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juventudes,

educação
e projeto
de vida
relatório de pesquisa

.1
56. 2Aprendizagem
_Escola e

57. 2.1 _Relação com a escola


8. Introdução

su 9. i. A pesquisa 67. 2.2 _Formatos de aula


e gestão escolar

14. ii. Metodologia 72. 2.3



_Internet e
Aprendizagem
21. iii. Com quem falamos
98. 3 _Evasão
rio 30. 1 _Projeto de Vida 134. 4 _Desafios e
31.
44.
Redes de apoio
1.1 _Referências e objetivos

150. 5finais
1.2 _Futuro Profissional _Considerações

162. Equipe

.2 .3
sumário Quando pensam o futuro pro-
fissional, a partir de suas refe-
universidade, o maior sonho dos
alunos. No entanto, quando o
executivo rências e da sensação de capaci-
dade de chegarem lá, os jovens
jovens não se veem ou não têm
condições concretas de investir
apontam o desejo de melhorar no Ensino Superior, o ambiente
sua condição financeira e de escolar perde o sentido, por não
A pesquisa realizada com 1.500 mais, não sentem que a escola trabalhar “com o que gostam”. se conectar com o mundo do
jovens das classes C, D e E, que os prepara para o mundo do tra- O que diferencia os perfis Auto- trabalho. Para tornar a escola
estudam em escolas públicas balho; confiantes dos Desesperanço- mais relevante, os jovens apon-
em todo o Brasil, encontrou sos é a capacidade de descrever tam a necessidade de aulas mais
heterogeneidade de preparo » Autoconfiantes se identificam com mais clareza o que gosta- participativas e com mais espa-
para a formulação e planeja- com o formato atual da escola e riam de fazer. Os Resignados ços de escuta entre professo-
mento de projetos de vida. têm como principal objetivo al- miram conquistas materiais, res e alunos. Simultaneamente,
Em geral, o principal sonho cançar a universidade. Não sa- muitas vezes por necessidades pedem por uma gestão escolar
dos jovens é a conclusão do bem, necessariamente, o que de curto prazo. Em geral, os pais disciplinadora, capaz de regular
Ensino Superior. No entanto, a farão depois. são descritos como um apoio as tensões e conflitos que exis-
segmentação trouxe três perfis: no caminho para seus sonhos tem entre os alunos e entre pro-
Um dos principais diferencia-
Autoconfiantes, Resignados e profissionais, mas não como fessores e alunos. Nos dois casos
dores entre os perfis é a exis-
Desesperançosos. uma inspiração na escolha da (pedido por aulas participativas
tência de redes de apoio e
profissão. e gestão rígida), aparece um
» Maior perfil é o de Desespe- referências para os jovens se
desejo de maior escuta e aco-
rançosos, que tem menos cla- espelharem. O estudo apontou A escola, que poderia ocupar lhimento por parte da escola.
reza sobre seu futuro, não sabe para três grupos de referências: o espaço de referência, não
muito bem qual caminho seguir os pais, alguém famoso e pro- conecta com as aspirações
e que se sente menos capaz de fessores. Os atributos que fazem futuras dos jovens, no que
alcançar seus objetivos; dessas pessoas referências são: tange às orientações e prepa-
ser batalhador e ser humilde. ração para o trabalho. A escola
» Resignados têm planos para Nos dois casos, são atributos é vista como um passo rumo à
o futuro relacionados à vida pro- que os jovens conseguem se
fissional e conquistas materiais. enxergar e possíveis de serem
No entanto, assim como os de- alcançados.

.4 .4 .5 .5
curados durante o processo de
abandono. Mesmo quando a es-
Quando há uso de inovações cola proporciona acolhimento,
pedagógicas, os jovens apon- a violência, bullying e um clima
tam falhas e desconfiança. escolar descrito como caótico
Para a maioria, as escolas não favorecem a evasão.
deveriam permitir o uso de
internet em sala de aula. Mui- Os jovens evidenciaram a
tos também não se consideram importância de suporte de
totalmente proficientes no uso amigos, professores e outros
da internet, especialmente en- profissionais para lidarem
tre os de renda menor. A sen- com desafios como proble-
sação é de que eles não seriam mas pessoais, bullying, de-
capazes de aprender de forma pressão e crises de ansiedade.
autônoma, sem o apoio próximo A maioria diz que já teve seu
de um professor. desempenho afetado por ques-
tões externas à escola, e apon-
A falta de escuta é apontada tam que a comunidade escolar
como principal causa de eva- dificilmente identifica e acolhe
são. O aluno que vê seu de- questões externas, que afetam a
sempenho cair, muitas vezes vida escolar dos jovens.
por problemas pessoais, sen-
te vergonha de pedir ajuda de
professores e colegas. Quando
a escola não abre espaços de
diálogo, os jovens encontram
barreiras para permanecer na
escola. A maior parte dos que
abandonaram não foram pro-

.6 .6 .7 .7
i.
a pesquisa

O estudo apresentado neste relató- nos sonhos e projetos de vida do público


rio nasceu a partir de um desafio de da pesquisa, e a relação entre a cons-
entender de forma aprofundada as ca- trução de sonhos e objetivos futuros e
racterísticas dos jovens das classes C, D e aspectos como referências familiares,
E e sua relação com a educação e a escola. referências profissionais, aprendizagem
O objetivo principal da pesquisa foi na escola, uso de internet, entre outros
explorar as percepções, hábitos, e tópicos que serão tratados ao longo do
expectativas de alunos da escola relatório.
pública sobre projeto de vida e seus Um segundo objetivo da pesquisa
sonhos, educação e aprendizagem, as- foi subsidiar um debate amplo sobre
sim como o acesso e uso da internet. atuação do terceiro setor e políticas
Esse objetivo já delineia algumas caracte- públicas educacionais, para que estes
rísticas especiais do projeto. Em primeiro esforços estejam, no futuro, mais ali-
lugar, o foco na juventude mais vulne- nhados às demandas e aos direitos da
rável, que representa 80% dos alunos juventude das classes C, D e E. Os pro-
da escola pública no Brasil.1 Em segun- dutos deste estudo serão abertos para
do lugar, a ênfase na escola pública, a divulgação entre gestores públicos e
com todos os desafios já conhecidos, o terceiro setor, para que seus apren-
de altas taxas de repetência e evasão; dizados não sejam limitados aos que
baixo desempenho em Leitura e Mate- participaram do projeto diretamente.
mática e desigualdade de aprendizado. Para iniciar o estudo, traçamos alguns
O estudo, enfim, buscou entender a re- princípios que deveriam nortear nossos
lação estabelecida entre esse jovem de esforços e aprendizados. Em primeiro

introdução
origem vulnerável, sua estrutura social e lugar, o foco em impacto social, portan-
as dinâmicas da escola. Por isso a ênfase to, na juventude da base da pirâmide.

1
Segundo a PNAD 2018, 83% das crianças e jovens que frequentam escola pública
vem de famílias com renda per capita abaixo de 1 salário mínimo.

.8 .9
Além disso, a valorização de diversida- 1. Projeto de Vida
de de visões e percepções dos jovens
e de especialistas sobre a realidade da
:: O que é importante em suas vidas? :: O projeto contou com quatro fases:
Quais suas referências?
educação pública brasileira. Para isso,
:: Quais são seus sonhos e expectativas
trouxemos a participação de diversos
de futuro? Existe algum planejamento? Workshop de co-criação que contou com a presença de

(1)
atores para colaborar com a construção
:: Quais suas ambições profissionais e profissionais da Plano CDE, Fundação Roberto Marinho
deste material. Em terceiro lugar, demos
motivações? e educadores, além da participação de 6 jovens consul-
atenção especial ao problema do aban-
tores representando cada uma das regiões do país, para
dono escolar, que atinge 11,8% dos 2. Escola e Aprendizagem
definir perguntas de pesquisa e materiais das etapas se-
jovens entre 15 a 18 anos2 . Acreditamos
:: O que gera engajamento com a escola guintes;
que o entendimento da percepção do
e a educação?
jovem sobre sua escola e sobre sua edu-

(2)
cação traz uma grande contribuição ao :: Como e quando aprendem melhor?
Pesquisa quantitativa nacional para a mensuração
debate sobre como evitar o abandono :: Quais são os obstáculos em relação à
das percepções e segmentação de perfis;
escolar e garantir o direito de todos os aprendizagem?
jovens à educação básica. Por último,
:: Quais os usos da internet para apren-
entendemos que o conceito de Projeto

(3)
dizagem?
de Vida é um tema transversal aos de- Pesquisa qualitativa, online e presencial, para en-
mais. Para abordar os planos dos jovens, 3. Abandono dos estudos
tendimento das percepções da escola, projetos e
deve-se ter o cuidado de considerar a :: Por que abandonaram os estudos? desafios;
construção de projetos de vida como :: O que poderia ser diferente na escola
consequência de inúmeros fatores para que eles continuassem estudando?
psicológicos, sociais e econômicos. Ve- Workshop de fechamento para debate dos resul-

(4)
:: Em que condições voltariam a estudar?
remos, mais adiante, a importância das tados e construção coletiva de direcionamentos
redes de relacionamento para a forma- 4. Desafios e redes de apoio que contou com a presença de profissionais da
ção desta juventude. :: Quais são os desafios pessoais e com Plano CDE, Fundação Roberto Marinho, Fundação
O relatório a seguir está dividido em a escola? Bradesco, Atlas da Juventude e os jovens consul-
quatro capítulos, com as seguintes per- tores.
:: Com quem podem contar para falar
guntas de pesquisa com foco no público sobre a vida, sobre a escola e o futuro?
dos jovens CDE.

2
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) / IBGE, 2018

.10 .11
:: Jovens consultores
:: Clara Vaz, 19 anos :: Jonas Fernandes, 20 anos
De Cuiabá, terminou ensino médio com apoio De Campina Grande, perdeu um ano do Ensino
de um professor Ensina Brasil, já desenvolveu um Médio devido à má gestão escolar. Atualmente, é
projeto de saúde mental na escola. Estudante de estudante de Engenharia de Materiais. Criado pela
direito, trabalha no desenvolvimento de projetos avó, trabalha com projetos sociais de educação há
sociais com foco em protagonismo juvenil. 6 anos, sendo criador do Programa Guardiões da
Educação.

:: Camila Silva, 23 anos :: Lays dos Santos, 20 anos


De Porto Alegre, graduanda em Relações Da zona norte do Rio, estudante de Serviço Social,
Internacionais Na UFRGS. É voluntária há integrante da Plataforma de Centros Urbanos do
4 anos em projetos que procuram integrar Unicef. Criadora do projeto Social “Eu vivo favela”
conhecimento produzido na Universidade e hoje está no MPRJ, na Assessoria de Direitos Hu-
com a sociedade. manos e de Minorias.

:: Elias Costa, 22 anos :: Patrick Pereira, 17 anos


Da periferia de Belém, participa do coletivo Da zona Oeste do Rio, está cursando o En-
audiovisual Tela Firme, com foco em direitos sino Médio, já tendo estudado mais do que
humanos e contra narrativas sobre as peri- seus pais. Participou de programa Centros
ferias, é co-fundador da Plantar Fotografia e Urbanos da Unicef.
Embaixador da Juventude pela ONU/UNO-
DC. Evadiu e voltou a estudar.

.12 .13
ii.
metodologia

:: Etapa :: Workshop de
:: Workshop de :: Etapa fechamento
co-criação qualitativa
quantitativa Jovens e especialistas discutem os resultados
entendimento
Jovens e especialistas ajudam a Mensuração das e debatem caminhos de atuação
dos porquês
desenhar a pesquisa. percepções

O desenho de pesquisa utilizando mé- iii) etapa qualitativa de entendimento tiva foi de jovens de 14 a 19 anos, das gundo as tabelas abaixo. A margem de
todos mistos deste estudo seguiu a destas percepções. classes C, D e E3, estudantes de esco- erro, considerando intervalo de confian-
seguinte lógica: A fase de pesquisa foi dividida em três las públicas. Entre esses jovens, alguns ça de 95%, é de 2,4 p.p.
i) etapa qualitativa de desenvolvimen- etapas. A primeira delas foi uma pes- já haviam abandonado e voltado a es- Para garantir representatividade da
to de hipóteses (revisão bibliográfica e quisa quantitativa presencial com tudar – todos estavam necessariamente amostra nacional, todos os dados foram
workshop com jovens consultores, educa- uso de um questionário estruturado. matriculados entre o 9º ano do Ensino ponderados para se adequar às distri-
dores e especialistas); O questionário foi elaborado a partir Fundamental e o 3º do Ensino Médio. buições da população CDE nas regiões
das questões levantadas no workshop Foram entrevistados 1.510 jovens, se-
ii) etapa quantitativa de mensuração de
percepções; e inicial. O público da pesquisa quantita-
3
Por tratar de jovens, que na maior parte das vezes não são os responsáveis pela renda da casa, utilizou-se o
chamado “Critério Brasil” para definição de classes sociais. Esse critério parte da posse de bens. Para saber mais,
acesse: <http://www.abep.org/criterio-brasil
.14 .15
indivíduos nos perfis. Isso faz com que a ção de personas para basear a formulação
segmentação seja menos estereotipada, de projetos e políticas públicas direciona-
252 considerando a existência tanto de per- das aos desafios de cada um dos perfis.
Norte fis “puros” (aqueles com características O GoM tem também a vantagem de
353 mais extremas do perfil) quanto de perfis espelhar de forma mais intuitiva a re-
Nordeste “mistos”, isso é, grupos com características alidade social, uma vez que podemos
predominantes de um perfil, mas que car- pressupor que cada indivíduo tem
254 rega também características de outro. características diversas e não é, normal-
Tabela 1 :: Amostra
por localização Centro
Oeste
Tabela 2 :: Amostra por A vantagem desse método é que, ao mente, claramente classificável como
classe e Etapa de Ensino
Local Amostra 400 identificar esses perfis “mistos”, o pes- pertencente a um determinado perfil
Sudeste
Capital 1.057 Classe Amostra quisador mantém um grupo “puro” de comportamento5 . O resultado da
Interior 453 bastante homogêneo, que permite uma segmentação utilizando o GoM pode
Classe C 1.026
Classes D e E 484 análise aprofundada das diferenças entre ser expresso no gráfico abaixo (conside-
251
Sul os grupos. Essa análise facilita na constru- rando uma análise com 3 grupos puros):
Etapa de ensino Amostra
E. Fundamental 603
E. Médio 907
Figura 2 ::
Margem de erro: 2,4 p.p. (nível de
Gráfico de
confiança 95%)
resultados da
segmentação Tipo Tipo
Puro A Misto Misto Puro B
A/B B/A
pesquisadas (de acordo com a PNAD). guntas de pesquisa mencionadas no item
As variáveis utilizadas na ponderação4 e anterior.
que, portanto, seguem a distribuição da Em primeiro lugar, uma segmentação de
PNAD em todos os dados analisados, são: Misto Misto
perfis chamada Grade of Membership A/C B/C
Misto
:: Regiões; (GoM). O GoM, ao contrário de outros A/B/C

:: Distribuição entre capital e interior; métodos de segmentação, separa a amos-


tra do estudo em perfis de acordo com a Misto Misto
:: Gênero; C/A C/B
probabilidade de pertencimento de cada
:: Idade; indivíduo. Ou seja, o GoM é um método
:: Cor / Raça. que considera o quão próximos os indi- Tipo
Puro C
víduos estão de cada perfil, ao invés de
Duas análises estatísticas foram realizadas,
simplesmente “induzir” a alocação dos
para complementar as respostas às per-

5
O GoM está fundamentado na teoria dos conjuntos nebulosos (fuzzy sets) de acordo com a qual o pertencimen-
4 to de um elemento a um dado conjunto não é, necessariamente, exclusivo (Manton, Woodbury e Tolley, 1994). O
A escolha por ponderar os dados parte do desafio de garantir uma amostra representativa individualmente em
elemento de um conjunto pode pertencer integralmente a ele ou, de outra maneira, pertencer, simultaneamente,
cada região. Assim, a amostra sem ponderação sobrerrepresenta as regiões Norte e Centro-Oeste, além de distorcer a
com diferentes graus de intensidade, a vários conjuntos. Os conjuntos nebulosos se opõem aos conjuntos bem
distribuição da Juventude (14 a 19 anos) dentro de cada região, em relação à classe social, cor, gênero, etc.
definidos (crisp sets) nos quais o pertencimento dos elementos a mais de um conjunto não é possível.

.16 .17
Cada indivíduo da amostra, a partir da você se considera capaz de alcançá-la? – representa um preditor e suas catego- :: Sexo (Masculino X Feminino)
distribuição de suas respostas, é clas- fechada) rias, em que ramos mais altos indicam :: Faixa etária (até 17 anos X 18 anos ou
sificado como pertencente em graus :: Plano para alcançar objetivo (Você os primeiros preditores escolhidos. mais)
diferentes a cada perfil (totalizando tem um plano para alcançar esse objeti- Ao final de todas as ramificações, exi-
100%). Um indivíduo que tenha todas :: Cor (Negro X Não negro)
vo (número 1) de longo prazo (daqui a 10 bem-se as probabilidades associadas à
as características típicas do perfil A será anos)? – fechada) variável dependente. :: Escolaridade do responsável (EF com-
classificado como 100% neste perfil e pleto X EF incompleto)
:: Razão para escolher profissão (Por Em nosso estudo, esse método foi uti-
0% nos demais. Foram considerados
que você escolheu esse trabalho? Qual lizado para analisar fatores associados :: O que mais gosta de fazer na escola
“puros”, no nosso estudo, indivíduos
foi a principal razão? – espontânea) à possibilidade de abandono escolar. (Encontrar amigos/parceiro(a) X demais
que tivessem acima 75% das caracterís-
Como nossa etapa quantitativa teve opções)
ticas de um perfil, ou entre 50% e 74% :: Inspiração para profissão (Quem te
foco apenas sobre os estudantes de es- :: Valorização/escuta dos alunos (Es-
em um perfil, e menos de 25% em qual- inspirou a pensar neste trabalho? – es-
cola pública usamos a possibilidade de cola valoriza muito X pouco)
quer um dos demais. pontânea)
abandonar como uma proxy para va-
A segunda análise estatística utilizada :: Violência na escola (Sofreu algum
A segmentação foi utilizada para identi- riáveis associadas à possibilidades do
no estudo foi a análise de CHAID. Essa tipo X nunca sofreu)
ficar perfis de formulação dos projetos abandono escolar. Neste sentido, esta
de vida dos jovens. As variáveis que ge- análise funciona como uma árvore de análise é diferente daqueles realizadas :: O que mais atrapalha o aprendizado
ram os perfis são relativas aos sonhos decisões6. O CHAID é um método de tradicionalmente em estudos de fatores (Bagunça dos alunos X demais opções)
dos jovens, suas referências e moti- seleção e classificação de preditores associados ao abandono escolar. :: Como considera o próprio desem-
vações, quanto se sentem capazes de de uma variável dependente. Este mé-
Além disso, diferente dos estu- penho (Bom/excelente X regular/ruim)
alcançar seus sonhos e objetivos e quais todo testa a relação entre cada preditor e
dos de abandono escolar mais :: Já reprovou (Sim X Não)
as suas inspirações. A lista de variáveis a variável dependente e escolhe aquele
tradicionais (que usam modelos de
utilizadas está abaixo: com maior nível de significância. Com os resultados da etapa quantitativa,
regressão logística), em nossa aná-
Quando encontra o preditor mais signi- que permite a descrição de um retrato
:: Sonhos (Qual o seu sonho para o seu lise estamos mais interessados na
futuro/para sua vida? - Aberta) ficante o método então divide a amostra da juventude C, D e E no Brasil, busca-
hierarquização de fatores intraesco-
em categorias desse preditor e testa os mos em uma segunda etapa sequencial
:: Inspiração para sonho (Quem é a sua lares associados à consideração sobre
demais preditores em cada subamostra, as explicações mais aprofundadas dos
inspiração para pensar nesse sonho? – o abandono escolar. Por isso, a análise
para escolher a “segunda camada” de por árvore de decisão se mostrou mais dados. A etapa de explicação, qualita-
espontânea)
preditores mais importantes. O proces- adequada ao tipo de pergunta da pes- tiva, incluiu painéis online digitais de
:: Prioridade em 10 anos (Qual é a sua so de teste e subdivisão da amostra se quisa7. três semanas de duração, e entrevistas
prioridade para daqui a 10 anos? – es- repete até que as subamostras fiquem etnográficas com alguns dos entrevista-
pontânea) Como fatores intraescolares foram tes-
pequenas demais (n=50) ou que não dos. A amostra da etapa qualitativa foi a
tadas as seguintes variáveis:
:: Percepção de capacidade (Pensan- haja mais preditores significativos. seguinte:
do nessa sua prioridade (número 1) de Os resultados são apresentados na for-
longo prazo (daqui a 10 anos), o quanto ma de árvore, em que cada ramificação 7
Além disso, existe uma razão técnica mais profunda para não se usar, neste estudo, um método de regressão
logística. Em estudos sociais/comportamentais, a variável dependente binária (ex., abandonar ou não a escola) de-
riva de um modelo de decisão prévio sobre o qual incidem os fatores associados que se quer analisar. Tipicamente,
toma a decisão de abandonar o estudante cujas características e experiências escolares geram uma utilidade abai-
6
CHAID é a sigla para Chi-squared Automatic Interaction Detector, originalmente proposto por G. V. Kass, no artigo xo de um nível limítrofe. No caso deste estudo, como a variável binária é construída a partir de uma possibilidade
An Exploratory Technique for Investigating Large Quantities of Categorical Data, Applied Statistics, Vol. 29, No. 2. de abandonar, não temos uma decisão efetiva de abandono, o que torna nossa variável inadequada ao uso dos
(1980). métodos tradicionais de regressão.
.18 .19
Tabela 3 :: Amostra dos painéis online

Perfil dos Jovens



Regiões Número
de grupos
Número
de Jovens iii.
De 9º ano EF SE/NE 1 6
com quem
falamos
De 3º ano EM SE/NE 1 6
De 15 a 17 anos fora da Escola SE/NE 3 18 :: Jovens da
De 18a 24 anos não terminou EM SE/NE 3 18 escola pública
Idade e nível escolar
Total - 8 48

Tabela 4 :: Amostra das entrevistas etnográficas Ensino


Fundamental
Perfil dos Jovens

Regiões Número de Jovens
para Etnografia 49,1%
De 9º ano EF SE/NE 1
De 3º ano EM SE/NE 1
De 15 a 17 anos fora da Escola SE/NE 3
De 18a 24 anos não terminou EM SE/NE 3
Total - 8

Os grupos tinham membros de Recife e de As atividades propostas pelos moderado-


São Paulo e, ao contrário da etapa quantita- res, em parceria com os jovens consultores
tiva, incluíram jovens que estavam fora da do projeto, incluíam:
escola. Foram entrevistados 36 jovens que :: criar memes;
abandonaram os estudos, sendo metade
:: enviar vídeos e áudios;
em idade escola regular (15 a 17 anos) e
metade na faixa de idade do EJA. Além de :: comentar as atividades dos demais parti-
:: Idade
estudantes do 9º ano do Ensino Fundamen-
tal e do 3º ano do Ensino Médio.
cipantes.
50,9%
Ao final das três semanas de entrevista Ensino Médio 65,8 % Entre 14 e 16 anos
Os painéis online permitiram aprofundar no painel, um participante por grupo foi
34,2 % Entre 17 e 19 anos
as evidências que surgiram nas análises de selecionado para uma entrevista etnográ-
segmentação e de CHAID da etapa quan- fica em sua residência. A etnografia é uma
:: Nível escolar :: Tipo de ensino
titativa. Especificamente nos grupos de técnica adaptada da antropologia que
jovens fora da escola, conseguimos explorar permite a compreensão dos efeitos do con-
as razões, decepções e desafios enfrentados texto social, em especial do território, nas 20,8 % 1º ano EM 83,1 % Regular
antes da decisão de abandonar os estudos. percepções e valores dos entrevistados, 15,4% 2º ano EM 8,4 % Ensino Técnico
Essa metodologia permitiu também que servindo como um complemento para as 14,7% 3º ano EM integrado ao Médio
os jovens se comunicassem em sua lingua- etapas de pesquisa anteriores. 8,5 % Ensino Integral
gem coloquial.

.20 .21
:: Perfil dos jovens :: Gênero Na etapa qualitativa, encontramos Pouco menos de um quinto dos jovens
Gênero, classe e identificação racial
muitas famílias monoparentais, lidera- trabalha, principalmente em bicos in-
48,3% Feminino
51,7% Masculino das pelas mães, e alta dependência de formais, que têm uma função maior
43,7% apoios de uma rede expandida de fami- de gerar independência financeira
:: Classe liares mulheres, como tias e avós. Essas que de ajuda na renda da casa. Uma
figuras foram mencionadas repetidas parte considerável dos que trabalham
67,0 % Classe C
vezes como um suporte fundamental estão formalizados em programas de
26,1% 33,0 % Classes D e E
24,3%
:: Distribuição na trajetória dos jovens. aprendizagem.
de raça/cor

4,3%
1,6%
:: 17% dos jovens trabalham: a maioria faz bicos ou trabalha
Parda Preta Branca Amarela Indígena como aprendiz.
Trabalho

Entre nossos entrevistados, a maio- casa. Quase um terço deles são benefici-
Faço bicos ou trabalho em alguma atividade
ria vive com os dois pais. No entanto, ários do Bolsa Família e aproximadamen- ocasional remunerada sem carteira assinada 30,8%
porcentagem relevante vive em casas te metade dos chefes de família tem ren-
monoparentais, com grande maioria li- da previsível (43% com carteira assinada, Trabalho como Aprendiz 20,0%
derada pela mãe, e há 8% de jovens que 6% de aposentados).
vivem sem nenhum dos dois pais em
Ajudo meu pai ou minha mãe no traba-
lho deles, sem receber dinheiro
11,9%

Trabalho remunerado, com carteira assinada 11,6%

:: Situação de emprego do responsável


Trabalho como estagiário(a) 11,2%

43% Trabalha com carteira assinada Trabalho por conta própria - independente,

28%
19% Autônomo autoral –remunerado (produção deconteú- 10,4%
do, fotografia, trabalhos artísticos
15% Trabalha sem carteira assinada

17%
7% Desempregado Ajudo outros familiares no trabalho 6,3%
deles, sem receber dinheiro
6% Não trabalha (Dona de casa/Estudante)
6% Aposentado/Pensionista são beneficiários Trabalho por conta própria - independente,
do Bolsa Família autoral – não remunerado (produção decon- 0,9%
5% Negócio Próprio teúdo, fotografia, trabalhos artísticos dos jovens trabalham

P72. Você trabalha? Base (1.510)


P84. Qual a situação de emprego da série sua mãe, pai ou pessoa res-
P73. Como é esse trabalho? RM. (Só entre
ponsável por você? RM (Base: 1.510)
quem trabalha) Base: (310)
P85. Sua família recebe algum benefício do governo? (Base: 1.510)
.22 .23
:: Entre os jovens que trabalham, o principal destino da renda não é :: A maioria dos entrevistados tem pais com baixa escolaridade –
para ajudar em casa – metade gasta com o próprio lazer. 67% não completaram o Ensino Básico.
Trabalho Família, escolaridade e emprego

:: Destino da renda
:: Escolaridade dos pais ou responsáveis
Lazer Casa/família Futuro

Nunca 1,6%
50,2% estudou

Não completou
Ensino Fundamental I 18,3% 67%
dos responsáveis
Não completou
24,5% 24,8% Ensino Fundamental II não finalizou a
23,8%
educação básica

10,4% 11,9% Não completou 23,2%


Ensino Médio
3,8% 4,0%

Ensino médio 31,8%


completo ou mais
Lazer, Pagar as Entrego parte Entrego todo Divido com Guardo Gasto com
comprar despesas da do dinheiro o dinheiro meu cônjuge/ para o cursos ou
roupas e minha pró- para os meus para os meus companheiro futuro estudo Não
bens pria casa/ pais/respon- pais/respon- sei
1,2%
família sáveis sáveis

P74. O que você faz com seu dinheiro? RM. Base (todos que trabalham): 310
P83. Até que série sua mãe, pai ou pessoa responsável por você estudou? (Base: 1.510)

Na descrição do perfil das famílias, além grande parte dos jovens entrevistados nutos para chegar em suas escolas, com transporte escolar também é mais co-
de critérios socioeconômicos, chama já ultrapassaram seus pais em anos de o caminho sendo realizado a pé ou de mum entre meninas (6% vs. 3% dos
atenção um primeiro dado relativo à es- estudo. Veremos adiante o papel funda- ônibus. O transporte escolar é limi- meninos). No Centro-Oeste, destaca-se
colaridade da família. Dois terços dos mental das referências e exemplos para tado a 5% dos estudantes, e com mui- o uso do transporte individual, modal
chefes de família dos entrevistados a construção de projetos de futuro des- ta variação regional: enquanto 2% dos mais utilizado por 15% dos estudantes,
não completou o Ensino Médio, sen- tes adolescentes. alunos têm acesso nas regiões Norte e abaixo apenas da caminhada (53%) ou
do que mais de 40% não completou o Praticamente 90% dos estudantes das Nordeste, o valor chega a 11% dos es- ônibus (19%).
Ensino Fundamental. Isso significa que classes C, D e E levam menos de 30 mi- tudantes na região Sul. A escolha pelo

.24 .25
:: O trajeto para as escolas é feito, principalmente, a pé ou de ônibus. Além de diferenças socioeconômicas,
encontramos também diferenças de
Maioria demora até 30 minutos para chegar até a escola. perfis referentes à formulação de pro-
Escola
jetos de vida e planos para o futuro.
A segmentação estatística definiu
:: Como vai para a escola? três perfis de jovens C, D e E, que fo-
ram denominados: Autoconfiantes,
A pé 66,1% Resignados e Desesperançosos. Esses
grupos se diferenciam tanto por fato-
res individuais, psicológicos, como por
De ônibus 22,8% :: Região dimensões estruturais, relativas às re-
des de apoio e possibilidades de plane-
De transporte escolar 4,6% :: Gênero Vai de transporte escolar
jamento de longo prazo. Os nomes fo-
Vai de carro ou carona
ram desenvolvidos a partir do diálogo
De bicicleta 5,6% entre os dados quantitativos, análises
qualitativas e debates entre os consul-
De carro/ carona 2,8% 6,2% 3,1% tores do projeto, e não pretendem esgo-
tar a complexidade causal de formação
De moto 1,3% de perfis comportamentais. No entan-
to, independente da multiplicidade de
:: Norte:: causas, a existência de perfis já delimita
Outras 0,3%
2% :: Nordeste:: caminhos diversos para projetos e políti-
1,7% cas públicas que visam atender às neces-
54% 2,4%
0,5% sidades desses jovens.
Os Autoconfiantes se caracterizam por
:: Cento-Oeste::
terem uma forte rede de apoio e estru-
9%
tura para ajudá-los a planejar o futuro.
:: Sudeste::
33,9% 14,8% Suas expectativas são mais altas e se re-
6%
lacionam à sua formação. Resignados
2%
:: Tempo para demonstram planos de futuro mais rela-
chegar na escola? cionados a ganhos materiais. À primeira
vista, parecem mais pragmáticos, devido
:: Sul::
10,3% às suas referências e inspirações familia-
P76. Quanto tempo você 10,7% res. Já os Desesperançosos demonstram
demora para chegar na
escola, desde o momen- 1,6% 0,2% 6,2% muita dificuldade de pensar o seu futu-
to em que sai de casa?
(Base: 1.510) ro. Têm menos referências e sentem falta
Até 15 Entre 15 e Entre 30 Entre 1 hora e Mais de de apoio para a construção de planos.
minutos 30 minutos minutos e 1 hora e meia 1h30
1 hora P75. Como você costuma ir para
a escola? RM (Base: 1.510)
.26 .27
Objetivos :: Sonham com objetivos :: Há ainda diferenças socioeconômicas entre os perfis. Perfil Autoconfian-
relacionados a estudos. te têm pais mais escolarizados e são, majoritariamente, da classe C, dife-
Referências e apoio :: Principalmen- renciando-se, principalmente, dos Desesperançosos.
Autoconfiante te família, mas também alta menção

28%
a pessoas famosas como referência.
Autoeficácia :: Sentem-se muito ca-
pazes de alcançar seus objetivos.
:: Escolaridade do 1%
8%
2%
2% 3%
2%
responsável
do total Socioeconômico :: Maioria da classe 22%
28%
C, com pais mais escolarizados. 28%
Não sei
Completou a Faculdade
23% 29%
Completou o Ensino Médio 22%

Não completou Ensino Médio

Não completou Ensino Fundamental II 26% 26%


20%
Objetivos :: Tem objetivos materiais
Não completou Ensino Fundamental I
(trabalho, renda, melhora de vida). 18%
Nunca estudou 19% 16%

Resignado Referências e apoio :: Família, ami-


gos e professores.
1% 1% 2%

31%
Autoconfiantes Resignados Desesperançosos
Autoeficácia :: Sentem-se muito ou
razoavelmente capazes.
Socioeconômico :: Maioria da classe
do total C, com pais pouco escolarizados.

60%
:: Classe
71% 66%
C
D-E

Objetivos :: São os que mais dizem


40% P83. Até que série sua mãe,
não saber quais são seus objetivos. 29% 34% pai ou pessoa responsável por
você estudou? (Base: Puro 1
Referências e apoio :: Grande maio-
Desesperançoso
(Autoconfiante): 201/ Puro 2
(Resignado): 191 / Puro 3 (De-
ria não tem referências ou inspirações sesperançoso): 248)

33%
Autoconfiantes Resignados Desesperançosos
para pensar o futuro.
Autoeficácia :: São os que mais se
sentem incapazes de alcançar seus
do total objetivos. O mapeamento de perfis relativos à educação em geral de forma mais he-
Socioeconômico :: Proporção maior estrutura de referências para a cons- terogênea. Veremos a seguir como cada
das classes D e E, com pais menos trução de projetos de vida destaca a um desses perfis constrói seus projetos e
escolarizados. importância de se pensar a escola e a planos de futuro.

.28 .29
1.1 referências
e objetivos

Os jovens da base da pirâmide demons- quanto está no seu horizonte a possibi-


tram desafios quando estimulados a lidade de não terminarem ao educação
planejar o futuro. A escola é entendida básica. Mesmo entre os mais velhos (17
como um fato e não como parte de uma a 19 anos), a conclusão dos estudos é o
trajetória educacional que trará frutos sonho principal para mais da metade.
no longo prazo. Ainda assim, “me for- A realização profissional destes é o so-
mar” aparece como o principal sonho nho em 37% dos casos, muito abaixo da
dos adolescentes das classes C, D e E. média de 47% – o que aponta para uma
Em seguida, mencionam a realização possível resignação sobre expectativas

_01
profissional em uma área que gostem. futuras ao chegar ao final do Ensino Mé-
Destacamos aqui uma primeira percep- dio. Os maiores de 17 anos mencionam
ção de uma possível negação de direitos com maior frequência sonhos mais ma-

projeto
dos jovens que frequentam a escola teriais, como “conseguir um emprego”
pública. Ao colocar a conclusão do en- (13%) ou “ter estabilidade financeira”
sino como um sonho, eles demonstram (9%).

de vida 59,5% Terminar meus estudos/Me Formar

O conceito de “projeto de vida” é distante da re- 46,6% Realização profissional/Trabalhar na minha área

alidade de grande parte do nosso público. Para 10,4% Arrumar Emprego/Trabalhar


mapear a construção de um plano de futuro,
7,4% Ganhar dinheiro/Ser independente/Estabilidade
nossa estratégia foi traçar perguntas sobre o que
6,0% Comprar Casa/Fazenda/Sítios
é valorizado pelos jovens, quais as suas inspira-
ções, onde ele imagina que vai chegar, entre ou-
::Sonhos para 4,8% Ter uma empresa/Negócio proprio

tros pontos. O que eles fazem hoje? O que gosta- o futuro/vida 4,4% Casar/ter uma família

riam de fazer de diferente? O que gostam e não 3,0% Ajudar família

gostam? Quais as suas ambições e quem os apoia 2,8% Comprar Moto/Carro


nessas ambições?
2,0% Ser Militar

3,7% Outros
P9. Qual o seu sonho para
o seu futuro/para sua vida?
3,5% Não sei RM (Base: 1.510)

.30 .31
:: Sonhos para o futuro/vida

Autoconfiante Resignado Desesperançoso

Terminar meus estudos 92% 38% 68%


Mas as diferenças socioeconômicas res-
Realização profissional 55% 25% 60% pondem apenas em parte para como os
adolescentes constroem suas projeções de
3% futuro, expressas nesse “sonho” que pedimos
Arrumar Emprego 6% 18%
/Trabalhar 3% para que descrevessem. Quando analisamos
Ter uma empresa/ 1% cada um dos perfis encontrados na segmen-
Negócio próprio 3% 9%
tação, encontramos diferenças relevantes nos
1% sonhos futuros. Ainda que “terminar os estu-
Comprar Casa 2% 10% 3% dos”e“realização profissional”sejam sempre os
mais mencionados, há detalhes que merecem
Ganhar dinheiro 1% 10% 1%
destaque. Os Autoconfiantes concentram
3% suas respostas na conclusão dos estudos,
Não tenho ainda/Não Pensei 1% 0%
6% enquanto sonhos relativos ao trabalho e a
bens materiais são mencionados com mui-
Não sei/Não sabe 0% 0% 6% to mais frequência entre os Resignados.
À primeira vista, os Desesperançosos
descrevem sonhos similares aos Autocon-
fiantes, mas um olhar atento mostra que
eles são os únicos a dizer que não tem so-
nhos, ou que não sabem o que sonhar.
“O que eu quero ser é enge- “Não precisar depender de “De verdade eu não sei,
nheiro civil, vou me esforçar ninguém e poder fazer uma prefiro acreditar que o futuro
pra acabar meus estudos e viagem para fora do país. Não é uma caixinha de surpresa
poder fazer uma faculdade e uma coisa de luxo mas também e nunca sabemos quando
seguir com essa profissão que nada limitado.” vamos ter outra oportunidade
admiro muito.” (Homem, 20 anos, São Paulo, fora pra fazer algo.”
(Homem, 18 anos, fora da escola) da escola) (Mulher, 16 anos, Recife, aluna evadida)

P9. Qual o seu sonho para o seu futuro/para sua vida? RM


(Base: Puro 1 (Autoconfiante): 201/ Puro 2 (Resignado):
191 / Puro 3 (Desesperançoso): 248)
.32 .33
:: Prioridades em 05 anos

Ensino Fundamental Ensino Médio

Estar cursando a faculdade 34% 19% 57% 35% 12% 51%


Estar trabalhando em um em-
7% 18% 33% 6% 20% 39%
prego com um salário maior

Os sonhos ganham outros contornos Ter concluído a faculdade 13% 10% 29% 21% 9% 37%
quando os jovens são incentivados a
pensar em prazos específicos. Para os Ter concluído o EM 25% 28% 12% 17%
próximos 5 anos, há um destaque Encontrar um emprego,
maior para o que parece ser, para a qualquer um 25% 18%
maioria dos jovens, um futuro espe-
Formar uma família 24% 25%
rado: estar cursando ou concluído a
universidade. Esse desejo é similar entre Comprar uma casa/apartamento 23% 30%
adolescentes do Ensino Fundamental ou
Médio. Em um prazo maior, de 10 anos, Viajar, lazer 21% 21%
a principal prioridade de todos é, mais
Garantir a prosperidade material
uma vez, terminar a faculdade. Entre 15% 12%
para mim e a minha família
aqueles que já cursam o Ensino Médio,
essa prioridade perde força em rela- Criar um negócio próprio 13% 15%
ção a outras mais relativas à uma vida Comprar um carro ou outro
11% 14%
pós formatura: família, casa própria e bem ou propriedade de valor
emprego com bom salário. Estar fazendo pós-graduação 6% 10%

Ter concluído a pós-graduação 5% 6%


Continuar no mesmo emprego,
não tenho planos de mudar 4% 2% 1ª opção
2ª opção
Não tenho prioridade 3% 2%
3ª opção
Não sei 2% 1% Total

P11. Entre essas opções, qual


seria uma prioridade para da-
qui a 5 anos (curto prazo)? .
(Base: 1.510)

.34 .35
:: Prioridades em 10 anos
Ensino Fundamental Ensino Médio

Comprar uma casa/apartamento 10% 11% 36% 12% 18% 43%


Estar trabalhando em um
emprego com um salário maior 12% 12% 36% 10% 12% 31%
Após perguntar de maneira espontânea so-
Formar uma família 11% 13% 34% 10% 14% 38%
bre os sonhos e depois sobre prioridades de
Ter concluído a faculdade 22% 30% 18% 25% médio e longo prazo, estimulamos a escolha
de profissões entre os jovens. Aqui aparecem
Viajar, lazer 29% 30% novas diferenças relevantes entre os perfis

Comprar um carro ou outro Terminar a Autoconfiante, Resignado e Desesperançoso.


29% 29% Os Resignados se destacam pela menção a
bem ou propriedade de valor
faculdade é a ter um negócio próprio ou por “estar traba-
Criar um negócio próprio 26% 30% menção mais lhando em uma empresa”, ou seja, é o gru-
Ter concluído a
16% 13%
forte como po focado em um futuro que garanta ren-
pós-graduação
primeira da. Os Desesperançosos e Autoconfiantes
Garantir a prosperidade material
para mim e a minha família
16% 23% prioridade. mencionam níveis similares de profissões
tradicionais. O que diferencia os Deses-
Estar fazendo 15% 15% perançosos é o monopólio das menções a
pós-graduação
profissões de menor qualificação, que não
Estar cursando a faculdade 9% 4% exigem ensino superior.
Continuar no mesmo emprego,
não tenho planos de mudar 8% 7%
Encontrar um emprego,
qualquer um 6% 4%

1ª opção
Não tenho prioridade 4% 3%
2ª opção
Ter concluído o EM 3% 2%
3ª opção

Total
Não sei 3% 2%

P12. Entre essas opções, qual seria uma


prioridade para daqui a 10 anos (longo
prazo)? (Base: 1.510)
.36 .37
:: Escolha profissional

Trabalhando na área 22%


de medicina/saúde 17%
22%
Essa capacidade de sonhar o futuro pode ser Tocando um 14%
negócio próprio
28%
lida como um traço psicológico de cada ado- 11%
lescente da base da pirâmide. Há evidências, 10%
Trabalhando na
no entanto, de que o “viver aqui e agora” área de direito 10%
é uma construção a partir de estruturas
3%
sociais, relativas tanto à escolaridade dos Militar, marinha, a 8%
eronáutica, exército
3%
pais, ao dinamismo das redes de relações 4%
nas quais o jovem está inserido e à sen- 6%
Trabalhando na área de
sação de urgência que marca o cotidiano 6%
engenharia/arquitetura 9%
das famílias de menor renda. Em seu estu-
do sobre a “ralé” brasileira, o sociólogo Jessé 6%
Atleta 3%
de Souza aponta para o desafio de desen- 7%
volver um “pensamento prospectivo” em um 6%
Trabalhando na área de
ambiente de limitação de renda e poucos 1%
Educação 3%
exemplos8. Com isso em mente, nossas en-
trevistas das etapas qualitativas tiveram um 5%
Governo 5%
enfoque especial no entendimento de quais 2%
são os exemplos e referências desse público. Trabalhando com 4%
arte/cultura 3%
Os dados apontam para quatro grandes 4
grupos de referências e inspirações dos
Trabalhando em uma 4%
jovens: familiares, famosos, professores e 14%
empresa 8%
“ninguém”.
4%
Não sabe 2%
Autoconfiantes
6%
Computação/sistema/ 3%
8
SOUZA, Jessé (2009). A ralé brasileira: quem é e como vive. Resignados tecnologia 1%
Colaboração de André Grillo et al. Belo Horizonte: Editora da 5%
UFMG.
Desesperançosos Profissões qualificadas 3%
(exigem Ensino Superior) 3%
3%
P17. Em que profissão/ocupação você
gostaria de estar em 10 anos? (Base: 2%
Puro 1: 201/ Puro 2: 191 / Puro 3: 248) Profissões de menor 0%
qualificação 7%

.38 .39
:: Quem inspirou

Pai e/ou Mãe 43,9%


Família ampliada
(primos, tios, avós)
11,8%

Irmão(ã) 8,1%
Alguém famoso (Youtuber,
artista, político etc.) 5,2%
Professor 3,7%

Amigos fora da escola 2,6%


Em primeiro lugar, esses três grupos O esforço valorizado vem em duas di-
Amigos da escola 1,7%
Entre os jovens do aparecem com frequências muito dife- mensões: o trabalho que permitiu a
rentes. Os pais e a família estendida sobrevivência financeira da família e o
Filmes/programa de tv 1,6% perfil Desesperançoso,
são referências muito mais comuns esforço de cuidar:
Parceiro(a) (marido/
1,3%
82% dizem que não se para todos os jovens. São ainda mais “minha mãe que fez e ainda faz tudo por
mulher, namorado(a))
inspiram em ninguém mencionados entre os jovens de clas- nós.” (Homem, 22 anos, fora da escola, SP)
Liderança religiosa 0,3% para pensar em seus se C, indicando uma relação entre as
O segundo grupo de inspirações mais
condições econômicas da família e a
Livros 0,2%
sonhos. construção de referências para o futuro.
mencionado é o de famosos e conheci-
dos. A imagem associada às inspira-
Quando perguntados sobre o que torna
ções nesse perfil foi uma combinação
Vizinhos 0,1% essas pessoas inspiradoras, os atributos
de humildade e superação. Focando
desse público são relativos ao esforço
Liderança comunitária 0,1% na primeira, destaca-se a busca por al-
e à dedicação. A imagem do batalha-
guém de destaque com quem o jovem
dor é a que caracteriza a inspiração
Outros 7,4% possa se identificar. Os atributos valori-
dentro da família. Esse batalhador é
zados são acompanhados de descrições
Ninguém 24,7% acompanhado de afeto: quando nos-
sobre como, ao alcançarem o sucesso,
sos entrevistados enviavam fotos para
esses indivíduos inspiradores se manti-
exemplificar o significado do exemplo
veram com “os pés no chão”, ou “não
P9. Qual o seu sonho para o seu futu-
de um familiar, eles davam especial
esqueceram quem eram”.
ro/para sua vida? RM (Base: 1.510) P10. atenção a imagens de abraços, carinho,
Quem é a sua inspiração para pensar
nesse sonho? (Base: 1.510 ) momentos especiais.

.40 .41
“Apesar dele (Carlinhos Maia) ser rico, ele “Mesmo tendo sucesso e dinheiro, Whinderson
não deixou o dinheiro subir pra cabeça, ele Nunes nunca perdeu a sua essência e humildade.
continua sendo a mesma pessoa de antes.” Por isso ele é uma inspiração pra mim.”
(Mulher, 17 anos, fora da escola, Recife) (Homem, 17 anos, fora da escola, SP)

Essa identificação ocorre em uma dimen- ras foram mencionadas pelo teor das le- O último grupo de destaque citado como referência para o futuro, é aquele que
são externa à humildade e valorização do tras de suas canções, sobre vencer mo- inspiração para o sonho é o de professo- levava a sério as dificuldades do aluno,
lugar de onde vieram. Entre os entrevis- mentos de dificuldade. res. Mesmo que apareça para apenas 4% é capaz de dar atenção personalizada
tados negros, artistas que assumem um dos jovens, professores foram mencio- para cada um e ainda suporte emo-
Há aqui um elemento que será norte-
papel de liderança, representatividade e nados de forma espontânea em muitas cional em momentos de dificuldade.
ador de muitos dos desafios tratados
orgulho foram destacados. das conversas da etapa qualitativa. Eles Mesmo quem teve de abandonar os
pelo público da pesquisa. A busca por
trouxeram um outro elemento de ins- estudos citava professores que haviam
Em relação à imagem de otimismo e apoio em dificuldades pessoais foi ci-
piração, mais próximo da forma de dado conselhos, escutado e se esforçado
superação, outro atributo é destaca- tada ao longo de todo o estudo, inclu-
descrição dos familiares: o cuidado. para fazê-los desistir da ideia de sair da
do: a capacidade de sair de situações sive como um dos fatores a explicar o
O bom professor, lembrado como uma escola.
difíceis. Muitas cantoras citadas entre abandono escolar, que será tratado no
os exemplos de personagens inspirado- capítulo três.

“Ele [Rap Monster, integrante da banda BTS], me ensinou a me


amar”. “As músicas dele me inspiram a ser uma pessoa melhor, e
[Rihanna - história de vida inspiradora, mulher negra, conquis- me esforçar também em algo, o Rap Monster sempre fala frases em
tou espaço, usa sua imagem para o bem, levanta verbas atra- questão de se amar e também as músicas me inspiram, antes eu era
.42 vés de ONG, tem “discursos inspiradores e representativos”] uma garota bastante triste, mas agora eu melhorei bastante graças
“A Rihanna fala pela minoria, ela não nasceu no topo, ela construiu às músicas e o que o grupo em si fala”.
a carreira dela desde o “0” e com o crescimento dela nesse mundo (Mulher, 14 anos, Recife, aluna do 9ºano)
dos famosos, tudo o que um dia ela já viveu pode ser representa-
do. As pessoas pobres na qual ela ajuda, os projetos sociais que ela
planeja, ela fazendo coisas junto com a ONU, as milhares de crian-
“A música dela [cantora As músicas dela [cantora
ças que não teriam uma boa educação se não fosse ela, tudo isso
gospel Rayane Vanessa] gospel Priscila Alcântara]
mostra um pouco do que eu quero dizer. EU acho que os discursos
me inspira muito, fala me fazem enxergar grati-
que ela faz são inspiradores e representativos por causa disso, nós
palavras fortes, palavras dão até mesmo em tem-
temos alguém no topo falando por quem está embaixo, ou seja,
maravilhosas que eu fico pos difíceis, e me motivam
a minoria. E eu me inspiro nisso, sempre busco evoluir como ser
surpreendida” a ser melhor!”
humano através de pessoas assim”.
(Mulher, 15 anos, Recife, alu- (Mulher, 17 anos, 3º EM, SP)
(Mulher, 14 anos, São Paulo, aluna do 9ºano)
na 9ºano)

.42 .43
P16. Alguém te apoia neste plano?
(Só entre aqueles que apontaram uma
prioridade) (Base: Puro 1: 201/ Puro 2:

1.2 futuro
191 / Puro 3: 248)

profissional

81%
:: Quem te apoia no seu plano

77%
Autoconfiantes Resignados Desesperançosos

53%

13%
13%
11%

10%

6%
7%

5%
5%

5%
4%

3%
2%
1%

2%
3%
Pai e/ Amigos fora Amigos Professor Nunca falei Ninguém
ou Mãe da escola da escola desse plano me apoia
com ninguém
Quando falam sobre o futuro de forma Os jovens enxergam nos pais uma
genérica, os jovens mencionam referên- fonte de apoio para seus planos pro-
cias diversas, inspiração em familiares fissionais. Amigos dentro e fora da
batalhadores, famosos que superaram escola também são mencionados.
desafios sem perder a humildade e pro- Professores quase não são menciona-

85%
fessores que souberam acolhê-los em dos como fonte de apoio. :: Quem te inspira para pensar
momentos de dificuldade. No entanto, no trabalho

70%
Destaca-se, mais uma vez, a posição iso-
ao direcionar a conversa para o futu- lada daquele adolescente Desesperan-
Autoconfiantes Resignados Desesperançosos
ro profissional, há maior dificuldade çoso. Proporção relevante deles dizem

49%
de mencionar inspirações e desejos. não terem conversado com ninguém so-
A escolha de carreira indica a situação bre os planos do futuro – lembrando que
de vida atual dos estudantes, em relação é o perfil com mais menções de traba-

16%
15%
à sua estrutura familiar, rede de apoio e lhos de baixa qualificação. E 13% dizem

11%

10%
9%

7%

6%

9%
de como eles se sentem responsáveis não ter o apoio de ninguém nesse plano.

3%

1%
1%
0%

0%

0%

0%
por gerar renda para a família. O futuro profissional deles tampouco
teve alguém como fonte de inspiração.
Pai e/ Família Irmão(ã) Alguém Professor Ninguém
ou Mãe ampliada famoso
(primos, (Youtuber,
tios, avós) artista,
político etc.)
P19. Quem te inspirou a pensar neste
trabalho? (Base: Puro 1: 201/ Puro 2: 191
/ Puro 3: 248)

.44 .45
Duas outras motivações chamam aten- gal” – também genérico. Em um dos
Nos demais perfis, a família é uma fonte apoio dos pais, mas em menor grau
ção: “fazer o que gosto” e “fazer o que exercícios realizados no WhatsApp, pe-
de inspiração importante, mas em pro- os enxergam como um modelo a ser
vai me dar dinheiro”. Como esperado, díamos para os jovens recriarem um
porções diferentes. Para os Resignados, seguido. A ausência dos pais do campo
um perfil, Resignado, concentra a maior meme famoso em redes sociais. Bus-
os pais são um apoio e uma referência de inspirações fica mais latente quando
parte das resposta referentes às neces- cando fotos na internet, eles deveriam
profissional. Já os Autoconfiantes, que perguntados sobre as motivações para
sidades materiais. O gostar, dividido completar um quadro com “Como meus
costumam ter sonhos mais relaciona- escolher uma profissão. Menos de 10%
entre os dois outros perfis, pode ter pais gostariam que fosse meu futuro”,
dos a conquistas educacionais, têm o citam o desejo ou o exemplo dos pais.
significados distintos, a depender se o “como eu gostaria” e “como eu acho que
jovem sabe o que gosta, ou consegue vai ser”. Inúmeras respostas seguiram o
imaginar o que isso significa. exemplo abaixo. O jovem imagina que
:: O principal motivo para escolha da profissão é o desejo de traba- Os Autoconfiantes se motivam a esco- o desejo dos pais é simplesmente a for-
lhar com o que gostam. Quase não há menção à família como mo- lher uma profissão por um mix de ser o matura. Eles gostariam de “trabalhar
tivação, apesar de serem a principal fonte de inspiração e apoio. que gostam, possibilidade de ganhos com algo que eu gosto”, e, incentivados
financeiros e um nível relevante de a imaginar como realmente será, sen-
“ajudar a sociedade” (31%). Já os De- tem dificuldade de exemplificar.
:: Motivações É notável a diferença de como esse
sesperançosos dividem suas respostas,
após o “gostar” genérico, em ganhos exercício foi respondido por um jo-
vem que seria classificado no perfil
Porque é o que eu gosto de fazer 45% 21% 66% financeiros e ser algo que “parece le-
Resignado.
Porque vai me dar dinheiro 23% 17% 40%
Porque quero ajudar a sociedade/fazer 12% 10% 22%
a diferença na vida das pessoas
Porque parece ser legal 6% 13% 19% :: Motivações
É o que eu acho que Autoconfiantes Resignados Desesperançosos
consigo fazer/alcançar 3% 10% 13%

Porque é o que meu pai/mãe/ 7%


familiares acham que eu devo fazer 77%
70%
Porque é o que alguém da 65%
5%
minha família ampliada faz
44%
Porque é o que alguém famo-
so que eu admiro muito faz 4% 31% 33%
23% 19% 23%
Porque é o que meu pai/mãe faz 3% 9% 15% 11% 16% 14% 16%

Porque é o que um amigo faz 2%

Estabilidade / facilidade 1% É o que eu Porque parece Porque quero ajudar Porque Porque é o que
1ª opção acho que ser legal a sociedade/fazer a vai me dar eu gosto de
Porque é o que 2ª opção consigo diferença na vida das dinheiro fazer
1%
meu irmão(ã) faz fazer/alcançar pessoas
Total
Outros 2%
P18. Por que você escolheu esse trabalho? Qual P18. Por que você escolheu esse trabalho? Qual foi a principal razão? (Base: Puro 1 (Autoconfiante): 201/
Não sei 6% Puro 2 (Resignado): 191 / Puro 3 (Desesperançosos): 248) P18. E a segunda? Apenas entre quem respondeu
foi a principal razão? (Base: 1.510)
P18. E a segunda? Apenas entre quem respon- duas opções (Base: Puro 1 (Autoconfiante): 201/ Puro 2 (Resignado): 191 / Puro 3 (Desesperançosos): 248)
deu duas opções (Base: 1.414)

.46 .47
:: Para o Perfil Desesperançoso, mesmo “trabalhar com o que :: Imagem de profissões mais tradicionais e “de prestígio” são,
gosta” pode ser algo genérico e pouco concreto. Não sabem muitas vezes, associadas a atributos aspiracionais e distantes da
muito bem o que querem, logo, nem o que planejar. realidade (homem, branco, de terno e gravata).
Expectativa para o futuro Expectativa para o futuro

“Meus pais que-


Como Os pais gosta- riam que eu fosse Como
seus pais riam de vê-lo um empresário seus pais
gostariam formado bem sucedido e gostariam
de sucesso.” que fosse
que fosse

“E como realmen- “Eu gostaria de Como


Como você te vai ser eu não ser um advogado, você
gostaria sei, mas espero ajudar as pessoas gostaria que
que fosse que seja tudo do
jeito que planejo”
em seus direitos.” fosse

Como você Como você


acha que “Gostaria de “E acho que vou acha que
realmente trabalhar com ser barbeiro o realmente
será o que gosto” resto da vida” será

(Homem, 17 anos, fora da escola, SP) (Homem, 20 anos, fora da escola, SP)

.48 .49
Ao contrário do jovem Desesperanço- na busca deste objetivo. A sensação de Apesar da importância de analisar os estratégias e caminhos para alcançar
so, ele tem sonhos, e os seus sonhos capacidade, mais uma vez, responde perfis de alunos, e de como esses perfis objetivos de longo prazo. É importan-
são compatíveis com o que ele imagina aos diferentes perfis. Autoconfiantes podem ajudar a formular políticas pú- te ressaltar o papel da família, da escola
ser os sonhos de seus pais (sua princi- são majoritariamente seguros de que blicas e projetos de educação mais bem e de outras relações sociais no apoio na
pal referência). No entanto, de maneira alcançarão seus objetivos de longo pra- direcionados, há alguns fatores socioe- construção de sonhos, objetivos claros
pragmática, ou resignada, enxerga um zo. Resignados em sua grande maioria conômicos altamente correlacionados e formas de buscá-los. Os jovens que
futuro similar ao que vive hoje. sentem-se bastante capazes. E os Deses- com a sensação de capacidade. Jovens se sentem sozinhos na construção e
O que esses exercícios de construção perançosos concentram a percepção de das classes D e E e meninas são, em inspiração de seus objetivos – aque-
dos memes demonstram é a per- que não serão bem sucedidos em seus geral, menos confiantes de que conse- les com menos sonhos claros – não
cepção de incapacidade de chegar planos – o que mistura uma autoper- guirão alcançar seus sonhos. constroem estratégias claras para
em seus objetivos de longo prazo. cepção negativa com a falta de clareza alcançá-los. Metade dos Desespe-
Parte da confiança deriva de acessar
Os jovens, mesmo quando olham para de seus planos. rançosos nunca pensou nos caminhos
referências que ajudem a formular
um futuro melhor, sentem-se limitados para buscar seus objetivos, e quase 70%

30% 15%

:: Como se sentem em
relação ao alcance dos 51% Totalmente capaz
objetivos e sonhos 46% 90% 92% Bastante capaz
Um pouco capaz
Não me sinto
nada capaz

24% 31%
1% P13. Pensando nessa sua prioridade (número 1) de longo
prazo (daqui a 10 anos), o quanto você se considera capaz de
alcançá-la? (Só entre aqueles que apontaram uma prioridade)
1% 9% 8% 3% (Base: Total: 1.510 / Puro 1 (Autoconfiante): 201/ Puro 2 (Resig-
nado): 191 / Puro 3 (Desesperançoso): 248)

Total Autoconfiante Resignado Desesperançoso

.50 .51
nunca buscou informações. Os Resigna- gros (24% vs. 21% dos demais). De novo,
dos, que chegam a construir objetivos, os Desesperançosos concentram as res-
ainda que mais simples e concretos, postas relativas à falta de confiança: 5%
tampouco chegam a desenvolver uma :: Você tem um deles dizem não terem capacidade de
estratégia. Mais de 90% deles nunca plano para alcançar alcançar seus sonhos como sua principal
buscou informações sobre um plano de esse objetivo de dificuldade. Nos demais perfis, não che-
futuro. A situação se inverte entre os
longo prazo (daqui Autoconfiante Resignado Desesperançoso ga a 1% essa percepção.
Autoconfiantes – o que explica, em
a 10 anos)?
De onde vem essa sensação de que fal-
parte, porque eles também concen- ta orientação? Já vimos que os pais são
Ainda não pensei em
tram a percepção de que conseguirão como chegar lá.
11,1% 43,1% 48%
a principal fonte de apoio para os pla-
concretizar seus projetos de vida. nos dos jovens, com exceção de um dos
Tenho alguma ideia dos passos
Importante ressaltar a inexistência de que são necessários, mas nunca 7,2% 47,5% 26,8% perfis identificados. Professores apare-
fui atrás de nenhuma informação.
diferenças significativas para a busca de cem em níveis muito menores, abaixo
informações por fatores socioeconômi- Tenho alguma ideia dos inclusive de pessoas famosas como ins-
cos. Mesmo a idade dos entrevistados
passos que são necessários 39,9% 6,9% 19,6% piração para o futuro. A escola é vista
e já pesquisei um pouco.
não impacta o nível de resposta para como um caminho obrigatório rumo à
a opção “Tenho clareza do que fazer Tenho clareza do que eu tenho universidade, mas não como um espaço
que fazer para chegar lá.
41,8% 2,5% 5,6%
para chegar lá”. Por outro, a ausência de formulação de planos claros sobre o
de diferenças realça os desafios da co- futuro. Uma vez que ela é descrita como
munidade escolar e de outras políticas parte de um processo educacional, ela
públicas relacionadas a preparação perde o sentido para aqueles que não
:: Para o que a
dos jovens para o mundo do trabalho consideram continuar esse processo.
escola mais te
em desenvolver planos claros de futu- Lembremos que o principal sonho dos
prepara? Autoconfiante Resignado Desesperançoso
ro, uma vez que jovens de 17 a 19 anos jovens é terminar os estudos. Algo des-
têm a mesma (falta de) clareza sobre crito como sonho não é algo dado. Se o
caminhos que adolescentes de 14 a 16 Ter um bom emprego 53,2% 56,7% 49,6% jovem não imagina que necessariamen-
anos. Montar seu próprio negócio 16,7% 24,5% 18,6% te vai completar os estudos e ingressar
Estimulados a definir a principal difi- em uma universidade, e a escola serviria
Trabalhar com aquilo que
culdade para alcançar seus objetivos você mais gosta
41,4% 25,6% 36% apenas para isso, por que ele valorizaria
de longo prazo, os jovens acima de 17 sua educação básica?
anos apontam mais frequentemente a
Entrar na faculdade 53,8% 64,5% 63,6%
falta de orientação (26% vs. 22% entre Ser um cidadão que
conhece seus direitos
35% 28,4% 32,2%
os mais novos). A sensação de falta de
orientação também atinge mais os ne-

.52 .53
Um quarto dos estudantes de escolas
públicas não têm um espaço de deba- “Uma vez um grupo de alunos de psicologia da
te sobre planos do futuro e projeto de FAFIRE, uma faculdade bem conhecida aqui no
Recife, foi fazer uma palestra e foi muito válido
:: Principal
vida em suas escolas. Outros 30% têm
espaços não institucionalizados, ofere- pra mim. Eu estava com bastante dúvida se
dificuldade? cidos por iniciativa de algum professor
ou coordenador que acolhe os jovens,
queria mesmo cursar psicologia e essa pales-
tra me marcou muito! Eles tiraram todas as
de acordo com aquelas referências que dúvidas que tinha e me cativaram ainda mais.
discutimos no item anterior. 12% têm es- Eu acho muito importante a escola trazer esse
:: Não acho que paço de discussão sobre o futuro dentro
tipo de público, sabe? Serve meio que um es-
pelhamento, tipo ‘ah, essa pessoa conseguiu,
vou conseguir de outra disciplina. O restante tem um
então eu também consigo’.”
espaço específico para essa discussão.
:: Perfil Os jovens relatam algumas ativida- (Mulher, 17 anos, 3º EM, Recife)
Autoconfiantes 0,5% des realizadas em suas escolas, que os
apoiaram de alguma forma a definir um
Resignados 0,8% plano de futuro. Esses exemplos, pontu- “Na minha escola esse ano teve algumas pa-
4,2% ais, servem para ilustrar alguns caminhos lestras, mas a principal foi sobre a consciên-
Desesperançosos simples de como a escola pode apoiar as cia negra, que falava sobre todos devemos ser
famílias em situação de vulnerabilidade tratados da mesma forma independe da cor de
em algo que elas não conseguem entre- pele de cada pessoa e falando muito sobre
cultura, a principal para eu pensar no meu
:: Falta de gar de maneira integral aos seus filhos.
São, em geral, espaços que se diferencia- futuro foi sobre a consciência negra.”
orientação vam da rotina escolar, com participação (Homem, 17 anos, 3ºEM, SP)
dos alunos e relação com temas de seu
:: Idade
interesse. Mesmo que pequenos, lan-
14 a 16 anos 21,9% çam luz sobre formatos de participação
escolar na formação de uma estrutura
17 a 19 anos 25,9% “Eu sempre gostei de praticar esportes e a es-
de apoio ao jovem de baixa renda no
cola sempre tinha o os jogos escolares e as com-
seu planejamento de vida. petições de escolas contra escolas que eu tinha
:: Cor
A importância da escola na vida do jo- gosto de participar e com isso a escola mos-
Negros 24,1% trava um caminho a seguir na vida.”
vem vai ser determinada por quanto ela

Não negros 21,1% consegue indicar ter um papel relevante (Homem, 17 anos, fora da escola, Recife)
em seu futuro.

.54 .55
2.1 relação com
a escola

O espaço escolar é um espaço de so- caráter de socialização quanto pelos


cialização. Entre as atividades favoritas formatos e conteúdos das aulas, como
da escola, estão “ir às aulas” seguido de mostram os 17% que dizem ser as “aulas
encontrar os amigos. A atividade de ir à diferentes” sua atividade preferida.
aula pode ser preferida tanto pelo seu

:: Na escola, assistir às aulas e encontrar pessoas são as atividades

_02
favoritas – há menções sobre aulas em formatos diferentes.
Visão sobre a escola

escola e :: O que gostam de fazer na escola

aprendizagem 52%
48%
11% Trabalhos em grupo
6% Aulas mais participativas
5% Feira de ciências/mostra cultural
Esse capítulo visa explorar o que gera engajamen- 4% Trabalhos com o uso de tecnologia
to com a escola, quais formatos de aula facilitam
o processo de aprendizado e quais obstáculos os
jovens enxergam em sua relação com a escola. 17%
15%
Abordaremos também as reflexões dos jovens que 10%
6%
abandonaram os estudos, ressaltando aspectos 3% 4%
1%
pedagógicos e relacionais importantes para a per-
manência, assim como para o reingresso daqueles Assistir Encontrar Aulas Praticar Falar com os Comer Participar do Outros Nada
às aulas pessoas diferentes esportes professores merenda grêmio
que evadiram.
P21. O que você mais gosta de fazer na escola?
(Espontânea, RM)(Base: 1.510)

.56 .57
:: Formatos de aula mais importantes

Professor faz debates/con-


versas com os alunos sobre o 20% 16% 15% 51%
tema da aula

Professor fala ou escreve na


Dado que as aulas são o principal atrativo da lousa e os alunos anotam 31% 6% 6% 43%
escola, osalunos foram estimulados a indicar
seu formato de aula ideal para melhorar seu Professor propõe trabalhos/
pesquisas em grupo 11% 18% 10% 39%
aprendizado. O formato mais comum, de
aulas expositivas, é o indicado como mais
Professor passa problemas/
importante para o aprendizado por um exercícios para resolver na 13% 16% 7% 36%
terço dos estudantes, seguido de debates sala de aula

entre professor e alunos, exercícios em aula Professor leva materiais para


e trabalhos em grupo. uma aula prática 7% 10% 12% 30%

Destaca-se a baixa menção a formatos que


tragam conteúdos práticos, aulas em locais Professor dá aula em espaços
4% 7% 12% 23%
diferentes e mesmo o uso de materiais audio-
diferentes da sala de aula
1/3 cita aulas
visuais. Algumas razões podem ser apontadas.
Professor usa o computador
tradicionais como
8%
Em primeiro lugar, vemos uma dificuldade de na sala de aula
7% 18%
forma mais
os jovens imaginarem formatos distintos de
Professor associa o conteúdo
importante para
aula com os quais ele teve pouco ou nenhum
contato. As técnicas pedagógicas ditas mais
às questões da vida e do coti-
diano, com exemplos concretos
6% 9% 17% seu aprendizado.
tradicionais são as mais presentes nas escolas.
Além disso, veremos abaixo como os jovens Aulas com muita participação
dos alunos 4% 10% 17%
percebem a desorganização e a falta de disci-
1ª opção
plina como impedimentos para formatos de
Aulas em que resolvo pro- 2ª opção
aula diferentes da expositiva. blemas práticos 4% 6% 14%
3ª opção
Professor utiliza audiovisual, Total
facilitando a visualização do 4% 6% 14%
tema e a associação com
exemplos concreto
P27. Agora , você vai escolher os três formatos de aula de toda a lista que
são mais importantes/ que mais te ajudam a aprender e dizer aquele que
é mais importante em 1o lugar, o segundo mais importante e o terceiro
mais importante (Base: 1.510)

.58 .59
:: Perfil Desesperançoso valoriza formatos diferentes – mostrando falta
A valorização do que os jovens já conhe- gerais, que serão tratadas ao longo deste de identificação com a escola atual. Os Resignados também tendem a
cem é evidenciada no gráfico abaixo, capítulo, os jovens querem ter maior par- valorizar outros formatos
em que os itens considerados mais ticipação, mas não conhecem bem como
importantes são sempre aqueles que isso poderia ocorrer. Formatos de aula importantes para aprendizado
eles identificam como presentes em É interessante notar como os três perfis
suas escolas. Nos grupos de discussão, 1ª opção 2ª opção 3ª opção Total
identificados indicam a preferência pela
quando tratamos dos formatos de aula aula expositiva. No entanto, os Resigna-
e relacionamento com professores, as dos e Desesperançosos se diferenciam Autoconfiante Resignado Desesperançoso
formas mais participativas de aula eram dos Autoconfiantes na preferência de
valorizadas, mas desafios relacionados à outros formatos. Há um provável viés Professor fala ou escreve na 36% 8% 53% 27% 1% 31% 31% 10% 48%
infraestrutura precária, à falta de organi- de seleção, uma vez que aqueles que lousa e os alunos anotam
zação e disciplina e à falta de professores melhor julgam seu desempenho esco- Professor faz debates/
impediam sua boa realização. Em linhas lar defendem o modelo atual. conversas com os alunos 25% 15% 52% 21% 18% 61% 22% 12% 47%
sobre o tema da aula

Professor passa pro-


blemas/exercícios para 13% 27% 46% 11% 20% 39% 13% 12% 31%
resolver na sala de aula

Professor propõe traba- 5% 18% 45% 47%


lhos/pesquisas em grupo
38% 14%
:: Como você consi- Professor leva materiais
dera o seu próprio para uma aula prática
26% 27% 24%

desempenho em Professor associa o conteúdo


geral na escola? Autoconfiantes Resignados Desesperançosos
às questões da vida e do coti-
diano, com exemplos concretos
17% 14% 21%

Aulas em que resolvo 17% 7% 12%


problemas práticos
Excelente (vou bem em todas
as matérias)
20,9% 10,3% 11,3% Professor dá aula em espaços
diferentes da sala de aula 17% 25% 29%

Bom (vou bem em quase todas Aulas com muita 13% 17% 14%
participação dos alunos
as matérias) 42,4% 64% 51,3%
Professor utiliza audiovisual,
facilitando a visualização do 13% 12% 13%
Regular (vou bem em algumas, tema e a associação com
exemplos concretos
mas mal em outras matérias) 35,4% 24,1% 35,9%
Professor usa o computa-
dor na sala de aula 10% 22% 12%

Ruim (não vou bem na maioria


das matérias)
1,3% 1,5% 1,5%
P27. Agora , você vai escolher os três formatos de aula de toda a lista que são mais importantes/ que mais te ajudam a aprender e dizer
aquele que é mais importante em 1º lugar, o segundo mais importante e o terceiro mais importante (Base: Puro 1 (Autoconfiante): 201/
Puro 2 (Resignado): 191 / Puro 3 (Desesperançosos): 248)

.60 .61
:: Todos os formatos de aula que os jovens consideram importante têm em sua escola – no geral, formatos tradicio-
nais. Jovens não têm acesso ao uso de audiovisual, computador e aulas em espaços diferentes, mas também não
consideram importante.
Formatos de aula

O que é importante

Não é Importante, e
120 tem na escola
importante,
Professor passa
e tem problemas/exercí-
Aulas com muita cios para resolver Professor fala ou
participação dos na sala de aula escreve na lousa e os
alunos alunos anotam
Professor associa o
conteúdo às questões da Professor
O que tem na escola

leva materiais Professor pro-


vida e do cotidiano, com para uma aula põe trabalhos/ Professor faz de-
exemplos concretos prática pesquisas em bates/conversas
grupo com os alunos
Aulas em que re- sobre o tema da
solvo problemas aula
práticos
0 60
Professor utiliza au-
diovisual, facilitando
a visualização do
tema e a associa- Professor
ção com exemplos Professor usa
dá aula em
concretos o computa-
espaços
dor na sala
diferentes
de aula
da sala de
aula
Não é Importante,
importante, mas não tem na
e não tem escola
0

P26. Pensando no formato das suas aulas, me diga que tipos de aula você tem na sua escola. (Base: 1.510)
P27. Agora , você vai escolher os três formatos de aula de toda a lista que são mais importantes/ que mais te ajudam a aprender e dizer aquele
que é mais importante em 1º lugar, o segundo mais importante e o terceiro mais importante. (Base: 1.510)
.62 .63
Entretanto, a pesquisa qualitativa
apontava para pedidos de aulas di-
Jovens trazem ferentes das atuais, indicando uma
desinteresse possível contradição. Os jovens,

relacionado aos quando descreviam bons exemplos


de professores e aulas, destacavam
formatos “entediantes” sobretudo atividades práticas e alta

de aula: sempre iguais participação. A pergunta sobre for-


matos que poderiam ajudá-los a
e que não prendem aprender mais do que hoje apon- “Ter professores que chamem mais
sua atenção. ta para materiais (57%) e formatos a nossa atenção. O professor ao in-
(55%) inovadores. Entre os materiais, vés de só ficar passando texto, te-
uso de audiovisual e maior qualidade oria, sabe? Não, ele explicava, ele
gráfica dos livros didáticos se desta- interagia, ele fazia debate entre a
“(...) Esse negócio de ficar só cam. Entre os formatos, a relação com minha sala e a outra sala.”
naquilo de escrever escre- temas cotidianos. As falas dos en-
(Mulher, 17 anos, fora da escola, SP)
ver e ficar dentro da sala é trevistados mostram que não há
contradição: quando pensam em
entediante.”
formas de aprendizagem, os jovens
(Homem, 16 anos, fora da indicam que há espaço para inova-
escola, SP) ção em sala de aula. As respostas do
questionário quantitativo apenas As atividades
reforçam que esses formatos são práticas, como idas
Quando o professor não fica só
pouco conhecidos.
aos laboratórios e
dinâmicas em sala
As aulas imaginadas como poten-
na teoria, quando tem aulas ciais para melhorar o aprendizado
dinâmicas, a gente interage, têm duas grandes características: fo- de aula e entre salas
faz projetos. Assim fica mais gem de um formato “entediante” na
percepção dos alunos; e trazem a par-
estimulam os jovens.
interessante! Agora você só
chegar e sentar na carteira e ticipação como forma de aumentar a
escuta dos alunos.
saber que vai ter ficar copian-
do as coisas da lousa e só não
dá nem vontade”
(Mulher, 17 anos, fora da escola, SP)

.64 .65
Ao pensarem em aulas não entediantes, os
entrevistados descrevem dinamismo, con-
2.2 formatos de aula
teúdos práticos e uso de materiais diferentes “Meu professor de história do e gestão escolar
– de forma alinhada ao que vimos nos dados ano retrasado fazia músicas. E
quantitativos. Reforçando o argumento da
fazia a gente cantar, saudades.”
dificuldade de implantar técnicas que saiam (Homem, 17 anos, 3º EM, SP)
A combinação dos dados quantitativos sos entrevistados, em que os professores
da aula expositiva, estão tentativas mal exe- e qualitativos mostra o que os jovens tiram dúvidas, em que eles não têm ver-
cutadas por professores. “Uma aula dinâmica em que to-
querem dizer quando buscam aulas gonha de perguntar e expor dificuldades.
dos possam participar e expres-
Jovens relataram que a experiência com mais “interativas”. Somado ao desejo de Sendo assim, há uma pressão sobre a
sar suas dúvidas, poder questio-
aulas participativas tem muitos desafios nar, ter mais liberdade dentro maior participação, há uma demanda postura do professor, menos autoritário,
na estrutura atual da escola, destacando da sala de aula, expor suas opi- por escuta pelos professores. As aulas e também sobre o clima escolar.
problemas com a disciplina, infraestrutura niões. Algo que a gente aprenda participativas são aquelas, segundo nos-
e manejo dos educadores. Contudo, con- sem ser aquela coisa de sentado
sideram que a participação é essencial. Os na cadeira livro e cópia.”
entrevistados destacam a necessidade do (Mulher, 16 anos, fora da escola, SP)
diálogo em sala de aula acontecer em ter-
mos que eles possam se relacionar. “Uma aula que ‘fale a nossa lín-
Simultaneamente, ao pedirem essas aulas gua’, sabe? Somos jovens, então
com maior participação dos alunos, eles
geralmente estamos sempre :: Obstáculos ao aprendizado
animados e querendo algo que
indicam uma demanda por espaços para
nos acompanhe. Acho que seria
poderem tirar dúvidas e serem escutados
interessante: músicas, jograis, Bagunça/zoeira dos alunos nas aulas 68% 10% 78%
sobre suas dificuldades. Há uma mescla en- brincadeiras. Assim nós apren-
tre a vontade, de alguns, de terem espaços deríamos e ainda assim iríamos Falta de infraestrutura da escola 6% 19% 28%
de questionamento, e de outros de terem nos divertir.”
Falta de motivação dos professores 6% 14% 20%
espaços para expor dúvidas sem receio de (Homem, 17 anos, 3ºEM, Recife)
reprimendas dos professores. Aulas monótonas 5% 13% 18%
Resumindo, os jovens trazem demandas “Ter laboratórios de Química, Bio- Materiais didáticos (livros, apostilas) ruins 5% 12% 17%
de aulas diversas, desde tradicionais, mais logia, seria muito interessante. Só
conhecidas, às mais participativas. Por trás que na escola que eu estudava a Preconceito/bullying/violência 3% 12% 15%

destas demandas está a sinalização de gente foi para o laboratório uma


vez, e foi para brincar com mas- Falta de conhecimento dos professores 3%11% 14% 1ª opção
que querem aulas mais organizadas, 2ª opção
sinha. Gente de 15, 16 anos brin- Questões de segurança no entorno 8%
10%
maior disciplina dos colegas e acolhi- cando com massinha! Não pren- da escola - operações policiais aore- Total
mento de dúvidas e inseguranças. dor, tráfico de drogas
deu a nossa atenção em nada.”
(Mulher, 17 anos, fora da escola, SP) P31. Quais são as duas situações que mais atrapalham o
seu aprendizado na escola? Me diga a principal situação e
a segunda mais importante. (Base: 1.510)

.66 .67
Os conflitos entre os alunos e entre os jo-
vens e professores afetam o clima escolar
Quase 80% dos alunos dizem que a bagun-
e sensação de pertencimento à escola.
ça é sua principal barreira de aprendizado.
Questões de infraestrutura, de formatos
“É verdade né, na minha sala ti-
de aula e postura do professor aparecem “Não deveria mudar, eles assim bravos
nham uns arranca-rabo de aluno
em níveis muito menores, e sempre como já está bom, eles precisam ser rígidos
(a) e professor. Quase todos os
segunda resposta. O clima escolar em com alguns alunos”
dias, principalmente com o profes-
geral, que inclui a bagunça e conflitos
(Homem, 14 anos, 9º ano, SP) sor de matemática. Era muito feio.”
entre professores e alunos, foi men-
(Homem, 17 anos, fora da escola, SP)
cionado em diversos momentos das
conversas por WhatsApp. O efeito é uma A diretoria seria para punir aqueles
sensação de mal estar por ir à escola – o que não querem nada, para resolver
que é um preditor relevante do abandono a situação da escola e para ver o que “As salas também eram divididas
escolar. A descrição desses conflitos entre está errado e o que está certo. Os alu- em grupinhos, então a sala não era
professores e alunos foi mais forte entre nos viam ele [diretor] como um nada. unida. Os professores não separa-
os jovens fora da escola. Era pra ele ser mais rígido com os vam os grupinhos. Então tinha muito
alunos, dar uma palavra e era aquela grupinho de amizade e quem não
O clima escolar descrito como caótico
palavra.” gostava disso acabava ficando so-
por nossos entrevistados incentiva a
zinho. Também foi uma das coisas
defesa de uma gestão escolar mais rí- (Mulher, 18 anos, fora da escola, Recife) que eu não estava aguentando
gida. A busca por maior disciplina é
mais.
parte de uma demanda por um clima
(Mulher, 16 anos, fora da escola, SP)
escolar mais pacífico e organizado. “Na minha tinha muito. Uns alunos
Sem boa convivência, não há como bravos querendo ser mais que o profes-
a escola oferecer o espaço de acolhi- sor dentro da sala. É tem sempre algum “Outra coisa que poderia mudar é o
mento e escuta que os alunos pedem. amostradinho que quer mandar na sala. jeito que o professor e o aluno se
Quando pedidos para descrever a esco- Tinha professor que ficava calado, tratam”
la ideal por WhatsApp, e comentar nas mas outros revidavam com a mesma (Homem, 16 anos, fora da escola, SP)
ideias dos demais entrevistados, o pa- ignorância.”
pel da gestão escolar mostrava poucas (Homem, 17 anos, fora da escola, Recife
“Exato, parece que é tradição”
mudanças em relação ao que os adoles-
(Homem, 17 anos, fora da escola,
centes já conhecem.
Recife)

.68 .69
As palavras e imagens enviadas indica-
vam a importância de uma gestão escolar
que valorize: ordem, disciplina, respeito,
“Acredito que toda escola tenha que
organização e rigidez. Como, então, essa
ter [diretoria]. É fundamental para descrição dialoga com a demanda por au-
pôr ordem e regras numa escola” las participativas e escuta?

(Mulher, 18 anos, fora da escola, Recife) Ao longo dos painéis de WhatsApp, e nas
etnografias com adolescentes, reforçou-
-se a percepção a escola como um espaço
de isolamento e pouco diálogo. Assim
“Que seja legal com os alunos e que como o professor autoritário, um clima
ajude eles no que precisarem, mas escolar de bagunça e bullying também
não deixa espaço para mais diálogo. Há
que não passe a mão na cabeça quan- uma valorização pouco imaginativa dos
do ele estiver errado” formatos que os alunos já conhecem (au-
(Mulher, 14 anos, 9º ano, Recife) las expositivas e direção autoritária) e um
pedido para uma escola mais organizada
e com melhores espaços de convivên-
cia, com menos conflitos entre alunos, e
“Se um dia eu fosse para a aula, o que entre alunos e professores, em que haja
teria de diferente seria mais discipli- espaço para tirar dúvidas e pedir ajuda.
na, teria mais ordem. As aulas seriam No entanto, para que esses espaços
as mesmas, mas seria mais organi- e formatos mais plurais sejam valo-
rizados, é necessário que sejam bem
zado, não seria essa bagunça de implantados, sob risco de perderem a
ter aula vaga todos os dias, o ensi- validade entre os alunos. O que os en-
no seria melhor” trevistados nos dizem é que, sem uma
escola funcionando minimamente, não
(Homem, fora da escola 16 anos, São Paulo) há espaços para outras inovações.

.70 .71
9%
Não interajo de nenhuma forma
8%

Sou uma pessoa que apenas vê/lê os 41%


conteúdos e postagens na internet 33%

:: Interação na Além de ver/ler eu sou do tipo que

2.3 Internet e Internet compartilha/encaminha conteúdos/


29%
35%
postagens deoutras pessoas
Aprendizagem Além de ver e compartilhar, eu sou do tipo
14%
quetambém comenta e expressa opiniões
20%
na internet (por meio de comentários e

Além de maior organização e de um am-


biente menos conflituoso e com maior Além de ver, compartilhar e comentar, eu
6% 14 a 16 anos
tambémproduzo/contribuo com conteúdos/
espaço de escuta e acolhimento, os jovens 3%
postagensminhas (faço vídeos, tiro foto 17 a 19 anos
também discutiram o uso de tecnologias
como forma de aprendizado, dentro e
fora da escola. Veremos que a internet
é um espaço de recreação com maior
frequência que um espaço de apren-
dizagem: o uso da internet pelos jovens
:: Temas que mais fazem interagir
49%
é principalmente recreativo e a maioria
42% 44,4%
interage pouco nas redes (cerca de 40% 42%
apenas vê/lê os conteúdos e postagens 14 a 16 anos
na internet), sendo que piadas e memes 17 a 19 anos
fazem com que os jovens interajam mais.
20,2%
As escolas, atualmente, ainda não 18% 16%
14,7% 14% 15%
incentivam um uso direcionado de so- 11,8% 11%
luções digitais para a educação, o que 9% 9%
é percebido pelos jovens. 2% 1%

Piadas/ Esporte Cursos Educação e Trabalho Política Outros Nenhum/


Memes e cultura técnicos / aprendizagem nada
profissões /
futuro

P60. Como você classificaria a sua interação (a forma como você participa) na internet? (Apenas entre
quem tem acesso à internet) (Base: 1.492)
P61. Quais temas te fazem interagir/participar mais na internet? (Apenas entre quem tem acesso à
internet e que interage de alguma forma) (RM, Espontânea, Base: 1.367)

.72
.72 .73
O padrão de não-utilização do meio digital na dos alunos considera que os estudantes seriam
escola é ainda mais forte entre alunos das clas- responsáveis no uso, caso houvesse liberação
ses D e E, e entre os mais jovens (14 a 16 anos). da internet no espaço escolar. Esse número cai
Esses dois grupos, provavelmente por falta de para 16% entre os mais novos e 14% entre os
acesso, são os que mais concordam com a proi- jovens das classes D e E.
bição do uso de celular na escola. Apenas 19%

:: Na escola os professores usam :: A escola proíbe ou permite o uso de


internet durante as aulas? celular/internet na sala de aula?

Não tem internet


na minha escola
4,3% 10,4% Sim, mas
quase nunca
A escola permite, mas os
professores proíbem 3,6%
A escola proíbe,
9,1% mas os professo-
res permitem

A escola
proíbe
Sim, às vezes
Não usam P60. Como você classificaria a sua in-
74,9% 12,5%
38,8% 36,4% teração (a forma como você participa)
na internet? (Apenas entre quem tem
acesso à internet) (Base: 1.492)
P68. Na sua escola os professores usam A escola
a internet durante as aulas? (Base: permite e os
1.510 / Classe C: 1.026/Classe D-E: 484) professores
P69. A escola proíbe ou permite uso de também
celular/internet na sala de aula? (Base:
1.510 / Classe C: 1.026/Classe D-E: 484)
permitem
Espontânea, Base: 1.367)
Sim, sempre 10,2%
81%
72%
41%
37% 36% 38%
Classe C
Classe C Classe D-E
Classe D-E

12%
12% 10% 13%
7% 10% 11%
4% 4% 6% 4%
2%

Sim, mas quase Não usam Não tem inter- A escola A escola proíbe, A escola A escola permite
Sim, Sim, proíbe mas os professo- permite, mas os pro- e os professores
sempre às vezes nunca net na minha
escola res permitem fessores proíbem também permitem.

.74 .75
Nota-se aqui como os alunos C, D e E não no primeiro capítulo), os jovens buscas-
confiam na sua proficiência e respon- sem reforçar o papel da escola de um
sabilidade de uso da internet em sala imaginário de como era antigamente9.
de aula, ainda que tenham o Youtube e A preferência pelo livro, em relação ao
“Pouca [tecnologia], acre- “Seria meio a meio, os alunos outras redes sociais como algumas de uso da internet é colocada em dois ar-
dito que aprender à moda poderiam usar a internet para suas principais fontes de informações gumentos. De um lado, muitos jovens
antiga é o jeito mais saudá- fazer alguma atividade com a sobre seus interesses. De forma análoga não se sentem preparados para realizar
vel nos dias de hoje.” supervisão de um professor, à valorização da aula expositiva, nossos pesquisas sem apoio dos professores.
(Mulher, 18 anos, fora da escola, estando ali para orientá-los.” entrevistados parecem prestigiar formas A rejeição ao uso de tecnologia na sua
Recife) (Homem, 20 anos, de Recife, estu- ditas mais tradicionais de ensino – as for- educação mascara a falta de confiança
dou até o 1º ano do Ensino Médio) mas que conhecem e que parecem mais de estudar de forma autônoma.
organizadas.
9
É como se, com a sensação de que a escola Em estudo sobre o conservadorismo no Brasil, a Pla-
no CDE identificou um imaginário do passado como
não os está preparando para os desafios traço predominante entre pessoas politicamente
:: Se liberasse internet na escola, os alunos que enfrentarão fora dali (como vimos moderadas de renda média no Brasil (http://bit.ly/
conservadores2019)
estariam preparados para usar com
responsabilidade?

86,5%
78,6%
Classe C

Classe D-E

21,4%
“Eu gostaria que tivesse pouca [tecnologia], só nos
13,5% dias exatos. Porque eu amo livro, só que lá tem mais
computador do que livro. A maioria tudo pifado.
Prefiro a gente passar meia hora lendo e entenden-
SIM NÃO do o que está lendo do que a gente pesquisar e em
um segundo aparecer a resposta.”
P70. Se liberasse internet na escola, você acha que os alunos estariam
preparados para usar com responsabilidade? (Base: 1.510 / Classe C: (Mulher, 17 anos, fora da escola, Recife)
1.026/Classe D-E: 484)

.76 .77
“No caderno você tem que procurar.
Na internet é muito facilitado. Você
pesquisa e já dá a resposta. No livro
De outro, jovens com maior proficiência di- você tem que ler tudo para achar deter-
gital apontam o oposto: a educação mais minada coisa que você está procurando
tradicional exige do aluno a pesquisa, en-
para fazer uma lição.”
quanto na internet ele encontra tudo com
muita facilidade. (Homem, 17 anos, fora da escola, SP)

Destaca-se que o letramento digital não


é distribuído igualmente entre os grupos.
43% dos jovens D e E não se consideram to-
talmente aptos no uso da internet, frente a :: Dificuldade na Internet
32% dos jovens de classe C. Meninas tam-
bém com maior frequência dizem não ter Classe C Classe D-E
proficiência digital (38% vs. 32% entre me-
ninos).

Há, portanto, o potencial de encontrar


67,8%
formas de integração digital das escolas
57,8%
que levem em conta as dificuldades e in-
seguranças dos jovens, e dos professores.
35%
28,8%
O mau uso das soluções digitais trará rejei-
ção por parte dos alunos.
3,4% 7,1%

Consigo fazer tudo o Tenho dúvidas Tenho muitas dificuldades em


que preciso sem difi- sobre alguns usos vários usos da internet
culdades

P59. Como você classifica seu uso, em relação à


dificuldade, na internet? (Apenas entre quem têm
acesso à internet) (Base: 1.510 / Classe C: 1.026/
Classe D-E: 484)

.78 .79
2.3.1
Cursos online :: Já fez algum curso pela Internet?

A realidade dos jovens C, D e E não in-


51,4%
clui cursos online como parte de seus
repertórios. Mais da metade deles, quando 43,2%
estimulados, não considerariam formatos
EAD. Apenas 6% já realizou alguma vez.
A baixa consideração dos cursos online cha-
ma mais atenção quando consideramos que
1/4 dos jovens gostaria de realizar cursos em
seu tempo livre.

As razões para esse distanciamento se ex-


primem em contradições semelhantes
6,2%
às já descritas anteriormente. Os jovens
apreciam a flexibilidade oferecida, mas
duvidam da própria capacidade de esta-
rem atentos no ambiente online. Sim Nunca fez, mas Nunca fez e não
consideraria consideraria
Dois terços dizem ter conexão com veloci-
dade suficiente para a realização de cursos
online. No entanto, entre 45% e 60% dizem
sentir falta da interação com professores
ou incapazes de estudarem sozinhos.

P65. Você alguma vez já fez um curso pela internet (considere um curso completo, com uma sequência de aulas e cer-
tificado)? (Base: 1.510) P67. Você consideraria fazer um curso pela Internet? (Base: 1.510)

.80 .81
14,6%
26,2%
39,3%
26,0%
45%
:: Percepção 60% 18,9%

sobre cursos
20,5%
22,7%
21,8%

online 18,5%
59%
36,7% 33,1%
21,7%

Cursos online não me atraem Aulas de cursos online costu- Cursos online não me inte-
porque eu prefiro interagir com mam ser mais interessantes que ressam pois não gosto de
um professor de verdade as aulas tradicionais da escola estudar sozinho
Concordo
Totalmente

Concordo
Parcialmente 16,8%
30,5%
Discordo 35,3%
16,5%
Parcialmente
21,9%
65% 62%
Discordo
34,1% 26,3%
Totalmente

67% 19,2%
44,8% 16,1%

19,3% 19,3%

Para mim seria difícil fazer Fazer cursos online parece Nos cursos online é difícil man-
cursos online pois minha uma boa ideia pois são mais ter a concentração (é fácil se
internet não é boa flexíveis ao meu horário dispersar)

.82 .83
:: Meios de acesso à internet
2.3.2
Internet para
87%
aprendizagem Celular próprio (em casa)
92%
fora da escola Celular próprio (usando 22%
pacote de dados) 22%
15%
Computador/notebook em casa
23%
Ainda que o uso de internet dentro da escola
Celular de outra pessoa (em casa) 7%
seja limitado e que a maioria não considere 3%
fazer cursos online, os jovens usam muito
a internet, inclusive para aprender sobre Computador/notebook na escola 3% Entre os que
4%
temas não tratados em sala de aula. Para utilizam o celular,
3% 80% acessam a
explorar a forma como a internet se inse- Lan house
1%
re como espaço de aprendizagem fora da internet apenas no
escola, devemos entender a forma de con-
Celular de outra pessoa 2% Wi-Fi de casa.
(usando pacote de dados) 1%
sumo de internet deste público. O principal
Computador compartilhado em 1%
meio de acesso é o celular, dentro de casa.
80% dos jovens que utilizam o celular para
espaços públicos 1%
navegar o fazem apenas pelo wi-fi de casa. Não tenho acesso à internet 1% 14 a 16 anos
A velocidade de conexão por esse meio é 0%
17 a 19 anos
considerada inadequada por 16% deles. Outros 1%
1%

P54. Por quais meios você acessa internet? ? (RM)(Base:


1.510 / Capital: 1.057, Interior: 453)

.84 .85
Aqui já é possível apontar um grande Esse comportamento apareceu em nos-
desafio da inclusão digital na base da pi-
râmide. Com o consumo concentrado
so estudo. O uso é monopolizado por
redes sociais e canais de vídeo, em espe- Jovens
no telefone, diversas possibilidades cial o WhatsApp e o Youtube, com poucas
consideram
redes sociais
do acesso à internet são limitadas, seja diferenças pela idade dos alunos entrevis-
por formato de tela ou por capacidade de tados. “Ontem e hoje acessei bastante o
processamento. A vantagem da mobilida-
de do celular também é perdida quando
O consumo de cada rede social mostrou
potencial diverso. Redes como Instagram,
um vício. Instagram, confesso que sou meio
viciada kkkkkkk”
o acesso se dá principalmente de casa. (Mulher, 17 anos, 3ºEM, SP)
Facebook e WhatsApp são utilizadas para
Estudos mostram o impacto negativo do manter contato com amigos e troca de
acesso exclusivamente mobile, com ên- memes, vídeos engraçados e piadas. O
“Eu sou no Instagram 24 horas
fase nos diferentes usos da internet por Pinterest foi citado pelos que já trabalham,
por dia kkkkk amo ver rico mel-
grupos de alunos privilegiados ou da base como fonte de inspiração profissional, es- quiades, Carlinhos Maia e todos os
da pirâmide9. Basicamente, a internet, pecialmente nas áreas de estética.
“Hoje fiquei praticamente o personagem da vila”
nos grupos de menor renda e escolari- dia todo no Whatsapp no (Mulher, 17 anos, fora da escola, Recife)
Já o Youtube, também citado como fon- Instagram e no Facebook
dade, é um espaço de lazer, com menor
te de entretenimento, foi a única rede sou viciado nessas redes
alcance de seu potencial transformador
em que temas educativos surgiram es- Passo não muito tempo , tenho
de acesso a ferramentas de pesquisa, sociais, também acessei o
pontaneamente, na forma de busca de minha obrigações mas se pu-
educação etc10. YouTube e também sou vi-
revisão de conteúdos da escola. desse passava todo tempo
ciado no Spotify, aplicativo
de ouvir música.” kkkk.”
10
Philip M. Napoli & Jonathan A. Obar (2014) The Emerging Mobile Internet Underclass: A Critique of Mobile Internet Access, The Information (Homem, 17 anos, 3ºEM, SP) (Mulher, 18 anos, fora da escola, Recife)
Society, 30:5, 323-334, DOI: 10.1080/01972243.2014.944726.
11
OECD (2016), “Are there differences in how advantaged and disadvantaged students use the Internet?”, PISA in Focus, No. 64, OECD Pu-
blishing, Paris, https://doi.org/10.1787/5jlv8zq6hw43-en.

Favorito para seguir Assistem vídeos que Comunicação com Acompanham vídeos
engraçados, memes Buscam referências e
famosos, ver vídeos os interessam, fil- a família e amigos,
e curtem e comparti- ideias de decoração,
de humor e saber das mes, veem tutoriais, além de grupos da
lham notícias pesso- moda, receitas.
notícias. revisões de matérias. família, da igreja e
ais com os amigos. Há uso profissional.
de amigos.

.86 .87
No entanto, a busca ativa por conteú-
dos de educação, via Youtube, é uma
:: Principais interesses dos jovens fora da escola estão relacio-
exceção em um consumo de internet
nados a cultura e esporte, mas também há diversos interesses
prioritariamente passivo. Além dos
ligados a conhecimentos e disciplinas escolares.
feeds de notícia das redes sociais, a prin-
“E hoje acompanhei cipal fonte de informações é o painel de
notificações do sistema Android (Goo-
umas notícias no gle Notícias). :: Interesses fora da escola
Google e fui ver o Uma diferença entre os maiores de 18
resultado de alguns anos, que não concluíram o Ensino Mé-
27% Música
jogos.” dio, é o maior enfoque em temas do
23% Esportes/Fitness
seu dia-a-dia familiar ou de trabalho. Há
(Homem, 19 anos, fora da 12% Dança 14% Política/história/socida-
escola, SP) uma procura por dicas sobre cuidados
6% Pintura/Grafite de/Economia
de crianças e tutoriais técnicos sobre 51,4% 5% Literatura/Poesia 10% Biologia/saúde
seus trabalhos, no Youtube, Instagram e 8% Ciências/física/astrono-
Pinterest. mia/química
8% Matemática
7% Línguas
2.3.1 Interesses dos 36,1%
jovens fora da 33,7%
escola e a internet 12% Computação/games
12% Fotografia/vídeo/filmagem
“Eu acompanho Enquanto demonstram um compor- 8% Moda

muitos story no Ins- tamento majoritariamente passivo na 6% Alimentação/gastronomia

tagram, vejo notí- internet, os jovens não deixam de ter


interesses em temas que não estão na
cias de quase tudo escola. O principal deles são temas de 7,8%
que acontece nas cultura e esporte, citados por meta-
2,1% 1,8% 3,0%
redes sociais.” de dos adolescentes. Em seguida, os 0,4%
temas mais citados são diretamente re-
(Homem, 19 anos, fora da
lacionados a conteúdos educacionais
escola, SP) Cultura e Relacio- Interesses Religião Internet Viagens/ Temas so- Nada
(36%, pulverizados em assuntos como esporte nados a diversos passeios ciais/
disciplinas / Cursos, atualidades
“história”, “biologia” etc.), ou a profis- escolares profissões,
sões, cursos, interesses no futuro (34%), futuro
incluindo aí computação, fotografia,
moda, entre outros. P44. Fora da escola sobre que tipos de coisas/assuntos você gosta de aprender? Considere assuntos sobre os quais você gosta
de ler em casa, discutir com os amigos, ver programas de TV, ver vídeos na internet, pesquisar na internet etc.) RM. (Base: 1.510)

.88 .89
:: Onde busca informações sobre interesses

Internet (Google, sites especializados) 61,2%


Youtube 34,5%
Canais de TV 15,8%
Livros/revistas 12,2%
A dificuldade de busca mais ativa
destes jovens na internet se mostra Conversando com pessoas que
entendem desses assuntos 5,8%
mais uma vez quando perguntados so-
bre onde buscam informações sobre Em grupos de Whatsapp 4,2%
esses temas que eles mesmos dizem
Espaços esportivos 3,5%
se interessar. 60% cita genericamente
o Google, contra um terço que busca Em grupos do Facebook 3,0%
informações no Youtube. Sigo páginas específicas 2,7%
Felipe
O Youtube como fonte de informações Em espaços culturais 2,1%
se destaca devido a algumas caracterís-
Neto
Sigo pessoas específicas 2,0%
ticas de seus canais. Em primeiro lugar, Débora
a busca é por temas específicos, di- Igreja/espaço religioso 2,0%
recionados a alguma necessidade
Aladim
Em casa/com familiares 1,8%
pontual do jovem (revisão para pro-
Em projetos sociais/Espaços
Descomplica
vas, tutoriais profissionais, ou algo do comunitários do meu bairro 1,6%
gênero). Somado a isso, há três atribu- Fatos
tos de diferenciação: Cursos online 1,3% desconhecidos
Cursos presenciais 1,1%
Whinderson
Conteúdos em plataformas
de streaming 0,6% Nunes
Podcasts 0,6%
Escola/professores 0,3%
Na rua 0,2%
Nenhum 3,0% P46. Fora da escola, em quais espaços e plataformas você
costuma aprender sobre estes assuntos? (Base: 1.510 )

.90 .91
“É uma versão simplificada do que preciso saber.
Tem quase uma hora de duração, mas se fosse assis- :: didática
tir vídeo por vídeo de cada conteúdo que ela ensina
iria demorar muito mais que isso. E eu tenho pouco o “passo a passo” típico dos canais
educativos, em formato de tutorial, é
tempo. Gostei da praticidade do vídeo”. um atrativo.
(Mulher, 14 anos, 9º ano, SP)

“Coisas para aprender é só no Youtube que


eu busco. Eu vou passando os vídeos e o que
estiver mais explicado, que der mais para enten-
der eu vou lá e clico.”
(Mulher, 17 anos, fora da escola, Recife)
:: praticidade e rapidez
“Sempre que não sei de algo pesquiso no YouTube os vídeos são curtos e condensados.
Eles respondem à urgência da busca
e sempre me ajuda muito, mas também quando eu por conteúdos (que ocorre no mo-
não preciso de nada sempre assisto vídeos de coi- mento em que precisam de algo).
sas que me interessam, como empreendedorismo,
investimento, bolsa de valores, como eu faço pra
morar em outro país, então eu tenho o YouTube
como uma ferramenta de aprendizagem diária”
(Homem, 19 anos, fora da escola, Recife)

“Gosto de usar o YouTube pra tirar minhas dú-


:: comunicação
vidas vejo vários tutoriais lá, ensina bastante.”
(Homem, 20 anos, fora da escola, Recife) os youtubers costumam ser jovens
como os espectadores, e falam em
uma linguagem mais acessível.

.92 .93
“Esse também é um dos instas que mais curto pra es-
Acessam, via tudo, tem muuuitas dicas pra ENEM e outros vesti-
bulares, às vezes eles colocam perguntas e respos-
Instagram e Descomplica, QG do tas nos stories, e tiram algumas dúvidas.
Youtube, algumas ENEM, Vai cair no (Mulher, 17 anos, 3ºEM, SP)

páginas para se Enem, Sala do saber “O Guia do estudante é uma das minhas plataformas
prepararem, com oficial, Trilha do ENEM,
Guia do Estudante.
preferidas, além dela oferecer material de estudo,
há também testes vocacionais, dicas sobre univer-
dicas, resumos e sidades e seus vestibulares. E também milhares de
materiais: dicas em geral, sobre tudo aquilo que um estudan-
te deve saber.”
(Mulher, 17 anos, 3ºEM, SP)

O Youtube se diferencia de outras fontes de conteúdo saíram. Os alunos, especialmente no Ensino Médio, se
online por essa facilidade de entendimento entre co- dedicam a tutoriais de reforço escolar, listando uma sé-
municador e seus espectadores. A identificação da rie de canais especializados.
linguagem torna a digestão do conteúdo mais fácil Já para os jovens que abandonaram os estudos, podemos
e o vídeo mais atrativo. Mas essa simplicidade de lin- ver três usos distintos:
guagem limita o uso da ferramenta a uma espécie de :: Incrementos no currículo (inglês e informática);
reforço escolar. :: Aprendizados específicos sobre suas profissões;
Os usos do Youtube como fonte de informação se divi- :: Dúvidas / cuidado com filhos;
dem entre os jovens que estão na escola e aqueles que Para os dois grupos, há ainda buscas de tutoriais de jogos.

“Geralmente jovem se dá bem com


jovem, porque a gente fala a mesma
língua, eles sabem gíria, esses ne-
Uso das mesmas expres-
sões, exemplos de séries,
Se reconhecem
gócios. Não que pessoas de outras
de memes e de músicas no formato e
idades não saibam, mas acho que
a gente se comunica melhor. Ela dá que gostam gera aproxi- linguagem.
exemplos mais aproximados do nos- mação e identificação.
so dia a dia”
(Homem, 17 anos, 3º EM, Recife)

.94 .95
Aprendizagem mais relacionada às
necessidades práticas do dia a dia :: Aprendizagem
dos jovens fora da escola. online

“Cada vídeo [aulas de inglês] é uma Ryan, 17 anos, mora em Sete Praias, bairro entre
Aprender aula diferente, tem lives também, é São Paulo e Diadema com a mãe, em uma casa
inglês/ bem legal” [Usa o Google para pesqui- emprestada. Trabalha como assistente de cabe-
informática sar significados de palavras.] leireiro em um salão.
(Homem, 16 anos, fora da escola, SP)
Parou de estudar com 15 anos para ajudar sua
mãe a complementar a renda em casa: “Aca-
“Eu estou pesquisando por um curso so-
bou que foi pesando. Não tinha mais condições
Cursos e bre maquiagem, pois é algo que eu gos-
de ficar na escola precisando de dinheiro. Só
aprendizados to e tenho interesse em aprender mais,
minha mãe não dava”.
relacionados então assisti muitooooos tutoriais sobre
ao trabalho maquiagem.“
Passou a ficar mais tempo no salão e Como há muitos vídeos do tipo, ele não
Mulher, 22 anos, fora da escola, SP) não tinha mais como conciliar com a es- se prende a um canal. Para memorizar
cola. A escola foi atrás de Ryan e de sua bem o que aprende, ele utiliza um ca-
“Quando tenho alguma dúvida entro mãe: “Eles tentaram apoiar, pediram derno onde escreve a frase original e
pra aguentar mais um pouco, tentar de a tradução.
Dúvidas/ no Google e no YouTube, busco dicas
outras maneiras continuar estudan-
Cuidado para cuidar melhor da minha filha de 6
do, que estudando é melhor, mas não
Sobre ensino à distância, afirma que
com filhos meses”
teve condições”.
prefere presencial, quando se trata
(Mulher, 21 anos, fora da escola, SP) de terminar os anos escolares: “Em
Começou a estudar inglês pelo You- casa você não fica focado”. Apesar dis-
tube, para se comunicar com pessoas so, ele mesmo estuda inglês em casa
“Tenho dificuldade e no Youtube tem pela internet. Buscou vídeos de aulas de – está mais relacionado ao interesse do
Dúvidas/ tutorial completo. Gente que já jogou inglês e escolheu “vídeos que eu acho que foco.
tutoriais o jogo e posta os vídeos no canal deles, mais fácil, que aparece a frase e como
de jogos é muito bom isso” você tem que dizer ela”. Por exemplo:
“500 frases em inglês”.
(Homem, 14 anos, 9º ano, Recife)

.96 .97.97
Vimos até aqui como os jovens C, D e E desempenho, falta de acolhimento e
buscam espaços de escuta e socializa- problemas pessoais. O baixo desempe-
ção, com ênfase no acolhimento de suas nho associado à vergonha de pedir ajuda,
dificuldades na escola, desafios pessoais assim como a falta de apoio de profes-
e aspirações profissionais. Para ter esse sores, diretores e colegas são os maiores
espaço, reforçam a necessidade de um am- preditores do desejo de abandonar. Exa-
biente escolar organizado e com menos tamente por estar combinada à falta de
conflitos. Nossas evidências apontam para escuta, a maioria dos que evadiu não
a busca de um ambiente de clima favorá- comunicou a ninguém a decisão, assim
vel e relações amistosas, em oposição ao como não foram procurados quando co-
que veremos nesse capítulo, de uma sen- meçaram a faltar às aulas. Uma vez fora
sação de solidão do jovem na escola. Essa da escola, o desafio do retorno passa
sensação aparece tanto na construção pela falta de tempo e motivação de en-
de seus projetos de vida, em especial frentar uma dinâmica escolar distante
de um segmento dos jovens, como nas da realidade dos jovens.
críticas ao funcionamento da escola. Nos alunos das classes C, D e E atualmen-
A capacidade de acolhimento e escuta te matriculados em escolas públicas, 10%
na escola terá, portanto, impacto na eva- já abandonou os estudos alguma vez. Ou-
são escolar. A princípio, a decisão de tros 10% já considerou abandonar, ainda
abandonar é permeada por diversos que não seriamente.
motivos: desmotivação e desinteresse,

:: Já interrompeu os estudos?
77,9%

9,3%
2,8% 9,9%

_03
evasão
Nunca interrompeu, Nunca interrompeu Nunca interrompeu, Já interrompeu
nem considerou e já considerou, mas já considerou
mas não seriamente
seriamente

P37. Você alguma vez já interrompeu os estudos/deixou de estudar?


(Base: 1.510) P38. Você já considerou sair da escola e deixar de estu-
dar? (Base: 1.510)

.98 .99
:: Motivos para interromper/considerar seriamente

Ficou desinteressado pela escola


23%
17%
Problemas pessoais 20%
11%
As motivações para o abandono são
diversas, e respondem a diferenças de Problemas de saúde 18%
12%
gênero e renda. Enquanto meninas
apontam o desinteresse e problemas
Teve que cuidar de familiares 10%
(irmãos(ãs), avós etc.) 8%
pessoais, meninos apontam como
principais causas, além do desinte- Cuidar do filho(a)/Gravidez (seja 7%
resse na escola, as necessidades de
pai ou mãe) 0%
trabalho e o mau desempenho. 7% Mudança de casa/bairro/cidade 5%
13%
das meninas indicam a gravidez como
causa. Entre os meninos, nenhum Preferi trabalhar a estudar
4%
13%
indicou a paternidade como causa.
O desinteresse e o trabalho afetam
Sabia que ia reprovar e 4%
parou de ir/dificuldades 13%
mais alunos das classes D e E. Na
Precisou trabalhar para ajudar em casa 3%
classe C, há maior prevalência de
5%
problemas pessoais não resolvidos
na escola.
Dificuldade de acesso por 2%
questões de segurança 1%
Escola não tinha vaga 2%
3%
Sofreu preconceito/bullying/violência 1%
3%
Escola era longe e de difícil acesso 0%
1% Feminino
Não tinha dinheiro para pagar as 0% Masculino
despesas escolares 1%
P39. Por que interrompeu ou considerou seriamente interromper? Aponte
o principal motivo. (Só entre quem já interrompeu ou considerou seria-
mente interromper) (Base: 284)

.100 .101
:: Porque interrompeu ou considerou seriamente A descrição do desinteresse vai ao en- donaram os estudos em razão de uma
interromper? Aponte o principal motivo. contro do que já vimos na descrição dos gravidez, especialmente, houve mui-
problemas de aprendizagem. O forma- tos relatos de bullying sofrido por elas
to das aulas, associado à pouca conexão ou por conhecidas. Algumas pararam
entre o que a escola oferece e a percep- de frequentar a escola ao surgirem os
:: Classe C D-E ção dos jovens sobre suas necessidades, primeiros sinais de gravidez. Soma-
tornam aquele espaço desinteressante da à vergonha que sentem, e o medo
e irrelevante. de serem alvo de violências, há relatos
Sabia que ia reprovar e parou 8,5% 9,2%
Nos casos de gravidez, necessidade de também de pouco reconhecimento, por
de ir/dificuldades
trabalho e baixo desempenho, a sensa- parte da escola, de suas necessidades
Problemas de saúde 16,2% 12,3% especiais durante a gestação e os pri-
ção dos jovens é de pouco acolhimento
Teve que cuidar de familiares 7,7% 10,8% da escola. Entre as meninas que aban- meiros meses da criança.
(irmãos(ãs), avós etc.
Ficou desinteressado pela escola 17,7% 23,1%
Preferi trabalhar a estudar 6,9% 13,8%
Jovens que a “Eu perdi o interesse, chegar na
5,4% 1,5%
Precisou trabalhar para ajudar em casa
bandonaram a escola todo dia e fazer a mesma
coisa, até na aula de educação
Sofreu preconceito/bullying/violência 1,5% 3,1% escola trazem física era a mesma coisa sempre”
Mudança de casa/bairro/cidade 10,0% 9,2% desinteresse muito (Mulher, 17 anos, fora da escola, SP)

Cuidar do filho(a)/Gravidez 3,1% 3,1% relacionado aos “Como as aulas não prendiam a
(seja pai ou mãe) formatos de aula, minha atenção, eu acabava não
Escola não tinha vaga 3,1% 1,5% que não prendem me importando, então eu ficava
procurando outras coisas para
Não tinha dinheiro para pagar 0,8% 0,0% sua atenção. fazer, como ficar mexendo no te-
as despesas escolares (transporte, lefone, escrevendo alguma coisa
material etc.) no meu caderno.”
(Mulher, 16 anos, fora da escola, Recife)
Escola era longe e de difícil acesso 0,8% 0,0% “Engravidei e não aguentava mais ir
para a escola, depois arrumei um em-
Dificuldade de acesso por questões “Se eu não tivesse saído da es-
prego e ficou mais difícil de estudar. cola dava para eu terminar os
de segurança - operações policiais ao 1,5% 1,5% Você se sente muito para baixo, por- estudos. Mesmo grávida eu já
redor, tráfico de drogas que todos te apontam, seus colegas tinha terminado. Mas eu sen-
terminando e você ficando lá.” tia vergonha.”
Problemas pessoais 16,9% 10,8%
(Mulher, 20 anos, fora da escola, Recife) (Mulher, 18 anos, fora da escola, Recife)

.102 .103
:: Gravidez e falta No caso da procura de trabalho, iden- ajudar a família. Outra parte, ao não ver

de apoio tificamos duas razões diversas, e


complementares. Para o jovem C, D e
sentido na escola, entende como mais
vantajoso entrar no mercado de traba-
E, a necessidade de trabalhar é mais lho para ganhar autonomia financeira
latente, seja por imposição ou pela no curto prazo.
vontade de começar a ganhar o pró- A decisão de sair, nesses casos, parece
Tayná, 17 anos, mora em um bairro de classe mé- prio dinheiro, o que faz com que esses racional para o adolescente que não se
dia em Recife, tem um filho de 1 ano e 7 meses. jovens deixem a escola. Parte deles enxerga entrando na universidade ou
busca empregos pela necessidade de em um “grande emprego”.
Parou de estudar no primeiro ano do EM por
um problema de saúde do filho. Mora com o
marido (23 anos) e a criança. Trabalha fazen-
do tranças afro, que aprendeu na internet, e
eventualmente faz bicos como garçonete. :: Destino da renda

Quando ficou grávida estava no nono Daniele. Ela sabia que eu tinha filho. Lazer Casa/Família Futuro
ano e chegou a concluir o Fundamental. E sabia que ele tinha pneumonia.
O pai da criança estudava na mesma es- Aí quando ela conseguiu conversar com 50,2%
60%
17%
cola e se responsabilizou pelo cuidado os professores sobre meu caso, acho
da criança, até conseguir um emprego. que os professores pensaram, ‘quem é destinam parte ou
Depois disso, Tayná sentiu que deveria dos jovens toda a renda para
essa?’(...) trabalham ajudar em casa
abandonar os estudos. 24,5% 24,8%
O diretor poderia ter ligado pra mim,
Tayná não teve apoio da escola e afirma pra saber o que aconteceu, (...) pra saber
que não se importaram por ela e o ma- 10,4% 11,9%
se eu ia continuar ou faltar. Pra me dar
rido terem parado de estudar. Antes de um apoio: 3,8% 4,0%
abandonar, faltou bastante, mas não foi
“Tainá, se você não tem como vir, não
procurada por ninguém. Lazer, Pagar as Entrego parte Entrego todo Divido com Guardo Gasto com
venha. Continue com seu filho. Mas se comprar despesas da do dinheiro o dinheiro meu cônjuge/ para o cursos ou
“No começo eu tava desesperada por- você tem, venha, continue seus estu- roupas e minha própria para os meus para os meus companheiro futuro estudo
bens casa/ pais/respon- pais/respon-
que eu faltei a semana todinha, tentei dos’. Essas coisas! Ele ia me estimular família sáveis sáveis
falta justificada. Procurei a professora bastante!”
P74. O que você faz com seu dinheiro? RM. Base (todos que trabalham): 310

.104 .105
Esses dados qualitativos, que não são no- permite encontrar alguns fatores que
vos, são complementados pela análise ficariam ocultos por tratarem de seg-
de CHAID realizada. A análise de CHAID mentos da amostra total. Por exemplo,
funciona como um método de seleção qual o maior preditivo da vontade de :: Os resultados são apresentados na forma de árvore,
de preditores e formação de uma árvo- abandonar os estudos entre jovens que em que cada ramificação representa um preditor (são
re de decisão. O algoritmo identifica a consideram seu desempenho escolar mostrados apenas os preditores significativos) e suas
variável independente com maior capa- bom ou ótimo? categorias.
cidade preditiva da variável dependente, Os fatores associados ao desejo de
e repete o método em todas as subamos-
tras seguintes. Essa estrutura de “árvore”
abandonar a escola analisados foram os
:: Ramos mais altos indicam os A apresentação dos
seguintes:
primeiros preditores escolhidos. resultados ao longo
do relatório será
:: Ao final de todas as ramificações
dividida em 3 partes:
exibem-se as probabilidade » Preditor do primeiro nível;
associadas à variável dependente. » Preditores até o segundo nível;
» Preditores até o terceiro (e último) nível.
:: Os fatores associados analisados
são de duas ordens:

:: Socioeconômica :: Experiência na escola


1. Sexo 1. O que mais gosta de fazer na escola:
» Masculino X Feminino » Encontrar amigos/parceiro(a)
X demais opções
2. Faixa etária 2. Valorização/escuta dos alunos:
» Até 17 anos X 18 anos ou mais Essa árvore de decisões deve ser lida nho? Apesar de haver poucas diferenças
» Escola valoriza muito X pouco da esquerda para a direita. Em primei- socioeconômicas que expliquem o
3. Cor ro lugar, está o principal preditor da desempenho, os perfis identificados an-
3. Violência na escola:
» Negro X Não negro vontade de abandonar a escola. A per- teriormente impactam o desempenho.
» Sofreu algum tipo X nunca sofreu
4. Escolaridade dos cepção de desempenho dos alunos é o Entre os Desesperançosos, alunos que
responsável 4. O que mais atrapalha o aprendizado: que mais diferencia a possibilidade de têm a menor rede de apoio, quase meta-
» EF completo X EF incompleto » Bagunça dos alunos X demais opções abandono. Entre os alunos que conside- de diz ter performance ruim ou péssima.
ram seu desempenho ruim ou péssimo, Por outro lado, 20% dos Autoconfiantes
5. Como considera o próprio desempenho:
26% considerou abandonar os estudos, dizem ter desempenho Excelente.
» Bom/excelente X regular/ruim contra 11% dos de bom desempenho.
6. Já reprovou: Quem são os alunos de pior desempe-
» Sim x Não

.106 .107
:: Resultado: Análise de CHAID
Outros
6% 10%
Nunca sofreu

Bom/excelente
11% Violência na escola
24%
Bagunça

Já sofreu
15%
Como considera o
próprio desempenho
21% O que mais atrapalha
Valoriza muito o aprendizado

26% Escola valoriza/


escuta os alunos?* 24%
Meninos
Regular/ruim

Valoriza pouco
31% Sexo

Meninas
39%

*Combinação de diversas questões relacionadas à valorização e escuta dos jovens pela escola.
.108 .109
Em situações de queda de rendi- jovens se sentem atrasados em relação
mento, destaca-se a importância de aos colegas, se sentem mal e desmoti-
“O que poderia ter me ajudado na minha
um espaço de maior acolhimento. vados.
Dificuldades de aprendizagem não são
época era mais atenção dos professores,
trabalhadas por vergonha e receio de
Os jovens se envergonham e se culpa- mais paciência. Eu sempre tive muita difi-
bilizam pelas dificuldades, fazendo com culdade em entender a matéria e quando
tirar dúvidas com o professor. Ademais,
que não peçam ajuda.
não conseguia acompanhar os meus cole-
gas nas atividades acabava ficando desani-
mado e perdia vontade de ir para escola
por vergonha.”
(Homem, 20 anos, fora da escola, SP)
:: Como você considera o seu próprio
desempenho geral na escola?
“Eu ficava ‘perdidaço’, daí veio acabando o
interesse, veio brincadeira, futebol, namora-
da, terminei desistindo.”
(Homem, 20 anos, fora da escola, Recife)
Autoconfiante Resignado Desesperançoso

Excelente (vou bem em 20,9% 10,3% 6,2%


todas as matérias) “Quando os professores estavam explicando
a matéria e eu não entendia, ficava sempre
Bom (vou bem em 42,4% 64,0% 46,7% perguntando e via que os colegas estavam
quase todas as matérias) entendo tudo. Eu me sentia deslocada, pa-
recia que eu era burra kkk.”
Regular (vou bem em 35,4% 24,1% 45,5% (Mulher, 17 anos, fora da escola, SP)
algumas, mas mal em
outras matérias)
“Dá vergonha de ficar perguntando toda
Ruim (não vou bem na 1,3% 1,5% 1,6% hora né?”
maioria das matérias) (Mulher, 17 anos, fora da escola, SP)

.110 .111
:: Avançando para o segundo nível de preditores, é ainda mais evidente
a importância do papel da escola. Entre os jovens de baixo desempe-
nho, o preditor mais relevante é a escuta e valorização da escola para
as opiniões dos alunos.

Um aluno com baixo


Olhando para esse público mais
vulnerável – que considera seu de-
desempenho e que
sempenho insuficiente – vamos para não se sente ouvi-
o segundo nível dos preditores. Aqui, do pela escola tem
Como considera o
desconsidera-se os alunos de melhor 31,2% de chance de próprio desempenho
desempenho para entender, entre
aqueles com dificuldades, o que mais
considerar o aban-
dono da escola.

Bo
explica sua possibilidade de aban-

im

m
dono. Aqui, o potencial de atuação

/ru

/e
xc
ar
da escola é explícito. Um terço dos

e
ul

le
g
alunos de baixo desempenho que

nt
Re

e
consideram a escola um lugar de
pouca valorização e acolhimento Valorização/escuta Violência na
dos alunos escola
dos jovens já pensaram em aban-
donar os estudos. Esse número cai

eu
para 20% entre os que enxergam a


fr
ca

so

so
ui
u
escola como um espaço que valoriza

Po

ta

fr
nc

eu
os alunos.

Nu
Não pensou
em evadir 68,8% 79,3% 93,9% 84,6%

Pensou em 31,2% 20,7%


6,1% 15,4%
evadir

.112 .113
Eu não vou bem nessa
matéria/tenho dificuldade

Professor ruim

Sensação de inutilidade

46%
Não gosto da matéria

P23. Pensando nas disciplinas

:: Disciplinas que não gosta que você não gosta, por que você
não gosta delas? (Base: 1.510)

P22. Pensando nas aulas que você


tem na sua escola, me diga de quais
21%
você NÃO gosta. (Base: 1.510)
Os jovens que evadiram descreviam

16% a postura de alguns professores


como um dos drivers de sua decisão.

12%

10%
11%
Relatavam como professores não

6%
tinham preparo para lidar com

5%

4%

4%

1%
suas dúvidas e dificuldades e pa-
reciam dedicar-se com mais afinco
aos melhores estudantes. Com no-
Matemática Física/ Português História/ Ciências/ Língua Filosofia/ Educação Artes Ensino Outros tas ruins e vergonha de pedir ajuda,
Química Geografia Biologia estrangeira Sociologia Física religioso
esses estudantes se sentem, por um
lado, desmotivados, e, por outro,
com muita ansiedade. Alguns des-
creviam momentos em que não viam

73%
74%

:: Porquê não gosta

70%
a hora de sair da sala. Do ponto de
desta disciplina?” vista do professor, um dos grandes
desafios é adaptar sua aula para a he-
terogeneidade dos alunos. 40% dos
Eu não vou bem nessa
matéria/tenho dificuldade entrevistados têm defasagem en-
tre idade e série, o que exemplifica
Professor ruim o tamanho da dificuldade de ade-

28%
Sensação de inutilidade quação do conteúdo pelo docente.
23%
20%

Não gosto da matéria


12%
10%

P23. Pensando nas disciplinas 9%


3%

que você não gosta, por que você

1%
1%

não gosta delas? (Base: 1.510)

Matemática Física/ Português/


Química Literatura/
Redação
.114 .115
“O que mais me tocava era eles [pro- “Eu nunca entendia a matéria de mate-
fessores] falando que do jeito que a mática, as outras ia bem, mas MATE-
gente era não conseguiria chegar MÁTICA não era meu forte, o profes-
em lugar nenhum. Eu não sei se eles sor explicava muito rápido, e quando
falavam isso para motivar a gente, não entendia e perguntava pra ele,
só que acontecia o contrário. Porque
ele achava ruim”
muitos alunos faltavam, faziam as coi-
sas de qualquer jeito (Homem, 16 anos, fora da escola, SP)
(Mulher, 16 anos, fora da escola, SP)

A relação com os professores, mui- “Sim, alguns só ligavam para as notas, “Realmente tem professor que não
tas vezes pouco aberta à dúvidas e não importava o que você fizesse tá nem aí pra gente, teve uma vez que
necessidades desmotiva os jovens, nunca era suficiente e isso desmoti- eu pedi para o professor de matemá-
que acabam silenciando a dor da não va pra caramba. Você acaba se sen- tica me explicar de novo que eu não
aprendizagem e contribuindo para a tindo insuficiente, mesmo dando o tinha entendido ele falou todo gros-
decisão de abandonar a escola. seu melhor.” so, e falou umas águas (bobagens) lá”
(Mulher, 16 anos, fora da escola, Recife)
A relação conflituosa explica por que (Mulher, 14 anos, 9º ano, Recife)
as principais causas para os alunos
não gostarem de alguma disciplina na
escola sejam dificuldade com a maté- “O professor não queria ver o nosso “Ano passado eu tinha uma pro-
ria e qualidade do professor . esforço. Eu fazia o trabalho e ele dizia fessora que selecionava os alunos
que não era suficiente. Eu ficava mui- que realmente ensinava. Como
to chateada, pensando em sair, porque em toda a sala, a minha sempre tem
eu não via sentido em estar me esfor- os alunos que não estão nem aí pra
çando nisso, porque eu ia e entregava nada e que não tem respeito com o
trabalho, eles diziam que não estava professor, mas eu ainda acho errado
bom, que não era suficiente, falava
essa distinção e favoritismo, o de-
que a gente não tinha capacidade,
ver dela como professora é ajudar
que a gente era preguiçoso, que a
gente era mal educada, simplesmen- quem tem dificuldade, mas ela não
te porque a gente não fez aquilo da tinha paciência”
forma que eles queriam sabe? (Mulher, 14 anos, 9º ano, SP)
(Mulher, 16 anos, fora da escola, SP)

.116 .117
A importância de enfocar na capacidade devido a problemas pessoais. Entre :: Jovens que já interromperam os estudos são os que
de escuta e apoio do jovem que está com alunos que já abandonaram os estudos mais relatam falta de apoio e acolhimento pela escola.
problemas de desempenho é destacada alguma vez, 45% discorda totalmente Visão sobre a escola
pelo fato de que 40% dos alunos rela- da frase “Minha escola me apoia/acolhe
tam já ter tido queda de rendimento quando eu tenho problemas pessoais”.

:: Minha escola me apoia/acolhe


quando eu tenho problemas pessoais

15,5%
19,5%
Concordo totalmente

20,8% 25,7% Concordo parcialmente


:: Alguma vez seu desempenho escolar caiu por
Discordo parcialmente
conta de algum problema pessoal? 14,1%
24,3% Discordo totalmente

P28. Vamos falar sobre como você se sente


45,6% dentro da sua escola. Diga, em uma escala de
34,5%
59,7%
1 a 4, em que 1 significa que você discorda to-
talmente e 4 que você concorda totalmente,
o quanto as frases abaixo retratam bem a sua
escola. Ao responder pense nos seus professo-
res, diretores, coordenadores e no ambiente da
sua escola (Base: 1.510 - já interrompeu: 222 /
Já interrompeu os Nunca interrompeu Nunca interrompeu: 1.288 )
estudos

40,3%
“Eu larguei a escola porque eu fiquei com depressão. Eu
não estava conseguindo acompanhar, não estava ten-
do motivação dos professores e nem compreensão
pelo fato de eu estar doente psicologicamente. Eu não
SIM estava conseguindo lidar com esse fato. Eu fiquei bem mal,
eu não conseguia aceitar que eu tinha depressão. Eu não
NÃO tentei voltar porque eu achei o ambiente da escola muito
tóxico pra mim e eu não me sentia bem.”
P35. Na sua percepção, alguma
vez seu desempenho escolar caiu (Mulher, 16 anos, fora da escola, SP)
por conta de algum problema
pessoal? (Base: 1.510)

.118 .119
:: A percepção de que a escola não os conhece e
a falta de pertencimento é maior entre os jovens
que já consideraram abandonar os estudos.
Visão sobre a escola

Ao enfrentar questões de saúde men-


tal, ou mesmo desafios comuns da :: A minha escola conhece quem sou
vida, mas sem o apoio em casa ou eu, quais são os meus desejos e preocupações
na escola, o jovem provavelmente irá
enfrentar queda de rendimento es-
colar, aumento de faltas e isso estará 9,8% 13,2%
associado à vergonha de pedir aju-
da. Vimos como o que atrai os jovens 24,5%
à escola é o encontro com amigos. 27,4%
Se a escola deixa de ser um lugar
onde “conhecem quem eu sou, Concordo totalmente
meus desejos e preocupações”, há 25%
um grande aumento na probabili- Concordo parcialmente 29%
dade de abandono. Discordo parcialmente 66% 59%
Enquanto a capacidade de acolhi-
Discordo totalmente 40,8%
mento da escola é o principal preditor 30,4%
entre os alunos que se enxergam
com baixo desempenho, os alunos
de maior desempenho apresentam
outros fatores explicativos para sua Já interrompeu os Nunca interrompeu
estudos
vontade de abandonar os estudos.

P28. Vamos falar sobre como você se sente dentro da sua escola. Diga,
em uma escala de 1 a 4, em que 1 significa que você discorda total-
mente e 4 que você concorda totalmente, o quanto as frases abaixo
retratam bem a sua escola. Ao responder pense nos seus professores,
diretores, coordenadores e no ambiente da sua escola (Apenas entre
quem nunca abandonou - Base: 1.288 / Já considerou deixar de estu-
dar: 208/ Nunca considerou: 1.080)

.120 .121
Como considera o
próprio desempenho

Bo
im

m
/ru

/e
Mesmo com
:: Já entre os

xc
ar

e
bom desempenho,

ul

le
g

nt
alunos com bom

Re
um jovem que já

e
Valorização/escuta Violência na sofreu violência
desempenho, o dos alunos escola na escola (bullying,
principal preditor preconceito,

eu
agressão física ou
para avontade de


fr
a

so
uc
verbal) tem mais

so
ui
Jovens de bom desempenho que já
Po

ta

fr
deixar a escola é

nc
que o dobro de

eu
sofreram violência na escola (qual-

Nu
chance de querer
a violência. abandonar (15,4%) quer tipo de violência) tem 15%
do que aquele que de chance de considerar a evasão,
68,8% 79,3% 93,9% 84,6% nunca sofreu. contra apenas 6% entre jovens de
bom desempenho que nunca sofre-
31,2% 20,7% 15,4%
6,1% ram nenhuma forma de violência.
A segurança na escola é um tema
n = 205 n = 217 n = 374 n = 492
diretamente relacionado à descri-
ção da gestão ideal apresentada
pelos nossos entrevistados no ca-
pítulo anterior. A gestão rígida que
66,5%
eles pedem é uma direção capaz de
:: Segurança 52,4%
49,4%
conter um clima escolar de alto stress.
na escola
35,8% 36,5%
26,2% 28,4%
Já considerou deixar de
estudar ou já abandonou 16,8%
Nunca considerou

Já sofreu bullying Já sofreu algum Já sofreu agres- Já sofreu agressão


tipo de preconceito são física verbal (como xinga-
mentos)

P29. Vamos falar sobre questões de segurança em sua escola. Indique


se já passou por algum dos casos abaixo. Base (já considerou/já aban-
donou): 430 / ((nunca considerou): 1.080)

.122 .123
:: O terceiro (e último) nível de preditores reforça a importância
da gestão escolar e traz um fator socioeconômico importante.

Como considera o
próprio desempenho

Bo
im
A capacidade de organização esco-

/ru

m
/e
lar
lar pela direção também aparece

xe
gu

c
em outro ramo da nossa “árvore de

ele
Re

nt
decisões”. Os alunos de baixo desem-

e
penho, que enxergam a escola como
Valorização/escuta Violência
um espaço de acolhimento, mas que dos alunos na escola
ainda assim dizem que o excesso de
bagunça é a principal barreira para
seu aprendizado tem 24% de chance

ca

M
u

ui
Po
de considerarem abandonar. Alunos

ta
do mesmo perfil, mas que apontam

Sofreu

Já So
como barreiras de aprendizado
Sexo O que mais atrapalha
questões mais estruturais, têm 10% o aprendizado

Nunca

reuf
de probabilidade. Quando há bai-
xo desempenho e pouca escuta, aí o

Ba
Ma

s
principal fator é o gênero dos alunos.

gu
.

tro
Fem

sc


Ou
Entre as meninas nesse perfil, qua-

a
se 40% dizem considerar abandonar,
contra 24% dos meninos.

Não
pensou 60,8% 75,9% 90,0% 76,0% 93,9% 84,6%
em evadir

Pensou
em evadir 39,2% 24,1% 10,0% 24% 15,4%
6,1%

n = 97 n = 108 n = 50 n = 167 n = 374 n = 492

.124 .125
:: Metade dos jovens que interromperam os estudos não
foram procurados por alguém para mudarem de ideia.
Evasão

P41. Quando você interrompeu os


46,0% estudos alguém veio te procurar para
te dar apoio?. (Só entre quem já inter-
rompeu os estudos) (Base: 222)

A sensação de acolhimento e orga-


nização do ambiente escolar são
fatores que podem atenuar o dese-
jo de abandono entre estudantes
de baixo desempenho. O que liga
esses jovens à escola são as relações 13,9% 14,6%
13,1% 13,1%
construídas com amigos e professores.
Bom clima escolar, professores pre- 4,4%
sentes, gestão da sala de aula e 0,3%
infraestrutura são importantes e
valorizados para que os jovens se Ninguém Assistente Familiares Coordenador/ Professores Colegas/ Pai e
conectem com a escola e tenham es- social Diretor amigos mãe
trutura para aprender.
Com a falta de apoio e escuta tão
marcada na vida dos jovens que
abandonaram os estudos, não sur-
preende ver que a maioria não “Se um dia eu fosse [voltar] para a “Era mais que uma professora
recebeu apoio ao tomar a decisão aula, o que teria de diferente seria para mim, eu podia contar com
de sair da escola. mais disciplina, teria mais ordem, ela para tudo, sempre conversa-
porque acho que hoje em dia é mui- va com ela dos meus problemas
to difícil ter em escolas. As aulas se- pessoais. Ela sempre carinhosa
riam as mesmas, mas seria mais orga- comigo, me ajudava bastante.”
nizado, não seria essa bagunça de (Mulher, 18 anos, fora da escola,
ter aula vaga todos os dias, o ensi- Recife)
no seria melhor”
(Homem, 16 anos, fora da escola, SP)

.126 .127
:: Importância A decisão de começar a trabalhar
foi para comprar coisas para si que
Ela afirma que o pai sempre foi rí-
gido com relação aos estudos,

da escuta e o pai não tinha condições de pagar.


Quando começou a trabalhar con-
por isso se a escola tivesse entra-
do em contato a chance dela ter

espaço de seguia conciliar, mas só porque


nunca foi “muito ligada na escola”.
abandonado a escola seria menor.
Ele só veio saber do fato um ano
acolhimento Ela estudava de manhã e trabalha-
va a partir das 14hs: “Eu tinha mais
depois.
Hoje, percebe não deveria ter lar-
vontade das coisas do que interes- gado os estudos: “eu não tinha a
Rafaela, 21 anos, mora na zona leste da capital se na escola”. visão que tenho hoje. Eu não sabia
paulista, tem uma filha de sete meses e está de- como o mercado de trabalho era
Seu pai, quando jovem, também
disputado”.
sempregada parou os estudos para trabalhar.
Um problema de visão e falta de
Quando Rafaela decidiu deixar a
Parou de estudar no primeiro ano do EM escola achou melhor não contar
compreensão da escola também
por preferir trabalhar. Mora com o pai, a fi- contribuíram para seu desinteres-
ao pai. “Ninguém veio, conselho
se nos estudos: “Eu não enxergava
lha, duas irmãs e uma sobrinha de seis anos. tutelar, essas coisas.”, ela lamenta
muito as letras na lousa. Daí falava
A irmã mais velha, assim como Rafaela, não que ninguém da escola telefonou,
pro professor e parecia que eu não
mandou uma carta ou procurou
terminou os estudos, por ter engravidado. tava falando a verdade. Não tinha
seus pais. “Eles simplesmente de-
alguém ali para me incentivar (...)
sistiram”.
para quem já não quer, um pingo é
uma letra.”

.128 .129
:: O incentivo da família e o reconhecimento de que
Soma-se à falta de apoio a percepção
poderiam alcançar mais objetivos estudando são os
já mencionada de irrelevância das au-
principais motivos para voltar/continuar a estudar.
las para a vida profissional desses jovens.
Evasão
O retorno aos estudos é marcado por
um desejo de “terminar”, pensando nos
ganhos práticos do diploma (status e em- :: Por que não abandonou/
prego). por que voltou a estudar
Por isso, a descrição dos que abandonaram
sobre o que teria de mudar para eles volta-
rem passa por pouco vínculo e pragmatismo.
Incentivo da
45%
Eles sentem que teriam de enfrentar alguns
família
desafios: 50%
:: Mal estar e vergonha por não compreen-
derem alguns assuntos; 45%
Reconheci que é importante
:: A percepção de falta de compreensão frequentar a escola
41%
dos professores quando não acompanham
determinados conteúdos;
Incentivo de 13%
:: A adaptação na sala de aula por estarem amigos
16%
mais velhos e sem os antigos colegas;
:: Falta de tempo e dificuldade em conciliar Família obrigou 11%
responsabilidades. a estudar
5%
É latente a tensão entre o desinteresse em
algo que eles não sentem ser tão importan-
te, e a pressão que descobrem, após terem Incentivo de 7%
professores Considerou abandonar
abandonado, por não terem um diploma do 6% Abandonou
Ensino Médio. Aparece, então, críticas à
forma como a escola se posiciona frente
aos desafios da “vida real”, e arrependi- Outro 2%
P42. Por que você não desistiu de estudar?

mento por terem abandonado. 5% Base: (considerou abandonar: 208)


P43. Por que você voltou a estudar? / Base:
(abandonou e voltou: 222)

.130 .131
“Sabemos que nada nessa vida “Falar que a pessoa tem que estu-
é fácil, mas para isso precisamos dar porque tem que estudar, não
ralar muito, vou correr atrás dos é assim. Quem não tem visão do
Em meio aos arrependimentos e reconhe-
meus sonhos e com o apoio da mundo acha que tudo é fácil. Se
cimentos das dificuldades de conseguirem
minha família e fé em Deus eu eles explicassem mais como se-
consigo alcançar minhas metas ria o mercado de trabalho para o empregos e melhor renda, os jovens que
e objetivos!” jovem acho que muitos não iriam evadiram mostram muita resiliência e es-
(Homem, 20 anos, fora da escola, Recife) largar os estudos.” peranças. Alinhado com a valorização da
(Mulher, 21 anos, fora da escola, SP) imagem dos “batalhadores”, que vimos
anteriormente, eles se enxergam como
pessoas de muito esforço e superação.

“Ela foi minha luz na escuridão, a força E, sendo muitos deles pais e mães, a pre-
que eu precisava para viver. Através da sença dos filhos serve como um apoio e
motivação para crescerem profissionalmen-
vida dela hoje eu tenho vontade de termi- te e até considerarem o retorno à escola.
nar meus estudos, fazer uma faculdade.
Os desafios para evitar a evasão e trazer
Tenho o sonho da casa própria, de um cargo os que abandonaram de volta para os
melhor. Através da vida dela hoje eu tenho estudos são diversos, e passam por mu-
sonhos e sonho alto, quero que ela tenha danças na forma como a escola se comunica
um grande futuro, vou fazer por onde.” com esses jovens, por apoio ao professor
que tem de enfrentar uma heterogeneidade
(Mulher, 21 anos, fora da escola, SP)
de alunos em ambiente conflituoso e pela
atenção especial àqueles que demonstram
Me vejo muito para frente dos jovens potencial de abandonar. O retorno aos es-
da minha idade, a vida me cobrou res- tudos ocorre principalmente por esforço da
ponsabilidades muito cedo, mas me “Eu não perdi nada ali naque- família, e não da escola
vejo uma batalhadora, uma jovem so- le momento [quando deixou Dado isso, devemos pensar em como as es-
nhadora e sei que ainda dá tempo de a escola]. Só ganhei tempo colas estão lidando com os desafios pessoais
terminar os estudos, fazer uma facul- para dormir mais, para fazer o enfrentados pelos estudantes, que tocam,
dade, ter um cargo melhor e dar mais que eu queria. E o meu futuro? mesmo que indiretamente, em temas de
atenção para minha família e amigos. O meu futuro está me co-
saúde mental.
Sou um pouco ‘marruda’, às vezes quero brando agora.”
muita coisa ao mesmo tempo e acabo (Mulher, 21 anos, fora da escola, SP)
deixando coisas de lado, mas com foco
e Fé eu chego lá.”
(Mulher, 21 anos, fora da escola, SP)

.132 .133
As falas dos jovens evidenciam a confiança e mostravam abertura para
importância de suporte (amigos, pro- apoiar os estudantes mesmo em ques-
fessores, psicólogos) e de escuta para tões pessoais. No entanto, os alunos
lidarem com seus principais desafios: ainda descreviam situações de conflito
problemas pessoais, solidão, ansiedade, e demandam melhores canais de aco-
pressão e bullying etc. Muitos jovens lhimento na escola. Quando eles não
sentem que seu desempenho já foi afe- têm um docente específico com quem
tado por questões pessoais, mas não comunicar dores e angústias, opiniões
sentem que há um espaço para falar ou discutir interesses, a escola passa
sobre esses problemas. Esse estudo a ser descrita como um espaço onde
tem um enfoque direcionado ao papel não se sentem acolhidos.
da escola no acolhimento dos jovens. Os pais são o principal ponto de apoio
No entanto, não podemos esperar que dos jovens para discutir problemas na
a comunidade escolar atue sozinha na escola, ou o seu futuro e mesmo pro-
resolução destes problemas. Fica evi- blemas pessoais. No entanto, um olhar
denciado, pelos dados e pelas falas dos atento mostra que, se entre 9% e 14%
entrevistados, a necessidade de polí- não têm ninguém para falar sobre pro-
ticas intersetoriais, que possibilitem a blemas na escola, para os problemas
oferta de serviços de assistência social pessoais faltam espaço de diálogo para
para jovens vulneráveis, conectados a 16% a 20% dos jovens, dependendo de
suas estruturas familiares, a suas condi- suas idades. Fora da família mais ime-
ções de vida e às especificidades locais. diata e de amigos, o professor é uma

_04
Exatamente porque a escola é um dos figura quase ausente nas discussões
principais espaços de socialização dos sobre temas que preocupam os jo-
jovens, muitas vezes eles mostram altas vens. Ainda aparecem para em torno

desafios e
expectativas em relação ao acolhimen- de 7% quando há problemas escolares.
to oferecido pela comunidade escolar e Mas não são considerados um ponto de
pelos professores. As entrevistas foram apoio para discutir problemas pessoais.

redes de marcadas por descrições de docentes


que demonstravam alta capacidade de
Os jovens não relataram outras lideran-
ças comunitárias ou religiosas como

apoio
conexão com os alunos e de gestores possibilidades de escuta em casos de
escolares que construíam vínculos de problemas pessoais.

.134 .135
:: Com quem conversa sobre

Problemas na escola Planos para o futuro Problemas pessoais

Pai e/ou Mãe 54% 59% 51%


50% 49% 41%
Amigos da escola 20% 17% 15%
18% 15% 15%
Irmão/irmã 13% 10% 10%
11% 14% 11%
11% 11% 10%
Amigos fora da escola
9% 12% 15%
Família ampliada (primos, 6% 8% 5%
tios, avós etc.) 6% 8% 8%

Professor
6% 3% 1%
7% 5% 1%
Parceiro(a) (marido/mu- 3% 4% 4%
lher, namorado(a)) 7% 10% 10%

Coordenador/Diretor 2% 1% 1%
da escola
5% 1% 1%
1% 1% 1%
Vizinhos 0% 1%
1%
0% 1% 0%
Liderança comunitária 0% 1%
1%
14 a 16 anos
0% 0% 1%
Liderança religiosa 1% 1% 1% 17 a 19 anos
1% 1% 0%
Outros 1% 1% 1%
9% 11% 16%
Ninguém 14% 14% 20%

P7. Com quem você costuma conversar sobre: Problemas nos estudos ou na escola/ Planos para o futuro/ Problemas pessoais (Base: 1510)

.136 .137
Fora dos círculos imediatos, os jovens
“Na minha escola era muita pressão se sentem ainda mais distantes de :: Alguma vez seu desempenho escolar caiu
colocada, como era do Ensino Mé- espaços de acolhimento. Seja para por conta de algum problema pessoal?
dio, era muita pressão. Os professo- discussões sobre o futuro ou para
res até ajudavam, mas eu acho que questões da escola, buscas no Goo-
deveria ter uma ajuda psicológica gle aparecem como principal fonte
em relação a isso. Porque eram mui- de informações, seguidas do Youtube
tos adolescentes tendo crise de an- – esse, como era esperado, em maior
siedade e não sabiam lidar com isso.” nível para problemas na escola, que
(Mulher, 17 anos, 3ºEM, Recife) incluem dificuldades em disciplinas.
P35. Na sua percepção, al-
guma vez seu desempenho
escolar caiu por conta de
Em relação a problemas pessoais, no algum problema pessoal?
(Base: 1.510)
“Muitas pessoas precisam desse entanto, mesmo os sites de busca e o P36. Você já reprovou algu-
ma vez? (Base: 1.510) (Base
apoio mental, porque muito aluno conteúdo pronto do Youtube perdem 54,3% nunca reprovou: 908 / Base
já reprovou: 602)
desenvolve ansiedade, depres- importância. Entre os mais novos (14 33,5%
são, na minha escola eu conheço a 16 anos), 56% não sabem onde pro-
vários casos. Não faz sentido uma curar apoio. Cruzando os problemas
escola não saber lidar com os pró- pessoais que afetam o rendimento Já reprovou Nunca reprovou
prios alunos”. escolar e as reprovações, vemos que
(Mulher, 21 anos, fora da escola, SP) 55% dos que já tiveram de repetir uma
série já tiveram questões pessoais im-
pactando sua performance, contra
34% entre os que nunca reprovaram.

Há um reconhecimento latente de “Uma das soluções que tem na minha escola, que
que o problema de escuta e acolhi- não é muito eficaz, mas pelo menos eles tentaram
mento afeta a todos. fazer, é um grupo de conversa com psicólogos e
“Aí todos os alunos poderiam se
alunos. Foram alunos da faculdade Anhanguera
abrir, falar de coisas que nem os pais As falas de alunos que abandonaram
sabem do que o filho está passando, indicam que problemas que levaram
de Psicologia e eles foram conversar com os alu-
mas a psicóloga vai saber falar com à evasão poderiam ter sido detec-
nos. No começo estava sendo muito bom, ajudan-
esse aluno que está transtornado ou tados antes, caso a escola estivesse do muitos alunos a melhorar. O problema é que
até mesmo pensando em suicídio” preparada para lidar com as angústias muitas vezes eles forçam os alunos a falar com os
(Homem, 20 anos, fora da escola, dos adolescentes. pais e isso é chato, porque as vezes os filhos não
Recife) querem atrapalhar ou acham que não precisa”.
(Mulher, 15 anos, 9º ano, SP)

.138 .139
Os alunos, inclusive os mais novos, As demandas de saúde mental não
de 9º ano, reconhecem que a organi- são distribuídas uniformemente pe-
:: Desempenho e zação do espaço escolar não favorece los alunos. Há evidências de que
a percepção de que alguns jovens alguns grupos estão mais sujeitos a
abandono enfrentam problemas de ansiedade, necessidade de espaços de acolhi-
depressão ou outros. Mais uma vez, mento especializados. Nossa pesquisa
imaginam que o professor seja a pessoa identificou que a violência no âmbito
indicada a identificar os casos que de- escolar afeta de maneira diferente bran-
mandam um apoio mais próximo. cos e negros.
Higor, 20 anos, mora na Cidade Dutra, São Paulo
e trabalha como ajudante do pai, em uma em-
presa de revenda de materiais de construção. :: Segurança na escola
Com 4 anos, Higor teve diagnóstico de epilep-
sia, começou a frequentar a escola com 7 anos
e teve muitas dificuldades, devido à medica- Já sofreu 40,6%
ção: “Eu chegava na escola já dopado. Tomava bullying
o remédio cedo.” 36,6%

A mãe teve dificuldade em achar escola medo. Porque ... convulsionava e as crian-
que o aceitasse: ças ficavam rindo de mim.”
Já sofreu algum tipo 31,6%
“Até a segunda série a minha mãe teve Reprovou vários anos do fundamental. de preconceito
que ficar dentro da sala de aula comigo, Na oitava série ele decidiu parar de fre- 21,5%
porque a escola não queria se respon- quentar a escola.
sabilizar por mim. Se eu tivesse uma “Tinha coisa da 5ª, 6ª série que eu não
convulsão lá dentro eles não sabiam o Já sofreu
20,7% Negro
tinha aprendido ainda. Eu não sei coisas
que fazer”. agressão física Não negros
básicas, eu tenho muita vergonha, o pes-
16,4%
Higor sempre sofreu bullying, era chama- soal pergunta para mim ‘pô mano você
do de “demente”, “gardenal”. não sabe disso, já vai fazer 20 anos. Você
“Dos meus 12 anos quando se agravou eu sabe coisas básicas de criança.’ Pô mano 52,9%
não sei.” Já sofreu agressão
tinha mais convulsão, chegou uma fase
verbal (como xinga-
que só de eu ir para escola eu ficava com mentos) 53,7%

P29. Vamos falar sobre questões de segurança em sua escola.


Indique se já passou por algum dos casos abaixo. Base (ne-
gros): 998 / (não-negros): 512

.140 .141
O racismo carrega consigo, além da agravar ainda mais o desafio de acolhi- “Eu sempre tive o meu cabelo afro, meu ca-
violência física ou verbal, também mento do ambiente escolar. belo cacheado. Aí tinham várias meninas
uma violência simbólica. Na criação de que sempre vinham, tiravam onda, diziam
As entrevistadas e entrevistados negros
memes sobre como gostariam de ser ‘olha o cabelo de bucha, cabelo de não sei
relatam a forma como a questão racial
e como realmente são, discutida no o que’. Aí uma vez eu revidei, mas tudo bem,
é materializada na formação e exclusão
capítulo Projeto de Vida, os jovens mos- ficou tudo bem com ela graças a Deus”.
dos “grupinhos” na escola.
traram implicitamente um dos efeitos (Mulher, 17 anos, fora da escola, Recife)
Os jovens, então, reconhecem que suas
simbólicos da desigualdade racial.
escolas não estão preparadas para lidar
A aspiração a posições de sucesso com bullying, preconceito e agressões “Além das brigas, tinha bullying, era sempre
exemplificadas por homens brancos, – o que explica o entendimento dos alu- um chamando de macaco, ficavam lá cha-
confrontada com a realidade de um am- nos sobre a necessidade de uma gestão mando, botando apelido nos outros, falando
biente escolar em que dois terços dos mais disciplinadora, visto no capítulo coisa desnecessárias.”
alunos é negro é um fator que pode anterior.
(Mulher, 17 anos, fora da escola, Recife)

“Meus pais queriam


que eu fosse um em-
“Eu gostaria de ser “E acho que vou :: Sua escola está bem preparada para lidar bem com
um advogado, ser barbeiro o res- problemas de preconceito, bullying, agressões?
presário bem suce-
ajudar as pessoas to da vida”
dido e de sucesso.”
em seus direitos.”

57,3%

42,7%
Sim

Como Como Como você Não


seus pais você acha que
gostariam gostaria realmente
que fosse que fosse será P30. Você acredita que a sua escola está bem pre-
parada para lidar bem com problemas de precon-
ceito, bullying, agressões etc.)? (Base: 1.510)

(Homem, 20 anos,
.142 fora da escola, SP) .143
Aproximadamente metade dos alunos Isso é ainda mais forte entre os alunos

Case: concorda que a escola não é um bom


espaço de acolhimento, escuta e reco-
negros, e entre meninas.

protagonismo nhecimento dos alunos.

de alunos :: Muitos jovens não se sentem reconhecidos pela escola


nos seus conhecimentos e gostos pessoais.
Visão sobre a escola
:: A falta de apoio e valorização para pro-
jetos trazidos pelos alunos é presente nos
relatos dos jovens, que se mostram frus- Minha escola valo-
28% 27% 26% 18%
riza as coisas que
trados e desmotivados eu gosto de fazer

>> Estudantes do nono “É porque, veja só, se a questão for o 56%


que eu posso fazer para mudar a mi-
ano quiseram fazer um Minha escola valoriza
nha escola, sinceramente, nada. Eu e os
clube de jornalismo na alunos estamos dispostos a ir lá, limpar,
conhecimentos e talentos
30% 23% 26% 20%
que trago de fora(da minha
escola, numa sala que passar pano, varrer e arrumar para ficar família, meus interesses)
fica fechada. bom para os outros alunos e para gente
mesmo. Já mostramos disposição para
54%
isso.

>> Se dispuseram a Sinto que minhas opi-


Mas toda vez que a gente tenta fazer niões são valorizadas 27% 25% 27% 20% Concordo
limpá-la e organizá-la. alguma coisa na escola, a gente não dentro da minha escola totalmente

Fizeram e depois foram consegue. O aluno literalmente não Concordo


parcialmente
tem voz nenhuma. Na minha escola já
impedidos de usar a 53% Discordo
tentamos colocar um jardim, chegamos
sala, pois o diretor dis- perto disso, conseguimos, mas depois
parcialmente

A minha escola tem


se que seria usado para o diretor disse para parar porque ia ter 21%
25% 53% 32% 21%
Discordo
espaços/momentos totalmente
outro fim. reforma e não ia poder.
em que eu posso me
expressar livremente
Já tentamos um clube de jornalismo
no colégio, o Jornal PMB, Padre Mano- 47%
el Bandeira, mas infelizmente o aluno
não tem voz na escola hoje em dia.
P28. Vamos falar sobre como você se sente dentro da sua escola. Diga,
A gente tenta mas não consegue.” em uma escala de 1 a 4, em que 1 significa que você discorda totalmente
(Homem, 14 anos, 9º ano, Recife) e 4 que você concorda totalmente, o quanto as frases abaixo retratam
bem a sua escola. Ao responder pense nos seus professores, diretores,
coordenadores e no ambiente da sua escola (Base: 1.510)

.144 .145
:: Minha escola me apoia/acolhe quando eu
tenho problemas pessoais

:: Gênero
Feminino Masculino

Discordo totalmente 37,3% 33,8%


Discordo parcialmente 26,5% 20,4%
Concordo parcialmente 20,9% 29,4%
“A escola não me ajudou
Concordo totalmente 15,4% 16,4% em nenhum momento, en-
Esse reconhecimento, muitas vezes
traduzido na forma de atividades
tão me senti sozinho e iso-
:: Cor Negros
Não que deem protagonismo aos jovens, lado, então resolvi sair da
negros
é essencial para diminuir a sensação escola, antes até pedi para
de solidão dos alunos. Chega a qua- minha mãe me trocar de es-
Discordo totalmente 37,2% 31,6%
se 30% o número de meninas que se cola. Esperava que eu fosse
Discordo parcialmente 23,6% 22,8% terminar a escola e pensar
dizem sozinhas na escola, contra 22%
Concordo parcialmente 22,2% 32,2% dos meninos. Nas atividades sobre na minha faculdade, quan-
Concordo totalmente 17% 13,4% como os jovens se descreveriam e nos do resolvi sair da escola eu
relatos de como se sentiam na escola, me sentia inferior às outras
a figura da pessoa solitária e isolada pessoas, sem interesse, pois
aparecia, como nos exemplos abaixo. já via que estava sem espe-
:: Me sinto sozinho dentro da minha escola rança e acabei entregando
os pontos, e ligando o foda-
-se pra tudo. “
:: Gênero
(Homem, 17 anos, São Paulo,
Feminino Masculino fora da escola)
Discordo totalmente 50,1% 57,2%
Discordo parcialmente 21,1% 20,5%
Concordo parcialmente 16,7% 15,0%
Concordo totalmente 12,1% 7,3%

.146 .147
“A minha escola me vê, porque eu sou
assim na escola. Sou bastante sor- Esse jovem, de 14 anos, pensa que os seus
ridente, feliz, engraçado, rio muito. E amigos e familiares o enxergam como
o último, de como eu realmente sou, alguém “brincalhão”, mesmo que em seu ín-
é porque, digamos que eu sou solitá- timo ele se sinta só, sem apoio ou amigos ao
rio. Antes eu tinha muitos e muitos redor. Esse caso é um exemplo entre diver-
amigos, mas boa parte deles se mu- sos que ouvimos ao longo do estudo, e lança
luz sobre uma preocupação central para en-
daram, começaram a namorar e es-
tender todos os aspectos discutidos nesse
queceram a amizade, acabei ficando
sozinho.” Como relatório: a solidão, falta de acolhimento e

minha escola fragilidade das redes de apoio impactam


como esse jovem se relaciona com sua es-
me vê cola, quanto ele se sente preparado para
construir um projeto de vida e quanto ele
vai considerar abandonar os estudos. Há
uma necessidade urgente de atuar capa-
“Eu sou solitário é que, eu não que- citando a gestão escolar para melhorar a
ria ser. É horrível, eu não quero isso relação com os alunos das mais vulneráveis,
identificando dificuldades e dando voz para
para ninguém. Eu não queria ser uma
a participação e protagonismo dos alunos,
pessoa solitária. Por isso que solidão
de modo que eles se sintam parte daquele
é uma coisa que eu não quero para
espaço, e aptos para dividir dificuldades e
ninguém, porque já passei muitos pedir ajuda. Sem isso, esforços direcionados
anos com isso e é chato. Entende?” a técnicas pedagógicas, gestão escolar ou
(Homem, 14 anos, 9º ano, Recife) materiais didáticos correm o risco de serem
vistos pelos jovens como inovações sem
sentido.
Como eu
realmente
sou

.148 .149
A pesquisa teve como objetivo explorar
como os jovens constroem seus pro-
jetos de vida e a influência da escola e
de outras referências nesse processo.
Os dados quantitativos, aliados às entre-
vistas em profundidade com os jovens,
presenciais ou online, nos ajudaram a
mapear alguns temas importantes para o
desenvolvimento de projetos e políticas
públicas que enderecem as necessida-
des deste público.
Em primeiro lugar, é relevante destacar
que o principal sonho dos jovens das
classes C, D e E é completar os estudos e
Qual o seu que o que mais gostam de fazer na esco-
principal sonho la é assistir às aulas. Isso é, a educação
para o futuro? é parte da vida deles no presente e tam- O que mais

60%
bém um horizonte em seu futuro. O que gosta de fazer
diferencia os jovens é a percepção de na escola?
auto-eficácia em alcançar seus objetivos,
Terminar os
estudos
e quanto eles se sentem amparados por
seus familiares, pela escola e por outras 52%
_05
instituições. A sensação de capacidade Assistir às
de alcançar seus sonhos no futuro é o aulas

considerações
principal marcador dos três perfis de jo-

48%
vens encontrados no nosso estudo.

finais Encontrar
pessoas

.108
.150 .151
P16. Alguém te apoia neste plano?
(Só entre aqueles que apontaram uma
prioridade) (Base: Puro 1: 201/ Puro 2:
191 / Puro 3: 248)
Objetivos ::Sonham com objetivos relacio-
nados a estudos.

81%
Referências e apoio :: Principalmente :: Quem te apoia no seu plano
Autoconfiante

77%
família, mas também alta menção a pessoas

28%
famosas como referência. Autoconfiantes Resignados Desesperançosos

53%
Autoeficácia :: Sentem-se muito capazes de
alcançar seus objetivos.
do total Socioeconômico :: Maioria da classe C, com
pais mais escolarizados.

13%
13%
11%

10%

6%
7%

5%
5%

5%
4%

3%
2%
1%

2%
3%
Objetivos :: Tem objetivos materiais (traba- Pai e/ Amigos fora Amigos Professor Nunca falei Ninguém
ou Mãe da escola da escola desse plano me apoia
lho, renda, melhora de vida). com ninguém
Resignado Referências e apoio :: Família, amigos e

31%
professores.
Autoeficácia :: Sentem-se muito ou razoa-
velmente capazes.

85%
do total Socioeconômico :: Maioria da classe C, com :: Quem te inspira para pensar
pais pouco escolarizados. no trabalho

70%
Autoconfiantes Resignados Desesperançosos

49%
Objetivos :: São os que mais dizem não saber

16%
15%
quais são seus objetivos.

11%

10%
Desesperançoso

9%

7%

6%

9%
Referências e apoio :: Grande maioria não tem

3%

1%
1%
33%
0%

0%

0%

0%
referências ou inspirações para pensar o futuro.
Autoeficácia :: São os que mais se sentem inca- Pai e/ Família Irmão(ã) Alguém Professor Ninguém
pazes de alcançar seus objetivos. ou Mãe ampliada famoso
(primos, (Youtuber,
do total Socioeconômico :: Proporção maior das clas- tios, avós) artista,
político etc.)
ses D e E, com pais menos escolarizados.
P19. Quem te inspirou a pensar neste
trabalho? (Base: Puro 1: 201/ Puro 2: 191
/ Puro 3: 248)

.152 .153
Para os elaboradores de políticas públicas e projetos de educação,
é salutar entender que as diferenças entre os perfis não são sim-
plesmente fruto de questões socioeconômicas (renda, região) ou “Uma aula dinâmica em que to-
de fatores psicológicos dos jovens. As distinções de comportamen- dos possam participar e expres-
sar suas dúvidas, poder questio-

51,4%
to são permeadas também pela estrutura social à qual o estudante
tem acesso. São as redes de apoio e referências que irão influenciar nar, ter mais liberdade dentro da
o quanto cada jovem se permite sonhar com um futuro diferente e sala de aula, expor suas opiniões.
quanto ele se enxerga alcançando seus sonhos. A qualidade da rede
Algo que a gente aprenda sem
de apoio inclui desde a escolaridade dos pais, passando pelo acesso
Nunca fez e não à assistência social, até a quanto o ambiente escolar é propício para
ser aquela coisa de sentado na
consideraria fazer um acolher esse jovem de maneira integral. cadeira livro e cópia.”
curso pela internet A escola já é um espaço de socialização. Mas para tornar- (Mulher, 16 anos, fora da escola, SP)
-se também espaço de escuta e acolhimento, os jovens
entrevistados destacam a necessidade de organização e ordem.
No capítulo 2, exploramos estratégias pedagógicas valorizadas
pelos estudantes. Aparecem a valorização da participação, do tra- O que mais te
balho em grupo e do debate, mas os entrevistados mencionam ajuda a aprender?

43%
também as aulas expositivas mais tradicionais. Em todas elas, o
principal é um ambiente organizado que permita o aprendizado.
A descrição de uma aula ideal como uma aula ordenada não é ex-
Não considera que cludente da vontade de que a sala de aula seja um espaço lúdico,
alunos estão preparados que trate de temas práticos e com uma linguagem mais próxima do que professores
para usar a internet em dia-a-dia dos jovens. O uso de tecnologias diversas em sala de aula, falem e escrevam
sala de aula no entanto, é pouco comum – e os jovens desconfiam de que não
na lousa
Classe C seriam capazes de utilizar a internet em sala sem prejuízo para seu

78,6% aprendizado. Em casa, no entanto, o uso da internet como espaço

78%
de aprendizado é comum, ainda que majoritariamente feita por ce-
lular, por falta de acesso a outros meios. Canais no Youtube servem

86,5%
como reforço escolar e como fonte de conhecimento técnico, mes-
mo para os jovens que abandonaram os estudos.
dizem bagunça é o
principal problema
Classe D-E da escola.

.154 .155
:: Porcetagens (%)
referentes às chances
de pensar em Como considera o
abandonar os próprio desempenho
estudos.
O abandono escolar também foi tema da nos- Regular/ruim Bom/excelente
sa pesquisa. Identificamos, a partir de análises
estatísticas combinadas com interpretação de
entrevistas em profundidade, preditores relevan-
tes para a evasão. As variáveis que indicam maior
probabilidade de abandono reforçam a centrali- 26% 11%
dade da escola construir uma rede de apoio para
esses jovens vulneráveis. A percepção de perfor-
mance é a primeira variável a prever a evasão. Escola valoriza/ Violência na escola
escuta os alunos?*
Entre aqueles que consideram seu rendimento
satisfatório, a violência dentro da escola vai in-
fluenciar a decisão de abandonar. Valoriza pouco Valoriza muito Já sofreu Nunca sofreu
Para os demais, o acolhimento dado pela esco- :: Resultado:
la para suas dificuldades de rendimento que irá
Análise de
influenciar a possibilidade de evasão. Há um pa-
pel relevante da organização escolar – quanto CHAID 31% 21% 15% 6%

o jovem associa à bagunça suas dificuldades.


O mais importante desta análise é entender
que o jovem dá sinais de que irá abandonar a
escola. Portanto, é possível pensar em estraté- O que mais atrapalha
Sexo
gias para identificar esses sinais e trazer o jovem o aprendizado

de volta, antes que ele concretize a evasão.


Esse papel não pode ser somente da escola. Meninas Meninos
O problema exige políticas públicas interseto-
riais, que envolvam assistência social, segurança
Bagunça
pública, educação, saúde, entre outros. Outros
39% 24%

24% 10%
*Combinação de diversas questões
relacionadas à valorização e escuta dos
jovens pela escola.

.156 .157
:: Minha escola me apoia/acolhe
quando eu tenho problemas pessoais

15,5%
19,5%

Concordo totalmente
20,8% 25,7%
Concordo parcialmente O último capítulo, dedicado às redes de
14,1%

20%
24,3% Discordo parcialmente apoio e a questões que envolvem saúde
Discordo totalmente mental, destacou a relevância de trazer ou-
45,6%
tros atores para apoiar a escola na garantia
34,5% de que os estudantes completem os es-
tudos. 60% dos estudantes dizem ter tido
queda de rendimento devido a problemas dos jovens de
Entre quem já Entre quem nunca
interrompeu interrompeu
pessoais, índice ainda maior entre os que 17 a 19 anos não
os estudos os estudos alguma vez já abandonaram a escola ou falam com
já reprovaram. Os que abandonaram men- ninguém sobre
cionam com maior frequência também que problemas
a escola não os apoia em momentos de di- pessoais
ficuldade. No entanto, quando a escola não
:: Alguma vez seu desempenho escolar caiu os apoia, muitos relatam não terem outras
por conta de algum problema pessoal? pessoas para falar sobre esses problemas.

54,3%
33,5%

Entre alunos que Entre alunos que


já reprovaram nunca reprovaram

.158 .159
As entrevistas qualitativas mostraram um problema
grave de sensação de solidão por muitos dos entre- “A minha escola me vê, porque eu sou
vistados. Mesmo que a escola não possua todas as assim na escola. Sou bastante sor-
ferramentas para lidar com esses problemas sozi- ridente, feliz, engraçado, rio muito. E
nha, ela é o principal ponto de contato destes jovens
o último, de como eu realmente sou,
com políticas públicas, e poderia ser responsável
é porque, digamos que eu sou solitá-
pelo encaminhamento de situações mais graves.
rio. Antes eu tinha muitos e muitos
Esses casos mostrarão queda de rendimento, o que
potencialmente pode aumentar o risco de evasão,
amigos, mas boa parte deles se mu-
excluindo jovens de seu direito à educação e de seu daram, começaram a namorar e es-
principal sonho, terminar os estudos. Como queceram a amizade, acabei ficando
minha escola sozinho.”
me vê
As diferenças de perfis em relação aos projetos de “Eu sou solitário é que, eu não que-
vida (Autoconfiantes, Resignados e Desesperanço- ria ser. É horrível, eu não quero isso
sos) são causadas por inúmeros fatores, psicológicos, para ninguém. Eu não queria ser uma
sociais e econômicos. Sabendo que a escola não
pessoa solitária. Por isso que solidão
será capaz de enfrentar todos esses desafios simul-
é uma coisa que eu não quero para
taneamente, ela pode servir de apoio para aqueles
estudantes em situação de maior vulnerabilidade e
ninguém, porque já passei muitos
sensação de isolamento. A escola pode ser o canal
anos com isso e é chato. Entende?”
de referências e inspirações daqueles que não en- (Homem, 14 anos, 9º ano, Recife)
contram uma rede de apoio estruturada fora dali.
Para que isso ocorra, é necessário, mais uma vez,
Como eu
realmente
escutar os estudantes. A escuta passa por um am-
biente organizado e com conflitos controlados, e
por apoio também aos professores para capacitá-los sou
para maior escuta e participação.

.160 .161
:: equipe

:: FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO :: Gerente de Produção :: CONSULTORES :: :: AGRADECIMENTOS ::


Deca Farroco
Presidência Especialista e Educadores Ana Beatriz Lima
José Roberto Marinho Gerente Canal Futura Desenvolvimento Institucional - FRM
Jaqueline Lima Santos
José Brito
Doutora em Antropologia e
Secretaria Geral Anne da Rocha Ferreira
Pesquisadora na Unicamp
Wilson Risolia Equipe Técnica Led Laboratório de Educação - FRM
Cintia Barreto
Alzira Valéria
Professora e Doutora em Literatura
Assessora de Pesquisa & Avaliação Priscila Pereira Meriene da Cunha Mazzei
Brasileira pela UFRJ
Rosalina Maria Soares Canal Futura - FRM
João Rafael
:: PLANO CDE ::
Professor na Unidade
Equipe técnica de Pesquisa Tamiris de Almeida Cutrim
Escolar da FRM
André Vieira Gerenciamento e Planejamento Canal Futura - FRM
Mauro Storani
Katcha Poloponsky Maurício de Almeida Prado
Professor na Rede
Juliana Leitão Rafael Camelo Mariana Resegue
Estadual do Rio de Janeiro
Maíra Mascarenhas Breno Barlach Em Movimento

Jovens
Desenvovimento Institucional Trabalho de campo Luiz Carlos Brandão C. Junior
Gerente Desenvovimento Institucional Florbela Ribeiro Clara Vaz Fundação Bradesco
Mônica Pinto Sara Azevedo Cardoso Camila Silva
Elias Costa Erika Cavalcanti
LEd - Laboratório de Educação Redação de relatório Jonas Fernandes Fundação Bradesco
Gerente Geral Breno Barlach Lays dos Santos
João Alegria Isadora Castanhedi Patrick Pereira Marisa Ohashi
Fundação Bradesco
Gerente de Implementação Design
Ana Paula Brandão Nando Motta

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