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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS (PEPG) EM FONOAUDIOLOGIA

Juliana Fernandes Marques

Afinação vocal: análise do processamento auditivo


temporal em cantores populares

Material para Qualificação do Mestrado


apresentado ao Edital de Bolsas do Programa
de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo sob orientação da Profa. Drª. Marta
Assumpção de Andrada e Silva.

São Paulo
Dezembro
2017
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PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS (PEPG) EM FONOAUDIOLOGIA

RESUMO

A afinação vocal pode ser definida como a reprodução adequada de notas isoladas ou frases

musicais que podem variar de frequência e que seguem critérios de avaliação e comparação

diferentes de acordo com o contexto cultural e histórico em que o sujeito cantor está

inserido. Nessa perspectiva pessoas que apresentam problemas de afinação não

conseguem reproduzir vocalmente uma sequência de notas, comentem erros entre os

intervalos dessas notas e modificam o modelo musical a ser imitado. Vale destacar que a

qualidade da produção da voz cantada é determinada também pelo processamento auditivo

central e questões voltadas as emoções humanas. Desta forma, tendo em vista que as

habilidades auditivas são relacionadas com a afinação vocal, pode-se hipotetizar que

cantores populares afinados ou com problemas de afinação apresentam desempenho

diferente na avaliação do processamento auditivo central. OBJETIVO: Relacionar o

processamento auditivo temporal com a afinação em cantores populares profissionais.

MÉTODO: A amostra será composta por dois grupos de cantores populares profissionais de

ambos os sexos e mesma faixa etária, um grupo pesquisa – cantores com problemas de

afinação - e um controle- cantores afinados. Serão aplicados uma ficha de identificação e

caracterização da amostra, um questionário de experiência musical, depois será realizado

uma triagem de afinação vocal e a Avaliação do Processamento Auditivo Temporal. Os

resultados serão lidos, tabelados e descritos por meio de discussão teórica.


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PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS (PEPG) EM FONOAUDIOLOGIA

SUMÁRIO

1. Introdução e justificativa............................................................................................3

2. Objetivo.........................................................................................................................6

3. Método..........................................................................................................................6

3.1. Preceitos éticos.......................................................................................................6

3.2. Seleção da amostra................................................................................................6

3.3. Instrumentos e materiais.........................................................................................7

3.4. Procedimentos........................................................................................................8

3.5. Análise dos dados.................................................................................................10

4. Cronograma...............................................................................................................11

5. Referências bibliográficas........................................................................................12

ANEXO 1.........................................................................................................................14
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1. Introdução e justificativa

A afinação vocal pode ser definida como a reprodução adequada de notas

isoladas ou frases musicais que podem variar de frequência (Hertz) e que seguem

critérios de avaliação e comparação diferentes de acordo com o contexto cultural e

histórico em que o sujeito cantor está inserido. Nessa perspectiva, pessoas que

apresentam problemas de afinação são aquelas que mesmo expostas aos padrões

musicais comuns à cultura em que vivem, não conseguem reproduzir vocalmente uma

sequência de notas, cometem erros entre os intervalos dessas notas e modificam o

modelo musical a ser imitado (Sobreira, 2003).

Vale destacar que a qualidade da produção da voz cantada é determinada não só

pela vivência cultural, mas também por mecanismos neurais inatos como o

processamento auditivo central e questões voltadas as emoções humanas (Heresniak,

2004). Em sua pesquisa Ishii et.al. (2006) compararam o desempenho de cantores

amadores e profissionais nos testes de resolução temporal do processamento auditivo.

Um dos resultados encontrados foi que cantores profissionais apresentam melhor

desempenho no processamento de informações auditivas. O estudo ainda aponta que

indivíduos que referiram ter problemas de afinação apresentam pior desempenho nos

testes temporais do que sujeitos afinados.

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Santos e Bouzada (2013) compararam o desempenho de indivíduos não cantores

afinados e com problemas de afinação nos testes de processamento auditivo central

(PAC). Um dos resultados observados foi que existe relação entre o PAC e problemas

de afinação vocal, principalmente nos testes temporais do processamento auditivo

relacionados com frequência e duração do som.

Alguns estudos (Gaser e Schlaug, 2003; Nascimento et.al., 2010; Rabelo et.al.,

2015) observaram funcionalmente e anatomicamente os efeitos da vivência musical em

músicos na representação dos sons no córtex auditivo. Nascimento et.al. (2010)

compararam a habilidade de sequencialização temporal no processamento de dois ou

mais sons entre músicos e não músicos. Como instrumento do método, os

pesquisadores aplicaram o teste de processamento auditivo temporal de padrão de

frequência (Hertz). Foi observado que musicistas tem habilidades de sequencialização

temporal melhor que não músicos, o que pode evidenciar que o sistema nervoso

auditivo central de músicos apresenta particularidades características devido à prática

musical à qual estão constantemente expostos.

Ao considerar a experiência pessoal, como cantora, professora de canto e mais

recentemente fonoaudióloga, observo que muitos alunos de canto e cantores

profissionais apresentam dificuldades para afinar a voz de acordo com a melodia

solicitada em diversas canções. Fato esse, mais vivenciado no universo do canto

popular em que se permite uma maior flexibilidade da melodia e a exigência e requinte

vocal é menor quando comparado, por exemplo, ao canto erudito. Desta forma, tendo

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em vista que as habilidades auditivas são relacionadas com a afinação vocal, pode-se

hipotetizar que cantores populares afinados ou com problemas de afinação apresentam

desempenho diferente na avaliação do processamento auditivo central.

Considera-se relevante verificar se os testes de processamento auditivo central

podem trazer informações distintas para detectar problemas de afinação vocal, uma

vez que esses problemas podem prejudicar diretamente a performance e o trabalho

desse profissional da voz. Nessa perspectiva, a avaliação do processamento auditivo

em cantores pode contribuir para o trabalho de fonoaudiólogos e professores de canto

e ser vista como ferramenta complementar na avaliação diferencial do profissional

cantor. Portanto, esse estudo tem como objetivo relacionar as habilidades auditivas

com a afinação em cantores populares profissionais.

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2. Objetivo

Relacionar o processamento auditivo temporal com a afinação em cantores

populares profissionais.

3. Revisão de Literatura

A revisão está organizada em ordem cronológica e abordará aspectos gerais sobre os

conceitos de afinação vocal, percepção auditiva, e relação das habilidades auditivas

em músicos.

O estudo de Graham et.al. (1989) teve o objetivo de analisar a participação do

feedback visual juntamente com a percepção auditiva no treino no desenvolvimento da

afinação vocal em um grupo de 32 crianças escolares de 7 anos. Como método, foi

criado pelos próprios pesquisadores um software que utilizou imagens em tempo real

em resposta da produção vocal do usuário em relação ao gráfico correto que deveria

ser seguido. A amostra foi dividida em três grupos, sendo (a) e (b) grupos pesquisas

que utilizaram o software imagético musical e (c) grupo controle que teve aulas

musicais baseadas em métodos tradicionais de ensino. Todas as crianças passaram

por uma avaliação vocal quanto a afinação no ínicio do semestre escolar e foram

retestadas ao final do semestre. Foi observado que os sujeitos do grupo (a) e (b)

tiveram desempenho muito melhor quanto a afinação vocal do que o grupo (c) que

foram expostos apenas ao treino musical auditivo.

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Sobreira (2003) em sua pesquisa define a afinação vocal como a reprodução adequada

de notas isoladas ou sequencias musicais que estão inseridas em padrão histórico-

socio-cultural. Nessa perspectiva, segundo a pesquisadora, pessoas que apresentam

problemas de afinação são aquelas que mesmo expostas aos padrões musicais

comuns à cultura em que vivem, não conseguem reproduzir vocalmente uma

sequência de notas, cometem erros entre os intervalos dessas notas e modificam o

modelo musical a ser imitado.

Peretz et. al. (2003) elaboraram uma bateria de testes que avalia funções musicais

referentes a seis componentes do processamento musical: escala, contorno, intervalo,

ritmo, métrica e memória musical. O estudo objetivou verificar as características

psicométricas do Montreal Battery of Evaluation of Amusia (MBEA) em uma amostra de

160 sujeitos de idades variadas. Foram utilizados procedimentos estatísticos que

permitiram explorar a estrutura dimensional da MBEA e dos itens componentes, avaliar

a adequação dos itens a partir de dados empíricos, verificar a confiabilidade e levantar

evidências de validade a partir da análise fatorial. A análise de grupos-critério indicou

que o teste se mostrou sensível para o diagnóstico de déficits de funções musicais

tanto de ordem congênitas como adquiridas.

No ano de 2004, Gimenez et. al. realizaram um estudo para averiguar a correlação

entre a produção vocal e as funções auditivas centrais, relacionadas aos padrões de

frequência e de duração. Foram coletados dados de 40 indivíduos, com idades entre 20

e 60 anos, dos sexos feminino e masculino, com metade dos indivíduos fazendo parte

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do grupo com queixas e/ou disfonia (G1), e a outra metade fazendo parte do grupo

controle (sem queixas e/ou disfonia) (G2). Foi realizada uma avaliação auditiva com

todos os participantes, além dos testes de Pitch Pattern Sequence (PPS) e Duration

Pattern Sequence (DPS), utilizados para avaliar a habilidade de diferenciar e reproduzir

sequências de tons, em diferentes combinações de graves/agudos e curtos/longos.

Além disso, no G1 foram também realizadas a avaliação vocal e avaliação

otorrinolaringológica. Os resultados demonstraram que o G1 apresentou,

significativamente, dificuldades para reproduzir e nomear padrões de frequência e

duração. Os avaliados demonstraram pior desempenho no DPS, com 60% dos exames

alterados, e o padrão de imitação se mostrou pior quando comparado à nomeação nos

dois testes (50% dos exames alterados). A partir dos resultados concluiu-se que há

uma relação significativa entre as alterações da produção vocal e comprometimento de

funções auditivas centrais relativas à percepção de duração e frequência. Os testes

PPS e DPS podem ajudar o programa de intervenção terapêutico-habilitativa das

disfonias a partir de seus resultados.

Em sua pesquisa Ishii et.al. (2006) compararam o desempenho de cantores amadores

e profissionais nos testes de resolução temporal do processamento auditivo.

Participaram 78 indivíduos, de ambos os gêneros, com idade variando entre 18 e 55

anos e com audição dentro dos limiares de normalidade. Cada indivíduo respondeu a

um questionário fornecendo várias informações, entre elas, a sua própria percepção

auditiva sobre sua voz cantada; o tempo de canto com orientação profissional,

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dificuldade para cantar novas músicas e o de estudo de teoria musical. Para a

avaliação foram utilizados o Teste de Padrão de Freqüência Sonora (TPF) e o Teste de

Detecção de Gap Randomizado (RGDT). Um dos resultados encontrados foi que

cantores profissionais apresentam melhor desempenho no processamento de

informações auditivas. O estudo ainda aponta que indivíduos que referiram ter

problemas de afinação apresentam pior desempenho nos testes temporais do que

sujeitos afinados.

Soncini e Costa, em 2006, a fim de descobrir se o treinamento auditivo fornecido pela

prática musical é um fator que influencia na habilidade de reconhecer a fala no silêncio

e no ruído, realizaram um estudo com 55 indivíduos sem experiência musical e 45

indivíduos músicos (que atuavam profissionalmente há pelo menos 5 anos). Todos os

participantes eram militares, do sexo masculino, destros, normo-ouvintes e com idades

entre 25 e 40 anos. Utilizou-se o teste Lista de Sentenças em Português (LSP) para

avaliar o limiar de reconhecimento de sentenças no silêncio (LRSS) e o limiar de

reconhecimento de sentenças no ruído (LRSR), para então calcular a relação

sinal/ruído (S/R). Nos resultados, os grupos não apresentaram diferenças significativas

entre os valores médios obtidos pelo LRSS, porém, houve diferença significativa entre

os valores médios obtidos para as relações S/R. Em resumo, músicos e não músicos

apresentaram dados de desempenho semelhantes no silêncio, mas, nas tarefas de

reconhecimento de sentenças apresentadas com ruído competitivo, o grupo de

músicos apresentou melhores desempenhos, sugerindo que a prática musical é uma

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atividade que beneficia a habilidade de reconhecimento de fala, quando a mesma é

executada diante de ruído.

Moura et. al. (2008) compararam os resultados da avaliação do processamento auditivo

entre cantores afinados e desafinados e identificaram possíveis alterações em cantores

desafinados, que possam impactar no seu padrão de afinação. Foi realizado um

estudo estatístico com 20 cantores eruditos, divididos em dois grupos, Afinados e

Desafinados, por meio da análise de gravações de linhas melódicas em áudio. As

gravações foram analisadas por três especialistas em canto. Posteriormente foram

aplicados Testes de Padrão de Frequência, Duração, Detecção de Gap (RGDT) e

SSW. Nos resultados observou-se que cantores eruditos desafinados apresentam

desempenho menor que cantores afinados, com maior diferença significativa nos testes

temporais de frequência e duração.

Em 2012, Hutchins e Peretz realizaram um estudo a fim de analisar as possíveis

causas de problemas de afinação em músicos e não músicos. Como método foram

desenvolvidos cinco experimentos distintos que testaram as habilidades de percepção

auditiva, controle motor e sensório-motor da produção vocal. Por meio da percepção

auditiva e imitação vocal, os participantes eram expostos a estímulos sonoros que

deveriam ser reproduzidos igualmente ao modelo apresentado pelos pesquisadores.

Foi observado que todos os participantes tiveram melhor desempenho em identificar

sons iguais do que produzir o mesmo som solicitado, o que pode indicar maiores

problemas com o controle da emissão vocal e dificuldades na conversão do timbre

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sonoro apresentado para timbre vocal do próprio sujeito. Além disso, musicistas

apresentaram melhor desempenho do que o grupo de não- musicistas.

Moreti et.al. (2012) elaboraram uma triagem da afinação vocal contendo tarefas

simples e de rápida aplicação em que eram testados a capacidade de imitação vocal

de sons musicais de diferentes tons e de ordenação temporal de três tons. Para

verificar a aplicabilidade da triagem foram comparados o desempenho de musicistas e

não musicistas. Participaram 32 indivíduos adultos, de ambos os gêneros, sem queixas

vocais, auditivas e/ou de processamento auditivo, que foram divididos igualmente em

dois grupos: grupo musicistas e grupo não musicistas. Todos passaram pela Triagem

da Afinação Vocal, que incluiu estímulos musicais compatíveis com a tessitura vocal de

homens e mulheres, agrupados em dois tipos de tarefas: tons isolados e sequências de

três tons. Os participantes foram instruídos a ouvir os tons apresentados e reproduzí-

los vocalmente. As emissões vocais foram gravadas, analisadas acusticamente e os

acertos e erros cometidos nos dois tipos de tarefas foram caracterizados. As variáveis

referentes à comparação entre os grupos e os tipos de tarefas foram analisadas

estatisticamente. Foi observado que houve diferença na comparação entre os dois

tipos de tarefas para o GNM, o que não ocorreu com o GM, sendo que o GM

apresentou um maior número de acertos nos dois tipos de tarefas.

Santos e Bouzada (2013) compararam o desempenho de indivíduos não cantores

afinados e com problemas de afinação nos testes de processamento auditivo central

(PAC). Como método foi utilizado uma triagem de afinação vocal desenvolvida pelos

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próprios pesquisadores e a bateria de testes padrão para avaliação do processamento

auditivo central. Um dos resultados observados foi que existe relação entre o PAC e

problemas de afinação vocal, principalmente nos testes temporais do processamento

auditivo relacionados com frequência e duração do som.

No estudo de Ribeiro et.al. (2014) foi avaliado o processamento temporal de cantores

populares que tocam e não tocam instrumento musical. A amostra foi composta de 30

cantores populares de banda baile com faixa etária de 19 a 55 anos, sendo 15 que

tocam instrumento musical (G1) e 15 que não tocam instrumento musical (G2). Para

avaliar o processamento temporal foi utilizado o teste de detecção de gaps no ruído

(GIN) (MUSIEK et al., 2004), que avaliou a habilidade de resolução temporal, além do

Teste de Padrão de Frequência (TPF) (MUSIEK, 1994), que avaliou a habilidade de

ordenação temporal. Houve diferença na comparação do desempenho entre os grupos

no qual cantores que tocam instrumentos musicais apresentam melhor desempenho

nas habilidades auditivas de resolução e ordenação temporal quando comparados

àqueles que só cantam. Sendo assim, a prática de tocar instrumentos pode contribuir

significativamente no desempenho das habilidades auditivas de ordenação e resolução

temporal e consequentemente, no desempenho de cantores populares.

Fadel e Ribas (2014) verificaram a existência da relação entre afinação vocal e

processamento auditivo temporal em indivíduos sem educação musical. Participaram

deste estudo 62 indivíduos (30 homens e 32 mulheres) com audição normal e idades

entre 18 e 35 anos. A amostra foi dividida em dois grupos estabelecidos a partir de uma

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triagem de afinação vocal (Moreti 2012), onde o Grupo A (GA) foi composto por 28

indivíduos considerados afinados, e o Grupo D (GD) foi integrado por 34 indivíduos

considerados desafinados. Os participantes foram submetidos à realização de dois

testes de Padrão de Frequência (TPF) e o Teste de Detecção de Gap (RGDT). A partir

das análises dos resultados dos testes temporais obtidos pelos sujeitos, pode-se

concluir a existência de uma relação significativa entre processamento auditivo

temporal e afinação vocal. O teste TPF revelou-se sensível para a detecção de

possível disfunção e/ou alteração na habilidade de discriminação auditiva de

frequências sonoras em indivíduos desafinados.

A pesquisa de Ângulo-Perkins et.al. (2014) buscou identificar se regiões específicas do

cérebro demonstram seletividade na identificação de sons musicais e de fala. Foram

avaliados 53 sujeitos, 28 músicos profissionais e 25 não-músicos, foi utilizado um

paradigma projetado para identificar regiões que mostram uma resposta aumentada na

resposta a diferentes tipos de estímulo musicais, comparado a diferentes tipos de sons

complexos, como a fala e vocalizações não linguísticas através da fMRI (functional

magnetic resonance imaging). Foi encontrada uma região na porção anterior do giro

temporal superior que demonstrou atividade preferencial em resposta ao estímulo

musical e que esteve presente em todos os sujeitos, independentemente de

treinamento musical. Os dados sinalizaram que essa região cortical é

preferencialmente envolvida no processamento musical comparada a outros sons

complexos. Além disso, avaliou-se que a experiência musical modula a resposta das

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regiões corticais envolvidas no processamento musical, e encontrou-se evidência de

diferenças funcionais entre músicos e não-músicos durante a escuta da música. Estes

resultados evidenciaram a especialização funcional para o processamento musical em

regiões específicas do cortex auditivo, e mostraram diferenças possivelmente

relacionadas com o treino auditivo musical.

Um estudo conduzido por Armony et.al. (2015), teve como objetivo identificar quais

tipos de neurônios respondem aos estímulos musicais e vocais. Para isso, foi utilizado

um experimento com fMRI (functional magnetic resonance imaging) no qual pequenos

trechos de músicas e vocalizações foram apresentados numa ordem pseudo-aleatória.

Os resultados mostraram a presença de uma região no giro temporal superior que

responde mais fortemente à música do que a voz. Além disso, foi encontrado um efeito

de adaptação específica para a música nessa área, o que indica também a presença

de neurônios mais especializados para a música. Estes achados contribuem para a

dicotomia neural entre música e fala dentro do lobo temporal.

Rabelo et al, em 2015, realizaram um estudo a fim de investigar o comportamento da

latência e da amplitude do P300 (potêncial auditivo de longa latência) quando utilizada

a estimulação contralateral, em indivíduos músicos e não músicos. O estudo é definido

como caso-controle, onde os indivíduos foram divididos em dois grupos, sendo GM o

grupo de músicos, composto por 30 músicos profissionais, e GNM o grupo de não-

músicos, formado por 25 indivíduos sem experiência musical. Os resultados revelaram

que o GM teve latências menores e amplitudes maiores do que o GNM no teste do

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P300 sem ruído contralateral. Com base nos resultados foi possível concluir que o

sistema nervoso auditivo central de músicos exibe caracterísicas particulares de

respostas eletrofisiológicas, possivelmente em consequência da plasticidade imposta

pela prática musical.

O objetivo da revisão feita por Sobreira (2016) foi analisar o significado do termo

desafinado/a, abordando-se as várias denominações usadas nos estudos para

descrever o problema, tendo como base pesquisas da área da cognição musical e da

neuropsicologia. A pesquisadora descreve que o termo desafinação muitas vezes é

usado erroneamente pelo senso comum como uma deficiência que limita o

desenvolvimento vocal e musical do sujeito que apresenta dificuldades maiores ou não

foi exposto a ambientes musicais durante seu desenvolvimento infantil. Sobreira relata

que apenas cerca de 5% da população apresenta a Amusia que pode ser definida

como um quadro neurocognitivo congênito de desafinação. Porém, esse termo médico

é usado em grande escala para enquadrar sujeitos que apresentam algum tipo de

dificuldade de afinação vocal o que pode trazer problemas psicológicos e de auto-

estima para as pessoas.

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4. Método

4.1. Preceitos éticos

Essa pesquisa passará pelo Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo e só terá início após sua aprovação. Todos os sujeitos voluntários do

estudo assinarão o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 1).

4.2. Seleção da amostra

Como a pesquisadora, além de fonoaudióloga, é cantora e professora de canto

será utilizado a técnica snowball sampling em que os primeiros voluntários convidados

serão do convívio profissional, excluído as com grau de proximidade, e depois cada um

desses mesmos voluntários indicarão outros dois sujeitos para o estudo.

A princípio, a amostra será composta por dois grupos de cantores populares

profissionais, um grupo pesquisa e um controle. O grupo pesquisa será composto por

30 cantores populares profissionais com problemas de afinação (GPA), composto por

homens e mulheres, na faixa etária entre 20 e 45 anos, considerado por Behlau (2004)

o período de maior eficiência vocal. O grupo controle será formado por 30 cantores

populares profissionais afinados (GA), também de ambos os sexos e na mesma faixa

etária.

Os fatores de exclusão serão: ter perda auditiva testada por um exame

audiométrico realizado pela pesquisadora, queixa de zumbido, apito ou sensação de

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ouvido tampado autorreferido pelos sujeitos. A testagem dos limiares auditivos será

feita em uma cabina acusticamente tratada para realização da audiometria tonal liminar

com o audiômetro modelo Itera, nas frequências sonoras de 250Hz, 500Hz, 1000Hz,

2000Hz, 3000Hz, 4000Hz, 6000Hz e 8000Hz. O método escolhido para a determinação

do limiar audiológico do participante será o método descendente/ascendente. Os

sujeitos que não apresentarem limiares auditivos dentro da normalidade serão

excluídos do estudo.

Será aplicado os instrumentos “Triagem de Afinação vocal” (Moreti et. al., 2012) e a

adaptação de “ Montreal Battery of Evaluation of Amusia” (Peretez I, 2003) a fim de

classificar os sujeitos com problemas de afinação vocal ou não. Os indivíduos que não

reproduzirem satisfatoriamente as provas desses testes (com acompanhamento vocal

ou instrumental e a capella), serão alocados no grupo de cantores populares com

problemas de afinação (GPA). Já os sujeitos que tiveram desempenho adequado serão

colocados no grupo controle de cantores populares afinados (GA).

4.3. Instrumentos e materiais

Inicialmente será aplicado a todos os sujeitos participantes uma ficha de

identificação e caracterização da amostra, e um questionário de vivência musical que

será elaborada pela pesquisadora e sua orientadora com base na literatura. Em

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seguida, será realizado uma triagem de afinação vocal por meio dos instrumentos

“Triagem da Afinação Vocal” (Moreti et. al., 2012) e por uma adaptação do teste “

Montreal Battery of Evaluation of Amusia” (Peretez I, 2003).

Posteriormente, os sujeitos da pesquisa serão submetidos à avaliação do

processamento auditivo que é constituído pelas seguintes provas: Teste Padrão de

Frequência, Teste Padrão de Duração, Radom Gap Detection Test (RGDT), Gap in

Noise (GIN) e pelo teste supra liminar Short Increments Sensitivity Index (SISI).

4.4. Procedimentos

Aos sujeitos que voluntariamente aceitarem participar do estudo, a pesquisadora

entregará o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – anexo 1) seguido da

aprovação da Ética. Os participantes serão primeiramente contatados por telefone a fim

de eliminar qualquer eventual fator de exclusão como queixas auditivas ou vocais

autorreferidas.

No dia da coleta, será realizado uma otoscopia para assegurar uma condição

técnica adequada para a avaliação audiológica. Seguido por uma audiometria tonal

liminar para testar se todos os participantes apresentam limiares auditivos dentro da

normalidade. Os sujeitos que eventualmente apresentarem perda auditiva serão

automaticamente excluídos do estudo.

Em sequência, será entregue pela pesquisadora uma ficha de identificação e

caracterização da amostra e o questionário de vivência musical. Ambos serão

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preenchidos pelos próprios cantores e visam obter dados como iniciais dos nomes,

idade e gênero, e dados profissionais como, por exemplo, formação musical e tempo

de profissão.

Após, será aplicado os instrumentos “Triagem de Afinação vocal” (Moreti et. al.,

2012) e a adaptação de “ Montreal Battery of Evaluation of Amusia” (Peretez I, 2003) a

fim de classificar os sujeitos com problemas de afinação vocal ou não. O protocolo de

avaliação dos indivíduos desafinados será realizado com os estímulos apresentados

em campo livre e uma sala acusticamente tratada. Para a gravação dos registros

vocais será utilizado um notebook da marca Asus equipado com um microfone

headset. O microfone será posicionado a 10 cm de distância da boca do cantor e com

ângulo de 90º para evitar a captação do ruído. A gravação provavelmente durará em

torno de 10 minutos e ocorrerão em dias e horários previamente agendados de acordo

com a disponibilidade dos participantes.

A avaliação do processamento auditivo será feita em cabina audiométrica

acusticamente tratada e as tarefas serão apresentadas na seguinte ordem: Teste

Padrão de Frequência, Teste Padrão de Duração, Radom Gap Detection Test (RGDT),

Gap in Noise (GIN) e pelo teste supra liminar Short Increments Sensitivity Index (SISI).

Em caso de qualquer dúvida durante a testagem, a pesquisadora será responsável por

orientar e respondê-las.

Para testar a ordem e a relevância dos procedimentos, a pesquisadora realizará

um estudo piloto com 10% da amostra, o que propiciará uma análise preliminar para

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verificar se o conteúdo dos instrumentos irá produzir dados úteis e favoráveis aos

resultados.

4.5. Análise dos dados

Os dados demográficos da ficha de identificação e caracterização e os resultados da

avaliação do processamento auditivo central serão lidos e tabelados a fim de que a

pesquisadora possa comparar e analisar possível correlação entre problemas ou não de

afinação vocal e processamento auditivo nos dois grupos de cantores.

Todos os dados serão descritos por meio da discussão teórica e confrontados com a

literatura. A discussão se baseará no método comparativo e por eixos temáticos o que

permitirá verificar semelhanças e explicar divergências entre fatores e desempenho vocal.

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5. Cronograma

ETAPAS 2017 2018

J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

Elaboração do Projeto

Revisão de literatura

Coleta de dados

Tabulação e analise dos dados

Análise dos resultados

Qualificação

Redação final

Entrega dos volumes

Elaboração do artigo

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6. Referências bibliográficas

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
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