Você está na página 1de 18
MARCIO BOLDA DA SILVA METAFISICA E ASSOMBRO CURSO DE ONTOLOGIA 62 3.0. O HORIZONTE DA “PHYSIS” E inegavel que, para a filosofia grega antiga, 0 horizonte de compreensao ¢ o da physis. A totalidade do real foi percebida como “natureza”, como cosmos. 0s fildsofos pré-socraticos, chamados por Aris- t6teles de “fisidlogos”, voltaram sua atencao para as questes quesedetinham com aanélisedosurgimento docosmos, os elementos estruturais que o compoem, o problema da geracao e decomposicao. ‘A questao que, sobremaneira, se destacou nas espe- culagies destes pensadores foi a definicao de um princi- pio (arché) vinico, que explicasse a natureza fisica do ‘mundo. Principio este entendido como originario, causa de todas as coisas, fonte da qual o mundo se origina e termo tiltimo de explicacio para todos os seres. Este principio, em ultima andlise, pode ser associado a0 conceito daquele “quid” que intenciona definir a coisa, dizer 0 que ela realmente é. 53 Apesar de, a partir dos sofistas, 0 quadro do questionamento filoséfico mudar, focalizando sua atencéo sobre o homem e a problemética moral, e, posteriormente, Sécrates, Plato, Aristételes redi- mensionarem o ambito do discurso filosofico, nao se pode descartar a idéia de que o background, sobre 0 ‘qual se apéia tal discurso, é 0 horizonte da physis. Eevidente, no pensamento aristotélico, aidéia de que o que é verdadeiramente, o que permanece para sempre éa natureza, vista comoconjuntodesubstan- ias determinadas por um processo ciclico de geracéo © corrupeao. A substancia, no fundo, é o substrato perene da realidade, alicerce sobre o qual o mundo repousa, fonte permanente e inesgotavel de onde emergem todas as possibilidades. Para ampliar, ainda, a compreensao do horizonte rego antigo, 6 conveniente anotar que, em seu livro El humanismo helénico, Enrique Dussel sublinha a visdo dualista do mundo na qual se funda tal humanismo. Este est pervadido de um dualismo antropolégicoe ético, que poe em oposicao arealidade material ea espiritual. Salienta a divisao de corpo e alma em detrimento da dimensao corporal, conside- rada como principio negativo ou substancia originé- ria do mal. O fato de a negatividade do corpo ser fortemente acentuada desloca 2 importancia da intersubjetividade e do critério de bem comum para ‘um plano secundario. O homem, cuja alma é imortal, participa da eter nidade, embora seja peregrinante no corpo até a libertagio final. A catarse mister se faz, porque a alma, como num cércere, encontra-se aprisionada 54 pelo corpo. Detém-se, conseqentemente, sob oimpé- rio do movimento e da corrupeao, subjugada. Néo obstante a instabilidade do acidental, a imprevi- sibilidade da mobilidade, conjetura-se a necessidade de perpetuar 0 movimento, mesmo que aparente- mente se manifeste contingente. Assim, no cenario do mundo grego, a idéia de “eterno retorno” aparece como lei da necessidade. A repeticdo constante do ciclo corrupeao-geracao intui a perpetuidade edivinizacao do tempo fisico. Oretor- no incessante dos ciclos indica que infalivel € 0 destino, e a fatalidade, subjacente. O tempo, tal qual © corpo, & negativo. Nao comporta “historicidade autoconsciente”. A temporalidade do individuo e da sociedade nao é levada em consideracdo, ‘No plano ontol6gico, essa concepedo ¢ articulada ‘como “monismo transcendental”: 0 ente ¢ assumido na totalidade divina e neutra da physis*. Faremos sobressair, neste horizonte, os nomes de Socrates, Plataoe Aristételes, que des-cortinam para ‘o Ambito metafisico trés realidades que causam as- sombro e arrebatamento. 1 ¢¢ Rarigue Duss, Hamaniome Helin, Benge Ales, Busha, 1975, pp 46 55 3.1, SOCRATES E O VALOR ETICO INCONDICIONADO Na Apologia, uma acusacio é levantada contra Socrates, visto que desabafa nestes termos: “tenta- ram persuadir-vos de acusagdes nao menos falsas contra mim: que hé tal Séerates, homem sabio, que especula acerca das coisas celestes, que investiga todos os segredos subterrdneos, que torna as razdes mais débeis nas mais fortes”. Desse modo, “€ verdade, 6 cidadaos de Atenas; ganhei esta fama por certa sabedoria que possuo. E de que sabedoria se trata? Talvez de uma sabedoria puramente humana. E quanto a ser sébio, corro 0 isco de possuir unicamente essa sabedoria’®. ‘Mas em que consiste essa sabedoria? “Ora, (Querefonte) um dia esteve em Delfos © ousou fazer esta pergunta ao oréculo: (..) —pergun- tou se havia alguém mais sabio do que eu. A Pitia respondeu que nao havia ninguém”. — “Ouvida a resposta do oraculo, refleti deste modo: Que quer dizer 0 deus? O que esconde o enigma? Porque eu, por mim, nao tenho consciéneia de ser sabio, nem pouco, nem muito. Que quer dizer entao 0 deus quando diz que sou 0 mais sébio dos homens? Certamente nao mente, ele que nao pode ‘mentir. E por longo tempo permaneci nesta incerte- 2 PltioDislogon Apologia de Sieratie, Sto Pale, Hem, 977,» 4. 3 Idem idem» 88 56 za, sem saber o que queria o deus dizer. Finalmente, contra a minha vontade pus-me a fazer pesquisas a esse respeito™ Poe-se & procura da resposta para tal enigma. Depois de pesquisar entre os homens politicos, os oetas, os artesdos, chega & seguinte conclusao: “Mas a verdade é outra, 6 cidadaos: quem sabe ¢ apenas o deus, e quer dizer com seu ordculoque pouco ou nada vale a sabedoria do homem, e dizendo que Socrates € sébio, ndo quer referir-se propriamente a mim, Socrates, mas apenas usar meu nome como exemplo, como se tivesse dito: O homens, é sapien- tissimo entre vés aquele que, como Sécrates, tenha reconhecido que sua sabedoria ndo possui nenhum valor”. ‘Nesta busca pela defini¢ao e aquisicao da verda- deira sabedoria, Socrates centraliza 0 seu interesse na problemética do homem. E faz uma grande desco- berta: a esséncia do homem é a sua psyche. Se os fildsofos naturalistas se empenharam em dar resposta a pergunta que os inquietava: o que é a natureza?, qual € o principio uiltimo das coisas?, Socrates dirige o seu questionamento paraa tentati- va de definir a esséncia do homer. Na concepedo socratica, s6 uma resposta ¢ possi- vel:ohomem é a sua alma, identificada com a razdo, com aatividade humana pensante e eticamente ope- rante. A alma 60 elemento que identifica 0 et cons- ciente: € a propria consciéncia intelectual e moral. 4 den, tio, 4 5 Tem, idem, p82 87 Devidoaisso, porseraalma aessénciadohomem, compete a cada individuo e, de modo especial, aos educadores, fazer com que o escopo principal da vida seja a cura da prépria alma. Pois, para Sécrates, “isto, v6s osabeis, ¢ordemdodeuse estou persuadido de que exista para vs maior bem, na cidade, queesta minha obediéncia ao deus. Nao faco outra coisa, em verdade, com este meu andar, sendo persuadir a vés, Jovens e velhos, que nao deveis cuidar nem do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais que da alma, para que ela se torne étima e virtuosissima, e que das riquezas nao nasce virtude, mas da virtude nascem as riquezas e todas as outras coisas que so bens para os homens, tanto para os cidadaos individualmente como para o Estado”. A partir dessa exigéncia, a alma impele o homem a0 ato de conhecer-se a si mesmo. O “conhece-te a ti mesmo” 6 0 desejo incessante que pulsa na alma humana, Aoconhecer-se, ela des-cobre a sua propria natureza, aquilo que deve ser: boa e perfeita, Ou seja, ela, por esséncia, é virtuosa, ‘Avvirtude (areté), segundo Sécrates, é a “ciéncia” ou 0 “conhecimento”. O vicio, nesta perspectiva, en- ‘40, 56 pode significar ignorancia, privacao doconhe- cimento. Esta tese incute uma conseqiéncia imedia- ta:ninguém peca voluntariamente, omal é praticado devido a ignorancia, por falta de “ciéneia”. O bem moral 6 reduzido ao ato do conhecimento. Asabedoria, neste caso, é virtude. Ou, invertendo 0s termos, a virtude indica uma forma de conheci 6 tier, idem, p62. 58 mento, A razo, assim, expressa a natureza do ho- mem e as virtudes servem para aperfeigoé-la, possi bilitando plenamente a sua atuacao. © conhecimento, por conseqiiéncia, € inato. A ‘alma pode se apossar da verdade, porque dela esta “gravida”. Basta a sua parturicéo. Ela vem & luz, & medida que ¢ parida. Para tanto, 0 tinico método apropriado é a “maiéutica”. Diante do que foi explicitado, eabe a pergunta: Paraametafisica, hoje, qual 60 valorda via socratica? Sabemosa fortiori que a visdosocrética éredutiva, enquanto identifica razaoe virtude, moral econheei- mento. Mas, ultrapassando o erro, denominado de “intelectualismo”, no qual incorre, para a ética metafisica, Sécrates des-vela uma dimensao essen- cial da vida humana: a ética —a busca do sentido de “bem”. © valor ético, devido a sua fundamentacao metafisica, est radicado na realidade, como proprie- dade inerente ao seu modo de ser, como expressao de sua tendéncia e fim, como revelacao de sua bondade ontolégica. Em virtude desta relacio, é necessario associar 0 sentido de bondade ao de valor, pois, segundo a expresso escoldstica —ratio oni, aquilo pelo que uma coisa ¢ boa apresenta valor. As coisas ‘so boas porque encarnam valores. Bondade e valor expressam a propria identidade ontologica, a “tota- lidade” substancial de cada ser particular. Por ser aquilo que é, por estar em conformidade com as propriedades que Ihe sao intrinsecas, cada realidade se expe ao ato moral do respeito, sobretudo, 0 ho- ‘mem consciente de sua grandeza existencial, 59 Amoral (osaber articulado através da vivenciade valores a serem respeitados de modo absoluto) é, portanto, a primeira instancia que se abre a nés para além da experiéncia, para além de tudo aquilo que se pode dizer e explicar com um discurso teérico. Isto significa que qualquer metafisica ter inevitavel- ‘mente um aleance pratico, moral e politico, a exem- plo de Socrates que tinha em vista formar bons cidadaos numa situacao de crise politica A importdncia da dimensao moral, para a qual nos desperta 0 pensamento socrético, ainda nos faz compreender: a) O saber esta implicito no nosso modo de agi. 'Nés sempre exercitamos ou levamos a prética um, saber que nao somos capazes de explicar teorica- mente, Nao agimos as cogas, mas sabemos aquilo que estamos fazendo. Isto indica, segundo a tese socratica, que 0 vicio, o erro, muitas vezes, sao fruto da ignorancia. b) Existe, alias, em nossa interioridade, um “sa- berinexprimfvel”. O nosso saber nao termina lé onde acaba a nossa possibilidade de discursar, pois possuf- mos algumas certezas que nao estamos em grau de exprimi-las, que no conseguimos explicd-las ou Justificd-las com 0 discurso légico. Talvez, elas re- Yelam 0 segredo de nossa intimidade, a inviolabi- lidade de nossa conseiéneia como santuario inde vassavel, ©) Disso se apreende que: 60 — 0 sentido de verdade interior transcende a exterioridade objetiva dos fatos, dos acontecimentos; — a relacdo entre foro interno e foro externo, praticamente, sempre ¢ tensa e conflitiva; —o significado da “consciéncia”, para a vida moral, é de suma importancia. Ela é a instancia intermediaria, o elo de ligagao entre a instancia normativa e a situacional. Justamente por isso, em nivel propriamente pratico e analitico, é possivel que exista o erro na consciéncia, sem que esta perca sua dignidade e seu valor obrigatério. E 0 caso da consei- éncia invencivelmente errdnea. a) Adefinigdo de“norma” tem queestar vinculada, a idéia de valor. Na verdade, norma é a explicitac&o racionalizada do valor. E a sua formulacao légico- conceitual, De acordo com esta compreensao, 6 ape- nas uma mediacao que nao pode ser absolutizada, dado que o cardter de absoluto pertence ao valor. EXERCICIOS HERMENEUTICOS 1) Relacione metafisica e étiea. 2) O saber ético tem necessidade de uma funda- mentac&o metafisica? 8) Afirmar que os seres so bons, que sua tendén- cia natural é boa, ndo cair em uma concepcao 61 ‘metafisica ingénua e excessivamente otimista? Des- deestaperspectiva, como seexplicaaquestaodo mal? 4) 0 estudo metafisico da atividade, da agao, do agir do ser, faz emergir a questo do “bem”, na qual estdoimplicados outros problemas que exigem maior aprofundamento: — a relacao entre “bem”, “fim” (tendéncia) “valor”, —a idéia de que a bondade do “fim” se comunica 0s “meios” (bonum est diffusivum sui). —a problematica da existéncia de atos “intrinse- ‘camente” maus, 3.2. PLATAO E 0 AMOR A BELEZA Segundo a desericdo platOnica do “mito da caver- na’, ha outra realidade que nos causa admiracio. —“Imagina homens em morada subterranea, em forma de caverna, que tenha em toda a largura uma entrada aberta para a luz; estes homens ai se encon- tram desde a infancia, com as pernas e 0 pescogo acorrentados, de sorte que nao podem mexer-se nem ver alhures exceto diante deles, pois a corrente os impede de virar a cabeca; a luz Ihes vem de um fogo aceso sobre uma eminéncia, ao longe atras deles; 62 entre 0 fogo e os prisioneiros passa um caminho celevado; imagina que, ao longo deste caminho, ergue- se um pequenomuro, semelhanteaos tabiques que os exibidores de fantoches erigem & frente deles e por cima dos quais exibem as suas maravilhas.(..) —(.., pensas que em tal situacdo jamais hajam visto algo de si proprios e de seus vizinhos, afora as sombras projetadas pelo fogo sobre a parede da caverna que est A sua frente? — E como poderiam? — observou — se sao forga- dos a quedar-se a vida toda com a cabeca imével? — E com 08 objetos que desfilam, nao acontece 0 mesmo? — Incontestavelmente. —Se, portanto, conseguissem conversar entre si, nao julgas que tomariam por objetos reais as som- bras que avistassem? — Necessariamente. —E se a parede do fundo da prisao tivesse eco, cada vez. que um dos portadores falasse, creriam ou- vir algo além da sombra que passasse diante deles? — Nao, por Zeus — disse ele, — Seguramente — prossegui — tais homens 56 atribuirao realidade as sombras dos objetos fabri ceados. iteiramente necessario. —Considera agora o que lhes sobrevira natural- mente se forem libertos das cadeias ¢ curados da ignorancia. Que se separe um desses prisioneiros, que o forcem a levantar-se imediatamente, a volver 6 pescoco, a caminhar, a erguer os olhos & luz: a0 efetuar todos esses movimentos sofrerd, e 0 ofusca- 63 mento o impedira de distinguir os objetos cuja som- bra enxergava ha pouco. O que achas, pois, que ele responderd se alguém lhe vier dizer que tudo quanto vira até entaoeram apenas vaos fantasmas, mas que presentemente, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vé de maneira mais justa? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas passantes, 0 obrigar, a forca de perguntas, a dizer 0 que 6 isso? Nao crés que ficara embaracado e que as sombras que via ha pouco the parecerao mais verda- deiras do que os objetos que ora Ihe sao mostrados? — Muito mais verdadeiras — reconheceu ele. —E seo forcam a fitar a propria luz, nao ficaréo 0s seus olhos feridos? nao tirard dela a vista, para retornar &s coisas que pode olhar, e nao crera que estas sto realmente mais distintas do que as outras ‘que lhe sto mostradas? —Seguramente. —E se —prossegui—o arraneam a forca de sua caverna, 0 compelem a escalar a rude e escarpada encosta enao osoltam antes de arrasté-lo até aluzdo sol, nao sofreré ele vivamente e nao se queixara destas violéncias? E quando houver chegado a luz, poder, com os olhos completamente deslumbrados pelo fulgor, distinguir uma s6 das coisas que agora chamamos verdadeiras? — Nao poder — respondeu; — ao menos desde logo. — Necessitaré, penso, de hébito, para ver os objetos da regiao superior. Primeirodistinguiré mais fecilmente as sombras, depois as imagens dos ho- mens e dos outros objetos que se refletem nas aguas, 64 a seguir os préprios objetos. Apés isso, poderd, en- frentandoaclaridade dos astrose da lua, contemplar mais facilmente durante a noite os corpos celestes € ‘0 céu mesmo, do que durante o dia o sol e sua luz. — Sem diivida. — Por fim, imagino, ha de ser o sol, ndo suas vas imagens refletidas nas 4guas ou em qualquer outro Jocal, mas o préprio sol em seu verdadeiro lugar, que ele poderé ver e contemplar tal como 6. lecessariamente. —Depois disso, hé de concluir, a respeito do sol, que é este que faz as estacdes e os anos, que governa ‘tudo no mundo visivel e que, de certa maneira, é causa de tudo quanto ele via, com os seus companhei- ros, na caverna, — Evidentemente, chegard a esta conclusio. — Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que nela se professa e dos que ai foram os seus companheiros de cativeiro, nao crés que se rejubilaré com amudancae lastimaré estes tltimos? —Sim, decerto. — Esse eles ento se concedessem entre si honras, ¢ louvores, se outorgassem recompensas aquele que captasse com olhar mais vivo a passagem das som- bras, que se recordasse melhor das que costumavam vir em primeiro lugar ou em tiltimo, ou caminhar juntas, e que, por isso, fosse o mais hébil em adivi- nhar 0 aparecimento delas, pensas que 0 nosso ho- ‘mem sentiria citimes destas distingdes ealimentaria inveja dos que, entre os prisioneiros, fossem honra- dos ¢ poderosos? Ou entao, como o her6i de Homero, no preferiré mil vezes ser apenas um servente de 65 charrua, aservicode um pobrelavrador, esofrer tudo no mundo, a voltar as suas antigas ilusdes ¢ viver como vivia? — Sou de tua opiniéo — assegurou; — ele prefe- riré sofrer tudo a viver desta maneira. —Imagina ainda que este homem torne a descer Acavernae vasentar-seem seu antigolugar: naoteré ele os olhos cegados pelas trevas, ao vir subitamente do pleno sol? — Seguramente sim — disse ele. —Esse, para julgar estas sombras, tiver de entrar de novo em competicao com os cativos que nao aban- donaram as correntes, no momento em que ainda esté com a vista confusa e antes que seus olhos se tenham reacostumado (e o hébito & obscuridade exigiré ainda bastante tempo), ndo provocaré riso & proria custa endo diraoeles que, tendoidopara cima, voltou com a vida arruinada, de sorte que nao vale mesmoa pena tentar subiraté14?E se alguém tentar solté-los e conduzi-los ao alto, e conseguissem eles pegé-lo e maté-lo, nao o matario? — Sem diivida alguma — respondeu. —Agora, meucaroGlauco—continuei—cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos mais acima, compararo mundo quea vista nos revela ‘a morada da prisdo e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol, No que se refere a subida a regiao supe- rior e& contemplacao de seus objetos, se a considera- res comoa ascensio da alma ao lugar inteligivel, nao te enganarés sobre 0 meu pensamento, posto que ‘também desejas conhecé-lo, Deus sabe se ele é verda- deiro. Quantoa mim, tal é minha opiniao: no mundo 66 inteligivel, a idéia do bem 6 percebida por timo ea ‘custo, mas nao se pode percebé-Ia sem concluir que é a causa de tudo quanto ha de direito e belo em todas as coisas; que ela gerou, no mundo visfvel, a luz € 0 soberano da luz; que, no mundo inteligivel, ela pré- priaé soberana e dispensaa verdade ea inteligéncia; ‘e que é preciso vé-la para comportar-se com sabedo- ria na vida particular e na vida publica”. Este trecho do livro VII de A Republica, que reproduz 0 didlogo entre Sécrates ¢ seus inter- locutores, Glaucoe Adimanto, afirma a existéncia de ‘uma realidade projetada para além das sombras das coisas passageiras. Segundo ofamoso “mitoda caver- na’, € possivel imaginar os olhos deslumbrados do homem que, a0 conseguir se soltar das correntes, contempla a luz do dia 0s verdadeiros objetos. E é tao imaginavel ainda o seu regresso a obscuridade, sen- do, pelos seus antigos companheiros, considerado louco, por nao acreditarem em suas palavras. ‘Sabemos que, nesta ilustracdo mitolégica, subjaz a tentativa platonica de definir as razdes que expli- cam as contradicdes da realidade. Esta incutida a investigagdo que procura determinar o principio unificador das polaridades contrastantes da realida- de (0 devir ea imutabilidade, o ser eo nao-ser, o uno eo miltiplo). No fundo, Plato é levado a encontrar respostas mais consistentes as questdes que intrigaram os seus predecessores. 1 plato, Republic I, So Pale, DIFEL, 1973, p. 15-109 67 Do pensamento platénico, trés doutrinas nos des- pertam interesse: a) A doutrina das idéias: Platao reconhece a existéncia de dois niveis de ser: um 0 mundo fenoménico, visivel; outro, 0 mundoinvisivel, metafenoménico, puramente inteli- givel, captado exclusivamente com a mente. Exis- tem, portanto, duas realidades contrapostas: amate- rial e a imaterial, a sensfvel e a supra-sensivel, a empirica e a metaempirica. Dai que o verdadeiro ser € constituido da “realidade inteligivel”, fandamento do “mundo das idéias”. Na concepgdo platénica, a idéia é entendida como realidade ontolégica, uma espécie de ser. E uma “entidade”, substancia, Nao é simples pensamento, mas overdadeiro ser", o“ser por exceléncia” que faz com que a coisa seja aquilo que é. E 0 protétipo (0 paradigma), ao qual todos os seres se assemelham, ou 0 modelo permanente de alguma coisa. o “uno” que funda (realmente, ontologicamente: o porqué assim) 0 méltiplo. B, ainda, 0 “dever-ser”, a norma ontologica que se encontra subjacente aos fatos da experiéncia. ‘A idéia, como protétipo, 6 assim caracterizada: 1) E “sempre o mesmo”, “em si mesmo” e “per se” (auto kath’hauton), por isso, é imével, nao esta sujei- to a0 devir, 2) E 0 “verdadeiro ser’, a “realidade mais real” (ontbs on), em oposicao a simples “aparéncia” (doxa) que reveste todo 0 sensfvel, o mundo da experiéncia. Contrariamente, ao nosso modo corrente de falar, a 68 idéia, para Plato, ¢ algo mais real e “existente” do ‘que as coisas materiaise os dados da experiéncia. Ela 6enquanto tal, porque é imutavel, absoluta, a0 passo que odevir é um modo insuficiente de ser (aquilo que vem nao é ainda plenamente) 3) Bm razio disso, a idéia platonica 6 supra- sensivel, puramente “inteligivel”, apreendida ape- nas com 0 pensamento e nao com os sentidos. b) A “idéia de Bem” é, de certo modo, a idéia das idéias, o principio supremo a partir do qual as idéias adquirem valor inteligibilidade. “Ela ideia do bem) propria é soberana edispensaa verdade ea inteligén- cia; e que é preciso vé-la para conduzir-se com sabe- doria na vida particular e na vida publica” (A Repui- blica, 517b). Com efeito, nenhuma virtude ¢ virtude, nenhum. prazer é prazer, se nao forum prazer"bom”, um modo “bom” de agir’, e para conhecé-lo, em primeiro lugar, é preciso conhecer o “Bem enquanto tal, conhecimen- to obrigatério para os que assumem o encargo de governar a cidade” (A Republica, 505e-506a). ‘Aidéia de “Bem”, destarte, 6 principio supremo de unificagao do multiplo. Como as idéias nao sa0 apenas principios de conhecimento, mas prinespios ontolégicos (uma agio ¢ justa devidoa sua semelhan- ca com a idéia de justica etc), a idéia de “Bem” é 0 principio ontol6gico supremo, mediante o qual tudoo que € “bom” tem seu valor e seu ser. Ein viltima £8 scx que sj antjonn postr muita xs, no frm tos ot onhecer tut enon do born conbos: nada de belo ou dete? epbiea s0bed 69 instancia, é 0 elemento que explica a “razio” de tudo aquilo que 6, Sendo assim, a idéia de “Bem” se projeta para além daquilo que pode ser, reinando, sem duivida, sobre o mundo inteligivel das idéias. Assume tracos e caracteristicas divinas e a “metafisica”, cuja finali- dade 6 0 seu conhecimento, por meio do discurso (légos), torna-se uma “teologia”. Ora, enquanto vistvel a inteligéncia, ao pensa- ‘mento, 0 “Bem” se identifica com o “Belo” (a justa medida, a harmonia, a ordem interna do ser), a tal ponto que para os gregos virtude e bondade formam ‘uma tnica coisa (“kalokagathia” — “beleza-bonda- de", cf. osentidode “uma bela aco”), enquanto vicio 6 “feio", vergonhoso, ©) Para chegar ao conhecimento da idéia de Bem, para “vé-la”, a psyché do homem deve ultrapassar 0 mundo dos sentidos e da aparéncia, no maximo “morrer’. Morte para a qual a filosofia é arrastada (Fédon, 661b-d) e que antecipa progressivamente a liberacao da alma das cadeias que a aprisionam ao corpo. A verdadeira filosofia é “exercicio de morte”. Para Platao, duas sao as vias de purificacao- ascensio: 1) 0 “Amor" (éros) que, atraido pela Beleza, supe- raas tendéncias instintivas da alma que a impelem para “baixo" (Fedro, 237d-288¢; 258c-254e). Fascina- do pela beleza deste mundo, o homem deve elevar-se até a Beleza” queexisteem simesmae porsimesma, da qual participam todas as outras coisas belas, em virtude de que 0 “Amor” é sede de beleza e de bonda- 70 de. O vértice desta ascensao seria o éxtase mistico diante da beleza divina, pois o “Amor” também é saudade do Absoluto, transcendente tensao verso 0 metaempirico, retorno a fonte originaria. 2) A metafisica, ndo sendo experiéncia mistica nem éxtase, deve procurar recuperar, através de um discurso conceitual, “dialético™, aquilo que o¢ros faz contemplar diretamente. A “dialética” éa apreensao, fundada sobre aintuigdointelectual, domundoideal, de sua estrutura, do lugar que cada idéia ocupa, relacionada com as outras, Como conclusio, de Platao podemos aprender: 1) A existéncia nao s6 de um saber, mas de uma realidademetafisica, taoreal como aquela que vemos e tocamos. Realidade esta suprema e divina: funda- mentode tudo aquilo que ébom ebelonomundofisico ehumano, O discurso metafisicomantém-se aberto& existéncia do Transcendente. 2) Enquanto a instancia étiea de Sécrates nos fazia perceber a importancia de um saber definido por valores e normas morais absolutas, a instancia estética e erdtica, des-velada por Platao, nos propicia ver que os valores reais de beleza e de bondade transcendem as coisas materiais que os represen- tam, Estes valores nos ajudam a entrever uma reali- dade que vai além do simples dado (0 fato), e que 0 mundodaexperiéncia ndoconseguiréjamaisencarna- la ou representé-la perfeitamente, 2 Dialects pons "ugundo ip de pavegae™ os rea oma forgn dee orga, quando vent ae impultone as cs eas Fedon n ‘Tenhamos bem presente que a experiéncia estéti- cae o.amor abrem uma privilegiada via de acesso a0 campo metafisico, 3)A ansia, que inquieta o coracaodo homem, pela aquisicaode um “bem” projetadode modo absolutoou totalizante. Pulsa, na interioridade do ser humano, 0 desejo ou a busca incontida por uma realidade pere- ne, absoluta, 4) 0 sentido de utopia: a projecdo “idealistica” do mundo, dasociedade. A doutrina de Platao concentra em seu bojo aspectos criticos em relago ao seu mundo politico e social, que ecoam como exortacao & transformacao, sorvendo sua inspiragao e seu dina- mismo das “idéias”, EXERCICIOS HERMENEUTICOS 1) Pesquise os diferentes significados deinterpre- tacdo do “mito da caverna”, 2) Por que, em Platao, a des-coberta da existéncia de uma realidade “supra-sensivel” favorece a funda- do da metafisica? _3) No discurso metafisico, ha uma questo polé- mica que congrega opinides divergentes: a “beleza” é um dos atributos (transcendentais) do ser? 4) Relacione “idealismo” e “utopi 72 5) Em nossos dias, clama-se por uma sociedade mais justa e fraterna. Indaga-se por um ideal de atuiagio politica e por uma democracia. Dentro deste contexto, como se caracterizaria “o ideal” para uma sociedade latino-americana? 33. ARISTOTELES E A “FILOSOFIA PRIMEIRA” ‘A “filosofia primeira” de Aristételes deu & Metafisica o nome, como também oseu contetidoe as estruturas fundamentais. Comoa Légicaaristotélica, durante quase dois mil anos, era simplesmente con- siderada “a” légica, do mesmo modo a metafisica aristotélica tornou-se “a” metafisica. “Aristételes, envolvido pela busca do“verdadeiro”, enfrenta o repto de perquirir a ciéncia que explica como e por que o saber pode ser fundamentado. Existe, segundo sua opiniao, “uma ciéncia queinves- tiga oser como ser e 08 atributos que lhe so préprios em virtude de sua natureza. Ora, esta ciéncia é diversa de todas as chamadas ciéncias particulares, pois nenhuma delas trata universalmente do ser como ser, Dividem-no, tomam uma parte e dessa estudam os atributos: 6 0 que fazem, por exemplo, a8 cigncias mateméticas. Mas, como estamos procuran- do os primefros prinefpios e as causas supremas, 3 evidentemente deve haver algo a que eles pertengam como atributos essenciais. Se, pois, andavam em busca desses mesmos prineipios aqueles filésofos que pesquisaram os elementos das coisas existentes, 6 necessario que esses sejam elementos essenciais € ndoacidentais do ser. Portanto, édoser enquantoser que também nés teremos de descobrir as primeiras causas”® Esta ciéncia (epistéme), pela qual aspirava Aristételes em toda a sua obra, expressa um “saber fundado”, um saber ciente deque necessariamente“é sempre assim”, j& que conhece a razao (o porqué) daguilo que é conhecido, o seu fundamento (tiltimo), asua “causa”, lugar préprio da verdade (cientifica) 6 0 “ser assim como é", O que quer dizer concretamente: “aqui- Jo que é enquanto é” (on hé on, ens qua ens). Ea ciéncia fundamental, a “filosofia primeira”, deverd considerar “o que é enquanto 6”, Tal filosofia sera, impreterivelmente, uma “filosofia do ser” (do “é as- sim”). Ela responde & necessidade de conhecer verdadeiro, & radical necessidade de averiguar 0 “porqué” ultimo. 10 Asti, tei 1¥ 1008 29-90 (.Alere, £8 Globo, 960) va sans Sn nie satan er nau fone "ero pengnca se alosoda Prineen universal ou wo trata de um stort dr uina epele de ser prt sem means a anes aa ‘Srfias ed todas iguaisa eae npr tanto a Genmetra es Acros fstadam una epi parca de Sereoguant a Mtematca universal st plc gusimente a ton no renpoenoe que, ven sxe reer ‘en das oes flomades ela Netartsn sik serancenca pel mas, fesse dnsateiniinve nc qn ests deve antec Serta Posts Praia verso Sentiso eset « prmatta Ea la Sompetraaconsidorasa ronson = nnn daeastocanc comes ‘abso gun portenem engeant so ais uae 3 90) ™ Aristoteles atribui a metafisica a finalidade de indagar: a) sobre o ser enquanto ser, b) sobre as causas ¢ principios primeiros, c) sobre a substancia, 4) sobre Deus e a substancia supra-sensivel. a) As diferentes acepcdes de ser “A ciéneia do filésofo trata do ser enquanto ser, universalmente e nao de um ponto de vista particu- lar. Ora, o ser tem muitos sentidos e nao se entende num s6™.. “Em varios sentidos se pode dizer que uma coisa ‘é. Num desses sentidos, ‘ser’ significa ‘o que uma coisa é', ou uma esséncia; noutro, designa ‘uma qualidade, uma quantidade ou algum atributo desse género. Embora ‘ser’ tenha todos esses senti- dos, é evidente que o que primariamente ‘, é a esséncia, a substancia da coisa". ‘Jé se percebe que “ser” é uma palavra e uma realidade analégica. Seus diferentes significados implicam um ponto de referéncia unitério, comum: a substancia, ‘Uma répida anélise seméntica da palavra “ser” mostra que 0 “6 assim” pode ser dito de modos diferentes: 18) Nocaso principal, quandose trata de um saber cientifico (necessario e fundado), ser significa aquilo que 0 sujeito (do jufzo) é em si mesmo (a sua “essén- cia”), aquilo que a ele pertence necessariamente: dizendo “é”, enuncia-se a verdade profunda doser de quem se fala. Este 6 o “ser-por-esséncia” (per se) 13 Maio Xt 10800 20. 6 Mozoice VIL 1028 10-1, 2) Podem ser verdadeiros também os jufzos que nose fundam sobre a esséncia, que nao tém nada de necessério nem de demonstravel, mas que se mos- tram “verdadeiros de fato”. Este 6 0 “ser-por-aciden- te” (per accidens). 3) “Ser” e “o que 6” significam igualmente que algumas coisas “sao” em poténcia e outras em ato “Pois tanto do que tem a potencialidade de ver como do que efetivamente vé dizemos que é ‘vidente’;e, do ‘mesmo modo, dizemos que ‘sabe’ quer o que pode efetivar 0 seu conhecimento, quer o que o esti efeti- vando; e tanto do que ja se encontra em repouso como do que pode repousar dizemos que repousa”®, & denominado de “ser-em-poténcia” (in potentia). 4°) Por outro lado, “ser” e “é” significam que uma proposi¢ao é verdadeira, e “nao ser”, que ela no é verdadeira, mas falsa — é isso tanto no caso da afirmativa como da negativa®, O verbo ser, nesta acepedo, tem uma fungao puramente logica. Servin- do para expressar uma negacdo, jamais pode signifi- car uma existéncia ou um ser. A sua funcdo é a de ligar (“c6pula”) opredicado ao sujeito (essere copulae) ‘A“analogia do ser” deve ser compreendida dentro desta perspectiva ontolégica. As andlises preceden- tes mostram que o “ser” se diz de modo mais ou menos préprio, Isto quer indicar que nao existem diferentes “graus” de ser (como em Platao), mas diferentes “modos” de ser, de existir, realmente. Isto 6, 0 que existe per se 0 “6” num modo diferente daquele que é er accidens. 18 Moise V 10175, 18 Newfates V 1017 90.5. 16 Assim, 0 termo “ser” nao 6 univoco, nem equivoco. f, apenas, empregado num sentido“andlogo”, segun- do As diferentes significacdes que possam existir numa determinada relagdo™ de seres. No plano ontolégico, a palavra “ser” se refere em modo préprio a0 “ser por esséncia” (ousia) e, em modo derivado, através da relagdo deste com 0s outros. b) As categorias A“substancia”, enunciada pelo sujeito do jufzo, e 0s seus “acidentes”, afirmados pelos predicados, sa0 também modos diferentes de ser: “em si mesmo” (in se)ou“em outro” (in alio). “As modalidades de ‘ser em si’ so exatamente as indicadas pelas figuras de predicacao, pois os sentidos de ‘ser’ sao em ntimero igual ao dessas figuras. Por conseguinte, como al- guns predicados indicam o que 6 0 sujeito, outros a sua qualidade, outros a quantidade, outros arelacao, outros a atividade ou passividade, outros ainda o ‘onde’ ou o ‘quando’, ‘ser’ tem um significado cor- respondente a cada uma destas categorias”*, ‘As “categorias” designam os modos de ser da “ousia”. Estes se deduzem novamente de um fato ling@iistico — do modo pelo qual se enuncia “aquilo que €*, dado que o jufzo é sempre composto de um sujeito e predicados. O swieito expressa aquilo que é propriamente, a “ousia” como tal, asubstincia: oque sustém (substat) todo 0 ser; ou o que é em si mesmo (ens in se) 2 “Anatgon’ segundo wa reas, 18 Meafe Vi016425 1 Quanto aos predicados, Aristoteles distingue nove aspectos, sob os quais pode ser considerado o ser enquanto tal de um sujeito (ou nove maneiras de ser da substancia): quantidade (quanto), qualidade (como), relagao, lugar (onde), tempo (quando), Posicao, ter (provido de que coisa), atividade e passividade (paixao). Estas maneiras de ser nao existem “em si mesmas”, mas somente “em outro” (entia in alio), com mais precisao, na substancia”. ‘As dez categorias soos géneros supremos de tudo ‘que é ou pode ser. Contudo, oelenco das categorias de acidente, por ser estabelecido de modo empiric, no 6 necessério nem exaustivo. Como a “substancia” é 0 objeto principal doestudo da metafisica aristotélica, outras questées a ela se vinculam: 1) Cada ser real (que existe ou pode existir) é composto de forma (morph), mediante a qual é “tal” ser, e de matéria (hyle) pela qual é “este” ser. Reconhece-se, de fato, um ser por aquilo que é segundo 0 seu aspecto exterior, peculiar, sempre 0 mesmo, por aquilo que possui em comum com 03 outros seres da mesma espécie. A sua forma espect- fica é um conjunto estruturado de tracos caracteris- ticos que forma um “todo”, superior e diverso da soma. ou uniao de suas partes. Indo mais a fundo, constata-se que este ser deter- minado possui um “principiointernode unidade”,em 19 acdane signin: que adee uma cine dela pode ser fimo opr pre loneeaesteamuniinene Hitmen prem no fx pared cuaeaencia™tafcaV 1081690. 78 virtude do qual este se apresenta sempre com o seu aspecto especifico: é um gato, no se assemelha apenasaum gato. Para os viventes, éoseu “prinespio vital” (psyche) ou entélécheia. Dessamaneira, aforma éoprinefpioquedetermi- nae atualiza a matéria. Constitui a esséncia de cada coisa. Define o que a coisa é, pertencendo-lhe como constitutivo intrinseco, ‘A matéria, por sua vez, 6 0 principio constitutive da realidade sensivel. Funciona como “substrato” para a forma. Neste sentido, é potencialidade indeterminada. Tem a possibilidade de ser atualiza- da, de receber uma forma, (© composto de matéria e de forma é, por Aristételes, chamado de “synolon”. $6 0 “synolon” é considerado substancia a titulo pleno, por integrara “substancialidade” do principio material como a do formal”, O que existe verdadeiramente, portanto, néo é apenas a forma ou a matéria, mas 0 todo, 0 concreto; 56 que é assim como é, em virtude da forma. Certamente, se pode dizer: 6 a forma que configurao ser. A matéria, como tal, apreendida em si mesma, ‘nao é nada (nem isso nem aquilo): é um “puro poder- ser” (potentia pura). 2)Tudoo que devém, enquanto tal, écomposto de poténcia (um poder-ser real, determinado pelo ato) e deato(o ser efetivamente). Analogicamente, a maté- ria esté em poténcia em relacao a forma, ea substén- cia em relagao aos seus acidentes”. 20 sta tain aml ecb a denominated ilenarfamo 21 “Oat, psn, ur no de ener apt a que chamame otc daemae que pencalmenteporesamplo macstita de Hermesseenanta 9

Você também pode gostar