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Revista Prolíngua – ISSN 1983-9979 P á g i n a | 263

Volume 14 - Número 2 - ago/dez de 2019

APLICAÇÃO DO VOCAL PROFILE ANALYSIS SCHEME – VPAS: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA

APPLICATION OF VOCAL PROFILE ANALYSIS SCHEME – VPAS: AN


INTEGRATIVE REVIEW

Camila Macêdo Araújo de Medeiros1


Leir Alves de Souza Neta2
Patrícia Gomes de Melo 3
Aline Menezes Guedes Dias de Araújo 4
Maria Fabiana Bonfim de Lima Silva5

RESUMO: A abordagem fonética de descrição da fala baseia-se na combinação de achados articulatórios,


fisiológicos, acústicos e auditivos de mobilizações produzidas pelo aparelho fonador. Com base nesta abordagem
fonética e suas especificidades, foi elaborado o roteiro denominado Vocal Profile Analysis Scheme - VPAS -, com
a finalidade de descrever o perfil vocal de qualquer falante. O presente artigo tem como objetivo revisar de forma
integrativa a literatura científica que utilizou o roteiro VPAS na forma original, simplificada ou adaptada para o
Português Brasileiro – VPAS-PB. A pesquisa aos artigos foi realizada utilizando três bases de dados eletrônicas
(LILACS, Scielo e PubMed), considerando estudos publicados entre os anos de 2007 e 2017. Foram aplicados os
descritores “percepção da fala”, “fonética”, “qualidade da voz”, “acústica da fala” e seus correspondentes na língua
inglesa. Após todas as etapas de seleção, de acordo com os critérios elegidos, foram incluídos nove artigos nesta
revisão de literatura. Diversas pesquisas pontuaram as vantagens e as contribuições do uso do VPAS, por ser um
roteiro de base analítica e por adotar uma unidade de análise: o ajuste. O roteiro mostra-se efetivo em diversas
áreas, como na análise da qualidade vocal, expressividade e fonética forense. Entretanto, os autores dos estudos
revisados chamaram atenção para a necessidade de formação em Fonética e de experiência dos juízes no uso do
VPAS, para que os achados sejam fidedignos.

PALAVRAS-CHAVE: Fonética. Linguística. Acústica da fala. Qualidade vocal. Revisão de literatura.

ABSTRACT: The phonetic approach of speech description is based on the combination of articulatory,
physiological, acoustic and auditory findings that are produced by the vocal apparatus. Based on this phonetic
approach and its specificities, the Vocal Profile Analysis Scheme – VPAS - was designed with the objective of
describing the vocal profile of any speaker. The present article aims at reviewing, from an integrative perspective,
the scientific literature that used the VPAS, the original or the adaptation to Brazilian Portuguese – VPAS-PB. The
search for articles was conducted using three electronic databases (LILACS, Scielo and PubMed), considering
studies published between 2007 and 2017. The “Speech Perception”, “Phonetics”, “Voice Quality” and “Speech
Acoustics” descriptors and their correspondents in Portuguese were used for the search. After all selection steps,
according to the eligibility criteria, nine articles were included in this literature review. Several studies highlighted
the advantages and contributions of using VPAS, since it is an analytical-based scheme and it uses a unit of
analysis: the adjustment. This scheme seems to be effective in diverse areas, as in the vocal quality analysis, speech
expressiveness and forensic phonetics. However, the authors of the studies that were reviewed pointed out the need
for judges’ phonetic training and experience in the use of VPAS, so that the findings are reliable.

KEYWORDS: Phonetics. Linguistics. Speech Acoustic. Voice quality. Literature review.

1
Mestra em Linguística pelo PROLING – Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
medeiros.fga.camila@gmail.com
2
Fonoaudióloga pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail: nettinha_@hotmail.com.
3
Doutoranda em Linguística pelo PROLING – Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
pathy.gomes13@gmail.com
4
Mestra em Neurociência Cognitiva e Comportamento – Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
alinemguedes@gmail.com
5
Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Docente do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba - UFPB, do Programa de Pós-
Graduação em Linguística e do Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia - UFPB. Email:
fbl_fono@yahoo.com.br
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1 Introdução

Adotar uma abordagem fonética de descrição da fala (LAVER, 1980) pode colaborar
para mudança do cenário de distinção entre voz (qualidade vocal) e fala, visto que esta analisa
a produção dos sons de todo aparelho fonador (desde a glote até a supraglote), a partir de uma
avaliação multidimensional por meio da análise de correlatos acústicos, perceptivos (auditivos)
e fisiológicos (articulatórios).
Essa característica é necessária para se resgatar a abordagem integrada do sinal sonoro,
bem como para conhecer a caracterização da ação e do desempenho do aparelho fonador na
produção vocal ao incluir informações de percepção e produção do sinal vocal (CAMARGO;
MADUREIRA, 2009; LIMA-SILVA et al., 2017 ).
Além disso, esse modelo fonético de análise da qualidade vocal de autoria do Laver
(1980) parte da classificação fonética tradicional e baseia-se na combinação de achados
articulatórios, fisiológicos, acústicos e auditivos de mobilizações produzidas pelo aparelho
fonador durante a fala. Para Laver, a qualidade vocal não é um fato isolado da fala ou apenas
resultado sonoro diante da vibração das pregas vocais, mas sim, a junção entre os aspectos
laríngeos, de tensão muscular e ajustes do trato vocal (supralaríngeo), moldando assim, a
qualidade sonora final (CAMARGO, 2002).
Para a avaliação da qualidade vocal, o modelo fonético descreve uma unidade analítica,
o setting, também nomeado de ajuste. Esta unidade compreende um conjunto de características
articulatórias ou fonatórias que compõem a postura muscular de cada falante observado como
tendência por certo período de tempo no fluxo da fala (LAVER, 1980; CAMARGO, 2002;
MACKENZIE-BECK, 2005; MADUREIRA, 2008; LIMA-SILVA et al., 2017).
Sabendo-se que conjuntos de ajustes podem ocorrer concomitantes durante a fala, é
importante trazer para o cenário o conceito de ajuste neutro como sendo aquele conjunto de
características consideradas padrão intermediário de atividade das estruturas do trato vocal.
Com esta base analítica, o modelo não busca comparar se o padrão dessa atividade está alterado
versus normal, mas sim respeitar o estado intermediário utilizando-o como referência para
graduar manifestações de expressão (dinâmica vocal) e de alteração de qualidade vocal
(LAVER, 1980; CAMARGO, 2002; MACKENZIE-BECK, 2005; LIMA-SILVA et al., 2017).
Neste modelo, a relação entre ajustes é fundamentada nos princípios de compatibilidade,
susceptibilidade e interdependência. Um ajuste, por antagonismo, pode excluir a execução do
outro (compatibilidade), da mesma forma que um ajuste pode facilitar ou alterar a produção de
outro, ou seja, causando uma interferência (interdependência). Entretanto, não se deve deixar
de citar o princípio de susceptibilidade que diz respeito à relação entre ajustes e segmentos.
Neste princípio, uma vogal ou consoante pode ser susceptível a interferência de um ajuste,
mostrando como um segmento pode ser vulnerável em relação aos ajustes e influenciado por
este quando não possuem caraterísticas compartilhadas (MACKENZIE-BECK, 2005; LIMA-
SILVA et al., 2017).
Para determinar a qualidade vocal mediante este modelo, devem-se estar atentas às
conjunções das ações dos fatores extrínsecos e intrínsecos. Todos nascem com características
anatômicas que podem passar por mudanças, devido etapas do crescimento ou alterações
morfológicas causadas por distúrbios, estes são fatores intrínsecos ao indivíduo. Já as
possibilidades de uso que o indivíduo pode fazer do seu trato vocal, as variadas configurações
e ajustes da dinâmica vocal são fatores extrínsecos. Estes fatores são conhecidos como settings,
que se referem aos traços recorrentes na posição do trato vocal (CAMARGO, 2002;
MACKENZIE-BECK, 2005; CAMARGO, 2016; LIMA-SILVA et al., 2017).
Com base no modelo fonético e suas especificidades o foneticista Jonh Laver em
parceria com fonoaudiólogos e linguistas elaboraram o roteiro denominado Vocal Profile
Analysis Scheme – VPAS (LAVER et al., 1981). Avaliar perceptivo-auditivamente a qualidade
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vocal bem como a dinâmica vocal (pitch, loudness, continuidade de fala, taxa de elocução e
suporte respiratório) é o objetivo deste roteiro. Para ser possível a aplicação do VPAS com
sujeitos falantes do português brasileiro foi realizada uma adaptação que resultou no Voice
Profile Analysis Scheme for Brazilian Portuguese – VPAS-PB, realizada pelas autoras Camargo
(2002), Camargo e Madureira (2008a).
No momento da avaliação da qualidade vocal ou dinâmica vocal, o roteiro VPAS-PB
requer de seus juízes um especial treinamento e relativo conhecimento sobre o modelo fonético
de descrição da qualidade vocal. Dificuldades encontradas no momento do julgamento dos
ajustes por meio do VPAS-PB (CASSOL et al., 2001; CAMARGO, 2002; NUNES, 2005)
podem ser superadas com formação prática (treinamento auditivo) e teórica (CAMARGO,
MADUREIRA 2008b; LIMA-SILVA, 2012; LIMA-SILVA et al., 2017). Especificamente para
avaliação da qualidade vocal por meio do VPAS-PB foi elaborado um corpus para registro de
amostras e posterior análise. Através deste corpus, que é fundamentado pelo princípio da
susceptibilidade e contém 10 sentenças-chave, foi realizado um estudo com foco no treinamento
com juízes e montado um banco de dados de qualidades vocais (CAMARGO et al., 2010).
Ao analisar o que a literatura já produziu com o roteiro VPAS (na versão original,
simplificada e adaptada), percebe-se uma gama de estudos que investigaram os aspectos da
qualidade vocal e dinâmica vocal de falantes com e sem distúrbio da voz (disfonia), por vezes
associando aos aspectos expressivos, informativos e comunicativos da qualidade e dinâmica
vocal, assim, podemos concluir que esta é uma ferramenta de importante contribuição para
diversas áreas (Linguística, Fonoaudiologia, Sociolinguística, Investigação Forense e Perícia
Criminal entre outros), o que permite a composição e identificação de variados perfis vocais de
falantes, bem como auxilia no diagnóstico e na conduta terapêutica e de assessoria
fonoaudiológica a profissionais da voz trazendo o enriquecimento de conhecimentos
especialmente para as áreas da Linguística e da Fonoaudiologia e suas subáreas.
Diante do breve panorama aqui exposto e da relevância de se conhecer os caminhos
percorridos pelo roteiro VPAS em território nacional e internacional, propõe-se neste artigo uma
revisão integrativa da literatura com o objetivo de verificar o uso do roteiro Vocal Profile
Analysis Scheme – VPAS na forma original, simplificada ou adaptada para o português
brasileiro – VPAS-PB, em artigos científicos.

2 Métodos

Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, a qual tem o propósito de identificar,
analisar e sintetizar resultados de estudos que envolvem a mesma temática investigada,
colaborando para a construção de uma visão ampla do que vem sendo desenvolvido no campo
de um determinado tema específico (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). No caso do
presente estudo, a temática centra-se no uso do instrumento de análise fonética da qualidade e
dinâmica vocal, o VPAS (LAVER et al., 1981). Assim, a seguinte pergunta norteou a presente
revisão: como está sendo utilizado o roteiro VPAS na versão original, simplificada ou adaptada
nas pesquisas científicas? Para tanto, foi realizado um levantamento das publicações a fim de
selecionar os estudos que estavam de acordo com os critérios de elegibilidade estabelecidos.
A busca dos estudos foi realizada nas seguintes bases de dados eletrônicas, nos idiomas
inglês e português: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde (LILACS),
Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Public Medicine Library (PubMed). O acesso à
base eletrônica LILACS foi feito através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), considerada
um espaço de integração de fontes de informações em saúde, sendo desenvolvida e operada
pela BIREME (Centro Latino Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde).
Foram elegíveis estudos observacionais, envolvendo pessoas de ambos os gêneros, sem
limite de faixa etária, que abordassem a utilização do roteiro VPAS (na versão original,
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simplificada e adaptada) em sua metodologia, publicados entre os anos 2007 a 2017 e que se
configurasse como artigo original. Não são elegíveis teses, dissertações, livros, capítulo de
livro, relato de caso e revisões de literatura.
Foram escolhidos os descritores que melhor se adequassem à temática, para assim,
abranger todos os estudos relevantes. Também foi realizado o cruzamento dos descritores
utilizando o conector booleano “AND”. As palavras foram pesquisadas nos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCs) e Medical Subject Headings (MeSH) e selecionadas no idioma inglês
e português, a saber: Speech Perception/ Percepção da fala, Phonetics/ Fonética, Voice quality/
Qualidade da voz, Speech acoustic/ Acústica da fala. As combinações de palavras podem ser
observadas no quadro 1.

Quadro 1 - Cruzamento entre os descritores utilizados nas bases de dados eleitas.

Speech Perception AND Phonetics Percepção da fala AND Fonética


Speech Perception AND Voice quality Percepção da fala AND Qualidade da voz
Phonetics AND Voice quality Fonética AND Qualidade da voz
Speech Perception AND Speech acoustic Percepção da fala AND Acústica da fala
Phonetics AND Speech acoustic Fonética AND Acústica da fala
Voice quality AND Speech acoustic Qualidade da voz AND Acústica da fala

A seleção dos artigos foi realizada de forma independente por duas pesquisadoras, no
período de setembro a novembro de 2017. Os cruzamentos dos descritores foram realizados nos
dois idiomas e aplicados igualmente nas três bases de dados eleitas. A busca inicial resultou em
2.584 artigos científicos, sendo 337 na LILACS, 164 na Scielo e 2.083 na PubMed. Os artigos
duplicados foram retirados restando assim 1.380 pesquisas que passaram pela leitura de título
e resumo. Após esta etapa, 1.314 foram excluídos restando então 66 artigos que foram lidos na
íntegra para detectar se estavam de acordo com os critérios de elegibilidade. Após a leitura dos
66 artigos científicos, 57 foram excluídos por não utilizarem o roteiro VPAS. A seleção final
resultou em 09 artigos para compor a presente revisão. Todas as etapas da seleção podem ser
observadas na Figura 1.
As características dos estudos elegíveis, na presente pesquisa, podem ser conferidas no
Quadro 2. Os artigos foram publicados entre os anos de 2007 a 2017, desenvolvidos no Brasil
(LIMA et al., 2007; MAGRI et al., 2007; CAMARGO, MADUREIRA, 2008b; CAMARGO,
MADUREIRA, 2009; MAGRI et al., 2009; MARQUEZIN et al., 2015; LIMA-SILVA et al.,
2017) e na Inglaterra (SAN SEGUNDO, MOMPEAN, 2017; SAN SEGUNDO et al., 2017).
Todos os estudos são do tipo transversal, as amostras são variadas entre indivíduos com e sem
distúrbio de voz (disfonia) bem como profissionais ou não da voz. Todos os estudos utilizaram
mais de um juiz experiente no roteiro VPAS com exceção de San Segundo et al. (2017) que
utilizaram apenas um juiz. Como corpus de análise foram utilizados: sentenças veículo, fala
espontânea, fala semi-espontânea, trecho de música, trecho de texto lido e simulação de aula e
de locução. O uso do roteiro VPAS (original, simplificada e adaptada) foi visto de várias formas:
de forma completa, em partes, ou seja, o uso só de uma parte do roteiro, uma vez que este
instrumento abrange dois blocos de avaliação (o primeiro dos ajustes de qualidade vocal e o
segundo dos ajustes da dinâmica vocal) ou de forma simplificada de acordo com as sugestões
dos autores San Segundo et al. (2017).
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LILACS SCIELO PUBMED


(n = 337) (n =164) (n = 2.083)
IDENTIFICAÇÃO

TOTAL DE REGISTROS LOCALIZADOS = 2.584

Registro após remoção dos


TRIAGEM

duplicados = 1.380

Excluídos após leitura de título e


resumo = 1.314
ELEGIBILIDADE

Literatura
Avaliados de acordo com os critérios excluída = 57
de elegibilidade = 66 Não
utilizavam o
roteiro VPAS
INCLUÍDOS

Literatura incluída após leitura = 09

Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos artigos para a revisão.


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Quadro 2 - Dados referentes às pesquisas que utilizaram o VPAS como instrumento de análise perceptiva, quanto ao objetivo, amostra, corpus de análise, formação dos juízes
no uso do roteiro, e uso do VPAS.

Nº Autor/Ano País Periódico Objetivo Amostra Corpus da Formação dos Uso do VPAS
análise juízes
01 Lima et São Paulo/ Revista Analisar, do 10♀/ 10♂ Amostra de fala 3 juízes Em parte (QV)
al. Brasil CEFAC ponto de vista PA, a Sem distúrbios (áudio) de leituras Experientes
(2007) QV de um grupo de da voz de uma SV, dois com o roteiro
falantes adultos da Entre 21 a 27 textos e trechos de VPAS-PB.
cidade de JP e anos. fala espontânea.
correlacioná-la às
medidas acústicas de
frequência dos
formantes (F1, F2 e
F3).
02 Magri et São Revista Avaliar os 20 ♀ Amostra de 4 juízes Em parte (QV)
al. Paulo/Brasil CEFAC correlatos PA e Com distúrbios fala(áudio), por (dois estudantes
(2007) acústicos da QV de da voz meio de duas de graduação, um
indivíduos com Entre 32 a 63 repetições de cada foneticista e um
distúrbios da voz, anos. SV. fonoaudiólogo
com AG. especialista em
voz).
Não informa a
experiência.
03 Camargo São Revista Investigar a 01♂ Amostra de fala 14 juízes Em parte (QV)
e Madureira Paulo/Brasil Distúrbios da validade e o locutor (áudio) FE e Sem
(2008b) Comunicação consenso entre profissional sem locução experiência
examinadores do distúrbios da voz; radiofônica. 2 juízes com
uso de roteiro 01 ♀ Registro em vídeo. experiência com o
baseado no modelo com alteração roteiro VPAS-PB.
fonético de vocal submetida a
descrição da QV. microcirurgia de
laringe.
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Nº Autor/Ano País Periódico Objetivo Amostra Corpus da Formação dos Uso do VPAS
análise juízes
04 Camargo São Revista Investigar amostras 04 ♀ Amostra de fala 4 juízes Em parte (QV)
e Madureira Paulo/Brasil DELTA: de vozes com Com distúrbios (áudio), emissão Experientes com o
(2009) Documentação alterações da QV da voz de vogais (três roteiro VPAS-PB.
e Estudos em por procedimentos 51 a 72 anos. emissões de [a:],
Linguística PA (QV e três sequências de
Teórica e reconhecimento de [a/a/a] e fala
Aplicada fala), acústicos encadeada (três
(análise de curto e leituras do mesmo
de longo termo) e texto).
fisiológicos (EGG,
VLE e VQ).
05 Magri et São Paulo/ Revista Avaliar a largura de 22 ♀ Corpus 4 juízes Em parte (QV)
al. Brasil CEFAC banda dos três 17 com utilizado na coleta (dois estudantes
(2009) primeiros formantes diagnóstico de das amostras de graduação, um
(B1, B2 e B3) e sua disfonia e 5 sem analisadas através foneticista e um
correlação com a diagnóstico de do VPAS-PB não fonoaudiólogo
análise PA da QV disfonia. está claro. especialista em
das emissões orais voz).
de indivíduos Não informa a
disfônicos. experiência.
06 Marquezin São Paulo/ Revista Analisar a 04 ♂ Amostra de fala 3 juízes Em parte
et al. (2015) Brasil CoDAS expressividade da Sem distúrbios (áudio), relato com Experientes (DV)
fala de um grupo de da voz. sugestões de com o roteiro
executivos a partir conversa. VPAS –PB.
de dados PA e
acústicos da DV.
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Nº Autor/Ano País Periódico Objetivo Amostra Corpus da Formação dos Uso do VPAS
análise juízes
07 Lima- Paraíba/ Revista Apresentar uma 25 professores Amostra de fala 5 juízes, optou- Completo
Silva et al. Brasil CEFAC abordagem ♀ lida (áudio), FSE, se por reunir juízes (QV+DV)
(2017) metodológica para simulação de aula. com graus de
interpretação de experiência no
julgamentos roteiro VPAS-PB e
perceptivos de de formação
qualidade vocal por diferenciado.
um grupo de juízes
que utilizou o
roteiro VPAS-PB.

08 San York/ Journal of Projetar um 12 pares de Amostra de fala 2 juízes com 5 Simplificado
Segundo e Inglaterra Voice roteiro simplificado gêmeos ♂ espontânea anos de (QV)
Mompean (doravante VPAS) sem alteração coletada por experiência no
(2017) que pesquisadores e vocal. telefone. roteiro VPAS.
profissionais de voz Amostras de
possam usar para áudio.
classificar QV e
comparar os juízes.
09 San York/ Forensic Explorar o 24 gêmeos ♂ e 5 Amostra de FSE 1 juiz com Simplificado
Segundo et Inglaterra Science potencial forense de ♂ sem alteração (entrevista) experiência no (QV)
al. (2017) International recursos de voz vocal. coletada por roteiro VPAS.
combinando as telefone.
características de Amostras de
fonte e filtro. áudio.

Legenda: PA: perceptivoauditiva; QV: qualidade vocal; JP: João Pessoa; SV: sentença veículo; AG: alteração glótica; FSE: fala semi-espontânea; EGG: eletroglotografia;
DV: Dinâmica vocal; VLE: videolaringoestroboscopia; VQ: videoquimografia; VPAS: Voice Profile Analysis Scheme; VPAS-PB: Voice Profile Analysis Scheme for
Brazilian Portuguese; ♂: masculino; ♀: feminino.
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3 Análise e discussão dos resultados

O objetivo do presente estudo foi, por meio de uma revisão integrativa da literatura,
verificar o uso do roteiro VPAS em artigos científicos que foram publicados entre os anos 2007
e 2017 e que estivesse em sua versão original ou adaptada para o português brasileiro.
Uma abordagem de caráter fonético para análise da qualidade vocal que não busque
comparações entre normal e alterado no processo de fala permite aos pesquisadores focar na
multiplicidade das manifestações do aparelho fonador com o objetivo de compreender quais os
impactos tanto na fonte glótica quanto aos movimentos articulatórios (CAMARGO;
MADUREIRA, 2009).
Ao contemplar uma proposta de aprofundamento e compreensão da produção da fala
sendo esta alterada ou não, a utilização do roteiro VPAS permite uma variabilidade de
aplicações, como visto nos estudos desta revisão: investigação de distúrbios da voz (MAGRI et
al., 2007, 2009; CAMARGO; MADUREIRA, 2009), aspectos da expressividade
(MARQUEZIN, et al., 2009), sotaque (LIMA et al., 2007), investigação forense (SAN
SEGUNDO et al., 2017) e de aspectos metodológicos da ferramenta (CAMARGO;
MADUREIRA, 2008b; LIMA-SILVA et al., 2017; SAN SEGUNDO; MOMPEAN, 2017).
Um aspecto marcante observado nos estudos revisados é o uso da análise de medidas
acústicas associados aos dados do VPAS. Os parâmetros acústicos comumente utilizados na
literatura aqui investigada foram: frequência fundamental (f0), formates (f1, f2 e f3), VOT
(Voice Onset Time), largura de banda de formates, intensidade, medidas acústicas de longo
termo (ELT), harmônicos (H1 e H2) e medida de duração da vogal (LIMA et al., 2007; MAGRI
et al., 2007; MAGRI et al., 2009; CAMARGO; MADUREIRA, 2009; MARQUEZIN et al.,
2015; SAN SEGUNDO et al., 2017). É importante destacar a junção entre análise perceptiva e
acústica, tendo em vista o caráter multidimensional da voz, pois, descrever as características da
voz levando em consideração não apenas os correlatos perceptivos, mas também a análise
acústica e fisiológica pode contribuir para constatação com maior acurácia em dados
quantitativos para caracterização o sinal sonoro indicando diversos fatores, entre eles, possíveis
alterações no mecanismo do aparelho fonador (MENDES et al., 2018).
Ao correlacionar dados perceptivos que foram obtidos através da abordagem fonética a
partir do uso do VPAS com informações acústicas, Magri et al., (2007) concluiram em seu
estudo que os valores de frequência dos formantes (f1, f2 e f3) revelaram importante
correspondência com os ajustes supralaríngeos da qualidade vocal de indivíduos com distúrbio
de voz (disfônicos). Esta perspectiva de estudo mostra uma importante característica do roteiro
VPAS que é a possibilidade de integração com informações de diversas naturezas, neste estudo,
a esfera acústica.
No que diz respeito à análise da qualidade vocal em indivíduos com distúrbios da voz
nos estudos aqui contemplados, foram pesquisadas populações como: indivíduos com disfonia
funcional ou organo-funcional (MAGRI et al., 2007), grupo controle com mulheres disfônicas
(MAGRI et al., 2009), uma mulher submetida a microcirurgia de laringe para remoção de cisto
e lesão leucoplásica em terço médio de prega vocal esquerda (CAMARGO; MADUREIRA,
2008b), mulheres com algum grau de incompetência glótica (paralisia unilateral ou fibrose de
prega vocal) (CAMARGO; MADUREIRA, 2009) e professores com distúrbio da voz (LIMA-
SILVA, et al., 2017).
As pesquisas do perfil vocal através do VPAS revelaram os seguintes ajustes na esfera
supraglótica: laringe baixa, mandíbula fechada, lábios arredondados, corpo de língua abaixado,
corpo de língua retraído, labiodentalização, laringe alta, corpo de língua avançado, denasal,
expansão faríngea, labiodentalização, ponta de língua avançada; de tensão muscular:
hiperfunção do trato vocal e hiperfunção larpingea; fonatórios: falsete, voz áspera, escape de ar
e voz crepitante. Estes estão entre os ajustes de qualidade vocal mais encontrados nos falantes
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disfônicos investigados nos estudos desta revisão (MAGRI et al., 2007; MAGRI et al., 2009;
CAMARGO; MADUREIRA, 2008b; CAMARGO; MADUREIRA, 2009; LIMA-SILVA, et
al., 2017). Por outro lado, as pesquisas que envolvem os indivíduos sem distúrbio de voz o
roteiro VPAS promove o detalhamento das características particulares da qualidade vocal de
falantes de regiões específicas, auxiliando na descrição do sotaque pessoense, conforme a
pesquisa de Lima et al. (2007), no qual verificou-se ajustes particulares de corpo de língua
recuado e abaixado.
A diversidade de população investigadas nos estudos revisados revela uma face versátil
do roteiro, uma vez que no estudo realizado por Marquezin et al. (2015) foram avaliados
executivos (que não possuíam alteração vocal) quanto à expressividade de fala, sendo utilizada
a parte da dinâmica vocal do roteiro VPAS para analisar os aspectos: variação do pitch, variação
de loudness, continuidade de fala, taxa de elocução e suporte respiratório. Os demais artigos
selecionados utilizaram a parte da qualidade vocal do roteiro VPAS (MAGRI et al., 2007,2009;
LIMA et al., 2007; CAMARGO; MADUREIRA 2008b, 2009; SAN SEGUNDO; MOMPEAN,
2017; SAN SEGUNDO et al., 2017). Dessa maneira, o roteiro pode ser utilizado de forma
completa, em parte ou simplificado, se adequando ao objetivo de investigação elaborado pelo
pesquisador.
Na área de estudos sobre a voz muitos pesquisadores usam diversos corpora para a
análise e investigação da qualidade vocal independente de sua ferramenta de análise. Diversas
formas de coleta de voz são encontradas na forma falada: vogais isoladas e sustentadas, leitura
de texto, fala semi-espontânea, e também na forma cantada: vocalizes, trechos de músicas, entre
outros. Entretanto, devemos atentar para indícios de que a qualidade vocal varia de acordo com
o estilo de fala e situação em questão, fazendo com que haja a necessidade de uma boa
estruturação de um corpora de acordo com a proposta do estudo para que a análise destes sejam
feitas com acurácia (LIMA et al. 2009).
Camargo e Madureira (2008b) elaboraram um corpus específico para o registro das
amostras de áudio a serem julgadas através do VPAS. O corpus é fundamentado no princípio de
susceptibilidade proposto por Laver (1980), composto por 10 sentenças veículo. Nesta revisão
a maioria dos estudos utilizaram amostras de áudio para serem analisadas através do roteiro
(MAGRI et al., 2007, 2009; LIMA et al., 2007; CAMARGO; MADUREIRA, 2009;
MARQUEZIN et al., 2015; LIMA-SILVA et al., 2017; SAN SEGUNDO; MOMPEAN, 2017;
SAN SEGUNDO et al., 2017) e apenas um artigo utilizou registro de vídeo (CAMARGO;
MADUREIRA, 2008).
Para realizar a gravação da voz, devem ser consideradas algumas questões primordiais,
como: o que gravar, quais indivíduos e ter um ambiente em condições adequadas para a
gravação (BARBOSA; MADUREIRA, 2015). É preferível que a coleta de áudio seja realizada
em ambiente acusticamente tratado com nível de ruído inferior a 50 dB (CIELO, 2016). Dos
estudos selecionados nesta pesquisa de revisão podemos citar Marquezin et al. (2015) como o
único a não utilizar um local acusticamente tratado (cabinas acústicas) coletando as amostras
de voz em sala silenciosa. Vale ressaltar que San Segundo et al. (2017) e San Segundo e
Mompean (2017) realizaram análise dos áudios retirados de entrevistas por telefone, uma
peculiaridade do campo de atuação da fonética forense onde não há controle sobre o material
disponível para análise.
Nos estudos selecionados, os corpora foram compostos por emissão de vogais
sustentadas e fala encadeada (CAMARGO; MADUREIRA, 2009), bem como, gravação de
relato com sugestões de produtos de investimentos (MARQUEZIN et al., 2015). O uso de
emissão de fala espontânea (FE) e trecho de locução radiofônica foram contemplados em
Camargo e Madureira (2008b). FE também foi utilizada em pesquisas internacionais visto em
San segundo e Mompean (2017) e San Segundo et al. (2017).
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A análise das amostras através do VPAS é realizada perceptivelmente por meio da escuta
de áudios coletados. Porém, Camargo e Madureira (2008b) para ampliar e complementar as
informações oferecidas aos juízes incluiram a exposição de vídeos para serem julgados e
concluíram que a análise em vídeo pode ter desviado a atenção dos juízes dos aspectos de ordem
puramente auditiva da voz devido ao feedback visual causando dificuldade na análise e
identificação de ajustes laríngeos, contudo, auxiliou no julgamentos de ajustes como posição
de mandíbula e lábios.
Os achados do experimento realizado com vídeo por Camargo e Madureira (2008b)
reforçam a importância da experiência do juiz com o roteiro, visto que, o tempo de atividade
com este instrumento aumenta a qualidade da análise dos resultados, aspecto também verificado
por Lima-Silva et al. (2017). Entretanto, neste ponto a característica principal a ser destacada é
a base fonética do roteiro VPAS. Como as análises devem ser realizadas auditivamente é
imprescindível o conhecimento do juiz acerca dos preceitos fonéticos que sustentam o roteiro.
A utilização de juízes sem treinamento e conhecimento na área da fonética pode levar a
dificuldades no momento da análise, como visto em Camargo e Madureira (2008), no que diz
respeito à atribuição de nomenclatura com base nos pontos articulatórios.
Para Madureira (2006), a Fonética, promove o aperfeiçoamento da escuta e permite que
se integrem informações de produção às de percepção. A avaliação realizada com motivação
fonética também evita que o roteiro seja aplicado em formato de check-list, na qual a
característica analítica e integrativa do modelo de descrição da qualidade vocal se desfaria. No
presente estudo foi observado que dentre os artigos selecionados, seis (LIMA et al., 2007;
CAMARGO; MADUREIRA, 2008b; 2009; MARQUEZIN et al., 2015; LIMA-SILVA et al.,
2017; SAN SEGUNDO; MOMPEAN, 2017; SAN SEGUNDO et al., 2017) especificam que os
juízes tinham experiência com o VPAS.
Recentemente foi lançada uma proposta de simplificação no roteiro VPAS no que diz
respeito à parte da qualidade vocal. O VPAS, na fonética forense, é comumente utilizado em
investigações de similaridade entre falantes, porém uma proposta mais simplificada, elaborado
por San Segundo e Mompean (2017), pode contribuir para que este instrumento possa ser
utilizado em outras tarefas nesta área de investigação. Neste estudo também foi possível
encontrar um elevado concordância intra-juizes com o uso da ferramenta simplificada, o que
gera maior confiabilidade na proposta.
A grande contribuição que os autores Mompean (2017) e San Segundo et al. (2017)
trazem a esta revisão integrativa é a inclusão de uma abordagem de utilização do roteiro que se
diferencia dos outros estudos encontrados. Os autores apontam que o estudo da qualidade vocal
também pode trazer benefícios para a área da fonética forense uma vez que o uso de esquemas
perceptivos que avaliam a qualidade vocal pode auxiliar na comparação entre falantes já que
informações de diferenças na qualidade vocal entre idades e sexos podem ajudar no processo
de definição e identificação de sujeitos.
Ao adotar uma unidade de análise o VPAS permite variadas combinações nos planos
laríngeo, supralaríngeo e de tensão muscular, assim como elementos de dinâmica vocal de
forma a proporcionar uma descrição detalhada e ampliada dos aspectos perceptivos da voz,
identificando desde o perfil vocal completo de qualquer falante à mecanismos de sobrecarga do
aparelho fonador em casos clínicos.
O parâmetro utilizado no VPAS como referência para os julgamentos não é a
“normalidade” (dentro da clássica dicotomia normal versus alterado), geralmente característica
da maioria das escalas e protocolos fonoaudiológicos da área de voz, mas a referência a um
estado intermediário de atividade (ajuste neutro), que proporciona a graduação das
manifestações de condições comunicativas, informativas, expressivas e, inclusive, distúrbios
de qualidade vocal.
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Além disso, este roteiro traz contribuições na área da expressividade levando em


consideração os aspectos de expressão de atitudes e emoções dos falantes (MARQUEZIN et
al., 2015). Sob essa perspectiva, a abordagem fonética da qualidade vocal pode favorecer, de
forma significativa, a prática fonoaudiológica tanto no diagnóstico quanto no planejamento de
intervenções. E extrapolando as áreas da Fonoaudiologia pudemos observar também sua
importância para a fonética forense (SAN SEGUNDO; MOMPEAN, 2017; SAN SEGUNDO
et al., 2017).
Nesse sentido, os autores dos artigos revisados salientam as contribuições do roteiro
VPAS na avaliação da qualidade vocal e dinâmica vocal, pois este proporciona uma descrição
mais detalhada e ampliada dos aspectos perceptivos da voz, diferente dos outros instrumentos
de avaliação vocal que focam a investigação da fonte de voz. É relevante também apontar que
o uso do roteiro, como visto nos estudos analisados, nos permite variadas aplicações em
populações diferenciadas, adequação ao objetivo proposto pelo pesquisador podendo ser
aplicado de forma completa ou em partes, e a possibilidade de integração com dados de outra
natureza como, por exemplo, acústica ou fisiológica.
A utilização de um corpus foneticamente balanceado, bem como a análise de amostras
no formato áudio mostrou ser importante na aplicação do roteiro, visto que, assegura o caráter
fonético do modelo, caráter este que deve ser respeitado também no momento da escolha dos
juízes.
Avaliando a proposta inicial desta revisão observa-se uma lacuna na investigação
relacionada à quantidade de pesquisas internacionais encontradas. Apesar das palavras-chave
selecionadas incluírem diferentes aspectos que englobam o uso do roteiro VPAS e da aplicação
destas em plataforma de busca internacional, a localização de mais estudos parece ter sido
afetada. Recomenda-se a utilização de palavras-chave que abranjam áreas como a fonética
forense e os estudos linguísticos, em buscas futuras. Outro fato que chama atenção na seleção
dos artigos revisados é a concentração de estudos na área sudeste do Brasil, fato este que reforça
a necessidade de investimento em pesquisas com o uso do roteiro em outras regiões do nordeste
ou países para que se possa aprofundar e avançar os conhecimentos sobre a aplicação do VPAS
na investigação da qualidade e dinâmica vocal.

4 Considerações Finais

No levantamento realizado nesta revisão, de estudos entre 2007 a 2017, verificou-se que
houve uma concentração de pesquisas no Brasil, principalmente em São Paulo, e no panorama
internacional, na Inglaterra. Observou-se que o roteiro VPAS é utilizado com diferentes
populações e objetivos, tanto na investigação da qualidade vocal quanto da dinâmica vocal
integrando dados perceptivos com as medidas acústicas e/ou fisiológicas. Os autores pontuaram
como desafio a necessidade de formação em Fonética e de experiência dos juízes no uso do
VPAS, o que pode dificultar o uso do roteiro. Todos os estudos analisados apontam a adoção de
uma unidade de análise, o ajuste, como uma das principais vantagens e contribuições do uso do
roteiro. Frente aos resultados apontados nos artigos incluídos nesta revisão integrativa, este
roteiro mostra-se efetivo para análise dos aspectos de qualidade vocal e dinâmica vocal mesmo
sendo utilizado em parte, simplificado ou adaptado.

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