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Biogás

O actual sistema económico conduz à produção de grandes quantidades de resíduos


agrícolas, industriais e domésticos, os quais, podem conter componentes importantes
e valiosos, revelando-se ainda assim, em muitos dos casos, pouco compensador, face
aos baixos preços das matérias-primas praticados nos mercados internacionais.
Desta forma, é normalmente atribuído aos resíduos um valor negativo, que resulta
num consequente despejo indiscriminado desses materiais sobre o meio ambiente,
com graves problemas de poluição.
Existe assim a necessidade de se encontrarem processos apropriados capazes de
converter o actualmente designado por desperdício, em produtos úteis, como sejam os
casos da energia, dos fertilizantes e da água.

A AMARSUL – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos S.A., é uma empresa


multimunicipal, responsável pelo sistema de gestão dos resíduos sólidos urbanos da
Península de Setúbal, e desenvolve-se no reaproveitamento dos resíduos, quer na
produção de energia eléctrica, quer na separação dos diversos materiais para
reciclagem.
O sistema multimunicipal foi criado com suporte no Plano Estratégico para o
desenvolvimento de um sistema de resíduos sólidos da Margem Sul do Tejo.
A AMARSUL abrange 9 municípios da Península de Setúbal, a saber: Alcochete,
Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra e Setúbal.

Localizado no Seixal encontra-se um dos três locais de deposição e tratamento de


resíduos sólidos pertencentes à AMARSUL.
Na célula A deste aterro, a deposição de resíduos iniciou-se em 1995, tendo sido
depositadas 650.000 toneladas, ao longo de 4 anos. A célula B, na qual já se iniciou o
processo de selagem, recebeu cerca de 900.000 toneladas de RSU dos municípios do
Seixal e Almada.
Entre 2001 e 2015 será explorada a célula C, estimando-se em 2.860.000 toneladas a
quantidade de resíduos a depositar, em grande parte sob a forma de fardos.

Ao chegar da recolha, o lixo comum é pesado e descarregado nas centrais de triagem,


onde é escolhido e compactado, seguindo para o aterro. Este é profundo e tem uma
área enorme, totalmente revestido por material impermeável. À medida que as células
do aterro são seladas, verifica-se de imediato a degradação da componente orgânica,
pelo que após um curto período de tempo se inicia a produção do biogás com
libertação de gases com características caloríficas.
O biogás é formato por uma mistura de componentes, entre as quais se destacam o
metano (50 – 75 %), o dióxido de carbono (20 - 45 %), a humidade, o sulfídrico (H2S)
cujo teor varia com o teor em sulfato do substrato, o hidrogénio (1-2 %), o azoto e
outros componentes.
O Metano, principal componente do biogás, não tem cheiro, cor ou sabor, sendo
atribuído aos outros gases presentes o ligeiro odor de alho ou de ovo podre. Este, é
um gás com características semelhantes ao gás natural, podendo ser utilizado para
fins energéticos se, após a sua extracção do aterro, for conduzido para um sistema de
geração de energia.
O aproveitamento energético de biogás reduz a emissão de metano para a atmosfera,
contribuindo igualmente para a melhoria da qualidade ambiental das zonas
envolventes, uma vez que os componentes causadores de odores desagradáveis,
particularmente os compostos de enxofre, são extraídos e destruídos durante a
combustão.

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As normas relativas aos aterros sanitários impõem, hoje em dia, a drenagem, a
extracção, o aproveitamento e, caso este não seja possível, a queima do biogás, em
particular porque o metano é um gás que também contribui para o efeito de estufa,
com um impacto 20 vezes superior ao dióxido de carbono.
Uma forma de minimizar este efeito poderá ser associada à recuperação do biogás
como aproveitamento energético.

Aspectos ambientais

A Directiva relativa à deposição de resíduos em aterros requer que o biogás seja


recuperado nos aterros destinados a resíduos não perigosos, que tenham recebido
resíduos biodegradáveis.
O biogás deve ser extraído e aproveitado energeticamente (se viável) ou queimado em
caso contrário.
A razão mais importante para a recuperação de biogás é o aspecto ambiental, que
também vem referido na Directiva citada, relativamente à redução do efeito de estufa.
De facto, alguns dos componentes do biogás contribuem para o efeito de estufa, caso
do Dióxido de carbono, Metano, Óxido de azoto e Clorofluorcarbonetos (CFC).
O efeito destes gases, denominados gases de efeito de estufa, afecta a temperatura à
superfície da Terra.
No Quadro seguinte indicam-se as diferentes contribuições destes gases para o efeito
de estufa.

Concentração na Crescimento Contribuição


atmosfera (ppm) anual na relativa para o
atmosfera (%) efeito de
estufa (%)
CO2 346,0 0,4 50
CH4 1,7 1,0 19
N2O 0,3 0,3 4
03 0,02 0,5 8
CFC 0,001 5,0 17
Quadro1: Contribuição para o efeito de estufa

Como se mostra no Quadro1, o Metano tem um peso significativo na contribuição para


o efeito de estufa. Através da utilização do biogás para fins energéticos, consegue-se
uma melhoria das condições ambientais, uma vez que se estima que
aproximadamente 10% da produção mundial de Metano proveniente dos aterros.
Para a deterioração do ambiente, nomeadamente a nível dos efeitos desagradáveis
como ocorrência de odores, no aterro e na zona envolvente, podem também contribuir
alguns componentes vestigiais do biogás. Assim, podem também ocorrer problemas
ambientais numa instalação de recuperação de biogás se existirem fugas no sistema.

Vantagens

ƒ O aproveitamento do biogás permite a produção de energia eléctrica ou mesmo


energia calorífica;

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ƒ Comparado com sistemas de tecnologia avançada, tais como centrais
incineradoras, um sistema de recuperação de biogás é mais simples e menos
oneroso;
ƒ O biogás produzir-se-á em qualquer circunstância e desaparecerá na atmosfera se
não for recuperado e utilizado energeticamente. Uma vez que o biogás possui um
potencial energético considerável e pode substituir em determinadas
circunstâncias, os combustíveis fósseis, é razoável avaliar a sua recuperação e
aproveitamento;
ƒ A melhoria do ambiente no aterro e na zona envolvente, em virtude de, num
sistema de aproveitamento, os componentes vestigiais serem extraídos e
destruídos durante a combustão;
ƒ Se o Metano se difundir ou penetrar em compartimentos fechados, dentro ou fora
do aterro, onde é misturado com o ar atmosférico, corre-se o risco de explosão por
ignição através de uma faísca, um fósforo, um cigarro, quando o conteúdo de
metano se situar entre 5 e 15%. O risco de explosão é assim minimizado;
ƒ Relativamente ao sistema de produção de energia, face aos potenciais proveitos,
este investimento adicional poderá tornar-se atractivo;
ƒ Parece razoável construir-se o sistema de extracção de energia ao mesmo tempo
que o aterro está a ser explorado, o que significa que o biogás pode ser
recuperado a partir do início da exploração;
ƒ Os sistemas de produção de energia podem ser facilmente deslocados para novos
aterros em função da quantidade de biogás produzido.

Desvantagens

ƒ A quantidade de energia gerada pelo biogás não é constante, variando ao longo do


período de produção;
ƒ Em função da Directiva Comunitário relativa a aterros, no futuro será minimizada a
deposição de resíduos biodegradáveis em aterro, pelo que as instalações de
recuperação de biogás de aterros terão um tempo limitado de existência. Mesmo
assim, seguramente que nos próximos 20 a 30 anos estarão em operação muitas
instalações em muitos países europeus;
ƒ Alto período de recuperação do investimento.

Alguns números

ƒ Toneladas depositadas na célula A: 650.000 ton;


ƒ Toneladas depositadas na célula B: 900.000 ton;
ƒ Capacidade da célula C: 2.860 000 ton;
ƒ Cada tonelada de RSU gera cerca de 105 m3 de biogás;
ƒ Por cada m3 de biogás é gerado 1,7 KWh;
ƒ Produção de energia prevista na célula A em 2003 por hora: 680 KWh;
ƒ Produção de energia prevista nas células A e B em 2004 por hora: 1.700 KWh;
ƒ Produção de energia prevista nas células A, B e C entre 2008 e 2020: 2.200 KWh;
ƒ Consumo médio anual de energia eléctrica de uma família: 3.000 KWh;
ƒ Produção de energia em 2004: 13.600 MWh (suficiente para 4500 famílias durante
um ano o que equivale a 10% da população do concelho do Seixal);
ƒ Produção de energia em 2008: 17.600 MWh (suficiente para 5900 famílias durante
um ano);

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