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wUliEB.:
m.
C6RMAN0S
1998
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem autorização por
escrito dos editores, exceto citações em resenhas.
Revisão:
Solano Portela
Editora:
Os Puritanos
Impressão:
Facioli Gráfica e Editora Ltda.
CONTEÚDO
PREFACIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 SÍMBOLOS DE FÉ
DOUTRINA DA REVELAÇÃO
CÂNON DAS ESCRITURAS8
INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
AUTORIDADE DAS ESCRITURAS8
SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
CLAREZA DAS ESCRITURAS
PRESERVAÇÃO DAS ESCRITURAS66
TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS8
INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS
CAPÍTULO 11 AUTORIDADE SUPREMA DAS ESCRITURAS
OBJEÇÕES E RESPOSTAS
RESUMO E APLICAÇÕES
PRATICANTES DA PALAVRA
PRINCIPAIS SÍMBOLOS DE FÉ
A CONFISSÃO DA GUANABARA193
BIBLIOGRAFIA
CONTEÚDO
PREFÁCIO 7
INTRODUÇÃO 13
ASSUNTO DO LIVRO 14 APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO 14 IMPORTÂNCIA DE UMA SÃ
BIBLIOLOGIA 15
CAPÍTULO 1 SÍMBOLOS DE FÉ 17
INEVITABILIDADE DOS SÍMBOLOS DE FÉ 18 PROPÓSITOS DOS SÍMBOLOS DE FÉ
19 BASES BÍBLICAS PARA OS SÍMBOLOS DE FÉ 22 AUTORIDADE DOS SÍMBOLOS DE FÉ 23
O TESTEMUNHO DA IGREJA 69
DO TEXTO 98
CONCLUSÃO 151
APÊNDICE 2 191
BIBLIOGRAFIA 199
PREFACIO
Talvez a Igreja de Cristo esteja atravessando um dos seus mais difíceis períodos
da história, no que diz respeito à acolhida do seu padrão de fé e prática: As
Sagradas Escrituras. No seio do que se conhece como a igreja evangélica, fruto
da Reforma do Século XVI, nunca se citou tanto a Bíblia, como atualmente;
nunca se falou tanto da Bíblia, como atualmente; nunca se divulgou tanto a
Bíblia como nos dias atuais. Paradomlmente, nas igrejas filhas da Reforma,
nunca se desrespeitou tanto a Palavra de Deus como atualmente; nunca ela foi
colocada como fonte secundária de informação, como atualmente; nunca ela
teve porções inteiras consideradas desatualizadas, ou pertinentes apenas
aos leitores originais, como atualmente; nunca ela foi alvo de
tanto questionamento, quanto aos autores dos livros e aos períodos nos quais foi
escrita, quanto nos dias de hoje. Essas são situações encontradas não no
segmento liberal/racionalista, mas dentro da Igreja Evangélica, das
denominações que se auto-intitulam conservadoras na fé e prática e que se
propõem a ser as mais fervorosas e cheias do Espírito Santo de Deus.
guido nesta posição pelo próximo presidente, e por vários outros professores,
todos considerados evangélicos, resultando no enfraquecimento geral do
posicionamento de vários professores daquele seminário, sobre a integridade
das Escrituras, logicamente não há critério coerente ou autoritário para
estabelecimento desta distinção, entre o que seria “não revelativo” nas
Escrituras -pontos abertos ao questionamento mais amplo; e as porções
“revelati-vas” - essas, sim, de validade espiritual. Esse pensamento, que se faz
presente não só naquele exemplo, mas em tantos outros segmentos da igreja,
subtrai da Igreja o seu padrão, derruba um dos pilares da Reforma e retroage a
Igreja é à uma condição medieval de dependência dos especialistas que nos
dirão quais as partes que devemos crer realmente e quais as que podemos
descartar como mera invenção humana. E nesse contexto que se faz presente a
necessidade de relembrarmos os pilares da nossa fé reformada, como o faz o
Rev. Paulo Anglada.
Não há inovação na mensagem deste livro, mas uma extrema necessidade de que
o brado de Sola Scriptura seja reavivado, ao longo da história da igreja. E essa
história que mostra Deus derramando grandes bênçãos sempre que os fiéis
desprenderam-se de suas tradições e ensinamentos humanos e se voltaram para
a palavra escrita inspirada por Deus. Desde os tempos de Josué (1.7,8) que
Deus admoesta os seus a que se prendam aos registros inspirados. Ali lemos:
Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, cuidando de fazer conforme toda
a lei que meu servo Moisés te ordenou; não te desvies dela, nem para a direita
nem para a esquerda, a fim de que sejas bem sucedido por onde quer que
andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia
e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está
escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. 1
Martin Lloyd-Jones nos indica “que a maior lição que a Reforma Protestante
tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e
das coisas do Espírito é olhar para trás”.2 Lutero e Calvino, diz ele, “foram
descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e
que eles tinham esquecido”.
A um mundo que está sem padrão, e à própria Igreja evangélica, que está
voltando a enterrar o seu padrão em meio a um entulho místico pseudo-
espiritual - a mensagem da Reforma continua necessária. Esse livro traz o brado
de Sola Scriptura, com veemência e clareza, como antídoto ao veneno
contemporâneo do subjetivismo e existencialismo do homem sem Deus, que
teima em se infiltrar nos ensinamentos da Igreja Cristã. Pode parecer estranho,
entretanto, que sendo ele dedicado à exaltação da importância e suficiência das
escrituras o livro utilize como ponto de partida e de fechamento, credos e
confissões históricas. Não seriam, esses, documentos que desviam os nossos
olhos das Escrituras? A resposta é um sólido NÃO! A própria Confissão de Fé
de Westminster em seu Capítulo Is, apresentando a mensagem inequívoca da
Reforma do Século XVI, cada vez mais válida aos nossos dias, descreve a Bíblia
como sendo a única regra infalível de fé e de prática”. Essa é a mensagem
deste livro, ao qual damos a nossa mais entusiástica acolhida.
1
Harold Lindsell, The Battle for the Bible (G. Rapids: Zondervan, 1976) pp. 106-121.Este livro traz um
excelente tratamento sobre a diluição do conceito da suficiência e integridade das Escrituras, no seio dos
evangélicos norte-americanos.
2
D. Martin Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma, (São Paulo: PES, 1996) 8,
INTRODUÇÃO
Parece que as igrejas evangélicas no Brasil estão vivendo dias assim: difíceis.
Tão difíceis que se pode questionar se o termo evangélico ainda tem algum
sentido; se ainda se presta para distinguir um grupo definido de pessoas dentro
da Igreja Cristã. Quando se considera a diversidade doutrinária e prática que, em
geral, caracteriza o evangelicalismo brasileiro, não é descabido questionar se
alguma denominação evangélica, no Brasil, ainda pode, como instituição,
ser legitimamente considerada herdeira da doutrina e prática reformadas.
Pode haver muitas razões para tal estado de coisas. Mas, sem dúvida, a rejeição
da sã doutrina é uma delas. Na prática, as igrejas evangélicas em geral não têm
professado teologia precisa, sistemática, confessional e histórica. Mesmo as
denominações mais tradicionais parecem estar se distanciando progressivamente
das doutrinas e práticas reformadas pelas quais muitos, no passado, chegaram a
dar suas vidas.
ASSUNTO DO LIVRO
APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO
A conhecida reforma religiosa levada a efeito nos dias do Rei Josias, descrita nos
capítulos vinte e dois e vinte e três de Segundo Reis, ilustra de modo muito
vivido a importância das Escrituras na restauração da verdadeira fé. Tudo
começou com a redescoberta por Hilquias da Palavra esquecida no templo (22:3-
10), com a interpretação e proclamação fiel dela por Hulda (22:13-20), e com o
quebran-tamento e disposição de Josias em submeter-se seriamente aos
seus ensinos (22:2).
Mas uma igreja reformada precisa estar continuamente se reformando. Não pela
conformação com este século, incorporando as últimas novidades que o mundo
venha a oferecer, mas pela conformação contínua à Palavra, levando cativas as
nossas mentes e práticas eclesiásticas e pessoais à obediência de Cristo.
Que Deus nos faça compreender a urgência desta necessidade. Queira Ele
promover uma verdadeira reforma religiosa no nosso país. Que Ele levante
alguns Hilquias, Huldas e Josias para redescobrirem, interpretarem fielmente,
proclamarem e obedecerem a Palavra de Deus. Que o Soberano Deus levante
novos Husses, Zwinglios, Lute-ros e Calvinos para reformárem nosso culto,
nossas doutrinas, nossas
Um credo ou confissão de fé pode ser pessoal. Mas, em geral, estes termos são
empregados para designarem credos e confissões que, embora possam ter sido
escritos por uma só pessoa, adquiriram representatividade, sendo adotados por
igrejas, movimentos ou denominações.
Eles têm servido para registrar os d> .ersos estágios do progresso da igreja como
um todo e dos seus diferentes ramos em particular, quanto à interpretação e
compreensão das doutrinas bíblicas. A História do cristianismo demonstra que
tanto a revelação como a compreensão por parte da igreja das verdades reveladas
são progressivas. A igreja cristã tem chegado a conclusões doutrinárias
paulatinamente, no decurso dos séculos.
Propósito Apologético
Propósito Didático
Propósito Eclesiástico
Exatamente por isso, sempre foi prática das denominações tradicionais requerer
que os seus oficiais (pastores, presbíteros e diáco-nos) subscrevam uma
confissão de fé. Isso os compromete, moralmente pelo menos, com a substância
do sistema doutrinário aí exposto. Essa prática também garante uma
concordância substancial no ensino e na prática dos pastores unidos por essa
subscrição voluntá-
Uma igreja sem confissão é como um partido sem ideologia, como uma
sociedade sem estatuto, ou como um país sem constituição. Não há coerência,
nem unidade, nem estabilidade, nem fidelidade, nem disciplina. 5
Portanto, todo aquele que me confessari diante dos homens, também eu o confessarei6 7 8 9 diante do
meu Pai que está nos céus (Mt 10:32-33).
...estando sempre preparado para responder10 a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há
em vós (1 Pe 3:15).
Se com a tua boca confessares'1 a Jesus como Senhor, e em teu coração cre-res que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça, e com a boca se confessa a
respeito da salvação (Rm 10:9-10). '
Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também fostc chamado, e de
que fizeste a boa confissão10 11, perante muitas testemunhas (1 Tm 6:12).
Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos
firmes a nossa confissão'2.{Hb 4:14). Cf. 3:1.
De fato eu vos louvo porque em tudo vos lembrais de mim, e retendes as tradições assim como vo-las
entreguei (1 Co 11:2).
Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que
ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes (2 Ts 3:6).
Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos
temos pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho
que vá além daquele que recebestes, seja anátema (G1 1:8-9).
Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e
com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende... E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi
confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos... (1 Tm 6:3,20).
Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus.
Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós (2 Tm 1:13-14).
Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade (2 Ts
2:13b).12
CAPÍTULO 2
1
1 Do lalim credo, “creio em.”
2
O termo grego correspondente, ópoXoyía, e o verbo correlato, ópoXoyéü), são frequentemente empregados
no NT.
3
Do grego ícaTrixéü): ensinar, instruir.
4
A. A. Hodge, The Confession of Faith, 2.
5
O mesmo se aplica aos princípios de governo, lilúrgicos e disciplinares.
6
“ójioXoyiíaa, no original.
7
ó|iok>Yf|aiü, no original.
8
111 No original upòs OToXoYÍai.' - para a confissão.
9
ó|io\oyf|ai]s.
10
ú|iotóyr|CTas rf]v KaXí]v ó|ioXoYÍav, no original,
11
KpaTtopev Tijs ó|a.oXoYLas, no original.
12
Conferir ainda 2 João 10.
13
Autor de The Creeds of Chrislendon, em três volumes.
14
Citado por M. A. Noll, Confissões de Fé, 340.
DOUTRINA DA REVELAÇÃO
Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a
sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes para dar
aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, necessário à salvação; por isso foi o Senhor servido, em
diversos tempos e diferentes modos revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para
melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja
contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever
toda. Isto torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar
a sua vontade ao seu povo (Parágrafo I).
DIVISÃO DO ASSUNTO
de Fé:
REVELAÇÃO NATURAL
Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria
divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das
coisas que foram criadas (Rm 1:19-20).
Quando, pois, os gentios que não têm lei procedem por natureza de conformidade com a lei, não
tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações,
testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se
ou defcndendo-se (Rm 2:14-15).
Ao estudar a criação, o homem deveria procurar ver Deus nela, pois é obra dele,
e revelam os seus atributos. As ciências podem até ser consideradas
departamentos da teologia, especializações que estudam a criação e a
providência. O estudo da química, da física, da matemática, da biologia, da
geografia, da política, da antropologia, da história, etc., deve ter por fim último a
glória de Deus. Não é sem razão que muitos dos primeiros cientistas dignos do
nome eram cristãos sinceros, como Isaac Newton e Faraday.
A CULPA HUMANA
Se o homem não houvesse caído, a revelação natural seria suficiente para que ele
compreendesse as verdades com relação a Deus, à criação, ao próprio homem,
etc.; de modo a submeter-se a Deus e a adorá-lo, rendendo-lhe a graça, o louvor
e a honra que lhe são devidas.
Por isso o.homem é indesculpável. Por isso é justamente culpado: por se recusar
a andar conforme o grau da revelação que recebe, seja da natureza, seja da
consciência, e se entregar rebelde e arrogantemente a todo tipo de impiedade.
“Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que
tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que
assim procedem” (Rm 1:32).
A revelação natural é, portanto, suficiente para condenar, mas não para salvar.
Devido ao estado decaído do homem, a revelação
natural não é nem clara nem suficiente para que as verdades necessárias à sua
salvação sejam compreendidas.
Deus se revela na criação, sim. Esta revelação é suficiente para tornar a raça
humana indesculpável. Mas, por causa da queda, não é suficiente para a salvação
de ninguém.
REVELAÇÃO ESPECIAL
Foi assim que Deus revelou-se a Noé, a Abraão, a Moisés, aos profetas, a Davi, a
Salomão, aos seus apóstolos e, especialmente, em Cristo. E neste sentido que o
autor da Epístola aos Hebreus afirma que, “Havendo Deus, outrora, falado
muitas vezes e de muitas manei-
ras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo” (Hb
1:1-2). Cristo é a revelação final de Deus.
É este também o sentido das palavras do apóstolo Paulo endereçada aos gálatas:
“Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é
segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas
mediante revelação de Jesus Cristo” (G1 1:11-12).
REVELAÇÃO ESCRITA
Por isso Deus fez com que todas as verdades necessárias à salvação,
santificação, culto, serviço e vida do homem, fossem escritas e preservadas, para
que pudessem ser conhecidas, cridas e obedecidas. Com este propósito, o próprio
Deus, por meio do seu Espírito, inspirou os autores bíblicos, a fim de que
pudessem escrever a revelação especial, sem erro algum.
Toda Escrilura c inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra (2 Tm 3:16).
Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma
candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia
clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações; sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma
profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi
dada por vontade humana, entretanto homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito
Santo (2 Pe 1:19-21).
Sendo a Palavra escrita o meio escolhido por Deus para revelar a sua vontade ao
homem, ela não pode ser dispensada, igualada, acrescentada nem suplantada.
Nem o Espírito agiria em detrimento ou à parte dela, mas com e por ela. É neste
sentido que as Escrituras são necessárias e indispensáveis para a comunicação
das verdades necessárias à salvação. A Igreja Católica têm a tradição oral. Os
reformadores radicais tinham a palavra interior. Outras denominações modernas
têm novas revelações do “Espírito.” A fé reformada se fundamenta inteiramente
nas Escrituras.
CAPÍTULO 3
CÂNON DAS ESCRITURAS 8
Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do
Velho e do Novo Testamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática, que
são os seguintes:
O Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levitico, Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, Rute, 1 Samuel,
2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Es-dras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cantores, Isaias, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias,
Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
O Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos, 1 Corin-tios, 2 Corintios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito,
Filemon, Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João, Judas, Apocalipse.
Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Canon da
Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados
ou empregados senão como escritos humanos (parágrafos II e III).
A palavra cânon é mera transliteração do termo grego KOVCÓV, que significa vara
reta, régua, regra. Aplicado às Escrituras, o termo 1
Qual o cânon das Escrituras? Quais são os livros canônicos, ou seja, inspirados?
Como se dividem? Há alguma regra pela qual se pôde averiguar a canonicidade
de um livro? Como explicar a diferença entre os cânones hebraico, católico e
protestante? São estas as perguntas que precisam ser respondidas com relação ao
presente assunto.
O CÂNON PROTESTANTE DO ANTIGO TESTAMENTO Origem
Os Massoretas
O Cânon Massorético
Os Profetas (Neviim):
Os Escritos (Kêtuvim):
O Cânon Consonantal
Além de Josefo, Mileto, Bispo de Sardes, diz ter viajado para o Oriente, em 170,
com o propósito de investigar a ordem e o número dos livros do Antigo
Testamento; Orígenes, o erudito do Egito, que morreu em 254; Tertuliano (160-
250), pai latino contemporâneo de Orígenes; e Jerônimo (340-420), entre outros,
confirmam o cânon hebraico de vinte e dois ou vinte e quatro livros (dependendo
do agrupamento ou não de Rute e Lamentações).
Vale salientar ainda que a versão siríaca Peshita, que bem pode ter sido feita no
século II ou III,8 ou até mesmo no século I,9 nos manuscritos mais antigos, não
contém nenhum dos apócrifos.
Origem
A Septuaginta
Livros de História: Josué, Juizes, Rute, 1-2 Samuel, 1-2 Reis (chamados 1-2-3-4 reinados), 1-2
Crônicas, 1-2 Esdras (o primeiro apócrifo), Neemias, Tobias, Ju-dite e Ester.
Livros de Poesia e Sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Sabedoria de Salomão,
Sabedoria de Siraque (ou Eclesiástico).
Livros Proféticos: Profetas Menores; Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Baru-que, Lamentações,
Epístola de Jeremias, Ezequiel, e Daniel (incluindo as histórias de Susana, Bel e o Dragão e o cântico
dos Três Varões).
O que se pode concluir daí é que, quando a Septuaginta era copiada, alguns
livros não canônicos para os judeus eram também copiados. Isso poderia ter
ocorrido por ignorância quanto aos livros verdadeiramente canônicos. Pessoas
não afeiçoadas ao judaísmo ou mesmo desinteressadas em distinguir livros
canônicos dos não canônicos tinham por igual valor todos os livros, fossem eles
originalmente recebidos como sagrados pelos judeus ou não. Mesmo aqueles que
não tinham os demais livros judaicos como canônicos certamente também
copiavam estes livros, não por considerá-los sagrados, mas apenas para serem
lidos. Por que não copiar livros tão antigos e interessantes?
Mesmo pessoas bem intencionadas podem ter sido levadas a rejeitar alguns dos
livros canônicos, ou a aceitar como canônicos alguns que não o fossem, por
ignorância ou má interpretação da história do cânon. Convém lembrar que,
embora o testemunho do Espírito Santo seja a principal regra de canonicidade
por parte da igreja como um todo, mesmo assim, o crente ainda tem uma
natureza pecaminosa que não o livra totalmente de incidir em erro, inclusive
quanto ao assunto da canonicidade. Isto acontece especialmente em épocas
de transição, como foi o caso de Agostinho que defendeu os livros apócrifos,
embora de modo dúbio, e depois o de Lutero, o qual colocou em dúvida a
canonicidade da carta de Tiago.
A Vulgata
Na Idade Média a versão francamente usada pela igreja foi a Vulgata latina. A
partir dela e da Septuaginta também foram feitas outras traduções. Ora,
multiplicando-se o erro, e afastando-se cada vez mais a igreja da verdade (como
aconteceu crescentemente nesse período), tornou-se mais e mais difícil distinguir
entre os livros que deveriam ser considerados canônicos ou não. Esses livros
nunca foram completamente aceitos, mesmo nessa época. Mas, por
estarem incluídos nessas versões, a igreja em época de trevas, geralmente fa-
lando, não teve discernimento espiritual para distinguir entre livros apócrifos e
canônicos.
Conclusão
A obra dos reformadores foi maior do que se pode pensar à primeira vista. Eles
não apenas redescobriram as doutrinas básicas do evangelho, como a doutrina da
salvação pela graça mediante a fé. Eles redescobriram também o cânon. Graças a
eles e ao testemunho do Espírito Santo, a igreja protestante reconhece como
canônicos,
Alguns dos apócrifos são realmente úteis como fontes de informação a respeito
de uma época importante da história do povo de Deus: o período inter-
testamentário. Os protestantes reconhecem o valor histórico deles. Seguindo a
prática dos primeiros cristãos, as edições modernas protestantes da Septuaginta
normalmente incluem os apócrifos, e até algumas Bíblias protestantes antigas os
incluíam, no final,, apenas como livros históricos.
Por motivos óbvios, os judeus não aceitam os livros do Novo Testamento como
canônicos. Se não reconheceram a Jesus como o Messias, não poderiam aceitar
os livros do Novo Testamento como inspirados. Felizmente, entretanto, não
precisamos falar de um cânon protestante e de um cânon católico do NT, visto
que todos os ramos do cristianismo — incluindo a igreja oriental — aceitam
exatamente os mesmos vinte e sete livros, como os temos em nossas Bíblias.
E claro, entretanto, que não se poderia esperar que todos os vinte e sete livros do
Novo Testamento viessem a ser imediata e simultaneamente reconhecidos como
inspirados, por todas as igrejas, logo na época em que foram escritos. Algum
tempo seria necessário para que os quatro Evangelhos, o livro de Atos, as
epístolas, e o livro de Apocalipse alcançassem todas as igrejas. Afinal, no final
do primeiro século e no início do segundo a igreja já havia se espalhado por
três continentes: Europa, Ásia e norte da África. Além disso, é provável que haja
um intervalo de quase cinqüenta anos entre a data em que o primeiro e o último
livro do Novo Testamento foram escritos.33 Por fim, deve-se considerar ainda
que, embora todos os livros canônicos sejam inspirados, nem todos têm a mesma
importância ou volume. É natural esperar que cartas pequenas como Judas, e as
duas últimas cartas de João, fossem bem menos mencionadas do que
os Evangelhos, Atos, Romanos, etc.
Também é preciso observar que havia outros livros cristãos antigos: evangelhos,
cartas, atos, apocalipses, etc. Alguns desses livros foram escritos por crentes
piedosos do primeiro e segundo séculos, outros eram indevidamente atribuídos
aos apóstolos ou aos seus contemporâneos. Algum tempo, é claro, seria
necessário para que a igreja, de um modo geral, de posse já de todos os livros
canônicos, bem como de muitos outros não canônicos, viesse a avaliar a autoria,
testemunho externo e interno, e discernir, pela ação do Espírito Santo, quais
livros realmente pertenceriam ao cânon. Isso tudo, entretanto, ocorreu de modo
surpreendentemente rápido, de maneira que antes que cem anos se passassem,
praticamente todos os livros do Novo Testamento já eram conhecidos, reunidos,
reverenciados e tidos como autoritativos, conforme atestam as evidências
históricas existentes.
Isso não significa dizer, entretanto, que seja a igreja quem tenha determinado o
cânon. Quem determinou o cânon foi o Espírito Santo que o inspirou. A igreja
apenas o reconheceu, o discerniu, pela iluminação do próprio Espírito Santo, que
habita nos seus membros individuais. William Whitaker, professor de Teologia
na Universidade de Cambridge, no livro Disputation on Holy Scripture,
publicado em 1588, e freqüentemente citado na Assembléia de
Westminster, resume o papel da igreja como corpo e dos crentes individuais
com relação ao reconhecimento do cânon, com as seguintes palavras:
“...a autoridade da igreja pode, a princípio mover-nos a reconhecermos
as Escrituras: mas depois, quando nós mesmos lemos as Escrituras, e
as compreendemos, concebemos uma fé verdadeira...”34 — isto é,
somos convencidos pelo Espírito da sua veracidade e identidade.
Logo no final do primeiro século e início do segundo (até 120 d.C.), boa parte
dos livros do Novo Testamento já era conhecida, citada e até reverenciada como
autoritativa pelos primeiros escritos cristãos que chegaram até nós. É o caso da
Carta de Clemente de Roma aos Coríntios, escrita por volta do ano 95; das cartas
de Inácio de Antioquia da Síria, bispo que morreu martirizado em Roma entre 98
e 117; da Epístola aos Filipenses, de Policarpo, discípulo de João que morreu
martirizado, escrita pouco antes do martírio de Inácio;
etc. Apenas a segunda e terceira Carta de João e a carta de Judas não são
mencionadas nestes escritos mais antigos; obviamente por falta de oportunidade,
visto serem muito pequenas.
2) Origem Apostólica
Pelo lado humano, a origem apostólica foi, sem dúvida, o critério mais
importante considerado pela igreja, para o reconhecimento da canonicidade do
Novo Testamento. Assim como os profetas (no sentido lato) do Antigo
Testamento eram a voz autorizada de Deus para o povo — e de algum modo,
todos os livros do AT têm origem profética — assim também a origem apostólica
autenticava um livro como autoritativo, e conseqüentemente canônico. Os
apóstolos eram as testemunhas autorizadas escolhidas por Jesus, como dirigentes
da igreja que surgia. Para os pais da igreja este era o critério mais importante.
Fosse possível provar que um determinado livro era de origem apostólica, isso
seria suficiente para ser reconhecido como canônico. Por outro lado, havendo
dúvida quanto à origem apostólica
O fato é que todos os livros aceitos como canônicos eram de autoria apostólica,
ou tidos como de origem apostólica. Mesmo Marcos está ligado a Pedro (foi até
chamado de Evangelho de Pedro), Lucas e Atos provinham da autoridade de
Paulo; e Hebreus era também considerado de Paulo; Tiago e Judas, dos apóstolos
que tinham esse nome.
4) As Evidências Internas do NT
Isto, entretanto, não significa de modo algum que os autores dos livros do Novo
Testamento e seus primeiros leitores não tivessem consciência da inspiração
desses livros. Alguns assim afirmam dizendo que, de início, as cartas e
Evangelhos foram escritos e recebidos como cartas e livros comuns, sem
pretensão de inspiração ou
canonicidade, por parte dos autores e leitores. Contudo tal afirmação não
corresponde aos fatos. Há, no prório Novo Testamento, evidências claras da
inspiração, autoridade e conseqüente canonicidade desses livros. O apóstolo
Paulo não escreve como alguém que aconselha, exorta ou ensina de si mesmo,
mas com autoridade divina, extraordinária. De onde provém a autoridade de
Paulo, ao exortar os Gálatas (1:8), dizendo: “...ainda que nós, ou mesmo um anjo
vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos tenho pregado, seja
anáte-, ma”? Ele explica logo a seguir, quando afirma: “...o evangelho por mim
anunciado não é segundo o homem; porque eu não o recebi, nem o aprendi de
homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (G1 1:11,12).
Os Livros Disputados
E claro que estas dificuldades são todas aparentes. Estilo não pode ser
determinante, pois a natureza do assunto pode acarretar mudança de estilo. Além
disso era comum o uso de amanuenses. Tamanho “também não é documento;” e
assuntos relativamente menos importantes tornam-se importantíssimos em
determinadas circunstâncias — a História da Igreja tem comprovado isso.
Quantas vezes as cartas de Judas, 2 e 3 João têm sido de valor inestimável para
pessoas e igrejas específicas! A “discrepância” doutrinária de Tiago já tem sido
suficientemente explicada: é apenas aparente. A relutância por parte de alguns,
no terceiro ou quarto séculos em reconhecer a cano-nicidade desses livros não
deve de modo algum ser encarada como necessariamente depreciativa. Pelo
contrário, por mais que tenham sido submetidos a teste, até pelos reformadores,
esses livros foram aprovados pela História, e encontraram lugar seguro e
imbatível no cânon do Novo Testamento.
Conclusão
CAPÍTULO 4
1
Ler Romanos 3:2.
2
A. Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, 29.
3
Ordem dos escribas que originou-se com Esdras, e que se estendeu até 200 AD, cuja função era preservar
puro o texto bíblico.
4
O que funcionava mais ou menos como os modernos dígitos verificadores usados nos computadores para
evitar erros em informações importantes como número de contas bancárias, CPF, CGC, etc.
5
22 Ele menciona vinte e dois, ao invés de vinte e quatro, porque com certeza, originalmente, Rute era
agrupado com Juizes e Lamentações com Jeremias.
6
Capítulo primeiro.
7
Gleason L. Archer Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento?, 76.
8
R. L. Harris, Inspiration and Canonicity of the Bible-, An Historical and Exegetical Study, 216; Wilbur N.
Pickering, The Identity of the New Testament Text, 93-96; e Gleason L. Archer Jr, Merece Confiança o
Antigo Testamento?, 51.
9
“...é provável que certas porções do Anligo Testamento sirlaco, em primeiro lugar o Penta-teuco, tenham
sido introduzidos naquele reino nos meados do primeiro século de nossa era” (R. A. H. Gunner, Texto e
Versões do Antigo Testamento. Versão Siríaca, 1598).
10
Com exceção de Enoque 1:9, aludido em Judas 14-16; contudo, não citado autoritativa-mente, e sim como
qualquer outro autor; assim como Paulo cita Arato em Alos 17:28 e Menander em 1 Corinlios 15:33.
11
v>
R. L. Harris, Inspiration and Canonicity of the Bible, 192.
12
311 Gleason L, Archer Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento?, 80.
13
Jerônimo foi o primeiro a usar o termo apócrifo.
14
A. Bentzen, Introdução ao Antigo Testamento, 49
INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do
Velho e do Novo Testamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática, que
são os seguintes: Gênesis... Apocalipse.
Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Cânon da
Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados
ou empregados senão como escritos humanos (parágrafos II e III).
É verdade que nos últimos dois séculos os ventos da alta crítica, do racionalismo
e do liberalismo têm soprado violentamente contra esta coluna da fé cristã, com
o intuito deliberado de derrubá-la. É verdade que em boa parte — talvez até na
maioria — dos seminários teológicos da Europa e dos Estados Unidos esta viga
mestra da verdade evangélica foi despedaçada. A situação atual das igrejas
protes-
57 Ler 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:20-21.
tantes nesses países ilustra as implicações desta postura com relação à doutrina
da inspiração.
Mas é verdade, também, que basta uma leitura superficial da história desta
doutrina para se constatar que desde o início, e no decorrer dos séculos, a “igreja
se manteve firme na convicção de que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada e,
portanto, infalível.”38 Era assim que os judeus consideravam a Lei, os Profetas e
os Escritos; era desse modo que o próprio Senhor Jesus via as Escrituras. Era
esta a doutrina dos apóstolos. Esta mesma reverência demonstraram os pais da
igreja39 abundantemente em seus escritos. Esta foi também, sem dúvida, a
posição dos reformadores, cujos dois grandes princípios doutrinários foram a
justificação pela graça mediante a fé e a suprema autoridade das Escrituras. Bem
como era essa também a doutrina dos puritanos e das confissões de fé
protestantes ortodoxas até hoje. Ao sustentar a doutrina da inspiração verbal das
Escrituras, podemos ter a segurança de estar em excelente companhia.
DEFINIÇÃO DA DOUTRINA
O que queremos dizer quando nos referimos à inspiração das Escrituras? Que as
Escrituras são de origem divina. Que, embora a Bíblia tenha sido escrita por
cerca de quarenta pessoas, essas pessoas a escreveram movidas pelo Espírito
Santo, e de tal modo dirigidas por ele, que tudo o que foi registrado por elas nas
Escrituras constitui-se em revelação autoritativa de Deus. Não somente as idéias
gerais ou fatos revelados foram registrados, mas as próprias
palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instru-
mentalidade dos escritores. Desse modo, a Bíblia se distingue de todos os demais
escritos humanos, pois cada palavra sua é a própria Palavra de Deus; e, portanto,
infalível e inerrante.
3'J Tais como Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Policarpo, lrineu, Justino o Mártir, Clemente de
Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Agostinho e muilos outros.
Um bem versado aluno de Escola Dominical de nossos dias conhece mais verdades espirituais do que
todos aqueles sábios juntos.1
Pode-se constatar tais asseverações? Em caso positivo, tal livro só pode ser de
origem divina, isto é, inspirado por Deus. Qual é a resposta? Basta olhar para a
vida de Paulo, de Pedro, de Agostinho, John
Ensino de Jesus
Não pode haver dúvida razoável quanto à reverência do próprio Senhor Jesus
com relação à Palavra de Deus. Em Mateus 5:17,18, Ele afirma, referindo-se aos
livros do Antigo Testamento, que nem um i ou til passará da lei, até que tudo se
cumpra. Em João 10:35, Ele declara que a “Escritura não pode falhar” (ver Lc
24:44).
Fórmulas proféticas
Referências Explícitas
NATUREZA DA INSPIRAÇÃO
Inspiração Mecânica.
Ao se afirmar que toda Escritura é inspirada por Deus, não se quer dizer com
isso que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e
a personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram
mecanicamente. Não, as Escrituras não foram psicografadas, ou melhor,
“pneumagrafadas.”
Inspiração Dinâmica
Mas tal concepção reduz as Escrituras à mesma categoria dos livros judaico-
cristãos, distinguindo-se destes meramente quanto ao grau de iluminação. Tal
doutrina despoja a Bíblia do seu caráter sobrenatural e autoritativo. Torna-a
falível e admite a possibilidade de erros no seu conteúdo.
Inspiração Orgânica
EXTENSÃO DA INSPIRAÇÃO
Inspiração Parcial
Inspiração Mental
Inspiração Verbal
CONCLUSÃO
Em função disso, não podemos nos aproximar das Escrituras como se estas
fossem mero produto do espírito humano, proveniente de particular elucidação
ou discernimento (2 Pe 1:20-21). Também não podemos nos aproximar dela,
como se fosse um livro “pneuma-grafado,” sem considerar devidamente o seu
contexto histórico. E preciso também rejeitar qualquer forma de inspiração
parcial ou mental das Escrituras. Toda a Escritura e cada palavra dela foi
inspirada pelo Espírito Santo.
CAPÍTULO 5
1
J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras, 1-2.
2
J. C. Ryle, A Inspiração das Escrituras. 4,
3
Ver também Hebreus 4:3,5:6,10:15,16.
4
Tais como os decretos de Deus, a eleição, a predestinação, a redenção, ea perseverança dos
santos.
5
Loraine Boettner, Studies in Theology, 25.
6
De acordo com Enio Ronald Mueller, O Método Histórico-Critico; Uma Avaliação, 262.
7
Luis Berkhof, Introducion a la Teologia Sistemática, 171.
AUTORIDADE DAS ESCRITURAS 8
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do
testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu
Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura
Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a
harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena
revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis
e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de
Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da
operação interna do Espirito Santo que pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações
(Parágrafos IV e V).
DEFINIÇÃO
O que significa a doutrina da autoridade das Escrituras? Significa que, por serem
divinamente inspiradas, são inerrantes, verídicas em todas as suas afirmativas,
não contendo erro algum, histórico ou doutrinário, o que as torna infalíveis, e,
portanto, autoritativas quanto a todos os assuntos sobre os quais faz
asseverações. Segundo 1
O Atestado de Jesus
A Autoridade Apostólica
O apóstolo Pedro, por sua vez, reconhece que os escritos de Paulo tinham a
mesma autoridade das demais Escrituras, ao escrever:
...nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes
assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas cousas difíceis
de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras (2
Pe 3:15,16).
era segundo homem; porque não o havia aprendido de homem algum, mas
mediante revelação de Jesus Cristo (G1 1:8-12).
Este foi um dos grandes problemas enfrentados pelo Senhor Jesus. A religião
judaica havia se tornado incrivelmente tradicionalista. Havendo cessado a
revelação, os judeus já no terceiro século antes de Cristo produziram uma
infinidade de tradições ou interpretações da Lei, conhecidas como Mishnah.
Essas tradições foram cuidadosamente guardadas pelos escribas e fariseus por
séculos, até serem registradas no século IV e V, passando a ser conhecidas pelo
nome de Talmude, a interpretação judaica oficial do AT até hoje.
Isto não quer dizer, entretanto, que a tradição eclesiástica seja necessariamente
má. Se a tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, estando de acordo com ele, e
se não for considerada normativa ou autoritativa, a não ser que reflita realmente
o ensino bíblico, a tradição não é má. Os próprios reformadores produziram,
registraram e empregaram os símbolos de fé — os quais também são
tradições eclesiásticas. Na concepção reformada, contudo, como já foi explicado,
esses símbolos não têm autoridade própria, sendo normativos
Não é que Deus não se tenha revelado por esses meios. Ele de fato o fez. Foi
pela instrumentalidade desses meios que a. revelação especial foi comunicada à
igreja e registrada pela inspiração do Espírito Santo. O que se está afirmando é
que o misticismo copia, forja essas formas reais de revelação do passado, para
reivindicar autoridade que na verdade não é divina, mas humana — quando não
diabólica.
sões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor... Até quando sucederá isso no coração dos
profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração... O profeta que
tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a minha
palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? - diz o Senhor (Jr 23:16,26,28).
Séculos depois, o apóstolo Paulo teve que enfrentar o mesmo problema. Ele foi
instrumento de revelações espirituais verdadeiras, inspirado que foi para escrever
sua cartas canônicas. Sabia muito bem o que eram sonhos, visões, revelações e
arrebatamentos. Mas advertiu os colossenses, dizendo:
Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade, culto dos anjos, baseando-se em
visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal (Cl 2:18).
Pois bem, sempre que isso ocorre, a autoridade das Escrituras é ameaçada. O
misticismo, como degeneração das emoções — não se pode esquecer que
também as emoções foram corrompidas pelo pecado — tende sempre a usurpar,
a competir com a autoridade das Escrituras, chegando mesmo a suplantá-la.
Os reformadores também foram obrigados a enfrentar esse problema. Na época
deles também havia grupos místicos por eles chamados de entusiastas,3 os quais
reivindicavam autoridade espiritual interior, luz interior, revelações espirituais
adicionais que suplantavam ou mesmo negavam a autoridade das Escrituras.
De fato, esta tem sido uma das características mais comuns das seitas modernas,
tais como o mormonismo, testemunhas de Jeová, adventismo do sétimo dia, etc.
Entre os movimentos pentecostais e carismáticos também não tem sido incomum
a emoção degenerar em emocionalismo, produzindo um misticismo usurpador da
autoridade das Escrituras.
Por que o ser humano, tendo conhecimento de Deus, não o glo-rifíca como Deus,
nem Lhe é grato? O apóstolo Paulo explica: porque “se tornaram nulos em seus
próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se
por sábios, tornaram-se loucos... pois eles mudaram a verdade de Deus em
mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador...” (Rrri 1:21-
22,25).
Desta forma, a razão tem usurpado a autoridade das Escrituras. A ciência tornou-
se a autoridade suprema, a única regra de fé e prática. Desde o século passado a
igreja tem feito concessões e mais concessões à ciência, distorcendo ou
contradizendo as Escrituras na tentativa da harmonizá-la com a razão e com
hipóteses e “fatos” científicos. O relato bíblico da criação foi desacreditado pela
teoria da evolução; os milagres relatados nas Escrituras foram rejeitados
como mitos; e muitos que estudam a Bíblia passaram a assumir uma postura
crítica, não mais submissa aos seus ensinos. Foi assim, que surgiu o método de
interpretação histórico-crítico em substituição ao método histórico-gramatical.
Agora, é a suprema razão humana quem determina o que é escriturístico ou mera
tradição posterior, o que é milagre ou mito, o que é verdadeiro ou falso nas
Escrituras.
Antes que se atribua tanta autoridade à ciência, convém considerar a sua história.
Basta fazer isso, para que se constate a sua falibilidade e mutabilidade. A grande
maioria dos “fatos” científicos de dois séculos atrás, hoje, já foram rejeitados
pela própria ciência! Além disso, com que freqüência meras teorias e hipóteses
são tomadas como fatos científicos comprovados!
O TESTEMUNHO DA IGREJA
Profecias Cumpridas
TESTEMUNHO DO ESPÍRITO
O apóstolo Paulo trata deste assunto. Escrevendo aos coríntios, ele explica que
“...o homem natural não aceita as cousas do Espírito
de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque se discernem
espiritualmente” (1 Co 2:14). Isto significa que o homem natural, em estado de
pecado, perdeu sua capacidade original de compreender as coisas espirituais. Ele
não pode, portanto, reconhecer a autoridade das Escrituras, não tem capacidade
natural para isso. Na sua Segunda Carta aos Coríntios o apóstolo Paulo é ainda
mais explícito na sua explicação, dizendo:
...se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o
deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus... Porque Deus, que disse: De trevas
resplandecerá luz —, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento
da glória de Deus na face de Cristo (2 Co 4:3-4,6).
O que ele afirma aqui, é que o homem natural, o incrédulo, está cego, como
resultado da obra do diabo, que o fez cair. Nesse estado, ele está como um
deficiente visual que não consegue perceber nem mesmo a luz do sol. Pode-se
compreender melhor o testemunho interno do Espírito com esta ilustração. Este
testemunho do Espírito não é uma nova revelação, mas a sua ação através da
qual ele abre os olhos de um cego, permitindo-lhe reconhecer a luz do sol que lá
estava, mas não podia ser vista por causa da cegueira.
CONCLUSÃO
CAPÍTULO 6
1
Ler Mateus 4:1 -10 e Gálatas 1:8.
2
45 O lenno empregado, Ycypairrai, eslá no tempo perfeito, indicando uma ação realizada no passado, cujos
resultados pennaneeem no presente: foi escrito e permanece válido, falando com autoridade.
3
5(1 Luis Berkhof, Introducion a la Teologia Sistemática, 201.
4
Citado por D. M. Lloyd-Jones, Authority, 41.
SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória Dele e para a salvação,
fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido
dela. A Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espirito, nem por
tradições dos homens; ireconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus
para a salvadora compreensão das coisas reveladas na Palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto
ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser
ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem
ser observadas (Parágrafo VI).
Não Exaustivas
Isto não significa que as Escrituras sejam exaustivas. As Escrituras não contêm
toda a vontade de Deus. O conhecimento a respeito de Deus e da sua obra são
ilimitados. Muitas coisas a respeito do ser de Deus, dos seus atributos, da
criação, do homem e dos propósitos eternos de Deus não foram reveladas. As
próprias Escrituras afirmam que “As coisas encobertas pertencem ao Senhor,
nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos
para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” (Dt 29:29).
Mas Suficientes
Significa, sim, que nas Escrituras encontra-se registrado — ou dela pode ser
logicamente inferido — tudo o que aprouve a Deus revelar à igreja em matéria
de fé e prática; tudo o que o homem deve crer e o que Deus dele requer. Nelas o
homem encontra tudo o que deve saber e tudo o que deve fazer a fim de que
venha a ser salvo, viva de modo agradável a Deus, O sirva e adore.
João não registrou tudo, mas o que registrou é suficiente para o propósito de
Deus com este livro: levar as pessoas a crer na divindade de Cristo e a alcançar a
vida eterna.
Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo afirma que nos últimos dias sobreviriam
tempos difíceis, marcados por toda sorte de pecado, insensatez, erro, engano e
apostasias (2 Tm 3:1-9). Qual é o seu conselho a Timóteo? Perseverar nas
Escrituras. Apegar-se firmemente a elas. Por quê? Eis suas razões:
Toda Escrituras é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda
boa obra (2 Tm 3:16-17).
De acordo com este texto, as Escrituras são suficientes para tornar o homem
perfeito e perfeitamente capacitado diante de Deus. É neste sentido que as
Escrituras são completas e suficientes.
IMPLICAÇÃO LÓGICA
Pelo menos três outras advertências também precisam ser lembradas neste
contexto:
Tradições Humanas
Conclusão
Outras razões deveriam refrear o homem no sentido de conceber qualquer
acréscimo à revelação das Escrituras.
ILUMINAÇÃO DO ESPÍRITO
que não haja confusão quanto à natureza das obras distintas do Espírito Santo.
Revelação é uma coisa: a comunicação de novas verdades de Deus ao homem.
Inspiração é outra coisa: a ação do Espírito pela qual é garantida a inerrância do
registro dessa revelação. E Iluminação é outra coisa: a ação do Espírito abrindo
os olhos espirituais para que se possa compreender as Escrituras.
Segundo o ensino bíblico a mente humana está em trevas por causa do pecado. O
homem natural está espiritualmente cego. É o que o apóstolo Paulo afirma
explicitamente em 2 Coríntios:
Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos
quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz
do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus (4:3-4)
Por isso o homem natural, não regenerado, não pode compreender as Escrituras.
Ele não tem essa habilidade natural. Ele a tinha, mas perdeu na queda: “Ora, o
homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura;
e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14).
Não importa o quão inteligente, ou erudito seja. Não importa quanta sabedoria
humana tenha. Por mais elevados que sejam os seus dons naturais e a sua
qualificação intelectual, o homem natural é ignorante das coisas espirituais e não
pode entender as Escrituras. A sabedoria deste século, afirma o apóstolo Paulo,
em última instância, se reduz a nada. Se os sábios segundo o mundo fossem
realmente sábios, “jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1 Co 2:7-8).
Mas aquilo que a inteligência e a educação não podem fazer, o Espírito Santo
faz. Ele, e só Ele, pode iluminar a mente e o coração de uma pessoa, dissipando
as trevas espirituais: “Porque Deus, que disse: De trevas resplandecerá luz —,
ele mesmo resplandeceu em nosso corações, para iluminação do conhecimento
da glória de Deus na face de Cristo” (2 Co 4:6).
A fé reformada reconhece, portanto, que nem tudo o que está revelado nas
Escrituras é compreendido e discernido por todos os crentes. O conhecimento
das Escrituras é progressivo, e se dá mediante a obra iluminadora do Espírito
Santo. Mas não se pode confundir essa iluminação do Espírito com novas
revelações do Espírito, como tem ocorrido com freqüência.
Na Vida Pessoal
Exemplo: um jovem crente não vai encontrar na Bíblia resposta específica sobre
quem deve escolher para esposa ou marido (nome, cor, altura, tipo físico,
nacionalidade, nível social etc.)- Mas.os princípios gerais estão lá, e não devem
ser contrariados.
O Espírito Santo produz paz no coração daqueles que obedecem à sua vontade.
Ele convence o homem da veracidade da Palavra de Deus. Ele ilumina a mente
do crente, habilitando-o a compreender mais profundamente as Escrituras. Mas
não se deve explicar estas atividades “ordinárias” em termos de novas revelações
do Espírito.
Na Vida da Igreja
Cabe lembrar ainda, que algumas práticas, tanto com relação à vida pessoal,
quanto com relação à vida da igreja são contextuais, dependem da época, do país
e da cultura, e não podem ser diretamente aplicadas à outra época e contexto. A
Confissão de Fé reco-
O que foi dito não implica, de modo algum, que qualquer roupa, saudação ou
manifestação de alegria sejam legítimas. As Escrituras requerem simplicidade,
decência, sobriedade, sensatez, prudência, em todas estas coisas. Em todas estas
práticas, há relativa liberdade quanto aos detalhes, desde que conformados ao
ensino e princípios bíblicos.
CONCLUSÃO
CAPÍTULO 7
1
Ler João 20:30-31 e 2 Timóteo 3:16-17.
2
Wayne Spear, The Westminster Confession of Faith and Holy Scripture, 9.
3
Sessão iv.
4
Artigo 11.
5
Tais como Belarmino (1542-1621). Cilado por Loraine Boellner, Roman Catholicism, 79.
CLAREZA DAS ESCRITURAS
Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos;
contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em uma ou outra
passagem da Escritura são tão claramente expostas e aplicadas, que não só os doutos, mas ainda os
indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas
(Parágrafo VII).
Mas, como se pode perceber por esta definição, a doutrina da clareza das
Escrituras precisa ser qualificada, especificada. O que de fato quer expressar a fé
reformada ao afirmá-la? Isto pode ser melhor compreendido negativa e
positivamente.
Os assuntos tratados nas Escrituras são de tal natureza, que é de se esperar que
nela haja mistérios que ultrapassem a compreensão humana natural. O “objeto”
último das Escrituras é o conhecimento da pessoa e da obra de Deus, um ser
eterno e infinito, “o único que possui imortalidade, que habita em luz
inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver” (1 Tm 6:16).
Além disso, os seres humanos, para quem as Escrituras são dirigidas, não são
apenas finitos e limitados. São também pecadores. A queda corrompeu tanto o
coração como a mente humana. Não se pode negar que nem mesmo as Escrituras
inspiradas podem eliminar completamente o abismo existente entre um ser
infinito, ilimitado, eterno e santo de suas criaturas finitas, limitadas, temporais e
pecadoras.
As Escrituras foram inspiradas por Deus, mas foram escritas por homens. Elas
têm origem divina, mas forma humana — de outro modo não nos seriam
inteligíveis. Elas revelam de modo inerrante a vontade de Deus, mas o fazem
através de linguagem humana, em contextos e circunstâncias históricas
específicas.
O apóstolo Pedro, por exemplo, reconhece nos escritos do apóstolo Paulo “certas
coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como
deturpam também as demais Escrituras” (2 Pe 3:16). O eunuco etíope que vinha
lendo as Escrituras também não estava entendendo o sentido de Isaías 53, sendo
necessário que Filipe, dirigido pelo Espírito — é bom que se ressalte — o
auxiliasse (At 8:29ss).
submete à sua palavra, mais claras se tomam as Escrituras. Se ainda não houve
essa ação iluminadora inicial do Espírito no coração de uma pessoa, deve-se
reconhecer que mesmo as verdades básicas e fundamentais das Escrituras lhes
são obscuras e ininteligíveis.
Segundo, visto que as Escrituras são obra de Deus, ainda que por meio de
homens, não falta poder em Deus para conseguir fazer o que se propõe: revelar
as verdades divinas ao homem por meio de uma palavra escrita. Trata-se, sem
dúvida, de uma tarefa estupenda, imensa, sobrenatural. Mas não há impossíveis
para Deus. “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mt
19:26). O Deus que as próprias Escrituras revelam “é poderoso para fazer
infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, conforme o seu
poder que opera em nós” (Ef 3:20).
Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos... A revelação das tuas
palavras esclarece, e dá entendimento aos simples (SI 119:105, 130).
Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma
candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos
corações (2 Pe 1:19).
...desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em
Cristo Jesus (2 Tm 3:15).
Precisa ficar bem claro, entretanto, que essa ação iluminadora do Espírito Santo
no coração do homem não ocorre à parte da Palavra, mas com a Palavra e pela
Palavra. É por meio da Palavra que alcança os ouvidos que o Espírito age na
mente, no coração e na vontade: “A fé vem pela pregação (pelo ouvir), e a
pregação (o ouvir), pela palavra de Cristo” (Rm 10:17).
É pela Palavra que o Espírito convence do pecado; é por meio da Palavra que o
Espírito ilumina o coração; é por instrumentalidade da Palavra que Ele liberta do
pecado, que Ele regera, que santifica, que dirige, que ensina, que consola, que
corrige, que repreende, etc. Enfim, é pela Escritura que o Espírito Santo faz o
homem de Deus. perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. As
Escrituras, como Calvino afirma, são “a escola do Espírito Santo.”5 Relacionada
a isto consistia a principal acusação dos reformadores contra entusiastas radicais:
eles separavam o Espírito da Palavra. Talvez seja esse o principal problema dos
entusiastas modernos.
Não se entenda, contudo, por fé, nem um vago e cego sentimento de confiança,
nem uma mera compreensão ou consentimento intelectual. Entenda-se, sim, o
estado no qual o homem, por um lado, reconhece humildemente sua absoluta
miséria espiritual e, por outro, confia-se à misericórdia e graça de Deus como
seu único refúgio e esperança.7 Qualquer outro sentimento ou conceito que não
se expresse assim não é fé, e é inútil no que diz respeito à compreensão das
Escrituras.
CONCLUSÃO
CAPÍTULO 8
1
Ler Salmo 19:7-8 e 119:15,130.
2
1 Corínlios 2:14 e 2 Corfnlios 4:34.
3
H. W. Rossouw, Calvin's Hermeneutics of Holy Scripture, 153.
4
A propósito, parece que álgumas missões modernas também tendem a incorrer em erro similar: pensar que
a maior barreira missionária ou evangelística é lingüística e contextual.
5
Institutos, III, 21,3.
6
Lamberto Floor, The Hermeneutics ofCalvin, 187.
7
H, W. Rossouw, Calvin ’s Hermeneutics of Holy Scripture, 164.
8
Wayne Spear, The Westminster Confession of Faith and Holy Scripture, 9.
PRESERVAÇÃO DAS ESCRITURAS1
O Velho Testamento em Hebraico (língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a
língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que foi escrito), sendo inspirados
imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos,
são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como
para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem
direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser
traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus,
permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela
paciência e conforto das Escrituras (Parágrafo VIII).
não têm dado à ela o tratamento e atenção que merece. É possível que a razão
esteja na dificuldade que muitos têm demonstrado em conciliá-la com os
presentes resultados do estudo da crítica textual. O problema é o seguinte: como
sustentar a doutrina da preservação das Escrituras, se as teorias desenvolvidas
pelos eruditos da crítica textual não conseguem levá-los a uma conclusão —
embora haja milhares de manuscritos disponíveis — quanto à identidade do
texto grego original do Novo Testamento?
DEFINIÇÃO DA DOUTRINA
Toda palavra de Deus é pura;... nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas
achado mentiroso (Pv 30:5,6).
Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer
acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e se alguém tirar qualquer cousa das
palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa, e das
cousas que se acham escritas neste livro (Ap 22:18-19).
Há também declaração nas quais Deus afirma o cuidado que tem para com a sua
Palavra, tais como a que encontramos em Jr 1:12: “Disse-me o Senhor:... eu velo
(cuido) sobre a minha palavra pára a cumprir.”
Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu (SI 119:89).
As tuas palavras são em ludo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para
sempre (SI 119:160; cf. SI 119:152).
Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece etemamente (ls 40:8).
Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão (Mt 24:35).
É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei (Lc 16:17).
...fostes regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a
qual vive e é permanente. Pois toda a carne é como a erva; e toda a sua glória como a flor da erva;
seca-se a erva e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente (1 Pe 1:2325).
Admite-se que nem todos estes textos se referem à Palavra escrita de Deus: as
Escrituras. Admite-se, também que alguns destes textos se referem mais
especificamente ao cuidado divino com relação ao cumprimento das suas
palavras. Não obstante, o que é válido para *a Palavra falada de Deus, é
necessariamente válido para a sua Palavra escrita. E, se Deus manifesta tanto
cuidado com o cumprimento da sua Palavra (escrita ou oral), não manifestaria
cuidado semelhante no sentido de preservar fisicamente o registro
escrito inspirado da sua promessa?
Entretanto, há cerca de 5.000 manuscritos gregos (81 papiros, 266 unciais, 2.754
cursivos e 2.135 lecionários);3 cerca de 11.000 manuscritos de versões (1.000
das ítalas, 8.000 da vulgata, 400 das siríacas, 1.250 da armênia, 100 das cópticas,
6 da gótica, 3 da geórgi-ca, etc.); e citações de dezenas de pais da igreja (gregos,
latinos e sírios) do Novo Testamento. Estes manuscritos apresentam desde
parte de apenas dois versículos até o Novo Testamento inteiro, provenientes do
segundo ao décimo sexto século da nossa era. Só que o texto desses manuscritos,
por serem tantos, diferem entre si em maior ou menor grau.
Só para que se tenha uma idéia da insegurança do texto a que esta teoria induz,
os mesmos eruditos que trabalharam na segunda edição do texto da UBS,
introduziram cerca de quinhentas mudanças
na terceira edição, num período de apenas três anos. Como conciliar a doutrina
da inspiração verbal e da preservação do texto do Novo Testamento com o texto
produzido pela moderna crítica textual?! Não é sem razão que um bom número
dos críticos textuais atuais já tenha desistido definitivamente de alcançar o texto
original do Novo Testamento.5
E QUALIDADE DO TEXTO
* Como explicar isso? Não era de se esperar que os manuscritos que representam
a fiel tradição fossem os únicos existentes. Paralelamente a essa transmissão fiel,
houve também, especialmente nos primeiros séculos, uma transmissão
descuidada, representada por manuscritos com muitos erros não intencionais, ou
até mesmo intencionais, de copistas e hereges, como Marcião, os quais
produziram cópias corrompidas do texto original. Afinal, não é apenas
Deus quem está interessado no texto das Escrituras; o diabo também
está! Enquanto Deus vela sobre a sua Palavra para a cumprir, o diabo faz,
e continuará a fazer de tudo para destruí-la ou corrompê-la, como a história tem
mostrado. As palavras de Orígenes de Alexandria, no terceiro século, confirmam
o que acaba de ser dito:
Nestes dias, como é evidente, há uma grande diversidade entre os vários manuscritos, quer pela
negligência de certos copistas, quer pela perversa audácia demonstrada por alguns em corrigir o
texto, quer pela falta de outros, os quais, considerando-se corretores, aumentam ou reduzem o
texto, conforme bem desejam.72
Os manuscritos que têm sido descobertos no Egito nos últimos dois séculos,
provenientes dos primeiros séculos, fornecem razoáveis evidências de serem
exemplares desses textos corrompidos. Os eruditos que estudaram
detalhadamente os papiros Chester Beatty (p45, p4ô e p47) e 0 papjro Bodmer II
(p66), dos séculos II e III, por exemplo, chegaram à conclusão que, embora
estejam entre os manuscritos mais antigos já encontrados, eles estão repletos de
erros. O p66, por exemplo, apresenta uma média de dois erros por versículo,
sendo que quase metade dos erros deixam o texto sem sentido. Já os
códices Sináitico (b>) e Vaticano (B), altamente valorizados por Westcott e Hort
e seus seguidores, só nos evangelhos apresentam, como já foi dito, cerca de três
mil diferenças entre si.73
Assim começou o primeiro dos três períodos em que se pode dividir a história do
texto impresso do Novo Testamento. Este primeiro período, conhecido como não
crítico, caracterizou-se pelo estabelecimento e padronização do texto encontrado
na grande maioria dos manuscritos, o texto majoritário, culminando com as
edições publicadas pelos irmãos Elzevir em 1678. O texto publicado pelos
irmãos Elzevir ficou conhecido pela expressão Textus Receptus (Texto
O segundo período (pré-crítico), que pode ter seu início demarcado com a
edição de John Fell de 1675, estende-se até 1831, quando Lachmann publica um
texto que se afasta consideravelmente do Textus Receptus. Este período se
caracterizou pelo acúmulo de evidências textuais por parte dos críticos, bem
como pela elaboração de teorias que viriam a ser aceitas e desenvolvidas no
período seguinte e que culminariam com a rejeição do texto recebido.
Entretanto, o texto francamente aceito pela igreja, mesmo nesta etapa
de transição, continuou a ser o Textus Receptus, pois as evidências textuais
acumuladas contrárias a ele não chegaram a ser aplicadas ao texto, e quando o
foram, mesmo que em parte, esses textos foram rejeitados firmemente pelo
consenso da igreja.76
Mas, ao que tudo indica, os últimos anos parecem estar conduzindo a um retorno
ao texto majoritário. Livros, artigos, e até mesmo novas edições do texto
majoritário foram recentemente publicados por estudiosos de inquestionável
erudição — tais como Van Bruggen, Pickering e Zane Hodges — combatendo
novamente a teoria de Westcott e Hort e seus seguidores, e defendendo o texto
majoritário com argumentos bastante plausíveis. Como resultado, não têm
sido poucos os que têm reconhecido no texto majoritário o único texto que pode
reivindicar haver sido preservado por Deus, através da igreja, no decorrer dos
séculos.
A Natureza da Preservação do NT
É claro que Deus não usou os copistas mecanicamente; as Escrituras não foram
psicocopiadas, ou melhor, pneumacopiadas. Mas também não se pode pensar
que Deus, depois de revelar sua vontade e inspirá-la a fim de que seu registro
fosse garantido, a deixaria entregue à própria sorte, sujeita à total corrupção, de
modo que os erros viessem a predominar e o que foi originalmente escrito viesse
a se perder, não mais havendo possibilidade de determinar o conteúdo do texto
original, a partir dos manuscritos que foram preservados.
A Extensão da Preservação do NT
Outros, ainda, parecem dar-se por satisfeitos com ò que poderíamos chamar de
preservação dinâmica, isto é, apenas do sentido do que foi inspirado, não se
importando com as palavras em si. Desde que o sentido fosse preservado, não
haveria problema quanto às palavras. Os estudiosos ortodoxos dificilmente
afirmariam sustentar alguma dessas posições, mas alguns até mesmo entre eles,
na prática, agem assim.
Este autor não crê, entretanto, com base nos textos bíblicos, bem como nas
evidências já fornecidas, e por conseqüência inevitável da doutrina
da inspiração, que a preservação das Escrituras se limite apenas à época da
sua inspiração, ou que todas as leituras sejam inspiradas, ou ainda que apenas
o sentido do que foi inspirado foi preservado. Crê, sim, na preservação verbal
e plenária das Escrituras. Tudo o que foi inspirado, palavra por palavra,
tem sido preservado por Deus, através da igreja, nas Escrituras, no decurso
dos séculos.
CAPÍTULO 9
1
Este capítulo encontra-se também em Paulo R. B. Anglada, Estudos em Manuscritologia do Novo
Testamento, 57-68.
2
Ler Deuleronômio 4:2; Jeremias 1:12: Salmo 119:160 e I Pedro 1:23-25.
3
Bruce M. Metzger, The Text of lhe New Testament; Its Transmission, Corruption, and Restoration, 32-33.
4
m Um nome mais apropriado seria “manuscritologia” (a ciência que estuda os manuscritos), por não ter
conotação crítica (certamente imprópria para ser empregada com relação à Palavra de Deus).
5
Ibid, 123-126
6
72 Wilbur N. Pickering, The Identity of the New Testament Text, 42.
7
J. Van Bruggen, The Ancient Text of the New Testament, 26.
8
G. R. Gregory, Canon and Text of the New Testament, 440.
9
Para uma avaliação crítica da teoria de Weslcott e Hort, ver Paulo R. B. Anglada, “A Teoria de Westcot e
Hort e o Texto Grego do Novo Testamento; Um Ensaio em Manuscritologia Bíblica,” 15-30.
10
Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, xx.
11
75 Algo semelhanle se verifica com relação ao canon. A Igreja Católica produziu um cânon
corrompido, com acréscimos no AT; mas o cânon verdadeiro foi preservado e identificado pela
verdadeira igreja de Cristo.
TRADUÇÃO DAS ESCRITURAS 8
O Velho Testamento em Hebraico (língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego
(a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que foi escrito), sendo inspirados
imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os
séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar
para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de
Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses
livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a
Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a
esperança pela paciência e conforto das Escrituras (Parágrafo VIII).
Isso não significa, entretanto, que as Escrituras não possam ou não devam ser
traduzidas para outros idiomas. A Igreja Católica assim achava. Para ela, os
leigos jamais poderiam compreender as Escrituras, e seria perigoso torná-las
disponíveis nas línguas nativas do povo.3 Este parágrafo da Confissão de Fé
expressa fielmente a posição e prática dos reformadores quanto à necessidade de
se traduzir as Escrituras nas diversas línguas.
Por que isso deveria ser feito? Por que é não somente legítimo como necessário
traduzir as Escrituras? Eis algumas razões:
Babel
dispensável para uma compreensão suficiente das Escrituras, mesmo por parte
de pessoas iletradas, desde que o Espírito ilumine o coração delas para tal; se
professamos crer que, embora as Escrituras apresentem dificuldades decorrentes
da sua natureza histórica, o problema maior para a sua compreensão está no
homem e não na língua; então só podemos concluir pela necessidade da tradução
das Escrituras em linguagem acessível, na convicção de que o Espírito Santo
poderá iluminar seus leitores, habilitando-os a compreender a substância do seu
ensino.
Conclusão
EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS
A fé reformada não apenas afirma essa necessidade, mas a história a demonstra.
Trata-se de uma prática antiga. Tão logo as pessoas a quem se destinavam as
Escrituras passaram a não mais compreendê-la na língua original, esta passou a
ser traduzida.
As Primeiras Traduções do AT
Assim, foram feitas inúmeras traduções antigas latinas, a língua que crescia em
importância no ocidente, sendo que a principal foi a Vulgata, feita por Jerônimo
no final do séc, IV AD; siríacas, língua semítica, tais como as versões Peshita,
Filoxêniana/Harcleana, e Pa-lestinense, entre os séc. II e VI; cópticas (língua
falada no Egito), nos séc. Ill e IV; góticas, pelo próprio inventor do alfabeto
gótico, Bispo Ulfílas, o apóstolo dos góticos; armênias, também pelo inventor
do alfabeto, Mesrop, e pelo Patriarca Sahak, no séc. V; geórgica, língua falada na
região entre o Mar Negro e o Mar Cáspio; etíope (séc. V.); arábicas (muitas
versões, provavelmente à partir do séc. VI ou VII), etc.5
Traduções da Reforma
lava sua tradução para outros idiomas, por considerar as Escrituras um livro
obscuro e não apropriado para ser lido por leigos. Os reformadores, entretanto,
não pouparam esforços no sentido de verter as Escrituras para os idiomas dos
seus respectivos países. Alguns, como Tyndale, foram até martirizados em
conseqüência dessa determinação.
Traduções Portuguesas
Traduções Modernas
América
American Standard Version
1901
(ASV)
Similar à RV, pequenas diferenças localizadas
1952 Revised Standard Version International Council of Religious Education Texto eclético e
(RSV) tradução mais livre
1970 New English Bible (NEB) Texto eclélico e linguagem idiomática mais livre
ainda.
Lockman Foundation
New American Standard Bible
1971
(NASB)
Revisão da ASV, mais literal que a RSV.
89 Entre outras traduções de Almeida estão a Liturgia da Igreja Reformada e o Catecismo de Heidelberg,
Mais detalhes sobre a versão de Almeida podem ser encontrados em B. P. Bittencourt, O Movo Testamento:
Cânon-Língua-Texto, 207-217.
1956
Edição Revista e Atualizada de João Ferreira Sociedades Bíblicas Unidas e SBB (Ia e 2a edições)
de Almeida Texto eclético
1993
Edição Corrigida e Revisada de João Ferreira Sociedade Bíblica Trinitariana Baseada no Textus
1994
de Almeida Receptus
As traduções modernas afastam-se cada vez mais dos textos originais padrões
empregados pelas traduções reformadas. O problema é especialmente grave com
relação ao Novo Testamento. Adotam textos ecléticos, baseados em uma minoria
de manuscritos bastante divergentes do texto padrão bem como divergentes entre
si mesmos. Como os critérios de escolha do texto são bastante subjetivos, não
há consistência entre as traduções modernas com relação ao texto.
Características Metodológicas
Não nos é possível descrever e avaliar detalhadamente este método aqui.12 Basta
dizer, entretanto, o seguinte:
A teoria baseia-se na tese de que todas as línguas têm dois níveis de estrutura
gramatical: um superficial e outro mais profundo; e que todas as formas
gramaticais superficiais podem ser reduzidas a quatro categorias semânticas (de
significado) universais mais profundas: objetos (coisas ou seres), eventos (ações
processos e acontecimentos), abstrações (qualidades, quantidades e graus) e
relações (conexões significativas entre as três categorias anteriores).
Segundo essa teoria, qualquer discurso, por mais complexo que seja pode e deve
ser reduzido a um número de afirmativas simples, e depois reconstruído em
outra língua.
Resultado: a tradução feita com base nesse método simplifica a linguagem mas
empobrece a tradução: o leitor entende mais claramente — mas a interpretação e
a reconstrução do tradutor, e não a mensagem original do texto. Eles entendem o
que o tradutor quer que entendam, não o que o autor quis que entendessem. Ao
invés de tornar a mensagem original mais clara para o leitor, esse método
distancia o leitor da mensagem original. Entre o texto original e a
tradução popular na linguagem de hoje, há um véu muito mais denso do
que existe entre o texto original e as versões mais antigas.
Especialização e Seleção
Institucionalização e Monopólio
Convém ressaltar que não era esse o propósito original das sociedades bíblicas.15
No princípio, a sua função era distribuir as Escrituras. Depois passaram a
publicá-la, posteriormente a traduzi-la, e, atualmente, a interpretá-la e aplicá-la.
Resultado
Na opinião deste autor, a Reforma Protestante do século XVI também tem muito
a nos ensinar com relação à tarefa de tradução das Escrituras. Seus princípios são
saudáveis, e merecem ser enfatizados e praticados. Ei-los:
Auspícios e Supervisão
A tradução das Escrituras deve ser feita sob os auspícios e supervisão da igreja.
E uma tarefa para ser levada a efeito por pessoas que se encontrem sob
autoridade eclesiástica, e não como iniciativa pessoal ou de grupos para-
eclesiásticos. Este é um empreendimento difícil hoje, dada a proliferação de
denominações e afastamento das doutrinas centrais do Evangelho, ou ênfase
exagerada em doutrinas secundárias. Na melhor das hipóteses, pode-se esperar
por revisões ou traduções sob os auspícios de uma denominação ou grupo
reduzido de denominações.
Precisão
A tradução das Escrituras tem que ser precisa. Deve ser confiável. Deve refletir o
máximo possível a autoridade do texto original. Para isso, precisa apresentar as
seguintes características:
Não é função do tradutor tornar o texto mais claro do que foi para os leitores
originais. Se o tradutor determina qual o sentido de um texto na tradução,
quando o próprio original permite outras interpretações, ele se coloca na posição
da Igreja Católica, que atribui a si mêsma um direito que não tem: de definir o
sentido do texto das Escrituras;
3. Clareza
Não se pode traduzir uma palavra no original sempre pela mesma palavra na
tradução. Há línguas que empregam palavras diferentes para uma mesma palavra
no original. Exemplo: a palavra para carne no grego (oáp£) é empregada, como
no português, com sentidos variados: carnalidade, corpo humano, carne
comestível. Mas o inglês dispõe de palavras diferentes: uma para carnalidade é
corpo humano {flesh) e outra para carne comestível {meat).
Contudo, deve-se ter em mente que mesmo o texto original não foi escrito de
modo igualmente claro ou em linguagem igualmente popular. Há livros do NT
escritos em grego bem elementar, enquanto outros são escritos quase que em
grego clássico. Será que isto não deve ser levado em consideração! Por mais fiel
e clara que seja a tradução das Escrituras, é preciso reconhecer que se o Espírito
Santo
não iluminar a mente e o coração do leitor, ela continuará ininteligível, por mais
simples que seja a tradução.18
4. Inteireza
5. Historicidade ou continuidade
CAPÍTULO 10
1
Ler Mateus 28:18-20; Joiio 5:39; Colossenses 3:16 e Romanos 15:4.
2
Doutrina já estudada nos parágrafos II e III desle capítulo da Confissão de Fé.
3
Uma exceção inieressante a esta regra foi a tradução de Douay-Rheims da Vulgata para o inglês, como
tentativa do papado de reconquistar a Inglaterra (cf. Wayne Spear, The Westminster Confession of Faith and
Holy Scripture, 9).
4
81G. C. Berkouwer, Studies in Dogmáticas: Holy Scripture, 213.
5
Mais sobre versões antigas das Escrituras pode ser encontrado em: Bruce M. Metzer, Ancient Versions. In
The Interpreter's Dictionary of the Bible, vol. 4,749-760) e The Early Versions of The New Testament: Their
Origin, Transmission and Limitation, do mesmo autor.
6
A versão de Tyndale foi a primeira tradução inglesa feita diretamenle dos textos originais. Outras versões
inglesas anligas são: The Cloverdale Bible (1535), Matthew’s Bible (1537), The Great Bible, (1539), The
Geneva Bible (1560) e The Bishops Bible (1568).
7
A primeira versão inglesa completa foi a de John Wycliff, produzida em 1382.
8
J. Van Bruggen, The Future of The Bible, 51.
9
911
Não se quer dizer com isso que os termos Textos Receptus e texto majoritário sejam equivalentes. Mas
sim, que os Textus Receptus empregados pelos reformadores eram a melhor expressão do texto majoritário
na época (ver capítulo sobre a preservação das Escrituras).
10
1,1 Sua teoria encontra-se exposta no seu livro Toward a Science of Translating, publicado em 1964 e a
prática dessa teoria no livro The Theory and Practice of Translation, em 1974. Ambos foram publicados
sob os auspícios da United Bible Society.
11
Exercendo funções como a de secretário executivo e coordenador mundial de traduções da UBS, os
próprios editores da UBS admitem, com relação a Eugene Nida, que “nas suas mãos tem estado a tradução
das Escrituras Sagradas para quase todos os idiomas do mundo, cuja cifra até esta data, passa de 1.660
línguas” (contra capa de Eugene Nida, Dios Abla a Todos, publicado em 1979 pela própria UBS).
12
A teoria da equivalência dinâmica de Nida é descrita e avaliada de modo resumido c apropriado pelo Dr.
Jacob Van Bruggen, professor de exegese do Novo Testamento no Reformed Theological College em
Kampen, na Holanda no livro The Future of the Bible, 67-96 e 151-169.
13
'M Citado por J. Van Bruggen, The Future of the Bible, 30.
14
Algumas sociedades bíblicas ainda exigem que os seus tradutores professem a doutrina da inspiração das
Escrituras. É o caso da New York Bible Society International (que publica a New International Version
(N1V) e a Trinitarian Bible Society, na Inglaterra (que ainda publica e promove a King James e o Textus
Receptus). Esta última foi fundada em 1831 por membros da British and Foreign Bible Society, em reação à
aceitação de unitarianos como membros dessa sociedade.
15
56 Sociedades bíblicas tais como a Consteinsche Bibelgesellschaft (alemã), primeira a ser fundada, em
1710; a British and Foreign Society (fundada em 1804) a Netherlands Bible Society (fundada em 1814); e a
American Bible Society (1816); começaram todas como o propósito de divulgar as Escrituras e não de
traduzi-las c muito menos interpretá-las.
16
Martin Luther, An Open Letter on Translation.
17
1,8 Ver o capítulo sobre a doutrina da preservação das Escrituras. M Martin Luther, An Open Letter on
Translation.
18
1,10 Cf. Lucas 24:45; Atos 16:14; 1 Coríntios 2:6-16 e 2 Corínlios 4:3-6.
INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS
A regra infalível de interpretação da Escritura é a mesma Escritura; portanto, quando houver questão
sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas
único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente
(Parágrafo IX).
O que a Confissão quer dizer com essa afirmativa é que o sentido de uma
passagem obscura não pode ser autoritativamente determinado nem por tradição,
nem por decisão eclesiástica, nem por argumento filosófico, nem por intuição
espiritual, mas sim, unicamente, por outras partes das Escrituras que expliquem e
esclareçam o seu sentido.
Assim, Lutero, afirmou: “Nós devemos nos ater ao sentido simples, puro e
natural das palavras, como requerido pela gramática e pelo uso do idioma criado
por Deus entre os homens.”5 E Calvino chegou a afirmar que a interpretação
alegórica era satânica, por desviar o homem da verdade das Escrituras. Afirmou
também que “é uma audácia próxima do sacrilégio usar as Escrituras ao nosso
bel-prazer e brincar com elas como com uma bola de tênis, como muitos antes
de nós o fizeram.”6
Por ser um livro divino-humano — inspirado por Deus, mas escrito por homens
—, a fé reformada admite que há dificuldades de ordem espiritual e de ordem
humana para a compreensão das Escrituras. O apóstolo Pedro reconheceu essa
dificuldade com relação a al-
gumas porções dos escritos do apóstolo Paulo, dizendo que “há nelas coisas
difíceis de entender...” (2 Pe 3:16). Isto significa que a compreensão das
Escrituras não é automática, espontânea. E, sim, o resultado da ação iluminadora
do Espírito Santo, por um lado, e por outro, do estudo diligente da língua e do
contexto histórico em que foi escrita.
Mas os sentidos deles se embotaram.1118 Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga
aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que em Cristo é removido. Mas até hoje,
quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles.
Como este véu pode ser retirado? Pela conversão, responde o apóstolo no verso
seguinte: “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu é retirado.”
Na Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo ensina a mesma coisa, com relação aos
gentios:
...não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,
obscurecidos de entendimento,7 alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela
dureza dos seus corações (Ef 4:17,18).
Por esta causa me ponho de joelhos diante do Pai... para que, segundo a riqueza da sua glória, vos
conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e assim habite
Cristo nos vossos corações, pela fc, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes
compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e
conhecer o amor de Cristo que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a
plenitude de Deus (Ef 3:14-19).
Contudo, as Escrituras deixam claro por ensino direto e por inúmeros exemplos
que o coração do homem não é confiável. E, sim, mais enganoso do que todas as
coisas e desesperadamente corrupto (Jr 17:9). Além disso, não existe somente o
Espírito da verdade; há, também o espírito do erro (1 Jo 4:6). O pai da mentira
está sempre pronto a enganar, se possível for, até os eleitos. Logo, o caráter
espiritual envolvido na interpretação das Escrituras não elimina, de modo algum,
o lado humano, também necessário para a sua correta interpretação e
compreensão. Não se pode esquecer, que é pela Palavra, através da Palavra, que
o Espírito Santo ilumina a mente e o coração.
Corrente Espiritualista
A Hermenêutica Alegórica
A Hermenêutica Intuitiva
A Hermenêutica Existencialista
Corrente Humanista
Como Precursores
A Escola Crítica
Corrente Reformada
Precursores
Principais Representantes
Pressuposições Teológicas
Mas, que pressuposições teológicas são estas que estão sendo mencionadas? São
todas as doutrinas a respeito das Escrituras, já referidas neste capítulo da
Confissão de Fé de Westminster, e ensinadas e defendidas pelos reformadores e
seus legítimos herdeiros desde então. São as doutrinas da necessidade do cânon,
da inspiração, da autoridade, da suficiência, da clareza e da preservação das
Escrituras.
O Princípio da Analogia da Fé
nada mais importante para um pregador, do que ter uma teologia sistemática, do
que conhecê-la e ser bem versado nela.” A razão, ele explica logo a seguir:
Cada mensagem, que brota de um texto em particular ou de uma afirmativa das Escrituras, deve ser
sempre uma parte ou aspecto desse corpo total de verdade. Não é nunca algo isolado, nunca algo
separado ou à parte. A doutrina em um determinado texto, devemos lembrar, é uma parte deste
grande todo — a Verdade ou a Fé... Toda a nossa preparação de um sermão deveria ser controlada
por este pano de fundo da teologia sistemática... É errado uma pessoa impor violentamente seu
sistema sobre um texto em particular; mas, ao mesmo tempo, é vital que sua interpretação de um
texto em particular seja checada e controlada por este sistema, este corpo de doutrina e de verdade
que é encontrado na Bíblia.18
Importância do Contexto
Textos mais obscuros devem ser interpretados à luz de textos mais claros. Se,
mesmo tendo levado em conta o princípio da analogia da fé, e tendo dado a
devida consideração ao contexto, o sentido de uma determinada passagem das
Escrituras não for claro, deve-se recorrer a outras partes dela, aonde o assunto é
tratado de modo mais claro ou detalhado. Para isso, atenção especial deve ser
dada a textos paralelos, especialmente nos Evangelhos; escritos que tratam do
assunto de modo mais sistemático, como Romanos sobre a doutrina
da salvação,1 Coríntios 12-14 sobre os dons espirituais, 1 Coríntios 15 sobre a
doutrina da ressurreição, e Gálatas sobre a relação entre lei e graça; outros livros
escritos pelo mesmo autor, especialmente os que tratam do mesmo assunto e/ou
foram escritos na mesma época ou circunstâncias, como Efésios e Colossenses; e
livros mais adiantados na história da revelação, como os livros do NT em
relação aos do AT, ou as cartas pastorais em relação ao livro de Atos.
A não ser que as próprias Escrituras indiquem claramente, todo texto bíblico
deve ser interpretado em sentido literal. Já nos referimos ao perigo das
interpretações alegóricas. Portanto, deve-se ter especial cuidado com a
interpretação de determinados gêneros literários, tais
2. As profecias têm sentido comum, literal e histórico, a não ser que o contexto
ou o seu cumprimento indiquem um sentido simbólico. As vezes, uma profecia
tem múltiplo cumprimento (é a perspectiva profética), em geral histórico e
escatológico. Freqüentemente profecias referentes à restauração de Israel como
nação apontam também para a restauração de todas as coisas na consumação dos
séculos. O mesmo pode ser dito sobre os juízos divinos e sobre profecias
messiânicas.
3. Tipos. Deus se revela nas Escrituras não apenas por palavras, mas por pessoas,
coisas e fatos tipológicos. Muitas pessoas, utensílios e acontecimentos históricos,
especialmente no AT, tinham caráter simbólico. Ou seja, apontavam ou
sinalizavam para outra pessoa, coisa ou evento futuro. Contudo, uma pessoa,
coisa ou evento só deve ser interpretado simbolicamente quando houver
indicação bíblica específica neste sentido. Os sacrifícios do AT, por exemplo,
são explicitamente ligados ao sacrifício de Cristo (ver Hebreus).
Deve-se distinguir tipologia (símbolo) de alegoria e parábola. Pois, enquanto
nestas o contexto histórico é de pouca importância, “na tipologia... a história e o
significado literal são levados seriamente em conta.”21 22 Na tipologia, “...uma
pessoa, coisa ou evento que teve existência real e significado próprio, simboliza,
ou representa, ou antecipa a alguém ou algo de maior transcendência em época
futu-
Símiles. São empregadas para tornar mais vivida uma descrição, por meio de
comparações. Há muitos exemplos disso no livro de Cantares e no livro de
Apocalipse. Exemplo: “A sua cabeça e cabelos eram brancos como a alva lã,
como neve; os olhos como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze
polido...” (Ap 1:14-15).
Litotes. É um recurso literário pelo qual se faz uma afirmativa, pela negação do
contrário. Exemplo: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder
de Deus para a salvação de todo aquele que crê...” (Rm 1:16).
plicação dos pães como uma figura segundo a qual “Jesus teria extraído das
multidões um latente espírito de misericórdia, de modo que todos seguiram o
exemplo do menino, e contribuíram com o que tinham, e todos puderam ser
alimentados.129 Nada, entretanto, no relato bíblico justifica sua interpretação
figurada.
Sintáticos
Gramaticais
Semânticos
vras compostas e às palavras que aparecem apenas uma vez no NT.'30 É preciso
também estudar os possíveis sentidos da palavra no NT e demais escritos
antigos. E dar atenção especial aos sinônimos.'3' Léxicos e dicionários técnicos
ajudam muito nesta tarefa.
Para concluirmos este assunto, uma palavra precisa ser dita sobre o propósito ou
meta da interpretação das Escrituras.
111
Exemplos: amor (áyáirr|, <|>iXía, êpos), novo (Kaiws, i^éos), pecado
Possa Deus abençoar-nos a todos neste sentido. Que o seu Espírito, que em nós
habita, ilumine o nosso coração para compreendermos a sua Palavra. Que Ele a
use como lenha para aquecer o nosso coração com santas afeições e mover a
nossa vontade com santas determinações.
1
1112 F. F. Bruce, The History of New Testament Study, 28.
2
1113 Cuja teoria de interpretação bíblica foi melhor do que sua prática, mitas vezes alegórica.
3
1114 David L. Larsen, Telling the Old, Old Story, The Art of Narrative Preaching, 150.
4
11,5 Lamberto Floor enfaliza com muila propriedade esle aspeclo da inlerprelação bíblica dc Calvino no
artigo The Hermeneutics of Calvin, 181-191.
5
Escrevendo Sobre a Escravidão da Vontade (Cilado por F. F. Bruce, The History of New Testament Study,
31).
6
1,17 Bernard Ramm, Protestant Biblical Interpretation; A Texlbook of Hermeneulics, 58.
7
1118 èmoptóÔri rà mrpaTa aintov. ll)9èaKOT(0(iévoi tt| Ôiavoiç.
8
"'Conferir 1 Reis3:9 eDaniel 2:21.
9
Com seus três níveis de sentidos: 1) literal, ao nível do corpo; 2) o moral, ao nível da alma; e 3) o
alegórico, ao nível do espírito.
10
Ralph P. Martin, Approaches to New Testament Interpretation, 220.
11
Com o prefixo grego eis, para (dentro), ao invés de ck, de (dentro).
12
S. Taylor, “Saduceus,” 332.
13
B. J. van der Walt, Anatomy of Reformation, 10 e 26.
14
J. 1. Packer, L 'herméneutique et l 'autorité de la Bible, 10.
15
Um estudo mais detalhado sobre o lugar das pressuposições na interpretação das Escrituras pode
ser encontrado em Graham N. Stanton. Presuppositions in New Testament Criticism, 60-71.
16
Luis Berkhof, Princípios de Interpretation Biblica, 46.
17
O termo latino empregado é analogiaftdei.
18
D. Martyn Lloyd-Jones, Preaching & Preachers, 66.
19
Luis Berkhof, Princípios de Interpretation Bíblica, 61.
20
Luis Berkhof, Princípios de Interpretation Bíblica, 179. Mais sobre interpretação de profecias pode ser
encontrado em Bernard Ramm, Protestant Biblical Interpretation', A Textbook of Hermeneutics, 241-275;
eem William Sandford LaSur, Interpretación de Profecias, 60-74.
21
Robert B. Laurin, Interpretación Tipologica del Antigo Testamento, 75.
22
Ibid, 75.
23
112 Cilado por Keun-Doo Jung, An Evaluation of the Principles and Methods of the Preaching of D. M.
Lloyd-Jones, 65.
1M
Ibid, 64.
CAPÍTULO 11 AUTORIDADE SUPREMA DAS ESCRITURAS
"O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão
examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de
homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser
outro senão o Espírito Santo falando na Escrituras ” (Parágrafo X).
TENDÊNCIA GERAL
Por outro lado, há, como também houve no passado, a tendência de limitar a
autoridade das Escrituras, negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo.
É o que fazem hoje a teologia liberal, a neo-ortodoxia e o neo-evangelicalismo,
com relação a três dos principais aspectos da doutrina da autoridade das
Escrituras.
quando fala ao nosso coração. Como dizem, “as Escrituras não são, mas se
tornam a Palavra de Deus” quando existencializadas.
Mas esta concepção não reflete nem se coaduna com a posição reformada e
protestante histórica. Para a fé reformada histórica, o escopo da autoridade das
Escrituras é todo o seu cânon. É verdade que a Bíblia não se propõe a ser um
compêndio científico ou um livro histórico. Mas, ainda assim, todas as
afirmativas contidas nas Escrituras, sejam elas de caráter teológico, prático,
histórico ou científico, são inerrantes e autoritativas.140
CONCLUSÃO
veredicto é dado pelo Espírito, quando as pessoas chegam a compartilhar uma fé comum, baseada
nas Escrituras.142
142 Wayne Spear, The Westminster Confession ofFaith and Holy Scripture, 9.
CAPÍTULO 12
1
C. Pinnock (citado por Keun-Doo Jung, A Study of the Authority of Scripture with Reference to The
Westminster Confession of Faith, 45).
2
O. D. Kauftnan (Ibid, 45).
3
Ensinada mais especificamente no parágrafo V do cap. 1 da Confissão de Fé de Westminster.
4
Confissão de Fé de Westminster, I:v.
5
Herman Ridderbos, Studies in Scripture and its Authority, 24.
OBJEÇÕES E RESPOSTAS
ERROS DE TRANSMISSÃO
Uma das objeções levantadas — talvez a mais sincera, e com relação à qual a
ortodoxia não tem dado uma resposta realmente satisfatória — tem a ver com a
preservação das Escrituras. De que adianta falar em inspiração verbal e
inerrância da Bíblia, se o texto original não foi preservado, mas foi corrompido
no decorrer dos anos, com os milhares de erros introduzidos pelos copistas, a tal
ponto que nos é virtualmente impossível determinar com certeza as
palavras originais?
Entretanto, não é necessário nos determos para analisar esta objeção, visto que a
questão já foi tratada quando do estudo da doutrina da preservação. Aqui, basta
lembrar, que o problema não está no texto, mas nas teorias modernas da crítica
textual que rejeitaram o texto preservado nos milhares de manuscritos que
apresentam o texto majoritário. Não há nada de errado, portanto, com a doutrina
da inspiração ou da preservação das Escrituras. Há sim, com a
metodologia crítica atualmente empregada no estudo dos manuscritos das
Escrituras.
ERROS CIENTÍFICOS
Será que alguém acredita que a ciência já alcançou o seu ápice, sua forma final?!
Quanto mais o homem avança em seus conhecimentos, mais descobre seus erros,
o quão pouco sabe, e que apenas começou. Está, como uma criança, brincando à
beira da praia de um oceano tão grande que ela não pode mensurar.
A Bíblia, por outro lado, continua firme como uma rocha batida pelas ondas da
incredulidade, do ceticismo, do racionalismo, e da “ciência” materialista do
nosso século. É verdade que a Bíblia não é um livro científico. Ela não foi
escrita por uma perspectiva científica ou com propósito científico. A Bíblia usa a
linguagem do dia a dia, para descrever os fatos como aparecem; por exemplo:
“os quatro cantos da terra,” “as extremidades ou confins da terra,” “o sol se pôs e
se levantou,” etc. Mas isso não implica em erro científico. Nós mesmos fazemos
uso dessas expressões ainda hoje. Trata-se de uma linguagem fenomenal,
segundo a qual, as coisas são descritas pela sua aparência e não pela sua
explicação científica. O que querem os críticos? Que ao invés das Escrituras
dizerem (em Gn 24:63) “Saíra Isaque para meditar no campo ao cair da tarde...,”
dissesse: “Saíra Isaque para meditar no campo quando a revolução da terra sobre
o seu eixo fez com que os raios do luminário solar impingissem horizontalmente
sobre a retina”?3
Convém observar, que ao descrever a majestade de Deus, Isaí-as diz que ele está
assentado “sobre a redondeza da terra...” (Is 40:22).4 E Jó afirma que “Deus faz
pairar a terra sobre o nada” (Jó 26:7); contrariando as idéias prevalecentes na
época. Uma coisa é
dizer que a Bíblia contém afirmativas que não estão em harmonia com ensinos
da ciência de nossos dias; ou que as Escrituras não empregam uma linguagem
científica. Outra, bem diferente, é dizer que a Bíblia contém erros provados pela
ciência. Tal afirmativa pressupõe a inerrância científica, impossível de ser
sustentada.
ERROS HISTÓRICOS
Fala-se, também, em erros históricos. Relatos bíblicos em desacordo com a
história secular. A História não menciona relatos bíblicos importantes, tais como
a marcha de Senaqueribe contra Jerusalém e a matança dos 185 mil assírios pelo
anjo do Senhor. Também não menciona a elevação de Ester à posição de rainha.
CONTRADIÇÕES INTERNAS
Mateus 8:5 e Lucas 7:3. O próprio centurião foi até Jesus pedir-lhe que curasse
seu servo, ou mandou anciãos? Resposta: não há nenhum erro em se omitir
detalhes de um relato. É comum atribuir a alguém, palavras ou atos de seus
intermediários. Ex: “Nós vamos construir o nosso templo.” Na verdade, quem
vai construir são os operários.
Mateus 27:5 e Atos 1:18. Judas devolveu o dinheiro aos sacerdotes ou adquiriu
um campo? Resposta: os textos se completam; depois que se suicidou, os
sacerdotes compraram com o dinheiro um campo para enterrá-lo.
do corpo: sandálias, túnica e bordão. Nada de alforje, pois não levariam nada
mais.
Finalmente, visto que estavam sendo dirigidos pelo Espírito Santo, os autores do
Novo Testamento podiam legitimamente aplicar um texto do Antigo Testamento
em outro contexto ou em outro sentido, ou até mesmo modificar o texto do AT
para adaptá-lo ao seu atual propósito.8
OUTRAS OBJEÇÕES
CONCLUSÃO
Não se quer sugerir, com os exemplos até aqui mencionados, que podemos
explicar todas as dificuldades das Escrituras. A doutrina reformada reivindica
uma clareza substancial, mas não total das Escrituras. O que afirmamos, é que as
contradições são apenas aparentes, decorrentes do caráter humano ou mesmo
divino das Escrituras. De fato, é mesmo de se esperar que criaturas finitas,
limitadas e pecaminosas como nós tenham reais dificuldades em compreender
e harmonizar toda a revelação bíblica. Pode nos faltar informações
ou compreensão adequada do texto bíblico, mas isso não implica, de modo
algum, na falibilidade ou errância das Escrituras.
CAPÍTULO 13
1
Como tem sido observado por alguns defensores da inerrância das Escrituras, tais como James
Montgomery Boice, O Pregador e a Palavra de Deus, 156.
2
J. I. Packer, Confrontando os Conceitos dos Nossos Dias Acerca das Escrituras, 73.
3
Exemplo de A. H. Strong, citado por John H. Gerstner, A Doutrina da Igreja Sobre a Inspiração
Bíblica, 60.
4
14í Círculo, abóbada. Conferir o uso do termo em Jó 22:14; 26:10 e Provérbios 8:27.
5
Daniel 12:4.
6
Ver Merril F. Unger, Arqueologia do Velho Testamento.
7
I4‘J Gleason L. Archer, O Testemunho da Bíblia à sua Própria Inerrância, \ 14.
8
Para uma explicação mais detalhada sobre a maneira como o Novo Testamento cita o Antigo, ver Roger
Nicole, Citas del Antiguo Testamento en el Nuevo Testamento, 27-34.
9
Gleason L. Archer, O Testemunho da Bíblia à sua Própria Inemmcia. 108.
RESUMO E APLICAÇÕES
DA DOUTRINA DA REVELAÇÃO
Resumo: a igreja não estabelece o cânon das Escrituras, ela apenas o reconhece,
pelo testemunho da História, pelas evidências internas da própria Escritura e,
especialmente, pelo testemunho interno do Espírito Santo na igreja como um
todo.
Aplicação: não podemos nos aproximar das Escrituras como se estas fossem
mero produto do espírito humano, proveniente de particular elucidação ou
discernimento (2 Pd 1:20-21). Também não podemos nos aproximar dela, como
se fosse um livro psicografado, sem considerar seu contexto histórico. É preciso
também rejeitar qualquer forma de inspiração parcial ou mental das Escrituras.
Toda a Escritura e cada palavra dela foi inspirada pelo Espírito Santo.
Resumo: o texto bíblico, revelado e inspirado por Deus para garantir seu fiel
registro nas Escrituras, foi cuidadosamente preservado por Ele no decorrer dos
séculos, de modo a garantir que aquilo que
CAPÍTULO 14
PRATICANTES DA PALAVRA
A sua ênfase nas obras é de tal ordem que alguns têm demonstrado dificuldade
em conciliar seu ensino com a doutrina reformada fundamental da salvação pela
graça mediante a fé, tão claramente en-
sinada pelo apóstolo Paulo. Mas não há contradição alguma. O que Tiago ensina
é que as obras — no sentido mais amplo, indicando vida reta, íntegra e obediente
— são a manifestação externa da salvação pela graça mediante a fé.
O apóstolo Paulo não ensina nada diferente, pois embora afirme que “pela graça
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” e que não
somos salvos por obras, “para que ninguém se glorie,” também afirma, logo a
seguir, que “somos feitura dele (de Deus), criados em Cristo Jesus para as boas
obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:8-
10). A única diferença entre Paulo e Tiago é de ênfase, de enfoque.
Enquanto Paulo trata especialmente (mas não somente) do modo da
salvação pela graça, Tiago trata das suas evidências externas.
Para Tiago, perseverar firme nas provações, refrear a língua, não fazer acepção
de pessoas, ser humilde (em contraste com a soberba), confiar em Deus (em
contraste com a autoconfiança), e ser paciente,
Com estas coisas em mente, podemos extrair algumas lições desta porção da
revelação bíblica. A essência do texto está em dois imperativos. O primeiro se
encontra no verso 21: acolhei (SéÇaoQe), isto é: recebei, recebei
favoravelmente, dai ouvidos, abraçai, aprovai.
plantada num coração orgulhoso e altivo. Nesse tipo de solo ela não frutifica
como deve.
Por que acolher? Porque ela é poderosa para salvar as vossas almas. Esta é a
razão fundamental: a Palavra de Deus é o único instrumento suficientemente
poderoso para consumar a salvação da nossa alma. A palavra aqui empregada
deriva-se de ôúvapis; a mesma empregada pelo apóstolo Paulo em Romanos
1:16, onde ele declara que está pronto para anunciar a Palavra de Deus, também
na capital do Império Romano, porque ele está plenamente convencido de que
o Evangelho “...é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê,
primeiro do judeu e também do grego.”
pelo “curso deste mundo,” pelo “espírito que agora atua nos filhos da
desobediência,” pelas “inclinações da nossa carne” (Ef 2:2-3).
Por quê? Para não nos enganarmos (TrapaXoyiCópevoi) a nós mesmos. Para não
nos desviarmos a nós mesmos com raciocínios fa-lazes. Se formos meros
ouvintes da Palavra, e não nos empenharmos de coração em praticá-la
diariamente nos termos em que somos exortados aqui, nós a esqueceremos —
Como um homem que contempla sua imagem no espelho e se retira, logo se
esquece da sua própria aparência — e ela não frutificará. Tiago está aqui nos
exortando a não apenas recebermos a Palavra, mas a observarmos
continuamente, como um espelho a nos lembrar o que devemos crer e o que
Deus requer de nós. Não é suficiente receber, é preciso reter, observar, cumprir,
praticar. De outro modo, estaremos nos enganando a nós mesmos.
Possa Deus ajudar-nos a dizer com Davi: “Com efeito, os teus testemunhos são o
meu prazer” (SI 119:24). “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro
em meu coração está a tua lei” (SI 40:8).
A VERDADEIRA RELIGIÃO
Pode-se dizer que, em certo sentido, nos versos 26 e 27, encontramos o tema
geral da carta de Tiago. Sua conclusão, do que acabou de dizer, é a seguinte: na
prática sincera e diligente da Palavra de Deus, em nós implantada, consiste a
verdadeira religião.
Ele então caracteriza a religião pura com três exemplos práticos (não poderia ser
de outro modo): dominar a língua, acudir aos necessitados, e não se deixar
contaminar pelo mundo. A luz da analogia da fé (pelo ensino bíblico como um
todo), é evidente que Tiago está apenas dando alguns exemplos práticos
particulares, algumas marcas da verdadeira religião. A verdadeira religião vai
bem mais além do que isso.
CONCLUSÃO
APÊNDICE 1
1
O termo grego aqui empregado (ê|i<|>UTos) aparece esta única vez no NT. Mas o substantivo 4>i>Teí«
aparece em Mateus 15:13 e significa planta. E o verbo 4>utóku aparece diversas vezes (Mt 15:13, 21:33;
etc.) com o sentido de plantar uma árvore. Paulo emprega a palavra no sentido figurado em 1 Coríntios 3:6-
8, “Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimento veio de Deus.”
2
155
A mesma palavra, ckpoaTrjç, é aplicada aos judeus em Romanos 2:13: “Porque os simples
ouvidores da lei n3o s3o justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.”
3
Cf. Atos 6:3: “...escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do espírito e de sabedoria.;”
Hebreus 2:6: “Que é o homem, que dele te lembres? ou o filho do homem, que o visites." Observar também
a palavra derivada èttlctkottoç (supervisor, bispo).
4
A palavra é traduzida assim em 2 Pedro 3:14, “...empenhai-vos por ser achados por ele em paz, sem
mácula e irrepreensíveis.”
PRINCIPAIS SÍMBOLOS DE FÉ
Igrejas Independentes
Independentes,
| Batistas, etc.
CREDOS ANTIGOS
Os símbolos de fé mais antigos são os credos. Eles resumem as verdades mais
fundamentais do cristianismo. Constituem-se, por assim dizer, na herança
comum da fé cristã, visto que os principais ramos do cristianismo1 os
subscrevem. O conteúdo deles é a doutrina da Trindade, em especial a pessoa
divino-humana de Cristo.
Credo Apostólico
O Credo Apostólico, o mais conhecido dos credos, é atribuído pela tradição aos
doze apóstolos.2 Mas os estudiosos acreditam que ele se desenvolveu a partir de
pequenas confissões batismais empregadas nas igrejas dos primeiros séculos.
Embora os seus artigos sejam de origem bem antiga, acredita-se atualmente que
o credo apostólico só alcançou sua forma definitiva por volta do sexto século,3
quando são encontrados registros do seu emprego na liturgia oficial da igreja
ocidental. De um modo ou de outro, parece evidente sua conexão com outros
credos antigos menores; como os seguintes:
Creio em Deus Pai Todo-poderoso, e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. E no Espírito
Santo, na santa Igreja, na ressurreição da carne.
Creio em Deus Pai Todo-poderoso. E em Jesus Cristo seu único Filho nosso Senhor, que nasceu do
Espírito Santo e da virgem Maria; concebido sob o poder de Pôncio Pilatos e sepultado; ressuscitou
ao terceiro dia; subiu ao céu e está sentado à mão direita do Pai, de onde há de vir julgar os vivos e
os mortos. E no Espírito Santo; na santa Igreja; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo.4
O Credo de Atanásio
Este credo é um tanto longo (com 40 artigos), mas convém ser transcrito aqui,
por ser considerado “um majestoso e único monumento da fé imutável de toda a
igreja quanto aos grandes mistérios da
1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal.11 2. A
qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para sempre. 3. Mas a
fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade. 4. Não
confundindo as pessoas, nem dividindo a substância. 5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é
outra, e a do Espírito Santo outra. 6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma
divindade, igual em glória e co-eterna majestade. 7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o
Espírito Santo. 8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado. 9. O Pai é
ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espirito Santo é ilimitado. 10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o
Espírito Santo é eterno. 11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno. 12. Portanto não há três
(seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado. 13. Do mesmo modo, o
Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espirito Santo é onipotente. 14. Contudo, não há três
onipotentes, mas um só onipotente. 15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.
16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus. 17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o
Espírito Santo é Senhor. 18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. 19. Porque, assim
como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor;
assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores. 20. O
Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado. 21. O Filho procede do Pai somente, nem feito,
nem criado, mas gerado. 22. O Espirito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem
gerado, mas procedente. 23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um
Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último,
nenhum é maior ou menor. 25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo
que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser
cultuada. 26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade.
27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso
Senhor Jesus Cristo. 28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem. 29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do
Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe. 30. Perfeito Deus, perfeito homem,
subsistindo de uma alma racional e carne humana. 31. Igual ao Pai com relação
à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade. 32. O qual, embora seja Deus e
homem, não é dois mas um só Cristo. 33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne,
mas por sua divindade haver assumido sua humanidade. 34. Um, não, de modo algum, pela confusão
de substância, mas pela unidade de pessoa. 35. Pois assim como uma alma racional e carne
constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo. 36. O qual sofreu por nossa
salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia. 37. Ascendeu ao céu, sentou à
direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. 38. Em cuja vinda, todo
homem ressuscitará com seus corpos, e prestarão conta de sua obras. 39. E aqueles que houverem
feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o mal, para o fogo eterno. 40. Esta é a
fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser salvo.12
Catecismos de Lutero
Fórmula da Concórdia
Confissão de Fé Escocesa
A primeira Confissão de Fé Escocesa foi escrita por John Knox e outros cinco
Johns'19 em apenas quatro dias. Aprovada pelo Parlamento da Escócia em 1560,
só pôde ser oficialmente adotada sete anos depois, após a deposição da rainha
Maria, a qual recusava-se a ratificar a decisão do Parlamento. Esta Confissão foi
adotada como símbolo de fé da igreja Reformada da Escócia por quase cem
anos, até ser substituída em 1647 pela Confissão de Fé e Catecismos
de Westminster.20
A Confissão Belga ou dos Países Baixos foi escrita por Guido de Brès em defesa
da fé reformada de comunidades da fala francesa dos Países Baixos, em 1561,
em francês, e traduzida no ano seguinte para o holandês. Guido de Brès foi
condenado à forca e martirizado no dia 31 de maio de 1567 por sua fidelidade à
fé reformada.21 A Confissão de Fé Belga, juntamente com o Catecismo de
Heidelberg e os Cânones de Dort, constituem-se nos símbolos de fé de toda
a Igreja Reformada Holandesa e de igrejas reformadas na América, na África do
Sul, etc.22
A Confissão Belga tem 37 artigos, tratando da pessoa de Deus e da sua obra, das
Escrituras, da pessoa e obra de Cristo, da pessoa e da obra do Espírito Santo, da
criação, do homem, da queda, da eleição, da promessa, da salvação pela graça de
Deus mediante a fé em Cristo, da igreja universal, do governo e disciplina
eclesiástica, dos sacramentos como selos da promessa, da autoridade civil, e do
juízo e vida eterna.
Catecismo de Heidelberg
A Confissão de Nova Hampshire tem apenas dezesseis artigos, nos quais, ensina
doutrinas reformadas calvinistas, mas também doutrinas e concepções
distintamente batistas. Ela, por exemplo, define “a igreja visível de Cristo” como
“uma congregação de crentes batizados, unidos por uma aliança,” afirma que os
“únicos ofícios apropriados” são “bispos ou pastores e diáconos,” e ensina que o
batismo “é a imersão do crente em água” como “um belo e solene emblema” da
“fé num Salvador crucificado, sepultado e ressurreto.”36
APÊNDICE 2
1
Tanto a Igreja Católica Romana (ocidental), como a Igreja Ortodoxa Grega (oriental), como as igrejas
Protestantes.
2
Alguns chegaram a sugerir que cada apóstolo teria contribuído com um artigo.
3
Schaff, Creeds of Christendom, vol.l, 20 (citado por A. A. Hodge, Outlines of Theology,
4
1511
0 primeiro desses credos provém, provavelmente, da primeira metade do segundo século. O segundo,
conhecido como Credo Romano Antigo, provém da segunda metade do segundo século (O. G. Oliver Jr.,
Credo dos Apóstolos, 362-363).
1611 Eis o texto grego do Credo Apostólico (Do Psalterium Aethelstani. Citado por Frans Ceo-nard
Schalkwijk, Coinê — Pequena Gramática do Grego Neotestamentário, 109):
Kai eis XpioTÒv ’Ipaoüv, TLòv aúrou tòv govoyevfj, tòv Kúpiov i\\tStv, tòv yewT|0évTa ék nveúparos
'Ayíou Kai Mapías TÍ)s trapOévou, tòv éttí novTÍot) ritXáTou CTTaupuiOévTa Kai Ta<(>ÉVTa,
Kai eis TTveOpa "Ayiov, áyíav (Ka0oXiKf|f) ÉKKXr|CTÍav, â<t>eaiv ápapTuiu, aapKÓs dváaTaoiv,
5
aiiúviov.) ’Aprjv.
6
161 Citado por A. A. Hodge, Outlines of Theology, 115.
7
Doutrina de Ario (primeira metade do século IV), segundo a qual Cristo não é eterno, mas o primeiro e mais
perfeito ser criado.
8
161 Esta frase (tradução do termo latino fãioque) foi adicionada pelo Concilio de Toledo (da igreja
ocidental).
9
Traduzido de Schaíf, Creeds of Christendom, 25-29 (citado por A. A. Hodge, Outlines of Theology, 116-
117) e Epifânio, Ancoratus c. 374 AD, 118 (citado por Henry Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, 56).
10
A. A. Hodge, The Confession of Faith, 7.
11
O termo universal traduz a palavra católica, a qual também poderia ser traduzida por ge-
12
Traduzido a partir do inglês de A. A. Hodge, Outlines of Theology, 117-118.
13
Jacob Andreae, Martinho Chemnitz, David Chytraeus e Nikolaus Selnecker.
14
Coisas secundárias (circunstanciais).
15
R. D. Preus, Fórmula da Concórdia, 321.
16
A confissão preparada em seguida ao catecismo è apenas um resumo ou extrato deste (A. H. Freundt Jr,
Catecismo de Genebra, 247).
17
O exemplar do Catecismo de Calvino de 1537 consultado foi publicado em espanhol pela Fundación
Editorial de Literatura Reformada, em 1966, com o título Breve Instruction Cristicma.
18
m N. V. Hope, Confissão Gaulesa, 332. ’
19
John Spottiswood, John Wiltock, John Row, John Douglas e John Winram.
20
R. Ryle, Confissão Escocesa, 330-331.
21
As palavras de Guido de Brès, na manhã do seu martírio, merecem ser transcritas: “Fui condenado à
morte hoje, por causa da doutrina do Filho de Deus. Louvado seja por isso o nome do Senhor! Estou muito
feliz. Nunca pensei que Deus me daria esta honra. Noto que meu rosto se transforma pela graça que Deus
faz aumentar mais e mais em mim. Sou robustecido a cada momento que passa; e mais, meu coração salta
de alegria” (Introdução de Creemos y Confesamos; Confesión de Fe de los Países Bajos, 22).
22
Cf. J. Van Engen, Confissão Belga, 330.
23
Preparada por Bullinger e outros teólogos calvinistas (Oswald Myconius, Simon Grynaeus e Leo Jud)
em 1536, adotada apenas pelas cidade de Basiléia e MUhlhausen.
24
177 R. V. Schnucker, Confissões de Fé Helvéticas, 341.
25
1811 Especialmente por Caspar Olevianus e Zacarias Ursino.
26
Príncipe do Paiatinado, um estado da Alemanha anliga.
27
M. A. Noll, Os Trinta e Nove Artigos, 578-579.
28
Composto por pastores, presbíteros e professores de teologia das igrejas reformadas da Holanda e de
representantes de outros países como Inglaterra, Escócia, Alemanha e Suíça.
29
IM Uma exposição mais detalhada das doutrinas calvinistas ratificadas pelo Sínodo de Dort pode ser
encontrada em Paulo Anglada, Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça.
30
Mais informações sobre a constituição da Assembléia de Westminster e sobre a preparação da Confissão de
Fé de Westminster e sua adoção pode ser encontrado em A. A. Hodge, The Confession of Faith, 14-24;
Keun-Doo Jung, A Study of the Authority of Scripture with reference to the Westminster Confession of Faith,
15-26; e Guilherme Kerr, A Assembléia de Westminster.
31
1,6 J. M. Frame, Confissão de Fé de Westminster, 331.
32
Esta confissão foi recentemente publicada (em 1991) pela Editora Fiel com o título Fé Para Hoje;
Confissão de Fé Batista de 1689.
33
Com poucas alterações, edilada pela American Baptist Publication Society.
34
A Declaração da Mensagem de Fé Batista, da Convensão Batista do Sul dos Estados
Unidos.
35
|,)0 Também da Convenção Balista do Sul dos Estados Unidos.
36
1,1 M. A. Noll, Confissão de Nova Hampshire, 333.
37
O relalo da hislória dos mártires huguenotes no Brasil, bem como a Confissão de Fé qin. escreveram,
encontra-se no livro A Tragédia da Guanabara: Hislória dos Protomartyres do Chrisha nismo no Brasil,
traduzido por Domingos Ribeiro; de um capítulo intilulado On the Church of th, Believers in the Country of
Brazil, part of Austral America: Its Affliction and Dispersion, do livro Je Jean Crespin: T Histoire des
Martyres, originalmente publicado em 1564. Este livro, por sua vez, <. uma tradução de um pequeno livro:
Histoire des choses mémorables survenues en le terre de Brésil, partie de l' Amérique auslrale, sous le
governement de N. de Villegaignon, depuis T an 1558, publicado em 1561, cuja autoria é atribuída a Jean
Lery, um dos huguenoles que vieram para o Brasil em 1557, o qual também publicou outro livro sobre sua
viagem ao Brasil: Histoire d’an voyage fait en la terre du Brésil.
A CONFISSÃO DA GUANABARA1
“Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os
cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e
isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de
Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem
concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e
começando no primeiro artigo:
II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra;
confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis.
IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em
forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em
que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de
julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem.
Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso
comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é
infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e
nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer,
como santo Agostinho nos ensina, dizendo: “Porque preparas tu os dentes e o
ventre? Crê, e tu o comeste.”
O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor
Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas,
e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus
benefícios.
Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: “Este pão é meu corpo.”
Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: “este é
o sinal e a figura do meu corpo.”
S. Agostinho diz: “O Senhor não evitou dizer: •— Este é o meu corpo, quando
dava apenas o sinal de seu corpo,”
Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças
de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas.
VI. Cremos que, se fosse necessário pôr água no vinho, os evangelistas e São
Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência.
E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamentando-se sobre o
sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal
observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois
da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir
necessariamente.
VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro,
quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem
conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso
Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e
paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a
palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras
secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como
aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou
aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos
quais ordenou tomar e comer.
VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as
almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo
quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal.
Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de
Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: “Tua perdição é de ti, ó Israel.” Ora
isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito.
obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em
seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no
sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: “Tenho o querer, mas em mim não acho
o realizar.”
A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele.
Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os
pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor
dissera aos seus apóstolos: “recebei o Santo Espírito;” depois acrescenta: “Se
perdoardes a alguém os seus pecados,” etc.
Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor.
XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há
necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode
dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence.
XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher,
não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a
bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso
deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escrituras, não sé
fundando a nossa fé sobre esse ponto.
XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os
votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É
também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida
de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um
dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se
impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não
podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e
insolente em si mesmos.
E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns
apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida.
Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver
em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que
prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: “Se as virgens se dedicam
de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim
fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não
querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que
serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias.” Quanto à
passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à
igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito
cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas
porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo
casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que
cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no
batismo, na qual está contido este ponto: “Que cada um deve servir a Deus na
vocação em que foi chamado.” As viúvas, pois, não faziam voto de continência,
senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e
não tinha outra consideração
que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido
casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade.
Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado,
proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de
sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta
que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma,
tenham já uma aprovação de continência.
Esta é a resposta que damos aos artigo por vós enviados, segundo a medida e
porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não
seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos
crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. Assim
seja.
Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon.”
1
19:1 O texto foi transcrito de Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara; História dos Prolomar-tyres do
Christianismo no Brasil, 65-71. O português antigo de Domingos Ribeiro (o tradutor) foi atualizado.
Observação: Segundo informação do revisor (Presb. Solano Portela), este documento está sob pesquisa e
exame do Rev. Fôlton Nogueira da Silva, diretor do Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, em
tese ainda não publicada.
2
m O Credo Apostólico.
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