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Tributário I - 8º Período - Por Prof.

Atanair Nasser:

Olá, pessoal! A proposta da aula remota 1 é nivelar os turnos da manhã e da noite,


servindo, de qualquer forma, como revisão da matéria dada desde o ponto que perdemos
conexão. É importante também para acolher os alunos que estão chegando agora, com matrícula
feita no prazo posterior ao regular.
Pois bem, a obrigação tributária distingue-se do crédito tributário por ser ela a
substância jurídica da relação tributária, enquanto o último é sua constituição formal. Isso
porque a obrigação surge da hipótese de incidência e de sua concretização no fato gerador,
sobressaindo daí, por força de lei e dos fatos constitutivos da relação tributária, o elo que dá ao
sujeito ativo o direito de exigir do sujeito passivo a sua observância e cumprimento. Com efeito,
como vimos anteriormente, a obrigação ainda não é líquida, certa e exigível, motivo pelo qual o
Fisco, valendo-se de seu poder de autotutela, deve constituir o crédito tributário através de
processo administrativo no qual assegure ao sujeito passivo o contraditório e a ampla defesa.
Esse processo é denominado como lançamento, constituindo o meio pelo qual se verifica o fato
gerador, enquadra-se na hipótese de incidência, define-se a matéria tributária, calcula-se o
tributo devido, aplica-se a penalidade quando for o caso e deflagra o contraditório e ampla
defesa através da intimação do sujeito passivo. O processo administrativo tributário se
desenvolve através de três procedimentos: a) de ofício; b) por declaração; e c) por homologação.
O sujeito ativo será aquele que, pela lei, tem a atribuição de gerenciar, arrecadar e
fiscalizar o tributo, caracterizando-se como aquele que detém capacidade tributária. Veja que o
ente público (União, Estados, DF e Municípios) tem competência tributária exclusiva e
indelegável, de modo que a CF/88 outorgou apenas a eles o poder de tributar, distribuindo-o
segundo as competências estabelecidas nos arts. 153 a 156 da CF/88. Com efeito, o poder de
criar, modificar, extinguir tributos se distingue da capacidade de arrecadação e fiscalização,
sendo estas últimas atribuições passíveis de delegação a uma entidade de direito público (CTN,
art. 7º e art. 119). As pessoas privadas não podem exercer ou receber a delegação para
capacidade tributária porque não podem exercer a atividade típica do estado consistente no
poder de polícia, o qual vem descrito no art. 78 do CTN. Portanto, será sujeito ativo o próprio
ente político que instituiu o tributo e reservou para si mesmo a capacidade tributária ou, por
outro lado, aquela pessoa jurídica de direito público a que a lei atribuiu tal delegação.
O sujeito passivo, por sua vez, subdivide-se em direto, quando estiver diretamente
vinculado ou relacionado ao fato gerador, oportunidade em que será conceituado como
contribuinte; e o indireto, conceituado como responsável, fruto do deslocamento pela lei da
responsabilidade tributária. Ou seja, a lei desloca a responsabilidade de um contribuinte para o
responsável e, por isso, sua conceituação como sujeito passivo indireto. Veja o disposto no art.
128 do CTN:
Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a
responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.
Sob esse aspecto, o responsável passa a ser obrigado ao pagamento do tributo como
terceira pessoa, sendo que o contribuinte - vinculado de fato diretamente - pode ser mantido
como responsável supletivo ou ser afastado dessa responsabilidade. Nesse foco final surgem as
subespécies de responsável, sendo aquele (a) por transferência e (b) por substituição. Esses
casos são dispostos na legislação com o intuito de facilitação da fiscalização, da arrecadação e
do trato da matéria tributária, sendo reconhecidos pela própria CF/88:
CF/88, Art. 150, § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de
responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se
realize o fato gerador presumido.

Imagine, por exemplo, a Petrobrás e o comércio de combustíveis. Ela vende o produto


para uma Distribuidora, que por sua vez o vende ao Posto de Gasolina, o qual o venderá ao
consumidor final. Em cada relação desta incide o ICMS antes mencionado. Mas a lei, com
intuito de facilitar a fiscalização e a arrecadação, transfere o pagamento das relações
subsequentes à Petrobrás, na lógica de que é muito mais fácil fiscalizar uma empresa do que as
centenas e milhares subsequentes! Então a Petrobrás é substituta tributária do ICMS em relação
à Distribuidora e ao Posto de Gasolina, tendo de recolher o tributo lá atrás, antes mesmo de
terem ocorrido as vendas do produtos (chamadas fatos geradores do tributo). Nesse exemplo, o
fisco abre mão da responsabilidade dos contribuintes diretos, fixando-a, por lei, ao responsável
por substituição.
Pense agora no empregador, que tem a atribuição legal de reter e recolher do empregado
o imposto sobre a renda por este último devido, caracterizando a chamada retenção do tributo na
fonte. Nesse caso, o empregador deve, no momento de pagar ao empregado, reter de seu salário
o valor correspondente ao imposto e recolher em seu nome (empregado) o respectivo valor à
Receita Federal. Se isso não for feito como determina a lei, o Fisco poderá cobrar o imposto do
empregador (responsável por substituição) e do empregado (contribuinte), caracterizando
hipótese em que não se abre mão da responsabilidade supletiva do empregado contribuinte.
Essa substituição pode ocorrer para frente ou para trás. Veja esses precedentes:
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 1º DO DECRETO N.
39.647/1999, PELO QUAL ALTERADO O ART. 8º DO REGULAMENTO DO ICMS NO RIO
GRANDE DO SUL. INSTITUIÇÃO DE COBRANÇA POR SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
“PARA FRENTE”. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA PELO PLENÁRIO.
CONSTITUCIONALIDADE DA SUBSTITUIÇÃO. PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Nos termos do § 7º do art.
150 da Constituição da República “a lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a
condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva
ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido”. Desnecessidade de lei complementar. 2. Este Supremo
Tribunal já decidiu sobre a legalidade da cobrança antecipada do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços – ICMS no regime de substituição tributária, mensurada segundo o
estoque de mercadorias desde que observados os princípios da irretroatividade e da anterioridade
geral e nonagesimal. 3. As normas impugnadas estabelecem o regime de substituição tributária
“para frente”, ou “progressiva” alcançando mercadorias em estoque de profusa distribuição
dentro dos Estados como discos, lâminas de barbear, isqueiros, pilhas, baterias elétricas e
sorvetes, não se verificando, na espécie, afronta aos princípios da irretroatividade e da
anterioridade. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 2044,
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 20/11/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO DJ 08-06-2001 PP-00005 EMENT VOL-02034-01 PP-00175)

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ICMS/GO. INCLUSÃO DO IPI NA BASE DE
CÁLCULO DO ICMS EM REGIME DE SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. ARTIGO 155, § 2º, XI, DA CONSTITUIÇÃO ILESO. MANUTENÇÃO DA
DECISÃO AGRAVADA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. Ausente a alegada
lesão ao artigo 155, § 2º, XI, da Constituição Federal na hipótese de inclusão do IPI na base de
cálculo do ICMS em regime de substituição tributária. Orientação firmada em casos idênticos
julgados por ambas as Turmas desta Corte. 2. É entendimento pacífico do STF a
constitucionalidade do regime de substituição tributária. Precedentes. 3. In casu, o acórdão
impugnado pelo apelo extremo assentou: “As razões embasadoras do inconformismo da
recorrente não tem força satisfativa para agasalhar sua pretensão, pois, em nada inovaram o feito,
sendo que a matéria foi debatida e devidamente analisada na decisão monocrática de fls.
185/200. A propósito, o julgado atacado recebeu a seguinte ementa: ‘DUPLO GRAU.
APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. INCIDÊNCIA DO IPI NA BASE DE CÁLCULO
DO ICMS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. DEVIDA. Merece reforma a sentença que
extinguiu o feito de execução fiscal, vez que devida a incidência do IPI na base de cálculo do
ICMS nas sistemática da substituição tributária, nos termos do art. 8º, II, ‘b’, da Lei
Complementar nº 87/96. Remessa obrigatória e apelo conhecidos e providos’”. 4. Agravo
regimental DESPROVIDO. (ARE 714647 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma,
julgado em 10/03/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 30-03-2015 PUBLIC
31-03-2015)

No caso da transferência, o tributo seria originariamente de responsabilidade de um


contribuinte, mas, no caso de transferência da coisa ou do objeto tributado, o tributo a
acompanha para também ser transferido ao adquirente. Funciona como aquelas hipóteses de
obrigações propter rem, que acompanham a coisa nas mãos de quem quer que a detenha. A
peculiaridade aqui é que o adquirente passa a ser responsável pessoal do tributo. A dinâmica
dessa responsabilidade está contemplada em seis regras originárias, que depois podemos
converter em uma fórmula comum e mais fácil de assimilar.
Primeira regra do art. 130 do CTN. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato
gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos
a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, sub-
rogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua
quitação. Nesse caso, você vê que o adquirente de bem imóvel será responsável por
transferência em relação aos tributos incidentes sobre o bem adquirido.
A segunda regra vem do parágrafo único do art. 130 do CTN. Dispõe que, no caso de
arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço. Significa que o
arrematante de bem imóvel não terá responsabilidade pessoal, recebendo o bem desembaraçado.
Registre-se, todavia, que a jurisprudência admite o afastamento pelo edital do certame dessa
regra do parágrafo único, desde que o referido edital seja claro o suficiente e divulgue a
intenção de que o arrematante será responsável pelos tributos incidentes sobre o bem. Nesse
sentido:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL.
AFASTAMENTO DA REGRA DO ART. 130, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN SE HOUVER
EXPRESSA ATRIBUIÇÃO DE RESPONSABILIDADE DO ARREMATANTE, NO EDITAL
DE LEILÃO. REVISÃO DAS PREMISSAS FIXADAS NO ACÓRDÃO HOSTILIZADO.
SÚMULA 7/STJ. 1. Em regra, na hipótese de arrematação de imóvel em hasta pública, os
débitos de IPTU ficam sub-rogados no preço, liberando-se o arrematante. 2. A jurisprudência
do STJ admite o afastamento do art. 130, parágrafo único, do CTN, se o respectivo edital
de leilão expressamente indicar a existência de débitos de IPTU e atribuir ao arrematante a
responsabilidade pelo seu pagamento. Nesse sentido: REsp 1.316.970/RJ, Rel. Ministra
Nancy Andrighi, DJe 7/6/2013 e REsp 799.666/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, DJe
14/9/2009. 3. Na hipótese dos autos, afirma o recorrente que a previsão quanto à
responsabilidade do arrematante "constou expressamente do edital de praça publicado em 03 de
março de 2010, no Diário Oficial Eletrônico do Tribunal de Justiça do Trabalho da 2ª Região",
mas isso contrasta frontalmente com a premissa fixada no acórdão hostilizado, segundo o qual
não há "nenhuma disposição no tocante à responsabilização tributária do arrematante pelos
débitos até então devidos" (fl. 227, e-STJ). 4. Dessa forma, para afastar o entendimento adotado
no acórdão hostilizado, seria necessário incursão no acervo fático-probatório dos autos, o que
atrai, no caso, a incidência da Súmula 7/STJ. 5. Recurso Especial não conhecido. (REsp
1685627/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
19/09/2017, DJe 10/10/2017)

A terceira regra envolve móveis e semoventes, os quais adquiridos transferem também a


responsabilidade pelos tributos devidos ao adquirente. Regra similar à primeira, porém disposta
no art. 131 do CTN.
A quarta regra decorre de previsão jurisprudencial e doutrinária, porquanto não temos
previsão específica no Direito Tributário, para móveis e semoventes, igual ao parágrafo único
do art. 130 do CTN. Contudo, por simetria de situações, não poderia ser diferente, uma vez que
a atribuição de responsabilidade pessoal ao arrematante de tais bens geraria o inevitável
desinteresse e afastamento dos interessados dos leilões, frustrando execuções. Tanto é verdade
que a insistência do Fisco em questionar a aplicação analógica da segunda regra aos casos de
móveis e semoventes acabou por gerar o congestionamento de veículos apreendidos ou
penhorados em execuções e nos pátios dos Detrans. Isso forçou ao governo a propor medida
urgente para desafogar essa situação, mas que foi direcionada especificamente aos casos de
veículos automotores, com previsão no Código Brasileiro de Trânsito, in verbis:
Art. 328. O veículo apreendido ou removido a qualquer título e não reclamado por seu proprietário
dentro do prazo de sessenta dias, contado da data de recolhimento, será avaliado e levado a leilão,
a ser realizado preferencialmente por meio eletrônico. (Redação dada pela Lei nº 13.160, de
2015)
§ 1o Publicado o edital do leilão, a preparação poderá ser iniciada após trinta dias, contados
da data de recolhimento do veículo, o qual será classificado em duas categorias: (Incluído
pela Lei nº 13.160, de 2015)
I – conservado, quando apresenta condições de segurança para trafegar; e (Incluído
pela Lei nº 13.160, de 2015)
II – sucata, quando não está apto a trafegar. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
o
§ 2 Se não houver oferta igual ou superior ao valor da avaliação, o lote será incluído no
leilão seguinte, quando será arrematado pelo maior lance, desde que por valor não inferior a
cinquenta por cento do avaliado. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 3o Mesmo classificado como conservado, o veículo que for levado a leilão por duas vezes
e não for arrematado será leiloado como sucata. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 4o É vedado o retorno do veículo leiloado como sucata à circulação. (Incluído pela
Lei nº 13.160, de 2015)
§ 5o A cobrança das despesas com estada no depósito será limitada ao prazo de seis meses.
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 6o Os valores arrecadados em leilão deverão ser utilizados para custeio da realização do
leilão, dividindo-se os custos entre os veículos arrematados, proporcionalmente ao valor da
arrematação, e destinando-se os valores remanescentes, na seguinte ordem, para: (Incluído
pela Lei nº 13.160, de 2015)
I – as despesas com remoção e estada; (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
II – os tributos vinculados ao veículo, na forma do § 10; (Incluído pela Lei nº 13.160,
de 2015)
III – os credores trabalhistas, tributários e titulares de crédito com garantia real, segundo a
ordem de preferência estabelecida no art. 186 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código
Tributário Nacional); (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
IV – as multas devidas ao órgão ou à entidade responsável pelo leilão; (Incluído pela
Lei nº 13.160, de 2015)
V – as demais multas devidas aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito,
segundo a ordem cronológica; e (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
VI – os demais créditos, segundo a ordem de preferência legal. (Incluído pela Lei nº
13.160, de 2015)
§ 7o Sendo insuficiente o valor arrecadado para quitar os débitos incidentes sobre o veículo,
a situação será comunicada aos credores. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
o
§ 8 Os órgãos públicos responsáveis serão comunicados do leilão previamente para que
formalizem a desvinculação dos ônus incidentes sobre o veículo no prazo máximo de dez dias.
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 9o Os débitos incidentes sobre o veículo antes da alienação administrativa ficam dele
automaticamente desvinculados, sem prejuízo da cobrança contra o proprietário anterior.
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 10. Aplica-se o disposto no § 9o inclusive ao débito relativo a tributo cujo fato gerador
seja a propriedade, o domínio útil, a posse, a circulação ou o licenciamento de veículo.
(Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 11. Na hipótese de o antigo proprietário reaver o veículo, por qualquer meio, os débitos
serão novamente vinculados ao bem, aplicando-se, nesse caso, o disposto nos §§ 1o, 2o e 3o do art.
271. (Incluído pela Lei nº 13.160, de 2015)
§ 12. Quitados os débitos, o saldo remanescente será depositado em conta específica do
órgão responsável pela realização do leilão e ficará à disposição do antigo proprietário, devendo
ser expedida notificação a ele, no máximo em trinta dias após a realização do leilão, para o
levantamento do valor no prazo de cinco anos, após os quais o valor será transferido,
definitivamente, para o fundo a que se refere o parágrafo único do art. 320. (Incluído pela Lei
nº 13.160, de 2015)
§ 13. Aplica-se o disposto neste artigo, no que couber, ao animal recolhido, a qualquer
título, e não reclamado por seu proprietário no prazo de sessenta dias, a contar da data de
recolhimento, conforme regulamentação do CONTRAN. (Incluído pela Lei nº 13.160, de
2015)
§ 14. Se identificada a existência de restrição policial ou judicial sobre o prontuário do
veículo, a autoridade responsável pela restrição será notificada para a retirada do bem do depósito,
mediante a quitação das despesas com remoção e estada, ou para a autorização do leilão nos
termos deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)
§ 15. Se no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da notificação de que trata o § 14, não
houver manifestação da autoridade responsável pela restrição judicial ou policial, estará o órgão de
trânsito autorizado a promover o leilão do veículo nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei
nº 13.281, de 2016) (Vigência)
[...]
Contudo, essa regra peculiar já era aplicada pela jurisprudência não só para veículos,
como também para todo e qualquer bem móvel ou semovente, o que ainda persiste. Veja a
correlação das situações nesses precedentes do STJ:
EXECUÇÃO FISCAL - IPTU - ARREMATAÇÃO DE BEM IMÓVEL - AQUISIÇÃO
ORIGINÁRIA - INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DO
ARREMATANTE - APLICAÇÃO DO ART. 130, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN. 1. A
arrematação de bem móvel ou imóvel em hasta pública é considerada como aquisição
originária, inexistindo relação jurídica entre o arrematante e o anterior proprietário do
bem, de maneira que os débitos tributários anteriores à arrematação sub-rogam-se no
preço da hasta. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag 1225813/SP, Rel. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/03/2010, DJe 08/04/2010)

ADMINISTRATIVO - TRIBUTÁRIO - VEÍCULO - ALIENAÇÃO EM HASTA PÚBLICA -


NEGATIVA DE TRANSFERÊNCIA DO BEM - PENDÊNCIA DE MULTA E IPVA -
AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PESSOAL DO ADQUIRENTE - REMESSA
NECESSÁRIA - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO - APROVEITAMENTO DOS ATOS
PROCESSUAIS. 1. Inexiste nulidade sem prejuízo. Embora o art. 12 da Lei 1.533/51 prevaleça
frente ao art. 475 do CPC (lex specialis derrogat generalis), na hipótese houve a devolução de
todas as questões jurídicas à Corte de Apelação, que motivadamente as refutou. 2. Na alienação
em hasta pública o produto adquirido com a venda do bem subroga-se na dívida, que se
sobejar deve ser imputada ao devedor executado e infrator de trânsito e não ao adquirente,
nos termos do art. 130, parágrafo único, do CTN. 3. Recurso especial não provido. (REsp
954.176/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/06/2009,
DJe 23/06/2009)

Portanto, a quarta regra aplica a mesma situação jurídica do art. 130, parágrafo único,
do CTN relativa a imóveis alienados em hasta pública, ou seja, em execução judicial, aos
móveis e semovente arrematados em leilão também promovido em execução judicial, o que,
inclusive, veio a ser reconhecido, indiretamente, no art. 328 do Código de Trânsito.
A quinta regra se reporta à alienação do estabelecimento. Veja que o contexto técnico
do conceito de estabelecimento está disposto no art. 1142 do Código Civil, consistindo no
complexo de bens materiais e imateriais necessários para o exercício da empresa. Os bens
individualizados, imóveis, móveis ou semoventes, têm sua regência nas regras anteriores, o que
distingue a quinta regra ao envolver um complexo de bens e não bens individualizados. Como
nos casos da primeira e da terceira regra, o adquirente do estabelecimento responde pelos
tributos sobre ele incidentes, porém, aqui se abre uma graduação. Veja os termos do CTN:
Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer
título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a
respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual,
responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do
ato:
I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade;
II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de
seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de
comércio, indústria ou profissão.

Perceba que o foco da graduação dessa responsabilidade do adquirente está no fato de o


alienante cessar sua atividade ou, de outro lado, continuar ou abrir nova atividade em seis
meses.
Por último a sexta regra, que está na mesma sintonia da segunda e quarta regras, porém
com a especificidade de se tratar de uma execução coletiva, assim considerada a falência. O
Código dispõe com clareza:
Art. 133 [...]
§ 1o O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: (Incluído
pela Lcp nº 118, de 2005)
I – em processo de falência; (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)
II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial.(Incluído
pela Lcp nº 118, de 2005)

Diante das seis regras, a fim de simplificá-las em fórmula útil e versátil, podemos dizer
que: (i) na aquisição de bens imóveis, móveis, semoventes ou do estabelecimento, o adquirente
sempre será responsável pelos tributos incidentes sobre os bens adquiridos, respeitando-se a
graduação no último caso, quando a responsabilidade será integral do adquirente se o alienante
tiver cessado sua atividade; será subsidiária se o alienante tiver continuado ou iniciado nova
atividade em seis meses; e (ii) na arrematação em execução individual ou coletiva (falência) de
bens imóveis, móveis, semoventes ou do estabelecimento, o arrematante não terá
responsabilidade pessoal, recaindo os tributos sobre o preço depositado, salvo se o edital
expressa e claramente afastou a aplicação dessa regra.
Paralelamente a essas seis regras reduzidas à fórmula citada, temos ainda algumas
regrinhas aplicáveis no dia a dia, dispondo o Código Tributário que:
Art. 131. São pessoalmente responsáveis: [...]
II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até
a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao montante do quinhão do
legado ou da meação;
III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão.
Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou
incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas
pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas
de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer
sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.

Fechando esse primeiro ponto, temos de lembrar que as convenções particulares não
podem ser opostas à fazenda pública, regra esta que deriva da lógica do Direito como um todo e
você provavelmente já a estudou sob outras feições em diferentes ramos. Por exemplo, no
Direito Penal, a pena não passará da pessoa do responsável pelo crime; no Direito Civil, o
contrato e as obrigações apenas vinculam aqueles que participaram do contrato; no Direito
Processual Civil, a sentença faz coisa julgada entre as partes litigantes no processo, etc. Como é
óbvio, se o fisco não participou da convenção entre particulares, ela não pode o vincular, sendo
restrita às partes contratantes, mas sem possibilidade de oposição de suas regras ao fisco.
É preciso ainda ressaltar que a obrigação tributária se subdivide em principal e
acessória, sendo que a primeira abrange situações de pagar tributo, enquanto a segunda consiste
nas obrigações de fazer ou não fazer. Veja que, diferentemente do Direito Civil, aqui o acessório
não é dependente do principal, de tal modo que a obrigação acessória tributária independe do
sujeito passivo da obrigação principal. Significa que é possível existir alguém responsável pela
obrigação acessória sem que o seja para qualquer obrigação principal, como é o caso dos
contribuintes imunes ou isentos.
Ponto importantíssimo na matéria, dada a recorrência de aplicação de suas regras em
inúmeras execuções fiscais, é a diferenciação das responsabilidades decorrentes dos arts. 134 e
135 do CTN. Compare-as:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo
contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas
omissões de que forem responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os
atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de
caráter moratório.
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações
tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.
Percebe-se que os responsáveis do art. 134 são chamados nos atos comissivos e
omissivos, o que implica na responsabilidade por terem deixado de efetuar o pagamento do
tributo. Já no caso do art. 135, a responsabilidade apenas será acometida se o responsável tiver
agido ilicitamente, fraudulentamente, mediante violação de atos constitutivos em excesso de
poderes. Nesse sentido: "É igualmente pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que a
simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que
acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável,
para tanto, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao
estatuto da empresa" (EREsp 374.139/RS, 1ª Seção, DJ de 28.02.2005).
Por sua vez, a responsabilidade por infrações é pessoal do agente que praticou o ato,
notadamente quando definidas também como crimes e contravenções, quando exigirem dolo
específico ou no caso das pessoas do art. 134 do CTN, os quais, pelo visto, serão sempre
responsabilizados. Contudo, essa responsabilidade por infrações, das quais decorrem possível
multa pecuniária, pode ser excluída no caso de denúncia espontânea, tratada no art. 138 do
CTN:
Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se
for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância
arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração.
Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de
qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.

Consubstancia-se a denúncia espontânea geral nos seguintes requisitos: a)


espontaneidade, que é excluída no caso de início da ação fiscal; b) pagamento integral do tributo
e juros de mora, atualmente fixados conforme a taxa SELIC, não se admitindo o parcelamento
nessa regra geral; c) cabimento apenas nos lançamentos de ofício e por declaração, não sendo
pertinente no lançamento por homologação. Essa última hipótese justifica-se diante do fato de
que o próprio contribuinte é obrigado, nessa modalidade de lançamento, a promover a apuração
do tributo, verificando o fato gerador, enquadrando-o na legislação, definindo a matéria
tributária pertinente, calculando e pagando o tributo, como comunicação ao fisco em seguida.
Desta feita, se o próprio contribuinte deve promover todas as fases de apuração, não se justifica
dar a ele um benefício na hipótese de sua própria inobservância e inadimplência. Veja que essas
regras se referem à hipótese de denúncia espontânea geral, sendo possível que lei específica e
especial venha a dispor de forma diversa, o que não tem sido raro por prazos e casos
específicos. São os chamados parcelamentos especiais, como o denominado REFIS. Assim, a
regra geral cederia à regra especial.
Tratamos até aqui dos pontos da matéria que vão até o item 13, inclusive, dando início
ao item 14 intitulado como Crédito Tributário. Como antes mencionado, o crédito é a
constituição formal da obrigação, tornando-a um valor líquido, certo e exigível, passível de
pronta execução fiscal ao final do procedimento. Para que se chegue ao crédito, faz-se
imprescindível percorrer o lançamento. Nesse propósito, o art. 142 do CTN o define como "o
procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação
correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido,
identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível".
Acrescente-se a essa fase oficiosa a necessária oportunização de contraditório e ampla defesa,
tal como assegurado na CF/88, art. 5º, inciso LV. Portanto, feita a intimação do sujeito passivo
para o pagamento do tributo ou sua impugnação no prazo e termos legais, tem ele a
oportunidade de exercer a ampla defesa, se o desejar, deflagrando com isso a fase contenciosa
ou litigiosa. Veja que o sujeito passivo não é obrigado a impugnar, o que torna esse
procedimento de lançamento bastante flexível, como se fosse uma sanfona! Será maior e mais
extenso no caso de exaurimento de todas as fases de defesa e recurso, ou diminuto no caso de
revelia, caracterizada pela intimação sem impugnação e sem pagamento.
Em se tratando de fato envolvendo moeda estrangeira, como os impostos de importação
e de exportação, por exemplo, aplica-se o câmbio vigente na data do fato gerador. O mesmo se
aplica às regras envolvendo Direito Material, como é o caso da alíquota, base de cálculo e
demais prescrições do tributo em si, exceto em relação às penalidades, caso em que se aplica o
princípio penal de lei mais benéfica em favor do sujeito passivo. Quanto aos aspectos
processuais, formais, procedimentais, caracterizados quanto aos critérios de apuração do crédito,
fiscalização, garantias e privilégios, aplica-se a lei vigente ao tempo do processo, do
lançamento, portanto, exceto aquela que atribua responsabilidade tributária a terceiros. Imagine,
nesse último caso, que nova lei venha a dispor que os tios são responsáveis pelos tributos
devidos pelos sobrinhos, estendendo a hipótese atual do art. 134 do CTN. Ora, se o tio soubesse
dessa nova responsabilidade, teria ele se precavido e fiscalizado o recolhimento dos tributos
devidos pelo sobrinho. Porém, como não havia no exemplo lei vigente ao tempo da ocorrência
do fato gerador, seria impensável atribuir ao tio agora, no momento do lançamento, a
responsabilidade tributária. Por essa lógica, nessa hipótese de responsabilidade atribuída a
terceiros, embora consista em maior garantia quanto ao pagamento do crédito tributário, aplica-
se a lei vigente ao tempo do fato gerador.
Outrossim, também é importante ressaltar que a mudança nos critérios jurídicos
adotados no exercício do lançamento somente se aplica aos fatos posteriores, não podendo
retroagir para afetar situações consolidadas sob a interpretação anterior do fisco.
15. Modalidades de lançamento:
a) de ofício;
b) por declaração;
c) por homologação.
Nesse item posiciona-se a conceituação das três modalidades de lançamento, ou seja, os
três procedimentos que instruem o gênero processo, que é o lançamento. No primeiro caso, de
ofício, a autoridade fiscal tem o ônus de promover todas as atribuições da fase oficiosa. Por isso
mesmo essa designação para a fase, onde o fisco deverá "verificar a ocorrência do fato gerador
da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo
devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível",
deflagrando em seguida a intimação do sujeito passivo com a oportunidade de ampla defesa e
recursos a ela inerentes. Se impugnado o lançamento de ofício, deflagra-se a fase contenciosa ou
litigiosa, como já mencionado.
Na segunda modalidade, de lançamento por declaração, a única diferença em relação ao
lançamento de ofício é que o sujeito passivo dá o pontapé inicial, comunicando o fato gerador
ao fisco, sendo que a partir de tal haverá a concorrência das demais responsabilidades e
atribuições da autoridade fiscal, inclusive a oportunidade para o contraditório e a ampla defesa.
A terceira modalidade chama a atenção, sendo a mais preferida das legislações fiscais
atualmente, porquanto o fisco aguarda que o sujeito passivo promova todas as
responsabilidades, antes dele como fisco, que agora são repassadas por lei ao contribuinte.
Nesse caso, o próprio sujeito passivo terá de realizar todas as etapas anteriores de
responsabilidade do fisco, ou seja, deverá "verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação
correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido,
identificar o sujeito passivo e, sendo caso, [submeter-se] a aplicação da penalidade cabível". É
curioso observar que não existirá a fase oficiosa, já que o sujeito passivo fica incumbido de
promover todas as operações antes da responsabilidade do fisco. Também não haverá a fase
contenciosa, uma vez que o cálculo e todas as etapas foram feitas pelo próprio sujeito passivo,
sendo incoerente, portanto, que ele vá impugnar e exercer ampla defesa contra aquilo que ele
mesmo fez. Nesse sentido houve a consolidação da jurisprudência do STJ: "A jurisprudência
desta Corte, reafirmada pela Seção inclusive em julgamento pelo regime do art. 543-C do CPC,
é no sentido de que "a apresentação de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais -
DCTF, de Guia de Informação e Apuração do ICMS - GIA, ou de outra declaração dessa
natureza, prevista em lei, é modo de constituição do crédito tributário, dispensando, para isso,
qualquer outra providência por parte do Fisco" (REsp 962.379, 1ª Seção, DJ de 28.10.08).
Reafirmação da tese no REsp 1101728/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/03/2009, DJe 23/03/2009, sob a condição de recurso
repetitivo.
Sob tais aspectos, é oportuno dizer que o auto de infração constitui o crédito tributário
inicialmente, ainda que sujeito a modificação por ocasião do contraditório e da ampla defesa, o
que afasta a possibilidade de perecimento do direito do fisco, como seria o caso da decadência.
Por sua vez, a apresentação das declarações fiscais pelas quais se constitui e materializa a
hipótese de lançamento por homologação, que também constituem o crédito tributário, afastam
a possibilidade de aplicação da decadência da mesma forma.
Por fim, nesse item 15 também se estudou sobre o lançamento de ofício supletivo, que é
caracterizado pela omissão e descumprimento da obrigação de promover o lançamento por
homologação integralmente pelo sujeito passivo. Assim, diante da omissão ou divergência nesse
contexto, caberá ao fisco promover o lançamento de ofício supletivamente, caso em que, não
tendo sido objeto da declaração do contribuinte, caberá a abertura da fase contenciosa, com
direito a ampla defesa. Sob tal aspecto, vê-se oportuna a transcrição dos arts. 149 e 150 do
CTN:
Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos
seguintes casos:
I - quando a lei assim o determine;
II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da
legislação tributária;
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do
inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de
esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste
satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido
na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória;
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada,
no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente
obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com
dolo, fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do
lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da
autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o
direito da Fazenda Pública.
Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação
atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da
atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.
§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o crédito, sob
condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento.
§ 2º Não influem sobre a obrigação tributária quaisquer atos anteriores à homologação,
praticados pelo sujeito passivo ou por terceiro, visando à extinção total ou parcial do crédito.
§ 3º Os atos a que se refere o parágrafo anterior serão, porém, considerados na apuração do
saldo porventura devido e, sendo o caso, na imposição de penalidade, ou sua graduação.
§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência
do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado,
considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada
a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
Vê-se, pois, que decorrido o prazo de cinco anos desde a apresentação formal do
lançamento por homologação, sem que o fisco tenha sobre ele se pronunciado expressamente,
ocorrerá a homologação tácita, precluindo o direito de revisão ou modificação daquilo feito pelo
sujeito passivo, salvo dolo, fraude ou simulação. Assim, com a homologação tácita, afasta-se a
possibilidade de lançamento de ofício supletivo.
16. Suspensão do Crédito Tributário:
a) moratória;
b) depósito integral;
c) impugnações e recursos administrativos;
d) liminar ou tutela antecipada em ação judicial;
e) parcelamento.
São três os institutos que mexem com o crédito tributário: a suspensão, a extinção e a
exclusão do crédito tributário. Nos dedicaremos brevemente hoje à suspensão do crédito, caso
em que sua exigibilidade estará suspensa, mas continuam incidindo os encargos da dívida, ou
seja, persistirá a incidência dos juros pela taxa SELIC. A moratória consiste na concessão de
prazo ao devedor, pelo credor, para que pague a dívida em momento posterior. Em matéria
tributária faz-se imprescindível que lei tanto autorize, porquanto, como vimos na definição de
tributo (CTN, art. 3º), ele é cobrado por atividade administrativa plenamente vinculada, de tal
sorte que o fisco, como administração fiscal, não tem a menor discricionariedade para conceder
prazo ao devedor. Veja que, ainda que se conceda novo prazo para pagamento, o devedor
incidirá nos juros de mora pela taxa SELIC.
O mesmo se diz das impugnações e recursos administrativos, os quais impedem que o
fisco promova a execução fiscal sem antes resolver tais defesas no processo administrativo-
tributário do lançamento. Porém, como dito antes, incidem os juros pela taxa SELIC enquanto
persistir a discussão administrativa. A liminar ou tutela antecipada em ação judicial, da mesma
forma, não inibe o fisco de exigir posteriormente, quando do encerramento da demanda com
reversão do provimento precário, o tributo com os encargos pertinentes. A decisão judicial não
tem o condão de afastar os efeitos da inadimplência, embora suspenda a exigibilidade do tributo.
O parcelamento também não seria diferente, consistindo em mera divisão do débito integral para
ser pago em prestações, as quais sofrerão com o decurso do tempo pela incidência da taxa
SELIC. Suspende-se apenas a exigibilidade do tributo enquanto estiver sendo pago em
prestações, mas não se afasta a mora no pagamento com atraso das prestações futuras.
Em situações tais surge a possibilidade do manejo do depósito integral, o qual somente
faz sentido quando o sujeito passivo for discutir o débito judicial ou administrativamente. Nesse
caso, poderá ele fazer o depósito integral do tributo e seus encargos, que terá a incidência do
mesmo índice de correção adotado nos tributos em geral, ou seja, a taxa SELIC. Com isso, no
caso de derrota do sujeito passivo na discussão instaurada, o depósito é convertido em
pagamento ou renda do erário, oportunidade em que o acerto de contas implicará ausência de
outra responsabilidade pelo contribuinte. Isso porque o débito tributário e o depósito integral
serão ao mesmo tempo corrigidos pela taxa SELIC, não havendo diferença alguma no momento
do acerto de contas. Se o contribuinte sagrar-se vencedor da discussão, o valor do depósito lhe
será devolvido integralmente, corrigido pela taxa SELIC. Desse contexto, conclui-se que a única
hipótese de suspensão do crédito tributário pela qual o contribuinte poderá se despreocupar de
ter de honrar depois o pagamento dos juros é o depósito integral.
Na próxima aula remota debruçaremos de forma mais pormenorizada aos casos e
legislações sobre suspensão do crédito tributário, no intuito de familiarizá-los com as regras
formais específicas de cada caso. Por hoje ficamos por aqui!
Leia, por gentileza, os dispositivos pertinentes do CTN a respeito do que tratamos
aqui hoje, bem assim aproveite para adiantar as respostas do questionário até onde
estudamos. Buscarei também elaborar um áudio, resumido e informal, sobre a matéria
aqui tratada, no intuito de conciliar o aprendizado pela leitura e audição. Mãos a obra!!!

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