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Um Método para Determinação das Condições de Segurança de

Tráfego em Vias Urbanas


Amílcar Sampedro Tamayo, asampedrot@yahoo.es

Vânia Barcellos Gouvêa Campos, vania@ime.eb.br

Pós-Graduação em Engenharia de Transportes, Instituto Militar de Engenharia


Praça. Gal. Tibúrcio 80, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP:22290-270

Resumo
Este artigo apresenta um método que possibilita avaliar de forma quantitativa as
condições de segurança oferecida aos usuários do sistema de tráfego pela infra-
estrutura de vias arteriais e coletoras urbanas a partir de uma avaliação da
influência das diferentes características das vias na segurança das mesmas.

Palavras-chaves: Segurança de Tráfego, Infra-estrutura viária, Vias urbanas.

1. INTRODUÇÃO

O crescimento das cidades e o conseqüente desenvolvimento dos sistemas de transporte


tendo em vista as necessidades de deslocamento de pessoas e cargas, têm provocado um
acréscimo notável dos acidentes de trânsito. Nas principais regiões metropolitanas brasileiras, os
acidentes provocam um grande número de mortes e lesionados e perdas materiais que
representam quase 0,5% do PIB. Nesse contexto, a situação das vias arteriais e coletoras é
particularmente complexa. Estas representam 20% da rede viária urbana e canalizam quase um
terço dos veículos-km trafegados, nelas acontecem 70% do total de acidentes de trânsito
registrados nas cidades do Brasil.

Embora o homem seja indicado como o principal responsável na ocorrência de acidentes, novas
abordagens para o tratamento da segurança viária estão embasadas no gerenciamento dos riscos e
na implantação de estratégias preventivas que enfatizam nas ações destinadas a redução dos
riscos associados aos componentes viário e veicular, visando ambientes viários que propiciem
uma redução das falhas humanas. Dentre estas técnicas destaca-se a Auditoria de Segurança
Viária (ASV).

Porém, a introdução das ASV em muitos países, incluído o Brasil, é ainda limitada. Deve ser
levado em conta que a ASV é uma técnica surgida em países desenvolvidos, embasada nos
padrões e particularidades do tráfego desses países e direcionada a avaliar e resolver problemas
próprios da sua infra-estrutura viária.

Dentro deste contexto, desenvolveu-se um procedimento para avaliação de diferentes elementos


da infra-estrutura, em vias arteriais e coletoras urbanas, visando um acréscimo das condições de
segurança de tráfego nas mesmas cuja utilização auxiliasse países como o Brasil, e outros da
América - latina, a priorizar intervenções nas vias para maior segurança das mesmas tendo em
vista os poucos recursos disponíveis nestes países.

O procedimento proposto divide-se em duas fases independentes: a primeira compreende um


método para formulação do nível de segurança e a segunda fase a aplicação prática do
procedimento através de um processo de inspeção na via . Cada uma dessas fases é composta por
diferentes etapas. O objetivo deste trabalho é apresentar o método de formulação do nível de
segurança (NS) baseado num conjunto de parâmetros ou características da infra-estrutura que
tem influência na segurança viária.

2. ESCOLHA DAS CARACTERÍSTICAS VIÁRIAS A SEREM AVALIADAS

A escolha das características viárias a serem avaliadas foi realizada a partir dos checklists
desenvolvidos por diversas instituições para a aplicação das ASV, especificamente, a partir do
resumo desses checklists realizado por NODARI [1]

Desta análise foram selecionadas 46 características da infra-estrutura viária que mais afetam a
segurança da circulação em vias arteriais e coletoras urbanas. Para facilitar sua análise e o
desenvolvimento, esses 46 elementos foram agrupados em 11 categorias relacionadas com
aspectos específicos das vias apresentado na tabela 1

Tabela 1 – Características da Infra-estrutura viária


Categoria Elementos viários considerados
1- Rampas compridas ou íngremes
2- Curvas verticais acentuadas
Traçado 3- Curvas horizontais fechadas
4- Superlargura e/ou superelevação
5- Alinhamento horizontal e vertical
6- Número e largura de faixas
7- Largura de calçada
Seção
8- Presença de canteiro central
transversal
9- Tipo e largura do canteiro central
10- Altura do meio fio
11- Estado estrutural
Pavimento 12- Resistência a derrapagem
13- Condições de drenagem
14- Presença das marcas no pavimento
15- Presença de placas
Sinalização
16- Credibilidade das marcas e placas
17- Condições das marcas e placas
18- Complexidade do desenho
19- Faixas adicionais e canalizações
Interseções
20- Visibilidade
21- Tipo de controle de tráfego
Ciclistas e 22- Existência de ciclovias ou ciclofaixas
pedestres 23- Condições físicas das ciclovias ou ciclofaixas
24- Condições físicas das calçadas
Ciclistas e 25- Tipo de travessia
pedestres 26- Ciclo em travessias com semáforo
27- Existência de áreas de proteção
28- Presença de tachões
Dispositivos
29- Presença de delimitadores
Complementares
de Segurança 30- Presença de barreiras longitudinais
31- Presença de guias sonoras
Dispositivos 32- Localização e visibilidade do semáforo
de Controle 33- Ciclo do semáforo
de Tráfego 34- Presença e visibilidade do radar
35- Espaços auxiliares para ônibus e veículos de carga
36- Estacionamento ilegal
Estacionamento
37- Layout de pontos de ônibus
38- Estacionamento permitido na via
39- Obstáculos laterais
Áreas
40- Número de painéis de publicidade
adjacentes
41- Número e condições dos acessos
42- Compatibilidade de veloc. regulamentada e diretriz
43- Comp. de veloc. regulamentada e condições operacionais
Condições
44- Condições de iluminação
operacionais
45- Condições da vegetação
46- Comp. entre categoria e condições operacionais

3 – MÉTODO PARA FORMULAÇÃO DO NÍVEL DE SEGURANÇA

A formulação do índice tem como base a obtenção de pesos para cada uma das características e
das categorias que são analisadas por um grupo de especialistas da área de engenharia e
segurança de tráfego gerando uma expressão quantitativa para avaliar as condições de segurança
que a infra-estrutura de uma via, ou trecho desta, oferece aos diferentes usuários da mesma. O
método para formulação do índice NS compreende inicialmente as seguintes etapas

1.Avaliação da importância relativa das características da via por categoria


2.Avaliação da importância das categorias viárias, e
3.Equação do Nível de Segurança.

3.1 Avaliação da importância relativa das características

Esta primeira etapa visa estimar a importância do efeito das diferentes características viárias
escolhidas sobre a segurança do tráfego em vias arteriais e coletoras urbanas em cada categoria.
A estimativa geral dos pesos relativos das características se realiza empregando a técnica de
ponderação chamada de classificação ou ordenamento [2].

No inicio, solicita-se a cada especialista para definir a importância relativa de cada característica
viária dentro de cada categoria. Para isto, na primeira parte do questionário, os especialistas
devem avaliar a influência negativa dos parâmetros considerados sobre a segurança viária,
atribuindo o maior valor ao que estimar com maior influência dentro da categoria, e valores
decrescentes sucessivamente até chegar ao elemento que estimar menos importante, que deve
ficar com o valor 1. Assim, o parâmetro de maior influência na categoria recebe o valor
correspondente ao número de parâmetros de cada categoria. No exemplo da Fig. 1, a
característica de maior influência recebe o valor 5.

Categoria Parâmetros considerados Influência


Número e largura de faixas inadequados 5
Reduzida largura de calçadas 2
Seção transversal Ausência de canteiro central 4
Tipo e largura do canteiro central inadequados 3
Meio fios com altura inadequada, altos ou baixos demais 1
Fig. 1. Exemplo de resposta à análise em cada categoria.

Após o processamento de todas as respostas, calcula-se o peso de cada característica por meio do
Método de Ponderação citado anteriormente empregando a Eq. 1. Essa operação é realizada para
cada uma das 11 categorias consideradas.
m

∑I i ,k
Pij = k =1
n m
[Eq. 1]
∑∑ I
i =1 k =1
i ,k

onde:
Pij = peso relativo da característica i dentro da categoria j
Ii,k = nota atribuída à característica i na resposta k
i = característica considerada
k = número da resposta
m = total de respostas (especialistas)
n = número de características dentro da categoria j

3.2 Avaliação da importância das categorias

Esta etapa corresponde à segunda parte da entrevista e tem o intuito de avaliar a importância da
influência das 11 categorias escolhidas sobre a segurança do tráfego, considerando os elementos
viários que as compõem. Assim, na segunda parte, pede-se aos especialistas que avaliem a
importância de cada categoria considerada, atribuindo um valor segundo a escala de valores
apresentada a seguir.

Classificação Pouco Muito


importante importante
Peso 1 2 3 4 5
Fig. 2. Escala de valores para a avaliação da importância das categorias.

Para a determinação da importância relativa de cada categoria, se utiliza um procedimento


similar ao empregado anteriormente para calcular os pesos relativos das características. A
importância de cada categoria Sj é calculada somando as notas atribuídas por cada um dos
profissionais entrevistados, e dividindo esse valor pela somatória das somas de todas as
categorias, através da Eq. 2.
m

∑T j ,k
Sj = k =1
n m
[Eq. 2]
∑∑ T
j =1 k =1
j ,k

onde:
Sj = importância relativa da categoria j,
Tj,k = nota atribuída à categoria j na resposta k
j = categoria considerada
k = número da resposta
m = total de respostas
n = número de categorias

3.3 Formulação do Nível de Segurança

O objetivo desta última etapa é formular o modelo para determinar o Nível de Segurança. O
valor de NS vai depender das condições em que se encontra cada uma das características viárias
consideradas e, portanto, das notas (N) recebidas na inspeção da via (segunda fase do
procedimento), e dos pesos relativos determinados para cada característica e cada categoria.

O primeiro passo compreende o cálculo do NS de cada categoria j no segmento viário analisado,


que é função das características especificas que compõem a categoria. O NSj é calculado
mediante a Eq. 3.

NS j = ∑ (Pij × N i ) [Eq. 3]

onde:
NSj = nível de segurança da categoria j no segmento analisado
Pij = peso relativo da característica i dentro da categoria j
Ni = nota atribuída na inspeção no campo à característica i,

Passa-se então ao cálculo do NS global do segmento d analisado na via. O NS global do


segmento depende dos NSj calculados e dos pesos relativos determinados para cada categoria. A
inclusão desses pesos relativos na fórmula, em forma dos coeficientes Sj que afetam os valores
dos NSj, permite que o NS global do segmento seja influenciado pelos NSj proporcionalmente à
importância sobre a segurança estimada para cada categoria. Ou seja, os coeficientes Sj
correspondem à importância relativa de cada categoria para a segurança viária. A expressão geral
para determinar o NS global é mostrada na Eq. 4.

NS d = ∑ (S j × NS j )
t
[Eq. 4]
j =1

onde:
NSd= nível de segurança global no segmento d analisado
Sj = importância relativa da categoria j
NSj = nível de segurança da categoria j no segmento analisado
j = categoria analisada
t = número de categorias consideradas

Por meio do cálculo dos NSd, é possível determinar a situação de segurança apresentada em cada
um dos segmentos em que foi dividido o trecho ou a via escolhidos. Isto é importante para
verificar qual, ou quais, dos segmentos avaliados oferecem as piores condições de segurança aos
usuários e, portanto, onde deve ser priorizado o emprego dos recursos disponíveis.

Por fim, determina-se o NSv geral da via ou do trecho analisado, que leva em conta o nível de
segurança oferecido por cada um dos segmentos. O NSv é determinado a partir do cálculo da
média geométrica de todos os NSd já calculados, utilizando a Eq. 5.

n
NS v = n ∏ NS
1
d [Eq. 5]

onde:
NSv = nível de segurança geral do trecho ou da via escolhidos
NSd= nível de segurança global no segmento d analisado
n = número de segmentos em que foi dividido o trecho ou via escolhida

O uso da média geométrica para verificar o nível de segurança geral do trecho ou via é sugerido
por NODARI [1] neste tipo de análise. Segundo este autor, consegue-se, assim, favorecer os
trechos ou vias com condições de segurança mais uniformes, e conseqüentemente, minimizar o
efeito negativo que sobre os usuários produz a circulação por vias e trechos que apresentam
diferenças notáveis no que tange a suas condições de segurança.

4. CONCLUSÕES

Considera-se que o método desenvolvido é uma ferramenta válida para a avaliação da influência
das características das vias sobre a segurança dos diferentes usuários do sistema de vário urbano,
sobretudo em países onde as estatísticas dos acidentes não são confiáveis e com poucos recursos.
Sua aplicação é simples, conforme se observou numa aplicação realizada com um grupo de
especialistas, e permite a consolidação dos efeitos de cada um dos elementos em um único valor,
considerando a importância relativa destes. A essência do método possibilita, ainda, que sejam
minimizadas as possíveis inconsistências ou diferenças encontradas na avaliação realizada pelos
diferentes especialistas, aumentando a precisão dos resultados.

5. REFERÊNCIAS
[1] C. Nodari. Método de avaliação da segurança potencial de segmentos rodoviários rurais de
pista simples. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2003.

[2] V.B. Gouvêa, Contribuição ao estudo de implantação de terminais urbanos de passageiros, Tese
(Mestrado em Engenharia de Transportes) Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 1980.

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