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O LAZER DOS OPERÁRIOS

METALÚRGICOS DE PIRAPORA,
NORTE DE MINAS GERAIS

José de Andrade Matos Sobrinho – UNIMONTES


E-mail: zeobreiro@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO

- Lazer e mundo do trabalho: uma unidade dialética

- Dentro do que muitos discursos afirmam que vivemos uma sociedade do lazer,
como se dá essa relação entre os operários metalúrgicos de Pirapora, no norte
de Minas Gerais;

- O objetivo geral desse trabalho foi analisar a realidade social em que vivem os
operários metalúrgicos da cidade de Pirapora, com um olhar particularmente
voltado para as distribuições dos tempos destinados as obrigações e aqueles
destinados ao lazer ou ao tempo de dispor de si, seja ao descanso, a atividade
ou a contemplação.
METODOLOGIA

O enfoque metodológico foi o referencial da pesquisa-participante


(BRANDÃO, 1999), investigação participativa (GABARRÓN Y LIBERTAD;
LANDA, 1994) e a concepção de investigação social e enquete operária proposta
por THIOLLENT (1980).

Realizamos entrevistas de profundidade com seis operários para levantar


um conjunto de informações relacionadas a problemática investigada a partir de
uma enquete operária baseada em THIOLLENT (1981) e MARX (1880) para
descobrir como ocorre o lazer na vida prática desses trabalhadores.

Entrevistamos operários de vários perfis e que ocupam diferentes posições


na divisão do trabalho e nos cargos na fábrica, membros e não-membros da
diretoria do sindicato.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Jornada de trabalho

- Trabalha seis dias diretos e folga um, sem serem necessariamente fins de
semana;

- O fim da folga de 80 horas que permitia ao trabalhador planejar uma


possível viagem curta;

- A implementação das horas extras não mais como um mecanismo


extraordinário, mas ordinariamente utilizado e o banco de horas;
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Tempo disponível

Os trabalhadores metalúrgicos em geral possuem pouco tempo disponível


após o cumprimento da jornada de trabalho, de estudo, para alguns, obrigações
sociais, políticas e religiosas.

Os entrevistados, quando perguntados como ocupavam o tempo disponível


livre das obrigações, a maior parte responderam que o tempo era muito curto
para se fazer o que gostariam para seu desenvolvimento pessoal nesse campo.

O tempo destinado para dispor de si mesmo para fazer aquilo que têm
vontade é muito pequeno e quando há tempo, o cansaço e as limitações
financeiras desfavorecem as possibilidades de vivenciar experiências
diversificadas de lazer.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Vivências de lazer

- Quando perguntados se existia lazer em Pirapora, todos os entrevistados


ressaltaram a existência de poucas alternativas e a ausência de possibilidades
diversificadas oferecidas pelo município.

- Entre as poucas alternativas, o Rio São Francisco apareceu como o


principal espaço de lazer onde os operários entrevistados costumam frequentar
sempre que podem e dispõem de tempo, seja para pescar, nadar ou somente
para passear na orla ou fazer uma caminhada.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Vivências de lazer

- Um conteúdo muito presente nas entrevistas dos operários foi a prática do


futebol, demonstrando o quanto este esporte está enraizado na cultura operária e
o poder de integração que possui.

- Com exceção de um entrevistado, que colocou essa prática numa escala


secundária de importância, os demais operários afirmaram em seus relatos “jogar
futebol” como a principal atividade de lazer no tempo disponível, seja nos clubes
das fábricas, seja em campos de várzea ou ginásios poliesportivos espalhados
pelos clubes e áreas públicas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Clubes das fábricas

- Cada uma das três empresas metalúrgicas possui seus clubes esportivos e
recreativos. O Centro Esportivo Liasa (CEL), o Grêmio Recreativo da Minasligas
(GREMIL) e Associação e Clube Esportivo dos Funcionários da INONIBRÁS
(ACEFI) são todos financiados pelos trabalhadores.

- Os operários mais ligados ao sindicato relataram que não gostam de


freqüentar os clubes das fábricas por se sentirem constrangidos pela presença
de chefes e encarregados que também freqüentam.

- Outro entrevistado membro da diretoria afirmou que não acha apropriado


conviver a semana toda sob as rígidas ordens de chefes e encarregados que
exploram o operário e aos finais de semana ainda ter que ver essas mesmas
pessoas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Interesses no lazer

Apesar do reduzido tempo disponível, os operários entrevistados quando


perguntados se dispusessem de mais tempo disponível o que fariam, as
respostas giraram em torno de estudos e viajar;

O interesse por conhecimento existe e se manifestou tanto nos operários


que cursam graduação universitária por estudos complementares (fazer pós-
graduação em cursos de sua área) como naqueles que cursaram o nível técnico
por estudos complementares universitários. Mas são impedidos por diversos
fatores para além da falta de tempo, como a baixa remuneração e as poucas
alternativas de estudo que o município oferece foram fatores apontados como
dificuldade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A explicação essencial para o lazer dos operários de Pirapora como a


síntese das circunstâncias objetivas de desenvolvimento da economia capitalista,
em processo de acumulação e desacumulação do capital permanente, formam
subjetividades e determinam limites para a manifestação da vida prática dos
metalúrgicos sertanejos.

Ao seguir as necessidades da produção e do mercado, a jornada de trabalho


e os mecanismos que a regulamentam decretam a expropriação do tempo do
operário que, em tese, poderia ser destinado ao lazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A jornada de trabalho nas fábricas metalúrgicas de Pirapora descrita pelos


operários evidenciam que ocorreram importantes mudanças e foram criados uma
série de mecanismos que diminuíram ou alteraram significativamente o tempo de
lazer dos trabalhadores, modificando os dias de folga a revelia dos interesses
dos trabalhadores, a revelia da cultura dos operários do sertão norte mineiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org.). Pesquisa Participante. São Paulo: Editora


Brasiliense, 1999.

GARRABÓN Y LIBERTAD, Luis R.; LANDA, Hernández. Investigación participativa.


Cuadernos Metodológicos do Centro de Investigaciones Sociológicas, Madrid,1994.

THIOLLENT, Michel. Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. São


Paulo: Livraria e editora Polis LTDA., 1980.

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