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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

Resenha do texto: A constitucionalização do Direito Civil e seus efeitos sobre a


responsabilidade civil.

A reverência das normas infraconstitucionais à Constituição não é


exercido apenas formalmente, durante o processo de sua elaboração e aprovação, mas
com base em sua correspondência substancial aos valores constitucionais, consagrados
normativamente sob a forma de princípios.
O reconhecimento do princípio da dignidade da pessoa humana como
fundamento da República é hoje uma conquista determinante que transforma
subversivamente toda a ordem jurídica privada.
Quanto ao direito da responsabilidade civil pode-se dizer que é antes de
tudo, jurisprudencial, tendo em vista que os magistrados são os primeiros a sentirem as
mudanças sociais e, bem antes de qualquer movimento legislativo, estão aptos a atribuir-
lhes, por meio de suas decisões, respostas normativas.
Deve-se salientar que a responsabilidade civil se caracteriza atualmente
pela concepção que empreende a presença de um dever geral de solidariedade, previsto
constitucionalmente, tendo como base a obrigação de comportar-se de modo a não lesar
os interesses de outrem.
O dano, como o fundamento unitário da responsabilidade civil, é a própria
razão de ser do dever de indenizar. Assim, a responsabilidade civil consiste na imputação
do evento danoso a um sujeito determinado, que será, então, obrigado a indenizá-lo.
Observa-se que o direito civil não tipifica legislativamente cada
comportamento danoso. A obrigação de indenizar está inserida numa cláusula geral,
prevista no art. 186 c/c o art. 927 do Código Civil, cumprindo identificar quais são os
eventos que fazem nascer tal obrigação.
Enquadram-se inúmeras hipóteses de responsabilidade objetiva, reguladas
seja por meio de cláusula geral (CC, parágrafo único do art. 927), ou mediante
dispositivos específicos (CC, arts. 931, 932, 937, 938, etc.), consubstanciando-se em
danos ressarcíveis, embora não resultantes da prática de qualquer ilícito.
A noção de dano ressarcível divide-se basicamente em duas correntes: a
que identifica o dano com a violação culposa de um direito ou de uma norma, ou
antijuridicidade; e a chamada teoria do interesse, hoje majoritária, que vincula o dano à
lesão de um interesse ou bem juridicamente protegido. Sendo assim, a tutela ressarcitória
está fundada na cláusula geral de responsabilidade.
A concepção de dano moral (lesão a dignidade da pessoa humana)
ressarcível está baseada, hodiernamente, na teoria do interesse juridicamente protegido,
recorrendo-se a uma cláusula geral de tutela da personalidade. Desta forma, enquanto em
alguns ordenamentos esta cláusula vem expressa na legislação ordinária, no Brasil, ela
encontra-se no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
No final do séc. XIX, Saleilles e Josserand, indicavam a insuficiência do
sistema de reparação baseado somente na noção de culpa e já buscavam instrumentos de
imputação de responsabilidade que não necessitassem deste elemento subjetivo, no
Brasil, a CF de 1988 abarcou tal entendimento.
Por seu turno, o Código Civil de 2002 trouxe o reconhecimento definitivo
da existência de um sistema dualista de responsabilidade civil, na medida em que, ao lado
de uma cláusula geral de responsabilidade pela culpa, instituiu uma cláusula geral de
responsabilidade pelo risco, conforme verifica-se no art. 927 e seu parágrafo único,
inobstante a responsabilidade pelas atividades de risco causar extensa discussão
doutrinária.
Tal discussão enseja esclarecer o alcance da última expressão, que se
refere a risco-proveito, risco-criado, violação de dever de segurança e habitualidade ou
profissionalidade na interpretação da expressão legal “atividade normalmente
desenvolvida” do aludido artigo do Códex.
A autora acredita que, com o tempo, o dever de solidariedade social, que
fundamenta a responsabilidade objetiva, sobressairá e aceitar-se-á que seu alcance deva
abranger a reparação de todos os danos sofridos injustamente, havendo nexo de
causalidade com a atividade desenvolvida.
Portanto, o fundamento ético-jurídico da responsabilidade objetiva deve
ser buscado na concepção solidarista, instituída pela Constituição, fazendo-se incidir o
seu custo na comunidade, quer dizer, em quem esteja vinculado ao ato danoso. Esta é a
razão ético-jurídica do deslocamento dos custos do dano da vítima para o responsável
pela atividade.

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