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Curso de Capelania Cristã

Volume 02

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Curso de Capelania Cristã

Capítulo 2

Valorização do ser humano


Vamos refletir sobre mais um ponto importante da Capelania, que é a
valorização do ser humano. Talvez, de imediato, seu cérebro tenha dado aquela
resposta rápida “Eu já valorizo o ser humano”, mas o que eu descobri ao longo da
vida e das minhas experiências é que, em alguma medida, nós nem sempre
valorizamos o ser humano conforme sua dignidade. É interessante que depois de
experiências tão tristes e catastróficas que arrancaram a dignidade do ser humano
através de guerras e outras situações tão difíceis (a própria bomba de Hiroshima)
e em meio a todo esse contexto, onde o mundo acordou para o que o próprio homem
estava fazendo ao seu semelhante, nasceu a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, em 10 de dezembro 1948.
É importante que o capelão conheça, em primeiro lugar, o amparo legal, a
base da lei que lhe permite exercer a Capelania. É importante que se tenha uma
noção, ao menos o mínimo básico, do que a Declaração dos Direitos Humanos
estabelece em relação ao próprio ser humano. Somos chamados de seres humanos
por causa da racionalidade, a razão que temos é o equilíbrio entre extremos e
quando você encontra esse equilíbrio, então você obtém a razão, é o que nos torna
humanos, uma vida de equilíbrio (razão). E assim como você busca equilíbrio em
todas as esferas da sua vida, você vai procurar também proporcionar equilíbrio na
vida do outro. Em contrapartida, na agressão perdemos o senso de humanidade e
através da animosidade deixamos aflorar o lado irracional. É importante entender
que nós temos que ser racionais e valorizar o outro, isso significa que assim como
eu quero ter equilíbrio na minha vida, ter saúde emocional, física e psicológica, eu
também preciso promover isso na vida do meu semelhante e para isso, precisamos
ter como base alguns itens que a Declaração Universal dos Direitos Humanos traz.

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Talvez você já tenha ouvido o seguinte comentário “O cara matou, roubou e


agora vai lá a turma dos Direitos Humanos para colocar panos quentes”. A verdade
é que não é bem assim que a situação funciona, esse é um pensamento distorcido
e irracional. O “pessoal dos Direitos Humanos” não está defendendo bandido, não
está promovendo a anarquia, eles apenas zelam para que aquela pessoa, apesar
de seus delitos, seja tratada com dignidade (humana) porque isso é direito de cada
um de nós. As penalidades dos seus crimes competem à lei e à justiça, a nós, da
capelania, compete promover o equilíbrio necessário para que aquela vida continue
tendo dignidade humana. Um ponto muito importante, segundo a Declaração Dos
Direitos Humanos, é que uma vida é digna onde a pessoa tenha pelo menos o
básico: alimento, saúde, educação e um meio de sobrevivência.

Resolução 217, artigo 3 da Declaração Universal Dos Direitos Humanos, adotada e


proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 a III) em 10
de dezembro 1948:
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da
família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade,
da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos Direitos Humanos resultam em
atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um
mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade
de viverem a salvo do temor e da necessidade (...).
Artigo 1 –Declaração Universal dos Direitos Humanos. Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência
e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Resolução 217 - O que são direitos humanos:
Direitos humanos são todos os direitos relacionados à garantia de uma vida digna
a todas as pessoas. Os direitos humanos são direitos que são garantidos à pessoa
pelo simples fato de ser humana.

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Quando falamos em dignidade, estamos nos referindo às primícias básicas:


alimento, saúde, trabalho e educação. Precisamos olhar para o outro desprovido
de três partes e, além da Declaração dos Direitos Humanos, nós precisamos olhar
para o ser humano como Deus olha para ele.
Costumo dizer que quando Jesus veio voluntariamente entregar sua vida em
sacrifício numa cruz pelos pecadores, Ele não morreu apenas pelos piores
bandidos, traficantes, transexuais e políticos ladrões, mas por toda a natureza
humana caída. É interessante que nesse mesmo pacote estávamos eu e você. A
questão não é a gravidade dos delitos porque as consequências são diferentes, mas
a intenção, muitas vezes maligna, que existe no coração humano. É isso que traz o
real prejuízo a qualquer vida. Assim como um bandido que destrói uma vida ou
uma família numa casa, que destrói emocionalmente as pessoas do seu convívio,
está no mesmo quadro de pecado, delito e destruição do ser humano.

Os três padrões de comportamento que prejudicam qualquer relação humana


Geralmente essas três palavras são entendidas e usadas como sinônimas,
mas vamos analisar cada uma individualmente para perceber as diferenças:
Preconceito é um juízo preconcebido, que se manifesta numa atitude
discriminatória de pessoas, crenças, sentimentos e tendências de comportamento.
É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento crítico ou lógico.
O preconceito é resultado da ignorância das pessoas que se prendem à ideias
preconcebidas, desprezando outros pontos de vista. Na Capelania você vai tratar
com todo tipo de pessoas e muitas vezes elas são o que você jamais queria ser.
Você vai precisar vencer seus preconceitos e estar acima dessas questões, olhando
para o interior daquela pessoa e reconhecendo a humanidade que existe nela. Você,
como capelão, jamais pode ter qualquer tipo de preconceito em relação às pessoas.

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Discriminação é um substantivo feminino que significa distinguir ou


diferenciar. No entanto, o sentido mais comum dessa palavra aborda a
discriminação como fenômeno sociológico, que acontece quando há uma atitude
adversa perante uma característica específica e diferente. Uma pessoa pode ser
discriminada por causa da sua raça, gênero, orientação sexual, nacionalidade,
religião, situação social, etc. Uma atitude discriminatória resulta na destruição ou
comprometimento dos direitos fundamentais do ser humano, prejudicando um
indivíduo no seu contexto social, cultural, político ou econômico. Discriminação é
quando nós prejudicamos alguém, é quando podemos ajudar, mas, em vez disso,
acabamos tornando a situação ainda pior, impedindo que aquela pessoa seja
valorizada em sua dignidade humana.
Racismo é a discriminação social baseada no conceito de que existem
diferentes raças humanas e que uma é superior às outras. Esta noção tem base em
diversos fatores, especialmente características físicas e traços do comportamento
humano. Consiste de uma atitude depreciativa e discriminatória, não baseada em
critérios científicos e éticos, em relação a algum grupo social ou étnico.
Jamais podemos permitir que o preconceito, discriminação e o racismo
venham conosco quando formos atender uma pessoa onde quer que seja. A Palavra
de Deus diz que aquilo que você deseja que aconteça com você, precisa fazê-lo para
abençoar a vida do outro. É importante que o capelão tenha um olhar para o ser
humano da mesma maneira que Jesus olha. E nada melhor que refletirmos um
pouco sobre algumas posturas de Jesus em relação ao ser humano. No sentido
coletivo, podemos perceber uma tonalidade meio negativa nas pessoas, carregada
por uma série de violência. É interessante que, em sua época, Jesus fazia sempre
uma interpretação inteligente e substancial do ambiente onde vivia. Daí a
importância de o capelão também ter essa percepção, tanto do ambiente macro,
que é o mundo onde vivemos, como também do micro, o lugar de sua atuação.

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Portanto, quando você chegar a uma instituição para exercer a capelania, precisa
perceber o ambiente para saber como se comportar e quais são as necessidades
daquelas pessoas e lugar. Jesus identifica uma ação profundamente negativa no
contexto em que está, e percebe um sentimento de tristeza, angústia, medo e
opressão; Ele percebe que o coração das pessoas estava apertado. Nesse sentido,
Ele começa a discernir espiritualmente e então traz uma palavra que está em
Mateus 11:28, repleta de termos correspondentes - fardo, jugo, cansados, oprimidos
e sobrecarregados - que bem entendidos e empregados por Jesus levaram alívio.
De certa forma, talvez você e a maioria das pessoas ao redor possam estar
vivendo assim, o que torna um ambiente mais pesado. Agora, imagine se isso for
dentro de um hospital, que já é um ambiente de ansiedade e pesado. É interessante
notar que Jesus discerniu o peso nos ambientes, onde existiam religiosos e
imperadores tiranos, violentos, extremistas e perseguidores, que se preocupavam
mais com seu narcisismo do que qualquer outra coisa, fazendo questão de expor
seus inimigos nas estacas na estrada.
O governo só valorizava um tipo de pessoa, o cidadão romano, então se você
não era cidadão romano, era desprezado. Os leões eram usados para dilacerar os
escravos para a diversão do povo, e grande parte do povo se alegrava com a
desgraça alheia. Além dos altos impostos para sustentar o luxo do império. Perceba
as semelhanças com muitas coisas que vivemos hoje, uma sociedade de espetáculo,
trágica e depressiva, quanto pior melhor, e isso traz enorme enfermidade sobre as
pessoas. E o ambiente social era de incredulidade e idolatria, haviam vários deuses
e não havia mais esperança no ser humano assim como no ser divino. Em
contrapartida, aquele que era o povo da esperança estava, há 400 anos, sem uma
palavra de Deus, e a fé dos seus ancestrais foi comprometida, tornando-se uma fé
de tradição e não de experiência. E esse foi o ambiente em que Jesus ministrou.

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A igreja da época, assim como o império, era legalista, julgadora e


opressora, que não acolhia, mas exigia e isso fazia com que tudo se tornasse mais
pesado na vida daquelas pessoas. Em vez de trazer solução e alívio, trazia mais
peso e pressão. Esse é o ambiente que Jesus discerne, diante disso, Ele percebe o
fardo de um povo cansado, oprimido e sobrecarregado. Em Mateus 9:36 Jesus faz
um resumo da realidade da sua época e é interessante a percepção de Jesus sobre
o coletivo. Você não pode ser alguém que vai atender apenas um tipo de pessoa,
mas o capelão precisa ter uma visão coletiva, mesmo atendendo pessoas na sua
individualidade. Nesse coletivo, Jesus via a multidão, mas também via o bom, o
mau, o romano, o israelita, o homem, a mulher, Ele está olhando para todos com
discernimento e perspectiva. Jesus é alguém que consegue olhar o ser humano
como realmente é, não olha as atribuições ou qualificações, mas o ser humano livre
do preconceito, discriminação e racismo. Ele é o exemplo de todo capelão.

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