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Resumo
O presente artigo se propõe a apresentar uma escala brasileira de avaliação dos parâmetros de
fluência leitora, denominada Escala de Percepção de Fluência Leitora. O propósito da escala é
avaliar os principais domínios relacionados a fluência leitora, de forma a direcionar os
avaliadores para um melhor entendimento do funcionamento de tal habilidade. A escala é
aplicável em ambientes escolares e clínicos e independe da presença de queixa de dificuldades
de leitura, uma vez que deve ser utilizada como instrumento de avaliação e monitoramento do
desempenho em fluência leitora por escolares do Ensino Fundamental I e II. A Escala de
Percepção de Fluência Leitora possibilita a avaliação perceptiva dos principais domínios
relacionados a fluência leitora, a saber: fluidez, pausas, velocidade, entonação e
expressividade. É uma Escala de domínio público, ou seja, aberta e disponível para uso livre,
desde que respeitados os direitos autorais.
Palavras-chave: Escala. Fluência de leitura. Avaliação.
Introdução
1
Pós Doutora em Linguística pelo Laboratoire Parole et Langage (LPL) – França, Doutora e Mestre em
Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Especialista em Linguagem e Fonoaudiologia
Educacional pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), Professora Adjunta do Departamento de
Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG. E-mail: lumendoncaalves@gmail.com
2
Pós Doutora em Psicanálise pela Université Paris Diderôt (Paris VII) – França, Doutora e Mestre em
Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Especialista em psicopedagogia, Professora
Adjunta do curso de Fonoaudiologia e docente permanente da Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação da
Universidade de Brasília (UnB). E-mail: leticiacceleste@gmail.com
Dentre os tópicos citados, a fluência leitora é a que menos recebe atenção nos estudos
científicos e práticas pedagógicas no Brasil. Tanto a avaliação da fluência como a instrução
desta habilidade são escassamente exploradas nos currículos de leitura de nossas escolas. No
entanto, os relatórios e painéis de orientações de várias localidades com altos índices de
desenvolvimento recomendam o tópico nos currículos de formação de professores (REPORT
OF THE NATIONAL READING PANEL, 2006; SNOW, 1998; US NATIONAL
INSTITUTE OF CHILD HEALTH AND HUMAN DEVELOPMENT, 2000; NATIONAL
INQUIRY INTO THE TEACHING OF LITERACY, 2005; ROSE REPORT (UNITED
KINGDOM), 2006; UNITED KINGDOM PRIMARY NATIONAL STRATEGY, 2006).
2002; SMITH; PAIGE, 2019). Tais escalas foram desenhadas pensando-se nos padrões de
fluência da língua Inglesa.
A fluidez na leitura diz respeito a sensação que o leitor transmite de que não há
quebras na pronúncia entre os sons. Segundo Chan et al. (2018), o correlato acústico dessa
sensação é o efeito da chamada coarticulação. Na prática, para que o leitor consiga ler e
pronunciar sua leitura em voz alta com o efeito da coarticulação é necessário que ele tenha um
bom domínio da rota lexical, ou seja, que tenha o reconhecimento automático das palavras, e
não faça a leitura via rota fonológica. A relevância da automaticidade no reconhecimento de
palavras para a fluência de leitura já é bastante consolidada na literatura, desde estudos sobre
desenvolvimento leitor (LABERGE; SAMUELS, 1974), como preditora de fluência
(ROEMBKE et al., 2019) e até estabilidade neural na leitura (LAM et al., 2017).
escolar e clínica, é que o(a) estudante seja capaz de ler sem esforço, próximo à velocidade da
fala espontânea.
Por fim, a expressividade na Escala representa a forma como o leitor interage com o
texto e se engaja no momento da leitura no sentido de expressar suas atitudes e emoções ao ler
o texto. É a união de todos os parâmetros aqui levantados, porém de forma organizada e
harmoniosa. Apesar de estudos envolvendo velocidade de fala e variação melódica na leitura
já terem sido realizados nacional e internacionalmente (LABERGE; SAMUELS, 1974;
ALVES et al., 2015; CELESTE et al., 2018; ANDRADE et al., 2019), pesquisas sobre ênfase,
ritmo e cadência na leitura são mais escassas.
Sugere-se, como pesquisas futuras, estudos para validação interna e externa da escala
apresentada, bem como a comparação dos resultados perceptivos com dados acústicos de
leitura de escolares.
Conclusão
Referências
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