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Curso de Ciências Econômicas

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Boletim de Análise da Conjuntura Sócio-Econômica
Publicação Trimestral – ano1 – nº 3 e 4 - 2001

Reestruturação Produtiva e Indústria


de Transformação: Uma Análise do Impacto
sobre o Emprego Brasileiro e Gaúcho nos anos 90

Carla da Rocha Majewski


aluna do Curso de Ciências Econômicas

A economia brasileira, ao longo dos anos 90, passou por intensas mudanças.
Neste percurso, dois processos se destacaram: a abertura comercial iniciada em
1990, que conduziu a economia nacional a uma nova situação face aos padrões
de concorrência determinados em esfera mundial; e a estratégia de estabilização
monetária adotada pelo país em 1994. Esses elementos, em grande medida,
foram responsáveis por ampliar o grau de exposição da estrutura produtiva
brasileira ao resto do mundo, o que tornou imperiosa a busca acelerada de maior
produtividade do trabalho e demais condições de competitividade.
Em meio a esse contexto de profundas alterações, assumiu inquestionável
protagonismo a reorganização da estrutura produtiva fabril brasileira. Este novo
processo de mudanças na década de 90 veio a corroborar para uma revolução
organizacional e tecnológica que se intensificou, acabando por configurar um
processo de reestruturação produtiva. Para enfrentar o mercado interno e o
externo, ocorreu um novo padrão competitivo nas empresas nacionais e
estrangeiras instaladas em solo nacional, onde passaram a adotar estratégias de
organização e técnicas de gestão que lhes garantissem sobrevivência. Todavia,
percebe-se que existem diferenciações no modo, na intensidade e timing com que
os complexos e cadeias produtivas industriais adotaram tais estratégias. Essas
disparidades tiveram impactos tanto sobre o desempenho da produção física da
indústria de transformação brasileira quanto sobre comportamento do emprego
industrial. Além disso, esse impacto também foi diferenciado regionalmente.
A indústria de transformação brasileira foi fortemente atingida na década de
90, pois passou a sofrer fortes competições com os produtos estrangeiros. Com
isso, as mudanças ocorridas nas empresas passaram a ser adotadas com
objetivos de diferenciação na produção, redução de custos, aumento de qualidade
nos produtos, na produtividade e de constituir processos integrados e flexíveis
para competirem no mercado. Ao mesmo tempo em que as indústrias se
modernizavam nas últimas décadas, ocorreu processo de mudanças locacionais
nas regiões, ou seja, os espaços regionais foram impactados de maneira
diferenciada, provocando uma desconcentração industrial em direção ao interior
dos Estados.
A indústria de transformação do Rio Grande do Sul (RS) não instalou
segmentos industriais de grande porte, como os do Estado de São Paulo, mas
apresenta grandes particularidades com outros Estados brasileiros. Segundo os
dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), cerca de 60% da produção
do RS concentra-se nos seguintes gêneros:
• máquinas e implementos agrícolas, máquinas-ferramentas, máquinas
operatrizes e aparelhos industriais - no gênero mecânico;
• calçados femininos de couro - no gênero vestuário e calçados;
• beneficiamento de arroz, abate e preparação de carne e aves, fabricação de
óleos vegetais - em produtos alimentares;
• cutelaria - na metalúrgica.
A estrutura industrial gaúcha é formada basicamente por segmentos
industriais tradicionais1 . Portanto, as indústrias que compõem o grupo das
tradicionais no RS não só apresentaram uma ponderação significativamente maior
que no país, como registraram um aumento na participação em relação ao período
posterior a abertura comercial.
Do ponto de vista da análise setorial, notou-se que a indústria gaúcha,
durante a década de 90, apresenta uma proximidade bastante estreita com a
indústria nacional. No período de 90-92, foram os anos de maiores quedas na
produção física segundo os gêneros da indústria de transformação. No país, a
taxa de crescimento chegou a apresentar queda de 15,9% e, no Estado, foi de
11,9%. Tal fato ocorreu em uma fase que a economia brasileira estava
presenciando uma forte recessão, além do processo de abertura comercial onde
as indústrias ficaram expostas à concorrência externa. Os melhores anos para a
indústria de transformação gaúcha com relação a sua produção física foi 1993,
1994 e 1997, com taxas de 16,6% a.a.;7,6% a.a. e 8,9% a.a, respectivamente. Já
no período de 1995 e 1998, o Estado (-7,2% e –4,7%) apresenta uma
desvantagem com relação à nacional (1,7% e –3,3%). Esse ocorreu em
conseqüência da defasagem cambial e da estabilidade monetária, prejudicando as
exportações do parque industrial gaúcho e a entrada de novos investimentos para
o Estado.
O mercado de trabalho também sofreu transformações na economia brasileira
advindas de anos anteriores que acentuaram fortes reflexos nos anos 90,
sobretudo no desempenho do emprego industrial. As indústrias passaram a exigir
de sua mão-de-obra maior qualidade para se alinharem às exigências em virtude
das inovações. Com isso, os novos fatores de organização, na década de 90,
levaram a mudanças nas divisões do trabalho, no sentido de intensificar o
conhecimento e as habilidades de cada trabalhador para desenvolverem melhor
as atividades.
Com relação aos gêneros industriais, verificou-se que o total de redução do
emprego na indústria de transformação, no período de 89-99, no RS, foi de 74,5
mil postos de trabalho, sendo que 29,6% do emprego foi extinto pelos setores
têxtil, vestuário, calçados e artefatos de tecidos. No Brasil, a perda de emprego,
na indústria, foi de 1.547 mil postos de trabalho, onde 53,9% correspondiam
somente à indústria de material elétrico e de comunicação. A retração do emprego
por parte do segmento industrial tem apresentado preocupações, pois tem sido,
tradicionalmente, o maior responsável pela oferta de postos de trabalho. Embora
essa preocupação esteja centrada somente no aspecto quantitativo, tem
apresentado grande importância em nível qualitativo, ou seja, a preocupação não
estaria apenas na capacidade de gerar empregos, mas em aumentar a
qualificação da mão-de-obra, para assim gerar maior produtividade do trabalho.
O mercado de trabalho formal vai depender de uma organização política e
social no país, apresentando um conjunto de instituições públicas e normas legais
que visam a fornecer parâmetros para o funcionamento do mercado de trabalho,
principalmente no que diz respeito ao uso do trabalho, remunerações, assistência
aos trabalhadores, direitos social e trabalhista e da formação e requalificação
profissional da mão-de-obra.
Percebeu-se, portanto, que essas mudanças provocadas num contexto
mundial geraram novos princípios de organização da produção que apontaram
para novos padrões de relacionamentos entre as economias nacionais. Todavia,
essa incorporação levou a uma nova base tecnológica e um novo papel de
regulamentação do Estado na organização econômica. Desses princípios, uma
nova diretriz se gera para a relação capital-trabalho. Essa diretriz vai ser forjada
da mudança do trabalho, na busca de novos padrões de produtividade.

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