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Fernanda Calgaro
Do G1, em São Paulo
No Brasil para participar de seminários sobre língua estrangeira, ele avalia que o ensino do inglês nas
escolas brasileiras está muitas décadas atrasado em relação a outras nações e sugere que o país
aproveite os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo para tentar correr atrás do prejuízo.
Durante 25 anos, Graddol foi professor da renomada UK Open University e atualmente é diretor da The
English Company e editor da Equinox Publishing. Ele prepara um terceiro estudo, este focado mais na
Índia, que será publicado até o final do ano. Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida
ao G1.
G1 - Como assim?
Graddol - O inglês passou a ser encarado como uma necessidade. Muitos países se relacionam e
fazem negócios entre si por meio do inglês, sem que nenhum deles tenha o inglês como primeiro idioma.
Em muitos lugares, o inglês deixou de ser ensinado como língua estrangeira, como na Cinha e Índia,
onde o inglês passou a ser considerado uma habilidade básica. Nesses países, os estudantes
começam a aprender o idioma já nos primeiros anos escolares. A ideia é que mais tarde, quando
atingirem o ensino médio, passem a ter aulas de outras disciplinas por meio do inglês. Historicamente,
falar uma língua estrangeira era sinal de status. Agora, o que acontece é que as pessoas estão
genuinamente tentando universalizar o idioma.
G1 - O uso do inglês como “lingua franca” [quando um idioma é utilizado por pessoas que não
tenham a mesma língua nativa] pode modificar o seu ensino?
Graddol - Há certas coisas que se tornaram comuns e que parecem uma nova variedade de inglês. E
nós acabamos nos habituando a esse novo uso. São coisas simples, como a maneira em que as
palavras são soletradas e todas as vogais, faladas. Muitas das vogais, nós, nativos da língua,
substituiríamos por um único som. Essas peculiaridades, que não necessariamente devem ser
consideradas erros, precisam ser levadas em conta no ensino desse inglês global.
G1 - A
O Reino Unido passou a disputar alunos de inglês não só com
crise
competidores tradicionais, como os EUA, mas também com outros países global
da Europa afetou
em
algum
aspecto o ensino do inglês?
Graddel - A crise global foi positiva para o setor porque provocou a desvalorização da libra esterlina e
deixou o Reino Unido mais atrativo. O que aconteceu é que o Reino Unido deixou de disputar esses
alunos com competidores tradicionais, como os EUA, a Austrália e, em certa medida, a Nova Zelândia.
Agora, estamos perdendo para universidades na Europa, que têm cursos de diversas áreas que são
dados em inglês. Um aluno coreano, por exemplo, pode estudar direito na Alemanha e ter aulas em
inglês, além de estar bem no centro da União Europeia e quem sabe até aprender um pouco de alemão.
Para ele, o ganho acaba sendo maior.
G1 - O ensino do inglês deve começar nos primeiros anos escolares? As crianças obtêm
resultados mais consistentes?
Graddol - Diversos aspectos devem ser considerados. É possível começar a estudar inglês mais tarde.
No entanto, se esse início for com 11 anos de idade, por exemplo, o número de horas dedicadas ao
idioma precisa ser mais intenso, com, no mínimo, cinco ou seis horas. E esse ensino tem que ser
bastante eficiente, que contemple o desenvolvimento de diversas habilidades da língua.
G1- Existe então uma idade ideal para começar a aprender inglês?
Graddol - Não. Na verdade, há vantagens e desvantagens em quase todas as idades. Conheço adultos
que, com meia hora de estudo, têm rendimento maior do que uma criança justamente por causa da sua
experiência adquirida ao estudar idiomas. Há vários outros aspectos a serem levados em conta. Um é
que é muito mais fácil criar, numa sala de aula, um ambiente que motive as crianças a aprenderem. Elas
aprendem quase sem perceber. No entanto, o principal argumento talvez seja que, como nem todas as
escolas conseguiriam destinar um dia da semana de uma turma de alunos de 11 anos para ensinar
inglês, o melhor é começar cedo. Assim, é possível obter um progresso gradativo, que permita ao
estudante chegar no ensino médio falando inglês.
G1 -
No Brasil, o inglês é ainda visto como uma língua estrangeira Como
avalia
a
situação do Brasil em relação ao ensino e uso do inglês?
Graddol - No Brasil, o inglês é ainda visto como uma língua estrangeira. Em muitos outros países, as
coisas avançaram muito rapidamente e não é mais visto como uma língua estrangeira. O Brasil parece
estar muitas décadas atrás do resto do mundo em termos de inglês. O que está sendo feito aqui não é
suficiente para produzir pessoas realmente fluentes em inglês. As escolas estão falhando ao ensinar
inglês e isso é uma ótima noticia para o setor privado. As famílias que tiverem condição de bancar os
estudos mandarão seus filhos para escolas de idiomas, o que gera a divisão social.
G1 - As Olimpíadas e a Copa do Mundo podem ser oportunidades para o Brasil correr atrás
desse prejuízo?
Graddol - Certamente. Foi o que a China tentou fazer, usou as Olimpíadas como uma justificativa para
implantar programas de melhoria de conhecimento de inglês para a população de Pequim. Foram
estabelecidas metas. E é isso que o Brasil deveria fazer, porque, se não se estabelece metas, não se
sabe onde quer chegar nem se você chegou lá.