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Caderno de Resumos e Programação

MAIO 29, quarta-feira


SESSÃO C1
Comunicações Orais Curtas
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SALA 5, 14h
Coordenador da sessão | Session Chair:: William Teixeira

14:00
Sistematização do processo heurístico do oboísta para a
caracterização do timbre e da articulação através de parâmetros
acústicos e psicoacústicos
Ravi Shankar Magno Viana Domingues, Mauricio Freire Garcia,
Davi Mota,
14:10
Análise fenomenológico interpretativa: possibilidades de utilização
no campo de estudos da aprendizagem da composição musical
Igor Mendes Krüger, Veridiana de Lima Gomes Krüger, Lourdes Maria
Bragagnolo Frison

14:20
O Efeito Kiki-Bouba como referência para investigações
multissensoriais em música
Cristiane Nogueira, Helena Rodrigues

14:30
Análise de métodos biomecânicos para controle e dinâmica do
instrumento bateria
Sandro Moreno, William Teixeira

14:40
Treinamento musical, ouvido absoluto e memória verbal:
um estudo sobre possíveis correlações
Priscila Satomi Acamine, Patricia Vanzella

14:50
Música interfere na apreciação estética em museu de arte
contemporânea
Bruna de Oliveira, Giulia Ventorim, Claudia Feitosa-Santana, Patricia
Vanzella

15:00
As manipulações do trato vocal na emissão das notas do registro
agudo e superagudo do clarinete baixo
Elaine Cristina Rodrigues Oliveira, Ricardo Dourado Freire

15:10
Arnold Jacobs e proposta musicopedagógica CDG:
sobre formação de professores de instrumento de metal
Michele Girardi, Helena Müller de Souza Nunes
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Sistematização do processo heurístico do oboísta


para a caracterização do timbre e da articulação
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através de parâmetros acústicos e psicoacústicos
Ravi Shankar Magno Viana Domingues (ravishankaroboe@hotmail.com)
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Mauricio Freire Garcia (m.garcia@ufmg.br)
Davi Mota (davialvesmota@gmail.com)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Problema
Durante seu processo de formação, o instrumentista desenvolve uma série de habilidades cognitivas e
metacognitivas que contribuem para o refinamento e aperfeiçoamento da manipulação de parâmetros
musicais para a construção de uma performance (Neto et al., 2016). Considerando-se que o oboísta
realiza grande parte desta manipulação através da palheta, é fundamental que ele aprenda a perceber,
refletir e desenvolver estratégias para a produção de palhetas que lhe permitam alcançar de maneira
eficiente seus objetivos musicais.
O conceito de “formação” é complexo e abrange uma profusão de significados. Segundo Virgínio
(2009) é um processo dinâmico, inacabado e em aberto, que busca proporcionar uma forma com base
em um modelo específico, adequado ao contexto cultural, social e econômico onde um diversificado
vocabulário de palavras e imagens como heurísticas são apresentados e desenvolvidos (Leech-
Wilkinson & Prior, 2014).
Se por um lado tais conceitos são fundamentais para a transmissão de uma determinada cultura sonora,
o uso descontextualizado de tais expressões, pouco contribui para o processo de desenvolvimento de
uma boa palheta e das habilidades técnicas dos oboístas, pois limitam a experimentação de novas
possibilidades que otimizem a expressão musical do instrumentista.
Objetivos
Compreender o processo heurístico do oboísta relacionado às metáforas utilizadas para a caracterização
do timbre e da articulação.
Método
Realizou-se um estudo descritivo do tipo transversal entre setembro e dezembro de 2017, cuja coleta
de dados consistiu da aplicação de um questionário, a 21 oboístas profissionais, brasileiros e estrangeiros,
que gravaram dois excertos musicais contrastantes e da realização de um teste subjetivo de percepção
em 73 músicos. As gravações foram analisadas segundo descritores acústicos (Campolina et al., 2009) e
posterior tratamento estatístico. Contrapôs-se os dados acústicos, extraídos através dos descritores, com
os dados coletados no questionário e no teste subjetivo de percepção.
Resultados
Observou-se a relação entre alguns descritores acústicos e a classificação subjetiva realizada pelos
músicos o que contribuiu para a sistematização do processo heurístico dos oboístas para caracterizar o
timbre e a articulação.
Conclusões
Nota-se que apesar das diferenças entre os parâmetros físicos das palhetas, a cultura sonora é a
principal influência no processo heurístico do oboísta conduzindo sua compreensão dos conceitos
subjetivos e sua percepção dos parâmetros acústicos e psicoacústicos.
Palavras-chave
Oboé, articulação, timbre, heurística, descritores acústicos.
Referências
Campolina, T., Loureiro, M., Mota, D. (2009). Expan: a tool for musical expressiveness analysis.
Proceedings of the 2nd International Conference of Students of Systematic Musicology, Ghent, Bélgica.
Leech-Wilkinson, D., & Prior, H. M. (2014). Heuristics for expressive performance. In D. Fabian, R.
Timmers, & E. Schubert (Eds.), Expressiveness in music performance: Empirical approaches across
styles and cultures (pp. 34-57). New York, NY, US: Oxford University Press.
Neto, A. B. d. O. et al. (2016, maio). Ferramentas de análise empírica e metacognição no processo de
interpretação musical. Anais do XII Simpósio de Cognição e Artes Musicais, Porto Alegre, RS,
Brasil.
Virgínio, M. H. S. (2009). Análise dos conceitos de formação docente no contexto educativo-formativo
brasileiro. Tese de doutorado, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.
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Análise fenomenológico interpretativa:


possibilidades de utilização no campo de estudos da
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aprendizagem da composição musical
Igor Mendes Krüger (igorkruger@unipampa.edu.br)
Universidade Federal do Pampa(Unipampa)/Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Veridiana de Lima Gomes Krüger (limaveridiana@yahoo.com.br)
Lourdes Maria Bragagnolo Frison (frisonlourdes@gmail.com)
Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Problema/questão
Ultimamente temos nos ocupado em investigar os processos autorregulatórios e criativos da
aprendizagem da composição musical. Para tanto, buscamos aporte teórico na obra de Bandura (1986)
no que se refere ao entendimento de indivíduo aprendente e criador. Dado o nosso entendimento de
que as abordagens metodológicas recorrentes no campo da autorregulação da aprendizagem parecem
pouco sensíveis às especificidades de nosso objeto de investigação, propomos, com este trabalho,
algumas reflexões acerca das possibilidades oferecidas pela Análise fenomenológica interpretativa,
doravante IPA, para a compreensão do fenômeno abordado.
Objetivos
Este trabalho, de caráter teórico, tem por objetivo apresentar algumas reflexões a respeito das
possibilidades de utilização da IPA enquanto recurso metodológico para a compreensão de processos
autorregulatórios e criativos da aprendizagem da composição musical em contexto universitário.
Principais contribuições
Dada sua matriz epistemológica, ao articular fenomenologia e hermenêutica filosófica, mas
especificamente no que tange aos pensamentos de Heidegger e Gadamer, a IPA ocupa-se do “exame
detalhado da experiência individual vivida, e das formas como os indivíduos dão sentido a essa
experiência” (Eatough, Smith, 2008, 179). A IPA parte do pressuposto de que nada é mais importante
do que a experiência do humano e de que essas se constituem dentro dos limites da facticidade do
homem em sua relação com o mundo, atentando “a todos os aspectos dessa experiência vivida, desde
os desejos, sentimentos, motivações, sistemas de crenças do indivíduo até como eles se manifestam, ou
não, no comportamento e na ação” (idem. p.181). A maneira com que cada indivíduo compreende e
explica tais experiências está sempre embasada em vivências anteriores e, consequentemente, em seus
preconceitos.
Outro aspecto que merece destaque na abordagem IPA é a valoração dos estudos de caráter idiográfico,
uma vez que esses propiciam a compreensão das idiossincrasias dos indivíduos partícipes da
investigação.
Implicações
Ao partirmos da perspectiva de Bandura para pensarmos o indivíduo que aprende e cria, entendemos
ser necessária a assunção do papel da interpretação nas transações agênticas do indivíduo com/no
universo. As diferentes formas de interpretação, representação e simbolização do vivido implicam nos
modos como as pessoas conectam o pensamento à ação (autorregulação). Assim, entendemos que a IPA
oferece subsídios metodológicos pertinentes à compreensão dos processos criativos e autorregulatórios
de estudantes de composição musical por valorizar a interpretação do indivíduo em relação aos sentidos
atribuídos à experiência.
Palavras-chave
Autorregulação, criatividade, composição musical, metodologia, análise fenomenológico
interpretativa
Referências
Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Englewood Cliffs,
NJ: Prentice-Hall.
Eatough, V; Smith, J. (2008). Interpretative Phenomenological Analisys. In: Willig,C; Stainton-
Rogers, W. The Sage Handbook of Qualitative Research in Psychology. (pp. 179-194). Los Angeles:
SAGE Publications.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

O Efeito Kiki-Bouba como referência


para investigações multissensoriais em Música
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Cristiane Nogueira (cristianemagdan@gmail.com)
Helena Rodrigues (helenarodrigues@musicateatral.com)
Universidade Nova de Lisboa (Portugal)

Problema/questão
O Efeito Kiki-Bouba (EKB) refere-se a um dos primeiros testes envolvendo a correspondência entre
sentidos, evidenciando uma conexão entre estı́mulos linguı́sticos/sonoros e visuais, a partir da relação
entre as palavras sem sentido “Kiki” e “Bouba” e duas imagens de formas distintas, uma de contornos
pontiagudos e outra de contornos arredondados, respectivamente. Inserido nos estudos sobre
correspondências intermodais, o EKB tem suscitado questões relativas ao modo como diferentes
modalidades sensoriais se inter-relacionam. Considerando a natureza multissensorial da música,
questiona- se se o EKB poderá constituir um paradigma relevante para o estudo do fenômeno musical.
Objetivos
Este trabalho pretende verificar se existem contribuições do paradigma do EKB para compreender
correspondências intermodais no âmbito musical e de que modo a conexão não- arbitrária entre os
sentidos auditivo e visual observada no EKB se estende - ou não - a estı́mulos de natureza musical.
Metodologia
Foi efetuada uma revisão de literatura em 24 publicações, selecionadas de 04 bases de dados online,
como a PsycNET/ APA, as plataformas Eric e Sage Journal e o Google Scholar. Os critérios de escolha
dos artigos foram a ênfase no tema do EKB numa perspectiva empı́rica, preferencialmente, e a
disponibilidade online.
Principais contribuições
O EKB tem fomentado debates no âmbito da linguagem, do simbolismo sonoro, da percepção e da
sinestesia, sendo alargado às diversas modalidades perceptivas, como paladar e olfato e, no campo da
visão, ao âmbito das cores. Outros estudos apontam a relação do EKB com gêneros e emoções, palavras
reais, expressões faciais reais e movimentos corporais. No entanto, as investigações que relacionam o
EKB com a experiência musical são escassas, resumindo-se à relação do fenômeno com caracterı́sticas
sonoro/musicais isoladas e obras musicais especı́ficas.
Implicações
A revisão de literatura revelou uma parca produção cientı́fica relativa a possı́veis extensões do EKB ao
domı́nio musical. Entretanto, ao considerar a natureza multissensorial da música, é pertinente desenhar
estudos em que se analise a relação entre estı́mulos musicais e os diversos domı́nios perceptivos, como
por exemplo, o cinestésico. Tal como sucede com a música, há evidências que permitem compreender
o EKB como uma capacidade inata e universal (ainda que culturalmente influenciada), o que confere
outro argumento a favor da realização de estudos aplicando o paradigma do EKB ao contexto musical.
Palavras-chave
Efeito kiki-bouba, música, correspondência intermodal, sinestesia
Referências
Adeli, M. Rouat, J., & Molotchnikoff, S. (2014). Audiovisual correspondence between musical
timbres and visual shapes. Frontiers in Human Neuroscience, 8, 1–12.
Barilari, M. Heering, A. Crollen, V. Collignon, O.; & Bottini, R. (2018). Is red heavier than yellow
even for blind? i-Perception, 1–4.
Blazhenkova, O., & Kumar, M. M. (2018). Angular versus curved shapes: Correspondences and
emotional processing. Perception, 47(1), 67–89.
Köhler, W. (1947). Psicologia da gestalt. Belo Horizonte: Editora Itatiaia.
Koppensteiner, M., Stephan, P., & Jäschke, J. P. M. (2016). Shaking takete and flowing
maluma: non-sense words are associated with motions patterns. Plos One, 11(3), 1–13.
Murari, M. Schubert, E. Rodá, A. Da Pos, O., & De Poli, G. (2017). How ˃:( is Bizet? Icon ratings of
music. Pscychology of music, 1, 1–12.
Ramachandran, V. S., & Hubbard, E. M. (2001). Synaesthesia – a window into perception, thought
and language. Journal of Consciousness Studies, 8(12), 3-34.
Woods, A. T. Spence, C. Butcher, N. Deroy, O. (2013). Fast lemons and sour boulders: testing
crossmodal correspondences using an internet-based testing methodology. i-Perception, 3, 365– 379.
Caderno de Resumos e Programação

Análise de métodos biomecânicos para


controle e dinâmica do instrumento bateria
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Sandro Moreno (sandromorenobatera@yahoo.com.br)
William Teixeira (teixeiradasilva.william@gmail.com)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Problema
O estudo da bateria envolve muitas variáveis, entre elas a precisão técnica visando uma dinâmica com
eficaz controle do volume pelo instrumentista, algo de extrema complexidade. Ao serem percutidos, os
tambores produzem naturalmente grande amplitude sonora e, por essa razão, a investigação proposta
aqui busca as melhores opções de manejo técnico e gestual para obtenção de dinâmicas baixas, não
somente em caráter artístico-musical mas também com abordagem científica ao buscar na Física
conceitos de Mecânica e Ondulatória que embasem técnicas de moderação do som.
O conhecimento em Acústica será basilar para este processo, antecedendo a abordagem técnica para
que seja possível a apuração sobre a escolha das baquetas, analisando a qualidade sonora produzida
levando-se em conta a massa, dureza e a forma.
Na pesquisa das habilidades, averiguamos a sistemática proposta por três relevantes educadores e
performers, George Lawrence Stone (1886-1967), Gladstone (1892-1961) e Sanford A. Moeller (1869-
1961). Destaca-se também a importância da escolha correta do fulcro (o ponto de apoio de uma
alavanca).
Por ser a bateria um instrumento ainda recente na história da música, tendo seu surgimento na virada
do século XIX para o século XX, tem-se um amplo caminho para diferentes abordagens de execução.
A pesquisa aqui deteve-se a encontrar a melhor trajetória para performance em baixa amplitude sonora.
Objetivos
Este trabalho tem como intento a exposição das técnicas de manejo e os gestos corporais envolvidos na
produção de uma sonoridade de baixa amplitude durante a prática da bateria.
Método
Uma análise multidisciplinar que explane conceitos musicais e da performance tendo como base a
Biomecânica, Ergonomia, princípios da Mecânica, Ondulatória e Acústica.
Resultados
Produção de um texto com registro das técnicas apresentadas no trabalho, posterior publicação em
formato de artigo científico.
Conclusões
O controle dinâmico sem a perda do fluxo musical é de extrema dificuldade para o performer deste
instrumento, a pesquisa efetuada ajuda o músico a encontrar este autodomínio, sobretudo a partir da
ênfase no fulcro.
Palavras-chave
Bateria, técnica, dinâmica, performance
Referências
Berendt, J. Ernest., Huesmann Günther. (2009). The jazz book. (7th ed.). Chicago: Lawrence Hill
Books.
Chapin, Jim.(1948). Advanced techniques for the modern drummer. (1 ed.). New York: Jim Chapin.
Chester, Gary. (1995). The new breed. (5th ed.). USA: Modern Drummer Publications.
Henrique, Luis L.(2011). Acústica musical. (4a ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Logozzo, Derrick. (1992). Systems of natural drumming: Stone, Gladstone, Moeller. Percussive Notes. (86-
92).
Moeller, Sanford.(1956). The Moeller Book: The art of snare drumming. Cleveland: Ludwig DrumCo.
Nussenzveig, Herch Moysés. (2002). Curso de física básica. (4a ed.). São Paulo: Edgard Blucher.
Okuno, Emico. (1982). Física para ciências biológicas e biomédicas. (1 ed.). São Paulo: Harper & Row do
Brasil.
Reed, Ted. (1958). Progressive steps to syncopation for the modern drummer. (1 ed.). USA: Alfred
Publishing.
Stone, Lawrence George. (1935). Stick control. (1 ed.). Boston: G. Lawrence Stone.
Teixeira, William. (2017) Por uma performance retórica da música contemporânea. (Tese de doutorado).
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Recuperado
de http://www.teses.usp.br.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

Treinamento musical, ouvido absoluto e memória verbal:


um estudo sobre possíveis correlações
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Priscila Satomi Acamine (priscilaacamine@hotmail.com)
Patricia Vanzella (p.vanzella@ufabc.edu.br)
Universidade Federal do ABC (UFABC)

Problema/questão
O ouvido absoluto (OA) é um traço cognitivo caracterizado pela capacidade de identificar e/ou entoar
uma altura específica sem o auxílio de referência externa. Estudos sugerem que portadores de OA,
quando comparados a músicos não portadores e não-músicos, tendem a apresentar uma acentuada
assimetria hemisférica (em favor do lado esquerdo) no Planum Temporale (Keenan et al., 2001). Caso
isso seja resultado de uma mudança na organização cortical, o lobo temporal esquerdo nesses
indivíduos pode ter uma função cognitiva melhor desenvolvida (Chan, Ho & Cheung, 1998). Como
a memória verbal é mediada principalmente nessa área (Sidhu et al., 2015), é possível que portadores
de OA apresentem melhor memória verbal que não portadores.
Objetivos
O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho de portadores de OA em um teste de memória verbal
e comparar aos de não-músicos e músicos sem OA para verificar a existência de relações entre
treinamento musical, ouvido absoluto e memória auditiva verbal.
Método
Foram estudados 36 estudantes de graduação, dos quais 21 declararam ter pelo menos quatro anos
consecutivos de estudo formal em música (grupo “músicos”) enquanto os outros 15 declararam ter
recebido pouco ou nenhum treinamento musical (grupo “não-músicos”). Os participantes realizaram
um teste de identificação de tons (Vanzella & Schellenberg, 2010), para classificação de portadores e
não portadores de OA, e o Rey Auditory-Verbal Learning Test (RAVLT), que consiste em uma tarefa de
aprendizado de lista de substantivos com posterior reconhecimento das palavras aprendidas.
Resultados
Resultados do teste de OA indicaram que 11 dos 21 músicos eram portadores de OA. Foi encontrada
uma associação entre treinamento musical e performance no teste de memória. Músicos aprenderam
(t=2,393(34); p=0,022) e reconheceram posteriormente (t=2,203(24,074); p=0,037) significativamente
mais palavras que os não-músicos. Entretanto, quando os músicos foram analisados separadamente em
subgrupos de portadores e não portadores de OA e comparados com os não-músicos, a diferença na
performance deixou de existir.
Conclusões
Verificou-se que o treinamento musical está relacionado a uma melhor performance no teste de
memória verbal. Não foi encontrada diferença de performances no teste de memória entre os
subgrupos de músicos portadores e não portadores de OA e não-músicos. Mais estudos são necessários
com amostras maiores de músicos com OA para que conclusões mais robustas possam ser alcançadas
sobre a relação entre essa rara habilidade cognitiva e outros aspectos cognitivos não musicais.
Palavras-chave
Ouvido absoluto, memória, treinamento musical.
Referências
Chan, A. S., Ho, Y. C., & Cheung, M. C. (1988). Music training improves verbal memory. Nature
396(6707), 128.
Keenan, J. P., Thangaraj, V., Halpern, A. R., & Schlaug, G. (2001). Absolute pitch and planum
temporale. Neuroimage, 14(6), 1402-1408.
Sidhu, M. K., Stretton, J., Winston, G. P., Symms, M., Thompson, P. J., Koepp, M. J., & Duncan, J.
S. (2015). Memory fMRI predicts verbal memory decline after anterior temporal lobe resection.
Neurology, 84(15), 1512-1519.
Vanzella, P., & Schellenberg, E. G. (2010). Absolute pitch: Effects of timbre on note-naming ability.
PloS one, 5(11), e15449.
Caderno de Resumos e Programação

Música interfere na apreciação estética


em museu de arte contemporânea
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Bruna de Oliveira (bruna.v.c.oliveira@hotmail.com)
Giulia Ventorim (giuliaventorim@gmail.com)
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Claudia Feitosa Santana (claudia@feitosa-santana.com)
Fundação Dom Cabral
Patricia Vanzella (pvanzella@yahoo.com)
Universidade Federal do ABC (UFABC)

Problema/questão
Música evoca emoções, alterando a ativação de estruturas cerebrais a estas relacionadas (Koelsh, 2014).
Há evidências, também, que a presença de música de fundo pode influenciar na apreciação de obras de
arte (Pavlou & Athanasiou, 2014). Entretanto, pouco é conhecido sobre as características musicais que
podem causar este efeito. Dois possíveis fatores são a valência e o grau de excitabilidade (arousal) da
emoção relacionada à música, variáveis que descrevem emoção de acordo com a teoria do Modelo
Circumplexo (Posner, Russell, & Peterson, 2005). Não há estudos, entretanto, que tenham investigado
se estes elementos poderiam explicar a influência da música na apreciação de arte.
Objetivos
Pretendeu-se verificar se a presença de diferentes músicas de fundo poderia influenciar a apreciação de
uma obra de arte exibida em um museu de arte contemporânea. Mais especificamente, procurou-se
avaliar se a apreciação da obra seria modulada pelas diferentes características emocionais dos trechos
musicais selecionados, relacionadas a cada um dos quatro quadrantes do Modelo Circumplexo.
Método
Foram selecionados quatro trechos musicais, cada um com cerca de 60 segundos. Todos esses excertos
haviam sido previamente avaliados (Andrade et al., 2017) como correspondentes a cada um dos
quadrantes do Modelo Circumplexo de emoção. Participaram do presente estudo 142 visitantes do
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Todos os participantes observaram a mesma obra
(“Composição Clara”, 1942, de Wassily Kandinsky) enquanto escutavam em fones de ouvido um dos
4 trechos musicais ou em silêncio, resultando em 4 grupos experimentais e 1 grupo controle. Um
desenho inter-sujeitos foi adotado. Durante os primeiros 40 segundos, os participantes ouviam
instruções sobre o experimento enquanto o trecho era tocado ao fundo. Repetia-se o trecho musical
durante o período de observação, até que o participante decidisse parar de observar a obra. Um
questionário foi preenchido imediatamente após a apreciação.
Resultados
Foi encontrada uma relação entre valência da emoção da obra de arte e condição experimental. Grupos
que ouviram música de valência positiva, mas não negativa, demonstraram resposta de valência mais
positiva quanto à obra de arte comparados ao grupo controle.
Conclusões
Os resultados deste estudo sugerem que a emoção relacionada à música impacta a experiência estética
de uma obra de arte visual. Especificamente, emoções positivas associadas à música podem influenciar
a apreciação estética. Este resultado contribui com discussões no campo da neuroestética e áreas
relacionadas.
Palavras-chave
Música, apreciação estética, emoção, neuroestética
Referências
Andrade, P. E., Vanzella, P., Andrade, O. V., & Schellenberg, E. G. (2017). Associating emotions
with Wagner’s music: A developmental perspective. Psychology of Music, 45(5), 752-760.
Koelsch, S. (2014). Brain correlates of music-evoked emotions. Nature Reviews Neuroscience, 15(3),
170.
Pavlou, V., & Athansiou, G. (2014). An Interdisciplinary Approach for Understanding Artworks:
The Role of Music in Visual Arts Education. International Journal of Education & the Arts, 15(11),
n11.
Posner, J., Russell, J. A., & Peterson, B. S. (2005). The circumplex model of affect: An integrative
approach to affective neuroscience, cognitive development, and psychopathology. Development
and psychopathology, 17(3), 715-734.
XIV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais – 2019

As manipulações do trato vocal na emissão do


registro agudo e superagudo do clarinete baixo
38
Elaine Cristina Rodrigues Oliveira (elaineclarineta@hotmail.com)
Ricardo Dourado Freire (ricardo.dourado.freire@gmail.com)
Universidade de Brasília (UnB)

Problema
O clarinete baixo é um instrumento versátil e de grandes possibilidades técnicas. Uma das principais
distinções quanto a técnica do clarinete baixo em relação ao clarinete soprano são as peculiaridades na
emissão do registro agudo e superagudo. Devido a riqueza de harmônicos do clarinete baixo, o limite
do registro superagudo é sempre estabelecido pelo intérprete (Queirós, 2012). Além das digitações
serem específicas para o instrumento, no registro superagudo a emissão é feita praticamente por notas
de “overblowing”, ou seja, de embocadura (Sparnaay, 2011). Muitas peças para clarinete baixo exploram
técnicas estendidas, que exigem uma manipulação correta de procedimentos físico-musculares que
ocorrem no trato vocal.
São encontrados na literatura específica diversos trabalhos que tratam sobre a influência do trato vocal
no som emitido pela clarineta. Apesar dos experimentos científicos sobre o tema, existe uma lacuna de
estudos que abordem a aplicação das configurações do trato vocal no aprimoramento da performance
na clarineta (González & Payri, 2016), e mais especificamente no clarinete baixo.
Objetivos
Investigar as manipulações que ocorrem no trato vocal de claronistas profissionais, quando executam
o registro agudo e superagudo de maneira satisfatória. Identificar as estratégias utilizadas para a
aquisição de um controle eficaz do trato vocal, transformando o conhecimento tácito adquirido em um
conhecimento explícito.
Método
Esta é uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório e o instrumento utilizado para a coleta de dados
será a entrevista semiestruturada. Os participantes serão estimulados a comentar sobre seus processos
de estudo e verbalizar sobre suas ações musicais. Os sujeitos serão claronistas profissionais que possuam
experiência como solistas.
Principais contribuições
A revisão de literatura e o referencial teórico desta pesquisa tratam acerca do trato vocal, suas
manipulações na execução da clarineta, memória muscular, conhecimento tácito e explícito, e clarinete
baixo. Pode-se destacar que a relação do controle da emissão do som com a capacidade de expressão
musical para músicos de sopro é uma questão determinante. O contexto que envolve a embocadura e
o manuseio do trato vocal impactam a performance como um todo (Alves, 2013).
Conclusões
Com a revisão de literatura realizada, pode-se inferir que inúmeros procedimentos físico-musculares
ocorridos no interior do trato vocal de claronistas são desconhecidos e permanecem apoiados em bases
tácitas. Espera-se que a pesquisa possa explicitar fenômenos ressonantais do trato vocal e conceitos
importantes sobre o tema.
Palavras-chave
Trato vocal, clarinete baixo, claronistas, performance musical.
Referências
Alves, C. S. (2013). O processo de emissão do som na clarineta: proposição e validação de um plano de
instrução. (Tese de doutorado, Instituto de Artes, Universidade de Campinas). Recuperado de
www.repositorio.unicamp.br
Gonzalez, Q. D. M., & Payri, L. B. G. (2016). La embocadura interior: configuraciones del tracto
vocal en la pedagogía del clarinete. Revista Electronica de LEEME, 37:20-37. Recuperado de:
http://hdl.handle.net/10251/82521
Queirós, H.M.D. (2012). Música portuguesa para clarinete baixo solo. (Dissertação de mestrado,
Instituto Politécnico do Porto). Recuperado de: http://hdl.handle.net/10400.22/9613
Sparnaay, H. (2011). The Bass Clarinet: a personal history (p.56). Barcelona, Periferia Sheet Music.
Caderno de Resumos e Programação

Arnold Jacobs e proposta musicopedagógica CDG:


sobre formação de professores de instrumento de metal
39
Michele Girardi (michelegirardi1986@gmail.com)
Helena Müller de Souza Nunes (helena.souza.nunes@gmail.com)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Problema/questão
O instrumento musical é apenas um acessório que o músico utiliza para “contar histórias”,
compartilhando com outros aquilo que ele é. Com base nas próprias experiências, utiliza-se de seu
instrumento para promover essências de si mesmo e daqueles que o escutam. Estudos sobre
Representações Mentais e Imagética Musical (Ferigato & Loureiro, 2017; Marangoni & Freire, 2016;
Shagalimova, 2015; Alves, 2012; Chaves, 2011) demonstram que prática musical não se reduz a
questões técnico-mecânicas, nem precisa provocar sofrimento; importam, então, estratégias de
performance simples e naturais, cujo desafio é ensinar instrumento, obtendo o maior rendimento, com
o mínimo de esforço.
Objetivos
Discutir estratégias de ensino de instrumento de metal, que incluam conhecimento e aproveitamento
de habilidades cognitivas do aluno, conduzindo-o a um jeito simples e natural de tocar, com foco no
controle mental do próprio Ser, ao invés de unicamente na prática mecânica e repetitiva.
Principais contribuições
A proposta integra fundamentos didático-pedagógicos de Arnold Jacobs (1915-1998) – em linha com
pesquisas de Psicologia, Cognição Musical e Neurociência inerentes à Representação Mental e à
Imagética Musical –, com fundamentos teóricos da Proposta Musicopedagógica Cante e Dance com a
Gente (CDG), cujo foco é formação de professores para o desenvolvimento integral do aluno, por
meio da prática musical. A performance musical é atividade psicomotora que envolve habilidades
físicas controladas pelo cérebro, implicando movimentos da essência interior de cada um. Reconhecer
esses aspectos, racional e espiritual, de modo equilibrado, favorece: qualidade e afinação do som,
controle do instrumento em si, e interpretação acessível e comunicativa da partitura. Sobretudo,
possibilita estratégias de estudo com e sem instrumento.
Implicações
A continuidade deste trabalho poderá resultar em desenvolvimento de materiais didáticos, formulação
de princípios pedagógicos e sugestões de procedimentos práticos, que envolvam efetivo proveito de
capacidades cognitivas.
Palavras-chave
Arnold Jacobs, Proposta Musicopedagógica CDG, Imagética Musical, Formação de Professores.
Referências
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