouvir
.... você praticamente está nulo e a audição
pra mim ou para qualquer cego, até onde se
pode fazer a proporção eu acho que a
audição substitui e muito a visão.” (JS, cego
congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
138
tiver um espaço aberto naquela parede eu vou
perceber, né? A gente percebe é que a
audição tem a ver com isso quando a gente
tapar o ouvido e a gente não conseguir andar.
Se eu colocar um algodão em cada ouvido eu
vou ter muita dificuldade para me locomover.”
(AH, cego congênito, 53 anos, informante da
nossa pesquisa)
139
audição no deslocamento seguro de nossos informantes.
140
amplidão dele, eu percebi por que você veio
de lá antes e você estava lá longe. Aí você
sente mais ou menos a distância, que tem... é...
estou sentido isso aqui como um corredor [...]
está me parecendo, aquilo eu não explorei. Eu
cheguei aqui, sentei aqui. [...] então está me
parecendo assim uma coisa reta.... tipo
retangular, né?” (LA, cego congênito, 46 anos,
informante da nossa pesquisa)
141
(ED, cego congênito, 56 anos, informante da nossa pesquisa). Sobre os
espaços amplos, coletamos algumas observações curiosas fornecidas
por nossos informantes:
Figura 06-09: Vista geral do “[quando o espaço é] uma coisa muito ampla,
entroncamento entre a cafeteria, então você não tem a percepção do teu
livraria e restaurante entorno (...) O problema é que, se eu não
Local onde como observamos nas tenho um ponto de percepção do som, aí fica
figuras 06-01 a 06-06 nossos difícil. É o problema da orientação, se você
informantes tiveram dificuldades na fala em espaço me vem à mente a questão da
locomoção. amplidão.” (MZ, cego congênito, 46 anos,
Fonte: da autora informante da nossa pesquisa)
142
Mas, mesmo admitindo que a amplidão espacial prejudica o cego em
seus deslocamentos, constatamos, na análise seqüencial do percurso
de nossos informantes, que a desorientação era causada menos pela
amplidão do espaço, como eles se referiam, do que pela falta de
ordenamento espacial. (ver figuras 06-01 a 06-06)
Por esse motivo é que todos os informantes atribuem valor positivo aos
ambientes que possuem conforto acústico. Verificamos, pelos
depoimentos, que o excesso de barulho causa perturbações
emocionais e desorientação espacial. Os trechos a seguir ilustram
Figura 06-10: Vista geral da
bilheteria como nossos informantes se sentem frente aos ruídos "desconfortáveis".
143
“Eu detesto ambiente com muito barulho [...] e
eu evito sempre que eu posso esses
ambientes.” (AH, cego congênito, 53 anos,
informante da nossa pesquisa)
144
6.1.2 Sensações Táteis e Proprioceptivas
50
Como descrito no capítulo 2.2, consideram-se proprioceptivas as sensações relativas
aos sentidos do movimento, cinestésico, vestibular e dor.
145
“levar uma criança [cega] para conhecer o
que é uma porta, uma porta de ferro, uma
porta de madeira, [...] de correr, o que é uma
janela [...] para saber que há mudanças e
diferenças. E é isso que vai trazendo [a noção
do] estético para uma pessoa cega, vai
trazendo a noção de belo. Porque, através do
tato, você pode dizer que uma coisa te agrada
menos do que outra.” (MG, cego congênito, 46
anos, informante da nossa pesquisa)
146
videntes que ao olhar parte de um objeto, tendem a ajustar sua
percepção para compreendê-lo em sua totalidade, mesmo que esta
não se apresente em seu campo de visão.
Assim, vemos que, para que haja percepção através do tato, faz-se
necessário o contato físico entre o receptor e o estímulo pois, do
contrário, a identificação seria apenas superficial – tal como um
obstáculo51.
51
Esta palavra obstáculo é muito utilizada por todos os cegos e significa qualquer
objeto ou parede que possam ser percebidos através da reverberação do som, sem
necessitar de contato, se tornando, desta maneira, uma apreensão superficial.
147
sucessiva, para depois serem organizadas, em conjunto, mentalmente.
Essas observações surgiram da análise dos relatos de nossos
informantes, cujos exemplos apresentamos a seguir:
148
objeto. E com a visão é diferente, pois,
dependendo da posição que você olha, você
vê o objeto de forma diferente.” (AH, cego
congênito, 53 anos, informante da nossa
pesquisa)
52
Estereognose significa a capacidade do indivíduo de perceber e compreender a
forma e a natureza dos objetos por meio do tato.
149
“o tato é um deles, agora se for uma pessoa
cega, ele é o que permite a leitura [...].
Pessoalmente, já falei anteriormente, eu não
sou uma pessoa com muita habilidade...
porque a habilidade, eu acho, ela independe
da história da visão, então essa habilidade
envolve também o tato, sei lá, tem alguma
coisa a ver. Você desenvolve o tato na medida
em que você se torna atento a detalhes que
você tenha que usar o tato pra cumprir um
determinado objetivo.” (LA, cego congênito,
46 anos, informante da nossa pesquisa)
53
Também conhecido como bengala longa, o bastão branco identifica seu usuário
como uma pessoa cega, servindo como proteção da parte inferior de seu corpo, ele faz
com que se evite colisões e obstáculos, sendo por isso, considerado como uma
extensão do sentido tátil da pessoa cega. (MELO, 1991:57)
150
para se defender dos obstáculos, o que às
vezes nem é possível. Porque um orelhão, ela
não vai detectar pois a testa já detectou
primeiro [...] uma grade é uma coisa aberta e a
gente não percebe muito [pela audição]; a
gente percebe uma parede, não percebe a
grade, e é claro que a bengala acaba
detectando” (AH, cego congênito, 53 anos,
informante da nossa pesquisa)
151
Verificamos, no experimento, que o reconhecimento do ambiente era
feito, em geral, de forma ordenada e seqüencial. Esta investigação
espacial, quando da ausência de uma fonte sonora ou auditiva, era
geralmente realizada paralelamente à parede e sempre com o auxílio
do bastão branco. Desse modo, os cegos iam se familiarizando com
os mobiliários, as formas dos espaços e as distâncias que os
interligavam. Com a leitura de Villey (1936) compreendemos que,
neste momento, eles estariam também procedendo a um
mapeamento mental do lugar, o que os levaria a um conhecimento
do espaço. Segundo o referido autor, o cego processa mentalmente
correlações entre os pontos de referência detectados e, em seguida,
sua compreensão espacial se torna plena, ou seja, basta detectar um
dos pontos que todos os demais passam a ser imediatamente
apontáveis. Voltaremos a esse assunto em breve.
152
quadrado. Se eu for caminhando em frente e
depois virar à esquerda, eu vou passar pelo
café e vou chegar lá onde a gente estava
antes - no guarda-volume – e, mais adiante, eu
vou chegar na Presidente Vargas.. se eu virar
no balcão à esquerda eu vou encontrar aquela
outra saída do cinema.” (AH, cego congênito,
53 anos, informante da nossa pesquisa)
153
muscular a gente conhece os espaços e,
também, tem o seguinte à própria prática, nos
lugares que a gente está habituado, a andar, a
gente vai sentindo por onde passa, sabe por
onde vai passar.” (HH, cego congênito, 55
anos, informante da nossa pesquisa)
154
HALL (1966:63), mais do que a audição, o sentido térmico auxilia esses
indivíduos em seus deslocamentos.
155
“[falando do MAM- Niterói] Muito interessante!
Um espaço amplo, muito arejado [...] um
espaço agradável, gostoso! Tem o vento do
mar, te dá aquela leveza que o mar sempre te
traz, esse toque de leveza.” (MG, cego
congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
156
diferenças de odores produzidos pelo ambiente, as pessoas cegas são
capazes de identificar, distinguir e conhecer determinados elementos
do espaço e se situarem nele.
157
supermercado. Eis que aparece o cheiro do
supermercado. [...] Ah! É um cheiro muito
confuso.... mas tem. Supermercado tem cheiro.
Com certeza que tem cheiro entendeu?
Restaurante tem cheiro e às vezes um
restaurante é diferente do outro.” (MZ, cego
congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
158
tudo que eu gosto.” (MZ, cego congênito, 46
anos, informante da nossa pesquisa)
159
6.2 Construção Mental do Ambiente
54
Grifo nosso.
55
A palavra desempenho está aqui empregada como uma “experiência produzida no
processo de interação” homem e ambiente. (RHEINGANTZ, 2000:25)
160
conhecer, interpretar e imaginar o espaço, mas sim que sua maneira
de dialogar com ele será qualitativamente diferente.
56
Como já mencionamos em outro momento deste trabalho, este autor que era um
psicólogo francês, era cego congênito.
161
desconhecido. A verdade é que você associa
muito o espaço ao desconhecido. Eu acho que
é aí que está a grande dificuldade! O ponto
crucial está aí!” (MG, cego congênito, 46 anos,
informante da nossa pesquisa)
162
conhecer o espaço da sua casa.” (MG, cego
congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
163
A importância que representam o guia vidente57 na fase de
crescimento, e o movimento de exploração dos espaços, pelo bebê
cego, foram constatados em todas as nossas entrevistas e apesar de,
inicialmente, não termos pretendido tratar deste assunto, este ficou
muito evidenciado no momento em que entendemos que a maneira
com que o adulto cego constrói mentalmente o ambiente depende da
bagagem e do repertório espacial adquiridos nestas primeiras
experiências de vida. Em vista disso, os relatos que se seguem ilustram
essa colocação:
57
“Paradoxalmente, a criança cega é, por um lado, completamente dependente do
mediador vidente e, por outro lado, divorciada da concepção que o mediador tem do
mundo. Por exemplo, quando uma criança cega, de 2 anos de idade, identifica uma
cadeira na qual um gato estivera deitado como sendo o próprio gato, o mediador talvez
não entenda o erro e responda com uma explicação que não leva em consideração a
importância da informação fornecida pelo cheiro. Ao invés de facilitar a elaboração, o
mediador, sem querer, desvalorizou a experiência particular da criança e impôs uma
regressão no nível da informação sensorial.” (SANTIN & SIMMONS, 2002:05)
164
tem essa noção: espaço é só aquilo que ela
consegue tocar.... Mas à medida em que ela
percebe que ela consegue se deslocar no
espaço e ela consegue mapear mentalmente
aquele espaço, que ela já domina, ela
começa a perceber que o espaço está muito
além da mão dela. E aí, quando ela ouve uma
pessoa gritando lá longe, quando ela ouve um
barulho, ela começa a descobrir que aquele
espaço é muito maior do que o que a mão
dela pode alcançar.” (AH, cego congênito, 53
anos, informante da nossa pesquisa)
165
treina a própria visão, ele é feito no próprio
meio ambiente a partir da atitude que as
pessoas têm com você, a partir da
oportunidade que você tem de contactar os
objetos, de vivenciar.” (HH, cego congênito, 55
anos, informante da nossa pesquisa)
166
que eu não esbarre nisso, não esbarre naquilo e
esbarrar para mim é fundamental, entendeu?
[...] Esbarrar é importante, tocar as coisas, é
fundamental pra mim, também me perder
dentro de um espaço pode ser fundamental.
Se não houver nenhum buraco para eu cair... e
até agora [durante o experimento], se tiver um
buraco e for um buraco que não me cause
nenhum grande problema, até pode ser legal,
entende? Mas se ele me causar problemas, se
ele for perigoso pra mim, então, realmente ele
é ruim.” (AH, cego congênito, 53 anos,
informante da nossa pesquisa)
167
idéia de espaço. Então quando eu vou visitar
uma casa, eu vou chegar lá e vou observar o
meu tato, eu vou prestar atenção ao piso, ao
que eu possa observar o tamanho, se a
escadaria é muito alta ou se tem ou não. Eu só
vou ter uma noção relativa daquilo ali. A gente
constrói o espaço, mas se eu tiver poucos
dados eu não posso fazer uma construção
perfeita.” (AH, cego congênito, 53 anos,
informante da nossa pesquisa)
168
[para poder construir o espaço mentalmente].
Completo, [...] a não ser que alguém faça a
descrição. [...]. Existe [mapeamento], e é aqui
que vem a diferença entre cada um de nós,
tem gente que mapeia muito bem, tem gente
que não mapeia, eu não mapeio bem. Então,
tem gente que consegue mapear tão bem que
anda e vai, por exemplo, pela segunda vez a
um lugar e anda legal. Tem gente que
consegue isso legal, por que mapeou muito
bem. Então quando a pessoa não mapeia
muito bem,... esquece [as informações que
levam ao conhecimento do espaço]. Eu
esqueço muito.” (MZ, cego congênito, 46 anos,
informante da nossa pesquisa)
58
percursos e nós estão sendo, aqui usados dentro das definições que Lynch (1977) faz
destes termos.
169
Evidentemente, as representações mentais que surgiram após os
percursos poderiam ter sido mais elaboradas se nossos informantes
tivessem retornado por diversas vezes ao local. Devido à pouca
disponibilidade de tempo para a elaboração da pesquisa, não
pudemos comprovar como seria o mapeamento de um espaço
vivenciado por diversas vezes consecutivas. Apesar disso, verificamos
Figura 06-15: Mapeamento que houve, na maioria dos casos, a criação de uma “imagem
Cognitivo JS, cego congênito, 46
anos, informante da nossa pesquisa embrionária” do espaço, composto a partir da marcação mental de,
Fonte: da autora no mínimo, três pontos de referência. Este fato comprovou a tese de
Villey:
Fonte: da autora de “dominar” o meio, por meio da experiência, quando então pode
relacionar todos os componentes ambientais entre si. Suas
representações espaciais são relacionadas a pontos fixos do espaço.
Esta tarefa exige a construção de sistemas de representações onde os
objetos particulares se identificam e se organizam entre si, servindo de
170
suporte para a localização dos outros. O depoimento de um de nossos
informantes ilustra esse dado:
Outro aspecto que ficou evidente no nosso estudo de caso diz respeito
às características físicas do ambiente. De todas elas, o tamanho e a
complexidade são os que apresentam maiores conseqüências na
adaptação do sujeito ao meio.
171
Nas entrevistas, nossos informantes foram unânimes em afirmar que,
quanto menor for o espaço, mais fáceis serão sua locomoção e
orientação. Porém, no experimento, detectamos que, mais do que a
dimensão do espaço, é sua complexidade o elemento que dificulta a
locomoção e a orientação. (ver figuras 06-01 a 06-06)
172
dialogam com o meio.
173
restaurante é diferente do outro. É, então, por
exemplo, que eu posso passar por um lugar e
dizer ah! é um supermercado, eu posso não
saber qual. Pelo cheiro a gente imagina logo,
isso aqui é um supermercado, mas aí claro ao
passar diante de um supermercado tem,
costuma ter, aquelas entradas amplas. Aí a
audição vai captar a entrada ampla, se tiver
cheiro, vai ter o barulho dos caixas
funcionando, você tem toda dica né?” (MZ,
cego congênito, 46 anos, informante da nossa
pesquisa)
A partir destes relatos, pudemos verificar que para cada espaço existe
uma informação que lhe é atribuída, ou seja, existem aspectos não
visuais que fazem referência ao significado que estes espaços têm
para os indivíduos, bem como o valor e a função que são transmitidas.
Estes são alguns dos itens que irão compor a representação espacial
de nossos informantes.
174
Depois de apresentarmos algumas das observações mais relevantes
do nosso estudo de caso, e de comentarmos sobre algumas
ferramentas usadas pelos cegos na estruturação espacial e
organização do ambiente, resta-nos refletir sobre o significado de
experienciar o espaço.
59
Grifo nosso.
175
As evidências que constatamos nas experiências deste “corpo-
receptáculo-cego” nos fala um pouco da margem existente entre um
“algo aqui dentro” e um “algo lá fora" (DERDYK, 2001:16), Onde este
corpo-cego recebe do mundo seus insumos sensoriais e o devolve num
outro corpo de vivências reconstruídas e renovadas.
176
“a cada momento a gente tem uma
experiência,.... eu vou pegar um exemplo do
dia em que eu fui à praia, eu tinha que
atravessar aquela praça para vir da praia para
pegar a calçada do lado da Avenida Pasteur e
eu estava sozinho e eu era jovem, então eu
senti aquela sensação de estar no espaço largo
onde não havia nada à minha volta. Assim...
como é que eu ia fazer uma reta, eu acabei
conseguindo, mas como é que eu ia fazer uma
reta ali naquele espaço? Eu acabei fazendo,
cheguei onde eu queria sem grandes
problemas e isso é só um exemplo, porque esse
tipo de coisa acontece inúmeras vezes com a
gente a cada dia, a cada momento,
entende?” (HH, cego congênito, 55 anos,
informante da nossa pesquisa)
177
difícil de descrever, não é fácil não, sabe? É
uma coisa muito subjetiva, mas aquele barulho
da onda, que aliás é uma coisa assim meio
melancólica, mas muito gostosa.” (AH, cego
congênito, 53 anos, informante da nossa
pesquisa)
Após esses relatos, como pensar que a Arquitetura não possa ser
compreendida pelo cego?
178
espaço se resume apenas naquilo que se apresenta aos olhos?
Entendemos que a melhor maneira de responder a esta questão de
Oliveira, seria citando algumas linhas escritas por Villey (1936:226)60
60
Como já mencionamos em outro momento deste trabalho, este autor que era um
psicólogo francês, era cego congênito
179
produzidas pelo conforto auditivo, térmico, olfativo e cinestésico,
somam-se em nossas mentes com nossos sentimentos, lembranças,
sonhos e aspirações, fazendo emergir julgamentos capazes de
transformar espaços em lugares (TUAN, 1983) e tornando-nos aptos a
interagir com eles. Para VILLEY (1936) e nossos informantes, a
arquitetura pode ser compreendida através de sensações
diferenciadas que, juntas, darão não apenas a idéia do todo, mas,
principalmente, serão capazes de estimular a imaginação, criando
valores e fornecendo significados aos lugares. Ilustramos estas
afirmações com as linhas que se seguem:
180
homem. [...] A criação da maneira mais
confortável pro homem habitar, enfim. É claro,
que a preocupação do conforto envolve tudo,
desenho, tudo, para que o homem possa se
sentir bem.” (LA, cego congênito, 46 anos,
informante da nossa pesquisa)
181
CONSIDERAÇÕES FINAIS
182
Devido à limitação imposta pelo tempo da pesquisa, não nos foi
possível aprofundar temas que consideramos de suma importância,
tais como a relação feita pelos cegos congênitos entre o tempo e o
espaço. O argumento de Sacks (1995:138), de que “o cego vive num
mundo só de tempo, pois constrói seus mundos a partir de seqüências
de impressões táteis, auditivas e cinestésicas”, embora necessite de
aprofundamento, não se confirmou em nossas pesquisas.
183
• quanto mais experiências o cego puder obter dos
lugares, mais individualizadas serão suas representações
e maior será a chance de elas ganharem um valor
afetivo (Villey, 1936: 223);
184
Buscando diferenciar os espaços vistos dos espaços vividos, este
mesmo autor argumenta:
61
Grifo nosso.
185
impressão do todo; e isso o impede de apreciá-
la com propriedade. [...] O cego não percebe
a obra arquitetônica como entidade unificada
– e a noção da unidade de um ser é condição
necessária para que seja emitido um juízo
estético a seu respeito. (OLIVEIRA, 2002: 206)
186
soltar um grito, para que nós, pesquisadores videntes, pudéssemos
ouvir o eco produzido como vozes caminhando até os céus e
voltando, desdobradas, como bênçãos.
62
Como explicitamos no capítulo Resultados e Discussões, para nossos informantes o
cheiro de cultura estava associado a uma mistura de cheiros de papel e de café, unindo
com as sensações auditivas do burburinho das falas pessoas.
187
Também a beleza do ambiente pode chegar à
imaginação do cego através do olfato: o
perfume das flores silvestres, o cheiro do capim-
gordura, o aroma do matagal em flor, o cheiro
emanado do chão quente ao receber a chuva
repentina, tudo desperta na alma do cego
uma sensação de prazer, de alegria e – por
que não dizer? – de beleza, muito maior do que
recebem as pessoas de olhos abertos nas
mesmas circunstâncias. (VEIGA,1983:36)
188
variações que oscilam de uma cultura a outra, conforme comentam
SANTOS e DUARTE (1999). Também nesse caso, a avaliação mais correta
de agradabilidade ou conforto seria aquela que considerasse essas
variáveis físicas e culturais, e não apenas a noção da sensação em si.
189
Segundo MAIA (2001), “não é mais a arquitetura que gera o espaço no
qual o homem deve se adaptar. O corpo gera a arquitetura onde a
mesma está completamente subjugada aos atos do indivíduo”.
190
intensidade o sentimento tão pregnante do
peso que foi vencido pela arquitetura.
(Villey,1936:288-289)
191
que o espaço público inclusive as nossas instituições semiprivadas –
escolas, universidades, centros comerciais, sedes de distrito – sejam
acessíveis para todos e que sejam projetados partindo da maior
exigência qualitativa63...” (ROGERS, 2000:152-153)
63
Tradução livre.
192
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
193
BACHELARD, G. A Poética do Espaço. [Tradução de Antonio de Pádua
Danesi]. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
194
BLANCO, F.; RUBIO, M. E. Percepción Sin Visión. In: ROSA, Alberto; OCHAITA,
ESPeranza. (Coords.) Psicología de la ceguera. Madrid: Alianza Editorial,
S. A., 1993.
195
sistemas vivos. [Tradução de Newton Roberval Eichemberg]. São
Paulo:CULTRIX, 1997.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12a. ed., São Paulo: Ática, 2000.
196
3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1981.
DERDIK, Edith. Ponto de chegada, ponto de partida. In: SOUSA, TESSLER &
SLAVUTZKY (org.). A invenção da vida: arte e psicanálise. Porto Alegre:
Artes e Ofícios, 2001.
DIDEROT, Dennis. Carta sobre os cegos, para o uso dos que vêem. In:
197
Guinsburg, J. Diderot - Obras I: Filosofia e Política. São Paulo:
PERSPECTIVA, 2000.
DRESSLER, T. On The pressure sense of the drum of the ear and “facial
vision”. The American Journal of Psychology, p. 344-350,1893.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Editora Perspectiva,
1989.
198
GASKELL, G. Entrevistas Individuais e Grupais. In: BAUER, M. W. & GASKELL,
G. (editores). Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: um
manual prático. [Tradução de Pedrinho A. Guareschi]. Rio de Janeiro:
Vozes, 2002. p. 64-89.
199
HERTZBERGER, Herman. Lições De Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes,
1991.
200
LIAKOPOULOS, Miltos. Análise Argumentativa. In: BAUER, M. W. & GASKELL, G.
(editores). Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: um manual
prático. [Tradução de Pedrinho A. Guareschi]. Rio de Janeiro: Vozes,
2002. p. 218-243.
LYNCH, Kevin. The Image Of The City. Cambridge: The Mit Press, 1960.
(Ed. Em Português: A Imagem Da Cidade. [Tradução de Jefferson Luiz
Camargo]. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
201
_________________. Fenomenologia Da Percepção. [Tradução de Carlos
Alberto Ribeiro De Moura]. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1999.
202
NORBERG-SCHULZ, Christian. Existence, Space and Arquitecture. Londres:
Studio Vista, 1975.
203
PERÓN, Erminielda. Preferências Ambientales Y Capacidad
Restauradora de los Lugares. In: MIRA, R.G., CAMESELLE, J. M. S. &
MARTÍNEZ, J. R. (Editores). Psicología Y Medio Ambiente: Aspectos
psicosociales, educativos y metodológicos. A Coruña: Asociación
Galega de Estudios e Investigación Psicosocial, 2002. p. 263-276.
204
communication approach. Beverly Hills: Sage Publications, 1982.
205
Projeto Do Ambiente Construído. Rio De Janeiro: Coleções PROARQ/
Ed. Especial, 2000.
206
Paulo: EPU Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1985.
VEIGA, José Espínola. O Que É Ser Cego. Rio De Janeiro: José Olympio,
1983.
207
VON MEISS, Pierre. Elements Of Architecture. 6. ed. London: E & FN SPON,
1997.
208