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Butter(fly)

Ah!
Aquele sol, bonito e brilhante. Tão grande, mas tão longe.
Aquela pequena manteiga, sonhadora, desejando um dia poder ir até ele para voar, junto
com as outras de sua espécie.

Mas, não. Ela só podia esperar, enquanto as outras de seu pacote iam para o sol, e ela
ficava apenas lá, naquele armário alto, frio, e tosco.

Ela, não era a manteiga mais inteligente do pacote, nem a última, estava entre a terceira e a
quinta. Num pacote de oito, isso não era grande coisa. No entanto, talvez fosse melhor, ela
acompanharia suas companheiras serem levadas, e aguardava ansiosa sua vez de ir, junto
com a cinco, seis, sete, e oito.

A última citada pode ser nomeada como convencida, mas muito charmosa. A sete já era
mais recatada, sempre temendo não ser tão boa quanto a oito. A seis já era a mais
valentona, sempre caindo por cima da sete, para amassar a oito. A cinco nem se importava
com isso, apenas queria que ela ficassem caladas. Já a três, sonhava com o dia que iria
para junto da um e do dois.

A três e sua sucessora esperavam o dia em que viajaram ao mundo. Dando voltas e voltas,
sentindo o sol esquentar suas existências.

Mas, como elas duas sabiam da existência do sol? Fácil. O Bule de chá. Ele já havia sido
transportado pelas maiores ruas, as menores sarjetas. Guardando um chá de capim para
acalmar ou apenas água para o café.

Antes disso elas eram apenas manteigazinhas sem saber nada do mundo. Um foi a primeira
a se dar bem, ela era a com sal do pacote. O dois era o sem sal. Três é a acidificada, o
que quer que isso signifique. A quatro era a menos especial em sua própria visão, era a
clarificada, ela também não sabia o que isso significava.

Mas, isso não era importante.

Aquele era o dia, três iria embora, e na próxima manhã, seria a vez da quatro.

“Adeus!!”, dizia chorando de emoção. “Estarei esperando vocês, queridas amigas!!”

As manteigas, mesmo que diferentes, se sentiam bem, e felizes, mas nostálgicas.

A manhã do outro dia. A manteiga quatro não podia nem se aguentar. Ansiosa, se arrumou
e ajeitou. Era o seu dia. Todo seu.

Ela foi pega. As luzes que sempre a deixavam animada, e tensa, a fez ficar cega. Mas, tudo
bem, tudo vai ficar melhor. Ela foi posta em uma engraçadinha bandeja, junto com outros
sachês. Todos lá foram gentis. Comprimentando-a, ela percebeu que existiam eles entre
todos lá. O único ele que ela conheceu foi o dois, e mal se lembrava dele. Ele havia sido
levado anteontem. O que era muito tempo.

A manteiga esperava inquieta, junto com todos os outros na bandeja de metal.


Eles ouvem barulhos, tão altos quanto assustadores. Pessoas grandes, gigantes, mas não
tão altas quanto o estranho ser que as juntou.

Os pequenos-grandes seres estão agora indo em direção aos pães, com quem quatro
sempre simpatizou, são pegos, e agora alguns vem em direção a eles.

“Será que é agora? Será que vamos embora hoje?” Disse a geleia de morango.

As crianças foram embora. Quatro ainda estava lá, e prestes a chorar ela se depara com
alguém esticando os longos dedos para si. “... Dedos são coisas importantes que ajudam os
seres-grandes a fazerem coisas importantes” Havia dito o bule. Ela viu o ser-médio-grande
abrir sua embalagem.

De repente algo, como um ser-pequeno-grande bate no humano que a está segurando.


Quatro está girando, tudo o que ela conhece se mexe. Será isso voar? Será isso ver o sol?
Será iss-

“Eu disse para tomar cuidado crianças!”, bradou irritada, “vamos, limpem o que derrubaram
e vamos comer.”

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