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INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos a fonoaudiologia tem reservado atenção especial ao campo denominado voz
profissional, de forma que indivíduos que utilizam a voz como instrumento de trabalho estão
cada vez mais próximos dos Fonoaudiólogos, mostrando que ha necessidade de uma orientação
para a preparação vocal, melhorando o desempenho vocal do indivíduo, seja ele professor,
radialista, repórter, ator ou cantor.
Vamos considerar neste estudo o profissional da voz falada aquele indivíduo que, para exercer
sua profissão, deve depender de sua voz, sendo esta seu instrumento de trabalho. Autores
diversos procuram definir o profissional da voz como " indivíduos que utilizam a voz de maneira
continuada, os quais procuram, por meio de um modo de expressão elaborada, atingir um
publico especifico ou determinado" (Satallof – 1991) ou como " o indivíduo que ganha seu
sustento utilizando sua voz" (Boone – 1992).
Especificamente neste estudo, não nos aprofundaremos na estrutura vocal, respiratória e demais
esquemas os quais complementam a atividade canto, mas sim os problemas decorrentes do
canto, seu mau uso, má formação ou orientação, e como tratar estes problemas através da
fonoaudiologia.
Quando um cantor, no decorrer de seu trabalho vocal percebe que há "alguma coisa errada" com
a emissão de seu som, questiona-se sobre o que estaria acontecendo com sua "garganta" e o
que poderia estar prejudicando seu instrumento de trabalho.
Todos podemos cantar e o canto tem de ser trabalhado, exercitado e aprimorado. O dom de
cantar existe mas, em grande parte dos casos, as condições anatômicas e fisiológicas podem
ser auxiliares importantes.
Existem diferenças entre a avaliação vocal de um cantor e a de um indivíduo que utilize apenas
a voz falada, mesmo que de forma profissional. No primeiro momento, as características e as
queixas vocais do cantor devem ser percebidas, pelo médico e pelo fonoaudiólogo, distintamente
em relação aos aspectos particulares da fala e do canto.
ANAMNESE
No caso dos cantores, é importante que estes se sintam à vontade para colocar suas ansiedades
e possam sanar algumas de suas dúvidas, lembrando que, cultural e historicamente, é difícil um
cantor ter qualquer contato com em fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista.
Nesses casos, obtêm-se fatores geradores por si só de alterações da voz, que também
representam agravamento de outras situações e dificultam o restabelecimento do paciente,
exigindo intervenção terapêutica especifica. Da mesma forma, há necessidade de se conhecer o
quadro clinico geral, e as importantes e possíveis causas físicas e psicológicas que podem afetar
a laringe e a voz. É fundamental a analise dos fatores específicos do aparelho fonador,
paralelamente às alterações gerais tais como: diabetes mellitus, hipertensão arterial, diminuição
da capacidade ventilatória pulmonar, insuficiência cardíaca, distúrbios metabólicos, endocrinos,
alergicos, imunologicos, auto-imunes, neurológicos, infecciosos, inflamatórios, digestivos, entre
outros; neoplasias benignas ou malignas; o uso ou abuso de drogas com álcool, cafeína, tabaco,
tranqüilizantes, maconha, cocaína ou outras; uso permanente ou prolongado de medicamentos
como corticóides, anticoagulantes plaquetariso, quimioterápicos, etc.; estados de ansiedade,
depressão, fadiga, estresse, estafa, insônia, gravidez e sindrome pré-menstrual.
Igualmente significativo torna-se saber a relevância pessoal ou profissional que possa ter a
disfonia. Temos dois casos distintos: o professor que se "beneficia" da disfonia ao estar disfônico
e aquele que sofre intensamente com o impedimento vocal, ou seja um cantor ou ator em
temporada. Ao primeiro pode-se supor que não se empenhe, ao menos subconscientemente,
pela cura, ao contrário do segundo, que normalmente terá empenho exacerbado, ansioso, às
vezes até tornando-se prejudicial, no sentido de tentar estar logo recuperado. Portanto há
necessidade de saber dosar os extremos para obtenção de um bom resultado no tratamento.
A coleta detalhada da história vocal do paciente disfônico pode revelar aspectos decisivos ao
diagnóstico e à conduta do tratamento. A descrição do paciente revela sua forma de encarar a
relação com o médico e o fonoaudiólogo, se otimista, confiante, participante, interessado, ou se
adota uma posição crítica, pessimista, pouco confiante e interpreta de foram deturpada as
conclusões e determinações.
Quando se fala em avaliação da voz, deve-se levar em consideração vários aspectos físicos e da
emissão da voz. Observa-se os seguintes tópicos:
Exame físico:
* Postura
* Tipo Respiratório
* Tempo de emissão
* Coordenação Pneumofonoarticulatória
* Pitch
* Loudness
* Ressonância
* Articulação
* Ataque Vocal
* Qualidade Vocal
* Ritmo
* Tessitura
* Registro
* Brilho
* Projeção
EXAME FÍSICO
Inicia-se pela apalpação da região cervical e pescoço, investigando-se o nível de tensão de sua
musculatura. Nesse exame pode-se observar a largura da laringe e o posicionamento vertical da
cartilagem tireóide no pescoço, o deslocamento lateral e sua mobilidade vertical pela emissão
ligada de tons agudos e graves. Pode-se verificar o tamanho da abertura da boca, a
movimentação da articulação temporo-mandibular(ATM), a tonicidade e mobilidade dos lábios e
bochechas. A língua é um músculo muito importante para a fonação portanto deve-se verificar o
tamanho, se é proporcional a forma e tamanho da cavidade oral, seu tônus e sua mobilidade em
relação aos sons. Verifica-se a oclusão dentária, o formato do palato e o tamanho de toda a
cavidade oral. Observando-se a distância dos pilares amidalianos da parede da faringe
(orofaringe/nasofaringe). Verifica-se também o movimento mastigatório, o qual é muito
importante para a avaliação do profissional da voz. Se estiver sendo feita de maneira
inadequada, irá prejudicar o estado dos músculos responsáveis pela fonação
POSTURA
TIPOS RESPIRATÓRIOS
Há muita discussão sobre o tipo adequado de respiração para a fonação e canto, porém deve-se
observar se a respiração efetuada pelo cantor é a adequada para o canto. Existem três tipos
básicos de respiração que são o superior, misto e inferior. No canto encontram-se vários casos
de respiração inferior e mista, ou seja, o cantor, no ato do canto recorre instintivamente a um tipo
de respiração de forma que a pressão subglótica torne-se mais longa, forte e estável.
TEMPO DE EMISSÃO
A capacidade de emitir um som por longo período e de enfatizar uma nota nos momentos finais
de uma sentença pode definir o repertório e longevidade da voz de um cantor. Observa-se tal
fato quando existe a solicitação para a emissão de um som ou vogal prolongada ou sustentada,
glissando ascendente e descendentemente e fazendo uma vogal sustentada com intensificação
no terço final da emissão.
COORDENAÇÃO PNEUMOFONOARTICULATÓRIA
PITCH
É a sensação auditiva que temos sobre a altura da voz, podendo ser classificado em grave,
médio ou agudo. Mede-se o pitch através de sistemas computadorizados de análise vocal.
Normalmente, no canto, o pitch eleva–se, pois há uma busca das cavidades superiores de
ressonância que acaba levando para a agudização do pitch, muitas vezes camuflado por uma
hipernasalisação.
LOUDNESS
Tem relação com a percepção do volume da voz e deve ter com o tipo de ambiente em que a
voz está sendo emitida. Pode ser classificado em forte, fraco e adequado. Na voz cantada, deve-
se lembrar do ambiente e da utilização da aparelhagem de amplificação sonora. O cantor pode
não possuir uma boa aparelhagem de som ou retornos eficientes, fazendo com que produza uma
voz cantada com muito volume, e solicitando ao seu corpo que produza um apoio muito potente
para que não ocorra sobrecarga das pregas vocais. O cantor popular normalmente não precisa
utilizar um volume maior para cantar pois possui um bom sistema de amplificação. O cantor de
coral emprega muitas vezes excesso de volume para poder se escutar dentro do coro. O cantor
lírico procura explorar todas as suas caixas de ressonância, todo o seu potencial respiratório
para atingir o quarto formante e assim ser ouvido junto com a orquestra que o acompanha. A voz
transforma-se, neste momento, em mais um e único instrumento.
RESSONÂNCIA
ARTICULAÇÃO
A articulação pode ser precisa, imprecisa, travada, exagerada, pastosa ou aberta. Estas
características podem se combinar aos pares mas não de maneira fixa. Pode-se por exemplo,
encontrar uma articulação travada e precisa assim como uma aberta e imprecisa. Nem sempre
abrir mais a boca para cantar melhora a articulação das palavras. Pode sim projetá-la muito
mais.
ATAQUE VOCAL
O ataque vocal pode ser dividido em brusco, aspirado e suave, podendo ser observado na fala
espontânea. Normalmente o tipo de ataque se modifica da fala para o canto. Existem pessoas
que falam com ataque brusco, porém na hora de cantar optam pelo estilo bossa-nova , que
trabalha com um ataque mais suave.
É o item que esclarece o diagnóstico no nível de pregas vocais. Costuma fechar a avaliação
perceptual da voz falada. No canto isso ocorre de forma diferente, pois na voz cantada avalia-se
a qualidade em relação direta com o estilo de música adotado e com a forma pessoal de
interpretação. Não é possível dizer que todo cantor de bossa-nova possui uma voz patológica
soprosa, pois esta soprosidade faz parte de um estilo de cantar, de tornar a voz mais um
instrumento dentro da música e não o principal deles. O cantor de hard rock tem a voz rouca e
áspera, mas pode-se utilizar outro modo de cantar este estilo de música. A qualidade da voz
cantada abre discussão para as características vocais mais freqüentes em cada estilo de
música. É impossível se discutir a qualidade sem falar de estilo, ao contrário da voz falada, na
qual a qualidade vocal tem relação direta com a patologia.
Há outros nomes diferentes dos utilizados acima, mas estes combinados entre si quando
necessários são suficientes para definir precisamente uma qualidade vocal.
RITMO
É um aspecto que avaliamos apenas na voz falada, pois na cantada dependerá do estilo,
melodia e harmonia da música e da maneira como o cantor interpreta a canção. Na fala usamos
um ritmo lento, acelerado, muito acelerado e adequado.
TESSITURA
A tessitura e a extensão são dois aspectos a serem avaliados apenas na voz cantada. Quando o
cantor disfônico tem queixa apenas na voz cantada não há necessidade de avaliação dos dois
aspectos. Pesquisar a tessitura do cantor, que seriam as notas confortáveis dentro da sua
extensão vocal, quando o cantor está totalmente disfônico, é algo que não tem muito sentido.
A classificação vocal das vozes masculinas em tenor, barítono e baixo e das femininas em
soprano, mezzo-soprano e contralto têm relação com o canto lírico, é muitas vezes empregada
no canto popular, porém mais para auxiliar na definição da tessitura do que para classificar uma
voz dentro de um repertório específico. Considerando-se as formas diferentes de configuração
glótica do canto popular para o lírico, não acredita-se na importância dessa classificação para o
canto popular.
REGISTRO
É o modo de vibração variado das pregas vocais de acordo com vários pitchs, fornecendo
diferentes qualidades vocais que são chamados de registro, que nada mais é do que a produção
de freqüências consecutivas que se originam da mesma maneira da freqüência fundamental.
Deve ser avaliado apenas na voz cantada, pois trata-se de um conceito dividido em registro
basal (fry), modal (peito e cabeça) e falsete.
BRILHO
Tem relação direta com o uso das cavidades de ressonância e a produção de formantes. Quanto
mais amplo for o uso dessas cavidades maior será a riqueza de harmônicos amplificados,
fazendo com que a voz pareça cheia, preenchendo todo o ambiente.
A posição da laringe no pescoço é responsável pelo colorido do som produzido. No bel canto,
com a laringe baixa, temos um som mais límpido e alegre, enquanto no canto dramático, com
laringe alta, o som é escuro mas cheio de nuanças.
PROJEÇÃO
Termo advindo do canto, mas muito utilizado no meio teatral e em oratória. Tem relação direta
com respiração, pressão subglótica e superiormente com a boca aberta. Não é possível se ouvir
um cantor com projeção com a articulação totalmente travada. Na avaliação deve-se evitar
termos qualitativos (boa projeção/péssima projeção). Deve-se gravar a voz do cantor para
registro, solicitando sonorizações específicas, como vogais (/a/e/i/) prolongadas, escalas
ascendente e descendente em stacatto e ligatto, fala encadeada (dias da semana, meses do
ano) e conversa espontânea.
As alterações de voz mais comumente encontradas nos cantores são chamadas de disfonias
funcionais, que podem ser causadas por uso inadequado dos músculos voluntários da fonação,
que incluem os músculos da laringe, faringe, mandíbula, língua, pescoço e sistema respiratório.
O desalinhamento postural também é um achado clínico freqüente. Algumas disfonias podem ser
atribuídas a técnicas vocais incorretas tais como: Coordenação pneumofonoarticulatória pobre,
uso excessivo ou inadequado da válvula laríngea, foco ressonantal inadequado, dificuldades no
controle dinâmico de pitch e loudness.
Por definição, a disfonia funcional é a alteração vocal que decorre geralmente do mau uso ou
abuso de um aparelho fonador anatômica e fisiologicamente intacto, mas que também pode ser
resultado de um mecanismo compensatório mal adaptado, como conseqüência de uma condição
orgânica preexistente. Mesmo nos casos de alteração vocal onde a função laríngea é normal ao
exame clínico, ou quando há presença de sinais de tensão muscular laríngea anormal, a disfonia
é classificada com funcional.
A disfonia funcional com abuso vocal prolongado pode levar ao desenvolvimento de alterações
orgânicas secundárias, como os nódulos vocais. Apesar desses serem considerados entidades
patológicas individualizadas, eles são resultado de uma disfonia funcional precedente.
CLASSIFICAÇÀO
Há várias propostas para a classificação das disfonias funcionais. Alguns autores propõem
abordagens mais amplas referindo-se aos mecanismos casuais e outros baseiam-se nos
aspectos clínicos-sintomáticos. É importante haver uma diferenciação entre cada subgrupo de
pacientes portadores de disfonia funcional.
Podemos classificar as disfonias funcionais em quatro tipos, que são: as disfonias psicogênicas,
a disfonia por habituação, o uso inapropriado de registro e as síndromes de abuso vocal.
DISFONIAS PSICOGÊNICAS
Inicia-se por uma laringite viral ou cirurgia das pregas vocais, o que propicia uma compensação
inadequada do trato vocal organicamente comprometido. A disfonia persiste mesmo após o
desaparecimento do processo viral ou da cicatrização cirúrgica. A terapia fonoaudiológica pré-
cirúrgica pode evitar este tipo de alteração. Sintomas como fadiga vocal e odinofonia podem ser
observados. A qualidade vocal pode apresentar soprosidade, aspereza, diplofonia ou fonação
ventricular. A sonoridade geralmente é pobre e a laringoscopia pode ser normal, mostrar
aproximação de pregas ventriculares, constrição supraglótica ântero-posterior parcial ou ainda
fechamento supraglótico esfinctérico.
A laringoscopia é geralmente normal, mas pode haver tensão glótica. A laringe pode também
estar elevada e sua tração para baixo pode mostrar mudança de registro vocal para um pitch
mais adequado.
As alterações vocais decorrentes das síndromes de abuso vocal são geralmente flutuantes ou
intermitentes e mantém-se por períodos prolongados. Os aspectos mais comumente observados
nestas alterações são: fadiga vocal, redução da extensão dinâmica da voz, odinifonia, padrão
respiratório inadequado e sindromes tencionais músculo-esqueléticas. Outros sintomas, como
alterações ressonantais e de pitch, também podem ser observados. As síndromes de abuso
vocal podem ocorrer com freqüência também em profissionais da voz.
A qualidade vocal dos pacientes portadores de síndrome de abuso vocal mostra características
de soprosidade e aspereza, sonoridade pobre, quebras na voz, pitch geralmente agravado e
ataque vocal brusco.
A laringoscopia pode ser normal, mas também pode apresentar aproximação de bandas
ventriculares, constrição supraglótica ântero-posterior parcial e ainda fechamento supraglótico do
tipo esfinctérico.
Outros fatores devem ser observados em profissionais da voz com alterações relacionadas ao
abuso ou mau uso vocal. Algumas alterações na voz falada muitas vezes não ocorrem na voz
cantada, ou ocorrem em menor grau. Como exemplo, uma boa técnica de canto não implicará
em uma voz falada adequada. O apoio respiratório também pode mostrar-se deficiente somente
na voz falada. Apesar disso, a extensão vocal não é afetada. A avaliação de profissionais da voz
deve ser cuidadosa, levando-se em conta as variáveis entre a voz falada e cantada.
Como alterações orgânicas secundárias temos: nódulos de pregas vocais, edema de reinke e
úlceras e granulomas, os quais passaremos a discertar.
A incidência desta alteração em adultos é maior no sexo feminino e está sempre associada ao
abuso vocal e ao estresse. É a disfonia funcional mais comum entre as crianças, predominando
no sexo masculino. Em cantores, pode ocorrer secundariamente à execução do canto fora da
extensão adequada e por pobre apoio respiratório.
Os sintomas vocais mais comuns são fadiga vocal, alterações de pitch, alterações ressonantais
e extensão dinâmica reduzida.
A qualidade vocal mostra características de soprosidade, aspereza, quebra vocal e ataque vocal
brusco.
EDEMA DE REINKE
É uma lesão de aspecto edematoso e por vezes polipóide, o que lhe rendeu a denominação de
degeneração polipóide, ou ainda, pólipo edematoso de pregas vocais. É geralmente bilateral,
porém quase sempre assimétrica. Estende-se ao longo de toda a borda livre das pregas vocais
na maioria dos casos. Apresenta crescimento progressivo, podendo obstruir completamente a
glote com conseqüente asfixia, em seu estágio mais avançado. Interfere na vibração mucosa
contralateral e está freqüentemente associado ao tabagismo crônico e, em menor escala, ao
hipotireoidismo e ao refluxo gastroesofágico. A fonoterapia pode reduzir a lesão em alguns
casos, ainda que ocorra melhora importante da qualidade vocal nos casos com lesões pouco
exuberantes. Entretanto, o encaminhamento posterior para tratamento cirúrgico é necessário.
ULCERAS E GRANULOMAS
São as únicas lesões orgânicas localizadas fora da borda livre das pregas vocais, decorrentes de
distúrbios funcionais da laringe. São associadas a processos inflamatórios extralaríngeos ou
secundários à entubação endotraqueal prolongada. Nos casos funcionais, são provocados por
trauma fonatório na apófise vocal das aritenóides, em pacientes com importante tensão muscular
laríngea e ataque vocal brusco. Geralmente são lesões pequenas que comprometem o
fechamento glótico. Quando são de grandes dimensões, outras possibilidades diagnósticas
devem ser aventadas.
A qualidade vocal manifesta-se sob forma de disfonia variável, com pitch grave e ataque vocal
brusco. A laringoscopia mostra ulceração do processo vocal uni ou bilateral, ou granuloma, com
hiperfechamento glótico posterior. Outros fatores observados em pacientes portadores de
úlceras ou granulomas são apoio respiratório pobre, uso de ar residual, freqüente associação ao
refluxo gastroesofágico, hábito de pigarrear e tossir e abuso vocal.
A terapia vocal do cantor não difere completamente do processo terapêutico de um paciente que
apresenta disfonia funcional. O foco do tratamento, este sim, será diferente. Com a queixa bem
definida em relação aos aspectos da voz falada e cantada, inicia-se a terapia que trabalhará
simultaneamente os aspectos que forem necessários, tanto da voz falada quanto da cantada.
Na terapia com cantores, o ouvido adquire importância na condução das orientações, na forma
de utilização da voz, assim como na maneira de realização dos exercícios propostos. Quando se
trabalha com o cantor, não se deve ficar centrado na patologia laríngea ou no distúrbio da
fonação e sim na maneira como o cantor está utilizando seu aparelho vocal para produção da
voz dentro do estilo e interpretação desejados.
Pode-se compreender o estilo do canto e tentar, juntamente com o cantor, por meio de
exercícios, possibilitar que produza, de maneira satisfatória e sem prejuízo do trato vocal, a voz
cantada desejada. O fonoaudiólogo não deve discutir a escolha de repertório, mas esclarecer as
possibilidades de cada voz, localizando o pitch confortável e a tessitura adequada para o cantor
assim como demonstrar aspectos anatomofisiológicos existentes, mas muitas vezes
desconhecidos, que possam facilitar ou limitar a produção de algum tipo de voz cantada.
É necessário possuir algum conhecimento de termos músicais que, em geral, estão presentes na
terapia com o cantor, como por exemplo grave, agudo, oitava, glissando, stacatto, escala
ascendente ou descendente, acorde e outros que podem aparecer conforme o tipo de canto
adotado.
O cantor, em geral, questiona o profissional para saber como se procedem os exercícios e outras
duvidas, pois é natural que a pessoa que tem na voz cantada seu instrumento profissional
possua uma curiosidade maior em relação a sua voz, bem como receio em ser examinado pelo
otorrinolaringologista e ansiedade em tratar as dificuldades que se manifestam na voz.
Aparecem alguns questionamentos por parte do cantor, porém esses são um desafio constante
para quem trabalha com a área da voz e tem consciência da influência da vida emocional e
psíquica na questão da comunicação.
As questões da saúde vocal devem ser tratadas com paciência e esclarecimento, sem virar uma
lista de proibições, pois o ideal é passar informações aos poucos e obter o retorno do cantor
sobre a verdadeira compreensão dos porquês sobre sua voz.
Não é fácil estabelecer um limite sobre onde começa a terapia fonoaudiológica do cantor, pois o
início de cada processo dependerá de cada indivíduo. Não existe hierarquia dentro da terapia
fonoaudiológica. Na voz tudo ocorre ao mesmo tempo. As necessidades são de cada caso e
sempre que possível devem ser trabalhadas no conjunto.
Não é possível abordar a parte de exercícios, pois cada indivíduo tem seu problema e os
exercícios devem ser aplicados de maneira pessoal. O terapeuta tem que experimentar os
exercícios consigo mesmo e, posteriormente, observar como cada paciente realiza ou reage
diante daquele exercício. De maneira geral, acredita-se que o terapeuta não necessita ser um
cantor ou músico para poder prestar atendimento, porém deve ouvir as queixas do paciente e
saber que as dúvidas que ocorrerem durante o processo terapêutico poderão ser investigadas e
respondidas por ambos, paciente e terapeuta.
CONCLUSÃO
Ficou claro porém que, para a eficácia levantamento dos problemas apresentados, bem como o
respectivo tratamento, há necessidade de se recorrer ao profissional médico da voz,
especificamente ao Otorrinolaringologista e ao Fonoterapeuta para a obtenção de sucesso para
a resolução dos distúrbios que possam ocorrer com a voz.
Creio porém que deve haver um relacionamento muito aproximado entre o profissional da voz, o
médico da voz e o preparador vocal, pois suas atividades se interagem e, com essa aproximação
o resultado pode se tornar mais produtivo, fazendo com que a voz do profissional possa ser
melhor elaborada para um bom resultado profissional.