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que ideia fazemos das diferenças de prática pedagógica, quer nas institui-
capacidades interindividuais e do des- ções em que a pedagoga trabalhou,
tino a dar-lhes não só no seio da esco- quer pela escola que criou, envol-
la, mas, antes disso, no seio da socie- vendo no seu projecto pedagógico
dade» (p. 110). outros docentes, lançando as semen-
Finalmente, Casimiro Amado con- tes do que se tornaria o fulcro de
sidera que, como teoria pedagógica todas as batalhas pedagógicas no cam-
que é, a doutrina da escola única po do ensino depois de Abril de
move-se tanto no terreno da pedago- 1974: a integração educativa.
gia como no da política, pelo que o Uma abordagem, também interes-
leitor, ao longo do texto, não pode sante ao fenómeno da crise estudan-
deixar de depreender como, e em que til actual, ao nível universitário, é
termos, as vicissitudes da nossa histó- produzida por Jorge Miguel Pedrei-
ria recente se cruzam com este facto. ra, antecedida por uma coerente aná-
À questão «como ensinar» tenta- lise evolutiva das políticas de ju-
ram responder Rogério Fernandes e ventude dos Estados europeus, da
Maria Isabel Alves Baptista. Esta responsabilidade de Álvaro Garrido.
última autora centra o seu trabalho Este último autor define os pressu-
no percurso que liga o ensino mútuo postos sociológicos que constituem a
à pedagogia científica através de um juventude como sujeito social autó-
caminho marcado pela luta contra a nomo, objecto de apetite social e
alfabetização em que pontuam, no político para o Estado e outras instân-
século XIX, os nomes de António cias sociais, tais como a Igreja e o
Feliciano de Castilho e João de Exército, em particular pelo seu esta-
Deus. A formação pedagógica dos tuto transitório na hierarquia social.
professores do ensino secundário é Os Estados totalitários, no perío-
marcada pela influência positivista e do entre guerras, foram os primeiros
experimentalista que marcou os estu- a definir políticas destinadas à juven-
dos sobre educação nos finais de Oi- tude, procurando estabelecer orienta-
tocentos, a coroar um percurso peda- ções que dissuadissem a emergência
gógico que, segundo Isabel Baptista, de culturas juvenis, enveredando,
se orienta para a cientificidade. assim, pela sua «corporização soci-
O papel de Maria Amália Borges al». Garrido analisa os casos das or-
no contexto da «revolução pedagógi- ganizações das juventudes alemãs e
ca» durante o Estado Novo foi ana- italianas, distinguindo, no primeiro
lisado por Rogério Fernandes, que dos casos, a aposta na juventude
situa o pensamento e a luta de Bor- como forma de perpetuar o regime,
ges contra uma «escola excludente», numa universidade em que só ensi-
erguendo a «bandeira da integração navam membros de organizações
educativa» (p. 156), rumo ao pro- nazis e onde era clara a intenção de
gresso social e à democracia. Um inculcar uma ideologia.
trabalho que ultrapassou a simples No caso italiano, o autor alerta para
formulação teórica e foi testado na o carácter híbrido do modelo posto em 1155
Análise Social, vol. XXXIII (Primavera), 1999