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Música e Saúde - O Olhar Da Musicoterapia
Música e Saúde - O Olhar Da Musicoterapia
ISSN 1809-2616
ANAIS
IV FÓRUM DE PESQUISA CIENTÍFICA EM ARTE
Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2006
Saúde: “(lat salute) bom estado das funções orgânicas, físicas e mentais.
Qualidade do que é sadio ou são. Vigor. Força, robustez”.2
Esta definição vai ao encontro do pensamento dos profissionais de saúde de
hoje, bem como do homem atual. Com os avanços no campo da medicina, o homem
tem enfocado estritamente a questão da saúde física, separando-o daquilo que lhe é
complementar, ou quem sabe mais importante, que é a saúde da parte que não é
visível, sua alma, sua totalidade. Esta separação deixa o homem também dividido
em partes, esquizofrênico de sua própria existência.
Os recursos para se obter a saúde do corpo crescem a cada dia. Clínicas de
estética, academias e cirurgias plásticas, buscam trabalhar a aparência, aquilo que
está fora, em função do paradigma atual, o mecanicismo, o homem desfragmentado,
a separação entre o pensar e o sentir, a razão e a emoção, o corpo e a alma. Os
altos índices de estresse, depressão e outras doenças de cunho psicológico que
acontecem dentre estas mesmas massas populacionais, deixam clara, a “fome” do
homem por si mesmo, daquilo que o identifique, que o potencialize, daquilo que é a
sua essência. Em nosso mundo capitalista, onde os valores são ditados por aquilo
que se tem e não por aquilo que se é, para sentir-se valorizado ou aceito, o homem
procura ser igual ao outro e não único, diferente. Buscando se emoldurar ao padrão,
cada vez mais se afasta de si mesmo. Enquanto o homem continuar buscando
1
Alunos do terceiro ano de Musicoterapia da Faculdade de Artes do Paraná.
2
MICHAELIS. Dicionário escolar Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2002.
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saciar esta fome de fora para dentro, permanecerá insatisfeito. “Entende-se o ser
humano como um todo físico-psicológico-social e também espiritual. Esse todo, na
sua essência, é saudável, necessita crescer e auto-realizar-se, para conhecer e
desenvolver os potenciais inerentes a todo ser humano”.3 Entendam-se potenciais
como “energia, força, pulsão, possibilidade de agir, concretizar, definir. Ter
capacidade ainda não exercida ou aplicada.”4
Pensar a música sobre o foco da saúde pode parecer estranho. No entanto,
assim como a saúde, a música é inerente ao homem, peculiar a ele. A música por si
só é transformadora, capaz de alterar os estados psíquicos e físicos do ser humano.
É embriagante a vasta imensidão da música. “Música: arte e técnica de
combinar os sons de maneira agradável ao ouvido”.5 Não seríamos capazes de
descrever a música, pois ela vai além do que a razão humana pode compreender.
Que sons são esses que podem gerar ânimo, unidade e força entre um grupo de
pessoas, capazes de proporcionar prazer ou angústia, remeter a lembranças,
imagens, comunicar os mais profundos sentimentos humanos? Tão precisa quanto
subjetiva, ela tem acompanhado o homem desde o início de sua existência. Ao
longo da história, a música vem sendo utilizada de inúmeras formas e para diversos
fins, seja como forma de expressão, comunicação, interação, fonte de meditação, de
lazer, de renda, seja como auxílio no processo de prevenção, restauração e
reabilitação da saúde. Queremos nos ater a este último aspecto, olhando para a
música como meio para se alcançar a saúde, tendo como referencial a
musicoterapia, sendo o musicoterapeuta o facilitador neste processo.
Quando pensamos a música além do fazer musical estético, colocamos-na
como experiência de sentidos, de significados, de transcendência. Assim ela pode
tornar-se um meio de alcançar e de atingir o homem em sua essência, o saudável,
aquilo que lhe é próprio, único enquanto ser humano. Mas quando limitamos a
percepção da música ao racional, limitamos também suas possibilidades de
transformação.
A terapia mediante a música não se define facilmente, como comenta Bruscia:
Como uma arte ela diz respeito à subjetividade, individualidade, criatividade e beleza.
Como uma ciência ela se relaciona com objetividade, universalidade, reprodução e verdade.
Como processo interpessoal, ela se relaciona com empatia, intimidade, comunicação, influência
recíproca e papéis na relação. 7
7
BRUSCIA. Op. cit., p. 12.
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regras, não discrepantes do sistema da sociedade. Isso só o reforçaria, olhando
mais para dentro de si e vendo possibilidades que façam do homem um ser mais
inteiro, único e consciente. Em decorrência desse pensamento é que a
Musicoterapia encontra entraves no que diz respeito à sua cientificidade. Somente
no momento em que a ciência abrir os olhos para o não visível, buscar compreender
o homem enquanto ser total, corpo, mente e espírito, é que será possível a
expansão e o respeito à Musicoterapia, que é uma ciência híbrida, incompreendida
justamente por fazer essa junção, entre a arte e a ciência, entre o subjetivo e o
objetivo.
A ciência nunca explicará de forma cartesiana a musicoterapia, o que não
quer dizer que os profissionais da área não devam enriquecer o campo das
pesquisas científicas. Assim como o homem será sempre incompreendido enquanto
visto em partes, assim também será a compreensão da musicoterapia. Pois sua
beleza está justamente em trabalhar no mar do inexplicável, da transcendência e da
subjetividade.
REFERÊNCIAS