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Boletim Técnico Suplementar N.

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OS MICROFONES

Chama-se microfone, o instrumen­ nuncia seu discurso diante do micro­


to que transforma as ondas sonoras fone, as ondas sonoras são transfor­
em impulsos de corrente elétrica, os madas em corrente de baixa frequên­
quais poderão ser amplificados ou cia, que, depois de amplificada vá­
transmitidos, com o auxílio de equi- rias centenas ou talvez milhares de
pos conhecidos por transmissores ou vêzes por um amplificador de baixa
amplificadores. As palavras pro­ frequência, será reproduzida por um
nunciadas diante dum microfone, se­ ou mais altofalantes ligados à saída
rão transformados por êste em im­ do amplificador como tanto volume
pulso de corrente elétrica cuja varia­ que o orador, por mais esforços que
ção de amplitude e de frequência, fizesse, nunca seria capaz de pro­
corresponderá exatamente à varia­ duzir.
ção de amplitude e de frequência, No caso da radiodifusão, o orador
corresponderá exatamente à varia­ ou o artista pronuncia as palavras
ção de intensidade e frequência das diante do microfone. A corrente de
ondas sonoras. Amplificar, pois, a baixa frequência que se obtém na
corrente que se obtém no microfone, saída, depois de amplificada devida­
equivale a amplificar as ondas so­ mente, modulará a onda portadora
noras, pois esta corrente, que de ago­ da estação, chegando, com o auxílio
ra em diante chamaremos de “baixa desta, a distâncias enormes.
frequência” ou de “frequência audí­
vel”, poderá ser reproduzida nova­ A onda portadora com sua modu­
mente por um altofalante, e a sua lação, quando interceptada pela
intensidade de reprodução será pro­ antena de algum radioreceptor, induz
porcional à potência da corrente de nesta uma corrente que será trans­
baixa frequência que se aplica no ferida ao aparêlho onde sofrerá
altofalante para a reprodução. sucessivas transformações e ampli­
Assim entre um microfone e um ficações, após as quais se obterá no
altofalante reprodutor, deverá existir altofalante do receptor a reprodução
forçosamente, pelo menos um ampli­ exata das ondas sonoras emitidas
ficador, afim de aumentar a intensi­ diante do microfone na estação
dade sonora das vozes emitidas dian­ transmissora.
te do microfone. Êste é o caso dos As transformações que sofrem as
amplificadores usados para confe­ rádip-ondas captadas pela antena do
rências, audições públicas, etc.. Nes­ receptor são as seguintes: após pas­
sas ocasiões quando o orador pro­ sar pelos dispositivos seletores, a sua
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intensidade será ampliada. Logo de­ lidade existem muitos tipos dêsses
pois, na etapa desmoduladora, sepa- aparelhos, que são capazes de trans­
rar-se-ão os componentes de baixa formar as ondas sonoras em impul­
frequência com que foi modulada a sos de corrente elétrica, sendo que o
onda portadora. Por fim, esta cor­ principal de funcionamento dos mes­
rente de baixa frequência será au- mos varia muito.
Assim conhecemos os “microfones
de carvão”, os “microfones induti­
vos”, os “microfones de capacidade”,
os “microfones de cristal”, etc.. En­
tre todos estes, porém, o mais antigo
é o microfone de carvão, cujo fun­
cionamento pode ser descrito da se­
guinte maneira. Dentro de uma “cáp­
sula” de metal que possui uma tam­
pa isolada, também de metal colo­
cam-se grânulos de carvão. Êstes
grânulos de carvão constituirão uma

FIG.i
CAPSULA

'MICROFONE Cün PASTILHA DE


C R R V R O ( DS R GANCHOS SERVEM
PR RR SUSPENERD DO MICROFONE
COM MOLAS, RFIM DE E V I T A R VI- ligação entre a cápsula e a sua tam­
BRRCOES) pa que, como acabámos de dizer, es­

mentada na sua intensidade, até que


se obtenha a potência desejada, pas­
tão isoladas entre si. Naturalmente,
esta ligação constituída pelos grânu­
los, não é perfeita, pois o contacto
.1
y

sando logo esta corrente para o al- entre os mesmos é deficiente, e, por
tofalante, afim de obter a sua repro­ conseguinte, todo o conjunto ofere­
dução em forma de ondas sonoras. cerá uma resistência bastante apre-
Como se vê o microfone é um dos ciávej à passagem da corrente elétri­
aparelhos de maior importância, que ca (fig. 2).
se usa na técnica de som. Na atua­ Conforme a pressão aplicada sôbre

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êsse conjunto de grânulos, que cons­ do microfone, os grânulos de carvão


titui o único meio de passagem da ficarem apertados, a intensidade da
corrente entre as duas partes metá­ corrente aumentará, póis a resistên­
licas da cápsula, isoladas entre, si, cia ficou reduzida. Quando, porém
a corrente poderá passar com maior (é o que acontece entre cada meio
ou menor facilidade. Se a tampa da ciclo), a membrana do microfone não
cápsula, que de agora em diante cha­ receber pressão alguma, a resistên­
maremos “membrana”, for feita de cia interna será normal, ou seja
uma lâmina fina de metal, conforme maior e a intensidade da corrente
as ondas sonoras que atingirem es­ ficará reduzida proporcionalmente.
sa membrana, ela apertará mais ou A variação de intensidade no cir­
menos os grânulos, reduzindo em cuito, produzirá variações na inten­
maior ou menor proporção, a resis­ sidade do campo magnético induzido
tência interna do microfone. Se êste pelo primária do transformador. E s­
microfone se achar ligado em série sas variações de intensidade, por sua
com o primário de um transforma­ vez, induzirão no secundário do
dor adequado, que será chamado transformador uma corrente, cujo
“transformador de microfone”, e com sentido de fluxo corresponderá às
uma bateria conforme se vê na fi­ modificações na intensidade do cam­
po magnético, sendo proporcional à
intensidade da corrente através do
microfone.
Pelo modo acima descrito, obter-
se-á entre as duas extremidades do
secundário do transformador do mi­
crofone, a corrente alternada corres­
pondente às ondas sonoras captadas
pelo microfone. Normalmente, o se­
cundário tem aproximadamente 40
gura 3, obter-se-á, de acordo com a vêzes mais espiras que o primário.
variação da resistência interna do Esta relação tão elevada de 1/40, é
microfone, maior ou menor intensi­ necessária, em virtude de ser a impe-
dade de corrente no circuito formado dância ou resistência do microfone
pelos elementos acima mencionados, muito baixa, e a impedância de en­
pois sabe-se que a intensidade da trada da válvula muito elevada.
corrente elétrica num circuito, é Aplicando-se um microfone de carvão
inversamente proporcional à resis­ diretamente no circuito da grade,
tência do mesmo. sem usar um transformador de re­
Quando em consequência das on­ lação tão elevada, o rendimento dês-
das sonoras aplicadas na membrana te será prejudicado considerável­
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mente. A batería usada em combi­ metro, numa porção maior ou me­


nação com êste microfone, deverá nor, passando por conseguinte, por
ser de 4 y2 volts mais ou menos. Po- ela, maior ou menor potência da cor­
de-se usar uma batería tipo “C”, pois rente que circula no circuito. Desta
o consumo de corrente é pequeno. forma, quando o braço móvel atin­
Ê conveniente dispor sempre, quan­ gir o extremo superior do potenciô­
do se usa microfone, de um controle metro, teremos o máximo de volu­
de volume, ou melhor, um controle me; e o mínimo quando estiver no
de sensibilidade, que regule o ren­ extremo inferior, pois neste caso, o
dimento dêste. O modo de dispor o primário do transformador estará
controle de sensibilidade para um pràticamente em curto-circuito, não
microfone de carvão, é demonstrado circulando, por conseguinte, corren­
na figura 4, onde o primário do trans­ te alguma através de suas espiras,
formador de saída, ao invés de ser por não existir diferença de poten­
ligado diretamente ao circuito con­ cial entre seus extremos.

forme ilustrado na figura anterior, O potenciômetro empregado po­


será aplicado no braço móvel um po- derá ser de 5 000 até 25 000 ohms
tenciômetro, o qual, por sua vez, com­ no máximo. O microfone de carvão
pletará o circuito da corrente do mi­ poderá ser aplicado com sucesso so­
crofone. Conforme a posição do bra­ bre tyn radioreceptor simples, pois
ço móvel do potenciômetro, o primá­ a sua saída, auxiliada pela grande
rio do transformador ficará em pa­ relação do transformador de entrada,
ralelo com a resistência do potenciô­ é suficiente para, amplificada atra-

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vés de duas etapas, dar um rendi­ trôle de volume do aparêlho, servirá


mento razoável no altofalante. para controlar mais uma vez o ren­
Na figura 4 ilustramos o modo de dimento do conjunto.
ligar o microfone no circuito de en­ Quando se deseja aplicar um mi­
trada da primeira válvula amplifica- crofone num receptor, sem dispor

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dora de baixa frequência de um re­ do transformador correspondente,


ceptor, afim de ser amplificada por apresentam-se casos de emergência,
esta. A ligação entre o transforma­ podendo-se neste caso, ligar o mesmo
dor e a grade de controle da válvula num circuito de catodo da válvula
deverá ser feita de preferência com amplificadora de baixa frequência.
fio shieldado. A figura 5 ilustra o A própria corrente de placa da vál­
mesmo caso, porém da seguinte vula, ao passar através dos grânu­
forma: los de carvão do microfone, sofre­
O aparêlho está equipado com rá a influência provocada pelas on­
uma chave que ora liga o rádio, ora das sonoras que atingem a membra­
o microfone, permitindo desta forma na dêste, conseguindo ou menor in­
utilizar o rádio como amplificador tensidade de corrente de placa, que
ou como receptor, sem grandes mo­ por sua vez, poderá ser obtida em
dificações do circuito. O próprio con­ forma de corrente alternada de bai-

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xa frequência no circuito de saída O funcionamento de um microfo­


da válvula. Esta disposição, que é ne de cristal obedece aproximada­
ilustrada na figura 6, dá um rendi­ mente ao seguinte princípio: as on­
mento bastante apreciável, e satis­ das sonoras exercem pressões dife­
rentes, sôbre a face do cristal, fa­
zendo com que êste modifique as
suas dimensões, sem contudo alte­
rar o volume. Em consequência des­
sa modificação, produzir-se-á uma
corrente elétrica, a qual será trans­
mitida como o auxílio de duas placas
de metal, que servem de suporte pa- ^
ra o cristal, ao circuito amplifica­
dor. Esta alteração nas dimensões
do cristal é de proporções reduzidís­
simas, e, por conseguinte a corrente
que produz é também de uma po­
tência quase insignificante, tornan­
do-se necessário, portanto, amplifi­
cá-lo mais vêzes do que a corrente
faz perfeitamente em caso de emer­ que se obtém na saída de um micro­
gência. Na mesma figura é indicado fone de carvão, afim de se obter o
o modo de ligar o controle de volu­ mesmo volume.
me que regulará a sensibilidade do O controle de volume que regula
microfone, isto é, o rendimento do a sensibilidade do microfone de cris­
mesmo. Êsse controle de volume, tal, deverá ser disposto na forma in­
como no caso anterior, deverá ser dicada na figura 7, e ser ligado ao
de 5 000 até 25 000 ohms aproxima­ circuito de entrada da válvula, con­
damente. forme se poderá apreciar na mesma
Usam-se os microfones de carvão figura. Êsse controle de volume tem í
com grande sucesso, nas comunica­ que ser de mais ou menos 1 me- *■
ções telefônicas, onde se verificou gohm. Quando o seu braço móvel
ser êle o mais adequado, graças a seu que está ligado à grade, estiver no
alto rendimento e baixo custo. Para extremo superior da resistência do
outros fins, assim como transmissão mesmo, obteremos o máximo de
radiofônica ou audições, o microfo­ volume. A ligação entre o micro­
ne de carvão não satisfaz, sendo por fone e o controle de volume, assim
conseguinte mais aconselhável o uso como entre o braço móvel dêste e a
de seu moderno sucessor, que é o grade de controle da válvula ampli-
microfone de cristal. ficadora, deverá ser feita de prefe-

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rência com fio shieldado afim de ob­ atinjam em forma direta a membra­
ter resultado no conjunto. Se as li­ na do microfone, pois acontecendo
gações forem muito compridas, de- isto, produzir-se-á o que se chama:
ve-se usar um fio shieldado especial, “acoplamento” entre o microfone e
de capacidade residual muito peque­ o altofalante, entrando todo o con­
na. Êsses fios shieldados possuem junto em oscilação.
uma isolação bem grossa entre o Por exemplo: num salão, o micro­
condutor central e a blindagem ex­ fone deverá ficar de lado, e os alto-
terna, afim de evitar a formação de falantes colocados de tal forma que
um grande condensador entre êsses não possam enviar as ondas sonoras
dois condutores isolados. sôbre a membrana do microfone.
Outro microfone usado, porém Um microfone de cristal, de cons­
quase exclusivamente nos estúdios e trução comum, é sensível apenas
nos dois lados onde se acham as fa­
ces superiores máximas do cristal, e
um microfone de velocidade também
é sensível somente nas duas dire­
ções opostas e perpendiculares ás
suas faces superiores.
Muitas vezes, por mais cuidado­
samente que se coloquem os altofa-
lantes, não será possível obter-se a
eliminação absoluta do acoplamento,
tornando-se necessário, neste caso, a
lugares fechados, é o microfone de redução do rendimento do microfo­
velocidade. A saída dêsse microfone ne, com auxílio do controle de volu­
é bastante reduzida, precisando, por me correspondente. Esta é a razão
conseguinte, de bastante amplifica­ pela qual convém que êstes possuam
ção, para se obter rendimento ra­ sempre um controle de volume in­
zoável. dependente do controle de volume
Quando se trata da instalação de geral do amplificador.
microfone, devem-se tomar em con­ Desejamos ainda chamar a aten­
sideração duas coisas: o reacoplamen- ção dos alunos, para a importância
to ou realimentação e o “efeito di­ de “reverberação” (acústica ou eco)
recional” do mesmo. Quando se co­ do local onde está colocado o micro­
locar um microfone em combinação fone. Reverberação é o nome do fe­
com os amplificadores, para servi­ nômeno de reflexão das ondas so­
rem numa audição pública, devemos noras. Quando se pronuncia ou pro­
tratar de evitar que as ondas sono­ duz som num local fechado, êsse som
ras reproduzidas pelo altofalante bate, na sua trajetória, contra uma

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CU RSO D E RADIOTÉCN 1CA B . T. S. N.ç 5

parede, e por esta será refletido da Essas condições serão ainda me­
mesma forma que as ondas lumino­ lhores, quando as cadeiras se acha­
sas são refletidas por um espêlho. rem ocupadas por pessoas, pois não
Essas ondas sonoras refletidas ba­ só a presença destas já contribui
terão novamente contra outra pare­ para melhorar sensivelmente a acús­
de do lado oposto de onde serão re­ tica do salão, mas as suas vestimen­
fletidas, para baterem de novo con­ tas em geral, são matérias ótimas
tra outras paredes ou disposições para absorção das ondas sonoras.
que limitam as dimensões da sala en­
quanto não ficarem completamente Os estúdios destinados a fins es­
absorvidas ou amortecidas pela re­ peciais, como transmissões radiofô­
sistência física (resistência do ar e nicas, gravações de discos, estúdios
amortecimento ou absorção das pa­ cinematográficos, etc., são na maio­
redes) . ria dos casos forrados com ma­
Quanto mais mole fôr a matéria téria especial (a mais usada é o ce-
que cobre as paredes, tanto menor lotex), para produzir o amortecimen­
será a reverbação e mais favorável to rápido das ondas sonoras, evi­
será a reprodução sonora por meio tando a reverbação destas pelas pa­
de altofalante. redes.
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OS MICROFONES
MICROFONE DE CARVÃO

Nas instalações de comando,


onde não é necessária grande
fidelidade de reprodução, os
microfones de carvão são
muito usados, por terem
grande tensão de saída e re­
quererem consequentemente
pouca preamplificação nos
amplificadores. O tipo ilus­
trado é de construção recente,
fabricado especialmente para
sistemas de comando em es­
tradas de f.rro.

MICROFONE DE CRISTAL

E sta classe de microfone é a mais


popular, pois reúne baa fidelidade
a um preço módico. É usado para
anúncios públicos, radioamadores,
sistemas de altofalantes, etc., Exis­
tem muitos tipos dêstes microfones,
desde cs tipos populares e de fide­
lidade restrita, até os profissionais,
de alta fidelidade.
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OS MICROFONES

MICROFONE "CARDIÓIDE” OU
UNIDIRECIONAL

As emissoras radiofônicas usam microfones


“uni-direcionais” (os quais somente recebem os
sons vindos da parte frontal do microfone, re­
jeitando os que provenham de outras direções)
para atenuar o ruido vindo do auditório e com
isto destacar o som originado no palco. Con-
segue-se esta discriminação de som, combi­
nando dois microfones diferentes numa única
blindagem.

T C lA
ME TÁllCA

ACÚSTICO MICROFONE DINÂMICO


CENTRAt.

IMA
PERMANENTE
A ilustração ao lado mostra um
microfone dinâmico parcialmente
cortado, afim de mostrar a cons­
trução interna. Esta é quase idên­
tica à de um minúsculo altofalante
de ímã permanente, em conjunto
com um transformador de acopla­
mento. Por intermédio dêste con­
segue-se várias impedàncias de
saída para o microfone, podendo
ser escolhida a mais apropriada
para cada oaso.

— 6-A —

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