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Tese Alex
Tese Alex
PEQUENA EMPRESA,
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E A
AÇÃO INSTITUCIONALIZADORA DO
SEBRAE
CARLOS ALEX DE CANTUÁRIA CYPRIANO
PEQUENA EMPRESA,
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E
Salvador
2004
Escola de Administração - UFBA
CDD – 658.022
Ao meu avô Cantuária, de quem espelhei a consciência.
Aos meus pais, Siva e Carlos, pequenos empresários que me ensinaram a trabalhar.
A Jundiára, mulher que me incentiva pacientemente ao longo dessa trilha.
A Sivinha e João Olavo, pela desatenção a ser recompensada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a todas as pessoas, e foram muitas, que se importaram com este
trabalho e com seu autor ao longo desse período. O incentivo e o apoio recebido de colegas,
amigos e parentes foi fundamental para que pudesse chegar a este ponto. Tenham a mais
completa certeza disso.
Ao meu orientador, Prof. Nelson Oliveira, agradeço mais uma vez. O modo com que
conduziu sua orientação possibilitou-me um aprendizado inestimável e seguro, a partir do
qual pude descortinar a realidade mais amplamente.
Agradeço ao Núcleo de Pós-Graduação em Administração – NPGA da UFBA, ao seu
Colegiado pela confiança depositada na minha capacidade e, especialmente, ao Prof.
Francisco Teixeira, Coordenador do Núcleo.
Aos Professores da Casa agradeço pela oportunidade que tive de aprender com vocês e aos
funcionários, especialmente Anaélia e Dacy, pelo carinho e dedicação com que sempre fui
recebido e apoiado.
Ao pessoal do Centro de Documentação e Informação - CDI do SEBRAE/BA, fundamentais
para a existência deste trabalho, especialmente sua Coordenadora Rita Araújo, e ao Prof.
Lielson Coelho que me abriu as portas do SEBRAE.
Ao pessoal e colegas do CEFET/BA, em especial às Profas. Aparecida Modesto e Regina
Lovatti, agradeço o apoio e a compreensão.
Às Profas. Miriam Freire e Sandra Corrêa do Colegiado do Curso de Turismo e Hotelaria da
UNEB, agradeço pela compreensão e apoio, e ao Sr. Djalma Almeida da Editora e Gráfica da
UNEB, pelo apoio na impressão do trabalho.
Ao apoio recebido dos Profs. Alexandre Paupério, à época Coordenador do Curso de
Administração Hoteleira, e Lúcia Aquino Coordenadora do Curso de Turismo da UNIFACS.
Aos meus alunos agradeço a compreensão e pela torcida. Espero retribuir conforme nossos
encontros reflitam o conhecimento que pude amealhar nesse período.
À Casa de Retiro São Francisco agradeço pelo acolhimento recebido durante o período final
de conclusão do trabalho.
Aos amigos, que participaram mais de perto e contribuíram diretamente de diversas formas
para este trabalho, Alvino Sanches, Ana Paula Gordilho, Izabel Portela, Laura Simões, Maria
Cristina Santos, Nilton Vasconcelos, Ricardo Caribé, Riccardo Urbani, Roberto Masier,
Rogério Albuquerque, Túlio Ferraz, Xando Pereira e aos colegas de turma Clézio Saldanha,
Elias Sampaio, Eline Menezes, Isabela Cardoso e Napoleão Queirós, com os quais
compartilhamos muitas experiências, agradeço de coração.
RESUMO
The proposal of this thesis is to discuss the ideological character concerning the
institutionalization of small business, through the analyses of the action of SEBRAE, which is
the agency of support and incentive to the small enterprises (SE). The action of this agency,
takes place from the moment the agency increases its scope of action, including more small
producers in the capitalist reproduction logic. This action assumes the problem of the small
enterprises – a lack of an entrepreneurial culture that makes the small enterprises more
competitive – can be solved by the stimulus of cooperative behavior and adoption of modern
management techniques, which action of an agent is conceived as utilitarian and rational
expectations. However, the agency disregards the structural conditions that limit the
institutionalization of a competitive small enterprise, hiding the reproductive functionality of
SE in the current technological paradigm. This fact allow the continuity of the capitalism
process, without compromising the unequal and conservative institutional patterns of our
societal ordering. The present work criticizes the intention of the above mentioned agency in
having the small enterprises as the protagonist of a social change and whether it would
acquire a systemic behavior. The second critic, focus on the evaluation which indicates the
lack of entrepreneurial and cooperative culture, as the determinant factor that restricts the
achievement of its goal. Both intention and evaluation do not originate from a deep research
but as effects of the agency ideological discourse. The conclusion from the present research
suggests it seems unlikely that the competitive small enterprises may act with the intensity
proposed by the above mentioned agency or that it could act as an active agent to the social
change acclaimed.
1 – INTRODUÇÃO 8
2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA PEQUENA EMPRESA
COMPETITIVA 32
2.1 – A PEQUENA EMPRESA SEGUNDO MARSHALL 35
2.2 – A REELABORAÇÃO DA PEQUENA EMPRESA SEGUNDO STEINDL. 42
2.3 – AS DUAS PEQUENAS EMPRESAS EM SCHUMPETER 47
2.4 – A PEQUENA EMPRESA SEGUNDO VISÕES “INVERTIDAS” 50
2.5 – OS DESDOBRAMENTOS DAS VERTENTES “CLÁSSICAS” 55
2.5.1 – A “criação” de capital social, cooperação e confiança. 58
2.5.2 – Os distritos industriais (em Itália, tipicamente) em alerta 66
2.5.3 – A dinâmica do desenvolvimento tecnológico e a pequena empresa 79
2.5.4 – O empreendedor e o empreendedorismo 94
2.5.5 – A pequena empresa inovadora 106
3 – DESENVOLVIMENTO, DEPENDÊNCIA E ORDEM SOCIAL
COMPETITIVA 113
3.1 – A PEQUENA EMPRESA (SUA PROGÊNIE) NA “FORMAÇÃO DO BRASIL
CONTEMPORÂNEO” 122
5 – CONCLUSÕES 288
REFERÊNCIAS 299
ANEXOS 317
1 - INTRODUÇÃO
experiências adventícias1 . Embora não se possa dizer tratar-se de algo inteiramente original,
tampouco se pode ignorar a reelaboração de seu papel e função, que passam a ser associados
como seria esperado, e hoje se transforma numa espécie de fenômeno não só afeito à esfera da
produção e de sua organização, mas tratado na esfera do econômico, da ciência & tecnologia,
especializados.
1
Não apenas no Brasil esse relevo do pequeno acontece. Na verdade, o fenômeno em si é importado junto com
suas postulações teóricas e metodologias de aplicação. O trabalho de Piore e Sabel (1984) ao discutir o
fenômeno da produção flexível e de Becattini (1979) sobre distritos industriais podem ser considerados como um
ponto de partida para essa reelaboração acerca da pequena empresa.
9
nacional auto-sustentado.
de outros países tanto ou mais desenvolvidos, que persistem entre as pequenas empresas
emprego e renda – aspectos cada vez mais ressaltados à medida que se completam os
- de sua menor capacidade relativa de acumulação face às grandes empresas, exceto nos
2
Trata-se de uma sondagem efetuada em diversos paises, na qual o Brasil participa desde 1998, onde se procura
mensurar a iniciativa individual para empreender, conforme Reynolds et al (1999, 2001).
3
Denominam-se “gazelas” as firmas jovens dinâmicas e criadoras de emprego de rápido crescimento e que,
segundo alguns autores, geram a maior parte desses empregos (STAM, 1999). Há uma corrente de estudiosos
que advogam que apenas as gazelas são portadoras das virtudes competitivas atribuídas em geral à PE.
10
à PE tem sentido econômico, decorrente do uso mais produtivo dos recursos empregados ao
evitar desemprego, de gerar renda para minorias e de diminuir desigualdades regionais ou,
ainda, associada a critérios de justiça, por compensar deficiências inerentes ao próprio porte e
distorções provocadas pelo próprio sistema capitalista em favor das grandes empresas. Tais
econômico e/ou redistribuição mais eqüitativa de riquezas. Além disso, podem ter um caráter
setorial – industrial e/ou social – e ser aplicadas de formas horizontal ou mais específicas e
verticalizadas.
fomento.
discurso institucional a respeito da própria natureza da PE, de seus papéis e funções e das
ações voltadas ao seu apoio e fomento. Completa-se assim, com a agência, o aparato onde as
4
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
5
Em 2003 o orçamento da agência foi de R$ 1,4 bilhão (O Sebrae, 2003).
11
aspectos relacionados a sua esfera nos impressiona, inicialmente, quanto a sua própria
concretude e realidade e em seguida, quanto à forma como é tratado, a nosso ver insuficiente,
De par com as observações acima, correm outras duas, mais genéricas, que consistem
uma visão crítica acerca da reelaboração da pequena empresa7 – não na sua essência
microeconômica, mas justamente por causa dessa focalização excessiva que tende a ignorar
outras influências e determinações que possam estatuir sobre a realidade do objeto; e um certo
empirismo – ativista e pragmático – com que o objeto é idealizado em face das necessidades
6
Como a temática da qualidade e outras práticas de gestão que tomam vulto considerável a ponto de chegar a ser
denominada como “literatura administrativa de auto-ajuda”.
7
Crítica que difere substancialmente daquela outra, feita anteriormente, no contexto do surgimento da grande
empresa multidivisional, da sociedade anônima conforme Chandler, Berle e Means, Galbraith, entre outros
autores que trataram da empresa capitalista moderna.
12
O tratamento conceitual que o objeto pequena empresa recebe termina por reduzir a
ignorando sua historicidade, contextualização e, com isso, a especificidade com que se reveste
especialização produtiva dos agentes, propiciam mais uma etapa dessa institucionalização da
“pequena empresa capitalista” conforme lhe são atribuídas inerências de natureza competitiva.
flexibilidade com que sua estrutura organizacional e produtiva pode adaptar-se velozmente às
8
Denominamos “pequena produção” à atividade exercida pelo pequeno produtor de forma mais ampla e anterior
ao advento do capitalismo com vistas, primeiramente, à reprodução simples e que no capitalismo vai evoluir
segundo diferentes modalidades que, variadamente, se integram ao processo de reprodução sistêmica do capital,
entre estas a pequena empresa.
Almeida e Mendonça (1989) definem a pequena produção como um conjunto de atividades produtoras de bens e
serviços específicos, organizadas conforme uma estratégia de sobrevivência da mão-de-obra atingida pelas
13
estratégica e inovadora, vai buscar não apenas tirar proveito imediato dessa situação, mas
competitiva”, idealizada como uma estrutura simples mas que tem no seu comando um
limitações do mercado de trabalho formal, incluindo nesse espaço estratégico a informalidade, a auto-exploração
e as redes de troca.
14
reconhecer que não se trata apenas analisar as possibilidades de uma dada PE participar da
dinâmica econômica de uma sociedade de classes, mas de verificar como a ordem econômica,
pequena empresa.
organização. Da mesma forma com respeito à natureza das relações sociais de produção nas
quais a PE se envolve, a montante e a jusante de sua posição no campo social. A questão não
enquanto classe social, não se pode escusar a apreciação, sob a luz dessa teoria, dos requisitos
sistêmica do capital, através das novas formas de inserção da PE nas cadeias produtivas, estas
quanto ao caráter mais igualitário dessas relações, podem ter em capitalismos periféricos e
partir de seus aspectos internos e “pessoais”9 , se é possível dizermos isso, como se a pequena
empresa pudesse ser um sujeito, uma entidade portadora de atributos pessoais em si.
As ações voltadas à PE não definem claramente sua orientação fundante por uma
racional resultante da forma como aqui se desenvolvem as forças produtivas e uma ordem
que vão imprimir uma lógica e dinâmica social à PE, condicionando suas possibilidades
determinado contexto, o sentido estruturante das relações sociais de produção institui esse
agente com seu “estilo de pensamento” ou “habitus”. Visualizar os pesos relativos que
longo do processo, permite uma compreensão mais “realista” das causas, conseqüências
9
Sobre o uso desse termo, quando Paula et alli (2000:10) citando Rubin(1974) diz, a respeito do empresário
capitalista, que “o papel e o lugar do capitalista são os do capital. Ele não é senão a encarnação de uma potência
alienada e alienante, o capital, que em sua dinâmica tanto coisifica relações sociais quanto personifica coisas”
explica o que quisemos dizer.
16
capitalista como a instituição basilar que orienta – através de diferentes circuitos e ritmos,
próprios a cada formação social – o próprio sistema com seus componentes. É esse sentido
pública são apenas um reflexo do real e não sujeitos do real. São as relações e a dinâmica
engendradas pelo modo de produção capitalista que se constituem nos móveis da ação dos
agentes, que são tomados como se fossem, eles próprios, os sujeitos da ação.
reflete o real e, nele, o papel da PE no capitalismo atual. Nesse sentido percebemos que a
corte liberal e individualista baseada na noção de competição regulada por mercados, na qual
a figura do pequeno empresário capitalista surge como sujeito da ação que vai imprimir este
Se isso for verdade, nos moldes institucionais com que o capitalismo dependente aqui
nem devessem ser denominadas pequenas – ou então requererá uma ruptura com os padrões
início dos anos sessenta e que, num intervalo de mais ou menos quarenta anos, passa a ser
proposta em uma versão competitiva pela agência de apoio e fomento, como alternativa
Não obstante essa ausência de peso histórico-institucional, tal perspectiva vem sendo
muito pouco questionada ao tempo que ganha cada vez mais o espaço midiático, resultando na
comportamento competitivo inerente, nos termos advogados pela literatura e que têm nos
casos da Itália e EUA dois exemplos emblemáticos (malgrado as particularidades com que se
18
constituíram e os dilemas que cada um vem enfrentando), seria a existência de uma sociedade
capitalista estratificada em classes e inerente a ela uma ordem social competitiva responsável
vigência de uma dinâmica social mais igualitária, que resultasse na manipulação de controles
acesso universalizado a certos bens sociais como educação e renda, condições fundamentais
para a constituição desse agente social capaz de organizar e estruturar meios de produção e
À medida que tais condições não estejam dispostas, requeridas numa agenda pública
específica ou sequer reconhecidas pelos atores envolvidos com a questão, ou seja, que as
Tal possibilidade se mostrará tanto mais improvável quanto mais for elaborada numa
perspectiva sistêmica, quanto maior for a abrangência com que procurar integrar a pequena
capitalista.
parcial, “pelo alto”, e que se nutre da manutenção, “por baixo”, de uma dinâmica de relações
10
A idéia de uma ordem social competitiva incompleta decorre do modo específico com que o capitalismo se
expande no país, ajustando-se às condições prevalentes e com isso, restringindo o grau de universalidade,
eficácia e a intensidade dos dinamismos desintegradores e construtivos da ordenação em classes (FERNANDES,
1981:39).
19
incompatível com uma ordem social competitiva parcial e restrita, se constitui numa forma
relevo público que o objeto vem adquirindo. O discurso geral sobre o papel da PE no
tom ora ambíguo, parcial ou superficial com que o objeto é tratado, resultando em uma certa
econômico – não existem razões para uma abordagem insuficiente. Ainda mais quando se
produção.
estimulação à adoção – por parte de um indivíduo cuja ação é concebida segundo cálculos
subjacente a funcionalidade reprodutiva com que essa PE competitiva se integra aos processos
desenvolvimento capitalista nessa nova etapa, sem comprometer seu caráter articulado à
à ausência dos dinamismos sociais requeridos. Evidenciar a operação ideológica que se erige
de nosso problema.
foco analítico acerca de sua competitividade das condições estruturais onde se insere para o
mesmo tempo em que cala sobre sua função econômica e política para a reprodução sistêmica
e ao caráter di eológico concomitante que esse processo assume e nosso objeto empírico de
arena aonde vão se confrontar os diversos interesses relacionados com a PE e seus efeitos, e
se configura como espaço apropriado para refletir o pensamento acerca da PE, influindo no
tempo em que também o elabora e o difunde. Portanto, sua escolha decorre tanto da natureza
que o país busca sua reinserção no sistema capitalista global de produção e comércio, confere
maior propriedade a nossa pesquisa, à medida que tais circunstâncias incentivam uma maior
objeto existe e aos eixos teóricos que particularizam estrutural e dinamicamente nosso
- o discurso da agência por meio dos diversos veículos comunicativos, como a Revista
se evidencia diretamente em geral, mas através de seus representantes. Assim, ele pode estar
impresso na fala dos ocupantes dos cargos dirigentes estatais e/ou da agência ou no seu
próprio discurso, uma vez que seu Conselho Deliberativo Nacional - CDN é formado, quase
pensamento dos especialistas em geral, conforme seja a percepção que estes têm do fenômeno
relacionado à PE.
compatibilizem e que recursos disponibilizados nos programas possam ser captados pela
agência executora. Isso significa a existência de um processo de incorporação que não ocorre
de forma passiva ou neutra, mas através de uma releitura ou interpretação dos objetivos das
que lhe são oferecidas. Assim, aquilo que os programas oferecem ao pequeno como linhas de
apoio gerencial administrativo, financeiro e tecnológico, permitem que se deixe ver quem é o
torno do qual é concebida, elaborado por Marshall (1982), Steindl (1990) e também por
Schumpeter (1982, 1984), autores que vão propiciar os desdobramentos teóricos a partir dos
quais a PE competitiva vem sendo reelaborada. Todavia, é preciso considerar que sobre tais
PE.
da dinâmica capitalista. É nesse processo que podemos localizar as demais determinações que
restrita e incompleta – que se desenvolve aqui e que vai orientar os agentes à competição
intercapitalista com vistas à acumulação. Importa perceber a extensão com que essa
desenvolvimento de uma PE competitiva nos termos exigidos pela dinâmica capitalista atual.
feita a respeito da PE passe pela perspectiva das classes sociais. Os extratos sociais
intermediários aqui são tão ambivalentes enquanto classe quanto os encontrados nas análises
O primeiro período, que vai do início dos anos 60, marca do fim do terceiro período do
segundo Tavares (1983:73), até a metade dos anos 70, início da crise do processo de
surgimento do interesse pela PE, vista inicialmente como “empresa nacional” e sua
constituição, mais tarde como agente econômico estratégico capaz de mitigar os efeitos da
crise existente e de reduzir a “brecha” típica da estrutura produtiva nacional dualista. Esta
11
Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa.
27
nacional e por uma crise financeira que leva o país à liberalização econômica progressiva e
que assiste às tentativas de inserção do país na nova ordem mundial através de um conjunto
realizada pelo SEBRAE procurando evidenciar o caráter ideológico impresso nesse processo.
valemos das contribuições teóricas de Talcott Parsons com sua formulação funcionalista do
sistema social, de Mary Douglas com sua análise antropológica do modo de operação das
instituições e de Pierre Bourdieu com seu conhecimento praxiológico, com a noção de habitus
A elaboração sistêmica parsoniana sobre a qual se erige boa parte da análise estrutural
conflitual e racionalista que desenvolve a respeito das relações entre sociedade e economia, na
qual a economia se constitui como um sub-sistema quase autônomo em relação aos demais
que atuam para a reprodução das condições econômicas da sociedade. Tal primazia confere
um relevo particular e funcional à PE cuja atividade não consiste apenas em produzir, mas
papéis específicos para a manutenção dos valores e normas e integração do sistema, à medida
12
Em 1988 o CEBRAE dá lugar ao SEBRAE nos quadros de uma reforma institucional mais ampla de caráter
privatista e gerencialista, chamada neoliberal.
28
que se projeta como fonte original da ação empreendedora e estrutura nascente de onde evolui
condizente com sua situação, o que explica funcionalmente sua adaptação, posição e condição
em suma, “como as instituições pensam” são as questões sobre as quais Douglas (1998)
discorre. Sua utilidade ao nosso trabalho é evidente à medida que nos permite conceber a
para essa institucionalização. Também por permitir uma reflexão quanto à resistência de
teórico fecundo que nos permitiu superar as questões teóricas mais polêmicas deste trabalho.
antagônicas que se aplicam à PE. A esse impasse Bourdieu propõe um outro tipo de
conhecimento que denomina praxiológico. Sem entrar no mérito da proposta, podemos dizer
que é essa proposta de articulação dialética entre ator e estrutura, base epistêmica da teoria
bourdieusiana, que podemos usar para analisar a PE instituída como um sujeito. O segundo, o
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de lidar com o fenômeno da PE no campo das classes sociais sem, digamos assim, entrar no
mérito do pequeno enquanto classe social, através do conceito de campo social. A análise do
específicos, em concorrência com outros agentes vai nos permitir lidar com a ambigüidade do
agente pequeno sem deixar de situá-lo na luta. Por fim, a noção de habitus vai facilitar a
através das práticas instituídas para e nos agentes. Mais uma vez, Bourdieu nos apoiará com
sua formulação sobre poder e capital simbólico para interpretarmos o papel da agência no
classe, mais conveniente, ilusória ou falsa – em relação à outra, oposta ou distinta. Contudo,
por Thompson (2000) e que consiste em “explicitar a conexão entre o sentido mobilizado
pelas formas simbólicas e as relações de dominação que este sentido mantém”, se constitui
trabalho.
Identificamos nessa trajetória três etapas principais que respondem pela evolução e
nacional.
instituições. Como a própria PE, no sentido que buscamos construir, são noções tão
dessas dificuldades significaria abandonar o poder elucidativo que contêm e, com isso, deixar
participar dessa polêmica teórico-conceitual, pois nosso objetivo é retirar dessas teorias sua
forca cognitiva e expressiva, não para discutir o que é a ideologia, mas para perceber o
Da mesma forma, não é preciso definir o que é instituição para poder analisar como
elas se constituem e assim atuam. A análise institucional representa, para o nosso caso, uma
igualmente útil em outros campos, como história, teoria organizacional e economia. Daí o
Quanto à teoria das classes sociais não pretendemos tratar o pequeno como classe em
si. No entanto, não necessitamos incorporá-lo a uma ou outra classe para perceber os
classes sociais operando nos campos onde a PE se posiciona como agente produtivo, social e
político. A forma como Bourdieu incorpora classe social através da prática dos agentes em um
Enfim, o trabalho quer levantar a crítica e mostrar uma outra forma de abordagem da
apoio e fomento. Daí seu caráter qualitativo e a utilização de uma amostragem empírica
COMPETITIVA
razão da profusão tipológica que paira em torno do conceito de pequena empresa e da relativa
importante que o papel que desempenha e as relações que estabelece no sistema, e que, em
determinações mais gerais, o desenvolvimento das forças produtivas é reflexo da forma como
social e político.
suas forças produtivas, engendrando relações de produção mais ou menos capitalistas que, no
idéia de evolução linear das formas de produção, mas como diz Polanyi (1980) na intenção de
buscar “uma explicação da sua orientação em termos de instituições humanas” onde as “cenas
capital procurando mostrar que, se existe uma característica permanente nesse processo, esta
fito de acumular. Embora sua análise se dê ao nível da circulação, o que nos interessa é reter
essa capacidade de adaptação que muitas vezes “retorna” a esquemas já conhecidos como, por
1996:293).
três camadas hierarquicamente relacionadas, onde a mais baixa é denominada por vida
material, espaço da não-economia onde “o capitalismo crava suas raízes, mas no qual nunca
consegue realmente penetrar”; uma segunda camada onde prevalece uma economia de
propriamente dita, chamada de antimercado e tida pelo autor como “o verdadeiro lar do
identificar as modificações pelas quais sua funcionalidade vai sendo remodelada ao longo do
capitalista se deslocasse “arrastando” uma sobre as outras ao longo do tempo num sentido
evolutivo, ao mesmo tempo em que essa evolução se alimenta dos estágios anteriores dos
quais dependem.
Schumpeter (1984) também vai utilizar-se desse formato transitivo para compreender o
dinâmicas funcionais aderentes às diferentes lógicas de cada uma das camadas, mais ou
menos capitalistas, predominando ora em razão de sua função sociopolítica, ora devido à
função econômica ou segundo sua posição dentro do conflito de classes, vai evidenciar uma
fundamentar as questões relativas à PE, suas características internas, suas funções e relações
que estabelece no sistema capitalista. Duas alternativas teóricas nos parecem as mais
fundada na melhor tradição neoclássica, origina-se dos trabalhos de Marshall (1982) em suas
parte da dimensão individual, onde o empresário inovador figura como portador das
original feita por Schumpeter (1982, 1984) que os neoschumpeterianos vão reelaborar a
representativa num ambiente de concorrência capaz de produzir lucros normais e não lucros
perceber a economia como uma ciência evolucionária. Seu foco nas empresas médias inglesas
Princípios, por Schumpeter, nos dá uma pista quanto ao alcance limitado de sua visão sobre
concorrência perfeita.
No início dos Princípios podemos perceber algumas características que modelam seu
agente produtivo e as condições sociais de sua atividade – podemos retirar da sua própria
molde ético-religioso que essa condição lhe impôs desde cedo” são fatores que, junto com o
vitoriano” cuja obra reflete as condições sociais e morais de sua época, vai abraçar a missão
Revolução Industrial.
37
Talvez Marshall (1982) seja um dos apóstolos das habilidades empresariais como fator
explicativo para o sucesso capitalista13 . A descrição que faz dos requerimentos para a direção
negócios – por suas capacidades individuais intrínsecas e por outras habilidades que
segundo Marshall, e não é por outra causa que pensa que o crescimento desmesurado de
1982:258). Por outro lado, a falta dessas capacidades está associada ao tamanho das empresas
pois existem “duas séries de forças, uma aumentando o capital controlado por homens
capazes, e outra destruindo o capital que está nas mãos de homens fracos, [que] têm como
resultado uma maior correspondência entre a habilidade dos empresários e o tamanho de suas
“uma certa independência e hábito de cada um escolher o seu próprio roteiro, uma confiança
13
Sobre isso, Mason (apud HYMER, 1978:42) aponta como missão histórica da economia clássica e da
administração de empresas a defesa apologética da superioridade natural (ou seja, baseada na distribuição
desigual das habilidades e do conhecimento individuais) da tecno-estrutura e do comportamento econômico
promovido pelo sistema de livre empresa em prol do interesse público. Diz o autor que tal defesa foi inculcada
com tal eficácia que qualquer crítica ao sistema só poderia originar-se em outros campos como a política ou a
psicologia e não na própria economia ou administração.
38
da elevação de seu bem-estar, de provisionar, para sobreviver e competir. Não importa onde,
vários fatores vão influenciar a velocidade e a trajetória desse percurso, mas não mudam seu
indivíduo na orientação de sua trajetória e ritmo são os pressupostos básicos de sua teoria da
possibilidade pela qual a PE, em cooperação com outras, pode desenvolver economias de
escala e sustentar a competição com outras empresas de maior porte que desenvolvem
economias internas.
Como se vê, Marshall aponta para aspectos estruturais da questão, pelo menos ao
empresas numa dada localização (MARSHALL, 1982: 229), fato que parece não preocupar as
visão harmônica das relações intercapitalistas, originada da sua moral vitoriana, sempre
potenciais desequilíbrios de poder que estruturam essas relações, ao contrário das relações
onde isto não aconteceria, justamente por causa do conhecimento e confiança existente entre
mecanismos que levam a situações de equilíbrio. Assim, as empresas vão se sucedendo até
que estes equilíbrios sejam rompidos, iniciando um novo ciclo de mudanças e ajustes.
São vários os fatores que promovem tal localização aproximada, desde as condições
o caráter do povo se vincula a tais condições. “Os segredos da profissão [...] ficam soltos no ar
[...]” fomentando novas idéias, a difusão e geração de inovação artesanal, a relação entre
governa. “As forças sociais cooperam com as econômicas: há freqüentemente uma amizade
profunda entre empregados e empregadores [...]” o que gera uma oferta de mão de obra
vantagem para o conjunto de empresas de menor porte e isso tem um caráter coletivo, uma
40
vez que significa estar em contato com outros: empregados especializados criando amizade e
posterior que seu pensamento vai suscitar. Marshall vai postular que a noção de confiança em
sua forma moderna distingue-se de formas passadas pelo viés utilitarista que teria, sendo que
apenas as relações de vizinhança parecem ser atingidas por uma perda relativa de qualidade
Embora não seja considerado como promotor da idéia de capital social, tal formulação
se vincula à natureza desse constructo teórico conforme a possível tensão entre a condição de
acordo com as elaborações mais recentes de capital social e suas diferentes motivações, nas
quais as vantagens de localização de grupos de pequenas empresas são postuladas com base
construídas a partir de interesses mais imediatos, que respondem pelo aumento de eficiência
produtiva.
desenvolve em relação ao papel da PE, qualquer que seja sua concepção de articulação
cooperativa entre empresas de tamanhos variados, estará inscrita dentro da visão funcional-
sistêmica explicitada por ele mesmo, onde diferenciação e integração são os fundamentos que
organizam o sistema.
A regra geral [...] diz que o desenvolvimento de um organismo, seja físico ou social,
envolve uma crescente subdivisão de funções das suas diferentes partes, ao mesmo
tempo que aumenta a conexão íntima que existe entre elas. Cada uma das partes vê
diminuir sua auto-suficiência, e seu bem-estar passa a depender cada vez mais das
outras partes, de modo que qualquer desordem em uma das partes de um organismo
de desenvolvimento superior afetará também as demais partes (MARSHALL,
1982:212).
41
transformações, mas:
competitividade e por uma cooperação racional e deliberada, mas que está inscrito numa
econômico e social, resultará numa apropriação inadequada de suas idéias e, quem sabe,
ideológica.
42
crescimento da empresa representativa capitalista e mais tarde, em 1972, revê algumas de suas
capitalista.
uma pequena empresa, mas a de tamanho “normal”. Não “é uma empresa ‘jovem’ e crescente,
nem uma empresa decadente”, e sim uma que existe de forma relativamente numerosa,
compondo um grupo mutável e que usufrui de economias de escala para crescer até um
relações sociais, democrático e virtuoso, que pode ser entendido através da alusão feita por
Marshall a narrativas onde triunfa o “aprendiz fiel, que acabou por se tornar sócio do negócio
A necessidade de um crescimento estável dos mercados que se coloca cada dia mais
formação da PE, específico e historicamente situado nas descrições de Marshall, parece não
influir nas cogitações atuais quanto ao caráter do “espírito empreendedor” que origina a PE,
processo.
escala como fator que influencia a posição relativa de empresas com vários tamanhos, e
desenvolvimento capitalista, a importância das economias de escala pode ser tomada como
tamanho, estarão sempre disponíveis para tamanhos maiores, gerando uma assimetria na qual
“as pequenas empresas nunca podem (a longo prazo) obter lucros maiores que as grandes
administração, com que Marshall se preocupava, têm pouco peso e são desprezíveis,
empresa, estas poderiam minimizar seus efeitos num prazo um pouco maior, resultando daí
que “as pequenas empresas não podem manter a sua superioridade a longo prazo” (STEINDL,
econômica da PE que vem sendo pouco ou secundariamente abordada nas propostas baseadas
no empreendedorismo inovativo e cooperativo, uma vez que o foco está colocado em prazos
segunda ordem.
Isto é percebido pela forma como a ênfase na aptidão pessoal do empresário aventada
sistema produtivo.
Da mesma forma na tese de extinção das PE14 , quando pondera que sua sobrevivência
cada vez menos a PE resiste, altera ou influencia o processo capitalista em seu mister,
não adaptáveis à larga escala ou ainda por se tratar de ramos novos. Em relação a este último
caso, relacionado à capacidade inovativa da PE, tal possibilidade seria realizável apenas no
curto prazo.
14
Segundo Soares (1982), tal argumento se desenvolve à medida que a transformação do capitalismo
monopolista se evidencia, o crescimento do tamanho das empresas e o surgimento de novas formas de
propriedade capitalista, como as sociedades por ações, gera uma expectativa de que as pequenas empresas seriam
inevitavelmente eliminadas em razão de sua menor competitividade em relação às maiores. Diversos autores, no
contexto do desenvolvimento industrial, vão “cultivar” a idéia fazendo a apologia da grande empresa e
reforçando ideologicamente a idéia da fragilidade e deficiência da pequena empresa.
Marshall reconsidera funcionalmente a questão com a tese da “permanência provisória das pequenas empresas”
decorrente dos processos de subcontratação e renovação do mundo empresarial. Steindl reforça tal perspectiva
considerando a existência de fatores irracionais como imperfeições do mercado e o constante aparecimento de
aventureiros.
O papel da PE tantos em contextos de industrialização quanto, mais tarde, em contextos de crise e desemprego
vai sendo urdida ideologicamente sob argumentações funcionalistas, diversas de fundo estratégico como
interiorização, nacionalização ou diversificação do parque produtivo, ou de natureza microeconômica como
45
dos pequenos são, normalmente, contrários ao progresso técnico, o que só é balanceado pelo
fato da condição de domínio ou as altas taxas de lucro das grandes empresas também
limita à medida que novos ramos se integrem ao sistema, segundo uma “divisão natural de
ficção, uma vez que esses “subcontratantes” são bastante fracos do ponto de vista econômico
empresa, é interpretada como restrição à independência do pequeno empresário, valor tão caro
ao credo liberal.
PE, para Steindl (1990:113), de formas “não muito lisonjeiras”. Uma é a vantagem política
rapidamente aos salários ao mesmo tempo em que não incentiva o progresso técnico
(STEINDL, 1990:111).
empresários”, que faz “qualquer pequeno empresário lutar até o fim para preservá-la [a
posição social] até se ver financeiramente incapacitado de continuar” consiste num terceiro
como categoria social, descrito por Steindl (1990:112) e que tem correspondência com uma
situação encontrada aqui, onde a vontade de “ser dono do próprio nariz” projeta-se com a
mesma intensidade nos agentes pequenos, porém concebida como um legado cultural
competitivas.
Diz o autor, “esse fator se tornará tanto mais importante quanto maior for o
para si mesmo” o que se acrescenta ao fato de adquirir um status social mais elevado. “É
Tal fator pode esclarecer quanto à dinâmica demográfica da PE, principalmente a altas
econômico são vistos pelo autor como se acontecessem pacificamente, posto que pensados,
incorpora-se sua funcionalidade para a acumulação, numa dinâmica cujos centros de controle
Com isso queremos dizer que as possibilidades vislumbradas por Steindl e constantes
individual, onde o empresário inovador é descrito como portador das qualidades necessárias
como espaço de realização do empresário inovador, pela forma competitiva com que se insere
que permite a geração de lucros monopolísticos temporários que irão dinamizar o sistema
Mas também pode ser vista de outra forma, como instituição componente das
privada, instituto capitalista por excelência, cuja “destruição” o autor pressagiava á época que
Para a construção dessa perspectiva ele se apóia num momento processual anterior, no
modo “anfíbio” e funcional com que coexistiram estruturas sociais pretéritas como o Rei, a
15
Importante ressaltar que não é à ação empreendedora que nos referimos enquanto camada protetora do
capitalismo, ou seja, não endossamos a visão segundo a qual a inovação se transformaria em rotina nas grandes
empresas, pondo em risco o sistema capitalista. Sobre essa questão nos baseamos em Langlois (1987). No
entanto, não se pode deixar de perceber como a inovação vai modificar a organização do sistema capitalista e
como este último vai integrar o novo móvel de acumulação à sua dinâmica competitiva, institucionalizando-o.
49
europeus.
surgir uma nova classe média de funcionários e transformando a idéia de pequena empresa em
utilizada até hoje na promoção do small business norte-americano (ANGLUND, 1998; ACS
associa de forma cada vez mais passageira ao espaço da PE para viabilizar sua inovação
(STAM, 1999), podemos colocar em perspectiva desde agora, a possibilidade ideológica com
Temos, portanto, duas matrizes teóricas que tratam de aspectos centrais à PE, que
operam através de eixos analíticos distintos e que, mesmo assim, por distintos caminhos dão
momento anterior, a partir de uma perspectiva equilibrada, pela sua “normalidade” benévola.
distinto vai caracterizar o âmbito da propriedade do pequeno empresário. Ainda que adrede a
dinâmica inovacionista atual ao mesmo tempo em que vê sua propriedade cada dia mais
idéia inicial suscitada quanto ao propósito de “inverter o sentido de análise” para poder
como a brasileira.
de Montaño (1999:11):
Não é a dinâmica interna que peculiariza estas pequenas unidades produtivas, não é
sua dimensão que explica o papel que cumpre no sistema produtivo-comercial. O
que esclarece sobre suas possibilidades e limites de desenvolvimento empresarial, o
que se coloca como essencial, é o lugar que ocupa na divisão organizativa deste
sistema.
estrutural, vai inverter o ponto de vista analítico fazendo com que as deficiências
51
normalmente apontadas como causas da condição pequena possam ser vistas como
produção, mercado com raio de incidência reduzido, ser pouco complexa no sentido da
representa apenas uma definição intrínseca de algo contido em si mesmo ou, como diz
Montaño (1999:17), reflete apenas uma realidade empírica. Sua denominação como “satélite”
teóricas a respeito da PE, como pensar a PE no quadro de uma evolução “natural” ou propor o
acesso ao crédito e à capacitação gerencial como condições suficientes para tal evolução,
tomando como modelo uma PE que tenha obtido resultados econômicos elevados, tornam-se
concorrência;
apoio e compensatórias;
Essa perspectiva analítica tem a capacidade de propiciar uma visão mais estruturada
do pequeno que pode ser útil se contrastada com outras PE, derivadas de outros processos
seu oposto, no sentido específico de não ter evoluído para a grande empresa capitalista.
Para o autor a origem da empresa capitalista deve ser buscada “nas pequenas oficinas,
organizadas pela nova classe capitalista em ascensão”, na forma produtiva que tem como
trabalho” e num sistema que tem no mercado e na fábrica a representação de “dois métodos
Na sua origem, o sistema capitalista inverte a estrutura que então vigorava. A idéia
Por outro lado, a idéia micro da fábrica se estrutura hierarquicamente através da subordinação
Sob uma perspectiva liberal, onde a relação capital-trabalho era vista de forma
corporações nacionais, como acontece nos EUA cuja estrutura industrial, que até meados do
rapidamente.
uma nova forma de organização empresarial no qual o capital “adquire novos poderes e novos
pelo mercado se contrai, ou seja, o capitalismo já não é mais o mesmo. A perspectiva dessa
Diante desse quadro, a economia das grandes empresas vai desenvolver uma pirâmide
mesmo tempo em que toma consciência dessa capacidade e poder de controlar sua própria
evolução e desenvolvimento.
uma ordem econômica clássica baseada nas instituições liberais que sustentam a lógica do
54
sistema na qual, enquanto a diferenciação promove uma especialização funcional com vistas à
sistêmica capitalista.
determinando o marco operacional das unidades distribuídas e levando assim à prática sua
localização e do esquema proposto por Chandler e Redlich (apud HYMER, 1978) para propor
economia internacional.
Com isso, a empresa multinacional processa uma gama de serializações que encontram
correspondência em variáveis macro. A hierarquia decisória das grandes empresas vai refletir
e históricas. Tal concepção, tendo como eixo instituinte a acumulação sistêmica, pode ser
utilizada para identificar como operam as instituições capitalistas através da análise das
Tal análise pode ser estendida, por homologia, às inter-relações empresariais dentro de
refletido como ela vai se integrar de forma subordinada a cadeias de produção capitaneadas
pela empresa oligopolista, suscitando toda a sorte de maquinações simbólicas ideológicas que
podem subjazer sob o pretexto de maior eqüidade nas relações de produção, a partir de
típicas das grandes empresas. Essa perspectiva tem sido desenvolvida por diversos autores a
PE se desenvolve.
1987) que se constituem na forma organizacional típica da Terza Italia, terreno onde se
responde pela natureza das relações sociais cooperativas que conferem competitividade às
Uma outra vertente parte da análise do regime fordista de produção impactado pelos
onde o consenso possível reside no fato de se tratar de um campo aberto onde as tentativas de
marco institucional peculiar (DOSI, 1990:226) no qual esse processo de criação de assimetrias
tecnológica de natureza sistêmica. Não é outra a preocupação que Schumpeter tinha com
abordagem a questão institucional surge como decorrência das transformações que a inovação
habilidades por parte do “homem de negócios” para realizar a organização intra e interfirmas
também tem pontos de contato com a elaboração schumpeteriana sobre inovação e com as
16
A temática do empreendedorismo e do empreendedor se desdobra em várias frentes: Paula et al (2000)
mostram a variabilidade com que sua natureza é proposta, associada alternadamente a figuras míticas opostas
como Prometeu e Fausto; Acs e Audretsch (2001), numa linha liberalista e a partir da natureza filantrópica de
sua ação (ACS e PHILLIPS, 2002), propugnam a emergência de uma “entrepreneurial society”, Langlois (1987)
vê sua obsolescência ao longo da evolução do capitalismo; Negri (1999) vai reconstruir suas funções enquanto
“empresário político” a partir de uma perspectiva pós-fordista e; Carland et al (1988) e Gartner (1988)
polemizam quanto à propriedade de sua definição a partir de uma abordagem comportamental ou se derivado da
esfera da personalidade e de seus traços característicos, o que significa em ultima instância um reflexo da
oposição entre o papel das estruturas e da ação subjetiva.
58
por práticas participativas, enquanto na segunda, ele é provocado pela comunhão de interesses
sob diferentes formas como regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. Diz
intensidade está relacionada com a existência de instituições cívicas em geral e seu efeito
Para Lundvall (2002:28) o conceito de capital social se refere, em geral, ao grau que
em uma sociedade civil há uma tradição de cooperação entre pessoas, fora dos círculos
que transações e processos de aprendizagem podem ser entabulados sem grandes problemas
legais ou práticos e sua manutenção garante competitividade no longo prazo. Sobre política
econômica e minam o capital social. Assim, processos políticos baseados em princípios como
honestidade e accountability bem como ação contra crimes econômicos são dispositivos que
e que tem grande importância para uma economia de aprendizagem conforme esta requeira
capital social está sujeito a uma lógica de acumulação e reprodução, determinada por escolhas
associadas à eficácia da ação coletiva. Estruturas podem ser criadas a partir da confiança
investimentos individuais.
pode variar conforme a natureza, forte ou fraca, dos laços sociais que a constituem, influindo
do capital social apontando o determinismo em que ambas incorrem como o problema a ser
superado.
mobilização coletiva.
instituições sólidas, ainda mais quando o autor afirma que a abordagem neo-institucional
omite a ação das elites políticas em relação ao ativismo institucional, o que nos remete à fonte
uma ordem social competitiva incompleta que engendra e mantém um capitalismo articulado
Matos (2004), afirma que a definição de Putnam tem uma conotação claramente
positivista à medida que suas “análises quantitativas deixam de fora categorias centrais,
a de Coleman, “deixa de lado todos os aspectos subjetivos das relações sociais que fogem à
empresas apresenta uma modalidade que chama de “cooperação experimental” que, para nós,
se inscreve como a variante da modalidade relacional dos “laços fracos”. Esta vertente não
pressupõe nenhuma precondição para a coordenação bem sucedida entre pequenas empresas,
confiança pode ser criada conforme os atores, reinterpretando seu passado, recriam sua
identidade.
Segundo o autor, esta abordagem busca superar a contradição entre contexto e ator,
que confere uma amplitude à ação individual coordenativa capaz de superar os dilemas da
ação coletiva. Para isso, não pode ser aplicada a contextos pré-condicionados ou admite que
despeito deste.
colaboração bem-sucedida, seja na perspectiva da formação de redes bem como nas ações de
RANGEL, 2001:168). Isso nos permite aduzir a relevância que terá quando acionada, de
Wolfe [199-?] que fala de uma “variedade relacional” de capital social tipicamente norte-
americano. O autor afirma que aplicar concepções européias de confiança ou capital social
nos EUA tem pouca utilidade, daí ser mais apropriado o modelo relacional. Com isso relata
harmonia de interesses. Fica claro o sentido utilitário contido nessa perspectiva que é
“paradigma”:
form that develops through close, interdependent interaction and reciprocity over
short, intense periods of time 17 (WOLFE, 199-?:13).
através de uma seqüência de atos voluntários cujos resultados se acumulam e são distribuídos
de forma equânime sem que qualquer evento possa perturbar a evolução do processo:
Firms faced with this shift [decorrentes da globalização] search for alternative inputs
on which to base their competitive advantage. Such inputs must have a high
potential value and be difficult to imitate or replicate. Social capital represents one
such input. It becomes progressively more valuable as the process of globalization
continues [...] Trust, as a component of social capital, helps overcome market
failures or reduce the level of market costs for firms in densely related networks, by
supporting stable and reciprocal exchange relationships among them. Partners
involved in these relationships establish a willingness to exchange information on
something more stable and enduring than a “barter” basis. Both sides of the
relationship can benefit from lower costs and improved quality in the knowledge
thus attained. As these relations grow and develop, a larger component of the
knowledge shared and transmitted becomes “tacit,” rather than explicit with a
concomitant increase in the level of understanding gained through the exchange.
Ultimately, the relationships can be extended to include other partners of the
respective firms, further enhancing the extent and the value of the network18
(WOLFE, 199-?:12)
uma rede de “laços fortes”, não parece capaz de superar as disposições hierárquicas e
17
No Vale do Silício, o capital social se fundamenta nas parcerias que surgem do esforço de consecução de
objetivos econômicos e institucionais relacionados à inovação e competitividade. Origina-se em redes de firmas
que interagem orientadas essencialmente por auto-interesses mútuos em manter esse aspecto inovativo. A
confiança encontrada no Vale do Silício baseia-se na suposição acerca da confiabilidade e reputação dos atores-
chave – uma confiança baseada na expectativa de performance, ou seja, fundamentada na perspectiva do quanto
os parceiros corresponderão às expectativas quanto aos relacionamentos na rede. [...] A variedade de confiança
do Vale do Silício se caracteriza como uma “confiança rápida”, modalidade que se desenvolve de forma intensa
durante curtos períodos de tempo, por meio de interações estreitas, interdependentes e recíprocas (tradução
nossa).
18
Em face das mudanças [decorrentes da globalização], as firmas buscam opções nas quais possam fundamentar
suas vantagens competitivas. Tais alternativas devem ter um alto valor potencial e devem ser difíceis de imitar
ou reproduzir. O capital social é uma dessas opções e se torna progressivamente mais valioso conforme o
processo de globalização se amplia [...] A confiança, como componente do capital social, ajuda a superar falhas
de mercado ou a reduzir o nível dos custos de firmas situadas em redes de relacionamentos estreitos e densos, à
medida que as relações de intercâmbio entre as firmas se estabilizam e se tornam recíprocas. Parceiros
envolvidos nesses relacionamentos estabelecem o desejo de trocar informações de uma forma mais estável e
mais duradoura do que seria numa simples “permuta”. Assim, ambos se beneficiam dos custos mais baixos e da
melhoria de qualidade decorrente do conhecimento adquirido. Conforme estas relações crescem e se
desenvolvem, uma porção cada vez maior desse conhecimento compartilhado e transmitido torna-se “tácito”,
aumentando, concomitantemente, o nível de entendimento ganho com as trocas. Enfim, os relacionamentos
podem ser estendidos incluindo outros parceiros, incrementando ainda mais a extensão e o valor da rede
(tradução nossa).
63
primeiro caso, este capital não se criaria e, no segundo, seria afeito justamente àquela
de um capitalismo periférico.
conceito de capital social numa perspectiva dialética e diferente, donde o compromisso “com
filosofia da práxis que considerem a reflexão crítica como a base fundamental da consciência
prática no serviço social comunitário onde procura “evitar desejar, pensar e decidir pela
Embora tal situação, à primeira vista, pareça não ter a ver com redes cooperativas de
pequenas empresas, diz respeito à formação e desenvolvimento do capital social por essas
mais ou menos similares a das comunidades, nas quais o “patrimônio organizacional” desses
64
conforme a intensidade das necessidades requer resultados quase imediatos que garantam sua
O conceito de capital social é reavaliado a partir “de uma releitura dos conceitos de
Para Matos (2004), nessa definição, Bourdieu reforça dois enfoques fundamentais à
grupal, como base da formação e da posse durável das relações sociais que formam a essência
objetivos e racionais.
Além disso, Bourdieu (apud MATOS, 2004) acrescenta três outras condições da
grupo; e
relações grupais.
como o papel dos líderes e a dependência que criam, dificultando a construção da autonomia
do sujeito social na formação e apropriação do capital social. Lideranças que se afirmam por
Da mesma prática percebe que entre as organizações da sociedade civil mais bem
hierarquizadas, arraigadas à defesa de suas próprias bases políticas e ideológicas, quando não
mesmos.
pelos agentes de apoio tornam-se pouco consistentes para o engajamento e compromisso dos
66
indivíduos para com as decisões coletivas, tanto pelas deficiências dos métodos, quanto pela
atributos cooperativos necessários e por outro lado, se a tendência à dependência local apenas
reflete uma outra mais geral que limita o espaço de relação dialética entre acumulação e
Essa abordagem nos parece a mais adequada para analisar os processos de “criação”
libertadora.
(DI) marshalliano. Becattini (1987:7) logo na introdução de seu trabalho sobre o distrito
industrial trata de enquadrá-lo como uma “recente fenomenologia industriale” (grifo nosso) e
afirmar que:
Non si tratta [...] di una ‘forma organizzativa’ del processo produtttivo di certe
categorie di beni, ma di un ‘ambiente sociale’ in cui le relazioni fra gli uomini, dentro
e fuori dai luoghi della produzione, nel momento dell’accumulazione como in quello
della socializzazione, e le propensioni degli uomini, verso il lavoro, il risparmio, il
giuoco, il rischio, ecc., presentano un loro peculiare timbro e carattere 19 (grifos do
autor) (BECATTINI, 1987:8).
19
Não se trata de uma ‘forma organizacional’do processo produtivo de certos tipos de bens, mas de um
‘ambiente social’ cujas relações entre os homens, dentro e fora do espaço produtivo, tanto no momento de
acumulação quanto no de socialização, e suas propensões em relação ao trabalho, poupança, jogo, risco, etc.,
apresentam uma marca e um caráter peculiares (tradução nossa).
67
expressa no comportamento dos agentes e que lhes permite auferir uma eficiência na
entre os indivíduos, razão pela qual Becattini (1987:43) aponta a dificuldade dos modelos
Terza Italia, razão de sua crença em uma linha interpretativa aproximada da de Schumpeter,
onde:
Le decisioni fuori schema, come le imprese che non ci dovrebbero essere, sono
parte essenziale di una realtà in movimento ed ogni schema teorico che le ignore
svolge un ruolo riduttivo e frustrante nei riguardi della ricerca applicata20
(BECATTINI, 1987:43).
são:
20
As decisões fora do esquema, assim como empresas que não deveriam existir, são parte essencial de uma
realidade em movimento e qualquer esquema teórico que as ignore reduz e frustra as possibilidades da pesquisa
aplicada (tradução nossa).
68
- acentuada divisão do trabalho entre as empresas, o que dá lugar a uma densa rede de
interdependências produtivas;
- difusão dos contatos pessoais diretos entre os agentes locais, permitindo a transmissão
sistema não decorre apenas no processo produtivo propriamente, mas em relação a qualquer
A elevada produtividade das empresas do distrito não decorre de práticas ilícitas como
trabalho clandestino ou sonegação fiscal. A alta taxa de rotação dos trabalhadores não implica
operadores.
69
Outros aspectos que nos chamam particularmente a atenção são o grau crescente de
exigência de intervenção pública por parte das forcas sociais locais, o que corresponde a uma
ação pública orientada de baixo para cima, tanto em relação à demanda por serviços sociais
distrito.
do tipo mais tradicional e menos protegido, principalmente para tarefas menos qualificadas.
Um dos pontos fracos está relacionado ao modelo no longo prazo. A orientação pelo
dificuldade de delinear uma estratégia sistêmica são aspectos destacados pelo autor que
O fato dos distritos já existirem quando formulados por Marshall e das condições
O modelo “canônico” dos distritos italianos, entretanto, está longe de representar uma
outros contextos, conforme vem sendo prescrito como alternativa apropriada para o
desenvolvimento de países periféricos (BERRY, 2000; CEGLIE et al, 1999; COCCO et al,
desenvolver sinergias produtivas em face das exigências atuais impostas aos distritos, o que
Daí nosso interesse em evidenciar a série de especificações e críticas que vêm sendo
feitas por diversas vertentes teóricas, suscitando dúvidas em relação à própria capacidade do
Gorayeb (2002) faz uma resenha pormenorizada sobre a situação atual dos DIs
italianos que enfrentam problemas dos mais variados em relação à manutenção de sua
competitividade. Dentre os vários aspectos que configuram esse cenário cambiante em relação
aos distritos cita: a precarização do trabalho e seus efeitos sobre o tecido socioeconômico; a
em relação a outras – o que revela uma hierarquização crescente, mudança nas relações de
empresas externas ou aos distritos que passam a controlar alguma etapa crítica das cadeias –
mundial de produção, Caccia (1999:240) conjetura sobre a transformação dos recursos que
“fatores endêmicos de crise”, à medida que estas aglomerações produtivas são “obrigadas” a
integrar-se a um espaço capitalista cuja lógica se constitui num óbice à estabilidade social dos
distritos, condição para o dinamismo sócio-produtivo dos mesmos. Não por outras razões que
Gorayeb (2002:170) aponta para a ausência dos requisitos necessários à criação e apoio de
71
foram inviabilizadas por elementos exógenos a órbita de ação dos agentes, diz a autora. A isto
favorável, recursos para financiamento, são coisas que não podem ser atribuídas à
subjetividade dos agentes, a menos quando tais agentes têm seus interesses atrelados a
seja sempre destacada, a perspectiva de replicação dos mesmos é quase sempre postulada,
fenomênica, enquanto outros refutam seu caráter espontâneo trazendo a discussão para o
distrito industrial, o que adiciona outros aspectos à discussão quanto à replicabilidade dos
distritos, sua especificidade e, mais importante, sua capacidade de reagir à mudanças externas.
Ela também afirma, ao final do texto, que mudanças radicais externas podem gerar novas
Isso reforça a idéia de que a capacidade competitiva dos distritos vai depender das
estratégico dos atores não alcança, uma vez que suas ações respondem ou buscam modificar
sujeito, este está submetido a determinados limites estruturais impostos pela própria dinâmica
de acumulação capitalista.
Em suma, a dinâmica organizacional dos distritos cada vez mais nos parece decorrer
modelo em diferentes tempos e locais vão orientando o interesse analítico a mudar o foco
capitalista vão mudando, e aquilo que parecia ser o fulcro do processo revela-se cada dia mais
conhecidas, com isso apostando no custo prazo às custas de maior dependência futura. Boaro
21
Em um ambiente competitivo dinâmico a valorização da capacidade dos distritos evoluírem estruturalmente
em resposta a mudanças radicais é uma questão crucial particularmente se o modelo de distritos industriais é
indicado como uma das possíveis abordagens para a organização industrial de países em desenvolvimento
(tradução nossa).
73
focalizadas cujos dinamismos é que têm sido responsáveis para o estabelecimento de relações
competitividade dos sistemas de empresas, no sentido das ações estratégicas que estes podem
ou devem tomar, ou seja, do nível de análise sistêmica e individualista podemos perceber que
tais movimentos visam a atender aos desígnios da acumulação capitalista. Como bem
espacial”.
Isso significa que mesmo que queiramos analisar as ações dos agentes estas precisam
ser consideradas dentro dos limites estruturais em que elas podem ser exercidas, não é por
outra razão que os fenômenos dos distritos e dos sistemas produtivos de pequenas empresas se
Quando Rabellotti (1995) descreve a natureza da cooperação e dos laços sociais que
marcam as relações interempresariais para frente e para trás no México, é possível perceber
certos aspectos comuns aos espaços econômicos dependentes, bem como as dificuldades que
acumulação perpetrada nesses países não permite que o foco no preço, como elemento
determinante das relações entre fornecedores e produtores, seja visto apenas como decorrente
mostrando como a literatura sobre distritos industriais não percebe a existência de distinções
existentes entre os distritos. Nos vinte e quatro sistemas produtivos baseados em MPE na
período compreendido pela pesquisa, nem tampouco sua difusão pode ser dita generalizada.
autores como Piore e Sabel e Scott e Storper, que postulam um caráter paradigmático à noção
de acumulação flexível, sem considerar uma teoria do movimento do capital, tomando como
AMIN e ROBINS, 1994) para designar a presença da produção flexível tanto em setores de
alta tecnologia como os encontrados em Silicon Valley, como também em indústrias nas quais
guardem diferenças entre si), permitindo, ao final, que sejam pensados como um modelo
(apud AMIN e ROBINS, 1994: 98) a respeito de que “a crescente fragmentação do sistema
qualquer aglomeração produtiva – pode ser difundindo como um modelo em qualquer local e
Essa “nova mitologia”, num contexto de crise e reestruturação, busca “promover uma
nova visão de progresso social e econômico”, “uma espécie de utopia antifordista” e uma
têm aspectos “aliciantes” que deixam “entrever a transformação radical de uma sociedade de
institucional subjacente”, tornando “essa transformação [como] não só desejável, mas também
cogite sobre o caráter ideológico presente nessas formulações conforme permita visualizar
distritos e, com isso, critica a potencialidade que aglomerações produtivas, onde os distritos
italianos figuram como modelos mais puros, possam ter na reconfiguração da organização
produtiva capitalista.
76
vertical de tarefas e funções. Sem falar nos inúmeros exemplos de “zonas de especialização
recente” que não passam de concentrações de pequenas empresas familiares, em meios rurais,
elaborações relacionadas aos distritos industriais - perspectiva não trabalhada por Amin e
Robins – podem ser vislumbradas, no entanto, conforme a crítica destes aponta a existência de
sobre um processo de transformação estrutural e política – que é o que representa no final das
lealdade em relação à comunidade e a identidade local. Essa mistura se mostrará tanto mais
77
regiões que já dispunham de uma “industria leggera” e de uma forte tradição artesanal em
setores manufatureiros clássicos, para atender a uma demanda interna reprimida que não se
dinâmicas impostas para integração à competitividade sistêmica global, requerendo para tal
eficiência social.
de capital social.
78
o que pode acontecer em ambientes institucionais mais eqüitativos, duas questões ainda
eqüitativa no espaço, uma vez que a diminuição da velocidade de geração de inovações tanto
produtivas, considerando que a distribuição de poder entre as empresas constituintes não seja
eqüitativa.
competitivo, gera uma dependência que, em países dependentes, são ainda mais extensas e
abordagem neoschumpeteriana.Além disso, nos permitiria analisar esse fenômeno nas suas
termos mais duradouros ou intenso conforme a natureza das relações entre capitais e a
22
Na medida que o capitalismo evolui para uma forma pós-fordista (uma forma de organização industrial
baseada em redes), a sobrevivência dos DI’s italianos vai depender de sua capacidade em fortalecer sua natureza
baseada em conhecimento e em confiança e de abrir suas fronteiras local e produtiva a partir da nova perspectiva
colocada pelas relações local-global (tradução nossa).
80
institucionais à análise, integrando-a num nível mais elevado que a formulação original de
Schumpeter.
elementos fundamentais:
concorrência;
empresas operam.
concorrência e estratégia. A concorrência, por sua vez, é o processo pelo qual se busca obter o
inovações”.
Além disso, sob o ângulo da ação e comportamento dos agentes, a adoção das noções
através dos conceitos mais específicos como paradigmas e trajetórias tecnológicas e seus
Além disso, a ênfase na ação estratégica dos agentes faz parecer que os “fatores de redução de
incertezas e atenuadores de dispersão” são estruturas estruturadas pela ação dos agentes, isto
é, que toda iniciativa de mudança é orientada pelos sujeitos individuais ou, o seu contrário,
Acreditamos que tal questão não é apenas de ordem metodológica, mas gnosiológica e,
paradigma pode conter várias trajetórias, bem como é possível a coexistência de diferentes
esse sentido. No mesmo passo, existem graus de liberdade que tanto decorrem de resistências
três elementos através dos quais se manifesta a diversidade do processo competitivo (DOSI
numa especificidade de ativos e num tipo de conhecimento acumulado, seja pela rigidez
Há uma imensa gama de situações onde o peso do passado é tão gra nde, que a
mudança simplesmente não é possível, exceto em ambientes onde há um
84
econômica e uma relativa ordem comportamental, na medida em que são responsáveis pela
informação e competência” que, uma vez reconhecidos faz com que os agentes econômicos
Tal padrão comportamental converge com a afirmativa de Douglas (1998) de que “as
nossa, aparece aqui. A idéia de que uma “filosofia corporativa” seja um mecanismo
inalterabilidade do quadro geral da PE, e significa que a perspectiva analítica não dá conta das
mundo”, mas uma ideologia a respeito da PE competitiva, funcional, sim, ao padrão desigual
impostas pelo meio ambiente (no caso pautadas por critérios de maximização fundado numa
empresa.
interinstitucional.
interinstitucionais” podem ocorrer à medida que ações que visam institucionalizar apoios aos
agentes não sejam consistentes com o ambiente institucional onde elas deveriam convergir
(1996:158). Nesse caso, o que se questiona é quem é de fato o agente ou qual a racionalidade
Para Possas (1996:94) o novo paradigma tem como uma de suas características mais
importantes, principalmente no que diz respeito à PE, a redução da importância relativa das
86
economias de escala internas em face da busca pelo aproveitamento das core competencies,
processo que se dá sob a perspectiva da cooperação entre empresas, que surge, portanto,
como uma forma institucional localizada e datada de interação entre empresas, de caráter não
Aqui, temos uma perspectiva que busca circunstanciar a relação entre ação e estrutura
proposta seja mais bem compreendida numa perspectiva contratual, o que repõe o viés
O problema, que nos diz respeito mais fundo, é o da valorização de diferentes core
possibilidade de alianças entre pequenas e grandes empresas, que não por causa de outra
teórica serão apresentadas a seguir, ambas com o propósito de ampliar o alcance de uma
teoria da ciência e tecnologia. Embora as duas alternativas permitam contemplar com mais
organizacional têm implicações de natureza tanto histórica quanto teórica. Ou seja, não
apenas a teoria importa para análise histórica, mas a história influi na teoria econômica.
Tal consideração nos interessa sobremaneira, à medida que a história é passível de ser
evolucionária, não apenas em nível sistêmico, mas também em nível dos comportamentos
pequena empresa e às condições para a ação do pequeno empresário. Tal discussão contribui
estrangeiras.
análise histórica entendendo que esta tem pouco a contribuir. A versão mais forte do
prazo, o que faz das observações históricas apenas demonstrações da realização desse
equilíbrio.
da natureza e dos determinantes do curso real dos eventos, ou ainda por permitir a definição
história importa conforme permita o entendimento das condições específicas que levam os
teoria”. Consideram que a “racionalidade” dos agentes não é independente da história das
técnica em si.
tecnologia é induzida pela expansão da demanda nos séc. 17 e 18; os modos como as
inovações são guiadas, ora por escassez de determinado fator ora pelo próprio progresso, ou
como a inovação surge como uma seqüência cumulativa de insights até a síntese cumulativa.
pela substituição da força de trabalho por máquinas e por novas formas de energia e de
matérias primas.
análises das mais variadas, trazendo à luz da ciência uma série de conceitos e noções
relativos.
comportamentos.
Outras análises mostram que variáveis sociais historicamente contingentes podem ser
tão importantes quanto o critério de eficiência na seleção das inovações. Estudos históricos de
caso têm mostrado que os meios através dos quais as inovações são geradas e selecionadas
profissionais, instituições sociais, etc. são tão importantes quanto interesses econômicos.
comparação à eficiência econômica como critério de seleção para trajetórias de mudança. Por
Tudo isso leva a argumentar que não somente é provável que a mudança siga
particulares que surgem ao nível de firmas, indústrias e países são influenciados pelas
atestam que a estabilidade da distribuição do tamanho das firmas, a tendência de longo prazo
complementares explicam o tamanho crescente das firmas, mas não explicam uma
isso, aponta-se para uma coexistência permanente de firmas com diferentes tamanhos,
natureza do conhecimento específico à firma e a variedade de formas com que ele é gerado,
firma. A evolução das estruturas corporativas sempre implica num compromisso difícil entre
uma visão múltipla de dependência histórica e tudo o que foi exposto somente acrescenta ao
argumento no qual:
dinâmicos para aprendizado e inércia institucional relativa tendem a prender firma, indústria e
mesmo países num determinado “caminho”, esta dependência se dá não apenas ao nível
dos micro-agentes.
23
Circunstâncias econômicas e institucionais específicas podem resultar em diferentes arranjos organizacionais,
os quais, por sua vez, determinam diferentes performances econômicas e tecnológicas (tradução nossa).
92
The tension between the search for general regularities [...] and the emphasis on the
rich uniqueness of particular experiences is all but resolved. [...] We would consider
this volume a great success if it simply succeeds in adding some insights on the
nature of these historical (technological and organizational) regularities;[...]on how
admittedly heterodox economists can contribute to a conceptual grid for the
interpretation of that complex mixture of necessity, inertia, structures, and also
singularities and micro-deliberations, of which history consists 24 (DOSI et
al,1992:22).
Mesmo não comungando com a maneira pela qual os atores individuais são alçados à
diversos vieses com que o processo inovativo é investigado os limites e as condições nas
capitalista apresenta uma importante debilidade, na medida em que carece de uma teoria do
24
A tensão entre a busca por regularidades genéricas […] e a ênfase na riqueza das singularidades de uma
experiência particular está longe de ser resolvida. […] Consideraríamos este livro um grande sucesso se ele
resultasse apenas em adicionar alguns insights acerca da natureza dessas regularidades (tecnológicas e
organizacionais) históricas, [...] se economistas reconhecidamente heterodoxos pudessem contribuir para uma
93
variada das relações entre os também variados agentes produtores de inovação, as fontes de
tecnológico carece ainda de uma compreensão mais satisfatória quanto aos móveis que
orientam sua transformação, trajetórias e regimes bem como os papéis dos agentes.
possibilidade do capital vir a se constituir como a unidade de análise que faltaria “aos avanços
organizacionais.
grade conceitual que permitisse a interpretação dessa mistura complexa de necessidade, inércia, estruturas, e
94
A pequena empresa participa dessa dinâmica à medida que gera inovações nas mais
diversas formas, seja com o trabalho inventivo do pequeno empresário, seja gerando
cooperativos e inovadores.
empresas são, em última instância, relações entre capitais concorrentes, não obstante as
profundas diferenças que os constituem. Ao mesmo tempo, a forma específica de relação que
do movimento do capital em geral. Dentro dessa moldura, nos parece que apenas uma PE
crescentemente, poderia vir a ser incorporada pela proposta avançada pelos autores.
existente, seja como tábua de salvação para a PE ou como imposição a priori para a
desenvolvimento de sua obra vai atribuir um papel cada vez mais importante às condições
em sua análise econômica uma certa ambigüidade na explicação dos movimentos cíclicos da
Coriat e Boyer (1985:47) vão abordar de forma apropriada essa ambigüidade sob a
Shumpeter de, “apóstolo de uma macroeconomia da oferta numa variante, ao mesmo tempo
Isto nos serve para mostrar o quanto as ações e políticas de apoio à PE, se
– sujeitos inovadores – numa perspectiva puramente liberal, acabam por descurar de outros
Ainda a esse respeito, Nelson (1992:6) afirma que o erro de Schumpeter teria sido
pensar na possibilidade da inovação ser reduzida a uma rotina, o que não pode. Essa é uma
Não se trata de questionar a atividade inovativa, ato criativo subjetivo e individual por
excelência e não sujeito aos limites impostos por qualquer hierarquia organizacional, nem a
identificação do sujeito inovador com o empresário pequeno e/ou novo que se comporta
componentes que permitem essa associação entre inovação e PE. No entanto, não se pode
além das crises influem na configuração do processo inovativo, como próprio Schumpeter
Por sua vez, o papel da PE em países periféricos tem sido marginal e mais relacionado
com setores tradicionais e não com setores dinâmicos da economia. Nesse sentido a
inovação são apropriados. Tal questão permite que se investigue os elementos subjacentes à
empresas – de alta tecnologia e de pequeno porte – surgem enquanto outras desaparecem está
dando sentido a políticas de estimulação à formação de PE (SMALL, 2000; ACS et al, 2000).
crédito e o risco associado a ele podem se constituir em empecilhos para que a PE de países
no caso do Brasil não se configurou com o mesmo peso dado pelo autor ao fenômeno. Assim,
sua destruição prevista, também ocorreria diferentemente do modo descrito pelo autor,
social, uma vez que o empreendedorismo institucionalizado historicamente aqui por certo tem
mitologia capaz de justificar e qualificar sua ação e seus interesses. Tal tentativa se inscreve
na própria cultura ocidental conquanto esta busca instaurar seus heróis fundantes.
o crescimento a um outro que acumula com vistas à satisfação pessoal, é bastante forte na
tradição norte-americana.
It is important to state the argument. The point is that we need distinguish between
redistribution and the creation of opportunity. The distinction is similar to the
distinction between small business and entrepreneurship [...] Small business is about
life style while entrepreneurship is about wealth creation26 (ACS e PHILLIPS,
2002:22).
Conference” (que não é outra senão a mesma escola que realiza anualmente a enquête que
characteristics and traits” foi escolhido como o mais interessante dentre outros treze temas
correlatos.
Contudo, segundo Paula et al.(2000), “este processo não é linear, consensual nem
nosso).
ele surge com Cantillon, Say, Marshall, Veblen e Schumpeter, cujas distintas formulações
bastariam para demonstrar que a caracterização da figura do empresário não pode ter uma
define de forma mais específica, por “reunir e combinar os diferentes meios de produção para
26
É importante estabelecer este argumento. A questão é que precisamos distinguir entre redistribuição e criação
de oportunidade. A diferença é similar àquela entre pequena produção e empreendedorismo. [...] Pequenos
negócios diz respeito a um estilo de vida enquanto empreendedorismo, à criação de riqueza (tradução nossa).
99
criar produtos úteis”. Para Adam Smith, o empresário surge sob diferentes formas –
distintas entre si. A visão de Marshall acerca do empresário é marcada por uma “neutralidade
se confunde com a do administrador, nem com a do inventor e menos ainda com o capitalista,
que assume o risco da operação. Já para Knight, o empresário é aquele que toma decisões em
situações que envolvem incerteza, característica que também é encontrada nos discursos
O espírito capitalista se constitui como uma síntese entre o espírito de empresa – paixão pelo
na obra de Veblen há uma tensão própria da constituição humana entre um instinto predatório
e um instinto construtivo que se reflete nas duas matrizes do comportamento econômico sobre
francamente decadentista.
A essa altura já é possível traçar uma analogia entre a preocupação vebleniana quanto
Já Penrose (apud PAULA et al, 2000), num contexto mais contemporâneo marcado
pela emergência das grandes corporações e pelas revoluções tecnológicas, também vai
possuem apenas um pequeno capital e habilidades comuns para iniciar um negócio.O espaço
das pequenas firmas são os interstícios da economia – áreas deixadas em aberto pelas grandes
conhecimentos tecnológicos.
tecnológico atual, rompe com o dilema de Schumpeter, sugerindo que a competência nos
serviços empresariais é crucial para o crescimento da firma, ao mesmo tempo em que aponta
(PAULA et al, 2000:18). Importa reter dessa questão a percepção de que a função da PE, por
de acumulação capitalista.
inovatividade enquanto produtos e processo inovadores e não mais medida através de gastos
com R&D; segundo tipos de indústrias e de acordo com o que se chama de regimes
Segundo esta argumentação se quer evidenciar uma visão da PE não mais como um
clone ineficiente da grande empresa e sim como uma máquina de inovatividade e como
tradicional da organização industrial, muito forte nos EUA, que vê PE como subótima em
termos de sua eficiência econômica estática enquanto a visão dinâmica, associada ao projeto
102
crescimento.
pela PE em uma estrutura de mercado onde existem firmas instaladas que desenvolvem
economias de escala. Como a avaliação dos ganhos decorrentes da inovação não pode ser
medida consensualmente, o agente inovador opta por uma nova firma que, demonstrando e
Para Audretsch (apud SMALL, 2000) esses novos entrantes dispõem de conhecimento
empresa no lugar de aplicar seu conhecimento como empregado de uma grande empresa. A
dificuldade que se coloca para eles é a falta de “essential entrepreneurial and management
pequenas empresas de base tecnológica, o que é bastante diferente do que acontece em paises
periféricos.
origem histórica e cultural, como no caso dos distritos italianos. Nessa perspectiva a PE é
organicamente imbricada com a inovatividade posto que esta decorre das interações
local ou do país.
vez se volta para a proteção dos interesses da PE de base tecnológica, é bem verdade. No
entanto, ao mesmo tempo em que novas instâncias judiciárias têm sido criadas por outro lado
o custo de um processo de defesa contra uma acusação de violação de patente tem dificultado
A maioria dos autores que falam sobre a PE acentuam sua importância para o
desenvolvimento, conforme seu comportamento tenha se orientado para uma maior taxa de
que empresas novas de alta tecnologia têm tido desempenho melhor do que grandes e
tradicionais empresas, que essa superioridade tem sido permanente desde os últimos 70 anos,
que a chegada do computador pessoal favoreceu a pequena empresa e que quatro empresas
com menos de vinte anos de existência – Microsoft, Cisco, MCI e Dell respondem por
processo de mudança tecnológica. São dois os problemas das grandes empresas que explicam
produtos, canibalizando vendas e lucros existentes e sua maior capacitação para responder à
It is plain to see why the Sherman Act [...] were vital to the protection of
entrepreneurs in the 20th century. And, today it is clear, they will be even more
vital in the 21th century. Perhaps more than any other society on earth, the United
States is dependent on the willingness of its people to take risks on the pursuit of
success. We practice an intensely entrepreneurial flavor of capitalism. And, we
think of entrpreneurship not just as vital to our economic success, but also to our
social fabric, and our sense of who we are 27 .
Ainda segundo o autor, o empreendedorismo cria certos valores tidos como desejáveis
mesmo, ganhar ou perder por seus próprios méritos e satisfação pelos frutos do próprio
trabalho duro. A PE funciona também como o portão de entrada para o sonho americano, o
Ora, tais valores são justamente aqueles que Mills (1979) aponta como típicos das
antigas classes médias e que se perderam faz algum tempo. No entanto estão sedimentados e
não obstante toda a influência da escola de Chicago sobre a política antitruste nos últimos
27
É visível porque o Sherman Act […] foi vital para a proteção dos empreendedores no séc. XX. E, hoje está
claro, que ele será ainda mais vital no séc. XXI. Talvez mais do que qualquer outra sociedade sobre a terra, os
Estados Unidos são dependentes da vontade d e seu povo em assumir riscos na busca do sucesso. Sobre o
empreendedorismo, nós pensamos que ele seja tão vital não apenas para o nosso sucesso econômico, como
também para a nossa tessitura social e para o nosso juízo sobre quem somos (tradução nossa).
105
como empresa eficiente em termos de atender nichos de mercado que exigem produtos
medida que o mercado voltado cada vez mais para uma cesta de consumo que imita os
de desenvolvimento de nichos.
inovação individualista, do agente inovador que pode ser uma única pessoa ou um grupo. Essa
figura é portadora de atributos semelhantes aos daquele empreendedor clássico e precisa ter a
composição – o estofo certo (right stuff) do negociante, como o vendedor de cavalos de Mills
(1979) que é testado no período inicial do negócio, ainda em escala pequena. A diferença se
como fonte de motivação. No ponto de vista societário esta perspectiva se afasta do modelo
volta para as ações de incentivo desenhadas pela agência de fomento – SBA voltadas para o
minorias ao empreendedorismo. No caso, estas minorias não teriam as mesmas aptidões dos
americanos em geral, ou tratar-se-ia “apenas” de um preconceito social. Ainda assim não fica
claro se as políticas de apoio têm a pretensão de que minorias possam vir a ser
de firma bem como o papel do empreendedor, agora um capitalista que internaliza através de
Em relação à inovatividade das pequenas empresas em face das grandes, Tether (1998)
faz uma revisão do assunto e questiona essa preeminência conferida às PE’s quando introduz
atividade inovativa das empresas. Segundo o autor, tal inclusão inverte a posição da PE em
relação à grande.
Já os estudos empíricos feitos por Acs e Audretsch (1988) demonstram que diferentes
inovativos para a PE. A primeira baseia-se na hipótese que pequenas empresas em indústrias
concentradas dominadas por grandes empresas tendem a ser mais inovativas e a desenvolver
afirma que devido às características específicas das pequenas empresas como, por exemplo,
107
segundo uma “complementaridade dinâmica”. Os resultados revelam que a teoria dos nichos
estratégicos é mais adequada para responder pela ação estratégica da PE, lançando novas
evidências para a questão da eficiência econômica da PE, à medida que podem operar nos
inovadora se concretiza não só como efeito das mudanças sociotécnicas impostas por ocasião
aprendizagem coletiva, a PE pode ser considerada inovadora em termos, não só, de tecnologia
A aprendizagem coletiva é “um processo que se pode estudar desde a perspectiva das
produtiva, mas necessite subordinar-se às cadeias produtivas e/ou aos circuitos superiores de
Em suma, existe uma série de considerações quanto à natureza, tipo, utilidade e outros
qualquer afirmação conclusiva quanto às relações entre porte da firma e atividade inovativa e,
De forma mais geral, o autor faz algumas considerações quanto à relação entre
tamanho da firma e inovação, embora cada setor ou indústria contenha sua especificidade.
Um aspecto que pode ser particularmente vantajoso para a PE decorre do fato das
tecnologias da nova base técnica poder gerar oportunidades em áreas não ligadas à produção
Essas novas tecnologias geram formas distintas de competição, onde o pequeno pode
ter vantagem ou pelo menos deixa de ter algum tipo de desvantagem em relação ao grande.
109
Existe também a questão da inovação não técnica, como no caso de um novo mercado
para um produto existente, caso onde a PE pode participar, bem como no caso das inovações
Por outro lado, tanto o mercado quanto à tecnologia estão sempre mudando, o que
significa que as grandes empresas com suas estruturas de P&D podem “estocar” inovações
estrutura inovadora pode estar mais próxima do usuário que a estrutura formal da grande
necessária associação entre o lampejo criativo e o longo caminho até tornar-se um sucesso
Em vista disso, afirma ser mais razoável postular a inovatividade da PE como mais
vantajosa nos estágios iniciais do trabalho inventivo e nas inovações mais radicais e menos
custosas. A grande empresa, por sua vez, leva vantagem nos estágios finais do processo –
vários e diferentes especialistas são necessários ou quando existem várias rotas de inovação
Ainda sobre a relação entre inovação e tamanho da firma, Freeman (1982) vai mostrar
como estudos baseados em outras variáveis relacionadas – como o gasto de P&D e o número
110
consideração aspectos institucionais que possam alterar, por exemplo, a disposição dos
pequenos a buscar proteção sob a forma de patentes, bem como o custo relativo desse
determinada firma vão ser influenciadas por seus recursos, sua história, pelas suas atitudes em
termos de gestão, e sua sorte. (FREEMAN, 1982:170). Além disso, salienta a importância que
o contexto histórico tem para cada indústria e cada país em relação à inovação e às estratégias
feita por pequenas empresas. Estão relacionados à melhor condição para a comunicação e
28
A grande maioria não realiza qualquer ação de P&D. Esta pequena empresa inovativa é uma rara exceção, não
a regra geral. Para cada pequena empresa engajada em inovação defensiva ou ofensiva existem dúzias que são
111
Muito embora, se deva perseguir a especificidade que cada caso ou situação propicia
para o surgimento da atividade inovativa e seu resultado, assim como faz Freeman, no intento
medida que se busca consolidar uma alternativa estratégica de apoio e fomento a pequenas
individuais e sociais.
constituída. É importante ressaltar que são condições distintas e que tem implicações
das PE em atividade diz respeito primordialmente aos efeitos sociais que isso acarreta sobre a
social. Já o nascimento de novas empresas, que apenas circunstancialmente são pequenas diz
Sobre essa associação, Freeman (1982:214) diz que: “a tendência de longo prazo de
empresas de rápido crescimento (as chamadas gazelas). Importante perceber que tal
empresas ‘satélites’ dependentes, e centenas que seguem uma estratégia ‘tradicional’ – os camponeses da
indústria (tradução nossa).
112
associação entre pequena e nova empresa pode significar apenas uma situação efêmera e
econômica.
nas quais os pequenos inovadores estão dispostos a uma grande jogada ou são impelidos ao
jogo por alguma ameaça à própria existência, ou ainda no caso onde, inconscientemente
aceitam um alto grau de incerteza, seja devido ao “animal spirits” ou seu entusiasmo. Nessa
resultados.
processo caracterizado por um alto grau de incerteza” (NELSON, 1992) onde o inovador não
pode prever claramente as conseqüências, existem poucas razões para se supor que, num
empresariais quanto para o fator trabalho bem como meios de acesso ao capital de risco, onde
COMPETITIVA
que desde logo, situemos o contexto em que nosso argumento vai se desenvolver. Como
nosso trabalho tem uma perspectiva analítica institucionalista, é fundamental que este
excedente social ao domínio das relações de troca e produção e se configura a partir de uma
determinada realidade territorial, devendo ser analisado em termos das relações que este
uma relação positiva entre os efeitos sociais, políticos e econômicos que o desenvolvimento
da PE pode propiciar. São vários os autores que advogam esse papel positivo da PE
(BARROS, 1978; RATTNER, 1985; LA ROVERE, 2001) embora alguns afirmem que não
existem dados que demonstrem a inerência desses atributos (HALLBERG, [s.d.]; TETHER,
1999).
114
realizar, de sua parte, algumas das tarefas “para colocar o processo de acumulação a serviço
de um projeto nacional”.
sustentado, tarefa que envolve decisões políticas e está além do terreno exclusivamente
econômico.
conflito entre os indivíduos e as classes sociais, o que requer que se considere a combinação
Nesse sentido, o que importa, segundo Fernandes (apud SAMPAIO JR., 1999:69), é
explicitar as bases sociais e políticas do desenvolvimento, pois, “no fundo, a chamada ‘luta
pelo poder político’ representa uma luta pelo controle da mudança social, pois são seus efeitos
que ditam o sentido, o alcance e a continuidade, a curto ou longo prazo, das alterações
capitalismo.
uma ordem social capitalista resultam num processo político-econômico que, no caso
“preserva e combina relações sociais atrasadas, outras que ‘não são suas’, organizando-as em
função da racionalidade do capital. É o próprio capital que produz e administra o atraso social
Por fim, diante desse modelo de desenvolvimento dependente, que especifica o padrão
de concorrência e a dinâmica de acumulação, cabe indagar sobre a lógica que vai orientar a
histórico entre o aumento da riqueza ou sua distribuição orienta-se pela primeira opção,
incompatível com a assimilação dos padrões de consumo das economias centrais, fazendo
com que a incorporação do progresso técnico não resulte de um processo endógeno. Ou seja,
116
sociedade, tende a reproduzir os padrões de consumo das economias centrais, orientados por
para o uso das tecnologias atuais, uma vez que não se trata apenas de introduzir e aplicar tais
técnicas, mas da real possibilidade de acesso a tais tecnologias dentro de uma perspectiva
Nesse sentido o apoio ao agente pequeno e sua modernização não se objetiva como
parece ser aquela que o Brasil vem intentando seguir ou, pelo menos, a mais aderente às
próprio autor é necessária a identificação de bases sociais, com poder suficiente para impor tal
decisão, que não estão presentes nem “nas elites tradicionais voltadas para a modernização
dependente, nem tampouco nas maiorias preocupadas em ter acesso imediato a melhoras nas
existência de estratos sociais que pudessem se identificar com tais possibilidades - o que
permite pensar em tipo de pequeno empresário criativo e empreendedor, o que importa é que
tais condições parecem estar ainda longe das intervenções concretas do Estado ou do próprio
para o exterior;
- estruturas sociais que abram espaço à criatividade num amplo horizonte cultural e
o autor se refere, parecem estar no centro da perspectiva de uma pequena empresa capaz de
(1999) acerca dos dilemas do capitalismo dependente e seus limites estruturais no marco do
capitalismo globalizado, mais especificamente, a apropriação que faz das obras de Caio Prado
Jr., Celso Furtado e Florestan Fernandes, em especial este último, para inseri-la no espaço da
PE, procurando retirar dessa reflexão evidências que sustentem uma análise das possibilidades
dependente, em termos das formas institucionais que circunscrevem a PE. Ou seja, os limites
constituição de uma PE dotada dos atributos competitivos exigidos pela atual organização da
permitam ao país buscar de forma autônoma sua inserção no capitalismo mundial, bem como
progresso técnico fazem com que os produtores não tenham necessidade e possibilidade de
margem do mercado de trabalho impede que a acumulação tenha que socializar os ganhos de
produtividade do trabalho, de tal forma que a evolução da economia capitalista não pode ser
transformações difundidas do centro. Tais condicionantes externos não são capazes de definir
120
sociedade periférica vai responder ao impacto desses condicionantes, cujo sentido, ritmo e
O que queremos evidenciar da visão de Sampaio Jr., sem entrar na discussão sobre
agentes sociais em geral sejam capazes de engendrar ações que venham a, no horizonte e de
forma duradoura, transformar relativamente seus destinos, à medida que o fulcro do nosso
questionamento está na idéia presente no subjetivismo social, que acaba por atribuir aos
Para isso vamos nos valer das elaborações feitas por Fernandes (1981, 1987) acerca da
seu agente, como uma categoria social distinguível nas relações que estabelece com outros
objetivas dispostas para sua existência e reprodução ao longo desse processo, a partir da
desenvolvimento da ordem social competitiva em Fernandes (1987), admitindo para isso que,
dinâmica capitalista, tais limites continuariam a viger. A associação da PE (sua progênie) com
121
o tempo da colônia em Prado Jr. (1999) justifica-se como origem da ordem social e, por
conseguinte, desses limites estruturais que, institucionalizados como cultura dessa progênie da
PE, ainda poderiam ser presenciados atualmente. Cumpre salientar que, no caso, evidenciar os
efeitos de uma problemática estrutural através de manifestações culturais, como uma sub-
cultura do agente pequeno em sua progênie, se constitui num artifício usado para mais adiante
estrutural pela manutenção da mesma sub-cultura. Não significa que a natureza do problema
Brasil, manifesta-se sobre essa categoria social intermédia onde em tempos distintos se
mesma lógica subordinativa. Assim, nos apropriamos com certa liberalidade, posto que temos
por Bourdieu para “investigar as propriedades invariantes reveladas pela comparação dos
de que existem homologias estruturais e funcionais entre todos os campos [que] têm uma
CONTEMPORÂNEO”
Segundo Prado Jr. (1999) o início do séc. XIX marca ao mesmo tempo uma etapa
decisiva em todos os campos na nossa evolução, por isso um momento de síntese de três
posterior que vem a ser o Brasil de cinqüenta anos atrás, época em que escreve, mas que pode
ser estendida aos dias atuais. “Criou-se no plano das realizações humanas algo de novo [...]
até uma consciência, mais precisamente uma certa ‘atitude’ mental coletiva particular”, diz o
autor, e completa “este processo histórico se dilata, se arrasta até hoje e ainda não chegou a
seu termo” (PRADO JR., 1999:10). Para compreender e interpretar o Brasil e o meio que o
cerca na atualidade é preciso que “se analisem os elementos da vida brasileira contemporânea
[e] o passado, aí ainda está, bem saliente [...] O Brasil que salta à vista é um organismo em
franca e ativa transformação [mas] em todo caso, atrás daquelas transformações [...] sente-se à
presença de uma realidade muito antiga [...] que não é senão aquele passado colonial”
Aliás, o Brasil parece adentrar mais uma etapa de seu processo formativo sem ainda
conseguir alterar a lógica orientadora desse percurso e nesse sentido, o trabalho de Prado Jr.
parcial do trabalho livre, a produção ainda voltada para ao mercado exterior (e cumpre aqui
apontar que tal aspecto não se deve primariamente às características atuais dos mercados
alicerçado e organizado. Nas relações sociais tal efeito também se manifesta, sendo a
desigualdade perceptível não apenas no campo material, mas no próprio estatuto moral onde
tipo de sociedade inteiramente original [que] conservará um acentuado caráter mercantil; será
a empresa do colono branco, que reúne à natureza, pródiga em recursos [...], o trabalho
recrutado entre raças inferiores que domina [...] No plano mundial e internacional toma o
aspecto de uma vasta empresa comercial”. Tal sentido “explicará os elementos fundamentais,
nossa interpretação no sentido de não desprezá-lo como elemento que singulariza o campo de
análise, coisa que vem sendo feita de forma desatenta, como mera declaração ou constatação
de um fato ou como uma variável que manipulada permitisse a comparação com outras
O relato copioso de situações geradas pelo “sentido da colonização” feito por Prado Jr.
(1999) mostra como a orientação colonial exclusiva para a exploração dos diversos recursos
atividades produtivas, uma distinção clara entre a valorização das atividades - aquelas que
mais tarde vão ser desempenhadas pelo pequeno - quando Prado Jr. analisa a configuração da
extremamente baixo” e que “por efeito de uma espontânea seleção social, econômica e moral”
124
Infere-se igualmente a amplitude que tais disposições assumem quando ele diz que “o
resultado desta política [...] acabou por se identificar a tal ponto com a sua vida [do Brasil],
colonial ganha estrutura e a dinâmica não só de fato como de direito, cabendo à metrópole
“apenas em contribuir com sua ação soberana para manter uma situação que se tornara
passividade da sociedade podem ser visualizadas no espaço social atual, num regime de
classes plural é possível que as disposições estratificantes ainda se manifestem mesmo neste
A “atonia econômica” e “vital” percebida por Prado Jr. (1999:12) como um dos
problemas fundamentais postos em questão desde duzentos anos atrás, precisa ser avaliada e
elementos que a configuram não estão no plano individual conforme o próprio autor percebe,
mas nas condições derivadas da situação colonial que vão se estruturar dali por diante, durante
que são condições objetivas que propiciam, não uma, mas várias “atonias”; segundo sua
O agente pequeno, participante dessa vida em diversos níveis, aspectos e papéis, ocupa
uma posição determinada nos diversos campos onde atua e logra com isso ser influenciado e
125
poder influir. No entanto, a posição decorrente de sua condição pequena, na dinâmica de uma
sociedade relativamente estamental, sobrepuja qualquer outro atributo que possa ter,
reduzindo suas possibilidades de valorizar estes atributos e com isso modificar sua posição.
Esse “freio” sócio-dinâmico que aparece em Prado Jr. (1999), está presente e é o responsável
Burguesa no Brasil” nos fornece uma evidência histórica concreta quanto à existência de
desenvolvia, que tornam inadequado o tratamento da questão na esfera cultural, mesmo diante
problemática seja formulada como uma sub-cultura que, ao transformar-se deixe de exercer os
pensar e de agir em que o ‘cálculo econômico’ e a ‘mentalidade racional com relações a fins’
acabaram alcançando, pela primeira vez no nosso País, a consistência estrutural e funcional
sociedade” (FERNANDES, 1987:141), o autor reconhece que tal influência não decorre,
se sua chegada introduzisse no país os elementos instituintes de uma outra ordem social
ocorriam, enquanto fenômeno cultural instituinte é um mito à medida que o sucesso tenha
126
sido alcançado apenas por um ou outro, não obstante tenha sido construída simbolicamente
primeira em relação à metodologia analítica apropriada para lidar com processos originais de
transformação social e econômica, quando mostra como, num determinado momento histórico
tornam capazes de instaurar uma nova dinâmica à organização da produção. É como ver de
novo o mesmo fenômeno que Fernandes (1987) demonstrou inadequado do ponto de vista da
Para Prado Jr. (1999), contudo, é a escravidão que, junto com o grande domínio, se
constituem nos dois principais elementos que tornam original e peculiar a colonização do
Brasil, repercutindo fundo na formação social e econômica deste país. A escravidão vai
restaurar aqui uma forma institucional de trabalho que só tem sentido no aspecto material de
realização de uma empresa comercial e que termina por tornar o instituto do trabalho algo
pejorativo e desabonador.
de condições objetivas para o trabalho que não seja o escravo, “tão pequena margem de
127
ocupações dignas se destine ao homem livre” - feitor ou mestre dos engenhos; algum ofício se
totalmente branco não for ou, contrariamente, as funções públicas; ou o comércio se do Reino
[Forma-se] um vácuo imenso entre os extremos da escala social [e] entre estas duas
categorias [os senhores e os escravos] nitidamente definidas e entrosadas na obra de
colonização, comprime-se o número[...]dos desclassificados, dos inúteis e
inadaptados; indivíduos de ocupações mais ou menos incertas e aleatórias ou sem
ocupação alguma (PRADO JR., 1999:281).
Dentro dessa camada intermediária “uma subcategoria é composta pelos que vegetam
num remoto qualquer da colônia, mantendo-se ao deus-dará”. Uma segunda parte, nas
cidades, “se encostam a algum senhor poderoso” - são os “agregados”, os moradores dos
engenhos, uma condição original de vassalagem. Por fim, os desocupados permanentes que
Importa também perceber que este sistema social se constitui a partir de condições
objetivas que se cristalizam a partir dos propósitos e da forma originais como a colonização se
desenvolve.
interessante a nossa conveniência. Pois, sob sua égide instaura-se um domínio que se expressa
dependência que ultrapassa de longe as relações de produção escravistas. Ou seja, toda aquela
senhor.
as relações sociais sob sua influência, criando um conjunto de mecanismos que, ao mesmo
comissários que assume a mesma estrutura e dinâmica social instaurada pelo grande domínio
precariedade material onde a própria reprodução de tal forma se coloca como problema
imediato que não seria surpresa que as tentativas de identificação social se dessem por
(1999:345) percebe quando diz que é justamente essa inércia que “explica suficientemente a
relativa estabilidade da estrutura colonial. [...] É fundada nisto [tênues laços materiais
social ao plano das iniciativas individuais. Tal situação é adequada à obra colonizadora na
medida em que não põe em risco as condições de reprodução da ordem dominante ao mesmo
e que se estendem até o princípio do séc. XIX, que demonstram que o caráter hierárquico e
subordinado das relações em geral transcende ao econômico e se imiscuem nas demais esferas
da vida brasileira.
social que classificam a pessoa em uma posição que suas condições de posse não permitiriam.
Tentar estabelecer uma análise em termos da oposição grande - pequeno não parece
apropriado tanto quanto o fazem aqueles que tipologizam a pequena empresa. No entanto, não
se pode deixar de assinalar a importância que o grande tem na formação social e econômica
do país. O grande domínio e o clã patriarcal são expressões concretas que vão estruturar as
referentes aos ofícios no período colonial. Sobre a natureza fiscalista do Estado, fato
recorrente ao longo de nossa história, podemos vê-lo não apenas sobre atividade produtiva
principal exportadora, mas também em relação àquelas atividades artesanais e comerciais que
Não bastasse isso, na produção de bens, a tributação contratada, pela forma como era
praticada, impelia o reduzido número de produtores a limitar ainda sua produção a níveis
garantidos, o que acaba por institucionalizar o que Prado Jr. vai chamar de “atonia
econômica”.
Flexor (1996:182) nos mostra a natureza estamental burocrática com que essas
atividades eram revestidas. Cargas, licenças, fianças, exames, regimentos posturas, correições
tabelamento de preços, não era muito respeitada e a sua desobediência mais ou menos
generalizada. Por sua vez, as contravenções às posturas previam sanções bastante penosas à
época, de natureza pecuniária ou física e moral, quando não ambas. Pelo que podemos
deduzir, tal relação ainda hoje se configura e tem seus efeitos contestados pela literatura
específica.
De uma ou outra forma, mas sempre com o mesmo sentido, o ambiente institucional
Se a tudo e a todos esse espírito relativo a ganhos o sistema colonial envolve, o extrato
também vai trilhar a mesma senda, não havendo motivo genérico para que não o faça, que se
possa atribuir a essa camada intermediária e sua contigüidade, de onde, com maior ou menor
precisão o pequeno.
Por outro lado, é possível aventar que, dada sua situação intermediária, menos definida
e ambivalente, num quadro social totalmente polarizado, seriam esses extratos intermediários,
que nem ao menos possuíam uma identidade própria e já montavam a quase metade da
população (COUTY apud PRADO JR., 1999:282), aqueles que maior propensão tivessem a
daí adviriam, seja pela posição relativamente favorecida em relação aos escravos, seja pela
burguesia existente nos países onde o mesmo desenvolveu-se nos moldes clássicos, dispôs de
131
condições objetivas que lhe permitisse vir a desenvolver uma consciência de classe enquanto
classe dominada, tais condições no marco do Brasil colônia ou império nunca alcançaram um
sociais que gravitavam em torno do clã patriarcal ou do grande domínio e que, mais adiante,
viriam a se constituir como extratos médios e pequena burguesia na formação da ordem social
de diferenciação social que vão emergindo e se intensificando, o que torna apenas esses
limites sociais menos distintos e mais plásticos, não conseguimos perceber um movimento de
mudança ou transformação (não é só Florestan Fernandes que atesta tal fato) que possa alterar
de maior precisão quanto à especificação do pequeno e com alguma margem de erro, sem
É dentro desse quadro institucional que se questiona quão tributário desta ordem social
e moral colonial, fundada na estreiteza com que a forma produtiva original aqui se instala e
vai institucionalizar “um tom geral de inércia” (PRADO JR., 1999:349), é o sentido do
grau com que ela se desenvolve, por qual lógica - aquela baseada na cooperação ou na ação
Que motivos temos para argüir uma mudança na natureza dessas relações na
dependente - muda de feição apenas para reproduzir-se de forma ainda mais intensificada.
produção mais eqüitativas - as decantadas “parcerias”. Que razões existem para crer que o
início de ciclo inovativo e econômico que, nos distritos italianos tidos como modelo de
capitalista.
tratá-los como interesses individuais em confronto uns contra os outros, é para nós
inadequado à medida que, dentre as demais objeções que a teoria das classes sociais
apresente, impossibilita-nos a análise sob a ótica das relações de dominação dos processos de
cerca a utilização da classificação social, não significa que a lógica dos interesses de classe
não opere concretamente, fato que nos impele a usar este arcabouço teórico que possibilita
produção ora mescladas ora difusas ou, quando individualizadas, imersas numa relação
sua possível (ou impossível) consciência ou ação de classe. Mesmo porque tal discussão é
da pequena burguesia.
que não podem ser deixados de lado sob pena de lançar menos luz ainda sobre essa realidade
desigual que cerca o processo de desenvolvimento nacional e, à medida que o pequeno surge
como forma produtiva que pode protagonizar esse desenvolvimento, a especificidade das
classes sociais no capitalismo dependente precisa ser avaliada em termos de sua influência
Portanto, não discutimos o pequeno enquanto classe ou fração de classe, mas como
uma categoria social que, em relações sociais especificadas, pode ser visto no limite estrito
dos interesses inscritos na dinâmica dessas relações, ou seja, pode ser percebido atuando em
Com isto podemos ver a potência compreensiva que a análise da dinâmica de classes
mas nem por isso menos adequado à conjuntura atual - a utilidade do conceito de classe social
vem sendo questionada por razões internas à própria evolução do capitalismo, como se tivesse
Entrementes, duas objeções devem ser levantadas a esse respeito. A primeira revela a
natureza limitada dessa superação uma vez que estejamos vivendo hoje um momento
escala mundial recolocando a idéia de classes em uma escala mais ampla. A segunda, diz
respeito ao fato de que em países subdesenvolvidos e/ou dependentes tal superação não possa
sequer ser advogada, o que conduz a uma outra argumentação contrária a sua utilização - a da
dificuldade de utilização por se tratar de realidades sociais onde não se desenvolveu uma
Tal problemática no entanto, não significa que uma “ordem social competitiva” não
exista ou não faça diferença, e sim que precisa ser conceituada, analisada e interpretada tendo
em vista uma situação histórica peculiar, “na qual a realidade se apresenta de uma outra
maneira”. É justamente essa outra maneira da realidade que nos interessa à medida que ela se
Além disso, acreditamos que o recurso à análise do pequeno enquanto classe possível
135
objeções feitas por Fernandes e acima apresentadas. Se, no bojo dos processos de
desenvolvimento capitalista e se, no mais das vezes, tal integração à dinâmica capitalista se
estabelece a partir da dinâmica ultracompetitiva que marca o ambiente produtivo, quando não
capitalismo se depara com estruturas econômicas, sociais e políticas elaboradas sob o regime
colonial, parcialmente ajustadas aos padrões capitalistas de vida econômica. Tais estruturas
Se tais condições não permitem que o conceito de classe social se configure como uma
para a negação e destruição da ordem existente, não significa, todavia, que os dinamismos de
classe sufocados sejam suprimidos. É esse lado do fenômeno que nos interessa, como a
dinâmica de classes pode esclarecer quanto à natureza das relações de produção na qual o
colonial não apenas moldaram a sociedade nacional subseqüente, mas “determinaram a curto
mercado mundial”.
especificidade com que se instaura a ordem social competitiva, pois à medida que opera como
pré e anticapitalistas.
A idéia de uma ordem social competitiva incompleta decorre do modo específico com
superficialmente à medida que a degradação material e moral do trabalho persiste e com ela, o
Algumas das características específicas que Fernandes (1981:37) alinha a respeito das
qualitativamente pouco dinâmico” atua como “motor da história” (grifo do autor) mais porque
nele estão concentrados os centros de decisão do que por uma lógica própria do capitalismo
moderno. Esse mesmo núcleo é abrangido por círculos sociais “privilegiados” de uma ou
outra forma, de tal sorte que poderiam ser descritos, relativamente, como “integrados” ou
Segundo, esse núcleo - classes mais ou menos integradas - não se vê como classes e
negam esse caráter às demais categorias e à sociedade global. A palavra classe tem uso
ambíguo que serve para designar grupos de status dissimulando com formas de dominação de
classe e conflitos de classe, bem como o jogo econômico, social e político imposto pelos
históricas, como a equivalência entre classe e estamento, que acabam por acolher
são revitalizados por novas condições econômicas, sociais e políticas, dando lugar a uma
estratificação social pluralista, onde “umas classes socais são mais classes que as outras”.
capitalismo engendra sua própria realidade e que as classes sociais não são diferentes aqui,
Latina, é uma sociedade pluriestruturada onde sua peculiaridade resulta não da diferenciação
estrutural, mas das probabilidades de objetivação que encontra sob o capitalismo dependente.
sofrem com a insuficiência das ditas funções e com a dependência em relação às economias
classe. Com isso, transferem para as classes “baixas” e, em parte, também para as classes
externa não se reflitam para si, embora “à custa da revitalização de relações econômicas, de
139
A segunda, diz respeito aos efeitos indiretos das conexões que se objetivam
atuação social como classe. Não obstante, “o ônus desses efeitos é suportado pelas classes
social competitiva que é possível no capitalismo dependente. “As duas variações apontadas
são apenas aspectos distintos da mesma realidade, evidenciando onde e porque tal ordem
social e a natureza dessa mudança no capitalismo dependente. As mudanças técnicas são mais
passíveis de serem introduzidas em relação aos seus efeitos, à medida que estes possam ser
“transferidos” em grau variado para a PE. No entanto, mudanças além da dimensão material
das técnicas como a cooperação intra e interpequenos é algo menos plausível, conquanto sua
afigure como resultante do dinamismo virtuoso de uma ordem social competitiva capitalista
clássica. Tal perspectiva encerra um aspecto ideológico à medida que subjaza uma possível
relação de dominação.
140
Ora, isso se constitui num ponto crucial ao nosso trabalho, pois coloca em xeque o
debilidades estruturais.
dependente, nos modos e na lógica com que se instala no país, bem como nas conseqüências
vida econômica, social e política brasileira, dentre as quais o espaço da PE. Ou seja, a PE
também se reparte em arcaico e moderno, também se orienta por esta lógica da dependência,
(2003:120) diz:
Importante frisar que, no caso, as determinações do pequeno vão além das impostas
aspectos de natureza social, política e cultural, situadas num determinado tempo histórico. Daí
micro é disfuncional ao sistema capitalista, daí sua extinção prevista. Significa dizer que as
causas da sua permanência não estão no econômico, a menos de uma possível integração
funcional, o que exige algo mais além das disposições individuais do agente para a integração,
Com isso, embora a análise do pequeno enquanto classe em potencial não seja possível
devido a sua situação ambígua, tal qual a pequena burguesia, é possível visualizar o pequeno,
Fernandes) no campo das classes sociais em suas relações, ora com as posições dominantes do
como protagonista por excelência das relações de produção dando lugar a uma ordem social
analisar o pequeno como se fosse classe, sem o ser concretamente em si ou para si, a partir
dessa situação de dominância (ou não) nas relações que estabelece com os demais agentes no
campo.
Da mesma forma, o fato descrito por Fernandes (1981:43) de “[as classes sociais]
através das quais a crosta superficial da ordem social competitiva adquire a aparência dos
modelos históricos originais” nos leva de imediato a perceber a dissimulação operada pela
qual operam as “mudanças” e “inovações” aparentes, também nos permite a pensar o pequeno
classe dominante.
racionalização técnica e não cria condições para uma transformação radical das relações com
o núcleo capitalista, não possibilita maior equidade nas relações com o núcleo dominante,
novo padrão produtivo, cujas conseqüências sociais não estão incluídas em si mesmo e, sim,
articulada, com as raízes lançadas na crise do antigo sistema colonial e com dinamismos
[...], as economias centrais e os setores sociais dominantes”, porém de forma tal a manter, sob
Isto não significa, contudo, dizer que o capitalismo dependente pode ser qualificado
como colonial. O pequeno também não deve ser associado a formas pré-capitalistas, mesmo
que algumas de suas determinações assim indiquem, posto que são formas transformadas pela
evolução capitalista e que estabelecem novas conexões com o sistema de produção capitalista.
sistema de produção capitalista e não mais como atividade marginal desvinculada de nexos
com o campo da produção, deve ser apreciada tanto em termos da incorporação relativa de
sempre impostas pelo núcleo capitalista, por intermédio da ação de suas agências
integradoras.
Não são destituídas de razão, portanto, as críticas feitas ao pequeno em virtude de sua
dessas críticas estendendo-o para além das motivações de natureza técnica e microeconômica,
uma vez que no pequeno também se localizam estas duas dinâmicas que servem aos
acresce-se aqui a lógica econômica da dependência transposta para as relações entre agentes
articulada. Como aponta Fernandes (1981:54), “um não se fortalece sem ou contra o outro.
144
Tais condições, no entanto, não podem gerar sua auto-superação, embora não seja
sobre isso que nosso trabalho versa. Importante perceber como essa dinâmica contém os
caso do pequeno, uma realidade econômica onde o padrão de acumulação de capital promove
ou iludir aos outros, no plano político. Pois a sobre-apropriação repartida não deixa alternativa
vêem compelidos a dar a mais completa prioridade ao privilegiamento direto de seus móveis
lógica e política do conflito de interesses organizados. Aqui, as funções do pequeno vão sendo
desempenhadas não apenas pela racionalização técnica, pelo compartilhamento dos riscos,
pelo ônus da criatividade imposta como condição para a realização/integração ao sistema, mas
são completamente funcionais aos desígnios impostos pela dependência. Vejamos como
desenvolvimento capitalista.
absorção dos dinamismos mais gerais da evolução interna, que se efetivam através da
mas também, de forma localizada, o sentido da mudança social e da mobilidade intentada pelo
junto às classes altas, bem como a orientação a “ser dono do próprio nariz” como alternativas
localizar o pequeno no campo das classes ele tende, no capitalismo dependente, a adotar
não são suficientes para engendrar por si só um desenvolvimento virtuoso sistêmico onde o
complexo padrão de mercantilização do trabalho, o que nos diz respeito, onde a cada dia mais
o pequeno (apenas para efeitos desta análise e num nível funcional) pode ser considerado
como trabalho especializado, “o qual articula as relações entre agentes socioeconômicos que
vivem em diversas ‘idades econômicas’ e estão presos [...] a diferentes modos de produção
condensação funcional positiva máxima a uma posição extrema neutra, passando por vários
Tal gradiente pode explicar o amplo espectro de existência do pequeno que varia em
integração ao sistema de poder, sempre, contudo, limitada a partir dos extratos mais
ditam as condições possíveis onde “modernizações” do pequeno podem ser levadas a cabo e
EMPRESA
as perspectivas que orientam esse processo. Ao buscarmos acompanhar este processo em suas
funcionalidade, às vezes, é reconhecível pelo agente pequeno, por outras, não se deixa
atual, situação que é amplificada e especificada pelas condições estruturais específicas com
potencial da PE competitiva para modificar essa ordem social e o sentido das transformações
entendendo que tais relações são refletidas nos discursos a respeito da ação, papel e função da
lógica instituinte é concebida nos moldes do modo de produção capitalista. Da mesma forma,
queremos com isso denominar PE aquela forma produtiva que já não é pensada de outra
que esta se distingue de outras formas produtivas organizadas segundo outras relações de
produção, ou então conforme uma determinada forma de produção passa a ser objetivada
como PE capitalista e no sistema capitalista. Com isso queremos dizer que existe um
que, podemos dizer, compunham uma pequena produção, ou melhor, o resultado da produção
econômica, social e política tal que se institucionalizam logicamente a partir das concepções
constante das relações de produção dominantes. O trabalho de Ferlini (1996) traz uma
institucionalização empreendido por essas categorias intermediárias que, só bem mais tarde,
podem ser compreendidas naquilo que se chama classe média. Para nós importa perceber a
necessidade de uma visibilidade social como o móvel primordial que orientaria o esforço de
ambiente institucional, tem especificidades institucionais que não podem ser ignoradas.
desenvolvimento do capital.
Como resposta à queda das taxas de lucro na década de 70, os anos 80 são marcados
por uma ofensiva revolução tecnológica na produção, pela globalização da economia
e pelo ajuste neoliberal. [Na produção flexível] forja-se uma articulação entre
descentralização produtiva e avanço tecnológico, [...] entre trabalho ext remamente
qualificado e desqualificação. [...] Trata-se de terceirizar e subcontratar uma rede de
pequenas/médias empresas, muitas vezes com perfil semi-artesanal e familiar
(BEHRING, 1998:178).
Além das tecnologias atuais serem poupadoras de mão de obra e capital intensivas, as
técnicas japonesas (JIT e kanban) permitem que a demanda oriente todo o processo de
subproletarizado.
controle e uma capacidade decisória cada vez mais ampliados sobre o conjunto de operações
151
produtivas que executa, tal situação possibilita uma intensificação acentuada do processo de
fatores produtivos, de forma a assumir uma forma absoluta, meio e fim em si mesmos, em
termos do qual seja possível relacionar, expressar e realizar qualquer outro valor possível e
existente.
que a “learning economy” da Dinamarca de Lundvall (2002) carece de coesividade social para
poder existir, que os distritos marshallianos italianos parecem aproximar-se de seus limites e
forma como ele passa a ser “encarado” pelo pequeno empresário mal sucedido na sua
CAPITALISTA
requisitos funcionais primários, que ordenados em termos das relações de controle que
No sistema de ação social a esfera social – responsável pela interação entre indivíduos
modelo de ação social, Blau (1972) nos oferece uma visão bastante didática do que nos
primeiro requisito de uma instituição social consiste em explicitar o curso da ação, estabelecer
154
independentemente de quem as realize. Fazer com que essas regras de conduta sejam
legitimadas por valores tradicionais e impostas de forma coerciva por grupos com poder,
The basic cultural values and beliefs that are sacred or virtually sacred to people
make them eager to preserve these ideas and ideals for future generations. The
investments made in the organized patterns of social life that are legitimated by
these values and embody them, [...] make men interested in preserving those too.
Formalized arrangements are instituted perpetuating the legitimate order and the
social values that sustain it through time by making them independent of individual
human beings. The organized community survives total turnover of its membership,
often for many generations... What persists are the principles governing social
relations and patterns of conduct, and the reason for their persistence is that they
have become institutionalized29 (BLAU, 1972:104).
sociais externos que são transmitidos historicamente e valores sociais internalizados que são
histórica que existe”, em parte, externa e independentemente dos seres humanos que
constroem as sociedades. Por sua vez, a transmissão dos valores e normas culturais básicos no
processo de socialização é que “dá a estas formas carne, sangue e vida contínua”.
A sustentação das instituições se enraíza na estrutura de poder, uma vez que são os
grupos dominantes que fazem prevalecer suas convicções e submetendo-as de forma coerciva
desses padrões por parte dos grupos dominantes da sociedade (BLAU, 1972:107).
29
Os valores culturais básicos e crenças que são sagrados ou virtualmente sagrados para os indivíduos faz com
que estes últimos desejem preservar estas idéias e ideais para as futuras gerações. Os investimentos feitos na
organização de padrões de vida social que são legitimados por estes valores, incorporando-os, [...] faz também
com que os homens queiram preservá-los. Arranjos formais são instituídos perpetuando a ordem legítima e os
valores sociais que os sustentam através dos tempos tornando-os independentes dos seres humanos individuais.
A comunidade organizada sobrevive à substituição completa de seus membros, freqüentemente por muitas
155
Blau (1972) inclui o sistema de estratificação social como instituição que tem função
gestão e administração duradouros ou permanentes” são vistos como instituições que têm a
social é possível, mas “as instituições impõem limites históricos à estrutura social” que, por
Ao mesmo tempo, afirma que a herança cultural de uma sociedade contém o que
e que não se encontram explicitados em formas institucionais e que se constituem como fonte
gerações... O que permanece são os princípios que governam as relações sociais e os padrões de conduta, e a
razão para tal persistência é que eles se tornaram institucionalizados (tradução nossa).
30
Embora alguns movimentos de oposição formulem ideologias revolucionárias que rejeitam mu itos valores
básicos e advoguem a completa subversão de muitos arranjos institucionais, eles o fazem dentro de um
arcabouço onde alguns ideais e objetivos últimos são legitimados pela cultura prevalente. [...] Os próprios
valores culturais que legitimam instituições existentes contêm as sementes de sua própria destruição, porque as
expectativas idealizadas desses valores crescem nas mentes dos homens para justificar a ordem social existente e
podem não ser completamente encontradas, podendo assim servir para justificação ou, se necessário, para
oposição (tradução nossa).
156
adaptado sistemicamente ao todo, enquanto a passagem final nos mostra a lógica com que são
mecanismos de competição. É como se, a despeito das individualidades nas quais as ações se
constituem e das estruturas que limitam e orientam tais ações existisse uma lógica de
são importantes: a primeira diz respeito ao caráter do padrão normativo em si; e a segunda, ao
significa o quanto ele está comprometido e motivado para agir de acordo com certos padrões
31
É possível reduzir os imperativos funcionais essenciais de qualquer sistema de ação e, conseqüentemente, de
qualquer sistema social a quatro, que tenho denominado como manutenção de padrões, integração, consecução
de objetivos e adaptação. Eles estão listados em ordem de importância do ponto de vista do processo de controle
cibernético de ação em sistemas típicos sob consideração (tradução nossa).
157
personalidade.
variabilidade com que um sistema se relaciona com sua situação, ao contrário da constância
fins, portanto, busca resolver o problema colocado entre a tendência inercial do sistema e suas
necessidades em virtude dos intercâmbios com uma determinada situação, indicando uma
direção ou meta para solução do problema que está relacionado a uma situação específica.
Como é plausível que exista uma pluralidade de fins ou metas, é preciso que este sistema de
fins seja provido com os recursos (escassos) necessários a sua consecução. A função de
A função integração tem sua importância realçada à medida que se considere que
sistemas que compõem seu ambiente. Com isso, o problema funcional de integração diz
contribuições para o efetivo funcionamento do sistema como um todo. Significa dizer que a
função integração está relacionada com o problema de manutenção dos padrões, bem como
com a situação externa, através dos processos de consecução de fins e adaptação. Parsons
(1961:40) considera que na função integrativa estão focalizados os mais distintos processos e
propriedades de um sistema social e que os problemas dessa natureza se situam no centro das
virtude de: sua contribuição para o produto nacional; absorção de grande contingente de mão
158
diversos campos, diretamente ou indiretamente, como meio ou fim, até a sua mais completa
sistêmico absolutamente harmonioso, onde cada tipo de unidade vai ter um papel
novo “como resultado da maior diversificação da demanda [...] mais oportunidades surjam
Elas servem de suporte, de ponta de lança no novo como teste, além de ser mais uma
empresa atuando nos mercados. Serve aos propósitos da própria acumulação sistêmica quanto
aos propósitos de legitimação social dos governos, como meio de experimentação, como meio
Wloszezwoski (apud BARROS, 1978: 64) nos revela o caráter plástico e universal da
PE ao dizer que:
um papel e uma posição relativos a sua própria capacidade acumulativa, reconhecíveis pelo
posicionamento primário se altere, implicará numa operação tanto mais ideológica quanto
esse reposicionamento seja relativizado como transformação sistêmica. Isto não significa que
sobre essas PE não se opere ideologicamente conquanto seja necessário maior intensificação
Münch (1999) intenta uma nova síntese da teoria parsoniana da ação social
mesmas bases antes propostas, ou seja, “ao mesmo tempo integrando e superando o
A explicação funcional é tida como a mais adequada para a análise das instituições.
32
Com funcionalidade “primária” queremos nos referir à inscrição simples e devida tão somente a sua
capacidade limitada de acumulação, sem precisar para isso de outros constructos ideológicos associados. A PE
em Coutinho e Ferraz (1993) tem esse alcance simples. Souza e Araújo (1983) e Oliveira (1987:32) vão mostrar
160
discursivo que questiona a validade do esquema. O ajuste pode ser gradual conforme existam
através da mobilização de poder e carisma. Para que uma mudança ocorra, é necessário que
qualquer mudança não-caótica “depende sempre de processos graças aos quais as instituições
significados e significações básicas, que organizam o telos sistêmico e que, por isso, devem
PE como uma estrutura e dinâmica produtiva inscrita num sistema de produção capitalista,
percebemos que esta forma produtiva se institucionaliza, ou seja, adquire um papel específico
que se configura segundo uma série de propriedades funcionais ao sistema como um todo.
sua operação na circulação, Ferreira (2000) na organização industrial. Isso não significa, contudo, que sua
institucionalização não seja operada ideologicamente.
161
Segundo a lógica sistêmica, se a PE fosse disfuncional para o capital, seria por ele
ou ilusória dos novos para processo posterior de adaptação ou cooptação); inclusão (absorção
do novo, transformação em função dos próprios valores e posterior submissão aos interesses
linguagem sistêmica – deve ser funcional à ação específica de reprodução capitalista, uma vez
que esta finalidade se situa em ordem superior a outros fins mais individuais. Se a PE
economias de escala e utiliza-se dos fatores de forma sub-ótima, isto passa a ter menor
relevância em relação à reprodução sistêmica, ainda mais quando esses fatores disfuncionais
implicam mais ao nível das unidades individuais (uma PE específica). Nesse caso, uma outra
analogia – a do organismo biológico individual que cresce e adapta-se de acordo com sua
momento em que:
Criavam-se as condições para perguntar pelas funções sociais da ciência [no qual]
impunha-se, como tarefa fundamental, definir as condições da máxima
funcionalidade da ciência, isto é, as condições em que esta deveria ser praticada a
fim de evitar os abusos que se começavam a notar na sociedade americana, mesmo
que para isso fosse necessária a intervenção estatal, sem, no entanto cair no
esmagamento da autonomia da ciência, como acontecia nos estados totalitários. A
enumeração dessas condições revelaria forçosamente que, embora a ciência pudesse
coexistir com diferentes estruturas sociais, era nas sociedades liberais e
democráticas que podia atingir máximo desenvolvimento. É esta tarefa que a
sociologia funcionalista americana - que já há muito fizera a sua ‘opção de classe’ -
impõe a si mesma pela mão de Merton.
33
Marshall já pensava segundo tal perspectiva, ao avaliar a evolução da emp resa representativa (1982:212).
163
A diferença entre uma função latente e a operação ideológica que encobre uma relação
de dominação, no nosso caso, reside no fato do sujeito da ação funcional não ser o
beneficiário não-previsto dos efeitos gerados pela função. Merton (1957) quando diz que o
conceito de função latente “clarifies the analysis of seemingly irrational social patterns” isto
diz respeito aos resultados aparentemente irracionais para um determinado sujeito que
resultam de uma ação formulada e levada a cabo por este mesmo sujeito, o que não é o caso
dos efeitos funcionais que a PE tem para a economia circulante, para as ideologias liberais,
para a competitividade aumentada das cadeias produtivas, para legitimar a ação administrativa
constituem como sujeitos muito mais amplos, onde o pequeno – agente e objeto da ação –
recompensada por razões de status – prestígio e poder advindos da condição de “ser dono do
próprio nariz” ou, quem sabe, em virtude dos benefícios decorrentes da melhora de sua auto-
estima. Todavia, a institucionalidade que recobre estes objetivos não se origina na esfera das
que são normalmente apregoados e indicados como estruturante da ação. O mesmo não
poderíamos inferir quando o indivíduo obtém sucesso na sua empreitada, pois nesse caso é
importante que ele relacione esse sucesso aos atributos competitivos apregoados, funcionando
de forma latente para ter prestígio e poder ou para virar um case e, com isso, auferir vantagens
Uma relação funcional latente difere de outra causal conforme essa funcionalidade não
é objetivada diretamente pelos agentes em relação senão como um resultado derivado. Mesmo
assim, uma função intencional deve contribuir para a integração sistêmica estável, que implica
em benefícios correspondentes, e não para gerar uma relação de dominação, daí o caráter
não se pode dizer dos desdobramentos que o pensamento sociológico funcionalista vai
Foi-se tornando claro que as ciências sociais tinham entrado num pacto social com
as classes dominantes nos termos do qual o desenvolvimento científico-técnico seria
conquistado pelo preço da neutralização política [ou] da cooptação, [onde] os
instrumentos teóricos e metodológicos tinham sido desenvolvidos para colocar o
sistema de dominação fora do horizonte problemático e assim converter todos os
problemas sociais em puzzles com mais ou menos peças, mas sempre em número
limitado e segundo as definições pré-estabelecidas.
social.
Em todo momento essa natureza da ação é explicada antes pelos seus efeitos
(consecução de fins) do que a partir das condições em que estão postas (a teoria denominada
manifesta não parece encontrar ressonância no conjunto da nação brasileira que, inclusive
como potencial ou esperança. No caso dos agentes econômicos, tal situação não se mostra
aos agentes.
imperativo que se coloca desde sempre é a superação de um atraso que se manifesta como
ineficiência econômica e comunitária e que faz com que toda a conjugação de esforços não
possa ser acusada de operar contrariamente à necessidade de mudança. Nesse caso, o apelo à
evidencia mais explicitamente nas relações de produção às quais podemos vincular a PE, não
é por outra razão que o foco da análise funcionalista volta-se em grande parte para a crítica à
No caso brasileiro temos uma ordem social capitalista original caracterizada pela
do fator trabalho, o que implicaria uma ordem hierárquica das funções de controle distinta da
Essa discussão tem a ver com a hipótese de que a motivação a constituir uma PE é
antes de natureza social relacionada à posição do sujeito no campo social em termos de status
Imagine uma pesquisa que vá perguntar ao pequeno empresário qual a razão mais
importante, determinante para ter se transformado em PE? É pouco crível que a disposição em
abrir uma empresa e assumir os elevados riscos inerentes a isso possa medrar sem
dificuldades num ambiente onde até bem pouco se organizava como uma burocracia
contradições que marcam nossa formação social e econômica, ou seja, que se trata de um
fenômeno conflituoso que não consegue ser resolvido em termos funcionais, a abordagem
funcionalista trata como latente a funcionalidade manifesta da PE, pois a incorporação desses
discursivos, indicando que qualquer caminho analítico nos leva a revelação de uma operação
1993) pode ser tomado como um exemplo da perspectiva funcionalista de análise e, embora
não trate da PE senão incidentalmente, pode ser percebido como manifestação do pensamento
O papel da pequena empresa também é citado no preâmbulo sendo proposto que seu
industrial brasileira, invariavelmente, não constituir como seu objeto as pequenas empresas.
atendimento, uma vez que isso proporcionará o aproveitamento a mão de obra excedente fruto
produtivas é decorrência de sua maior flexibilidade produtiva. É invocado também seu papel
por isso e não seria, podemos dizer, ético, fazer com que as pessoas empreendessem por conta
desse papel social, uma vez que não seria esse o objetivo das mesmas. Assim, considerando
ser informadas quanto aos riscos, senão qualquer estímulo à PE pode ser visto como uma
indução irresponsável, como mandar uma criança realizar uma tarefa para a qual não está
preparada e cuja responsabilidade não pode ser a ela imputada. Se isso é verdadeiro, ou
melhor, razoável, a atribuição das agências voltadas ao fomento de pequenos negócios deveria
168
que estes estivessem conscientes quanto às possibilidades, limites e requisitos para o sucesso.
partes dos agentes e seu envolvimento nesses processos. Num caso onde os agentes tendem a
significando uma alternativa com alto grau de incerteza que tenderia a apresentar resultados
institucionalizado pela sociedade, nem tampouco pelos agentes (TAUILE, 1996; CANO,
1993).
Por outro lado, é bastante possível, quase certo que exista uma fração de agentes que,
melhor informados, mais dispostos ao risco, mais modernos, poderia ser dito, estejam mais
propensos a participar e buscar cooperar em tais programas. Nesse caso, se tomarmos o tecido
produtivo. Assim, a probabilidade de programas deste tipo virem a ser capturados pelo grande
ou por empresas que se encontram no limite superior das faixas classificatórias como
(1996); Carullo (1998) e Souza e Botelho (1999) apontam esse viés como característico das
políticas voltadas para o pequeno, o que ao menos ampara nosso argumento, à medida que
também é percebido na forma como o trabalho vai se posicionar em relação a uma série de
impressão de tratar-se mais de um trabalho programático do que analítico. Isso pode ser
169
gestão. No entanto, não avança nem na identificação das causas de tal comportamento
histórico, nem em proposições no sentido da mudança desse viés, preferindo afirmar que
pouco as políticas públicas podem fazer por se tratar de espaço de decisões privadas e
focalizando a ação para outros elementos e agentes do sistema produtivo. Fica evidente o
limite dessa abordagem que ao não admitir o conflito obriga-se a atuar por ajustamento e a
A mesma coisa acontece com o papel da cooperação, tida como eixo das mudanças, e
a forma como deve ser incentivada quando inverte o foco do problema e aponta uma série de
medidas a serem aplicadas sobre a força de trabalho para o desenvolvimento de uma gestão
uma ordem social pretérita que ainda faz sentir seus efeitos hoje. Nesse sentido, então seria
pertinente indagar quanto às razões que tornam tais camadas pouco propensas a instaurar um
ambiente competitivo nos moldes do capitalismo dos países avançado ou ainda, indagar sobre
as motivações que teria a força de trabalho para vir a ser cooperativa, criativa, participativa.
mudanças à esfera das decisões individuais dos agentes envolvidos. A origem das dificuldades
exemplo largamente usado, onde as tentativas de emulação mal sucedidas, certamente, são
existência de um agente interessado e racional que vá fazer uso adequado e estratégico dessa
informação.
dado à dimensão individual tida como determinante das ações estratégicas, como se em outros
partir da lógica reprodutiva do capital, mais central às grandes corporações que absorvem ou
reprodução se tornam evidentes. A mera aplicação de técnicas, modelos, casos não garante a
condução do processo numa mesma direção de outros processos, senão facilitam e preparam o
171
espaço para aqueles agentes que saem na frente e/ou que são propositores mais ativos ou
interessados.
empresário, sem atentar aos condicionantes macroeconômicos e sociais” impostos à PE. Mas
isso não bastaria o estudo horizontal e sincrônico dos relacionamentos entre esses elementos,
resultar para a PE, deixando a impressão de acolher apenas os atributos positivos passíveis de
Eagleton (1997) afirma que cada uma das concepções construídas acerca da ideologia
pode ser refutada ora como parcial ora como exagerada ou inadequada, sugerindo que melhor
(1997:50) sugere que, para ter eficácia, a ideologia deve procurar ligar os dois níveis – prático
pequeno pela ação do Sebrae que na sua ação comunicativa se utiliza largamente desta
conteúdos fatuais e compromissos morais, para fazer agir no e pelo pequeno, deixando
evidente que tal ação ideológica contém um sentido afirmativo e propondo a construção de
se defini-la como tentativas sistemáticas de explicar ou tornar plausível aquilo que de outro
modo seria objeto de críticas (EAGLETON, 1997:56). Nesse caso, podemos falar de
racionalização como mecanismo-base da auto-ilusão, uma vez que essa verdade pode estar
racionalização ideológica transposta para a esfera cultural do pequeno. Outras situações nos
da PE que, em vez de procurar saber quanto aos princípios que regem sua prática, a tomam
como um “paralogismo que consiste em tratar os objetos construídos pela ciência [...] como
evidenciar o caráter social de sua ação, ou seja, não deveria ser necessário demonstrar para o
legitimidade, fazendo com que valores e interesses específicos sejam projetados e aceitos
como universais. Mas é importante que tal aceitação se caracterize como uma aceitação
“pragmática”, ou seja, por não vislumbrar outra alternativa realista a não ser a de endossar o
direito de dominação posto como legítimo. Não se trata de convencer os outros de que seus
34
Modalidade casada de apoio onde para a operação de crédito implicava a participação em treinamento ou
capacitação gerencial do empresário que foi responsável pelo crescimento e reconhecimento da agência até
quando durou o modelo de financiamento subsidiado. Acreditamos que, atualmente, se a modalidade pudesse
existir, ela operaria no sentido inverso de viabilizar as operações de crédito.
174
interesses estão de acordo com o deles, mas de formular esses interesses de modo a tornar isso
plausível.
Se devo persuadir de que é relevante do seu interesse que eu seja interesseiro, então
só poderei ser efetivamente interesseiro se me tornar menos assim. Se os meus
interesses, para florescerem, têm de levar em conta os seus, então serão redefinidos
com base nas suas próprias necessidades, deixando assim de identificar-se consigo
mesmos. Mas os seus interesses também deixarão de identificar-se consigo mesmos,
uma vez que agora foram retrabalhados de modo a serem alcançados somente a
partir da matriz dos meus (EAGLETON, 1997:61).
O sistema social de Parsons tem essa perspectiva na sua base explicativa. Sua força
coesiva depende da função integrativa, para a qual o sistema de ensino tem um papel
deixando de apresentá-los como parciais, no auge, diz Eagleton (1997:61), “esse poder irá
comum”.
específica de empresas e apoiada numa relação entre tamanho e “intensidade de uso do fator
trabalho”, não existindo evidências empíricas que demonstrem essa relação35 . Além disso,
35
Rattner (1982) credita essa dinâmica da PE mais a processos setoriais e circunstâncias conjunturais do que a
uma especificidade da PE. Hallberg [s.d.] afirma não existir uma relação sistemática entre criação de empregos e
tamanho da firma e que tal fato é um dos mitos construídos em torno da figura da PE.
O ressurgimento do empreendedorismo norte-americano baseado nas características “intrínsecas” de promoção
de empregos e inovações da PE acontece no governo Carter, um ex-pequeno empresário, como decisão política
amparada por duas pesquisas que davam conta da PE como “maior fonte de inovação” Meserve (1982) e outra,
175
relações produtivas não traria conseqüências ainda mais desfavoráveis. Em 2002, 85% das
empresas abertas só geram ocupação para seus sócios e não têm empregados, tendência já
risco a sobrevivência da agência, seu discurso básico, antes orientado para o “fortalecimento”
geração de emprego e renda, providência que vinha ao encontro também de sua própria
situação. A agência adota um discurso que vai institucionalizar essa associação constituindo-a
como ação social e desenvolvimentista também está associada com o que Douglas (1998)
que afirmava que oito em cada dez novos empregos criados nos EUA deviam-se à PE conduzida por David
Birch do MIT.
Segundo Anglund (1998:35): “As notícias de Birch se espalharam rapidamente influenciando, quase de imediato,
as estratégias de estado para o desenvolvimento econômico [e] a causalidade histórica que fazia da pequena
empresa o maior empregador e a maior criadora de empregos da nação logo tornou-se um juízo convencional em
Washington” (tradução nossa). Birch publicaria um artigo no Wall Street Journal censurando os políticos pelo
uso inadequado dos resultados da pesquisa, estes persistiram em retratar a PE como uma “engine of job
creation”.
No início dos anos oitenta a mesma problemática e argumentação vai atrair a atenção de vários segmentos da
sociedade brasileira (TAGLIASSUCHI, 1987).
36
Embora guardando as diferenças entre os efeitos que a escolha a partir de demandas possa ter nas motivações
para a ação dessas duas categorias – político e cientista.
176
moderno, pelo fato de que os agentes teriam consciência quanto à natureza das relações,
fazendo da ideologia uma espécie de “falsa consciência esclarecida”, o que poderia ser
expresso assim: “eles sabem muito bem o que estão fazendo, mas mesmo assim continuam a
fazê-lo”. A ambigüidade do pequeno, que enquanto categoria social intermédia tem como
móveis de sua ação a competição e emulação, seria um apoio a tal situação, pois à medida que
eles agissem de acordo com essa “consciência” da realidade, nossa discussão se esvaziaria e a
ilusão, é ela que estrutura nossas práticas. Nesse caso a frase seria: “eles sabem que, em sua
atividade, estão seguindo uma ilusão, mas ainda assim o fazem”. Dessa forma a ideologia não
está inscrita apenas no que se pensa sobre uma situação, mas na própria situação o que, no
tem um apelo irresistível sobre o pequeno, o que lhe permite abrir mão de justificações
por si próprio descartando o recurso às subjetividades profundas, o mesmo autor advoga que
tal argumento é no mínimo parcial, uma vez que não se verifica inteiramente na prática, e que
Sobre tal perspectiva o autor relembra que ideologia é uma questão de significado,
conteúdo, vão patrocinar uma “hemorragia de significado”, causa de várias patologias sociais
Sobre a relação da ideologia com a prática, Eagleton citando Gramsci diz que “a
seus governantes e noções que se originam, mais diretamente, de sua experiência prática”
(EAGLETON, 1997:44).
A consciência trágica [...] que descobre a diferença entre o que é e o que poderia
ser e que por isso mesmo transgride a ordem estabelecida, mas não chega a
construir uma outra existência social, aprisionada nas malhas do instituído. Diz
sim e diz não ao mesmo tempo, adere e resiste ao que pesa com a força da lei, do
uso e do costume e que parece, por seu peso, ter a força de um destino (grifos da
autora e negrito nosso).
Tal mistura expõe aspectos cruciais que podem fornecer uma interpretação sociológica
mais consistente dos fenômenos que constituem nossa formação social. Segundo a autora, há
simultâneos, marca profunda da dominação” (grifo nosso), que navega vacilante entre duas
Ambigüidade e origem popular são duas características que podem ser, no geral,
Uma marca dessa existência ambígua pode ser percebida no comportamento relutante,
avaliações da agência ao longo de sua existência (BARBOSA, 1981; PINTO, 2004), diante
178
dos apoios em prol de maior competitividade e modernização que lhe são ofertados, bem
como explica o “sucesso” da metodologia que o “crédito orientado” teve para “legitimar” a
segundo sua ideologia vão interpretar tais comportamentos como decorrentes de um apego a
uma auto-suficiência do microempresário que seguia resistindo às dificuldades que lhe eram
mais provável encontra-se na visão microeconômica e abstrata de firma, embora possa ser
processo evolutivo, com a qual Marshall comungava (STRAUCH, 1982) e até devido à
“em que o SEBRAE pode ajudar esses empreendedores?”, diante do resultado de uma
pesquisa que indicava que oito entre dez empresas fechavam nos três primeiros anos de
relativa de todo o seu saber e habilidades acumulados ao longo de sua vivência, condição
altamente valorizada no modelo canônico dos distritos italianos, por exemplo. Não afirmamos
que não exista uma falta de capacitação específica, no entanto, o ponto de partida é diferente
o que legitima uma necessidade de capacitação instituída como algo natural e universal.
instruída” cai por terra imediatamente, ao constatarmos que o Nordeste italiano, hoje modelo
de sucesso desses eventos, era ainda no terceiro quartel do século passado uma região que
ostentava os maiores índices de pobreza do país, onde grassava o analfabetismo e cuja renda
Portanto, é necessário que um outro olhar seja lançado sobre tais comportamentos à
medida que o argumento clássico não se aplica. Como diz Chauí (1993:122):
Seres e objetos culturais nunca são dados, são postos por práticas sociais e históricas
determinadas, por formas de sociabilidade, de relação intersubjetiva, grupal, de
classe, da relação com o visível e o invisível, com o possível e o impossível, com o
necessário e o contingente (negrito nosso e grifos da autora).
modernização produtiva é por que assim as condições do campo onde se insere possibilitam.
estas são praticadas. Nesse sentido, a utilização da sociologia da prática proposta por
constroem suas opções de ação determinadas segundo uma ordem social estruturalmente
Nesse sentido, bloqueado objetivamente na sua motivação enquanto classe média, sua
uma série extensa de divisões e oposições de caráter antes valorativo que conceitual. Não
percepção de que a cultura popular, no caso do pequeno, engendra uma consciência onde as
181
partir de ambigüidades que não estão na consciência dessa sociedade, mas na realidade em
que vivem. Nesse sentido a análise da individualidade tem menos a oferecer que a da
assunto criativo e amplo e não de um simples ‘reflexo’ das idéias dominantes”. E conclui
dizendo: “Estudar uma formação ideológica é [...] examinar o complexo conjunto de ligações
diretamente com o termo ideologia, não faz do conceito algo distante de sua obra. Além da
noção de habitus, os fenômenos que analisa sob a égide do capital simbólico são impregnados
por ideologia. Na verdade, como constata Eagleton (1997:140), Bourdieu está mais
que geram práticas particulares” que Bourdieu, segundo Eagleton, se aproxima mais da
ideologia percebendo como o habitus induz “nos agentes sociais aspirações e ações
182
compatíveis com as exigências objetivas de suas circunstâncias sociais [e] em sua forma mais
1997:141).
Esta colocação nos permite focalizar com precisão como a promessa ideológica da
Nesse sentido um novo habitus competitivo surge como uma incorporação prática de
disposições ao nível da ação subjetiva do pequeno. Novo na perspectiva dos novos atributos
trabalhado como ideologia. Mas novo também, e principalmente, porque como “inconsciente
forma como Bourdieu busca superar a questão básica de sua praxiologia entre objetividade e
subjetividade, ou como ele diria, uma forma de “sair da filosofia da consciência sem anular o
chamar de “cultura estruturada”, indicando com isso disposições que não poderiam ser
modificadas através de ações que tenham como objetivo a mudança cultural, entendida aqui
objeto através da qual uma ordem social procura naturalizar sua arbitrariedade, relacionando
183
ideológica.
social estável é algo inconcebível e sobre o qual não é preciso dizer e que, quando desafiado
então é heterodoxia, contra a qual a ordem deve afirmar suas novas pretensões em uma nova
ortodoxia.
dóxico – ideológico em termos da reprodução sistêmica do capital e podem ser tomados como
desenvolvimento social e econômico do país, enquanto é ortodoxia, que repõe sob novos
Não é por outra razão que o Conselho Deliberativo do SEBRAE compõe-se por
direta da PE, com o beneplácito do Estado (GODINHO, 1996). A surpresa manifestada por
37
Para Bourdieu (1990:52), a sociologia norte-americana é feita por doxósofos (Parsons, Merton e Lazarfeld)
que, numa releitura dos clássicos europeus impõem uma dominação sobre as ciências sociais na forma de um
184
definida sempre a partir de regularidades dadas fora de sua existência singular, construídas
lógica e racionalmente a posteriori de sua realização, enquanto sua prática é concebida como
espontaneísmo natural, evolutivo, obra de uma harmonia misteriosa diante da qual o objeto se
coloca como fato consumado, resolvendo o problema, o que, para Bourdieu (1983:67) só pode
ser fruto de uma “representação ingênua da ação coletiva” que “provém de uma filosofia da
assume uma posição específica no campo onde a PE disputa posições, considerando que seu
diz e que não se reduz à mera informação. Essa posição é assumida pela agência, por
todo lógico e unificado, funcional e sistêmico que imperou por muito tempo.
185
Conceição (2002). Todos esses diferentes olhares da perspectiva institucionalista são válidos
parece haver uma base comum às diversas abordagens quanto à ação institucional, ao papel
operativo das instituições sobre a realidade social onde ela opera, sua ação cognitiva, seu
onde qualquer alusão a uma esfera supra-individual de pensamento provoca aversão visceral,
Durkheim diz que “as classificações, as operações lógicas e as metáforas que nos guiam são
algumas idéias e a ausência de sentido de outras são lidadas como algo que faz parte do
vida e de morte do indivíduo diante do impasse, uma vez que o raciocínio individual não
consegue resolver tais problemas, porque o pequeno empresário reluta em buscar o apoio do
esforço de treinamento gerencial massificado não consegue alterar esse quadro e nem mesmo
quadro analítico mais abrangente que permitisse uma compreensão do fenômeno a partir do
sentido estratégico que se quer atribuir a ele e dentro da dinâmica relacional capitalista,
Um argumento que poderia ser lançado no sentido de explicar tal ausência por parte da
em disputa por posições no campo do poder. Nesse sentido as ideologias cumprem funções
duplamente determinadas, suas características mais específicas pelos interesses da classe que
elas exprimem, mas também pelos interesses específicos daqueles que as produzem e à lógica
medida que municia a agência com novos argumentos ideológicos que vão permitir reelaborar
seu discurso sob novos argumentos funcionais à reprodução, não se constituindo sequer como
simbólica”. Nesse sentido convém refazer este percurso38 buscando evidenciar as razões e
38
As interpolações grafadas em negrito são nossas.
187
mas que nas relações sociais capitalistas se manifesta como função política à medida que se
particulares como interesses comuns ao grupo. Nesse sentido a cultura dominante produz um
de poder, que na forma e no conteúdo dependem do poder dos agentes e/ou instituições
frações estão envolvidas numa luta simbólica buscando impor a definição de mundo social
mais conforme aos seus interesses, à medida que impõem um campo das tomadas de posição
ideológicas como forma transfigurada do campo das posições sociais. Para Bourdieu, essa luta
pode ser “conduzida por procuração” por especialistas da produção simbólica, [no caso o
aparência de isenção a sua ação] que ao servirem aos seus interesses no campo da produção
simbólica servem aos interesses da classe dominante em outros campos, disputando com isso
especialistas produzem para a luta pelo monopólio da produção ideológica legítima – e por
meio dessa luta – ,sendo instrumentos de dominação estruturantes pois que estão estruturados,
produção ideológica e o campo das classes sociais, a estrutura do campo das classes sociais”.
188
trabalho de produção, no caso simbólica que equivale à divisão social do trabalho [de forma
que o SEBRAE se distingue cada vez mais da PE, mas a domina simbolicamente. Nesse
Decorre dessa característica que as funções e a estrutura das ideologias são devidas às
condições sociais de sua produção e de sua circulação e às funções que elas cumprem para os
especialistas que as produzem e, depois para os não-especialistas. Da mesma forma que são
duplamente determinadas e devem suas características mais específicas aos interesses das
classes ou frações que elas exprimem, mas também aos interesses específicos daqueles que a
convergência entre a ameaça à extinção da agência no final dos anos oitenta e sua
transfiguração em serviço autônomo, com “S”, passando daí por diante a acumular
faz com que as lutas no campo autônomo [do apoio à PE] produzam “formas eufemizadas”
discurso dominante [...] que tende a impor a apreensão da ordem estabelecida como natural
(ortodoxia) por meio da imposição mascarada (logo, ignorada como tal) de sistemas de
sistema que esconde aos olhos dos produtores como aos olhos dos “profanos” que os sistemas
dos sistemas simbólicos é devida ao fato das relações de força que eles exprimem só se
O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e
fazer crer [a PE como competitiva ou não] graças ao efeito específico de mobilização, se for
reconhecido, ignorado como arbitrário, ou seja, o poder simbólico se define numa relação
determinada entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, na própria estrutura do
transformação]. O que faz o poder das palavras – dos conceitos – e das palavras de ordem
[“o problema da PE não é ser pequena é estar isolada”] poder de manter ou subverter a
ordem, é a crença na legitimidade das palavras [o que explica a centralidade dos “cases de
um poder “capaz de produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia” (BOURDIEU,
1998:15).
autorizados, em última instância, pelo Estado. A autora critica uma visão racionalista do real,
que justifica ideologicamente uma racionalidade hegemônica que determina as opções dos
sujeitos sociais. Sua análise nos interessa e nos auxilia à medida que seu desenvolvimento vai
política que está implícita na produção do saber – trabalho para elevar à condição de conceito
“Discurso competente é aquele que pode ser proferido, ouvido e aceito como
verdadeiro ou autorizado porque perdeu os laços com o lugar e o tempo de sua origem. [...] É
o discurso instituído”. Nele, a linguagem permitida e autorizada segue a seguinte regra: “não é
qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa em qualquer lugar e em qualquer
discurso competente com dupla orientação – como discurso do poder e como discurso do
reconhecimento recíproco dos participantes como superiores e subalternos e; por fim, a idéia
de que a direção decorre de uma razão administrativa interna aos imperativos da racionalidade
da Organização, ou seja, “tem-se aparência de que ninguém exerce poder porque este emana
cargos e funções que, por acaso, estão ocupados por homens determinados” (CHAUÍ,
1997:10).
No mundo da produção, a organização aparece como idéia que serve para “cimentar a
especialista é determinado. Sobre isso Chauí (1997:11) é explícita, quando diz que:
192
competente entra em cena para ocultar a verdade de sua primeira face [ou seja] para tentar
devolver aos objetos sócio-econômicos e sócio-políticos a qualidade de sujeitos que lhes foi
roubada”. Só que esta tentativa se realiza através da competência privatizada, pois invalidados
como seres sociais e políticos, os homens seriam revalidados por intermédio de uma
competência [empreendedora] que lhes diz respeito enquanto sujeitos individuais ou pessoas
Com isso são elaborados vários “discursos segundos ou derivados” que outorgam
competência àqueles que os assimilam, fazendo-os crer que são sujeitos, ensinando-os como
se relacionar com o mundo e com os demais homens, realizando a mediação do homem com
sua ação e com sua presença no mundo através de modelos científicos e de artifícios
desenvolvimento, isto tem a ver, como reflete Chauí (1997:4) com o fato de, na ideologia as
idéias estarem “fora de lugar”; de serem tomadas como determinantes do processo histórico
quando, na verdade, são determinadas por ele. Tem a ver com o fato de que as idéias não
Em suma, “as idéias deveriam estar nos sujeitos sociais e em suas relações, mas, na
ideologia, os sujeitos sociais e suas relações é que parecem estar nas idéias”. Idéias, no caso
muitas vezes, se coloca como tal, independente da abordagem teórica utilizada mas que,
Chauí (1997:5) ao refletir quanto às idéias estarem também fora do tempo na ideologia
diz: “afirmar que nela [na ideologia] as idéias estão fora do tempo é perceber a diferença entre
ser instituinte ou fundador, e só pode incorporá-lo quando perdeu a força inaugural e tornou-
cooperatividade do pequeno repõem sob nova capa o instituído (ou ideológico) acerca da
num nível mais geral e holístico do fenômeno, bem como procurou evidenciar a forma como
esse processo é realizado pelo Sebrae enquanto um “especialista da produção simbólica” que
transfiguração das ideologias e das formas e mecanismos com que exerce a violência
simbólica.
PE, o SEBRAE, canaliza uma porção considerável de seus recursos para a ação comunicativa,
sistema de conhecimento e de expressão acerca do pequeno. Tal fato torna-se cada vez mais
cultural e de libertação pelo saber” que associados ao “pensar e agir empreendedores aceleram
Thompson (1995) mostrou-se bastante valioso por considerar insatisfatória a forma como os
problemas da ideologia lidam com a comunicação de massa à medida que formas simbólicas
operacionais por nós incorporados à discussão em foco, ao mesmo tempo em que o autor
relação com os contextos sociais nas quais são produzidas a partir do aparato conceitual
adequado e convergente com nossos propósitos. Entretanto, como nos interessa evidenciar
discutindo o próprio espaço de mídia como ideológico, nos limitamos a utilizar apenas alguns
formas simbólicas constituídas pelo e no discurso do Sebrae. Aqui, acreditamos seja possível
fazer tal uso sem entrar no mérito da construção de seu argumento em relação à análise da
ideologia.
[...] as maneiras como o sentido, mobilizado pelas formas simbólicas, serve para
estabelecer e sustentar relações de dominação: estabelecer, querendo significar que
o sentido pode criar ativamente e instituir relações de dominação; sustentar,
querendo significar que o sentido pode servir para manter e reproduzir relações de
dominação através de contínuo processo de produção e recepção de formas
simbólicas (THOMPSON, 1995:79) (grifos do autor).
propor um conceito de ideologia para se referir às formas como “o sentido (significado) serve,
exige, e isso também nos parece adequado aos nossos propósitos, investigar “as maneiras
como o sentido é construído e usado pelas formas simbólicas de vários tipos, desde as falas
cotidianas até às imagens e aos textos complexos [e] os contextos sociais dentro dos quais
essas formas simbólicas são empregadas e articuladas”. Com isso se pode saber se e como “o
(THOMPSON, 1995:16).
vale a pena ressaltar a objeção feita à utilização do conceito como parte da grande narrativa
social. Nessa narrativa, a ideologia pode ser tomada como um sistema de crenças que, em
sentido. O problema advindo dessa concepção de ideologia está no descuido com o processo
tornam cada vez mais acessíveis a um número maior de receptores de forma que as
experiências das pessoas tornam-se cada vez mais mediadas por esses sistemas técnicos de
produção e transmissão simbólica. Tal objeção relaciona-se com nosso objeto e com as
circunstâncias com as quais ele é instituído, como já nos referimos acima, uma vez que a
197
realidade onde “a produção e recepção de formas simbólicas é sempre mais mediada por uma
administráveis e legitimáveis por “meios técnicos” e que desconectam o tempo e o local com
as mensagens comunicadas, fazendo com que a mobilização do sentido tenha cada vez mais
produzidas. Interessa-nos por ter a ver com uma universalização do sujeito pequeno em
assumimos nossa concordância com a perspectiva sem precisar entrar no mérito da extensão
com que ideologias são amplificadas pela “midiação” entendendo que tal processo não se
atribuída à “midiação” em si, e sim ao contrário, conforme exprime uma midiação que
relações entre ideologia e cultura moderna estruturada em três fases que compreendem uma
históricas de produção, circulação e recepção das formas simbólicas que se dão em contextos
profundidade elaborada por Ricoeur com o objetivo de realçar o caráter ideológico das formas
simbólicas, ou seja, de realçar como seu sentido serve para estabelecer e sustentar relações de
mobilizado pelas formas simbólicas e as relações de dominação que esse sentido mantém. A
1995:35)
Além disso, a análise das formas simbólicas vai levar em conta a problemática
específica ao processo de midiação por meio de um “enfoque tríplice” que vai além da análise
mesmas. Com isso uma atenção especial é dada à “apropriação cotidiana dos produtos de
outra compreensão das formas simbólicas, levando as pessoas a repensar e questionar sua
qualquer discussão, pois constituem a condição tácita para a discussão, o impensado, o pré-
199
existente e que Eagleton (1997:62) vai entender como o resultado particularmente bem
sucedido da ideologia, que praticamente impede a crítica por tornar a realidade social,
Isso é, particularmente, o que nos moveu à medida que permitia mostrar um modo
falas, imagens e textos, que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles e outros como
constructos significativos. Falas lingüísticas e expressões sejam elas faladas ou escritas são
consideradas cruciais. O caráter significativo das formas simbólicas pode ser analisado em
último de particular significado por indicar que as formas estão sempre inseridas em contextos
As pessoas, em virtude de sua localização num campo social ou numa instituição, têm
essas pessoas diferentes graus de poder, aqui entendido como poder para tomar decisões,
Importante frisar, que tais modos não são únicos os meios de operação ideológica, que
as associações propostas com determinadas estratégias simbólicas também não são únicas e,
200
por fim, que tais associações não implicam necessariamente que estas estratégias sejam
legitimador à medida que “constrói uma cadeia de raciocínio que procura defender, ou
conjugada, pode ser um caso onde essa racionalização opera instaurando um clima de apoio
necessário e justo, mas que visa legitimar o objeto tanto quanto o agente à medida que é
201
relembrar sua problemática, o apoio a PE confere um capital simbólico à instituição que trata
tipicamente uma violência simbólica que suavemente promove uma dominação que opera
indiretamente num esquema que poderia ser descrito dessa maneira: o discurso enaltecedor do
pequeno, em si débil e, portanto, merecedor do apoio, instituído por cima e pela competência
técnica e forte da agência especialista, dotada de competência. Com isso instaura-se uma
autoridade simbólica a qual diz e nomina o que e como deve ser feito e o que não deve ser
dito.
valor em si. Um argumento contrário aduziria ser desnecessário tendo em vista a agência deter
outorga pública para tratar do objeto, o que ao invés de desautorizar nosso argumento o
fortalece conquanto Bourdieu relembra que a força simbólica não decorre da palavra, mas de
da exposição na mídia, uma das razões prováveis para o desenvolvimento de uma agência
noticiosa. Além disso, a agência conta com um aparato comunicativo expressivo, pois além
das campanhas publicitárias, conta com uma editora, o expressivo crescimento do número de
como cursos, seminários e palestras através dos quais veicula seus discursos.
Essas estratégias operam combinadas gerando um reforço mútuo, tal como no caso da
alguns [...] são apresentados como servindo aos interesses de todos, e esses acordos são vistos
39
O SEBRAE dispõe da Agência SEBRAE de Notícias, órgão ligado a Unidade de Marketing e Comunicação.
202
como estando abertos, em princípio, a qualquer um que tenha a habilidade e a tendência de ser
neles bem sucedido” (THOMPSON, 1995:83). Nesse caso parece situar-se o discurso da
Um sucesso universal inscrito na idéia de que todos têm esse desejo e sua realização está ali,
“Fórmula mágica não existe”. Todavia o sentido já foi expresso e já atendeu aos propósitos
da adoção de uma gestão moderna e competitiva, como um processo mecânico que opera em
fases e operações sintetizáveis, que vem a ser outro modo de operação ideológico.
vida que narram como o sucesso foi alcançado – a superação pelo esforço individual e pela
adoção racional das técnicas prescritas – transcendendo com isso a existência do conflito, da
diferença e da divisão de poder. Essas histórias são, normalmente voltadas para trás com a
intenção de contar “como era antigamente” ou “cases” recentes, cujo horizonte de duração
certas relações e processos existentes. Sobre esse modo de operação é impressionante o fato
produção onde o pequeno se envolve é dissimulada, uma vez que as debilidades intrínsecas do
inscritas no par pequeno-grande. O deslocamento também pode ser encontrado, por exemplo,
PE. A extinção das PE é atribuída na maioria das vezes a problemas de gestão, ou seja, do
âmbito da decisão individual, enquanto pouco se alude aos limites estruturais, como sua
função anticíclica, por exemplo. A dissimulação talvez esteja entre as estratégias mais usadas
relações sociais são descritas ou redescritas de modo a despertar uma valoração positiva”,
com o que se procura suavizar o uso de determinados termos. O uso figurativo da linguagem
mais comuns são a sinédoque, a metonímia e a metáfora. Sobre estes usos podemos situar
suas partes, entre grupos particulares e formações mais amplas – a noção de parceria e a
exacerbação de suas possibilidades positivas com o ocultamento das negativas pode ser o
uso extensivo na propaganda, envolve o “uso de um termo que toma o lugar de um atributo,
ou de uma característica relacionada a algo para se referir à própria coisa, embora não exista
204
conexão necessária [ou exclusiva] entre o termo e a coisa”. (THOMPSON, 1995:85). Sobre
isso, muitas vezes a referência ao pequeno é feita através das características que se quer
realçar (gerando um sentido), positivo ou negativo, e que não são relacionadas com todos os
um objeto ou ação à qual ele, literalmente, não pode ser aplicado. A tensão levantada por essa
apropriação semântica inadequada gera um novo sentido do qual se tira proveito – a relação
quando essa perspectiva é apenas uma dentre outras situações do pequeno. O exemplo vem do
termo “pequenas empresas, grandes negócios” contra o qual se poderia argumentar que o uso
certos contextos pode estar envolvido com poder e servir para criar, sustentar e reproduzir
designação “pequeno” pode ser objeto de orientação de um sentido ideológico quando se tenta
colocar sob o mesmo teto pequenos tão distintos, ou quando se afirma que qualquer pequeno
pode vir a ser objeto de apoio no sentido do sucesso. A não distinção das diversas situações
onde o pequeno se insere e a prescrição indiscriminada de soluções para o pequeno pode ser
descrita como uma tentativa de padronização que visa instituir um sujeito dotado de
predicados específicos e que, portanto, pode e deve ser orientado a agir em conformidade com
tais padrões. A inculcação desse padrão de deficiências pode gerar um sentido incapacitante.
Sobre o quarto modo de operação das ideologias, a fragmentação, que opera através de
estabelecer critérios de excelência para o que seria um pequeno competitivo, todo aquele que
assim não o faz fica fora desse padrão de pequeno e, por isso, pode ser tratado como diferente
cooperativa entre pequenos também propicia que o pequeno nacional seja diferenciado a
atuação do último modo de operação ideológica – a reificação. Nesse caso “as relações de
dominação podem ser estabelecidas e sustentadas pela retratação de uma situação transitória,
nacional através dos tempos, o que termina por se constituir em algo que pode ser
em relação a outros países mais cooperativos. O problema não está na expressão destes fatos
como evidências estatísticas de diferenças, mas na medida que tais relações são utilizadas de
forma determinística, como a questão da necessidade de mudança cultural, que possibilita que
206
um amplo espectro de ações seja usado de forma ideológica para justificar uma ação
Mas é a estratégia de naturalização que acreditamos ser outra das mais utilizadas na
perspectiva ideológica, pois ela se presta em duplo sentido. Por exemplo, o pequeno é
implica em dois corolários não evidentes que, esses sim, evidenciam o caráter ideológico da
elevada das PE, evitando com isso qualquer vindicação a respeito do apoio recebido, o
forma que insucessos anteriores são atribuídos a fatores internos à própria dimensão
um quadro institucional que regule estas relações. Quando muito tal assimetria verificada nas
40
Em matéria recente apresentada na TV, o pequeno empresário, naquele preciso instante “bem sucedido” é
instado a refletir acerca dos motivos que o levaram a perder os negócios anteriores e termina por atribuir seus
insucessos anteriores a uma falta de planejamento evidenciado na falta de capital de giro na primeira vez e a falta
de mais conhecimento do mercado na outra oportunidade. O que seria curioso, é que tal situação parece deixa -lo
satisfeito à medida que é valorizada como uma vantagem futura – o aprendizado, sublimando os insucessos e,
com eles, todo o questionamento possível. Esse é apenas um exemplo entre tantos, mais ou menos semelhantes,
veiculados nos programas voltados aos pequenos negócios.
207
seja, que adquirem a legitimidade “natural” que as tornam, cognitivamente, uma instituição
É necessário existir uma analogia por meio da qual a estrutura social de um conjunto
fundamental de relações sociais será encontrada ou no mundo físico ou no mundo
sobrenatural ou na eternidade ou em qualquer outro lugar, contanto que não seja
encarada como um arranjo socialmente elaborado (DOUGLAS, 1998:58).
encontradas numa oposição natural encontrada no par “pequeno vs. grande”, se constitui no
padrão grande empresa e mais, a possibilidade de associar por analogia a mesma oposição a
de atributos de naturezas distintas a partir de uma analogia com uma propriedade natural a
Pequeno Grande
Despreparo Preparo
Incapaz Capaz
Arcaico Moderno
Morte Vida
Prejuízo Lucro
Problema Solução
Douglas (1998). Para a autora, “para que uma convenção passe a ser uma instituição social
legítima é necessário uma convenção cognitiva paralela que lhe dê apoio” (DOUGLAS,
para outros domínios de significação é encontrado com facilidade. “Na moderna sociedade
industrial a relação analógica da cabeça com a mão foi usada [...] para justificar a estrutura de
classe [...] e a divisão do trabalho entre o trabalhador manual e o trabalhador intelectual.”, diz
significado se constitui num recurso retórico de grande poder. A capacidade instituinte dessas
Com base na analogia “as instituições sobrevivem àqueles estágios em que eram
naturalizadas, fazem parte da ordem do universo e, assim, estão prontas para fundamentar a
natureza é derrotado tão logo seja reconhecido como tal. É por isso que as analogias fundantes
precisam ser ocultas e que o domínio do estilo do pensamento sobre o mundo do pensamento
tem que ser secreto” (DOUGLAS, 1998:62). É justamente sob esse aspecto
como coisa, sem sujeito ou ação produtores da coisa. Sobre isso podemos refletir acerca do
sentido envolvido na maneira com que a “mortalidade” e o “despreparo” são tratados como
uma questão relativa à PE. O que se pode inferir sem um exame mais profundo é o tom
coisa (PE) que se situa no cerne dos objetivos da agência. Veja que neste como em outros
casos não queremos discutir o sentido ideológico da mortalidade em si, mas a revelação da
209
explicitação dos mecanismos da operação ideológica segundo sua proposta. Entendemos que
isso seria objeto de um estudo mais específico, à medida que esta metodologia se confirme
adequada como pareceu ser em nosso caso. Além disso, a abertura de um campo de discussão
CEBRAE.
210
O livro de Mancuso (2002) “SEBRAE 30 anos parceiro dos brasileiros”41 pode ser
análise um conjunto de informações que seria difícil para um pesquisador “outsider” coligir.
agência formulou e implementou na sua trajetória evolutiva resultando numa obra que,
contar a história [da] rica evolução institucional” de uma organização que “perseguiu de
forma coerente e obstinada, finalidades e objetivos claramente definidos, [...] formou sua
41
Esta seção do trabalho vai ser desenvolvida em torno do livro de Mancuso (2002). Nesse sentido julgamos
desnecessária a repetição constante da citação do autor, ficando estabelecido que apenas as informações oriundas
de outras fontes serão devidamente citadas ao longo do texto. Todos os grifos não referenciados no texto são
nossos.
42
MPE - Micro e pequenas empresas.
211
constitui num dos fundamentos instituintes da ação da agência, revelado sob os diversos
ângulos de sua ação em todos as etapas de sua evolução. A pequena empresa, apreendida
individualmente como uma firma, precisa adotar uma postura competitiva com vistas a
voltado à gestão racional da firma, mas também em relação ao ambiente empresarial e ao seu
destinado a médias empresas” (2002:13). Nos anos oitenta a agência quase sucumbe à crise,
Congresso”.
A partir daí, amplia sua ação muito além do trabalho de “assistência técnica direta”,
espaço significativo na mídia, tanto para aumentar sua visibilidade como agência
sensibilização.
A análise dessa trajetória nos permite delinear três grandes etapas de consolidação da
fase inicial desta trajetória institucional se caracteriza pelo foco essencialmente assistencial
constituído a partir da visão institucional que forma sobre a PE e sua problemática gerencial.
A conjuntura da época orienta sua ação para o crescimento das empresas fundamentado pela
A mudança de Cebrae para SEBRAE se constitui numa segunda fase que poderia ser
denominada de crescimento e vai ocorrer justamente quando o país “pára de crescer”. Por
tempo em que busca ampliar e consolidar seu espaço institucional intensificando e ampliando
o raio de ação assistencial, de forma mais auto-sustentável. Nessa fase a agência se constitui
como um serviço autônomo, passando a ter uma natureza jurídica de empresa privada, o que
também vai influir no modelo de gestão que passa a adotar e, principalmente, na visão
A terceira fase, que chega aos dias atuais, pode ser projetada a partir de sua
“Reinvenção”, na virada do século, corresponde a uma inflexão na sua trajetória que marca o
em virtude de uma nova forma de atuação mais estratégica que procura desenvolver, “criando
Trata-se agora não apenas de atender a uma demanda, mas de criar sua própria demanda, a
Ao longo desse percurso é possível ver como a questão teórica relacionada ao pequeno
e seus limites, presente nos tempos iniciais da instituição, ajusta-se primeiro diante de
da agência e seu aparelhamento e, em seguida, diante das questões criadas quanto a sua auto-
foco no pequeno passasse a ser derivado das necessidades institucionalmente criadas pela
própria agência, como formas transfiguradas dos requisitos reprodutivos do capitalismo e dos
Nesse sentido vários jargões são criados e divulgados na mídia como: “o novo
salientar a “educação empreendedora para milhões”, onde não apenas se intenta preparar
estará disponível e a capacitação para trabalhar por conta própria será a única saída para a
parte do pressuposto que “não há quem não tenha algo em comum com a causa da pequena
negócios trazem resultados diretos e sustentáveis mais “que política alguma de promoção
empresas”.
empresa privada nacional. [...] Ao lado de uma reestruturação setorial, surgiu a idéia de dar
capacidade gerencial à pequena empresa para que ela se tornasse competitiva e pudesse
crescer, [...] e passasse a ter expressão dentro da economia brasileira” (2002:44). Nesse
sentido, não era a perspectiva que potencializa o papel social da PE que orientava a criação da
privada nacional como pequena empresa ela mesma ou como fornecedora de pequenas
empresas.
indústria pesada emergente era a falta de financiamento para sua produção que era consumida
pelas pequenas e médias empresas, ou seja, tratava-se de criar condições para que aquelas
empresas pesadas pudessem pagar os financiamentos obtidos junto ao banco. Daí a criação do
gerenciais para as pequenas e médias empresas, que vão se constituir no “livro de ouro” dos
uma série de perguntas que devem ser feitas ao empresário visando detectar o grau desse
43
Centro de Apoio Gerencial/BA.
216
menção a aspectos conjunturais ou estruturais que possam ter afetado a atividade da PE, de
Furtado, vai prever desde 1967 Núcleos de Assistência Industrial-NAIs que visavam
tendo o foco direto no pequeno, a visão construída do pequeno não escapa à lógica
outros países.
Mesmo uma perspectiva crítica que consubstancia algumas análises levadas a cabo
nesta primeira fase do Sistema, não contemplava alternativa outra senão a do crescimento da
abordagem mais estrutural (FUNDAÇÃO, 1980; SOUZA e ARAÚJO, 1983). Análises feitas
impostos ao seu desenvolvimento (FUNDAÇÃO, 1980:9). No entanto, isso não parecia influir
pequena empresa era também a da empresa nacional, o que mostra que inicialmente o foco da
significa endossar as análises que mostram que os extratos de maior porte eram privilegiados,
Alves (1981) foi preparado para ser apresentado num seminário internacional em Turim,
empresário descrevia que “as causas desta incapacidade [gerencial] são bastante conhecidas”
e começam com a “própria origem do pequeno empresário” que por não ter acesso ao ensino
formal vai formar sua empresa. A “falta de qualificação” em relação às “múltiplas funções
que “empregue todo seu esforço de maneira empírica” e não dispondo de tempo para
pensamento institucional acerca da PE nos oitenta e que se estende com pequena variabilidade
218
até hoje (LAGES, 2004; PINTO, 2004). Por esse viés, podemos concluir que fatores
sequer considerados, como o acesso ao ensino formal44 , no caso brasileiro são tidos como a
não utilizar instrumentos gerenciais de controle. Mas sua importância era devida às funções
à realidade da microempresa.
agência que identifica como obstáculo maior a sua missão educativa a “baixa conscientização
44
Cumpre lembrar sempre que o analfabetismo no Nordeste italiano era bastante elevado ainda na segunda
metade do século XX.
219
para deixar de ser pequeno e crescer seria preciso desenvolver uma capacitação gerencial mais
seu insucesso e como causa para a mortalidade elevada das pequenas empresas nascentes.
Cumpre salientar que não queremos dizer que a educação não é importante ou que a
PE não tem problemas de natureza gerencial, mas evidenciar o propósito oculto com que tal
1982) por exemplo. A visão formalista inverte a análise da problemática do pequeno fazendo
com que, por exemplo, a “contabilidade desorganizada ou apenas para finalidades fiscais”
seja percebida apenas como fator causador dos problemas administrativos do pequeno.
pequenas empresas, enquanto a anterior (sua falta) responde pelo insucesso. Ser competitivo
significa aderir conscientemente, como habitus, aos novos requisitos quase integrativos da
produção capitalista e, se não der certo, paciência porque “a vida é assim” e você não se
eficácia com que dissemina uma visão a respeito da PE e sua problemática não pode ser
confundida com avaliação de sua atuação em apoio e fomento da PE, pois significaria a
Avaliação parece ser uma dimensão dilemática para a agência e isso nos parece um
indicador da ideologização da PE. Desde o ni ício de suas atividades a agência vem tentando
avaliar o impacto de sua ação. Essa preocupação já se manifesta em 1984 quando a agência
manifesta a intenção de desenvolver uma forma de avaliar sua atividade que “possibilit[e] de
forma permanente mensurar o impacto das ações, identificando as reais conseqüências sobre o
e colocam essa atividade como fundamental para a ação da empresa. Esta preocupação é
condições para que este instrumento de avaliação possa ser utilizado pelo sistema Cebrae.
estratégica orientada por resultados (LAGES, 2004) que, talvez possa gerar informações sobre
a efetividade real de sua ação, muito embora, a taxa de mortalidade, já prevista em 1984, não
45
`Projeto de Apoio à Microempresa Municipal.
221
comparados com outros disponíveis não indicam qualquer alteração significativa no período.
termos do impacto concreto sobre a realidade das PE, sem conseguir estabelecer um critério
e alega a necessidade de atuar de forma mais bem ajustada às necessidades da PE, ou seja,
debilidades da PE, coisa que o esforço educativo permanente desenvolvido pela agência não
vai resolver, por que não é para ser resolvido, como demonstra o conteúdo inadequado do
curso de Treinamento Gerencial Básico – TGB, mas instituída como tal naturalizando o
ao mesmo tempo em que sua posição em relação à agência se define por esta
institucionalidade.
O CEBRAE surgiria em 1972, pensado desde o início com uma estrutura adaptável às
PND onde uma política industrial reconhecia a insuficiência de capital, a escala inadequada
treinamento empresarial. Nos anos seguintes a sua criação o Cebrae busca treinar e capacitar
pessoal para prestar assistência e consultoria e até meados dos setenta “atravessa uma fase de
46
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos e ABADE – Associação Nacional de Bancos de
Desenvolvimento
222
modernizar a gestão das pequenas empresas. Naquele momento estávamos formando essa
massa crítica, pois o Cebrae era praticamente uma grande empresa de treinamento e
paradigmático por toda sua existência. Dizia ela que: “o curso básico de consultor dava ênfase
sementinha. Contratados pelo sistema, e verificado que tudo isso existia na prática, criava-se
hoje num dos pilares institucionais que governam a ação da empresa, impregnando as
47
Segundo depoimento de um ex-colaborador captado por MANCUSO (2002:53) todos os dirigentes do sistema
foram treinados em Turim e depois percorreram países da Europa, Estados Unidos e Japão e Taiwan levantando
os mecanismos e políticas de apoio ao pequeno. Além disso, especialistas franceses, alemães e norte-americanos
eram contratados e convidados para palestras e treinamentos mediante convênios com SUDENE e UNICAMP.
223
que se aplica de forma consistente e que vai se institucionalizar são os diagnósticos de cunho
uma realidade econômica original, que era percebida pelo pequeno empresário 48 .
Em 1976, por ocasião de seu terceiro estatuto, o CEBRAE passa denominar-se Centro
Brasileira de Casos, mecanismo criado para registro e difusão de casos concretos exemplares
agência, que ganhou visibilidade que até então não dispunha. Entretanto, as condições
relativas favoráveis de oferta de crédito, fazem da assistência técnica conjugada que consistia,
pequenas empresas. Isto é evidenciado pelas próprias avaliações feitas pela agência e pela
48
Na experiência italiana com os “centros de serviços reais” é a demanda quem organiza e define as
necessidades de apoios ficando o centro incumbido de provisionar os recursos necessários (LIGABUE, [s.d.]).
49
Programa de Apoio à Microempresa.
224
evidente o interesse exclusivo no financiamento, ao passo que a razão avaliada pela agência
empresário e sua não participação era vista como manifestação de uma “auto-suficiência” do
suficiência é a mesma de hoje, tanto que pesquisa recente indicou que apenas 3% das
mesma forma como são poucos os programas que associam crédito e capacitação50 .
registradas algumas, não muitas, declarações que afirmavam “não ver validade”, “não
metodologia “mais prática” e com o uso de uma “linguagem mais acessível” ao público,
donde se pode inferir que tais declarações não ensejavam qualquer consideração ou reflexão
50
O programa Brasil Empreendedor do BNDES é um dos poucos a fazer essa conjugação.
225
assumir que o microempresário é “despreparado” significa que o mesmo não está capacitado a
capacitação que não vai modificar a situação real da PE, o que realimenta o diagnóstico do
movimento vem se repetindo ao longo dos trinta anos de existência da agência. É verdade
quanto à ocorrência de transformações no ambiente produtivo, mas isso não parece ter afetado
agência “educa” o empresário, para avaliá-lo em seguida quanto à natureza dos problemas de
gestão da empresa. Por outro lado, a avaliação, também normativa, estrutura as possibilidades
à visão inscrita na sua normatividade com que a PE é concebida, de forma que não há como
escapar à lógica encerrada nessa circularidade. Tal lógica propicia o cultivo de uma aura
vitimizada do pequeno que passa a orientar suas respostas, suas demandas e seu
agência e a afirmação de seu papel institucional são marcados mais por eventos
produtivas é manifestada desde a década de 80, mesmo que tivesse outras motivações como a
busca de maior efetividade nas ações da agência. O CEAG/BA buscou implementar vários
“potencial associativo”, no entanto, era trabalhado como “apoio mercadológico” à medida que
visava melhorar as condições para aquisição de insumos e venda de produtos através de ações
PARTICIPAÇÃO, 1986).
prioridade e a importância dada a este tipo de ação era secundária, desde a ênfase na
consolidar um papel político a respeito do apoio à PE, com o que os escalões superiores não
concordavam. Outro evento significativo a esse respeito foi a instituição de um Fundo de Aval
227
para as operações de crédito cuja proposição existe desde 1974 e ainda hoje tem seu
Durante todo o tempo de sua existência com “C”, o Cebrae, que nasce de um “paper”
esforçar permanentemente para viabilizar sua existência e para isso contava com uma
esse esforço é ainda mais intensificado, em razão da situação de crise que o país enfrentava,
quando a instituição teve por duas vezes ameaçada sua continuidade. Tal situação implica em
mudanças na sua ação institucional que passa a voltar-se “para dentro” numa perspectiva de
comerciais. Assim surgem programas como o PRONAEX, voltado para a pequena e média
empresa exportadora. Isso significa uma mudança considerável de foco em relação aos
argumentos anteriores que embasavam o apoio ao pequeno e micro, bem como significava um
cada região do país – e participação – como atuação integrada a outras instituições para
melhor coordenar e focalizar a promoção da PE, eram os dois princípios que pautavam a ação
da agência desde sua criação (NOVO, 1985). No entanto, uma ação integrada e coordenada
representa sérias dificuldades para garantir os recursos e equalizar informações sobre políticas
poder que caracteriza(va) o Estado, essa perspectiva sempre se mostrou mais própria à
51
O Fundo de Aval do BNDES – FGPC, instituído em 1999, vem apresentando resultados declinantes tanto de
número de operações quanto em volume de recursos desde 2002, sendo que até julho de 2004 alcançou apenas
cerca de um terço da atividade em relação ao mesmo período do ano anterior, evidenciando o curto fôlego dessas
228
retórica do que à realidade. Um exemplo dessa disputa corporativista ocorreu entre o BNDE e
Esperava-se obter com esse novo modelo operacional resultados expressivos e que cada
Programas setoriais surgiram a partir do início dos oitenta como o PROGERAR que
pode ser considerado como o embrião do PRODER atual, as Bolsas de Negócios, o PRONAC
1981 quando foi instituído o PROCITEC que depois passou a ser chamado PATME. No
entanto, essa nova forma de atuação visava também uma racionalização e otimização das
atividades em vista das restrições que a conjuntura da época exigia. Dentro dessa perspectiva
racional e otimizada de atuação. Assim toda a diversidade das situações nas quais o pequeno
estava inserido e que poderiam ser objeto do apoio poderiam ser enquadradas a um conjunto
iniciativas e a incapacidade desse tipo de ação se converter numa fonte de dinamismo para a PE, pelo menos
aqui no Brasil (BNDES - BOLETIM MPME julho 2004).
229
iniciativa que encontra “receptividade junto ao Núcleo Central do Sistema [...] melhorando a
Tal situação conduz a um uso clientelístico dos serviços da agência, capaz de adequar-
de 1985 se delineiam as grandes áreas de atuação do Cebrae, presentes até hoje, dentro das
“um grande programa de modernização do parque industrial das MPMEs” articulado com os
Queremos afirmar que a pequena empresa sempre foi percebida e tomada enquanto um
objeto que preenchia uma função econômica e social cuja reprodução era fundamental aos
interesses dos segmentos produtivos nacionais situados além da própria pequena empresa,
peso político do pequeno vai se constituir antes como um problema do que como uma
alternativa estratégica. Seja no sentido primevo de assegurar demanda para a indústria pesada,
ou para mitigar a questão do desemprego que crescia durante esta década de oitenta.
média empresa exportadora, ora uma ação estruturante, ora um esforço voltado para a
230
realização de resultados. Nessa dinâmica incerta a PE figura como um meio e não uma
alternativa e muito menos um sujeito econômico ou político. Nesse sentido seria concebível
que pudesse se organizar enquanto ator político capaz de fazer representar seus interesses. O
pouco esforço feito para estabelecer ações associativas tem um alcance limitado às questões
associativo tem uma dimensão local ou setorial, porém nunca uma perspectiva de
encontradas pela gestão de Antonio Guarino de Souza, único pequeno empresário a ter
ocupado a presidência do Cebrae, o que acontece num momento político singular – a “Nova
aproveitado politicamente de diversos modos.Entretanto, esta gestão durou apenas dez meses
em razão das críticas endereçadas à política econômica e aos efeitos que o Plano Cruzado teve
De 1979 a 1981 são realizados três congressos nacionais da pequena e média empresa,
sob promoção das federações representativas dos setores produtivos e das associações
dificuldade criada pela burocracia, que até hoje põe areia em qualquer processo” diz Afif
agência parece ser algo, no mínimo inopinado. Num país onde as relações sociais apresentam
231
confederações nacionais da indústria e comércio, apenas para citar as mais destacadas, não
contribui para a organização da PE. Isso se torna menos defensável ainda quando existe
dispositivo de lei desde 1988 que obriga a existência de três assentos no CDN a serem
ocupados por representantes do segmento e, finalmente, fica pior quando o argumento usado
para justificar a não deliberação do assunto arroga em sua defesa a questão da representação
cartorial por parte de uma suposta representação direta da pequena empresa, evidenciando os
apoio e fomento da PE, como no sentido mais específico de criar produtos e estimular o
cortando o orçamento dos CEAG’s” o que provoca em 1986, segundo Guarino de Souza o
CEBRAE vem desse período, como reação à situação precária dos CEAG’ e preocupação
A escalada inflacionária que marca o final dos oitenta provoca uma diminuição crucial
na demanda espontânea por parte dos empresários dos serviços oferecidos pelo CEAG, além
232
consultoria empresarial. Por outro lado, gera um problema de função para o CEAG/BA que
prevenção da mortalidade das micro e pequenas empresas”. Em 1990 são propostas iniciativas
superior como os projetos “Empresário 2000”, “Empresário dos Anos 90” e “Treinamento
Tais iniciativas refletem a conjuntura da época. Embora o “Balcão” tenha sido criado
em 1983, é com o esvaziamento da área de crédito, que a agência inverte suas prioridades
buscar e selecionar o seu público com palestras e atividades que visam apresentar o quadro de
Assim o Cebrae passa a envolver-se com a dimensão política da PE, à medida que sua
extinção coloca-se em perspectiva. Não com a extinção da PE, mas com a extinção do órgão
público de apoio à PE. O sentido com que “o vetor político” da agência surge deve-se antes à
ADDIS et al, 2001) do que devido a uma propriedade da organização de interesses da PE.
Embora seja interpretado por ex-dirigentes como decorrente de uma cultura organizacional
cunhada no sentimento de dever para com a nação ou fruto de uma “’ideologia’ em favor da
pequena empresa”.
Completa o ciclo dos oitenta, a gestão de um “político”, Paulo Lustosa, que em 1986
“coloca o foco do Cebrae nas políticas públicas (assim como o presidente originário do Banco
grande espaço na mídia para a questão das pequenas empresas”. Ele mesmo diz que “um dos
no dia-a-dia das pessoas” (2002:89). A partir desse momento, pequena empresa e ação
Ainda segundo Lustosa “criou-se naquele tempo, a mística da pequena empresa. Ficava bem
às pessoas falar sobre a pequena empresa, usá-la como bandeira política. Isso nós
capitalizamos demais. [...] O que fez do CEBRAE uma máquina de sonhos, uma luta
permanente” (2002:90). Segundo Mancuso (2002:86), “pela primeira vez forma-se uma
‘opinião pública’ sobre os pequenos negócios”. Formação de opinião que começa a fazer
comunicação simbólica
agência em relação a sua produção e ao seu papel político, traduzida na preocupação com a
opinião pública e no recurso à mídia. Com a conjuntura pós Plano Cruzado, onde milhares de
234
enquanto ator político e que não passa de um objeto abstrato construído a partir de
serviço social autônomo e sua desvinculação da administração pública, por duas vezes
palavra de ordem, no início do governo Collor, que o Cebrae vive “sua crise mais aguda”, e
sua extinção é consumada, de fato, por meio da Medida Provisória 151 que desvincula vários
No entanto, a defesa do Cebrae no Congresso é forte e conta com o firme apoio das
SEBRAE com “S”. Sobre essa “operação de guerra” onde o envolvimento dos funcionários
foi fundamental, um funcionário declara que: “Fizemos um lobby muito simpático, porque
tínhamos resultados a apresentar. Foi muito gratificante observar que deputados e senadores
visto a dificuldade crônica da agência em avaliar os resultados de sua ação. Da mesma forma,
235
é curioso notar que o esforço para o lobby não tem sido suficiente em outros temas
agradar aos segmentos corporativos que se beneficiavam das políticas. O apoio irrestrito pela
serviço social, originado mediante acréscimo das contribuições das empresas. A composição
emanadas por esta instância institucional, configurando em boa parte sua ação institucional.
dos interesses dos microempresários de caráter nacional no Conselho52 : “E assim foi criado o
Conselho Nacional. Mas até hoje não foram incluídas essas três entidades, por várias razões.
empresas. Como existem três vagas, quem vai dizer qual entidade, se A, B ou C tem esse
direito? Essa dúvida permanece até hoje. Cada uma que se apresenta, se diz nacional, cada
qual fundada, cartorialmente ou não, com esse espírito de ter assento ao Conselho. E essa
dúvida precisa ser ainda dirimida pelo Poder Executivo e pelo Congresso Nacional”
(2002:99).
52
A aprovação da legislação que instituía a forma de contribuição para o SEBRAE foi objeto de um acordo
proposto pelo relator da matéria no congresso, Sen. Mansueto de Lavor, que, em troca, exigiu a participação de
três entidades representativas dos microempresários na composição do Conselho Deliberativo Nacional da
instituição (MANCUSO, 2002:99). Tal dispositivo, por ocasião da tentativa de reeleição de Afif Domingos para
a presidência do CDN, resultou em intensa articulação e disputa política por parte das confederações
empresariais (AITH, 1996 e SOUZA, 1996).
236
SEBRAE “servir a todos os segmentos das pequenas empresas”. Essas falas demonstram a
profundidade com que o corporativismo brasileiro está instituído na ação dos atores políticos
própria negação e sua presença na incapacidade de ver o pequeno como o outro ou de ver-se
Aquele que “denunciou” o mecanismo cartorial foi guindado à presidência após uma
intensa disputa política, na qual se visualiza sem dificuldades o concerto corporativista das
qual a pequena empresa é formulada como algo distinto da empresa capitalista em geral,
deliberação acerca de toda essa diferenciação e ação diferenciada, submete-se aos interesses
daqueles atores, justamente dos quais a pequena empresa precisa diferenciar-se, ou seja, o
diferente é instituído pela visão do ator que não é capaz de vislumbrar essa diferença, razão da
própria diferenciação.
diagnóstico quer avaliar a competitividade da PE. Inicia-se nesse momento, a “era da pequena
empresa competitiva” que sob diferentes vertentes vai se desenvolver até os dias atuais. Esta
pesquisa aponta resultados baseados na mesma ótica analítica tradicional, ou seja, uma
minoria que utiliza sistemas e técnicas gerenciais mais modernas, ausência até de sistemas
237
1992:8). Esse aumento, no entanto, não pode ser creditado exclusivamente à iniciativa da
agência, mas também como indicativo dos processos de reestruturação que estavam em curso
a partir de 1990.
“responsável por parte significativa dos resultados alcançados”, era concebido como atividade
na amplificação das ações, não implicando em qualquer alteração qualitativa e, muito menos,
por serviços e informações disponibilizados pelo Balcão Sebrae era composta por pessoas
físicas e microempresas.
238
encontrada.
orientação pela oferta pode ser percebida no projeto “Desenvolvimento empresarial dos
única que exigia o engajamento da PE – era a que não conseguia atingir a meta prevista e
tinha um desempenho bastante aquém das demais como diagnósticos, cursos, palestras,
seminários e consultorias.
que diz respeito a sua ação pode ser percebida nos produtos do programa “Difusão de
informações empresariais” onde boa parte se constitui em manuais do tipo “Como montar
um...” e publicações dos perfis de diversos segmentos de PE, informação que interessa em
(RELATÓRIO, 1992:25).
disposição da PE. Além disso, três novas políticas demonstram a expansão do escopo de
permanente da agência, pois até então ações relacionadas eram desenvolvidas de forma
pontual e não específicas. Isto significa que apenas ao fim de quase duas décadas de
agência, o que ainda não significa a convergência efetiva de esforços, nem a produção de
articular politicamente a sociedade em prol das micro e pequenas empresas” como ação
Sebrae, em sua nova fase institucional”, diz Mancuso (2002:104). Diz ainda que “cabe ao
a definitiva inserção das micro e pequenas empresas como foco das atenções nacionais”.
época evidencia isso: “Número um; o SEBRAE é o grande agente de desenvolvimento. Dois:
o cliente do SEBRAE está em todas as esquinas e é o grande gerador de empregos”. Para ele,
mais equânime, equilibrado, com distribuição de renda”. Após dois anos de reestruturação,
240
Sebrae” eram implantados “a todo vapor”, em 1992 já existiam quase trezentos balcões e em
1994 o Sistema já contava com dois mil e quinhentos funcionários, cifra bastante diferente
Com base nesses princípios e em uma pesquisa que revelava a imagem da agência e
seu atendimento como positivos, a continuidade das políticas foi proposta para os anos
seguintes. Além disso, em 1994 a instituição buscaria desenvolver novas metodologias para
mensurar a qualidade e avaliar os impactos dos serviços prestados a nossa clientela, criando
gerais de ação que preconizavam: uma postura ética e política permanentes na busca da
que possibilite medir quais os resultados efetivos das ações e projetos desenvolvidos; a
241
questão da competitividade como elemento de referência maior para toda e qualquer ação
implementada.
Balcão era, “com apoio massivo da mídia” ser considerado como “porta de entrada em nível
atendimento ao público empresarial. Resultou dessa ação o cadastro das empresas, o perfil do
parceiros [...] com vistas a multiplicar a capacidade de atuação dos organismos envolvidos
242
Para a agência, “os resultados são positivos, o que indica a necessidade de ampliá-los e
agência estadual, 68% das despesas têm origem em ações de natureza institucionalizadora.
Aos demais programas sobram boas intenções, mas faltam recursos. Ao programa de
conhecimento sobre a realidade das MPE’s”, fato que se constitui num “imperativo básico
para que o Sistema Sebrae possa cumprir sua missão institucional”, conta com recursos que
montam a apenas 4,4% do total orçado para o exercício, sendo que parte considerável destina-
1994).
textos do CEAG, mesmo que de forma não explícita, aquele que atribui ao pequeno
recurso à agência se devia a questões ad hoc como o crédito orientado, à medida que os
consolidar sua imagem como agente de fomento dos pequenos negócios e sua valorização
de valorização das MPE’s. A agência buscava valorizar seu objeto de interesse ao mesmo
tempo em que angariava apoios às suas ações e se afirmava como agente por excelência desse
53
Programa de apoio tecnológico junto às micro e pequenas empresas, em convênio com a FINEP, que visa
prestar consultoria tecnológica em termos de tecnologia de processos e produtos.
244
objeto, o que significa uma ação institucionalizante integrada que acaba por criar as próprias
Resulta desse processo que ação da agência só pode ser avaliada em termos
finalísticos e não apenas por avaliações parciais, uma vez que estas podem apenas avaliar a
eficácia dos meios utilizados pela agência e não sua própria finalidade. Se o objetivo maior da
agência é fortalecer o pequeno, e para isso define que deve desenvolver um papel
desse objetivo maior não pode avaliar sua atuação apenas pela consecução dessa
empresa é a força social da economia. [...] O SEBRAE, como autor da mensagem, veio a
reboque”.
realização pessoal, “dos sonhos” ou do “querer é poder”. Universalidade que era compatível
essa idéia”. A tese que consubstancia a campanha, segundo o responsável pelo Programa de
MPE, “o SEBRAE se legitima em sua ação como principal defensor desse segmento. [...]
Todo o nosso foco foi no sentido de valorização. Usamos de tudo para isso: mídia eletrônica
54
Serviço a cargo do SEBRAE/BA similar ao proporcionado pelo PATME.
245
MANCUSO, 2002:108). Para ele essa valorização fazia sentido, pois “o tecido empresarial
individuais revela-se pouco eficaz diante dos objetivos intentados. Pelo contrário, resultam
oportunistas do tema. Isto pode ser percebido no depoimento de Baião sobre as campanhas de
valorização da PE quando afirma que “em toda sociedade desenvolvida, há uma harmonia
muito grande entre a pequena empresa, a grande empresa e o Estado. Nosso trabalho foi em
cima disso” e resultou que muitos prefeitos se elegeram “compromissados com a pequena
quanto à existência dessa harmonia e de seus termos. Essa harmonia permeia a literatura sobre
a PE, seja aquela do capital social nas duas vertentes, nas abordagens que advogam a
A relação harmoniosa com o Estado varia de positiva com o poder legislativo derivada
do CDN sobre “a dificuldade criada pela burocracia, que até hoje põe areia em qualquer
processo”.
como a coisa mais importante em contraste com a “visão fiscalista” destacada por Cascaes
(apud PIO, 2003) que o vê como um instrumento de simplificação da arrecadação mais que
mão dupla” conforme permite um aumento da base fiscal e até aumento na arrecadação em
de ação da agência. Por esta vertente se desenvolve uma outra linha de ação, além daquela da
negócios. A partir daí um novo discurso se estabelece, como o de Herbert de Souza, o Betinho
por ocasião do início de uma parceria entre IBASE e SEBRAE, no qual a dignidade, a
cidadania, que vai tirar da miséria e do desemprego milhões de pessoas, tanto nas cidades
conhecimentos gerenciais básicos continue sendo uma atividade importante em vista de uma
55
SIMPLES – Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de
Pequeno Porte.
247
seja, a fase atual é marcada por conteúdos mais universais e padronizados em pacotes
ideológicos e, por outro lado, técnicas de persuasão ou sensibilização cada vez mais
elaboradas.
56
Uma evidência disso está no fato de menos de 2% das empresas devedoras da Receita Federal e optantes do
SIMPLES terem buscado parcelar seus débitos em condições consideradas vantajosas pela própria Receita
(POUCAS, 2004).
57
Conforme o orçamento do CEAG/BA de 1989, as ações de capacitação gerencial respondem por 35% do total
orçado, enquanto a difusão de informações representa 29,6%, mercado 16,7%, tecnologia apenas 6,3% e
associativismo 7,4%. Se relacionamos estes percentuais a atributos da PE competitiva vemos que a
cooperatividade e a inovatividade representam apenas um pouco menos de 14% do esforço da agência, enquanto
as atividades educacional e comunicativa empreendedora são responsáveis mais de 65% (ORÇAMENTO, 1989).
Em 1990, o quadro não se altera significativamente. O Balcão do Empresário passa de 18,6% para 15% do total
de dispêndios, as ações de associativismo e apoio às iniciativas comunitárias rurais somam 11,4%, ações de
capacitação empresarial, treinamentos e consultorias somam 36,4% e as atividades voltadas ao mercado,
inclusive ações para subcontratação industrial de MPMEs, respondem por 12,2%. As ações tecnológicas crescem
passando a um total de 17,8%, embora a metade decorra de programas de economia dec energia (PROPOSTA,
1990).
248
uma multinacional, o que evidencia que a concepção micro e abstrata da PE tem um reflexo
evidenciam duas vertentes principais. Uma que busca integrar a PE a cadeias produtivas
por exemplo, e ampliação de fundos de aval e financiamento de capital de risco. Esta vertente
tem como eixo estratégico a integração da PE com o grande capital e como benchmarking o
auto-emprego, disseminar a crença na possibilidade de vir a ser dono de seu próprio negócio,
tendo sucesso à medida que seja empreendedor. A esta vertente se alinham ações que buscam
manutenção e ampliação de sua visibilidade como agência devotada à causa da PE. Em 1998,
consideramos uma população de mais de 1,9 milhões de micro e pequenas firmas no país
tempo que a agência busca desenvolver uma metodologia de avaliação efetiva de resultados.
resultados concretos de longa duração”, tendo como objetivo geral a capacitação competitiva
para geração “de empregos, de riqueza e bem-estar a população brasileira” e para a inserção
“Não custa nada fazer uma autocrítica [...]”. Assim começa a proposta do diretor-
presidente da agência de “fazer com que as pequenas empresas se tornem o elemento central
do SEBRAE” é tida como resultado de uma “profunda autocrítica” que revela entre outras
conclusão de que é preciso intensificar ainda mais as ações de promoção e ampliar o conjunto
de programas de ação, de modo a “não restar aspecto ou setor algum da atividade da PE que
não [venha] a ser assistido, de alguma forma, por algum programa ou ação”. Inclui-se aí a
que esta autocrítica resvale sequer nas questões tão priorizadas por várias presidências
da ação da agência, Mancuso (2002:144) afirma que “a PE, enfim, mostr[a] a sua face mais
dinâmica de ampliação pretendida pela agência, conforme nos perguntamos acerca do sentido
PE.
A conclusão efetiva dessa autocrítica está simbolizada no slogan que nasce dessa
“Reinvenção” – “o SEBRAE para todos”, que reforça “o SEBRAE que faz” dos anos 90.
assume como objeto de sua ação o “cliente potencial” priorizado em relação à pequena
empresa constituída, ou seja, formaliza uma orientação que já vinha sendo praticada na
250
medida que a ação da agência se voltava mais à criação de pequenas empresas do que ao
menos capitalista.
Idéia que se choca com o argumento feito por um ex-dirigente que, como se movido
pelo remorso, afirma que “quanto menos usar o SEBRAE melhor” seria um indicador de
Dentro desse ânimo que a agência chega à fase atual de ação institucionalizadora,
fundamentada cada vez mais na institucionalização e difusão em escala nacional de uma sub-
atuando de forma descentralizada, não apenas através de seus escritórios, mas também através
desejo de seu primeiro diretor-presidente, atuando como “uma ponte”, liderando pelo
(2002:108).
agência como “uma ponte”, não conseguir definir e medir sua produção e não saber o que e
para quem produzir, significa dizer que o principal problema da agência é o contrário do que
se propõe a ser.
251
evolução”, como uma das bases de conhecimento que precisa ter para conseguir realizar o
objetivo geral de “fazer acontecer” e diante da possibilidade gerada pela análise que apontava
CEBRAE no final dos oitenta – alvorecer do novo Sebrae, com ser movido por sonhos e
volições.
macroprioridades do país”: o “combate à exclusão social” que não pode ser realizado “apenas
com políticas sociais compensatórias”, pois “não são políticas libertadoras. A libertação
equivocada, a nosso ver, do fenômeno da PE italiana, o que não deveria acontecer com uma
instituição com trinta anos de existência que tem a sua disposição um conjunto de
informações que permitiria uma avaliação crítica de seus postulados no lugar da formulação
Primeiro, porque o caminho italiano da exportação não foi nem é uma escolha
trabalho dos distritos italianos, não é um recurso argumentativo adequado para inferir como
verdade as políticas brasileiras são políticas no papel que um Estado interveniente controla e
distribui segundo critérios relativamente arbitrários, como faz o próprio Sebrae que não
252
submete suas decisões alocativas a estratégias mais gerais e mais estáveis. Quanto à questão
tratando de realidades sociais absolutamente distintas, não podem ser comparadas por meio de
simples justaposição. Esse disfarce evidencia mais uma faceta da realidade ocultada na ação
quadro neopatrimonialista descrito por Werneck Vianna [199-], onde o processo decisório
tributária58 .
A terceira fase do sistema SEBRAE marca uma clara opção pela integração da PE às
estruturas produtivas. “Reforçamos nosso papel de indutores dos elos de ligação nas cadeias
dessas relações, como acontece em outros ambientes onde essa integração é intencionada
princípios onde vigora um idealismo moral em descompasso com a realidade histórica das
relações sociais no país e, até mesmo, pela própria natureza da concorrência intercapitalista,
especialmente entre pequenos capitais e entre capitais de portes distintos. Vários desses
princípios são adjetivados com expressões que reforçam o conteúdo moral implícito, por
58
Num recente evento promovido pelo SEBRAE/BA sobre a Lei Geral da MPE, este argumento foi expresso e
defendido publicamente por um dirigente da agência de forma natural e lógica.
253
sustentável da micro e pequena empresa”; a “austeridade [e] uso criativo dos recursos”
aberta”; a “eliminação radical das situações potenciais de conflito de interesses que possam
Por outro lado, considerando que a agência controla um orçamento equivalente ou até
esfera da política e dos interesses, enquanto ela própria se vê e se propõe atuar politicamente
em prol dos interesses do pequeno, como também a partir de uma proposta de mudança
sua agenda a discussão sobre os interesses subjacentes ao espaço da PE, o que não faz.
termos e modos propostos em Thompson (1995:82) como uma dissimulação ideológica onde
“causa da PE”. Tratar a PE como se ela tivesse uma causa libertadora transfigurada como
Também podemos perceber a ideologia à medida que o discurso busca simbolizar a existência
254
existe em uma realidade fragmentada moralmente, como na luta entre a “transparência” contra
radical do conflito”.
2004).
SEBRAE
real para a qual convergem diversos interesses dos diferentes atores políticos implicados de
59
Fonte: http://www.sebrae.org.br. Em 10/10/1998.
255
SEBRAE caracteriza-se, entre outros aspectos, pelo fato de ser uma entidade
“autônoma”, ou seja, com liberdade de ação típica da iniciativa privada tanto em relação a
uma atuação concreta desimpedida dos entraves burocráticos comuns ao terreno público,
que o maior porte das operações de produção da empresa garanta, por si só, este
desenvolvimento. Mesmo que o foco de sua atuação consista na busca por “aumento” da
propostos, que são implementados através de ações visando informar, capacitar gerencial e
interesses regionais. São orientadas por Conselho Deliberativo próprio, conforme diretrizes do
60
Também nesta seção do trabalho todos os grifos não referenciados no texto são nossos.
61
O sentido que se pretende para desenvolvimento é diferente da noção restrita de crescimento, quantificável,
normalmente associada ao termo. Assim, por desenvolvimento, num sentido amplo, se quer associar a idéia de
permanência, de sobrevivência, além de incorporar a melhoria qualitativa, o aprimoramento.
62
A composição do CDN encontra-se no Anexo A.
256
políticas públicas tem sido desde essa época considerados pífios (GONÇALVES, 1996). Em
e apoio à PE.
estrategicamente. Ou seja, podemos aventar que agora, o principal papel objetivado pelo
de redes e parcerias como formas privilegiadas de “fazer acontecer”. Nesse caso, os dois
vetores de formatação dessas ações são “educação e tecnologia”, o que reforça a nossa
perspectiva quanto ao protagonismo das dimensões institucional e política devem ter para o
“SEBRAE reinventado”.
257
Este discurso, agora aparentemente, menos formal, mais moderno – por pretender ser
ágil, efetivo e voltado aos interesses daqueles que se constituem como objeto de sua ação – e
aberto, à medida que passa a declarar-se fruto da ação política, apresenta-se também mais
ausência (da PE) no processo de formulação e deliberação acerca daquilo que lhe interessaria
63
Direcionamento Estratégico 1999 – 2000: A Reinvenção do SEBRAE.
64
Fonte: http://www.sebrae.org.br. Em 15/05/2002.
258
contradição existente nos termos que emprega para declarar sua efetividade em razão das
entrevistado por Pio (2003). Segundo o entrevistado, nos anos 80 iniciou-se um movimento de
organização das PE, também constatado por Soares (1982), que, segundo Cascaes, “foi
ordenamento jurídico específico à PE não permite que se a reconheça e com isso “o campo
está aberto para a prevalência da visão fiscalista”. O exemplo dessa visão é “o Simples [que]
não passa de uma ferramenta da Receita”. Segundo Cascaes, o maior problema da PE decorre
da não existência de quem formule suas políticas públicas. A agência SEBRAE que “pode ser
relação aos problemas das pequenas empresas. Na prática o Sebrae cria a sensação de que o
O que se depreende dessa alegação é que as políticas são formuladas não para a PE,
mas para atender às funções que a PE deve desempenhar. Assim, existem políticas que
por grandes empresas, que visam a capacitação e/ou requalificação de mão de obra, entre
beneficia antes o aumento do consumo e não a PE propriamente, o que pôde ser evidenciado
A ideologia se desvela a cada vez que um membro do CDN da agência fala em nome
dela. Assim acontece, por exemplo, quando Monteiro Neto (apud DIRECIONAMENTO,
2003) diz que a agenda de trabalho do SEBRAE “busca sintonizar as ações da instituição com
a prioridade dada pelo governo à PE como instrumento eficaz para expandir o emprego,
259
gerar e distribuir renda e promover a inclusão social. [...] A nova ênfase requer e pressupõe a
seus atributos competitivos sejam incentivados como um meio através do qual ela possa
disposições subjetivas latentes que possibilitarão sua inserção ativa no sistema produtivo,
pelo saber que associados ao pensar e agir empreendedores aceleram a construção de uma
nova forma de desenvolver, organizar e oferecer “soluções educacionais”, que vai substituir
proatividade na relação com o mundo. Essa postura, condicionada por características pessoais,
mudança provocada pela técnica, pelas ciências e pelo modo industrial de produção”. Essa
idéia encerra uma perspectiva problemática onde a ciência e a técnica são tomados como
variáveis independentes às quais resta ao homem adaptar-se. Nesse sentido a educação não
pode aspirar senão a uma função integradora que, no lugar de buscar propiciar uma alteração
à sua lógica.
afirme considerar a dimensão social do ser humano, não parece disposta a incorporar uma
saberes constituídos acerca da pequena empresa, mas de manter-se numa posição douta sobre
fenômeno sociocultural. Tal perspectiva tem como corolário, primeiro, colocar a solução da
necessário recurso “às nossas origens e raízes” buscando “o nosso próprio caminho”, como se
261
ao longo do tempo.
pouco pode dizer sobre as condições objetivas sob as quais essa “cultura” emerge. Relacionar
consiste num argumento que não subsiste ao exame, se questionado sob a dinâmica das
relações sociais, a não ser no sentido político ideológico de impor uma cultura dominante.
recurso à história como uma seqüência de atos dispostos no tempo, que reconhecidos em seus
efeitos pudessem orientar e justificar uma mudança pretendida, o que limita a análise da
sua produção.
O determinismo cultural com que o autor fundamenta a questão propicia uma inversão
ideológica, conforme identifica num aspecto cultural “histórico” o inimigo a ser expurgado:
interesse no campo do empreendedorismo insuficiente para “criar uma massa crítica que
segmento social” possui valores éticos em maior ou menor grau que outros, significando que
“um dos grandes desafios dos que lidam com o ensino do empreendedorismo é combater a
262
ensino”. Evidentemente que tal “cultura” não se limita ao ensino, nem mesmo se trata de uma
como um processo cultural que resulta numa imagem distorcida da atividade empresarial e
num apego à cultura da grande empresa. Nesse argumento identificamos a conjugação de dois
social negativa acerca da atividade empresarial e cultura ao grande ao tratar como causa o que
é resultado.
PE inovadoras dos EUA, como no caso exemplar do Vale do Silício, já nos parece equivocada
por não incorporar à análise as especificidades do processo, o contexto em que ocorre e por
A transposição dessa dinâmica para o Brasil é ainda mais errônea, seja como lógica
inerente ao pequeno ou como desejo ou possibilidade estratégica, à medida que não leva em
trabalho, mas também por ignorar a trajetória de industrialização do país e o papel do Estado,
a ação pública na configuração dessa trajetória e, dentro disso, o papel institucional irrisório
da PE.
Esse mesmo gerente vai afirmar “a vocação do Brasil como berço dos pequenos
negócios, [os quais] funcionam como mola propulsora da economia” (BRASIL, 2003:25).
Mas o sentido simbólico conferido não é esse, e sim um que apóia a visão
cresce, propulsa a economia. Essa idéia, presente em vários discursos acerca do pequeno,
revela-se problemática conforme se evidencie que essa iniciativa propulsiva do pequeno não
decorre de escolhas deliberadas, mas da necessidade imposta pela falta de alternativas, que
não a de ter que “tentar a sorte” ou “se virar como pode”. A partir daí podemos reconsiderar
os termos em que o país revela uma vocação para gerar pequenos negócios, todavia, esta não
terá o sentido simbólico que a agência busca configurar e, se acrescentamos ao cenário o fato
do Estado historicamente vir privilegiando o grande capital (FERREIRA, 2000), então essa
bem como a promessa implícita que associa o poder da agência em garantir a existência e o
desenvolvimento desse espírito que já existe em cada um. A abordagem prescricionista, que
264
reforça ainda mais o poder da agência, se evidencia quando a agência se vê, através da figura
(TENDÊNCIA, 1999).
pequeno, requer que seja despertado, ou seja, não se reconhece e necessita que outrem o
declare. O mesmo sentido é encontrado em outros aspectos dessa PE, como a questão de seu
despreparo gerencial que, uma vez tratado pela agência, poderia desenvolver-se em plenitude.
menos um, o de refletir sobre si próprio, o que torna problemática sua assunção como sujeito
da ação.
resposta que o mesmo dá quando inquirido sobre as relações contraditórias [sic], diríamos
serem desenvolvidos por pequenas empresas. As grandes [empresas] são [...] federações de
pequenas empresas” e, mais adiante, “o apoio à grande empresa é fundamental, até porque a
grande empresa é geradora de pequenas empresas [...] e não pode existir sem a presença da
sutil que associado à natureza subordinada e dependente da PE, serve para justificar seu
nato”. Para em seguida emendar: “mas esse espírito precisa ser modulado, precisa de
relação que ainda não pôde ser comprovada apesar de todo o esforço empreendido pela
individual, como se o problema estivesse em cada um, o que traz de volta o argumento que
mencionada não transparece institucionalizada, senão como uma possibilidade, ou seja, não
significa que aquele que desenvolver essa cultura necessariamente sobreviverá, enquanto os
e indicar a solução para eles, o argumento conseqüente é hipotético, e sobre ele o discurso da
em razão do alto nível de desemprego” (FALTA, 2003). Aqui o discurso revela que, a
avaliar sua situação e tomar decisões estratégicas, revelando o caráter ambíguo e problemático
convocatório e consoante com o resultado das pesquisas que colocam a população dentre as
agência estadual afirma que “empreendedores natos são excessão [sic]” e que “ser
empreendedor é uma forma de ver o mundo”, de modo que “todas essas características podem
Considerando que, para ele, o empreendedor nato não existe, todo esse conjunto de
aptidões precisa ser transferido e a inculcação ideológica se apresenta como uma estratégia
empregado que não tiver esse perfil pode se considerar fora do disputado mercado”, pois da
mesma forma que o empresário precisa se relacionar, o empregado que não tiver esse espírito
“estará dentro dos indicadores de desempregados do País, mesmo que ele seja competente”
(BARNUEVO, 2004).
natureza contraditória das relações sociais de produção, a presença das invariâncias estruturais
organizar para permitir, não uma transformação do padrão dessas relações, o que colocaria em
um sobre-esforço para o atendimento das exigências impostas ao país no quadro mais geral da
reprodução capitalista.
simbólicas que, cada vez mais se constituem em meios através dos quais se infundem
se dá num contexto social estruturado e permeado por relações de poder e formas de conflito,
Isso implica que tais formas são objeto de processos de valorização, tanto simbólica quanto
(THOMPSON, 1995).
atividade estratégica fundamental para o SEBRAE, reforçada à medida que a agência toma a
si uma missão educativa relacionada à cultura empreendedora. Com isso, sua ação
institucional cada vez mais passa a valer-se do recurso comunicativo, o que significa dizer que
268
sua ação comunicativa não é apenas informativa, mas tem uma intencionalidade formativa e
instituinte – conceitual.
pensamento a respeito desse ser. Não é a coisa, mas a compreensão intelectual da coisa.
O discurso do Sebrae, embora não faça qualquer referência à natureza ideológica que
aberta com uma citação de Idalberto Chiavenato, um autor nacional muito conhecido no
campo da administração de empresas, que define educação como “toda a influência que o ser
humano recebe do ambiente social durante toda a sua existência, no sentido de adaptar-se às
normas e valores sociais vigentes e aceitos". Nessa definição percebe-se claramente o sentido
compreensão que a agência tem quanto aos propósitos da educação e a forma que deve
imprimir às ações educativas desenvolvidas. Característica que a agência não nega quando
65
FONTE: http://educacao.sebrae.com.br/. Disponível também no ANEXO B.
269
indivíduo que possui ou busca desenvolver uma atitude de inquietação, ousadia e pró-
atividade na relação com o mundo, condicionada por características pessoais, pela cultura e
empresa, não pode eximir-se de refletir sobre as dimensões, aspectos e elementos inscritos na
linguagem conceitual que adota à medida que esta interfere, condiciona e estimula, as
estabelecer uma relação significativa com a realidade social do agente pequeno ou em vias de
forma aproximada como “alguém que equilibra o sonhar com o fazer” e “alguém que sonha o
sonho acordado e busca transformar o seu sonho em realidade”, respectivamente. Nessas duas
definições o sonho em si já encerra uma dimensão ideológica conquanto sirva para produzir
66
Associação Brasileira dos SEBRAEs Estaduais
67
Vide ANEXO B.
270
signos na vida social, para orientar a ação ou para conferir identificação aos indivíduos
(EAGLETON, 1997:15).
É o que faz a agência, primeiro, ao afirmar que a educação passou a ser o determinante
fundamental não só para inovação tecnológica, como também para o futuro das pessoas, razão
pela qual suas ações educativas se compõem de “sonhos e objetivos concretos” sintonizados
com a realidade atual e que vislumbram uma sociedade mais justa que ofereça “mais
oportunidades de evolução pessoal e profissional”. Segundo, ao citar L.J. Fillion, que diz: "O
Brasil está sentado em cima de uma das maiores riquezas naturais do mundo ainda
Monitor-GEM” que busca mensurar e avaliar a atividade empreendedora e que tem como
(2004), a grande novidade para este ano é o Brasil ocupar o terceiro lugar no
a partir da identificação de uma oportunidade, daquele outro que o faz mesmo sem ter
identificado essa oportunidade, ou seja, por necessidade decorrente do fato de não dispor de
uma forma regular de reprodução simples, normalmente, o trabalho assalariado. Tal distinção
271
não nos parece estar situada sobre um mesmo vetor diferenciando-se em grau ou direção, e
contraditórias, revelando, talvez, o último, um não-empreendedorismo uma vez que não lhe
ser, e é aí que a ideologia se revela, que tal contradição não importe para os efeitos desejados
Os discursos produzidos com base nos relatórios de pesquisa tendem a associar esses
empreendedora pudesse variar acentuadamente de um ano para outro e depois voltar, ou não,
a níveis anteriores, revelando uma plasticidade cultural incrível, qualquer que seja o conceito
um país que, subitamente, desenvolveu uma cultura empreendedora alçando-o aos primeiros
lugares no mundo, mesmo reconhecendo a existência da crise estrutural por que vem
Uganda que, com todo o respeito ao seu povo, viu-se transformado no país de maior índice de
empreendedorismo do mundo, onde um em cada três ugandenses que têm entre 18 e 64 anos
são empreendedores. A despeito de qualquer consideração relativizante que possa ser alegada,
está concretamente publicado que em torno de 30% da força de trabalho de Uganda são
empreendedores, e esse fato criado é utilizado nos discursos que valorizam e estimulam o
empreendedorismo. Não se pode supor que tais pesquisas não contenham uma ideologia que
as justifiquem, ou seja, a simples não manifestação direta daquilo que está concretamente
afirmado, não é suficiente para pretender ou afirmar isenção ideológica, Seria muita
aspectos estruturais e conjunturais que atuam sobre os resultados. Informar dados sem essa
ideológico.
pequeno a responsabilidade não só dos efeitos positivos decorrentes dessa sua nova postura,
mas também os negativos que sua ação na produção possam ter, ou seja, a institucionalização
agência que aborda a questão da mortalidade das micro e pequenas empresas (MPE). Dada a
68
Como a personagem “Rico” de SENNETT em “A corrosão do caráter”.
273
pesquisa semelhante realizada cinco anos antes (PESQUISA, 1999) nos mostra que a situação
da taxa de mortalidade parece ser histórico. No início dos oitenta, segundo estimativas e
pesquisas da época (RATTNER, 1984:70), metade das PME fracassava durante os primeiros
cinco anos, e até 90% encerravam suas atividades antes de completar dez anos.
pequena empresa que fracassa a taxas elevadas. Noventa e seis por cento das empresas
extintas são microempresas com 3,2 empregados em média. Dessas empresas extintas apenas
3% atuam na indústria e a quase totalidade se divide quase ao meio entre comércio e serviços.
podemos supor que sejam, em sua grande maioria, pequenos comércios varejistas de ramos
69
Considerando que as amostras de cada estado pesquisado tiveram o mesmo tamanho, a média aritmética dos
resultados por Estado pode representar uma média geral. Assim, as taxas de mortalidade média encontradas na
pesquisa anterior seriam de 43%, 52% e 60%, enquanto na pesquisa recente são 49%, 56% e 60%,
respectivamente para empresas como um, dois e três anos de atividade. (PESQUISA, 1999 e FATORES, 2004)
274
pessoais. Não é difícil imaginar que poucas poderiam ser consideradas empresas de base
Em linhas gerais podemos dizer que a crítica ao modo como essas pesquisas são
diz respeito à escolha metodológica por uma pesquisa de opinião e a importância dada à
opinião dos empresários sobre determinadas questões fundamentais aos objetivos da pesquisa
despreparo técnico do pequeno empresário, a este não poderia ser imputada competência para
pudesse projetar nas suas respostas. No entanto, é exatamente sobre esse tipo de dado que a
pesquisa se fundamenta.
Mesmo levando em conta que o empresário sondado, por ser a fonte direta e primária
de informação, apenas declara os fatos concretos que conduziram sua empresa ao fracasso,
ainda assim, a interpretação teórica utilizada para associar as respostas dadas a causas
micro e viés neoclássico, o que temos visto ser insuficiente para a compreensão da estrutura e
dinâmica da PE.
275
Daí decorre a segunda questão que diz respeito à interpretação que é feita dos dados
uma “falha gerencial” que vai se constituir por intermédio dessa interpretação na principal
Tal análise encontra a PE como uma abstração formal e não como uma realidade
social que se concretiza num determinado tempo e espaço históricos, ignorando também as
condições conjunturais da ação dos agentes participantes. É possível entrever nessa análise
abstraída da realidade que não é confrontada pelo próprio objeto instituído, à medida que este
existe apenas como idealização e o que existe, na realidade, é ignorado ou não é capaz de
expressar-se socialmente.
percentual de empresas que buscaram apoio/consultoria no SEBRAE foi maior nas empresas
extintas do que nas empresas em atividade, o que deveria merecer a atenção da agência no
buscam o apoio da agência. Essa forma de seleção “proveitosa” dos dados levantados pela
que ficam menos visíveis, permite o uso mercadológico dessas informações realçadas
(COELHO, 1996).
proprietários de empresas extintas e ativas quanto a aspectos como sexo, idade, atividade
exercida anteriormente ou escolaridade. Sobre a escolaridade importa perceber que 75% dos
proprietários das empresas extintas tinham escolaridade entre colegial completa e superior
Ao constatar, todavia, que este percentual corresponde não somente aos negócios
extintos mais também aos em funcionamento, percebemos que esta pode ser uma
característica do pequeno empresário nacional, que não é outro senão aquele oriundo das
classes médias e que sofre de forma mais aguda a problemática do desemprego, que dispõe de
melhores condições para alavancar recursos para a formação de uma PE e também aquele
discurso quanto pela posição e situação social que ocupam, ou seja, escolarizados e
Na análise quanto às razões para ter iniciado o negócio, as alegações não diferem
(PESQUISA, 1999), a opção “identificou uma oportunidade de negócio” – que vem a ser a
70
Conforme as indicações constantes no portal de educação do Sebrae (http://educacao.sebrae.com.br/).
277
comportamento mais estimulado por todas as metodologias disseminadas pela agência – foi a
mais alegada por ambos os tipos de empresários. A segunda razão mais citada, para as
empresas ativas é “ter experiência anterior”, enquanto para empresas extintas é “ter tempo
pesquisa anterior a “identificação de oportunidade” aparece como a terceira razão mais citada,
enquanto o “tempo disponível” ainda é mais freqüente entre as empresas extintas do que entre
as empresas ativas e a opção “ter experiência anterior” passa a apresentar uma correlação
positiva com a situação das empresas extintas, o que deveria também merecer a atenção da
agência.
de recursos – quase vinte bilhões de reais no período de três anos – que não são recuperados
pelas microempresas que sucumbem, recursos cuja transferência resulta num movimento de
concentração de renda, supondo que algo em torno de dois terços desses recursos são
economia e produção.
incentivação da PE das ações que buscam fortalecê-la, evidenciando que uma incentivação
278
inconseqüente pode ser prejudicial à economia social do país, o que deveria ser objeto de
conjunto de matérias jornalísticas sobre seus resultados, divulgadas e veiculadas pela Agência
universo de dados produzidos pela pesquisa. Ao mesmo tempo, relacionar essas mensagens
Uma das matérias se intitula “Estudo revela que empresas extintas não procuraram
apoio do Sebrae”. O discurso, de tom didático, afirma que, “basicamente”, o alto índice de
associando isto ao fato destas empresas extintas não terem procurado o apoio do SEBRAE.
Embora a matéria não divulgue essa quantidade específica e, no seu lugar, apresente o número
de empresários, dentre as empresa extintas, que iniciaram o negócio sem experiência anterior
procurou auxílio e tinha experiência, e que entre as empresas ativas as características não
“Falhas gerenciais obrigam fechamento precoce de empresas brasileiras” ao afirmar que “as
empresas brasileiras morrem mais devido a falhas gerenciais do que por problemas
que recorre à opinião daquele empresário, considerado incapacitado, para extrair informações
válidas. Na verdade, o respondente não faz isso, pois tal conclusão resulta da interpretação
dos dados feita pelos autores da pesquisa. Por isso, é possível questionar a maneira como as
resposta mais citadas) sejam interpretadas como resultado exclusivo de “falhas gerenciais”.
sua existência concreta, parece-nos inadequado não reconhecer a relação entre um quadro
recessivo, demonstrado pela própria pesquisa nas opções de resposta “falta de clientes” e
“maus pagadores” (segunda e quarta mais citadas), e a utilização à exaustão das fontes de
recursos, o alto risco assumido no investimento por falta de recursos para obtenção de
informações e/ou a falta de suportes financeiros adequados para este tipo de investimento –
dados que a pesquisa também levanta. Isolar estas “causas” técnicas e, em seguida,
inversão onde se procura uma razão à qual se possa atribuir um resultado pressuposto.
Além disso, a matéria “se esquece” de mencionar que também entre as empresas em
atividade a “falta de capital de giro” corresponde a 42% das respostas dadas, exatamente o
problemática da MPE e a ação da agência para a “solução” desta. A matéria “Pesquisa revela
280
que 32% de empresas extintas não buscaram assessoria” afirma também que “apenas 3% das
empresas extintas nos últimos quatro anos buscaram ajuda do Sebrae” passando em seguida a
2004d). Contudo, o que a matéria não diz é que entre as empresas ativas apenas 2% buscaram
o Sebrae e que, igualmente às empresas extintas, 67% das empresas ativas não procurou
O mesmo tipo de seleção ocorre na matéria “Maioria das empresas extintas não
participava de associações” onde um dos gestores da agência declara que “em muitos casos,
exatamente por causa dessa solidão” (MANFRINI, 2004c), deixando de esclarecer que as
associativas.
pequeno, a matéria jornalística oficial informa que “o presidente do Sebrae destacou que a
pesquisa fez um diagnóstico que vai permitir à instituição definir campos de atuação para
cumprir sua missão de apoiar a micro e pequena empresa” (MANFRINI, 2004a). parece-nos,
no mínimo, estranho que, após tanta expertise no campo da PE, uma pesquisa dessa natureza
subjetivista das relações sociais e no primado da ação subjetiva na construção dos nexos
sociais que orientam as práticas de uma sociedade, aquilo que Bourdieu (1998:61) chama de
Ao afirmar que “primeiro, nós formamos os hábitos, depois, eles nos formam”
sociais em geral e sua transformação. No caso, um discurso exortativo que repete inúmeras
cooperar e estabelecer relações de confiança, mas que passa do nível descritivo ao nível
propositivo de uma “cultura de cooperação” sem qualquer mediação analítica a respeito dos
processos que geraram tal situação, nem das condições e possibilidades para a consecução de
tal mudança.
Ao postular que a cultura da cooperação não acontece por causa da “atitude básica das
pessoas de desconfiar umas das outras e das instituições” (COSTA, 2002:16), identificando a
origem do problema “[n]esses traços culturais, herança trágica de nosso passado colonial”
social, para o qual contribuem virtudes individuais e sociais, estas últimas “menos estudadas”,
lócus da confiança.
Embora não faça qualquer questionamento quanto ao fato das “virtudes sociais
[serem] menos estudadas do que as virtudes individuais”, o autor adverte que “para fazer
nascer a confiança [...] não basta fazermos a pregação [e] o discurso racional acerca dessa
virtude. É preciso criar condições que propiciem a mobilização das pessoas” (itálico do autor)
mobilização que se “expressa por meio de um imaginário social convocante. Uma visão,
uma imagem do futuro desejado, que seja capaz de envolver as pessoas em termos de razão,
Nesse discurso percebemos como a visão sistêmica emerge como uma linguagem
que passa de meio a um fim em si mesmo. Nesse sentido, a ideologia não se revela apenas
afirmativa, mas contém um sentido capaz de acobertar relações de dominação conforme não
identifique a posição do sujeito que mobiliza e cria o imaginário social no campo das relações
sociais.
cultura, são elementos que contribuem para a interpretação quanto à forma ideologizada com
que uma cultura de cooperação é proposta, entendendo o texto de COSTA (2002) como
desenvolvimento que precisam recuperar o hiato tecnológico e econômico, e para a PE, onde
desenvolvimento de intervenções sempre de cima para baixo, como se o problema fosse tão
inexoráveis.
redes de cooperação, nesses casos, emerge como a condição determinante do sucesso dessas
aparece como o elemento capaz de gerar confiabilidade entre os participantes que, situados
Quando nos referimos à natureza desigual institucionalizada nas relações entre capitais
de diferentes portes, ou seja, nas relações pequeno-grande, o fazemos a partir de uma analogia
termos relacionais, conforme representam agentes em disputa por posições de poder num
Souza e Araújo (apud TAGLIASSUCHI, 1987:65) quando dizem que “[...] a problemática do
setor informal [e de pequenas empresas] é, com alguns aspectos novos, a ampliação do debate
mais global em busca de uma explicação para a miséria ou o subdesenvolvimento nos países
atrasados”.
local.
alternativa competitiva através da redução dos custos com o trabalho. Nesse sentido, políticas
setores produtivos como calçados e vestuário que se caracterizam pelo uso intenso de mão de
obra na fase de acabamento, se constituem no exemplo dessa ambigüidade, à medida que são
Este caso não retrata apenas um exemplo isolado ou relacionado a uma conjuntura
quando a condição para a competitividade aparece cada vez mais atrelada ao estabelecimento
de relações mais eqüitativas, e o quadro institucional que decorre dessa fundamentação tem
O que fica patente nessa situação, diante da incapacidade das estruturas empresarial e
transformação dessas relações diante da solidez com que práticas sociais arcaicas ainda se
substancialmente, quanto mais se sua contribuição puder ser codificada, ou seja, reproduzida
285
por outros agentes, como dizem os evolucionistas, ou noutra linguagem, quanto menos poder
mercado e fluxo de mudanças tecnológicas da grande para a pequena empresa, senão sob uma
A pouca atenção dada pela agência à natureza assimétrica das relações entre pequenas
diferentes contextos (ACS et al, 2001) e é reiterada por especialistas contratados pelo próprio
que se torna difícil, senão impossível, sua superação através dos mecanismos institucionais de
mercado, ditos competitivos, disponíveis. Tanto assim que os autores advogam a necessidade
pela pesquisa dos autores. Vão além dizendo que “uma ação governamental sem uma
Hoje elas (pequenas empresas) morrem por causa disso, pelo seu despreparo e pelo
ambiente muito hostil que as afetam”, no entanto, “o amparo virá com a Lei
Geral71 , que deverá prever simplificação tributária, redução de burocracia, regras de
crédito, de acesso à tecnologia e às compras governamentais de forma diferenciada.
condições institucionalizadas, uma vez que não resultam na alteração do padrão de relações
sociais. Ou seja, não é possível descartar a idéia de que tais simplificações terminem por se
pequeno vir a “ser dono do próprio nariz”, para aumentar a base tributária, o que não é do
apresentada como medida de “inclusão no campo econômico”, onde “o capital da pessoa seria
o próprio trabalho [e] o que sobrar é a renda sobre a qual ele pagará imposto. Com total
subsumida por outras, de natureza prática, conforme promova uma série de facilidades para o
“capitalista trabalhador” ou vice-versa – parece não existir distinção – decorrente de sua saída
da informalidade, assim como para o sistema que passaria a contar com novos contribuintes.
71
Existe em curso a proposta de criação de uma Lei Geral das MPEs, que visa regulamentar o tratamento
diferenciado (compensatório) previsto constitucionalmente, na qual se prevê a simplificação e redução dos
tributos e contribuições que incidem sobre a PE, nos três níveis de governo, além de tratar da desburocratização,
do acesso ao crédito, às compras governamentais, às informações de mercado e à tecnologia.
72
O governo acaba de lançar um pacote tributário que reduz consideravelmente os impostos para microempresas
(geralmente informais) que faturam até trinta e seis mil reais por ano (GOVERNO, 2004) cuja finalidade é
conferir “cidadania empresarial” em troca de um aumento de receita tributária e de melhores condições de
competição para as empresas formais (que sonegariam menos conforme melhorassem as condições de
competição).
287
entraves históricos à democratização dos meios de produção, longe ainda de serem superados.
Reflexo das mudanças estruturais em curso, onde a manutenção dos mecanismos restritivos
acumulativo.
em mais uma forma institucional que intenta a supressão das relações capital-trabalho, à
menores ainda, à medida que perdem a “competitividade” que a informalidade lhe conferia,
embora, do ponto de vista da luta de classes, tal instituto pode vir a representar uma alteração
5 - CONCLUSÕES
forma como vem sendo institucionalizada pelo SEBRAE, especialmente a partir de sua
“Reinvenção”.
que precisaríamos demonstrar o sentido mais geral da operação ideológica, seja para
consciência do pequeno.
realidade vivida pela PE – estrutura e agente, o que acreditamos ter conseguido, à medida que
em que a PE se insere na dinâmica produtiva atual sob a capa de formas estratégicas das ações
âmbito da operação ideológica possibilitada pelo poder instituinte das analogias naturais ou
possibilitou-nos uma visão longitudinal sob determinados aspectos que, fora dela
como natureza.
a contextualização social e o sentido significativo através dos quais a agência vai amparar sua
historicidade das formas produtivas existentes e de suas inter-relações; a não consideração aos
subdesenvolvido, bem como a natureza da ordem social competitiva que se instaura no bojo
Foi possível constatar, neste ínterim, que a agência adapta seu discurso conforme às
essa dinâmica.
exemplos que intenta emular, mesmo diante de evidências que apontam e colocam o
Foi possível evidenciar que as práticas de mudança não vão além das ações dos
próprios agentes produtivos tidos como sujeitos, passando ao largo das esferas decisoras
fazendo com que o largo emprego da retórica discursiva e da exortação se constituam com um
fim em si mesmo.
O processo de mudança cultural não pode prever o que vai acontecer, ficam
encerrados na própria lógica à medida que atuam pelo lado da oferta, pressupondo primeiro
que o problema seja de natureza cultural e segundo que ofertada uma alternativa que se
mostra racionalmente mais atraente, seja também racionalmente adotada e com isso mude a
já é mencionada desde os anos oitenta nos relatórios do SEBRAE/BA. Significa que, de uma
maneira ou outra, são trinta anos de atuação segundo uma abordagem de “transformação de
291
atitudes” cujo “percurso é muito difícil” e sobre a qual “não se têm respostas” e “muito há
incorporados por essa dinâmica produtiva. Para isso busca instituir essa PE competitiva
orientam sua ação – o risco da própria sobrevivência, adoção de uma lógica de mercado na
operacional” podemos argüir em defesa de nossa hipótese, a persistência com que a agência
adota uma abordagem teórica do fenômeno que não coloca em tela os limites estruturais
impostos pela dinâmica de reprodução capitalista à ação da PE, evidenciada pela ausência de
analítica de alguns trabalhos feitos nos anos oitenta se orientasse por esse viés analítico73 . Ao
como “uma teoria voluntarista da ação” (MÜNCH, 1999), condizente com a concepção de
ideologia como um conjunto de crenças voltado para a ação, a partir da qual, de uma forma
É nesse sentido que a agência vem buscando consolidar uma posição de especialista da
produção simbólica acerca da PE, opção estratégica que tem sua origem em dois momentos de
inflexão na sua trajetória, o primeiro quando passa à condição de serviço autônomo mais
estratégico da agência.
(1997:172), que buscamos ver a ideologia não tanto como um conjunto de discursos, mas “um
conjunto particular de efeitos dentro dos discursos”, ou seja, o que nos interessa ressaltar são
73
Fundação (1980); Souza e Araújo (1982; 1983); Soares (1982).
293
Nesse sentido, a ideologia está contida na medida que ajuda a “legitimar uma ordem
social injusta” e a manutenção do status quo. Nesse caso não importa se as idéias e crenças
indigna. Mas o discurso geral também é ideológico conforme engendra uma “ilusão social em
medida que represente uma visão de classe dominante, na qual atribui à PE uma função que,
da PE, como sua mortalidade elevada, a não utilização de técnicas administrativas, a falta de
como são introduzidos nos discursos, não por seu próprio valor, mas como suporte para uma
visão global de mundo do próprio discurso. Ou seja, “as verdades empíricas são organizadas
como componentes de uma retórica global”, que pode, portanto, deixar de funcionar como
competitivo. Nesse caso, a ideologia assume a forma de uma “complexa rede de elementos
protagonista de uma transformação social e que tal movimento pode ter uma amplitude
sistêmica. A segunda crítica é dirigida à avaliação que aponta a falta de uma cultura
empreendedora e cooperativa como fator que impossibilita tal pretensão. Tais pretensão e
avaliação não decorrem de uma análise, mas surgem como efeitos discursivos concretos
processos de acordos, ajustes e permutas entre uma visão de mundo e elementos prescritivos
prescrições técnicas, com o objetivo de assegurar a ação combinada pela preservação de uma
Assim, o uso inadequado de modelos, no caso da apologia ao modelo italiano feita por
da PE, de sua situação arcaica ou neonata à sobrevivência bem sucedida, como uma seqüência
O fato da ação do Sebrae ser dirigida para o pequeno e não pelo pequeno, não apenas
legitimar sua ação. É nesse sentido que o “espírito empreendedor” associado à idéia de auto
mesma forma acontece com idéia pacífica e harmoniosa constante da integração às cadeias
forma mais ideologizada da PE. Para algo ser ideológico não é necessário que seja falso em si.
A mortalidade alta e a falta de capacitação não envolvem falsidades, todavia são ideológicos
295
conforme o uso que é feito dessas realidades servem para reforçar seu próprio poder e
envolvem relações de dominação. Por outro lado, declarar que esta mortalidade decorre da
falta de capacitação, inferindo daí que, se fosse capacitada, se houvesse recorrido ao apoio ou
levado em conta o conhecimento oferecido pela agência não morreria, envolve uma distorção
sobrevivência da PE. Nesses casos a ideologia se manifesta no nível epistêmico, mas são, ao
(EAGLETON, 1997:35).
racionalmente objetivado e as possibilidades para sua superação são propostas ao nível das
funciona impedindo a ação objetiva do pequeno, como se fosse uma barreira cognitiva quanto
dominante, não pode ser admitido como ideológico, conquanto não se trata de iludir sobre
controle da produção, como acontece nas “cooperfraudes”, são exemplos que podem ilustrar a
agência ou a preocupação com a mortalidade muito mais alta que a de outros países ou ainda
tratamento diferenciado para os desiguais, são ideológicos à medida que envolve alguma
falsidade necessária para que as pessoas acreditem que algo está sendo feito e/ou que vai ser
corrigido ou mesmo que são inevitáveis como a mortalidade em si. Nesse sentido a inculcação
da crença na ação “em favor de” faz parte da função da ideologia dominante.
do poder simbólico da agência – outras concepções ideológicas mais neutras também operam,
visões ideológicas. No entanto, o que importa salientar é a natureza funcional auxiliar que tais
explica, possivelmente, o fato da agência não buscar consolidar uma linguagem que expresse
segundo uma abordagem mais substantiva em si mesmo, mas à medida que tal ideologia
deixam claro que o que está em jogo não é a PE em si, ou o que possa acontecer com uma ou
qualquer PE, mas a PE funcional a uma lógica reprodutiva específica que precisa rearticular-
se aos novos determinantes competitivos postos pelo capitalismo global, ou então uma PE que
Dessa forma, mais uma vez, a capacidade competitiva que dependia do baixo custo da
mão de obra agora depende da capacidade de desintegrar para depois reintegrar fases ou
etapas das cadeias produtivas transferindo custos e riscos para terceiros ou subcontratados
ideologicamente alçados a sujeitos da ação. Repete-se sob nova forma a dupla articulação
uma certa estabilidade é requerida. Para isso, a ação integradora da agência vai instituir ou
abordagem da PE com o intuito de contribuir para maior efetividade às suas ações de apoio e
depara ao definir critérios para as ações de promoção e apoio que desenvolve. O impacto
Conforme Eagleton (1997), o estudo da ideologia é um exame das formas pelas quais
as pessoas podem chegar a investir em sua própria infelicidade. No entanto, supondo que
doxa” segundo a terminologia bourdieusiana, torna possível àqueles sob opressão, alimentar
“reinvenção”, pois, como bem diz Eagleton (1997:195), “se uma teoria da ideologia tem
algum valor, este consiste em auxiliar no esclarecimento dos processos pelos quais pode ser
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