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INTRODUÇÃO

A experiência de morar em comunidades ribeirinhas, especificamente


naquelas de difícil acesso, implica em práticas que poderiam ser consideradas
alheias aos princípios de sustentabilidade. O ato cotidiano de um simples banho se
torna uma tarefa árdua e complexa. A falta de energia, água encanada e rede de
esgoto são obstáculos a serem vencidos mediante a inclusão de atitudes
sustentáveis.
Podemos verificar que, mesmo com as dificuldades encontradas no dia a dia,
é natural a busca por alternativas para melhoria e conforto na moradia. A partir
disso, e à luz do conhecimento acadêmico, encontra-se a necessidade de se
projetar uma casa, que, em situação de difícil acesso, tenha opções de conforto,
saúde e sem que existam significativas agressões ao meio ambiente.
Conforme Franca (2013, p. 01), as maneiras em que as pessoas encontram
para produzirem ou reproduzirem o espaço construído revelam o seu modo de viver,
representando os mais variados tipos de ocupação do homem na Terra. A autora se
refere à Amazônia como um território constituído de diversas culturas, objeto de
estudo científico e projetos desenvolvimentistas dos mais variados e afirma que se
torna relevante a relação homem-natureza a qual se evidencia no final do século XX
e início do XXI, principalmente com a consolidação da consciência ecológica cujos
os principais eixos foram traçados na Declaração do Rio, expressos na Agenda 21.
Isso nos remete aos ribeirinhos que moram em áreas de difícil acesso, às
margens do Rio Acre no município de Porto Acre. Constata-se que algumas
soluções poderiam ser implementadas em seu meio, objetivando melhorar as
condições de vida.

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1.0 PROBLEMÁTICA

Segundo Franca (2013, p. 144), os padrões ribeirinhos adotados por


comunidades indígenas podem ser percebidos em duas concepções predominantes:
o primeiro, em moradias esparsas e individuais ou em conjuntos lineares às
margens dos principais rios e várzeas, nos estirões e meandros, e o segundo, em
terra firme, esparsos no ambiente florestal, próximo a igarapés e cursos d’água.

A autora ainda nos mostra que a ocupação do território do Acre utiliza,


basicamente, esses dois padrões, tanto ao longo dos rios, como no interior da
floresta. Adotam as mesmas características para as moradias: ambientes de um
cômodo feitos de madeira tipo paxiúba, ou similares, e cobertura de palha de duas
águas, geralmente uma pequena varanda frontal costuma abrigar os membros da
família e visitantes.

Com a evolução da ocupação, os ribeirinhos, sob a economia extrativista,


adotaram a ocupação linear ao longo do rio e, no crescimento populacional,
vão adentrando na várzea, geralmente em torno da moradia tem o roçado que,
na época das vazantes, produz uma grande variedade de alimentos, como
melancia, arroz, feijão e milho. Dessa maneira, os padrões do seringal e os
padrões ribeirinhos no meio florestal são extremamente similares ao padrão
várzea e terra firme das populações indígenas (FRANCA, 2013, p. 144 e 145).

De acordo com Franca (2013, p. 163), historicamente, a ocupação ribeirinha


dá-se através dos deslocamentos de massas, que se cristaliza ao longo dos rios.
Esses movimentos vão surgindo à medida que praias novas aparecem ou pelo
deslocamento dos homens entre a mata e o rio, ou seja, entre o centro dos seringais
e às margens ou, ainda, esse movimento humano se prolonga entre as margens e
as periferias das novas cidades e vice-versa ou, então, do centro às novas rodovias.

É nesse movimento em que os padrões de moradia do seringal vão replicando-


se e adaptando-se às novas topografias em seus novos ambientes. Tem-se,
então, que a relação sociedade-ambiente cria e recria seus padrões de

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ocupação no tempo e no espaço, a partir da economia extrativista, da sua
hierarquia, de seus conflitos e de suas crises (FRANCA, 2013, p. 163).

As populações ribeirinhas que habitam as áreas de influência do Rio Acre são


atingidas pelas inundações que afetam os agricultores e as áreas urbanizadas: “o
fato de que as inundações causem tal catástrofe é, em parte, conseqüência da
inexistência de um planejamento estratégico de ocupação de área” (MESQUITA
apud FRANCA, p. 165). Para Franca (2013, p. 165) conforme podemos verificar, o
desenvolvimento urbano dos últimos quarenta anos se sobrepôs à identidade das
tradicionais populações ribeirinhas no momento em que o contexto da cidade
também foi modificada com o adensamento da orla do rio e da expansão no
território.

Para Franca (2013, p. 165-168) é possível observar quatro categorias que


comportam as cidades ribeirinhas de paisagens primárias: de primeira ordem, são os
ribeirinhos das águas e ribeirinhos das várzeas e de segunda ordem são os
ribeirinhos de terra firme e adentrando a floresta, ao longo de estradas.

1. Os de primeira ordem: são os ribeirinhos das águas, tradicionais, que habitam


em embarcações, em contato permanentemente com as águas.
2. Os de primeira ordem: nas várzeas, ao longo do eixo do rio, padrão corredor
ou linear ou corredor. Os ribeirinhos que moram em palafitas ou em casas
adaptadas, recebem o movimento das águas conforme as enchentes e ficam
nas águas ciclicamente. Essas ocupações ocorrem tanto nos estirões (em
linha) quanto nos meandros (em curva).
3. Os de segunda ordem, em terra firme, adentrando na floresta, oriundos de
projetos de colonização. Padrão espinha de peixe, em áreas próximas aos
igarapés ou Áreas de Preservação Permanente (APP), distantes dos grandes
rios, porém sofrem a influência de inúmeros cursos d’água; convivem com o
ambiente tropical úmido e, conforme a topografia, convivem com as águas em
determinados períodos de chuvas máximas.
4. Em terra firme, ao longo das estradas ou ramais (a maior parte foram abertas
entre 1970- 1990), distantes ou não dos grandes rios e sob a permeabilidade
do fluxo veicular no território – cujo entorno é geralmente degradado pela

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criação de fazendas ou como consequência da própria expansão urbana. No
entanto, a ocupação ainda se reproduz no ambiente úmido integrado da
floresta tropical na escala regional, com inúmeros cursos d’água no solo,
APPs, constituindo-se uma cidade ribeirinha de segunda ordem que se
localiza em parte da floresta fragmentada na escala local.

Como podemos observar diante dessa classificação o caso em análise se


encontra inserido no segundo item. O estudo correlato, a Colônia São Joaquim, está
à margem do Rio Acre, recebendo a influência da enchente e vazante, apesar de
não morar em palafita ou casa adaptada.
Portanto, o problema atual consiste na ausência de condições ideais no
ambiente, por este motivo, a permanência do ribeirinho ao longo dos rios apresenta
dificuldades na moradia, no entorno e nas atividades de rotina. Essa conjuntura
incentiva a procura da cidade ou, em última instância, promove a invasão nas
periferias urbanas.

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2.0 JUSTIFICATIVA

Fornecer aos ribeirinhos condições de vida apropriadas e com qualidade, faz


com que esse público alvo tenha conforto e torne o seu ambiente mais higiênico,
através da utilização de princípios de sustentabilidade. Isto favorece a permanência
na terra em que tradicionalmente vive, melhorando o acesso à saúde física e mental
e permitindo, assim, que o mesmo conviva em contato com a natureza sem poluí-la,
possibilitando uma maior harmonia.

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3.0 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Propor um anteprojeto arquitetônico de uma moradia ribeirinha que seja


constituída de elementos que melhorem qualidade de vida de seus moradores com o
intuito de fixar o homem no campo.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Constituir a moradia ribeirinha com os seguintes elementos:


a) Energia elétrica alternativa e limpa com placas solares;
b) Biodigestor;
c) Bombeamento da água com capitação do rio ou em poços;
d) Tratamento e reutilização das águas servidas;
e) Captação, tratamento e armazenamento das águas das chuvas para
utilização potável;
f) Utilização da circulação de ventos cruzados na residência;
g) Aquecimento da água através de placas solares;
h) Tratamento do esgoto com fossa séptica.

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1.0 ASPECTOS HISTÓRICOS

O Acre é o Estado mais a oeste da federação brasileira e a sua anexação se


deu por razões da exploração da borracha, no final do século XIX e início do século
XX. Isso gerou uma guerra com o país vizinho, a Bolívia. Esse produto entra em
decadência devido à concorrência com os seringais de cultivo do Oriente,
principalmente os seringais da Malásia, que ultrapassaram a produção amazônica a
partir da década de dez. Antônio Teixeira Guerra no Relatório de 1951 do Banco de
Crédito da Amazônia S. A., nos revelam:

Desde 1910 a Amazônia compreende e clama em congressos, conferências e


planos [...], mas tudo isso serviu apenas para literatura repetida e locupletação
burocrática. Enquanto isso, a Planície, ‘habitat’ da hévea, via anulado o seu secular
privilégio de extração e comércio da borracha por diversas regiões estrangeiras,
com sementes nossas e práticas suas de crescente aperfeiçoamento de cultura da
goma elástica (GUERRA apud PEREIRA, 2002, p. 22).

Para explicar melhor esse acontecimento, é importante esclarecermos a


forma de ocupação da região. Conforme Guerra apud Pereira (2002, p. 22), a
população na época é predominantemente constituída por nordestinos, que
adentraram nas terras bolivianas em busca da extração de borracha no final do
século XIX. De acordo com Martinello (1995, p. 139), o que era uma simples droga
do sertão nos séculos XVIII e início do XIX passou a integrar e a configurar a
paisagem econômica e social da maior parte da Amazônia. Essa ocupação é
descrita por Arthur César Ferreira Reis:

o povoamento da Amazônia não se processou dentro de um planejamento como


sucedeu com a colonização do sul onde os estabelecimentos montados para
receber os contingentes europeus foram selecionados, os grupos foram localizados
sob a garantia e as atenções oficiais. Na Amazônia os nordestinos chegaram para
uma empresa que se caracterizava pelo aventureirismo. Eles significam mão-de-
obra necessária de colonização visando demográfica e politicamente o futuro (REIS
apud MARTINELLO, 1995, p. 156).

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Apesar das discordâncias numéricas entre os diversos autores (Ferreira Reis,
Celso Furtado, Roberto Santos, C. Wagley etc.) que estudam a questão ocupacional
da Amazônia e do Acre no final do século XIX e início do XX, existe um consenso de
que houve um grande fluxo migratório para esta região. Entre 1920 e 1940 notou-se
uma desaceleração, ocasionada pelo freamento parcial da atividade extrativa da
borracha, tendo o acréscimo populacional não indo além de 0,2% .·.
A borracha tornou-se um dos principais produtos de geração de riqueza,
exercendo uma “fascinação quase mítica sobre milhares de brasileiros ou
alienígenas que para cá demandaram” (MARTINELLO, op. cit., p. 139). Conforme
Reis apud Martinello (1995, p. 156), esse período trouxe para a Amazônia uma
maior expressão política, cultural e socioeconômica, propiciando novas condições
materiais e de vida até então não experimentadas na região.
Para Franca (2009, p. 31), com o tempo a decadência da borracha é sentida
ao longo de todo o século XX. Mesmo que na década de quarenta tenha tomado um
novo fôlego, com o advento da Segunda Guerra Mundial em que, com a invasão dos
seringais de cultivo do Oriente, forçou os países Aliados a investirem na produção
brasileira, esta, com o fim do conflito, voltou a decair. Isso levou o então Território do
Acre à dependência do governo federal, implantado o modo de produção de
subsistência com a produção do arroz, feijão, milho, mandioca e coleta da castanha
do Pará. O período de 1920-1962 representa para o Acre lapsos de incertezas e
descontinuidade no crescimento e distribuição populacional.

Aproximadamente até o final da década de 1960, prevalecia o sistema fluvial nas


ligações da área com o restante da Amazônia, representado pelas bacias dos
rios Madeira e Purus. A partir de 1970, esta hegemonia é parcialmente
suplantada pelo sistema rodoviário, através de vários eixos que começam a ser
abertos, fazendo com que a circulação e os relacionamentos passem a ser
diferenciados, indiretamente, com maior intensidade com o Centro-Sul do país
(FRANCA, 2009, p. 45).

De acordo com Franca (2009, p. 73), com a decadência da economia


extrativista da borracha, aos poucos, o Estado passa a incentivar a colonização
organizada. As primeiras foram: Gabino Besouro (1908), Deocleciano de Souza

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(1912) e Cunha Vasconcelos (1913). Os “colonos” não receberam nenhuma
orientação técnica.

Ainda conforme a autora nos cristaliza (2009, p. 77 e 84), no final do século


XX verificamos que a questão agrária no Acre delimitou o início de uma série de
eventos complexos, ocasionado por conflitos no campo com o avanço da pecuária
incentivada pelo governo federal. Percebe-se a expansão urbana e a presença do
latifúndio em 90% de toda a área agricultável no Estado no início dos anos 90.
Tendo isso em vista, o governo passa a desenvolver políticas fundiárias no sentido
de assentar e incentivar a pequena propriedade rural, através, principalmente, do
INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que em conjunto
com o governo municipal e estadual visam criar mecanismos que possibilitam o
desenvolvimento da reforma agrária.

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2.0 REFERENCIAL TEÓRICO

Verifica-se que o tema em questão transcende ao especificar a moradia


constituída de técnicas moderno-alternativas de melhoria e conforto. Nesse estudo,
é salutar o debate referente a temáticas pertinentes como sustentabilidade,
viabilidades econômicas e preservação ambiental.
Importante que neste debate não se deve confundir desenvolvimento com
crescimento econômico. Crescimento constitui uma condição necessária, porém não
suficiente. Desenvolvimento é algo amplo e que está relacionado com a cultura,

Implica a invenção de um projeto. Este não pode se limitar unicamente


aos aspectos sociais e sua base econômica, ignorando as relações
complexas entre o porvir das sociedades humanas e a evolução da
biosfera; na realidade, estamos na presença de uma co-evolução entre
dois sistemas que se regem por escalas de tempo e escalas espaciais
distintas. A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai
depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência
ecológica e de fazer um bom uso da natureza. (SACHS, 2013.)

É nesse contexto que se insere a ideia de desenvolvimento sustentável.


Verifica-se que a importância de desenvolvimento ainda está no centro de discussão
das ciências sociais e que se revela como um desafio para o século XXI. Ele busca
harmonizar a necessidade de desenvolvimento econômico da sociedade com o de
desenvolvimento social preservando o meio-ambiente. Conforme Gonçalves (2013),
atualmente é um tema de extrema importância na discussão das mais diversas
instituições, e nos mais diferentes níveis de organização da sociedade, assim como
nos debates sobre o desenvolvimento dos municípios e das regiões, correntes no
dia-a-dia de nossa sociedade. Daí a pertinência em si verificar a importância de
moradias sustentáveis.
Interligado a esse assunto, a preservação do meio ambiente está em
destaque nas relações homem-natureza. Nesse contexto, insere-se a ideia de
ecohouse, que são “edificações com parte da grande ecologia do planeta e a
edificação como parte do hábitat vivo” (ROAF, 2006, p.11). Isso vai de encontro com
as noções mais comuns de muitos arquitetos, que entendem a edificação como uma

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obra de arte, talvez em exibição em um estabelecimento ou como uma música
congelada nas fotografias sem pessoas de revistas caras. Conforme Roaf (2006, p.
11), alguns arquitetos veem o processo do projeto como uma linha de montagem,
com a edificação como um produto a ser depositado em um sítio, sem considerar
suas qualidades ou seu meio ambiente particular.
Para o autor, as ecohouses estão estreitamente ligadas ao sítio, à sociedade,
ao clima à região e ao planeta, devido ao fato de as casas modernas estarem
literalmente destruindo o planeta. Independente do aumento da população ou o
desenvolvendo de tecnologias sofisticadas para explorar as reservas naturais da
Terra nos leva a perceber que edifícios são poluentes nocivos, consumindo mais da
metade de toda a energia usada nos países desenvolvidos e produzindo mais da
metade de todos os gases que vêm modificando o clima.
Ainda de acordo com Roaf (2006, p.11 e 21), é importante ressaltar que a
mudança em direção a projetos sustentáveis começou nos anos 70 e foi uma
resposta pragmática à alta no preço do petróleo. Em 1973, quando o preço do
combustível fóssil elevou-se, que os futurologistas começaram a olhar a história dos
combustíveis fósseis no planeta e a calcular quanto petróleo e gás restavam. Os
seres humanos são os únicos na história do mundo, devido à gigantesca escala dos
impactos que têm sobre o meio ambiente global e, em particular, sobre a atmosfera
da terra e a sua habilidade de compreendê-los e alterá-los. É importante que
efetuemos mudanças radicais no que nós, como indivíduos, esperamos das infra-
estruturas de nossos nichos ecológicos, nossas casas e assentamentos e
sociedades.
Portanto, o objetivo desse trabalho é fazer uma análise das moradias de
ribeirinhos em Porto Acre e se constitui também em uma oportunidade de reflexão
técnica na qual poderemos harmonizar esses preceitos. A idéia de sustentabilidade
ao meio não foge da concepção de uma ecohouse que está integrada ao habitat
amazônico.

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3.0 LEGISLAÇÕES PERTINENTES PARA O USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO

3.1Código florestal brasileiro

O primeiro Código Florestal do País foi lançado em 1934 (Decreto 23.793) e,


entre outras medidas, obrigava os proprietários a preservar 25% da área de suas
terras com a cobertura de mata original. O código foi atualizado em 1965 (Lei nº
4.771), prevendo que metade dos imóveis rurais da Amazônia deveria ser
preservada. A partir de 1996, o Código Florestal passou a ser modificado por
diversas Medidas Provisórias, até ser totalmente reformulado (Código florestal
brasileiro, 2013).

A lei Nº 12.651 de 25 de maio de 2012 determina que os tamanhos das


reservas sejam de 80% em áreas de florestas da Amazônia Legal, 35% no cerrado,
20% em campos gerais, e 20% em todos os biomas das demais regiões do Brasil. O
Código Florestal Atualizado, como ficou conhecida a Lei 12.651/12, institui as regras
gerais sobre onde e de que forma o território brasileiro pode ser explorado ao
determinar as áreas de vegetação nativa que devem ser preservadas e quais
regiões são legalmente autorizadas a receber os diferentes tipos de produção rural
(Código florestal brasileiro, 2013)

A Lei 12.651/12 utiliza dois tipos de áreas de preservação: a Reserva Legal e


a Área de Preservação Permanente (APP).  A Reserva Legal é a porcentagem de
cada propriedade ou posse rural que deve ser preservada, variando de acordo com
a região e o bioma. As Áreas de Preservação Permanente têm a função de
preservar locais frágeis como beiras de rios, topos de morros e encostas, que não
podem ser desmatados para não causar erosões e deslizamentos, além de proteger
nascentes, fauna, flora e biodiversidade, entre outros. Nas margens de rios, a área
mínima de florestas a ser mantida depende da largura de cada um: rios de até 10
metros de largura devem ter 30 metros de mata preservada; para rios de 10 a 50m
de largura, 50m de mata; de 50 a 200m de largura, 100m de mata; de 200 a 600m

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de largura, 200m de mata; e rios de mais de 600m de largura devem ter 500m de
mata preservada em suas margens.

Nas nascentes e olhos d’água, a mata mínima preservada deve ter raio de 50
metros de largura e os manguezais devem ter toda a sua extensão conservada. No
caso das veredas, a largura mínima da faixa de vegetação a ser preservada é de 50
metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

Nos topos de morros e montanhas devem ser conservadas todas as áreas


com altura mínima de 100m e inclinação média maior que 25 graus, e nas encostas,
todas as áreas com declividade superior a 45 graus. Para os tabuleiros ou
chapadas, devem mantidas as bordas até a ruptura do relevo.

Essas regras são válidas para todas as propriedades com vegetação nativa e
original e áreas desmatadas ilegalmente após junho de 2008, ano em que foi
aprovado o Decreto nº 6.514, que regulamenta a lei de crimes ambientais. As regras
transitórias para as propriedades que ocupam uma determinada Área de Proteção
Permanente, APP, com atividades agrossilvopastoris (cultivo conjunto de agricultura,
silvicultura e pecuária), de ecoturismo e turismo rural consolidadas até 22 de julho
de 2008, o Código Florestal prevê regras transitórias e de adequação, que serão
reunidas nos Programas de Regularização Ambiental (PRA).  O prazo para
criação dos PRA nos estados e no Distrito Federal é de dois anos a partir da
publicação da Lei nº 12.727, sobre a proteção da vegetação, ocorrida em 25 de maio
de 2012.

Donos de terrenos com até quatro módulos fiscais (medida agrária em


hectares, variável para cada cidade) que desmataram reservas legais até junho de
2008 não são obrigados a recompor a área. O percentual de mata nativa restante
deve ser registrado e novos desmatamentos ficam proibidos.

Caso a área tenha mais de quatro módulos fiscais, o Código Florestal prevê
regras de recomposição que podem ser feitas em até 20 anos, contanto que seja
comprovada a recuperação de no mínimo 10% da área total a cada dois anos. No
caso das APP, o documento prevê regras de recuperação para cada tipo de terreno,
de acordo com o tamanho da propriedade (em módulos fiscais).

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3.2 Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais

De acordo com Franca (2013, p. 164), o Decreto 6.040, de 07 de fevereiro de


2007 institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais (PCTs), definindo-os como grupos culturalmente
diferenciados, que possuem formas próprias de organização social e entre estes
grupos estão os ribeirinhos da Amazônia.

O decreto tem como objetivo principal a promoção do desenvolvimento


sustentável com ênfase no reconhecimento, no fortalecimento e na garantia
dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais,
respeitando e valorizando suas identidades, formas de organização e
instituições. A legislação brasileira muda a visão do desenvolvimento urbano
em cidades consideradas ribeirinhas, cuja bacia hidrográfica, componente do
ecossistema, é o próprio território (FRANCA, 2013, p. 164).

Conforme a autora, a concepção de atraso cultural e social sempre foi uma


constante no Brasil em relação à região Norte e, principalmente, no que se refere ao
Acre. Nos últimos dez anos houve um esforço para se reverter essa idéia e se
buscou desenvolver o Acre tendo como premissa os recursos florestais. Houve uma
intensa propaganda internacional neste sentido.

A busca por esta transformação incorporou mecanismos de


contemporaneidade na busca da construção de uma sustentabilidade
ambiental de base florestal, mas os princípios ecológicos de ocupação em
bacias hidrográficas foram excluídos dos programas norteadores das políticas
públicas, fato que teve como consequência um desenvolvimento urbano-local
voltado apenas para uma expansão territorial com incorporação de morfologias
independentes e variadas em áreas devastadas e sobre uma farta bacia
hidrográfica (FRANCA, 2013, p. 164).

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Nesse contexto, a autora ainda nos revela que a identidade ribeirinha acabou
por sucumbir ao movimento desordenado de ocupação urbana. Essa concepção de
planejamento urbano, que diverge da geografia física e se distancia da idéia de que
a cidade faz parte do ecossistema, criou condições para que as orlas dos rios se
transformassem em autênticos cinturões de confinamento social e ambiental em
suas margens. Assim, o decreto é um importante instrumento de proteção dessas
comunidades e na política de desenvolvimento sustentável.

3.3 Aspectos Ambientais

A vegetação no local do terreno é formada por pasto de capim nativo e


plantado, em uma área pequena, pois a mata nativa é em maior quantidade. Já a
mata ciliar do rio foi derrubada no entorno da propriedade, mas o proprietário está
replantando-a por se tratar de uma APP (Área de Preservação Permanente). A mata
que rodeia todo o lote é utilizada no extrativismo da castanha que gera renda a
família. Já o corte da seringa não é mais compensador pelo fato do preço de venda
ser muito baixo.

O solo cultivável é usado para o plantio de roçado de mandioca “braba” que


não é própria para o consumo humano e nem para animais, mas somente para a
produção de farinha de mandioca, sendo mais uma fonte de renda da família
ribeirinha. No tempo da vazante do rio, com o surgimento das praias com o solo
muito fértil, é usado para plantio de duas culturas distintas: o milho e a melancia,
esta última, muito famosa no município de Porto Acre.

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4.0 PROJETO CORRELATO

4.1 Descrição e programa de necessidades

Segundo Roaf, (2006, p. 317), essa casa é uma simples residência de dois
pavimentos, com planta quadrada. Localiza-se em Ostend, o centro administrativo
de WaihekeIsland, país Nova Zelândia. Essa vila também contem o único
supermercado da ilha e única loja de materiais de construção. A casa foi projetada
por Graham Duncan e buscava ser simples e barata. Seu telhado de duas águas
esta voltado para norte e sul. As fachadas norte e sul têm 6m de comprimento e as
leste e oeste 7m. A entrada é pelo oeste, com as vistas principais da casa voltada
para a Baía de Anzc (sul). O lado norte do telhado não é interrompido por trapeiras,
permitindo que toda sua área possa ser utilizada por um sistema de energia solar.
Para o autor, a casa foi construída na forma convencional em que são feitas
as casas com estrutura de madeira na Nova Zelândia, com isolamento em fibra de
vidro classe R2.2, revestimento interno em placas de gesso no piso térreo e madeira
compensada no segundo pavimento. O acabamento externo é em folhas de madeira
compensada e o telhado, com telhas corrugadas comuns de aço. As janelas são de
fabricação local, com vidros simples e esquadrias de alumínio (com vedação contra
ventos).A casa conta com todo um aparato de equipamentos que a torna
autossustentável.Figura 01.

Figura 01:Casa Duncan (projeto de Robert Vale)

Fonte: ROAF, p. 316


Data: 20/11/2013

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4.2 Princípios de sustentabilidades adotados

4.2.1Eletricidade.

Em Roaf (2006, p. 317), a casa conta com 16 placas solares e três pequenas
turbinas eólicas que geram em conjunto o total de 1.200 kWh tornando a casa
autossuficiente em energia renovável.

4.2.2Aquecimento de água

Segundo o autor, a água é aquecida por dois painéis solares na parte inferior
da água norte do telhado e levada por tubulações a um sistema de termos sifão com
300l, que se localiza entre o teto e a parte mais alta do telhado.

4.2.3Aquecimento dos recintos

Conforme preconiza o autor, devido ao clima a região não sofre com


mudanças drásticas de temperatura. O piso é de concreto, complementando os
ganhos solares passivos, mas permitindo a casa manter uma temperatura
confortável na maior parte do ano. A maior parte do calor é retida na laje e
suplementada por uma calamandra no centro da casa, sempre que necessário.

4.2.4Cisterna e esgoto

Roaf (2006, p. 318), nos revela uma típica casa de ilha,que tem uma cisterna
com 25.000 l que armazena a água da chuva e que supre todas as necessidades. A
água é bombeada por meio de três bombas de 12 v, com interruptores controlados
por sensores de pressão que ativa as bombas sempre que as torneiras são abertas.
Uma bomba é para a principal fonte dos reservatórios e as outras duas atendem os
fornecimentos de água quente e fria. Essas bombas de 12 v são consideradas mais

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eficientes em termos de consumo de energia elétrica. O esgoto é tratado através de
uma fossa séptica convencional.
O autor nos revela que com toda essa tecnologia aplicada o consumo de
combustível fóssil em forma de gás de cozinha e equivalente a 626 kWh por ano
somente utilizado para cozinhar que se torna uma energia não renovável. A solução
para este problema seria a utilização de um biodigestor que produz o gás metano a
parti da decomposição das fezes de animais ou de seres humanos.Uma solução
limpa e barata.

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5.0 ESTUDO DE CASO: COLÔNIA SÃO JOAQUIM

O nosso estudo de caso é realizado na Colônia São Joaquim,que está


localizada no Brasil, país de proporções continentais, especificamente no estado do
Acre, ente da Federação Brasileira que está situado no sudoeste da Região Norte e
que faz fronteira com duas unidades federativas: Amazonas ao norte, Rondônia ao
leste; e dois países: Bolívia a sudeste e Peru ao sul e a oeste. Figura 02.

Figura 02: Localização a nível nacional

Fonte: Mapa manipulado pelo autor. 2013.


Data: 27/06/2013

Está localizado no município de Porto Acre,distante 60 quilômetros da capital


Rio Branco na regional do baixo Acre,às margens do rio Acre. Limita-se ao norte
com o Estado do Amazonas e ao sul como os municípios de Bujari e Rio Branco.
Figura 03 e 04.

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Figura 03: Localização a nível estadual

Fonte: Mapa manipulado pelo autor. 2013.


Data: 27/06/2013

Figura 04: Localização em nível das regionais do estado

Fonte: Mapa manipulado pelo autor. 2013.


Data: 27/06/2013

A Colônia São Joaquim localiza-se na margem esquerda nas coordenadas


Latitude 6949.557, Longitude 6642.546, saindo do município, em uma embarcação
sentido Boca do Acre, numa viagem de quarenta minutos. Seu proprietário é o
senhor Sebastião de Oliveira Andrade. Figura 05 e 06.

20
Figura 05: Localização da Colônia São Joaquim

Fonte: Mapa manipulado pelo autor. 2013.


Data: 27/06/2013

Figura 06: Localização da Colônia São Joaquim

Fonte: Google Earth 2013

21
Data: 17/03/2013

De acordo com o estudo feito no local e a localização do terreno pode ser


definida a posição dos ventos dominantes e o local do sol nascente e poente. Os
ventos dominantes são de nordeste a noroeste e o sol nasce no leste e se põe no
oeste.O norte está à frente do lote, juntamente com o Rio Acre.Figura 07.

Figura 07: mapa dos ventos dominantes e de insolação

Fonte: Mapa manipulado pelo autor. 2013.


Data: 20/11/2013

O lote não tem nenhum tipo de levantamento topográfico existente, mas, após
uma visita na propriedade, e de se fazer um reconhecimento visual é, em boa parte,
22
totalmente plano, sendo a maior declividade na margem do rio.O terreno foi
escolhido pela sua localização geográfica e condição de isolamento, em que o único
meio de transporte é o barco descendo rio Acre, sendo assim, uma colônia de
ribeirinho.

Em uma entrevista com o senhor Sebastião de Oliveira Andrade, dono da


propriedade,este indicou onde o rio havia chegado em sua cheia mais
forte.Confrontando os seus dados com informações sobre as inundações do rio Acre
na Secretaria Municipal De Gestão Urbana (SMDGU),em que a cota topográfica de
transbordamento do rio Acre esta registrada na medida 116 (cento e
dezesseis),constata-se, então, que o terreno está bem acima desta medida, num
local seguro para construção, tornando viável a construção da casa.

Existe também toda uma dificuldade de transporte que é feita somente pelo
rio,todos os insumos e materiais chegam de barco.Mas a maior parte do material,
que é a madeira, pode ser retirada no próprio local devidamente licenciada pelos
órgãos de controle ambientais.

É através do porto de embarcações do município de Porto Acre, no Rio Acre,


que se dá o primeiro passo para se chegar à Colônia São Joaquim que fica distante
há uma hora e meia descendo de barco e duas horas subindo contra a correnteza
no retorno. Figura 08.

Figura 08: Saída do porto de Porto Acre

Fonte: Kenned Kaccio R.C

23
Data: 15/11/2013

No Rio Acre, o barqueiro, de nome Carlito, trabalha na mesma profissão que


seu pai, já falecido. O barco, recebido como herança, é muito valorizado na região
para o transporte de pessoas e mercadorias.Figura 09 e 10.

Figura 09: Barqueiro

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Figura10: Descendo Rio Acre

24
Fonte: Kenned Kaccio R.C
Data: 15/11/2013

Rio Acre, sentido município amazonense de Boca do Acre, apresenta pouco


povoamento, com casas ribeirinhas espaçadas. Alguns moradores desenvolvem
atividades que dão manutenção ao principal meio de locomoção da região como o
conserto de barco.No que ainda resta de praia uma oficina improvisada de barcos
que corre contra o tempo para a conclusão dos trabalhos antes que o rio encha
(dezembro a março) e leve embora todo o trabalho feito. Figura 11.

Figura 11: Oficina de barcos

25
Fonte: Kenned Kaccio R.C
Data: 15/11/2013

No percurso da viajem, percebemos várias casas em situação de abandono.


Muitos proprietários não resistem às condições de precárias e as dificuldades de
isolamento e desistem de continuar a investir e trabalhar na terra. Figura 12.

Figura 12: casas abandonadas

26
Fonte: Kenned Kaccio R.C
Data: 15/11/2013

Na chegada da Colônia São Joaquim, em sua margem, no rio Acre, avistamos


a dona Antônia, esposa do proprietário, lavando roupa com água puxada do próprio
rio por um moto bomba e por baldes, e mais acima sua filha que aguarda o
transporte escolar através de uma embarcação. Figura 13 e 14.

Figura13: Chegando à propriedade

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

27
Figura 14: Dona Antônia lavando roupa

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Transporte escolar dos alunos é feito por uma embarcação de pequeno porte
em que passa pelo rio até a escola. Figura 15.

Figura 15: Transporte escolar

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

28
Para se ter acesso à propriedade, primeiramente, deve-se subir o barranco,
íngreme e escorregadio, que, segundo dona Antônia, propício a acidentes tendo já
vitimado seu esposo. Figura 16.

Figura 16: Subida do barranco da colônia

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

A casa, bem simples, é feita em madeira com o alicerce em alvenaria coberta


de telhas de fibrocimento. Tem dois pavimentos: no inferior uma cozinha, um
banheiro, uma varanda, um reservatória de água, bobeada do rio e capitada também
da chuva. No superior se localiza a parte intima com três quartos e uma sala, onde
fica a televisão da família que funciona por uma bateria ligada a uma placa solar. A
residência foi construída pelo proprietário que tirou a madeira com o motosserra e
assentou os tijolos. Ele também constrói suas próprias embarcações, uma vez que é
carpinteiro por profissão. Figura 17.

29
Figura 17: Fachada frontal da casa

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

A cozinha conta com um fogão a lenha e um a gás GLP, para no caso de falta
este último ter a opção do primeiro. Nem sempre existe a disponibilidade de se ir à
cidade adquirir uma botija.Figura 18.

Figura 18: Cozinha

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

30
O banheiro é só para o banho e o reservatório para a água bombeada do rio e
capitada da chuva. Figura 19.

Figura 19: Banheiro com uma cisterna.

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013.

A sala de jantar é integrada à cozinha. Figura 20.

Figura 20: Sala de jantar

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

31
Na varanda há uma escada que dá acesso ao segundo pavimento. Figura 21.

Figura 21: Varanda

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Na sala de estar onde fica a televisão que funciona através de uma bateria
que é alimentada por duas placas solares de pequeno porte e onde a família se
reúne todas as noites para ver a programação da televisão. Figura 22.

Figura 22: Sala de estar.

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

32
Quarto do casal com uma cama para o filho caçula. Figura 23.

Figura 23: Quarto do casal

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Quarto dos filhos. Figura 24.

Figura 24: Quarto dos filhos

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

33
Na parte externa está uma antena parabólica e duas placas solares pequenas
que são fonte de energia para a televisão. Figura 25.

Figura 25: Placa solar e antena parabólica

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Atrás da casa se localiza um galinheiro, um depósito (paiol) para ferramentas


e milho para os animais, sendo anexa uma casa do grupo gerador de energia.
Figura 26.

Figura 26: Casa do motor e galinheiro

Fonte: Kenned Kaccio R.C

34
Data: 15/11/2013

Um pouco mais afastado um pequeno chiqueiro para porcos. Figura 27.

Figura 27: Chiqueiro dos porcos

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Curral para manejo do rebanho bovino de vinte cabeças. Figura 28.

Figura 28: Curral.

35
Fonte: Kenned Kaccio R.C
Data: 15/11/2013

Casa de farinha, onde se retira grande parte do sustento da família. Figura 29


e 30.

Figura 29: Casa de farinha

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

Figura 30: Interior da casa de farinha

36
Fonte: Kenned Kaccio R.C
Data: 15/11/2013

Carroça de boi feita inteiramente de madeira usada no transporte da


mandioca para a casa de farina. Figura 31.

Figura 31: Carroça de boi.

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 15/11/2013

37
6.0 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

A proposta de intervenção é a construção de uma casa em madeira com


técnicas e tecnologias sustentáveis que causem o mínimo de impacto possível ao
meio ambiente. A concepção principal é permitir aos seus moradores, que vivem em
situação de isolamento, o máximo de conforto possível, evitando-se, assim, o êxodo
rural. Para isto se faz necessário o uso de tecnologias que propicie conforto aos
seus moradores, conforme discriminamos a seguir:

6.1 Utilização da circulação de ventos cruzados na residência

Trabalhando a circulação cruzada dos ventos na casa, proporciona-se um


maior conforto térmico. Através do estudo dos ventos dominantes, podemos
direcionar a entrada e a saída dos ventos, renovando constantemente o ar no
interior da residência. Figuras 32 e 33.

Figura 32: Ventilação com renovação do ar.

Fonte: Venâncio (2010, p.136)

38
Figura 33: Duto de ar coletor de vento.

Fonte: Venâncio (2010, p.137)

6.2 Energia elétrica alternativa e limpa com placas solares

A energia solar, que é uma energia renovável e inesgotável, utiliza placas


fotovoltaicas que transforma a luz solar em energia que alimenta diretamente
baterias e, por meio de um módulo, converte a corrente alternada em contínua. Isso
possibilita, assim, utilizar vários eletrodomésticos de uso diário como liquidificadores,
televisores, receptores de antenas, telefones celulares, bombas de água e
iluminação interna da casa.

Como podemos observar no esquema a seguir, a energia é captada através


de duas placas fotovoltaicas que entra como corrente contínua, passando por um
controlador de carga que pode alimentar diretamente as lâmpadas.

39
O controlador de carga carrega as baterias e ainda, como corrente contínua, a
energia das baterias é direcionada ao conversor que transforma energia contínua
em alternada, podendo funcionar todo tipo de eletroeletrônico da casa. Figura 34.

Figura 34: Sistema fotovoltaico para uma casa.

Fonte:http://www.solenerg.com.br/blog/sistemas-fotovoltaicos-conceitos-basicos/

Além de atender a demanda solicitada, a energia solar tem como fator atrativo
a economia gerada e a não agressão ao ecossistema. Devido ao fato de ser uma
fonte de energia limpa é considerada ecologicamente correta.

6.3 Aquecimento da água através de placas solares

Segundo Venâncio (2010, p. 111-114), o aquecimento solar de água é um


sistema prático e eficaz. Remonta à Suíça do século XVIII, sendo o primeiro
equipamento produzido e patenteado foi no ano de 1881 em Baltimore, por Clarence
M. Kemp chamado, então, como clímax solar ou WaterHeater. Era uma caixa

40
térmica com quatro recipientes negros com água e tampados com um vidro. A água
aquecida descia por gravidade até as torneiras da casa. Com o passar das décadas,
o sistema se modernizou no mundo, inclusive no Brasil já se tem várias fábricas
deste tipo de aquecedor solar de água.

No esquema a seguir, temos um modelo de como funciona o aquecimento


com a energia solar:

1) As placas coletoras: têm a função de absorver a radiação solar, transferindo o


calor para a água que circula em uma tubulação revestida de cobre
internamente. Em geral, cada m² de placa aquece 100 litros de água.
2) Reservatório (boiller): é térmico e tem a função de armazenar a água
aquecida. Pode ser de cobre, inox ou propilenno.
3) Tubulação: a água quente e fria circula entre as placas, o boiller e a caixa-
d’água, através de um sistema natural chamado termo sifão. A água aquecida
na placa fica menos densa e a água fria vinda da caixa d’água empurra a
água quente para o reservatório térmico. O reservatório pode manter a água
aquecida por até5 dias.
4) Caixa d’água: é o reservatório normal da residência que abastece os pontos
de água fria. Figura 35.

Figura 35: Sistema de aquecimento de água.

Fonte: Venâncio (2010, p.112)

41
6.4 Bombeamento da água com capitação do rio ou em poços

O bombeamento de água do poço ou do rio através de bombas do tipo


mergulhão de 12 volts funciona também com a energia solar.

A bomba solar é uma bomba vibratória submersível para água doce destinada
ao uso em reservatórios ou cisternas. Pode ser instalada em qualquer lugar em que
haja sol, inclusive em locais remotos e de difícil acesso.

O sistema de bombeamento é composto por um equipamento que controla o


fornecimento de energia à bomba por meio de um micro controlador digital. A
energia proveniente dos painéis fotovoltaicos (adquiridos separadamente) é
armazenada no Driver em capacitores e convertida em impulsos de energia
constantes e espaçados em função do nível de radiação solar. Sempre haverá
bombeamento de água enquanto houver luz do dia, independente das condições
meteorológicas.

As bombas solares possuem grande durabilidade, devido à simplicidade


construtiva, materiais aplicados e por não possuírem elementos rotativos. Possuem
alta resistência a sólidos em suspensão na água e praticamente não exigem
manutenção. É utilizada comumente em pequenas irrigações, abastecimento de
residências e bebedouros, tanques e reservatórios para animais. Figuras 36, 37 e
38.

Figura 36: Bomba do tipo mergulhão com o conversor .

42
Fonte:http://minhacasasolar.lojavirtualfc.com.br

Figura 37: Bomba do tipo mergulhão do tipo rotativa.

Fonte: http://minhacasasolar.lojavirtualfc.com.br

Figura 38: Bomba do tipo mergulhão a energia solar.

43
Fonte: http://minhacasasolar.lojavirtualfc.com.br

6.5 Captação, tratamento e armazenamento das águas das chuvas


para utilização potável

Segundo Venâncio (2010, p. 91-96), a história nos relata que o


aproveitamento de água das chuvas data de 4.000 anos os primeiros sistemas.
Na Era Romana houve maior domínio da tecnologia com sistemas mais
sofisticados como os aquedutos. Os Mais e os Astecas, por volta do século X,
também detinham técnicas avançadas de canalização e armazenamento da água da
chuva.

Para implantar o sistema de aproveitamento de águas pluviais são


necessários os seguintes itens: área de captação de água pluvial, calhas, coletores,
dispositivos de descarte de sólidos, dispositivos de desvio de água das primeiras
chuvas (para evitar as impurezas que vêm da área de captação como folhas e
poeira) e, por fim, os reservatórios.

44
A capitação da água da chuva é filtrada em três etapas: primeiro, o descarte
da primeira água que lava as telhas e desse com folhas e poeira;segundo, a água
passa em uma pequena caixa com brita, e, terceiro, cai em mais uma pequena
caixa, agora com areia, sendo assim filtrada e podendo ser armazenada em uma
cisterna para o uso como água potável.Tratada, ela tem o objetivo de suprir as
necessidades da casa.

Para se calcular o potencial de captação de um telhado, existe uma fórmula


específica: quantidade de armazenamento por ano= A x I x P x D. Sendo:

A = área de captação;

I = índice pluviométrico anual:é a quantidade de água que cai por m² por ano
em uma região. Estes dados são obtidos junto aos órgãos estaduais. Em vitória (ES)
a média anual é 1.42 mm;

P = potencial do telhado ou pátio: devido ao tipo de material do qual é feito o


telhado ou pátio é comum considerarmos uma perda na quantidade da água por
absorção ou outros motivos;

D = água descartada:as primeiras águas da chuva devem ser descartadas,


por causa do excesso de sujeira e impurezas no telhado. Nestes casos, usamos
para cálculo o índice de 0,90.

A = 150m²

I = 1.42mm ou 1.42m³ (ano)

P = 0.88

D = 0.90

Qt. Armazenada = A x I x P x D

Qt. Armazenada = 150x1.42x0.88x0,90

Qt. Armazenada = 16.869 litros por ano

Para se calcular a área, primeiramente, multiplicamos H por Y, conforme


figura abaixo. Figura 39.

45
Figura 39: Como calcular a metragem quadrada de um telhado.

Fonte: Venâncio (2010, p.94)

A figura a seguir mostra a captação de água da chuva com a utilização de um


telhado de uma casa. Figura 40.

Figura 40: Como posicionar as calhas para a capitação da água.

46
Fonte: Lengen (2009, p.608)

A figura seguinte mostra um sistema para descarte das primeiras águas da


chuva para se evitar que detritos como poeira, folhas, pequenos galhos sejam
levados para dentro da cisterna. Figura 41.

Figura 41: Sistema de descarte da primeira água da chuva.

47
Fonte: http://aventurasconstrutivas.flaviocordova.com/2010/05/captacao-de-agua-da-chuva.html

A figura a seguir demonstra um modelo de cisterna com três partes que filtra e
armazena a água. Figura 42.

Figura 42: Cisterna com filtro para água da chuva.

48
Fonte: Lengen (2009, p.609)

6.6 Biodigestor

49
Os biodigestores utilizam a energia natural que existe nos resíduos que
podem ser tanto de animais, como vacas e porcos, como lixo doméstico. A
degradação destes resíduos gera o gás metano, que pode ser aproveitado para
gerar energia. Nos biodigestores o metano é armazenado para posterior utilização
no aquecimento dos ambientes ou como gás de cozinha, substituindo o gás GLP.

Portanto, os biodigestores podem ser uma grande alternativa em relação ao


que é usado atualmente. Além de produzir fertilizante orgânico de boa qualidade a
utilização deste sistema simples reduz o impacto ao meio ambiente e diminui os
custos com o gás de cozinha.

Na figura abaixo vemos um exemplo de biodigestor feito de barril, uma forma


simples de ser construído. Utiliza materiais fáceis de serem encontrados. Figura 43.

Figura 43: Biodigestor feito de barril.

Fonte: Lengen (2009, p.669)

Abaixo temos duas peças importantes para um perfeito funcionamento do


biodigestor: o coletor de sujeira, que evita a passagem do lodo para o sistema, e a

50
válvula de escape de pressão, também conhecida como corta chamas, um sistema
de segurança que evita que o fogo retorne para dentro do biodigestor, ocasionando,
assim,uma explosão. Figura 44.

Figura 44: Detalhes da construção.

Fonte: Lengen (2009, p.670)

Por útimo, o queimador, local em que o gás é incinerado. A figura abaixo


mostra um queimador ou fogareiro feito artesanalmente com argila, uma válvula feita
com parafuso e um cono de metal. Mas o gás pode ser ligado diretamente no fogão
que nessecita de uma pequena adaptação nobico queimador para que o gas possa
ser incinerado. Figura 45.

Figura 45: Queimador.

Fonte: Lengen (2009, p.670)

51
6.7 Tratamento do esgoto com fossa séptica

O tratamento do esgoto se dá através de uma fossa séptica eliminando,


assim, os riscos de contaminação do lençol freático. Figuras 46, 47, 48 e 49.

Figura 46: Esgoto doméstico.

Fonte: Venâncio (2010, p.205)

Figura 47: Fossa séptica.

52
Fonte: Venâncio (2010, p. 206)

Figura 48 :Filtro anaeróbio.

Fonte: Venâncio (2010, p. 206)

Figura 49: Sumidouro.

53
Fonte: Venâncio (2010, p. 207)

6.8 Tratamento e reutilização das águas servidas

O tratamento das águas servidas para a reutilização em hortaliças é


fundamental para se evitar, também, o desperdício de água.

A água pode ser tratada em dois estágios: primeiro, a água que vem da pia da
cozinha e do tanque de lavar roupas, cai no primeiro estagio do tratamento. Na caixa
de gordura que, como o nome diz, serve para separar a água da gordura por
sistema de decantação, pois a água não se mistura com a gordura que flutua ficando
na parte superior da caixa. Periodicamente, a caixa deve ser aberta e a gordura
deve ser retirada para evitar um acúmulo excessivo. Figura 50.

Figura 50: Filtro de areia.

54
Fonte:Lengen (2009, p.662)

No segundo estágio, a água vai para um filtro de areia, que é uma caixa de
tijolos ou de concreto cheia de areia e brita disposta em camadas. A água entra por
um lado e sai pelo outro já filtrada. De vez em quando, muda-se a areia, se a água
ficar muito suja.

Após o processo se completar, a água pode ser armazenada e


posteriormente usada para irrigação de pequenas hortaliças, economizando vários
litros de água potável.

6.9 Materiais construtivos

55
Na cobertura da moradia usa-se telha de fibrocimento por ser mais barata e
fácil de se encontrar no mercado.Também exige menos emadeiramento. Mas por
absorver muita radiação é necessário impermeabilização com resina da cor branca.
Para se fazer o isolamento térmico da cobertura, utiliza-se como isolante
embalagens tetrapak, que são caixas de leite longa vida e que tem eficiência igual a
qualquer manta térmica a venda no mercado. A vantagem é que é um material
reciclado que não será descartado na natureza como lixo.

A casa é construída com madeira retirada da própria localidade com


autorização do IMAC (Instituto de Meio Ambiente do Acre). As paredes externas e
internas são de tábuas, juntamente com a estrutura de vigas de madeira. A parte de
alvenaria que se refere à cisterna, ao banheiro, a área de serviços e uma parede da
cozinha, são construídas com tijolos feitos com a argila da região que é encontrada
em grande abundância.

No lugar do ferro será utilizado o bambu, que tem sua eficácia já comprovada
na substituição do ferro em algumas estruturas. A argamassa de cimento e areia é
no traço 1:4. Normas correlatas NBR 15270 e NBR 8545.

Portanto, com isso, verificamos que a moradia ribeirinha pode ser constituída
com um conforto mínimo necessário, mesmo em condições de difícil acesso.

56
7.0 ETAPAS PRÉ-PROJETUAIS

7.1 Programa de Necessidades / Pré-dimensionamento /Setorização

Figura 51: Programa de necessidades / pré-dimensionamento / setorização

Fonte: Kenned Kaccio R. C


Data: 10/11/2013

57
7.2 Organograma

Figura 52: Organograma

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 10/11/2013

58
7.3 Matriz de Relações Espaciais

Figura 53: Matriz de relações espaciais

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 10/11/2013

59
7.4Fluxograma

Figura 54:Fluxograma

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 10/11/2013

60
7.5 Zoneamento de Setores

Figura 55: Zoneamento de setores

Fonte: Kenned Kaccio R.C


Data: 10/11/2013

61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Código Florestal Brasileiro. Lei sobre a proteção da vegetação. Ministério do Meio


Ambiente. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-
ambiente/2012/11/codigo-florestal>Acesso em 20 de nov de 2013.

FERREIRA, Marcela Scheneider. Sustentabilidade na arquitetura de interiores.


Monografia. Disponível
em:<http://www.monografiaarquiteturasustentavel.blogspot.com.br/>. Acesso em 27
set. de 2013.

FRANCA, Soad Farias. A expansão da fronteira acreana. Brasília: Dupligráfica


Editora, 2009, 294 p.

____________________. Padrões ribeirinhos de ocupação: cidades amazônicas e


Rio Branco. Tese (Doutorado). Brasília: Universidade de Brasília – UnB. Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo. 2013, 322 p.

GONÇALVES, Daniel Bertoli. Desenvolvimento sustentável: o desafio da presente


geração.Disponível em:
<http://danielbertoli.synthasite.com/resources/textos/texto16.pdf> Acesso em 30 de
set. de 2013.

GUERRA, Antonio Teixeira. Estudo Geográfico do Território do Acre. RJ: IBGE,


1955. 294p.

LEGEN, Johan Van. Manual do arquiteto descalço. São Paulo: Empório do Livro,
2009.

MARTINELLO, Pedro. Formação e expansão da empresa gumífera e importância da


borracha amazônica na segunda guerra mundial. In: Souza, Carlos Alberto Alves de.

62
(org.). 15 textos de história da amazônia. Rio Branco: UFAC/Pró-Reitoria de
Assuntos Comunitários, 1995. p.139-167.

PEREIRA, Micheline Neves. No escurinho do cinema? Uma abordagem sobre o


cinema em Rio Branco na década de vinte. Dissertação (mestrado). Recife:
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. CFCH. História, 2002, 150 p.

PRADO, Luiz. Arquitetura ambiental e casas flutuantes: a Holanda se adapta às


mudanças climáticas. Disponível
em:<http://www.luizprado.com.br/2010/02/21/casas-flutuantes-a-holanda-se-adapta-
as-mudancas-climaticas/>Acesso em 27 set. de 2013.

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Brookman, 2006.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento sustentável: desafio do século XXI. Resenha.


Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
753X2004000200016>. Acesso em 30 de set. de 2013.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de
Janeiro: Garamond, 2010. 220p.

VENÂNCIO, Heliomar. Minha casa sustentável: guia para uma construção


residencial responsável. Vila Velha, ES: Edição do Autor, 2010.

63

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