idéias
você conhece o seu
LEITOR?
Na hora de escrever,
é preciso não perder
o foco nesse sujeito
sempre ávido por
informações claras
e relevantes
“É
preciso saber o que o leitor quer e também entender
aquilo que ele não sabe que deseja”, disse o presi-
dente da Editora Abril, Roberto Civita, à turma do
Curso Abril de Jornalismo 2008. A recomendação pode
parecer óbvia, mas não é. O jornalista inexperiente,
recém-chegado à vida real das redações, muitas vezes
comete o erro – fatal, em alguns casos – de escrever
como se estivesse conversando com o próprio umbigo.
Felizmente, a maioria percebe, com o tempo, que a es-
sência do jornalismo reside no compromisso de entregar
ao leitor um conteúdo editorial relevante, interessante,
claro e muito bem apresentado nos jornais, nas revistas
ou na web. O que muitos jornalistas têm aprendido agora
é que, para conhecer o leitor, podem dispor de ferramen-
tas que vão além das melhores técnicas jornalísticas.
Num ambiente cada vez mais competitivo, o jornalista
que quer falar de perto ao leitor precisa ter um conhe-
cimento profundo sobre seus hábitos, seus interesses e
suas preferências. No mercado segmentado das revis-
tas, a sintonia tem de ser ainda mais fina. O abrangente
28.plug
foto: Marina Piedade
portfólio de publicações da Editora Abril dialoga com
garotas adolescentes por meio de Capricho e também
estabelece uma íntima relação com mulheres maduras
nas páginas de Claudia. Como encontrar o registro ad-
equado para falar a perfis tão específicos e diferentes?
Para o diretor de marketing corporativo da Abril, Dimas
Mietto, a intuição do jornalista deve caminhar ao lado
das pesquisas. Além dos dados, que identificam faixa
etária, classe social e sexo, a Abril tem um programa que
promove conversas com grupos de seis a oito pessoas
em salas espelhadas. É a oportunidade de ficar cara a
cara com o leitor e colher seus elogios e suas críticas. “O
bom jornalista tem feeling, e as pesquisas existem para
ajustar a rota”, assegura Mietto.
Web
“Tenho saudades do tempo em que o leitor era apenas
leitor. Hoje, com toda a interatividade da internet, eles
acabam ajudando na produção do conteúdo”, afirma em
tom de brincadeira a editora de Veja Online, Katia Perin.
Para conhecer melhor esse leitor – que se transformou em
consumidor e produtor de conteúdo –, a maioria dos sites
recorre a ferramentas que não só medem a audiência, mas
também são capazes de indicar o tempo em que o usuário
ficou on-line e os itens mais acessados e lidos.
Um bom exemplo do uso da tecnologia para a com-
preensão dos hábitos do público é a pesquisa EyeTrack,
realizada pelo Poynter Institute, dos Estados Unidos.
Desde 2003, o estudo mostra como as pessoas se com-
portam diante de uma interface de leitura. As conclusões
são obtidas a partir do uso de óculos que monitoram os
olhos de quem participa. A busca de informações sobre
o leitor parece não ter limites.
29
plug.
Antes o leitor era apenas leitor;
com a interatividade da
internet, ele hoje ajuda a
produzir o conteúdo
Amiga leitora
Estar ao lado da leitora é literal no caso da Capricho.
Vê-las uma vez por semana, conversar pela Internet (via
e-mail, Orkut e messenger) e chamá-las para reuniões
na redação são práticas comuns na publicação. Desde
de 2000, a Galera Capricho reúne leitoras de diversos
estados brasileiros para serem consultoras da revista.
Segundo a editora Luíse Takashina, as meninas vão a
cabines de filmes, escrevem críticas de livros, relatam
shows e experimentam produtos de beleza. Além disso,
indicam fontes para matérias de comportamento.
A turma é renovada todos os anos – a Galera mais
recente tem 33 leitoras. Junto com outras 12 mil can-
didatas, elas preencheram um questionário sobre seus
gostos e atitudes e enviaram para a revista, com uma
foto anexada. Passaram para a segunda fase da seleção
30.plug
foto: Marina Piedade
com mais 67 meninas. Karolina Pinheiro, repórter da
revista, ligou para todas elas para conhecer melhor
suas personalidades. Ela se reúne com as meninas de
São Paulo toda semana para saber como estão suas
vidas e as novidades do universo adolescente. “Muitas
pautas saem desses encontros”, revela.
A vivência pessoal é aquecida pela vida virtual. Co-
nectadas, as garotas criaram um blog e uma comuni-
dade no Orkut para trocarem informações e fortalece-
rem a amizade. Segundo Karol, o meio online facilita a
abordagem de alguns assuntos mais delicados, como
sexo. “Pelo messenger a conversa flui melhor”. Em
anos anteriores, alguns meninos também chegaram a
participar. Mas a revista achou melhor deixá-los de fora
dessa vez, porque podem inibir as meninas de falar so-
bre detalhes íntimos.