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DIWAN, Pietra. Raça Pura: Uma historia da Eugenia no Brasil e no mundo. São Paulo:
Contexto, 2007.

A eugenia [...] objetivou implantar um método de seleção humana baseada em


premissas biológicas [...] (p.10)

[...] perseguir a pureza da raça através da eugenia foi um obstinação de muitas


nações sob os mais diversos argumentos segregaram, mutilaram e executaram milhares
de pessoas em todo mundo. [...] (p.13)

A história da eugenia pode se servir da metáfora da árvore e de seu paradigma.


Uma arvore frondosa, repleta de galhos e folhas. Seu tronco é firme e grande. Nas raízes
estão as disciplinas que contribuem para dar embasamento e estrutura à eugenia. [...]
(p.14)

[...] investigar a eugenia é também, em grande medida, retornar à história da


saúde publica e da higiene, tentando compreender como o discurso eugênico influenciou
os discursos científicos. [...] (p. 17)

Purificar a raça. Aperfeiçoar o homem. Evoluir a cada geração. Se superar. Ser


saudável. Ser belo. Ser forte. Todas as afirmativas anteriores estão contidas na
concepção de eugenia. Para ser o melhor, o mais apto, o mais adaptado e necessário
competir e derrotar o mais fraco pela concorrência. Luta de raças. Para a política, luta de
classes. (p.21)

A eugenia moderna nasceu sob essas idéias principais. [...] (p. 21)

A Inglaterra burguesa do século XIX e sua capital, Londres, testemunharam o


surgimento da multidão. A multidão se caracteriza pela idéia de massa, de coletivo
disforme e compacto, no interior da qual o individual não existe. [...] A multidão é vista
e sentida como um todo homogêneo. [...] (p.33)

[...] Do ponto de vista social, o capitalismo proporcionou a criação de diversas


leis e inovações que mudariam as condições de vida da classe pobre britânica: a
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restrição do trabalho infantil em minas de carvão, a criação de creches e escolar publica


e a liberdade de imprensa. [...] (p. 35)

A origem do pensamento eugênico moderno data da segunda metade do século


XIX, mais exatamente após o lançamento do livro “origem das espécies”, de Charles
Darwim. [...] (p.41)

[...] Hereditary Genius se tornará a obra mais conhecida e difundida entre as


obras de Galton. A idéia fundamental é que o talento é hereditário e não o resultado do
meio ambiente. [..] (p.40)

Após se ocupar por quase duas décadas em provar que o talento é herdado,
através de analise dos dados da elite inglesa, a preocupação de Galton estava voltada em
mostra que a doença mental, o crime e a marginalidade eram também resultados da
herança genética. [...] (p. 41)

[...] Galton funda também a pesquisa antropométrica e cria diversos


instrumentos de medição do físico humano, tais como o método de análise de digitais, e
inicia os estudos para os testes de inteligência, conhecidos atualmente como teste de QI.
(p. 42)

[...] Galton prope que o valor da raça é superior e mais importante do que a
educação e o meio ambiente. [...] (p. 43)

[...] A eugenia chegou ao poder e foi usada como arma política de discriminação
social e limpeza étnica. [...] (p. 46)

[...] entre os anos de 1900 e 1940, que a eugenia se expande mundialmente


tornando-se uma das mais eficazes armas de controle social e político sob o argumento
científico e médico. (p. 48)

[...] a eugenia cairá num sono profundo do qual só acordará com os debates
sobre ética reavivados pelas técnicas de reprodução assistida, fertilização in vitro e com
as descobertas sobre o mapeamento genético, a partir do início dos anos 1980. Não é de
admirar que os Estados Unidos e a Inglaterra tenham impulsionado a corrida pelo
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mapeamento do DNA humano no início dos anos 1990 com o Projeto Genoma
Humano. [..] (p.49)

[...] o Escritório de Registros Eugênicos (ERO), dirigido pelo geneticista Charles


Davenport e pelo superintendente Harry L. Laughlin, deu força também ao movimento
internacional. O ERO foi o coração, senão o cérebro do eugenismo estadunidense
durante três décadas, tendo sido fundado em 1910, [...] (p. 56)

[...] Em 1914, a eugenia era ensinada como disciplina em mais de quarenta


faculdades. Programas educacionais de eugenia positiva eram implantados, incluindo os
concursos populares de Fitter Families (famílias em forma) e Better Babies (melhores
bebês). [...] (p. 58)

[...] O final da década de 1980 e o princípio da década de 1990 fizeram emergir


um novo tipo de eugenia, o neo-eugenismo, baseado nas pesquisas em defesa da
reprodução assistida e da fertilização in vitro. (p.63)

[...] Durante o regime nazista implantado por Adolf Hitler, centenas de milhares
de pessoas foram esterilizadas compulsoriamente e mais de seis milhões perderam suas
vidas em nome da higiene da raça. [...] (p. 64)

[...] O restante da Europa não aceitou as leis eugenistas de cunho negativo. A


castração e a esterilização eram vistas como mutilação e, portanto, repugnantes aos
olhos europeus. [...] (p. 64)

[...] O conceito de “raça nórdica” foi estabelecido em 1900 pelo antropólogo


Francês Joseph Deniker e popularizado por um alemão, Hans Gunther, anos depois,
para designar a supremacia ariana. [...] (p.65)

[...] as práticas eugênicas alemãs indicam a pretensão de fundar um novo tipo de


política baseada na biologia, para a construção da super-raça alemã. [...] (p. 68)

[...] a educação sexual foi defendida em 1932 pelo bloco Nacional das Mulheres
Revolucionárias, da Cidade do México, que pediu á Sociedade de Eugenenia do México
um projeto para todas as escolas por meio do qual todas as crianças até os 16 anos
receberiam orientação sexual para disciplinar o “instituo sexual”. [...] (p.81)
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[...] Na segunda Conferencia Pan-Americana de Eugenia (1934), em Buenos


Aires, eugenista embaraçados com o extremismo dos Estados Unidos e de Charles
Davenport “latinizaram” a conferencia e, por conseqüência, a Associação Pan-
Americana de Eugenia e Homicultura. Para a maioria dos latinos, a esterilização era
malvista. O medico peruano Paz Soldán ressaltou que os latino-americanos tinham
maiores problema com que se preocupar alem da raça, dentre os quais as condições de
trabalho e as doenças epidêmicas. [...] (p. 85)

[...] A miscigenação era a grande vilã, contrária ao progresso dos países do


Novo Mundo e exorcizada pelos Europeus. (p.89)

Para os médicos da Faculdade de Medicina de Salvador, a primeira do Brasil, em


especial para o grupo conhecido com “Escola Nina Rodrigues”, a miscigenação era
impedimento para o desenvolvimento do país. A mistura proporcionava a loucura, a
criminalidade e a doença. [...] (p.91)

No Brasil, o regime republicano amplia essa discussão, pois para boa parte dos
eugenista brasileiros, o país era ainda uma nação sem “povo”. O ideal de um República
embasada na igualdade na democracia criou a necessidade de formalizar e gerar novos
campos de saber, para a produção de corpos constituintes de um povo homogêneo,
tipicamente brasileiro. [...] (p. 96)

[...] o primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia (CBE), entre os dias 1º e 7 de


julho de 1929.[...] (p.113)

O CBE estava dividido em três sessões: “antropologia”, “genética” e “Educação


e Legislação”, essa última a mais concorrida e polemica, uma vez que somente as atas
de reunião desse grupo foram publicadas na íntegra, [...] (p. 113)

Controle de casamentos pelo exame pré-nupcial, educação eugênica, proteção à


nacionalidade, imigração, doença mentais e educação sexual foram alguns dos temas
debatidos durante o CBE. No entanto, poucas foram as resoluções de consenso. [...]
(p.113)
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[...] Contrário à segregação, Roquette Pinto era favorável à miscigenação,


acreditando se normal e saudável. Adepto da eugenia positiva, profilática e não radical,
a solução para o problema nacional era higiene e não a raça. [...] (p. 114)

[...] A raça era importante, mas o que interessava aos eugenistas era extirpar do
corpo social os indesejáveis. [...] (p.114)

[...] A elite brasileira, patriota e disciplinar, apostou nesse projeto de raça e de


incremento econômico às lavouras de café. Mais de setecentos mil negros escravos
foram alforriados e deixados de lado, sem nenhum tipo de reconhecimento por séculos
de trabalho forçado. Os imigrantes europeus não carregavam o estigma preconceituoso
de que eram preguiçosos, sujos e indisciplinados tal como os negros e os mulatos. [...]
(p. 117)

Toda política adotada pelo governo Vargas na década de 1930 foi direcionada
em defesa do nacionalismo de inspiração nazi-fascista. [...] Barroso escreveu no jornal
A Ordem que nenhum país necessitava tanto melhora sua raça quanto o Brasil. (p. 120)

[...] O tio Sam cria o Zé Carioca em 1942. Produzido pelos estúdios de Walt
Disney, o filme Alô amigos mostrou pela primeira vez ao mundo a imagem do brasileiro
malandro e cordial. Um papagaio colorido, mestiço, sedutor e com ginga embalado pelo
samba e pela cachaça. [...] (p. 120)

[...] em agosto de 1942, após a negociação do alinhamento brasileiro, o Brasil


entra na Segunda Guerra Mundial do lado aliado. Moeda de troca: permissão para o
estacionamento de tropas americanas na base militar de Natal e, em contrapartida, o
financiamento para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e a modernização das
forças armadas. A partir de então, o eugenismo estava destinado ao esquecimento,
tornado-se sinônimo de intolerância e violência. [...] (p. 120 e 121)

[...] Apesar de Renato Kehl não ser o único eugenista brasileiro, sem dúvida foi
ele quem melhor planificou e expressou os desejos e anseios de todos os eugenista em
nosso país. (p.123)
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O desejo de Renato Kehl era de que o Brasil se povoasse de “gente sã física e


moralmente” [...] não é utópica a idéia de se criar uma civilização bela, física e
moralmente. [...] (p.126)

[...] Os tipos eugêncios dividiam os seres em duas categorias principais: a


aristogenia, classe geneticamente superior, e a cacogenia, formada por indivíduos
inferiores, que poderiam ser agravados pela disgenia, ou seja, desvios e doenças
transmitidas de pai para filho. (p.131)

[...] a tristeza e a feiúra eram também vistas como sinônimos de doenças, assim
como a sífilis era sinônimo de fealdade.[...] Pessoas feias... não somente do ponto de
vista estético, mas também moral.[...] (p. 131)

A regeneração da raça, para kehl, seria alcançada, portanto, após a eliminação de


todos os fatores disgênicos e ao aumento do tipo médio, o branqueamento da sociedade
– para a elevação da aristogenia branca – e com o controle rigoroso da imigração, que
permitia a entrada nos país de indivíduos cacogênios.[...] No Brasil da década de 1930,
as paixões racistas elevaram um espírito de intolerância pela ânsia nacionalista. [...]
(p.132)

[...] A partir de 1917, iniciou sua peregrinação em prol da formação do homem


saudável, belo, civilizado, definitivamente brasileiro. Dessa forma, eugenizar nada mais
era do que homogeneizar a população, ressaltando e aperfeiçoando suas semelhanças e
segregando os diferentes. (p.138)

[...] O feio torna-se então um ônus para o Estado, um atraso para a sociedade e
um peso para os velos e normais. [...] (p. 138)

[...] É belo todo indivíduo com saúde, desde que tenha uma compleição física
normal. Por outro lado, o feio corresponde á anormalidade, à desproporção e á doença.
[...] (p.140)

[...] O Brasil é uma gaiola de elementos diversos, miscigenados, adaptáveis,


mestiços. Nosso país é um zoológico de cruzamentos... [...] (p. 150)
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[...] Mascarado sob uma cordialidade brincalhona, o Brasil não é exemplo de


tolerância nem tampouco de igualdade social. Somos uma mescla. Somos um
maravilhoso caldeirão de diferenças e multiplicidades espalhadas por um país que ainda
tem muitas dívidas históricas com seu povo. [...] (p.151)

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