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MINAS GERAIS
RESUMO
Nesse sentido, o objetivo geral desse trabalho foi analisar a realidade social em que vivem os
operários metalúrgicos da cidade de Pirapora, com um olhar particularmente voltado para as
distribuições dos tempos destinados as obrigações e aqueles destinados ao lazer ou ao tempo
de dispor de si, seja ao descanso, a atividade ou a contemplação. O enfoque metodológico foi
referencial da pesquisa-participante (BRANDÃO, 1999), investigação participativa
(GABARRÓN Y LIBERTAD; LANDA, 1994) e a concepção de investigação social e enquete
operária proposta por THIOLLENT (1980). Os trabalhadores metalúrgicos em geral possuem
pouco tempo disponível após o cumprimento da jornada de trabalho, de estudo, para alguns,
obrigações sociais, políticas e religiosas. Os entrevistados, quando perguntados como
ocupavam o tempo disponível livre das obrigações, a maior parte responderam que o tempo
era muito curto para se fazer o que gostariam de fazer para seu desenvolvimento pessoal nesse
campo. O tempo destinado para dispor de si mesmo para fazer aquilo que tem vontade é muito
pequeno e quando há tempo, o cansaço e as limitações financeiras desfavorecem as
possibilidades de vivenciar experiências diversificadas de lazer.
1. Introdução
2. Metodologia
Resultados e discussões
O fim da folga de 80 horas que permitia ao trabalhador planejar uma possível viagem
curta, a implementação das horas extras não mais como um mecanismo extraordinário, mas
ordinariamente utilizado e o banco de horas opcional, esse último existente na LIASA S/A e
MINASLIGAS por enquanto, foram modificações destacadas e muito sentidas pelos
metalúrgicos entrevistados. O banco de horas para um dos entrevistados foi bom por permitir
tempo disponível em dias da semana para que o mesmo resolva pendências particulares, como
afazeres bancários, por exemplo, apesar de reconhecer que não acha certo que essas horas
pagas com folgas não incidam na contagem de tempo para a aposentadoria e nem sejam
remuneradas, como nas horas extras.
Os trabalhadores metalúrgicos em geral possuem pouco tempo disponível após o
cumprimento da jornada de trabalho, de estudo, para alguns, obrigações sociais, políticas e
religiosas. Os entrevistados, quando perguntados como ocupavam o tempo disponível livre
das obrigações, a maior parte responderam que o tempo era muito curto para se fazer o que
gostariam de fazer para seu desenvolvimento pessoal nesse campo. O tempo destinado para
dispor de si mesmo para fazer aquilo que tem vontade é muito pequeno e quando há tempo, o
cansaço e as limitações financeiras desfavorecem as possibilidades de vivenciar experiências
diversificadas de lazer.
Quando perguntados se existia lazer em Pirapora, todos os entrevistados ressaltaram a
existência de poucas alternativas e a ausência de possibilidades diversificadas oferecidas pelo
município. Entre as poucas alternativas, o Rio São Francisco apareceu como o principal
espaço de lazer onde os operários entrevistados costumam freqüentar sempre que podem e
dispõem de tempo, seja para pescar, nadar ou somente para passear na orla ou fazer uma
caminhada. Tanto que alguns operários possuem barco, pescam nos horários livres e mantém
até rancho (ponto de pesca) na barranca do São Francisco.
Em termos de vivências de lazer, um conteúdo muito presente nas entrevistas dos
operários foi a prática do futebol, demonstrando o quanto este esporte está enraizado na
cultura operária e o poder de integração que possui. Com exceção de um entrevistado, que
colocou essa prática numa escala secundária de importância, os demais operários afirmaram
em seus relatos “jogar futebol” como a principal atividade de lazer no tempo disponível, seja
nos clubes das fábricas, seja em campos de várzea ou ginásios poliesportivos espalhados pelos
clubes e áreas públicas.
Cada uma das três empresas metalúrgicas possui seus clubes esportivos e recreativos.
O Centro Esportivo Liasa (CEL), o Grêmio Recreativo da Minasligas (GREMIL) e
Associação e Clube Esportivo dos Funcionários da INONIBRÁS (ACEFI) são todos
financiados pelos trabalhadores. No caso da ACEFI, toda a gestão política, financeira e do
patrimônio é exercida pelos trabalhadores que elegem diretores da associação, mas, segundo
um dos entrevistados, não há muito interesse por parte dos trabalhadores em assumir a direção
do clube, menor ainda é o interesse da direção da empresa em investir em benefícios sociais
para seus funcionários. Cada trabalhador contribui mensalmente com R$ 8,00 descontados na
folha e o operário em questão não freqüenta esse clube por causa da infraestrutura precária e
pela possibilidade que tem de freqüentar o GREMIL que, segundo ele, é mais estruturado e
melhor para passear com a família.
Essa opinião é compartilhada por outro entrevistado membro da diretoria que não acha
apropriado conviver a semana toda sob as rígidas ordens de chefes e encarregados que
exploram o operário e aos finais de semana ainda ter que ver essas mesmas pessoas. Por
último, importante destacar que há os clubes de fábricas que são sustentados financeiramente
pelos trabalhadores e que a adesão numérica é grande.
Apesar do reduzido tempo disponível, os operários entrevistados quando perguntados
se dispusessem de mais tempo disponível o que fariam, as respostas giraram em torno de
estudos e viajar. O interesse por conhecimento existe e se manifestou tanto nos operários que
cursam graduação universitária por estudos complementares (fazer pós-graduação em cursos
de sua área) como naqueles que cursaram o nível técnico por estudos complementares
universitários. Mas são impedidos por diversos fatores para além da falta de tempo, como a
baixa remuneração e as poucas alternativas de estudo que o município oferece foram fatores
apontados como dificuldade.
Considerações finais
A explicação essencial para o lazer dos operários de Pirapora como a síntese das
circunstâncias objetivas de desenvolvimento da economia capitalista, em processo de
acumulação e desacumulação do capital permanente, formam subjetividades e determinam
limites para a manifestação da vida prática dos metalúrgicos sertanejos. Ao seguir as
necessidades da produção e do mercado, a jornada de trabalho e os mecanismos que a
regulamentam decretam a expropriação do tempo do operário que, em tese, poderia ser
destinado ao lazer.
Essa afirmação é confirmada pela estatística apresentada pelo DIEESE (2006), onde
afirma que no ano de 2003 aproximadamente 45% dos assalariados trabalhavam acima da
jornada regulamentada pela Consolidação das Leis Trabalhistas, reduzindo esse número para
40% em 2005. Coerente com a situação nacional, a jornada de trabalho nas fábricas
metalúrgicas de Pirapora descrita pelos operários evidenciam que ocorreram importantes
mudanças e foram criados uma série de mecanismos que diminuíram ou alteraram
significativamente o tempo de lazer dos trabalhadores, modificando os dias de folga a revelia
dos interesses dos trabalhadores, a revelia da cultura dos operários do sertão norte mineiro.
Referências Bibliográficas
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.). Pesquisa Participante. São Paulo: Editora Brasiliense,
1999.