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Atanair Nasser:
Portanto, a quarta regra aplica a mesma situação jurídica do art. 130, parágrafo único,
do CTN relativa a imóveis alienados em hasta pública, ou seja, em execução judicial, aos
móveis e semovente arrematados em leilão também promovido em execução judicial, o que,
inclusive, veio a ser reconhecido, indiretamente, no art. 328 do Código de Trânsito.
A quinta regra se reporta à alienação do estabelecimento. Veja que o contexto técnico
do conceito de estabelecimento está disposto no art. 1142 do Código Civil, consistindo no
complexo de bens materiais e imateriais necessários para o exercício da empresa. Os bens
individualizados, imóveis, móveis ou semoventes, têm sua regência nas regras anteriores, o que
distingue a quinta regra ao envolver um complexo de bens e não bens individualizados. Como
nos casos da primeira e da terceira regra, o adquirente do estabelecimento responde pelos
tributos sobre ele incidentes, porém, aqui se abre uma graduação. Veja os termos do CTN:
Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer
título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a
respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,
responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do
ato:
I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade;
II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de
seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de
comércio, indústria ou profissão.
Diante das seis regras, a fim de simplificá-las em fórmula útil e versátil, podemos dizer
que: (i) na aquisição de bens imóveis, móveis, semoventes ou do estabelecimento, o adquirente
sempre será responsável pelos tributos incidentes sobre os bens adquiridos, respeitando-se a
graduação no último caso, quando a responsabilidade será integral do adquirente se o alienante
tiver cessado sua atividade; será subsidiária se o alienante tiver continuado ou iniciado nova
atividade em seis meses; e (ii) na arrematação em execução individual ou coletiva (falência) de
bens imóveis, móveis, semoventes ou do estabelecimento, o arrematante não terá
responsabilidade pessoal, recaindo os tributos sobre o preço depositado, salvo se o edital
expressa e claramente afastou a aplicação dessa regra.
Paralelamente a essas seis regras reduzidas à fórmula citada, temos ainda algumas
regrinhas aplicáveis no dia a dia, dispondo o Código Tributário que:
Art. 131. São pessoalmente responsáveis: [...]
II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até
a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao montante do quinhão do
legado ou da meação;
III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão.
Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou
incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas
pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas
de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer
sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.
Fechando esse primeiro ponto, temos de lembrar que as convenções particulares não
podem ser opostas à fazenda pública, regra esta que deriva da lógica do Direito como um todo e
você provavelmente já a estudou sob outras feições em diferentes ramos. Por exemplo, no
Direito Penal, a pena não passará da pessoa do responsável pelo crime; no Direito Civil, o
contrato e as obrigações apenas vinculam aqueles que participaram do contrato; no Direito
Processual Civil, a sentença faz coisa julgada entre as partes litigantes no processo, etc. Como é
óbvio, se o fisco não participou da convenção entre particulares, ela não pode o vincular, sendo
restrita às partes contratantes, mas sem possibilidade de oposição de suas regras ao fisco.
É preciso ainda ressaltar que a obrigação tributária se subdivide em principal e
acessória, sendo que a primeira abrange situações de pagar tributo, enquanto a segunda consiste
nas obrigações de fazer ou não fazer. Veja que, diferentemente do Direito Civil, aqui o acessório
não é dependente do principal, de tal modo que a obrigação acessória tributária independe do
sujeito passivo da obrigação principal. Significa que é possível existir alguém responsável pela
obrigação acessória sem que o seja para qualquer obrigação principal, como é o caso dos
contribuintes imunes ou isentos.
Ponto importantíssimo na matéria, dada a recorrência de aplicação de suas regras em
inúmeras execuções fiscais, é a diferenciação das responsabilidades decorrentes dos arts. 134 e
135 do CTN. Compare-as:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo
contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os
atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de
caráter moratório.
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações
tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.
Percebe-se que os responsáveis do art. 134 são chamados nos atos comissivos e
omissivos, o que implica na responsabilidade por terem deixado de efetuar o pagamento do
tributo. Já no caso do art. 135, a responsabilidade apenas será acometida se o responsável tiver
agido ilicitamente, fraudulentamente, mediante violação de atos constitutivos em excesso de
poderes. Nesse sentido: "É igualmente pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que a
simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que
acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável,
para tanto, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao
estatuto da empresa" (EREsp 374.139/RS, 1ª Seção, DJ de 28.02.2005).
Por sua vez, a responsabilidade por infrações é pessoal do agente que praticou o ato,
notadamente quando definidas também como crimes e contravenções, quando exigirem dolo
específico ou no caso das pessoas do art. 134 do CTN, os quais, pelo visto, serão sempre
responsabilizados. Contudo, essa responsabilidade por infrações, das quais decorrem possível
multa pecuniária, pode ser excluída no caso de denúncia espontânea, tratada no art. 138 do
CTN:
Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se
for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância
arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração.
Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de
qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.