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O MÉTODO
um filme de Marcelo Piñeyro
2005
CICLO INTEGRADO DE Cinema, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC
DOC TAGV / FEUC
Integração Mundial, Desintegração Nacional:
a crise nos mercados de trabalho
http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/2007_2008.htm
Conferência de:
Adriano vaz serra
O método (2005)
um Filme de Marcelo Piñeyro
debate com:
Adriano Vaz serra (FMUC)
Adelino fortunato (Feuc)
Lina coelho (feuc)
Sinopse 05
Ficha Artítica 06
Ficha Técnica 06
Entrevista com Marcelo Piñeyro 07
Parte II.
O Método e o mundo
Sinopse
Depois de se terem apresentado uns aos outros, com uma certa desconfiança,
todos se começam a interrogar se estão ou não a ser observados por câmaras de filmar
e se não esta infiltrado no grupo um psicólogo para os examinar, para os eliminar.
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Ficha Artística
Ficha Técnica
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Entrevista com Marcelo Piñeyro
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P. O Método coloca em cena a realidade de forma tão cruel. Será que esta
ultrapassa a ficção?
R. Com um conceito do tipo “tu cais, tu desapareces” esta sensação, que não
existia há duas gerações antes, ressente-se na atmosfera do filme. Eu estava interessado
na ideia do processo de selecção do pessoal porque de uma certa forma é uma metáfora
bem precisa para determinar os mecanismos que estão para além do mundo do trabalho.
Cá fora tudo se agita, os grupos anti-globalisação… como se houvesse tumultos, o
caos, as incertezas. Nesta empresa, onde se desenrola 0 Método Grönholm não se ouve
praticamente nada do exterior: tudo é perfeito, sereno, pelo menos na aparência.
R. Na minha vida profissional nunca fui confrontado com este tipo de selecção. Mas,
pelo contrário, conheci pessoas perto de mim ou não que viveram provas semelhantes.
Se eles parecem cruéis, eles são bem reais. Aliás, com Mateo Gil, decidimos
manter provas bastante inocentes a fim de que o filme se torne credível. Si tivéssemos
feito como os documentaristas, o resultado seria mesmo muito mais cruel e selvagem!
R. Tomemos uma empresa que informa os seus quinze quadros que quatro
deles vão ser despedidos. Por exemplo, isto pode passar-se num fim-de-semana de
turismo de aventura, fazendo-os partilhar os mesmos quartos… São jogos que não
têm nada a ver com a função profissional ou as competências, mas que têm por
finalidade examinar os medos de cada um. Isto é selvagem.
R. Nem mais nem menos com o fantasma e o desejo. Com Mateo, dizíamos:
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se ele aceitasse seria genial. Lembro-me quando propus à produtora os nomes dos
actores, todos eles tão prestigiados uns como os outros, ela ficou branca como o
mármore: “não vai ser possível”! Mas, uma vez que todos os actores aceitaram, nesse
momento, quem depois ficou petrificado fui eu. Um tal casting é um luxo com o
qual me senti muito privilegiado.
R. Com este filme, reencontrei três actores: Eduardo Noriega e Pablo Echarri
que tinham representado os dois em Plata Quemada [2000] e Ernesto Altério que
tinha representado Tango Feroz: La Leyenda de Tanguito [1993], o meu primeiro
filme. Eduardo é um actor fantástico e estou muito orgulho da sua evolução, é um
profissional seguro com uma técnica muito apurada. Confiei-lhe um personagem
muito complexo, diferente dos outros. Era um papel muito difícil e eu adorei a sua
interpretação. Já sinto necessidade de voltar a trabalhar com ele.
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isto foi impossível. De facto, tive a impressão de estar na escola a reaprender tudo o
que tinha aprendido e com uma euforia permanente. Para além disso, rodámos com
3 câmaras simultaneamente e deste ponto de vista os actores não tiveram nenhum
momento de relaxamento porque estavam sempre em tensão.
R. Penso que não. Coloca questões e nada mais. Dizer que os maus são as
empresas multinacionais seria uma solução muito rápida. O filme faz um diagnóstico
de coisas que nos acontecem, a todos nós, pontos de partida que permitem que as
nossas próprias misérias se expandam. Para parafrasear Bergmann: “a partir daí, o
demónio está em nós próprios”.
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Parte II.
O método e o mundo
Saymon Nascimento
Coisas de Cinema
28 Outubro de 2006Disponível em http://www.coisadecinema.com.br/
matCriticas.asp?mat=2117
Por exemplo: Plata Quemada, Nove Rainhas e Do Outro Lado da Lei (de
Piñeyro, Fabian Bielinski e Pablo Trapero, respectivamente) são releituras do filme
policial; O Filho da Noiva e Clube Da Lua, de Juan José Campanella, usam o
melodrama para falar da falência da Argentina como nação, e da busca da segunda
oportunidade para os seus habitantes. O Método foi filmado em Espanha, e fala
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Nota dos editores: O filme O Método passou no Brasil com o seguinte título: O Que você Faria?
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de problemas de maior amplitude, mas a fórmula é a mesma. Piñeyro atualiza o
clássico Doze Homens em Fúria, de Sidney Lumet.
Estão todos encerrados numa sala, onde são submetidos a sucessivas provas,
muito parecidas com os jogos de um reality show. As tarefas fazem parte de um
misterioso método de selecção, chamado Grönholm, em que as regras são reveladas
pouco a pouco. Um dos concorrentes tenta explicar: “É uma dinâmica de grupo,
coisa de americanos”. Coisa de americanos mesmo: O Método é directo, simples e
fluido, dos melhores exemplos de aplicação do modelo de progressão dramática. O
manuseamento do material é perfeitamente económico; o filme depende basicamente
do elenco e dos rasgos do guião de Piñeyro e Mateo Gil, livre adaptação da peça El
Método Grönholm, de Jordi Galceran.
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anos tem origem, grosso modo, na mesma mentalidade de grandes organizações, do
actual estado do capitalismo, da globalização.
O discurso do método
Auriane Bel
Cinespagne.com
Disponível em http://www.cinespagne.com/
pagedvd/lamethode.html
Sete quadros, convocados ao mesmo tempo por uma grande empresa, vão ser
entregues a si-mesmos, e, confrontados com uma bateria de testes - o enigmático
método Grönholm - em que tudo é permitido para eliminar gradualmente os
candidatos, vão deixar revelar as capacidades de crueldade de cada um. Compete
com efeito aos próprios candidatos eliminarem-se uns os outros. Tudo (ou quase)
se resume a esta sala de reunião, que se torna progressivamente o teatro de terríveis
e desconcertantes tragédias.
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Aos que temem que um universo concentracionário de alta tensão possa gerar
algum aborrecimento, responderemos que os poucos desvios feitos relativamente a
esta aposta em cena são quase que supérfluos, tal é a vida que os actores e a intriga
dão ao filme, que nos fazem ficar sem respiração. Por outro lado, a acção procede de
um meio particularmente potente: o bluff. Este torna possíveis ressaltos psicológicos
retorcidos, através unicamente da argumentação das personagens. Cada teste valerá
com efeito ao mau orador a sua desqualificação e é, por conseguinte, somente o seu
discurso e a sua aparente boa fé que permitirá ao bom orador manter-se em liça.
Além disso, o filme progride em crescendo, o absurdo das situações cresce à medida
que o número de candidatos diminui.
Um filme a ver!
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Se é necessário que seja um lobo, então sê-lo-ei
Marie, Vincy
Ecan Noire
Disponível em http://www.ecrannoir.fr/
films/filmsc.php?f=2257
Sete pessoas fechadas numa sala e dispostas a fazer tudo o que for necessário
para chegar à final, não nos faz lembrar qualquer coisa? Seguramente que faz.
Mas, desta vez não tem nada a ver com o Big Brother ou com um qualquer outro
programa do género. Brincando ao aprendiz de assistente de laboratório, o realizador
argentino Marcelo Pineyro quis mostrar até que ponto o homem pode ser um lobo
para o próprio homem. A sobrevivência num mundo liberal tem este preço: ficamos
cruéis, cínicos, mentirosos, manipuladores. Num ambiente concentracionário,
teatralmente e sem artifícios, descodifica, disseca e mostra os comportamentos dos
seus congéneres quando as coisas não vão bem. O barulho e a fúria estão na rua,
mas o horror e o desejo estão no 35ª andar. O hábito não faz o monge, pode-se
mudar de camisa, ninguém notará a diferença. É necessário ser-se politicamente
correcto, consensual, conformista. As aparências da perfeição são apenas ilusões.
O controlo das emoções leva-nos para muito mais perto do precipício das nossas
falhas. Há a nossa imagem, o nosso reflexo, a nossa interpretação. E, no final, a
carpa transforma-se em tubarão quando há apenas larvas inchadas neste aquário
pendurado acima da cidade. Sentimento (astúcia) de dominação do mundo.
Esmagamento dos sentimentos, das personalidades, e eliminação das diferenças.
Asfixia dos nossos valores (acrescentados).
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À priori. Vejamos as coisas de outro modo: um suspense tipo As Dez Figuras Negras 2,
voyeurismo à Hitchock e sequestração angustiante, O Método metamorfoseia-se em
thriller e não pode ser mais cinegético.
2
Nota dos editores: As Dez Figuras Negras é um romance policial de Agatha Christie publicado 1939. Sinopse: Dez
desconhecidos, que aparentemente nada têm em comum, são atraídos pelo enigmático U. N. Owen a uma mansão
situada numa ilha da costa de Devon. Durante o jantar, a voz do anfitrião invisível acusa cada um dos convidados
de esconder um segredo terrível, e nessa mesma noite um deles é assassinado. A tensão aumenta à medida que os
sobreviventes se apercebem de que não só o assassino está entre eles como se prepara para ir atacando uma e outra
vez… O que se segue é uma obra-prima de terror. À medida que cada um dos hóspedes é brutalmente assassinado, as
suas mortes vão sendo “celebradas” através do desaparecimento de uma de dez estátuas, as “dez figuras negras”. Restará
alguém para um dia contar o que de facto se passou naquela ilha? Em As Dez Figuras Negras, a Ilha do Negro, local
sombrio e desde sempre povoado de mistérios, é palco de uma estranha e implacável forma de justiça, na qual as vítimas
se encontram encurraladas pelas circunstâncias e o agressor é invisível e omnipresente. A sinopse está disponível em
http://www.asa.pt/produtos/produto.php?id_produto=844152&origem=autor&id_autor=1082.
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desempenho brilhante. O primeiro encarna um macho arrogante, que pensa que
a ele nada lhe resiste. O segundo é que é mais desconcertante; umas vezes é vítima
outras vezes é carrasco, não se sabendo mais a que santo dedicá-lo. O seu credo
poderia ser: dividir para melhor reinar. Até ao fim, deixará um gosto amargo de
obscuridade ao serviço da intriga.
Por detrás deste microcosmos de empresa está uma radiografia precisa duma
sociedade sem ideias claras que navega entre tensões e paradoxos, onde os protestos
continuam a ser estéreis e na qual as pessoas esqueceram as coisas elementares que
nos podem trazer alguma felicidade. Esta metáfora convida à reflexão sobre as
relações para com o poder, a falta de escrúpulos e de respeito perante a experiência
que actualmente invade o mundo das empresas. Denúncia, difamação, traição,
estratégias, dissimulação (e mesmo sexo) estão no menu da ementa deste pacto com
o diabo que se veste em qualquer Zara. Mesmo os sentimentos mais honrosos como
o amor não são poupados. Um método que conduz à destruição do indivíduo,
uma imagem perfeitamente representativa no último plano: o candidato finalista
que se perde no meio de uma rua devastada pela manifestação. As tomadas de
vista clássicas (onde grandes planos à maneira de retrato reforçam a impressão de
claustrofobia e onde os split screens do genérico introduzem a noção de luta, tanto
dentro como fora do edifício) estão ao serviço dum guião duma precisão cirúrgica.
Certas cenas parecem ter necessidade de mais alguns esclarecimentos ou parecem
muito simplesmente inúteis para o desenrolar da intriga. Mais continuamente
tenso, o filme seria então uma autêntica maravilha.
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Maquiavel em acção
Tónia Pallejà
La Butaca
Disponível em www.labutaca.net/
films/35/elmetodo.htm
O Método é o primeiro dos seus filmes com acento espanhol, não por ter
este verniz sofisticado e frio que o envolve, mas sim porque a partir desta peça de
teatro, da qual a trama se desliga até ficar apenas com o essencial, se fica mais perto
do abstracto e do universal do que duma geografia concreta, e é, ao mesmo tempo,
tão contemporâneo que quase resulta pós-moderno; passa-se isolado do mundo
exterior para criar um micro-universo que o reflecte com realismo, e cede o terreno
ao que é cerebral e à palavra perante o impulso das emoções ou da acção física
óbvia. No entanto, o que dissimula sob este vestuário intelectual e cosmopolita é
sobretudo outra história humana na qual Piñeyro sublinha, de novo, a luta pela
sobrevivência numa situação extrema, através dum grupo de personagens que,
apesar do seu aspecto de triunfadores, são igualmente vítimas de um sistema que
deixa muito pouca margem para a ilusão e para a esperança.
A peça teatral escrita por Jordi Galcerán é transferida com sucesso para o
cenário da Europa e da América. El Método Grönholm serve unicamente como
ponto de partida para uma versão bastante livre que o dramaturgo catalão ele
mesmo declarou que só reconheceu a sua obra, pelo seu resultado final. Nas mãos
de Mateo Gil, tradicional argumentista de Alejandro Amenábar, e do próprio
Piñeyro, o texto original foi cortado no seu sentido cómico, aumentando o número
de participantes e alterando a grande maioria dos seu argumentos, para construir
um descarnado psicodrama com aspectos de intriga que se situam em torno do
mercado de trabalho agressivo da actualidade. Controvérsias à margem, o que é
certo é que esta aproximação mais chocante e mais grave sobre sete candidatos a
um mesmo posto de executivo que se vêem envolvidos num particular processo
de selecção de pessoal, enquanto os activistas anti-globalização se manifestam nas
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ruas contra o Fundo Monetário Internacional, é inteligente e mantém sempre
presente uma metáfora que convida à reflexão sobre as relações de poder e da falta
de escrúpulos que actualmente invade o mundo empresarial. Cobaias de uma
experiência cruel e retorcida que vai determinar a sua prosperidade profissional,
estes sete protótipos que representam diferentes maneiras de compreender o sucesso
ou de aceitar o malogro, serão isolados num escritório, como peixes num aquário,
sujeitos à observação constante e postos à prova, enfrentando-se uns aos outros para
se estabelecer qual eles é o candidato mais válido, o que se traduz em saber qual deles
está mais disposto a humilhar e a deixar humilhar. Crítica ácida desta encarniçada
batalha que é liberada nos gabinetes para aceder às elevadas esferas – em que vale
tudo porque tudo se pode impor – e em que há umas regras do jogo que pervertem
o indivíduo até extrair de cada um deles o pior que há em cada um ser humano,
ela analisa também as características geracionais onde a preparação académica e a
ambição mal compreendida da juventude vencem os valores tradicionais, como a
experiência, a honestidade, ou de uma tecnologia que despersonaliza as relações
e facilita o trabalho sujo, como é o caso destes computadores com desenhos de
marionetas diabólicas presentes na sala.
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dia, reduzindo-se cada vez mais as tiradas de humor que ajudam a oxigenar e a
aliviar a atmosfera tensamente carregada. No início parece simples identificar
e prever os comportamentos e as atitudes que se sucedem no ecrã, pondo-se
facilmente na pele de personagens verosímeis e representativos, que não são
nunca nem bons nem maus, mas vítimas das mesmas circunstâncias. O Método
prende-nos ao ser capaz de pôr uma situação que, sendo extrema e absurda, é
percebida e sentida como provável e reconhecível, e pela sua capacidade em
alimentar o que é suspense e manter a intensidade fazendo uso unicamente
das afirmações que expressam o sentir humano. Contudo, não pode evitar que
o seu interesse vá decaindo à medida que os candidatos mais atractivos forem
eliminados e, desta maneira, alguns dos actores que prometiam dar mais luta
abandonam a partida. Após um certo parênteses do argumento algo caprichoso
que destabiliza o ritmo e quebra com o tom elegante e o conteúdo que tinha
dominado até ali – o que acontece nos lavabos revela-se, obviamente, algo
forçado e pouco provável – os diálogos agudos e dinâmicos do princípio acabam
por conduzirem a um triângulo de índole sexual que não parece trazer nada de
positivo à progressão dramática, mas no qual a presença sempre carregada de
Eduard Fernandez poderia agarrar a atenção.
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contra a desumanização da economia que se deslocam nas ruas são a outra face,
mais ruidosa e combativa, da mesma moeda, fazendo contraponto do discurso
que se passa no seu interior.
Embora, pela sua abordagem, O Método nos remeta aos formatos BIG
BROTHER, e Piñeyro cite entre as suas referências relativas a Sydney Pollack o
filme They Shoot Horses, Don’t They?, que passou em Portugal, com o título Os
cavalos também se abatem, revela-se mais oportuno aparentá-lo com um outro filme
espanhol que lhe está muito próximo, Smoking room, do qual se aproxima, inclusive,
para além do contexto, da problemática e da abordagem. Sem dúvida, por de trás
deste jogo maquiavélico não custa apercebermo-nos, salvaguardando as devidas
distâncias que estão entre a realidade e a fantasia, duma história de terror ao estilo
de Cubo [de Vincenzo Natali, de 1997] 3, com a diferença de que aqui aos excluídos
não os espera a morte e assumem de maneira voluntária o próprio desafio. Em
suma, uma proposta certamente estimulante e que, embora pudesse ser melhorado
num ou outro detalhe, marca uma nova e agradável distância com respeito a outros
produtos do cinema espanhol e argentino, que não fazem mais do que insistir nos
mesmos tópicos e em esquemas já esgotados. Um filme original e fresco na sua
formulação, perturbador no seu fundo, bem realizado e com um muito bom guião
que não negligencia o compromisso da sua mensagem, e que ganha adeptos quanto
mais se reflecte sobre ele.
3
Nota dos editores: O filme Cubo ganhou o Grande Prémio Fantasporto 99, festival de filmes de terror de
Portugal.
Globalização é um daqueles termos
que passaram directamente da obscuridade
para a ausência de sentido,
sem qualquer fase intermédia de coerência.
Mas deixem-me dizer apenas o seguinte:
a globalização é também muito importante
e é totalmente consistente
com mais e melhores empregos,
salários decentes e empregos decentes.
Alain Supiot
Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC
Júlio Mota
Margarida Antunes
Fundação Luso-Americana