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Tradução da palestra realizada por Jeffrey Bronfman durante o IPC8

Nossa Ética, Leis da Natureza e o Imperativo para novas perspectivas de Desenvolvimento

Bom Dia!

Que as energias renovadoras desse Novo Dia tragam para cada um de nós a Inspiração, a
Sabedoria, e o senso de Esperança real de que todos nós tanto precisamos.

Meu nome é Jeffrey Bronfman.

Antes de apresentar algumas idéias e perspectivas a vocês, eu aprendi de meus professores a


importância de apresentar a mim mesmo, para que vocês possam entender de onde eu venho, e
meu posicionamento na vida.

Nesta vida, eu venho de ancestrais judeus tanto por parte de minha mãe como de meu pai.

A família da minha mãe era da Alemanha e eles emigraram aos Estados Unidos quando
Hitler estava chegando ao poder e o extermínio do povo Judeu era visto realmente (naquela
sociedade) como uma estratégia viável para o melhoramento da vida na terra.

O pai do meu pai emigrou da Russia para o Canadá quando o vilarejo onde eles viviam foi
totalmente queimado. Isso também porque o povo que lá morava era Judeu.

Historicamente, o povo Judeu sempre foi um povo cuja cultura e Modo de Vida (cerimônias
e atividades sociais) eram conduzidos conscientemente em Harmonia com as fases da Lua, e as
mudanças das Estações na Terra.

O lugar onde meu pai e minha mãe escolheram pra constituir sua família foi no leste do
Canadá; numa cidade à beira do Rio St. Laurence.

Os habitantes nativos daquelas terras eram também pessoas cuja cultura, cerimônias e Modo
de Vida eram organizados honrando respeitosamente o mundo natural, e as Leis Superiores que
governam a vida aqui na terra.

Eles eram conhecidos como o povo Mohawk.

Mil anos atrás, os Mohawks se juntaram a uma confederação de outras tribos Indígenas, uma
estrutura social a que eles chamavam de A Grande Lei da Paz. Dentro desta Grande Lei, eles
recebiam a orientação de se levantar a cada manhã voltando-se ao Mundo Natural dando graças:

Graças a que os ciclos e estações (o grande design da Natureza) continuavam.

Graças à água que mata a nossa sede, e que sustenta todas as formas de vida.
Graças aos peixes das águas e aos animais da terra.

Graças às plantas – àquelas que nutrem, às que nos dão sombra e proteção, e às que nos
curam quando necessitamos o seu auxilio.

Graças aos pássaros cujos cantos nos trazem alegria, e elevam nossos olhos e corações aos
céus.

Graças aos ventos que limpam o ar, e pelos trovões que anunciam a chegada das chuvas que
dão vida.

Graças à Lua e à maneira como Ela dirige o movimento das marés, as mudanças das estações
e os ciclos da Vida aqui na terra.

Graças às estrelas que ficam próximas à nossa Avó Celestial no céu à noite; e que podem
guiar nosso caminho e nos ensinar tantas coisas, se aprendemos como ouvir corretamente e
entender suas mensagens.

Graças à Presença Celestial do Sol, pois por sua Luz Sagrada, a Vida é gerada e iluminada
nesta terra.

Esse Modo de Vida – compreendendo nosso lugar de seres humanos como parte de uma
ordem e um design muito maiores – é comum à cultura e aos ensinos de sabedoria de quase todos
os habitantes originais ou povos indígenas desta terra.

Essas são algumas das estórias que eu trago. Esses são alguns dos lugares e das culturas que
me formaram e contribuiram pra eu ser quem eu sou.

O lugar onde eu resido atualmente e onde eu contituí minha própria família é numa região de
Deserto Elevado do Novo México – uma altitude de mais de 2.300 metros acima do nível do
mar.

É também um lugar onde a cultura e a presença de Povos Indígenas é ainda bem forte.
Cerimônias e danças realizadas por milhares de anos ainda acontecem nos vilarejos ao redor da
cidade onde moro. Cerimônias de plantio. Cerimônias de colheita. Cerimônias que chamam a
chuva para a região do nosso deserto seco durante uma curta estação quando as plantas
provedoras de alimento podem germinar.

A presença viva da ética dessas culturas remotas influencia fortemente não somente o
Espírito do lugar, como também a arte e a organização social das nossas distintas comunidades
humanas.

O principal estilo de arquitetura que predomina na região vem dessas culturas antigas. Casas
construídas por tijolos de terra misturada com palha (capim seco). A Mãe-Terra, de sua matéria-
prima, provê tudo o que nós precisamos como teto, alimento e bem-estar.

Essa cidade, pra onde vim pela primeira vez há 18 anos pra criar minha família se chama
Santa Fé, no Novo México. A Cidade da Fé Santa. É um lugar de convergência da Sabedoria
Antiga com novas idéias. Foi nesta Cidade que a idéia de trazer Permacultura pra esse país,
Brasil, há mais de 15 anos, foi concebida.

Eu também venho aqui hoje como um pai, como um irmão, como um professor pra alguns, e
pra muitos (que moram em diferentes cidades e vilarejos desse planeta) como um amigo.

É neste espírito de amizade e irmandade que eu desejo falar com vocês hoje. É como um
homem, falando do que eu aprendi ser Verdade, com Humildade, em Paz e com Amor.

Nós já ouvimos uma descrição bem comovente das condições atuais as quais nós,
coletivamente, como uma espécie, estamos enfrentando.

Não é entretanto, como alguns entenderam erradamente, um desafio da seleção natural ou


sobrevivência biológica. E também não é fundamentalmente um dilema político ou econômico. É
um desafio das nossas crenças e perspectivas coletivas. Os princípios éticos que guiam nossas
escolhas e nossas vidas.

O que nós vemos refletido na organização política, social e econômica do nosso mundo hoje
é o reflexo de séculos da conduta humana e atividades nascidas das crenças e das idéias sobre o
universo no qual vivemos (e a Natureza dentro da qual somos mantidos, sustentados) que foram
tristemente e simplesmente mal compreendidos.

Eu tive um amigo, um Chefe Indio Nativo Americano chamado Ruben Snake, que tinha uma
explicação bem simples pra descrever esse fenômeno. Ele dizia algumas vezes, quando lhe
pediam pra falar, “Se nós não pararmos pra considerar pra onde estamos indo, nós terminaremos
exatamente no lugar pra onde estamos nos direcionando.”
É essa sabedoria simples que eu gostaria de enfatizar na minha apresentação de hoje.

O modelo industrial e econômico que tanto domina as atividades coletivas humanas e nossa
conduta nesta terra, está nos levando pra um futuro, como descrito por Mr. Grajew, onde a
qualidade de toda vida na terra – nosso ar, ou água, ou solo, ou alimento, nossas comunidades, e
os sistemas naturais que nos mantém – têm todos sido perigosamente degradados.

O que necessita mudar essencialmente, pra que o mundo como o conhecemos mude,
entretanto, é nossa ética. Como nós entendemos nosso lugar dentro do mundo natural e nossa
responsabilidade em relação a esse mundo natural é o que precisamos desenvolver como seres
humanos.

As idéias que eu quero apresentar pra sua consideração hoje já foram expressas muitas vezes,
e de muitas maneiras diferentes. Não tenho dúvidas que em muitos outros momentos elas foram
articuladas com maior clareza e integridade do que eu sou capaz de oferecer pra vocês hoje.

Um desses momentos aconteceu em 1992 bem aqui no Brasil. Naquela ocasião (no Rio de
Janeiro) a maior reunião de líderes do mundo jamais realizada, se deu na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento, também conhecido como Reunião da Cúpula
da Terra.

Representantes de governos de 172 paises estavam presentes, incluindo 108 chefes de Estado.
Ao mesmo tempo houve reuniões paralelas envolvendo milhares de pessoas que vieram de todos
os lugares do mundo pra esse país por causa de seu amor e preocupação com a qualidade de Vida
na Terra.

Eu fui convidado para participar, para falar em três dessas reuniões. Talvez a mais
significativa delas tenha sido uma reunião de líderes espirituais e religiosos antes que a
Conferência das Nações Unidas começasse e os chefes de Estado e outros políticos chegassem.

Nesta reunião (chamada encontro da Terra Sagrada) uma Declaração foi escrita articulando a
posição moral e ética dos líderes Espirituais e Religiosos do Mundo. Esse documento foi
apresentado aos Líderes políticos de todas as Nações pelo Secretário Geral da Conferência,
Morris Strong.

A declaração oferecia um ponto de vista fundamentalmente diferente do que os políticos


tinham sido solicitados a considerar. Uma visão das crises ecológicas que nós enfrentamos na
terra como uma crise de valores, e uma ausência de verdadeira compreensão espiritual.

Essa terra, meus amigos, esse lindo planeta que habitamos, é na verdade algo muito diferente
do que nós, coletivamente, imaginamos que seja. Nossos sistemas sociais, nossa economia, nossa
agricultura, são baseados em certas suposições e crenças as quais hoje podemos ver claramente
que estão falhando. Elas estão fracassando, como eu comentei anteriormente, porque são
baseadas em noções sobre a terra, a importância do homem, e nosso lugar dentro do grande
Círculo da Vida que estão simplesmente incorretos.

Na Reunião da Cúpula da Terra no Rio, os líderes espirituais e religiosos declararam:


O planeta Terra está em perigo como nunca esteve antes. Com presunção e arrogância, a
humanidade tem desobedecido as leis do Criador que são expressas na ordem natural divina.

A crise é global. Transcende todo limite nacional, religioso, cultural, social, político e
econômico. A crise ecológica é um sintoma da crise espiritual do ser humano, surgida da
ignorância. Nós devemos portanto transformar nossas atitudes e valores, e adotar um respeito
renovado pela lei superior da Natureza Divina.

A Natureza não depende dos seres humanos e sua tecnologia. São os seres humanos que
dependem da Natureza pra sua sobrevivência. Indivíduos e governos precisam desenvolver
“Éticas da Terra”com uma orientação profundamente espiritual ou a Terra limpará a si mesma de
todas as forças destrutivas.

Nós acreditamos que o universo é sagrado. Nós acreditamos na santidade e na integridade de


toda a vida e formas de vida. Nós reafirmamos os princípios de paz e não-violência pra guiar o
comportamente humano, na relação de uns com os outros e com toda a vida.

Nós clamamos aos líderes políticos que mantenham a perspectiva espiritual ao tomarem suas
decisões. Todo líder deve reconhecer as consequências de seus atos para as gerações futuras.

Nós clamamos aos educadores que motivem as pessoas no sentido da harmonia com a natureza e
uma coexistência pacífica com todas as coisas vivas. Nossa juventude e nossas crianças devem
ser preparadas pra assumirem responsabilidades como cidadãos do mundo de amanhã.
Nós clamamos aos nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo que reconheçam e cerceiem os
impulsos de ganância, consumismo, e desprezo `as leis naturais. Nossa sobrevivência depende do
desenvolvimento das virtudes da vida simples e eficiente, amor e compaixão com sabedoria.

Nós reforçamos a importância do respeito a todas as tradições culturais e espirituais. Nós


defendemos a preservação dos habitats e estilos de vida do povo indígena e insistimos na
restrição do rompimento da sua comunhão com a natureza.

A Comunidade Mundial deve agir rapidamente com visão e resolução para preservar a Terra, a
Natureza e a Humanidade do desastre. A hora de agir é agora.

Como eu disse anteriormente, nosso modelo econômico atual está baseado em idéias e valores
que estão distorcidos, se não totalmente falsos. Um desses princípios é que nossas sociedades
precisam ser organizadas com o propósito de produzir bens materiais para o consumo humano.

Nossas sociedades estão organizadas deste modo pela crença enganosa de que felicidade e
bem-estar são atributos que vêm pela aquisição e posse de matéria.
Na realidade, Felicidade e Paz são qualidades do espírito.

Não importa quanto progresso material for alcançado (ou quantos objetos materiais foram
industrialmente produzidos) felicidade e paz se mantém ilusivos a nós porque não podem ser
alcançadas através de um sistema que inerentemente gera destruição, violência e desperdício.

Outro lamentável equívoco que tem se mantido ao longo de muitos séculos é de que enquanto
a Natureza existe pra servir a humanidade, nós não temos um dever coletivo ou responsabilidade
nenhuma em relação à Ela.

Nada, na Realidade, poderia ser mais distante da Verdade.

Apesar da Humanidade hoje ser largamente ignorante da nossa verdadeira responsabilidade


no que diz respeito ao Mundo Natural, os deveres que nós temos como seres humanos continuam
ativos. É, de fato, nosso entendimento da razão porque estamos aqui neste mundo, e nossa
relação adequada com essa Natureza que provê TUDO pra nós, que precisam fundamentalmente
ser transformados.

Isso, como eu vejo, é primeiramente um trabalho de consciência e a partir dai o design de


novos sistemas. Sistemas para nossa alimentação, sistemas de moradia, sistemas de organização
de nossas comunidades.

Thomas Berry – um Teólogo Americano e perito em Ética descreveu o atual dilema desta
maneira. Ele disse –
No atual equívoco dos seres humanos, o Mundo Natural não tem direitos.
Os seres humanos hoje desenvolveram um senso moral suicida, homicida e genocida, mas
não um senso moral biocida ou geocida; a morte dos próprios sistemas de vida e até a
morte da Terra.

Nós vemos o ser humano como o principal residente neste planeta, onde existem outras
formas de vida que estão sendo negligenciadas de seus direitos inerentes, que devem ser
respeitadas pelos humanos.
Por causa desta separação e da exaltação do ser humano em relação aos outros
componentes do universo, e do planeta Terra, nossa civilização tem sido destituida de
qualquer obrigação ética com o mundo não-humano.

Imaginem junto comigo, por favor, um jeito diferente de estar na Terra.

Uma maneira de viver enraizada no reconhecimento da Dimensão Sagrada (não material) da


Vida.

Uma maneira de viver que promova e inspire reverência pela Vida, e profunda gratidão por
todas as formas e Sistemas de Vida ao nosso redor.

Uma maneira de viver que reconheça a existência de uma Inteligência Superior na Natureza,
procurando compreender Seus imperativos, e Suas Leis.

Uma maneira de viver que considere nossa responsabilidade ética e moral à outras formas de
Vida e a dimensão não-humana do mundo.

Uma maneira de viver que veja o desenvolvimento em termos da dimensão moral, ética e
espiritual da vida humana, e não em termos do consumismo ou da criação de tecnologias cada
vez mais complexas e, com frequência, inerentemente destrutivas.

Uma maneira de viver que nos leve a considerar as consequências dos nossos atos e das
escolhas coletivas para as gerações ainda por vir. Gerações de seres humanos que os anciões
dizem que estão se espelhando em nós, do pó da terra onde caminhamos, de cuja matéria seus
corpos humanos serão um dia formados.

Uma maneira de viver em harmonia com as Leis da Natureza nos levando a uma Sabedoria
maior, equilíbrio e acima de tudo à Paz.

Assim, eu creio, é como nosso trabalho deve começar.

Nós viemos a esse mundo com um propósito, e com deveres e responsabilidades dentro do
grande círculo da Vida. Deveres que assegurarão que os Sistemas Naturais que nos sustentam e
provêm tudo de que precisamos serão mantidos para as futuras gerações.

Esses deveres existem dentro da Ordem Natural e são governados por Leis Superiores.

Essas Leis, diferentemente das leis inventadas pelos Humanos, têm graves consequências se
violadas.

Todas as Tradições Sábias nos ensinam que não há advogados que possamos contratar diante
da Natureza que nos alivie das consequências dessas Leis, se elas foram quebradas.

Eu acredito que é nosso dever entender as Leis da Natureza pra sermos capazes de
verdadeiramente viver bem, e pra cumprir nosso propósito de estarmos aqui.

Neste sentido eu vejo Compreensão e Reverência pela Natureza como um princípio


fundamental para a reorganização dos nossos sistemas humanos planetários.
Pelo reconhecimento da Vida como sagrada, das Águas como sagradas, das plantas que
provêm alimento e remédios como expressões do Sagrado, e a inter-relação das coisas Vivas que
devem ser governadas por princípios de Respeito, nós podemos começar a reorganizar nosso
mundo de maneiras que possibilitarão uma sobrevivência tanto saudável como digna.

Assim é que eu desejo sugerir que o lugar pra se começar a transformar o mundo reside na
ética de como nós nos organizamos e nos conduzimos.

A palavra ÉTICA deriva da palavra grega ETHOS que significa “Modo de Ser” ou “Caráter”.
Representa os princípios e compreensões fundamentais que terminam por definir nossas escolhas
(nossos sistemas sociais, nossa economia, nossa política) – nossa conduta em relação ao mundo
em que vivemos.

A ética atual que domina a conduta humana tristemente negligencia enormes áreas de
responsabilidade, e opera com inegável indiferença e ignorância em relação aos Imperativos da
Natureza.

A Natureza tem um imperativo em que os Sistemas que foram desenhados pra sustentar a
vida na terra, continuem sem ser destruidos ou comprometidos de forma alguma. Nós somos
parte de um complexo sistema de vida de relacionamentos nos quais equilibrio e harmonia
devem ser mantidos.

A Natureza tem um imperativo de Ordem.

A Natureza tem um imperativo de Diversidade.

A Natureza tem um imperativo de inter-denpendência.

A Natureza tem um imperativo de Beleza.

A Natureza tem um imperativo de RESPEITO.

A Natureza tem um imperativo de Paz.

A Natureza tem um imperativo de Justiça.

A Natureza tem um imperativo de consciência.

Na compreensão desses IMPERATIVOS e no reconhecimento da Natureza como Superior a


nós, podemos começar a redesenhar nossas escolhas; nossa conduta pessoal e coletiva no mundo.

Conforme nossa Ética mude, nossos relacionamentos mudam e nosso senso de valores muda.
Conforme nosso senso de valores muda, também nossas noções do que constitui riqueza e o que
é necessario em termos de desenvolvimento mudam.

Já houve culturas nesta terra, por exemplo, que viam o acúmulo de riqueza pessoal, às
expensas de outros, como sendo uma indicação de grande pobreza ética e espiritual.
Esse novo paradigma do que constitui riqueza e desenvolvimento considera a saúde e o bem-
estar do Todo como sendo de primeira importância.

Se nós verdadeiramente entendemos esses princípios de como a Natureza Opera e os


imperativos de inter-dependência e Justiça, nós reconheceremos que nossa riqueza verdadeira
depende do bem-estar de Todos.

Neste sentido “desenvolvimento” pode ser reconsiderado como sendo a melhor maneira de
prover as necessidades da Terra e todos os Seus sujeitos. Nesta compreensão reside a Sabedoria.
Nisso reside o caminho para o futuro onde nós não meramente sobreviveremos, mas
‘desenvolveremos’.

Na Natureza nós vemos o exemplo de como Sistemas de Vida provêm um ao outro. As águas
trazem as chuvas, as quais nutrem as árvores que respiram liberando oxigênio para o ar.
Desperdício, na Natureza, é um conceito que não existe. Tudo tem sua utilidade, seu propósito.

Na Reunião da Terra Sagrada de que falei anteriorment, esses princípios foram


simplesmente e elegantemente descritos por meu amigo Raimundo Monteiro de Souza, um
ecologista brasileiro, humanitário e importante líder espiritual. Na ocasião da Reunião da Cúpula
da Terra em 1992, ele disse:
A Riqueza está na lição sábia da Natureza, silenciosamente, sempre transmitindo ao homem:
sem desperdício, sem falta, mas O Suficiente, O Essencial, A Quantidade Justa.

Eu lerei essas palavras mais uma vez e peço que vocês reflitam no significado delas.

A Riqueza está na lição sábia da Natureza, silenciosamente, sempre transmitindo ao homem:


sem desperdício, sem falta, mas O Suficiente, O Essencial, A Quantidade Justa.

Produção, na Natureza, não leva ao desequilíbrio ou acúmulo desnecessário. O que é


produzido é produzido na medida certa, para prover e manter a Vida.

Eu peço que vocês agora considerem a necessidade para essa nova ética – para um conjunto
de princípios e valores que adequadamente governem nossa conduta em relação à Natureza, de
uns com os outros, e dos Sistemas inter-relacionados e Comunidades de Vida que mantém a
nossa existência.

Um conjunto de éticas que reconheçam esse planeta inteiro, até o Universo, como um
sistema sagrado, de expressões interdependentes e verdadeiramente inter-relacionadas de uma só
força de Vida.

Dentro desta nova ética eu vejo dois princípios fundamentais – RESPEITO e SERVIR ao
todo.

RESPEITO a todos os Sistemas de Vida como expressões do Sagrado, necessitando serem


entendidos em termos dos seus relacionamentos uns com os outros, Não como mercadorias para
exploração humana.

RESPEITO aos direitos inerentes do mundo não-humano, incluindo o direito dos Sistemas
Naturais de continuarem como foram concebidos pra serem.
SERVIR é um princípio fundamental do design harmônico. A Natureza por si é O
Exemplo disso. A Natureza em Sua plenitude nos serve a todos.

Eu gostaria de oferecer um último conjunto de idéias pra sua consideração antes de concluir
minha apresentação de hoje.

As estruturas econômicas, sociais e políticas do nosso mundo hoje são amplamente definidas
pela sua relação com o Petróleo. Creio eu,e submeto pra seu exame, que ainda dentro do nosso
tempo de vida aqui na terra, nós testemunharemos um profunda mudança onde esta
circunstância, pela necessidade, mudará.

A próxima era do desenvolvimento humano neste planeta (nossos sistemas econômico, social,
nossa política e Modo de Vida) serão, em última instância, definidos pela sua relação com a
água.

A Água, diferentemente do Petróleo, é absolutamente essencial a todas as formas de vida.


Como resultado do desflorestamento, mudanças climáticas, extinção das espécies e
desertificação, já há imensas áreas neste planeta sem acesso a água limpa para beber.

Nossa saúde depende da Água, nossos sistemas de nutrição dependem da água, e em última
instância Paz e Justiça neste mundo serão determinados com base em como a água é
compartilhada, entregue e abastecida a todos que precisam dela; a todos que têm sede.

Conforme nossa ética se desenvolve, como um resultado das necessidades dos tempos em que
vivemos, é minha esperança que a água será reconhecida não como uma mercadoria ou “recurso”
para lucro e exploração humana, mas como elemento essencial de Vida e portanto o mais básico,
inerente e fundamental direito.

Eu vejo importância no fato de que uma porcentagem substâncial da água potável do planeta
esteja dentro dos limites do território do Brasil. É minha esperança que neste país com seus
tesouros de recursos naturais; diversidade cultural, racial e biológica; e evidente senso nato de
espiritualidade, que uma nova ética emergira’em relação à água.

É aqui que uma posição legal, política e moral deve ser tomada que não permitirá a
privatização da água (Vida em si mesma) visando o lucro, mas um reconhecimento de que não
podemos patentear ou possuir a Natureza. Ela se mantém Superior a nós, nos servindo, e pelo
Seu exemplo nos ensinando como nós devemos nos unir e harmonizar e servir.

Nossa origem como seres vivos vem da água. Talvez nossa sobrevivência futura como
humanidade possa resultar da mudança na nossa política, nossa ética, e nosso senso do que
constitui verdadeiro desenvolvimento humano, em relação à água, numa relação de retorno às
origens.

Eu lhes sou grato por sua graciosa atenção e sua abertura em receber a mim e minhas
palavras, através da minha palestra pra vocês hoje. Eu sou grato ao Ali, e ao Carlos e aos
organizadores da conferência por essa oportunidade tão privilegiada de falar a vocês. Eu espero
que minhas palavras e apresentação tenham servido ao que esperavam de mim.

Eu concluo por hora com uma oração – que o Um que tão amorosamente nos colocou aqui,
continue nos guiando em direção a um futuro que seja saudável, e vibrante, e pleno de Paz pra
todos nós.

Pra todos de minha relação


Mitakuye Oyasin

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