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22/04/2021 Atendendo a pedidos: por que, por quê, porque, porquê | VEJA

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Brasil

Atendendo a pedidos: por que, por quê, porque,


porquê
Escrevo este post a pedido de muitos leitores: Tio Rei vai evitar, tanto quanto
possível, o gramatiquês — sempre lembrando que ele é útil — para atender ao pedido
de alguns leitores. Muitos não entendem as diferenças entre os quatro porquês (1)
existentes na língua portuguesa vigente no Brasil. Posso entender por quê (2). Há […]
Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 19h17 - Publicado em 30 jun 2008, 01h03

Escrevo este post a pedido de muitos leitores:

Tio Rei vai evitar, tanto quanto possível, o gramatiquês — sempre lembrando que ele é útil — para atender ao pedido de alguns leitores. Muitos não
entendem as diferenças entre os quatro porquês (1) existentes na língua portuguesa vigente no Brasil. Posso entender por quê (2). Há porquês (1):
– juntos e com acento;
– juntos e sem acento;
– separados e com acento;
– separados e sem acento.
As razões por que (3) se empregam um ou outro nem sempre estão claras aos usuários da língua, o que leva muita gente a se perguntar: “Por quê? (4)”.
Ora, porque (5) eles respondem a questões gramaticais distintas. E é conveniente entender por quê (2). Será que até os petralhas devem prestar atenção
ao que digo? Ou os petralhas devem descon ar de mim porque (6) não gosto deles? A razão por que (3) eu explico isso tudo é evidenciar que nem todo
“porque” em construção aparentemente interrogativa é separado e nem todo “por que” em frase a rmativa é grudadinho… Os caminhos por que (7)
passamos na gramática parecem difíceis, mas não são intransitáveis.

(1) Quando o “porquê” é um substantivo, que comporta um artigo “o”,


escreve-se sempre junto, com acento circun exo, como toda oxítona (a
sílaba tônica é a última) terminada em “a”, “e”, “o”, acompanhada ou não de
“s”.
a) O porquê de minhas ações é problema meu.
b) Não lhe direi o porquê de minhas ações.
c) Não me pergunte o porquê.
d) Você quer saber o porquê de minhas ações? Não digo.

https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/atendendo-a-pedidos-por-que-por-que-porque-porque/ 1/6
22/04/2021 Atendendo a pedidos: por que, por quê, porque, porquê | VEJA

NOTEM: pouco importa se a construção da frase é interrogativa, a rmativa


ou negativa. Antecedido pelo artigo “o”, o “porquê” se escreve sempre junto,
com acento. Zero de dúvida aqui, certo?

(2) e (3) – Quando “por que” pode ser substituído pela expressão “pela (o)
qual” e “pelas (os) quais”, sempre se escreve separadamente. No caso 2 do
texto em azul, a gente diz que o “quê” é uma silaba tônica. Por isso, é
acentuado. Notem:
a) “A razão por que z isso não interessa a ninguém”.
Nesse caso, esse “que” é átono e vai sem acento. Mas observem:
b) “Diga-me a razão por quê.”
Esse “quê”, seguido de ponto (qualquer um deles), torna-se tônico e é
acentuado. Observem:
c) Não explicarei na reunião as razões por que (pelas quais) z isso.
d) As razões de minha decisão? Não explicarei por quê. (as razões pelas
quais).

Hoje mesmo, escreveu um colunista da Folha: “Esse é mais um ingrediente


para tentar entender porque é tão difícil brigar com a indústria da bebida
(…)”. Está errado. O “ingrediente”, segundo ele, serve para entender “a razão
pela qual”. Logo, “é mais um ingrediente para tentar entender por que (…)”.

(4) – Sabem aquele “por que” das perguntas? Sim, a gente o escreve
separadamente, com a preposição “por” mais o pronome interrogativo “que”.
Assim:
a) Por que você fez isso?
Se “por que” vier no m da frase ou constituir, sozinho, uma frase, então a
gente acentua. Assim:
b) Fez isso por quê?
Ou
c) — Você fez isso?
….— Fiz.
….— Por quê?

(5) O famoso “porque” das respostas se escreve junto. Mas ele pode ter
naturezas distintas, não é? Vejam:
a) Posso usar “porque” para ligar duas orações independentes, de modo que

https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/atendendo-a-pedidos-por-que-por-que-porque-porque/ 2/6
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a segunda explique o que se diz na primeira:


“Vá por este caminho porque ele é mais curto e mais rápido”.
Em gramatiquês, esse “porque” se chama “conjunção coordenativa
explicativa”. Se você souber o nome técnico, muito bem. Se não souber, o
importante é entender a construção.

b) Posso usar “porque” para fazer com que uma oração complemente o
sentido de outra:
“O piloto não completou a prova porque cou sem gasolina”.
Em gramatiquês, esse “porque” se chama “conjunção subordinativa causal”:
a segunda oração (“ cou sem gasolina”) complementa o sentido da primeira,
indicando a sua “causa”.

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c) Lá no muito antigamente, sabem cumé?, havia ainda um outro “porque”


muito bacana, “chique no úrtimo”, que já não se usa mais, nem aqui nem em
Portugal. Olhem que interessante:
“Faz exercícios de guerra porque o adversário o veja e se intimide”
Ou
“Porque a amada se admire de sua coragem, dá-se a atitudes que não são
propriamente heróicas, mas irresponsáveis”.

Era um “porque” que indicava “ nalidade”, chamado, nos manuais, de


“conjunção subordinativa nal”. Nos dois casos acima, “porque”
corresponde a “com a nalidade de”.

(6) Vejam lá o número “6” no texto em azul. Nem sempre, numa construção
aparentemente interrogativa, o “porque” é separado, certo? Peguem o
exemplo que dei:
“Ou os petralhas devem descon ar de mim porque não gosto deles?”
Vejam: esse “porque” continua a ser explicativo, como no exemplo “5a”. É
uma conjunção coordenativa explicativa. Observem que é possível inverter
as orações:

“Porque não gosto deles, os petralhas devem descon ar de mim?”


Interrogativa, de verdade, é só uma das orações: “os petralhas devem descon ar de mim?” A outra é a rmativa — e explicativa.

https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/atendendo-a-pedidos-por-que-por-que-porque-porque/ 3/6
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Assim como temos “porque”, escrito junto, em construções de aparência


interrogativa, temos “por que”, escrito separadamente, em a rmações, como
nos exemplos do item (2): “Vou explicar por que (a razão pela qual) z isso”.
O colunista da Folha errou justamente numa construção similar a essa.

(7) Finalmente, há um “por que” que indica lugar — é o chamado “adjunto


adverbial de lugar”. Vejam:
As terras por que passei sempre me ensinaram alguma coisa.
Esse “por que” corresponde a “pelas quais”, mas indicando, agora, LUGAR.
Tanto é assim, que poderíamos escrever: “As terras por ONDE passei sempre
me ensinaram alguma coisa”

Usando só a terminologia gramatical, a explicação poderia ser mais


sintética. Mas optei por comentar as várias construções, com exemplos.

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