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Enrico José Giordani et al.

Ligas Inoxidáveis

Estudo comparativo entre os aços


inoxidáveis dúplex e os inoxidáveis AISI
304L/316L
Marcelo Senatore
Engenheiro Metalurgista - Sandvik Materials Technology
E-mail: marcelo.senatore@sandvik.com

Leandro Finzetto
Engenheiro Metalurgista - Sandvik Materials Technology
E-mail: leandro.finzetto@sandvik.com

Eduardo Perea
Engenheiro Metalurgista - Sandvik Materials Technology
E-mail: eduardo.perea@sandvik.com

Resumo Abstract
Os aços inoxidáveis dúplex ferríticos-austeníticos Ferritic-austenitic duplex stainless steels are part
fazem parte de uma classe de materiais com microestrutu- of a class of material having a two-phase
ra bifásica, composta por uma matriz ferrítica e ilhas de microestructure, comprised of a ferritic matrix and
austenita, com frações volumétricas aproximadamente austenitic islands, with the volumetric fractions
iguais dessas fases. Essa classe de materiais é caracteri- approximately the same in these phases. This class of
zada por apresentar interessante combinação de eleva- material is characterized by the presentation of an
das propriedades mecânicas e de resistência à corrosão interesting combination of high mechanical properties
e, por isso, é considerada bastante versátil. Os aços ino- and corrosion resistance and is therefore considered
xidáveis dúplex são, freqüentemente, utilizados nas in- quite versatile. The duplex stainless steels are often used
dústrias química e petroquímica, de papel e celulose, si- in the chemical, petrochemical, pulp & paper and food
derúrgicas, alimentícias e de geração de energia. O pre- industries, as well as in steel foundaries and energy
sente trabalho estabelece um comparativo entre as pro- power plants. This paper shows a comparison between
priedades físicas, mecânicas e de resistência à corrosão the physical, mechanical and corrosion resistance
dos aços inoxidáveis duplex e os tradicionais aços inoxi- properties of duplex stainless steels and the traditional
dáveis austeníticos AISI 304L e 316L, largamente utiliza- austenitic stainless steels 304L and 316L, largely used
dos na indústria brasileira. Resultados de ensaios labora- in the Brazilian industry. Results of laboratory tests and
toriais e dados relevantes de experiências práticas des- relevant data on practical experiments on these
ses materiais também são apresentados. materials are also presented.
Palavras-chave: Inoxidável, duplex, corrosão. Keywords: Stainless steel, duplex, superduplex,
corrosion.

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Propriedades mecânicas e de corrosão de dois aços inoxidáveis austeníticos utilizados na fabricação ...

1. Introdução química e podem substituir aços ino- apresentam um comportamento muito


xidáveis austeníticos como TP304L/ próximo do equilíbrio estável e metaes-
Aço inoxidável dúplex é o nome 316L. Uma qualidade utilizada é o UNS tável, produzindo uma estrutura lamelar
dado à classe de materiais com microes- S32304 (SAF 2304). com grãos alongados na direção de la-
trutura bifásica, composta por uma ma-
b) Aços inoxidáveis dúplex de média liga: minação e composta por uma matriz fer-
triz ferrítica e ilhas de austenita, com fra-
nessa família, enquadram-se os dúplex rítica com ilhas de austenita, sendo de
ções volumétricas de, aproximadamen-
mais utilizados. A qualidade típica é o aproximadamente 35-55% de ferrita e 45-
te, 50% de cada fase, sendo que o núme-
UNS S31803 (SAF 2205). Apresentam 65% de austenita, conforme ilustra a Fi-
ro de contornos de grão alfa/alfa e gama/
resistência à corrosão intermediária gura 1.
gama é similar ao número de interfaces
alfa/gama [1]. entre os austeníticos comuns TP304L/
316L e aços inoxidáveis superaustení-
Nesse trabalho, estão descritas as ticos com 5 e 6% de molibdênio. 4. Propriedades
propriedades mecânicas e físicas das li-
gas 316L e UNS S32750 (SAF 2507), bem c) Aços inoxidáveis dúplex de alta liga: mecânicas dos aços
como é apresentado um estudo da resis- comumente designados por superdú- inoxidáveis dúplex
tência à corrosão localizada pelo empre- plex. O UNS S32750 (SAF 2507) apre-
A combinação entre os elevados
go de método eletroquímico, incluindo senta elevada resistência à corrosão
valores de alongamento da austenita com
medições de polarização potenciodinâmi- comparável aos superausteníticos que
o elevado limite de escoamento da ferri-
ca e resistência à corrosão sob tensão em possuem entre 5 e 6% de molibdênio.
ta nos aços inoxidáveis dúplex, forma um
meios contendo a presença de cloretos. conjunto de notáveis propriedades me-
cânicas. Os aços inoxidáveis dúplex
3. Microestrutura dos apresentam elevado limite de escoamen-
2. Composição química aços inoxidáveis dúplex to, na ordem de duas vezes o valor dos
dos aços inoxidáveis A microestrutura dúplex pode ser aços austeníticos. Além disso, apresen-
Na Tabela 1, são apresentados os obtida através do balanceamento dos tam um alongamento mínimo em torno
principais tipos de aços inoxidáveis, com elementos de liga e de tratamento termo- de 25% [4].
destaque para os dúplex UNS S32304, mecânico [3]. O balanceamento dos ele- O comportamento mecânico dos
S31803 e S32750 (SAF - Sandvik mentos de liga, nos aços inoxidáveis aços inoxidáveis dúplex está intimamen-
Austenitic Ferritic; 2304, 2205 e 2507) e dúplex tem, por objetivo, controlar os te- te relacionado com a característica de
suas respectivas composições químicas. ores de elementos estabilizadores de aus- cada fase, por isso o balanceamento en-
tenita, ou gamagênicos, tais como níquel, tre as frações volumétricas de austenita
Os diferentes tipos de aços inoxi-
carbono, nitrogênio e de elementos es- e ferrita deve estar próximo de 50% para
dáveis dúplex são, usualmente, separa-
tabilizadores da ferrita, ou alfagênicos, cada uma das fases, a fim de se maximi-
dos em três grupos, com relação à com-
cromo, molibdênio e silício. Esses ele- zar as propriedades mecânicas.
posição química:
mentos constituem a composição quí-
a) Aços inoxidáveis dúplex de baixa liga: mica dos dúplex. O tratamento termome- A Tabela 2 compara as proprieda-
devido ao menor teor de elementos de cânico é, usualmente, realizado em tem- des mecânicas dos aços inoxidáveis de
liga são materiais econômicos, não peraturas entre 1000 e 1250°C. Nessa fai- microestrutura dúplex com os aços ino-
possuem molibdênio na composição xa de temperatura, os aços inoxidáveis xidáveis austeníticos.

Tabela 1 - Composição química dos principais aços inoxidáveis [2].

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Figura 1 - Microestrutura típica de um aço inoxidável austenitico (1)AISI 316L X 400 e microestrutura típica de um aço inoxidável
dúplex (2) SAF2205 X 400 [4].

Tabela 2 - Comparação entre as propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis de microestrutura dúplex com as ligas austeníticas [5].

Os aços inoxidáveis dúplex apre- os de impacto demostram que os aços A transição dútil-frágil dos dúplex é ca-
sentam alta resistência ao impacto na dúplex possuem boa tenacidade. raterística da fase ferrítica.
temperatura ambiente (25°C). Sua tena- A Figura 2 ilustra os resultados ob-
cidade está limitada à fração volumétrica tidos no ensaio de impacto para a liga
e distribuição da ferrita. Com uma fração
5. Propriedades
316L, bem como para três qualidades
volumétrica de austenita da ordem de dúplex: UNS S32304 (SAF 2304), físicas dos aços
40%, obtém-se prevenção efetiva do UNS S31803 (SAF 2205) e UNS S32750 inoxidáveis dúplex
crescimento de trincas [3]. Dessa forma, (SAF 2507). Nota-se que a temperatura
a orientação e a morfologia da estrutura A Tabela 3 apresenta as principais
de transição dútil-frágil para os dúplex
dos dúplex são importantes na avalia- está em torno de -50°C, enquanto que a características físicas dos aços inoxidá-
ção da tenacidade. Resultados de ensai- liga 316L não apresenta esse fenômeno. veis dúplex, estabelecendo um compa-

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rativo com as dos aços inoxidáveis aus-
teníticos e ferríticos.
Observando a Tabela 3, nota-se que
os aços dúplex apresentam comporta-
mento intermediário entre os aços inoxi-
dáveis austeníticos e ferríticos. A con-
dutibilidade térmica dos aços inoxidáveis
dúplex é maior do que a dos aços inoxi-
dáveis austeníticos.
Devido à presença da fase ferrítica,
os aços inoxidáveis dúplex possuem
menor coeficiente de expansão térmica
que os austeníticos, fazendo com que
estas ligas apresentem comportamento
próximo ao dos aços carbono.
A Figura 3 apresenta uma compara-
ção entre os coeficientes de expansão
térmica do aço inoxidável dúplex com os
das ligas austeníticas AISI 316L e 304L e
um aço carbono.

Figura 2 - Resistência ao impacto dos aços inoxidáveis duplex e 316L. Ensaio Charpy,
6. Resistência a corpos-de-prova de seção 10 x 10 mm X 50 mm e entalhe em V. Os ensaios foram
realizados na direção transversal à direção de laminação [6].
corrosão dos aços
inoxidáveis dúplex
A resistência à corrosão é determi-
nada pela capacidade que esses materi-
ais tem de se passivar e permanecer nes-
se estado no ambiente a que estiver ex-
posto. Essa propriedade está relaciona-
da, principalmente, aos elementos de liga
presentes na composição química do
aço, embora outros fatores como tama-
nho de grão, distribuição e morfologia
de inclusões, precipitação de fases e
qualidade da superfície também exerçam
influência [2, 8, 9, 10]. Figura 3 - Expansão Térmica x 10-6 , por °C (30-100°C) [7].

Tabela 3 - Propriedades físicas [7].

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Os mecanismos de corrosão mais versos ensaios de corrosão, tais expres- ratura de ensaio foi de 25°C. A célula foi
comuns são: corrosão por pite e corro- sões devem ser usadas qualitativamen- feita de Plexiglas e havia um furo circular
são sob tensão. Em geral, os aços inoxi- te, visando, somente, a estabelecer um (revestido de Teflon) na parede lateral.
dáveis dúplex apresentam elevada resis- ranking aproximado entre diferentes As amostras foram comprimidas contra
tência a todos esses mecanismos. aços. No caso dos aços inoxidáveis dú- esse furo e, assim, a superfície de metal
plex, é necessário considerar a resistên- exposta à solução foi estipulada em
Nos aços inoxidáveis austeníticos,
cia à corrosão por pite das duas fases, 1 cm². Um eletrodo de platina funcionou
assim como nos ferríticos, os elementos
haja vista que há diferença dos elemen- como contra-eletrodo e um eletrodo de
de liga estão distribuídos em uma única
tos de liga presentes na austenita e ferri- calomelano saturado (ECS) como eletro-
fase, fazendo com que a resistência à
ta. Caso uma das fases apresente menor do de referência. Todas as medições fo-
corrosão desses aços seja relativamente
resistência à corrosão, esta determinará ram repetidas três vezes.
homogênea. Nos dúplex, no entanto,
o comportamento do material.
caso uma das fases apresente menor re- O trabalho compreendeu medições
sistência à corrosão, esta determinará o A Tabela 4 apresenta o PRE para de polarização potênciodinâmica cíclica.
comportamento do material. Embora a alguns aços inoxidáveis. A polarização potênciodinâmica cíclica
concentração dos elementos de liga seja com uma taxa de varredura lenta e uma
Nesse trabalho, a resistência à cor-
diferente nas fases ferrita e austenita, os varredura revertida é bastante utilizada
rosão localizada do superdúplex UNS
aços inoxidáveis dúplex modernos pos-
S32750 (SAF2507) e 316L foi examinada para avaliar a resistência à corrosão por
suem apurado balanceamento de elemen-
pelo emprego de método eletroquímico, pite ou por fresta de aços inoxidáveis. O
tos de liga em ambas as fases, conduzin-
incluindo medições de polarização po- potencial de ruptura é chamado de po-
do a propriedades de corrosão bastante
tenciodinâmica. Os ensaios foram exe- tencial de corrosão crítico por pite ou de
equilibradas para as duas fases.
cutados em uma solução neutra de 3% potencial de corrosão por fresta, quan-
de NaCl e pH = 7. do há a presença de uma fresta.
6.1 Corrosão por Pite Os dois aços inoxidáveis, O instrumento eletroquímico em-
UNS S32750 (SAF2507) e o 316L, foram pregado foi uma interface eletroquími-
O que caracteriza a corrosão por pite cedidos pela AB Sandvik Materials ca Solartron 1286 controlada por um
é a capacidade que o metal tem de se Technology. Os corpos-de-prova utiliza- computador com o programa CorrWare.
passivar, ou seja, formar um filme conti- dos no ensaio foram discos com diâme- Todas as medições de polarização foram
nuo e aderente de óxidos capaz de impe- tro de 20 mm e espessura de, aproxima- iniciadas depois de estabilizado o po-
dir a penetração de oxigênio no metal. A damente, 2 mm. Todas as amostras fo- tencial de circuito aberto da amostra. Nas
avaliação da resistência à corrosão por ram lixadas a úmido com lixa de carbeto
pite de um metal pode ser feita de diver- medições de polarização potênciodinâ-
de silício, 1200 grana, lavadas com água mica cíclica, a taxa de varredura foi de
sas maneiras. deionizada e etanol puro e, então, de- 10 mV/min. A varredura de potencial
No caso particular dos aços inoxi- sengraxadas com acetona, antes do iní- ascendente começou em um potencial
dáveis, algumas expressões matemáticas cio de cada medição. -0,2 V abaixo do potencial de circuito
relacionam a influência dos elementos Uma célula eletroquímica de três aberto e o sentido da varredura foi in-
de liga na resistência à corrosão por pi- eletrodos contendo 400 ml de solução vertido, quando a densidade de corren-
tes. Os elementos de liga que ditam o neutra de 3% de NaCl foi utilizada du- te atingiu 10-4 A/cm². A varredura foi con-
comportamento são Cr, Mo e N [11]. O rante os exames, a solução foi desaerada cluída, quando se observou o potencial
equivalente de resistência a pite ou PRE com nitrogênio gasoso puro e a tempe- de proteção na varredura descendente.
(pitting resistance equivalent) é a fór-
mula mais usada industrialmente. Trata-
se de uma expressão simples que permi- Tabela 4 - PRE de alguns aços inoxidáveis [8].
te comparar, de maneira genérica, a re-
sistência à corrosão de diferentes aços
inoxidáveis.
PRE = %Cr + 3,3 x %Mo + 16 x %N (1)
A equação (1) é indicada para os
aços inoxidáveis austeníticos e pode ser
empregada na comparação entre eles e
os aços inoxidáveis dúplex.
Apesar da boa correlação entre as
expressões do PRE e resultados de di-

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As curvas de polarização anódica
típicas obtidas a partir das medições
potenciodinâmicas cíclicas, na solução
neutra com 3% de NaCl, são mostradas
na Figura 4, para os aços inoxidáveis su-
perdúplex UNS S32750 (SAF 2507) e o
316L, respectivamente.
Os potenciais de corrosão por pite
e de passivação encontrados nas cur-
vas de polarização anódica estão apre-
sentados na Tabela 5.
O aço inoxidável superdúplex UNS
S32750 (SAF 2507) apresentou um com-
portamento eletroquímico bastante es-
tável com uma ampla faixa de potencial
passivo. O potencial de corrosão por pite
encontrado foi de 1,10 V/ECS e o poten-
cial de passivação encontrado foi de 0,89
Figura 4 - Curvas de polarização cíclica típicas para o super dúplex UNS S32750
V/ECS.
(SAF2507) e 316L obtidas em solução neutra com 3% de NaCl e temperatura de 25°C.
O valor do potencial de corrosão Taxa de varredura de 10 mV/min.
por pite está próximo do da reação por
evolução de oxigênio. Os resultados do Tabela 5 - Potenciais de corrosão por pite e de passivação.
potencial de passivação obtidos mos-
traram valores altos de 0,89 V/ECS para
o UNS S32750 (SAF2507), indicando uma
forte capacidade de repassivação.
Um pequeno pico de corrente a
aproximadamente 0,65 V/SCE pode ser
observado para o superdúplex UNS
S32750 (SAF 2507) na Figura 4. Esse pico cidas neutras ou ácidas contendo clore- corrosão, com conseqüente aumento na
de corrente parece ser gerado por uma to, ácido politiônico, ambientes cáusti- intensidade de tensão na extremidade da
reação eletroquímica a esse potencial, cos e meios contendo H2S [12]. trinca. No terceiro estágio, há continui-
possivelmente relacionada ao processo dade da propagação da trinca unicamente
Como existem diferenças entre os
de oxidação transpassiva (Cr3+ → Cr6+). pela ação da tensão de tração, devido à
mecanismos de corrosão nos diversos
O mecanismo desse comportamento ul- redução de espessura do componente.
meios e estes são bastante complexos,
trapassa o escopo desse trabalho. Mes- não há, ainda, um mecanismo universal Como dito anteriormente, há uma
mo assim, os materiais ainda permanecem estabelecido. Porém o resultado desse variedade grande de mecanismos pro-
em um estado passivo acima desse poten- processo corrosivo é sempre o mesmo, postos para explicar a corrosão sob ten-
cial de pico e até mesmo acima do potenci- a formação de trincas (transgranulares são nos aços inoxidáveis. Entre as teori-
al de corrosão por pite de 1,10 V/SCE. ou intergranulares), geralmente em uma as mais comuns, para meios contendo
superfície até então aparentemente in- cloretos, destacam-se modelos apoiados
tacta. em reações de dissolução anódica, que
6.2 Corrosão sob tensão propõem que a CST é causada por al-
Independente do mecanismo atu-
gum tipo de penetração ou ruptura do
A corrosão sob tensão (CST) é um ante, a corrosão sob tensão envolve três
filme passivo, seguida de dissolução
processo resultante da ação simultânea estágios. O estágio inicial consiste num
anódica do metal exposto.
de um meio corrosivo específico e ten- ataque corrosivo lento e que ocasiona a
sões de tração residuais ou aplicadas. concentração de tensões. O segundo Porém esses mecanismos referem-
Nos aços inoxidáveis, este é o mecanis- estágio corresponde ao crescimento len- se a aços monofásicos. Para os dúplex, o
mo de corrosão responsável pelo maior to da trinca, a partir dos danos causados mecanismo pode ser diferente ou, ainda,
número de falhas na indústria. pela corrosão no primeiro estágio. Nes- uma combinação das teorias de dissolu-
se estágio, a propagação da trinca ocor- ção anódica e fragilização por hidrogê-
Os principais meios corrosivos
re por efeito combinado da tensão e da nio.
onde a CST ocorre são: soluções aque-

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O diagrama da Figura 5 apresenta
os resultados de ensaio para as ligas
dúplex e aços inoxidáveis austeníticos.
O teste foi realizado com carga constan-
te em uma autoclave pressurizada com
solução neutra de cloretos. A pressão
total da autoclave foi de 100 bar, as solu-
ções de cloreto continham, aproximada-
mente, 8 ppm de oxigênio e a tensão apli-
cada foi equivalente à tensão de escoa-
mento na temperatura de teste. As amos-
tras foram avaliadas após um período de
1.000 horas. Abaixo das curvas, para
cada material, não foram observadas trin-
cas de CST.

7. Conclusão
O desenvolvimento dos aços ino-
xidáveis dúplex vem contribuindo para a
solução de problemas de corrosão veri-
ficados na indústria. Figura 5 - Resistência à CST em solução neutra contendo cloretos (aproximadamente
8 ppm de oxigênio). Abaixo das curvas não são observadas trincas de CST [11].
A liga superdúplex UNS S32750
(SAF2507) apresentou uma excelente re- legiada do ponto de vista de projeto, pois steels: structure and properties. In: Proc.
sistência ao princípio de pite e uma forte permitem a utilização de equipamentos Conf. Duplex Stainless Steels’91, Les
tendência à repassivação. mais leves, mais seguros, isento de ma- Editions de Physique, Les Ulis Cedex,
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