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sumário

5 APRESENTAÇÃO
11  IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
— VIAMÃO

30  IGREJA NOSSO SENHOR BOM JESUS DO


TRIUNFO — TRIUNFO

40  IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO —


RIO PARDO
Pesquisa e Texto
Sofia Reginato Inda 60  IGREJA SÃO JOSÉ — TAQUARI

Pesquisa e Texto (Imaginária) 74  IGREJA SANTO AMARO — SANTO AMARO


Gabriela Carvalho da Luz
Fotografias 88  IGREJA NOSSA SENHORA DA
Arquivo Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo CONCEIÇÃO— CACHOEIRA DO SUL
Arquivo Histórico Municipal de Cachoeira do Sul
Museu Municipal Edyr Lima de Cachoeira do Sul 104 ROTEIRO
CAV Produções – Luísa Correa
Sofia Reginato Inda 111 REFERÊNCIAS
Projeto gráfico, Design e Diagramação
Amanda Teixeira - Vinco estúdio 117 GLOSSÁRIO
Ilustração
Thiago Machado
123 AGRADECIMENTOS

Este e-book é uma edição cultural, fora do mercado e sem objetivo de lucro,
concretizado através do Edital Criação e Formação Diversidade das Culturas realizado
com recursos da Lei Aldir Blanc nº 14.017/20.

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As igrejas Nossa Senhora da Conceição, em Viamão; Nosso Senhor
Bom Jesus, em Triunfo; Nossa Senhora do Rosário, em Rio Pardo; São
José, em Taquari; Santo Amaro, no distrito homônimo, em General
Câmara, e Nossa Senhora da Conceição, em Cachoeira do Sul, cons-
tituem exemplares remanescentes do patrimônio sacro arquitetônico
construído ao longo do rio Jacuí e seus afluentes, no Rio Grande do
Sul, durante os séculos XVIII e XIX. Dentre o grupo, apenas as ma-
trizes de Viamão e de Santo Amaro foram tombadas pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938 e, em 1998,
respectivamente.
Estes templos foram projetados por destacados engenheiros-mi-
litares portugueses, como José Custódio de Sá e Faria (1710–1792),
Manuel Vieira Leão (1727–1803), Alexandre José Montanha (1730–
1800) e Francisco João Roscio (1733–1805), os quais integraram as
Expedições Demarcatórias dos Tratados de Limites, vinculadas, pri-
meiramente, ao Tratado de Madri (1750) e, mais tarde, ao tratado de
Santo Idelfonso (1777). Instruídos nas Academias Militares de Lisboa
e do Rio de Janeiro, estes profissionais foram responsáveis pelo ma-
peamento do território do atual Rio Grande do Sul, pela construção de
fortes e aparatos de defesa, bem como pelo traçado urbano dos primei-
ros povoados, inclusive suas igrejas matrizes – objeto deste estudo – e
nas quais é possível observar grande similaridade com o aparato de
defesa dos militares, no seu risco sóbrio, na sua robustez de fortaleza e
na utilização do repertório clássico da arquitetura.
É a partir do ano de 1752, devido à Expedição Científico-Demarcató-
ria do Sul, que os engenheiros-militares supracitados encaminharam-
-se ao Rio Grande do Sul. A Expedição era coordenada pelo Gover-
nador do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Gomes Freire de Andrade
(1685–1763), e possuía como objetivo demarcar os limites da América
Meridional dividida entre as coroas ibéricas pela assinatura do Trata-
do de Madri (1750). Este acordo, entre outros aspectos, determinava
a troca da Colônia do Sacramento, de domínio luso, pelos Sete Povos
das Missões, território espanhol. Para dar seguimento às diretrizes do

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Tratado era necessário alcançar a região missioneira de forma rápida no estado, que nos remetem à história do povoamento açoriano, bem
e segura e, para tal fim, a malha hidroviária do rio Jacuí, navegável de como dialogam com a identidade indígena local, e com os sujeitos es-
Rio Pardo até sua foz, no Lago Guaíba, tornou-se a principal via de cravizados que, de forma forçada, chegaram à região.
acesso. Além disso, em suas margens, foram construídos pequenos Se, como disse Bartolomeu Campos de Queiroz, nosso maior
fortes e armazéns de provisões, como em Santo Amaro, Rio Pardo e patrimônio é a memória, pois ela guarda tanto aquilo que vivemos,
Taquari, consolidando-se ali uma rede estratégica para o pouso e abri- quanto os nossos sonhos futuros, este trabalho deseja incentivar o es-
go das Comissões. Os Casais del Rey faziam parte tudo e a preservação dessas igrejas, através das histórias e memórias já
No mesmo ano de 1752, começaram a desembarcar no porto de de um programa de migração vivenciadas e aquelas que virão, a fim de, proporcionar, cada vez mais,
subsidiada na qual o governo
Rio Grande os casais açorianos que seriam transferidos para o territó- visibilidade a este patrimônio e a conservação de seus bens-culturais.
português empreendeu a vinda
rio missioneiro. Contudo, devido à Guerra Guaranítica (1754–1756), de casais das Ilhas dos Açores
o projeto foi interrompido e o Tratado anulado. Em 1763, a situação para o porto do Desterro (Santa
CONTEÚDO
vulnerável da Capitania acentuou-se, pois a Vila de Rio Grande foi Catarina) entre os anos de 1747
Esta cartilha apresenta uma síntese histórica e descritiva sobre as
e 1753. Parte deste grupo foi
invadida pelos espanhóis e a maior parte da população viu-se forçada seis igrejas matrizes construídas às margens do Rio Jacuí, contemplan-
transferido para o Rio Grande do
a fugir para a Freguesia de Viamão. Muitas das famílias açorianas, por Sul entre 1752 e 1754. do suas principais etapas construtivas, seus aspectos arquitetônicos,
sua vez, dispersaram-se ao longo do rio Jacuí, onde deram início às análise formal e estilística dos seus retábulos e de sua talha, bem como
freguesias de Triunfo, Taquari e Santo Amaro. Nestas, os engenhei- a identificação iconográfica das principais imagens e estatuária, rela-
ros-militares traçaram o plano das ruas e das igrejas matrizes, as quais cionando o orago à história da comunidade e das freguesias do século
cumpriam dupla função: zelar pela vida religiosa e servir de abrigo e XVIII à atualidade. Além disso, o material também compreende uma
defesa à população. sugestão de roteiro, com um mapa elaborado para este fim, no qual es-
Atualmente, é possível observar, na localização e nos aspectos tão indicadas as principais vias de acesso aos templos, a fim de facilitar
construtivos das igrejas do Jacuí, os traços que as identificam ao pro- a visita e possibilitar o conhecimento e divulgação deste patrimônio.
jeto do governo português de povoamento do território e à instrução A cartilha está dividida em capítulos, cada qual dedicado a uma das
técnica compartilhada pelos seus projetistas, alguns dos quais, como seis igrejas. Para sua organização, optou-se por elencar os templos a
Francisco João Roscio, assinaram mais de uma obra. Formalmente, partir da ordem cronológica de fundação das freguesias, a saber: Via-
verificam-se os atributos de racionalidade, economia, emprego do mão, em 1747; Triunfo, em 1754; Rio Pardo, em 1762; Taquari, em
À Guerra Guaranítica (1754–
vocabulário de matriz clássica, pautado nos tratados de arquitetura; 1765; Santo Amaro, em 1773 e Cachoeira do Sul, em 1777.
1756), seguiram-se uma série
adaptabilidade da edificação ao meio e adesão a linhas sóbrias e clas- de embates com os espanhóis, Junto à abertura dos capítulos, uma caixa de identificação dispõe
sicizantes, em composições mais próximas ao estilo chão, independen- como a invasão de Rio Grande os principais dados acerca da edificação. As demais informações: his-
temente de correntes estilísticas como o Barroco e o Rococó. Além (1763) e de Santa Catarina (1777),
tórico, descrição da fachada, descrição do interior e, por fim, peças de
até a incorporação definitiva
disso, as construções foram pautadas pela necessidade de edificarem-se imaginária, encontram-se em subitens. O conteúdo também abrange
do território das missões pelos
espaços de abrigo, em uma região de constante insegurança, fator que portugueses, em 1801. No século relatos de viajantes e excertos das visitas pastorais efetuadas pelo Bis-
imprimiu aos templos uma visualidade austera. Ainda, quanto à deco- XIX, prosseguiram os conflitos pado do Rio de Janeiro, possibilitando que o leitor “veja a igreja” ao
ração interior, distingue-se, nas igrejas mais conservadas, Viamão e na região com a Revolução
longo dos séculos. Além disso, também se apresentam alguns dados
Farroupilha (1835–1845), a Guerra
Rio Pardo, uma talha elaborada, de possível influência açoriana, orna- inéditos, encontrados durante a presente investigação, como a autoria
Cisplatina (1825–1828) e a Guerra
da com figuras angelicais e rocalhas. do Paraguai (1864–1870). do retábulo da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Cachoeira do Sul
Deste modo, pelo vínculo com a Expedição Demarcatória do Tra- e a identificação das peças de imaginária do atelier de Marino del Fave-
tado de Madri (1750), por conta das suas diretrizes construtivas, pela ro (1864–1943) e do Atelier de Arte Christã Roehe & Allgayer (Porto
relação com o rio Jacuí e com o meio, e, ainda, pela irradiação açoriana Alegre) nas igrejas de Rio Pardo e Taquari. O material também conta
pelo mesmo rio, procurou-se estabelecer a tipologia de conjunto das com um glossário técnico, com imagens ilustrativas, a fim de elucidar
seis igrejas aqui estudadas. Embora muitas de suas características te- terminologias específicas, e, ao final, a bibliografia consultada.
nham sido modificadas, ainda nos é possível estudar o modus faciendi Este projeto não teria sido realizado sem o paciente e afetivo su-
dos seus projetistas, seus aspectos arquitetônicos e artísticos e, ainda, porte das comunidades paroquiais e, por isso, o material é dedicado a
sua relação com o desenvolvimento dos primeiros núcleos urbanos elas, principalmente ao Padre Maurizan de Nascimento e Valquíria
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Machado, da Igreja Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo; ao Padre
Ademar José Ströher e à Samira de Souza Oliveira Jantsch, da Igreja de
Nosso Senhor Bom Jesus de Triunfo; ao Padre Nildo Gaspar Rech, da
Matriz de Cachoeira do Sul, e da estimada equipe do Arquivo Históri-
co da cidade; ao atencioso Frei Gastão Carlos Zart e à Maria de Fátima
Silveira da Cruz, da Igreja São José de Taquari, à querida Anajara da
Silva, em Santo Amaro do Sul e, por fim, ao generoso Padre Edison
Stein, da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Viamão. A todos
gostaríamos de agradecer enormemente. Paz e Bem.
Pretende-se que a divulgação e disponibilização deste material
possam atuar como fonte de consulta, informação e orientação a res-
peito destes bens culturais e que, ao se dirigir para os fiéis, turistas e
demais pesquisadores e estudantes da área, possa promover e ampliar
o conhecimento deste patrimônio. Entende-se que as ações educativas
são as principais agentes no processo de reflexão e formação de uma
consciência patrimonial e, deste modo, a Cartilha e Roteiro procura
estimular tais iniciativas. Ainda, a investigação deste conjunto carece
de novos olhares e estudos e não se pretende conclusiva, mas sim pro-
põem-se a difundir os dados conhecidos e incentivar a preservação e
valorização de nossa história, memória e empatia através da arte.

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DENOMINAÇÃO:  Igreja Matriz Nossa Senhora PROJETO:  José Custódio de Sá e Faria (1710–
da Conceição 1792)

LOCALIZAÇÃO:  Praça Cônego Bernardo PROTEÇÃO:  Tombamento Federal – IPHAN


Machado dos Santos, Município de (1938)
Viamão, estado do Rio Grande do Sul
PADROEIRO:  Nossa Senhora da Conceição, 08
FREGUESIA:  Fundação: 1747 de dezembro

IGREJA: Construção: 1767


Inauguração: 1770
Reforma(s): 1787; 1928

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fuga, também conhecida como “corrida do Rio Grande”, as autoridades eclesiásticas, civis e
militares transferiram-se para Viamão, a qual se tornou a Capital da Capitania, sediando a
Câmara Municipal entre 1766 e 1773, ano em que foi transferida para Porto Alegre.
Em virtude da nova situação administrativa, a construção de uma matriz com maiores
dimensões tornou-se indispensável e, em 1767, reuniram-se as irmandades conjuntas do
Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição, o vigário José dos Reis Custódio,
o Governador José Custódio de Sá e Faria (1710–1792) e o mestre carpinteiro Francisco Datas de
da Costa Senne para assinar o termo da obra. O novo templo foi erigido do lado oeste da nascimento e morte
desconhecidas.
antiga capela, em frente à praça, e sua consagração ocorreu em 1770, com a transladação
do Santíssimo Sacramento e da imagem de Nossa Senhora da Conceição da antiga capela,
construída por Francisco da Cunha, para a nova igreja.
Com a transferência da Câmara Municipal para Porto Alegre em 1773, a freguesia de
Viamão iniciou um processo de decadência econômica, o qual afetou a conclusão do tem-
plo. Deste modo, nas últimas décadas do século XVIII, a igreja ainda encontrava-se em
obras, dependendo de doações para seu término. Não obstante, o relato da visita do Padre
Bento Cortês de Toledo nos permite concluir que a estrutura do templo encontrava-se
finalizada em 1799, quando o Vigário escreveu: “esta bela e grande igreja é a mais linda
da diocese, tem 195 palmos de comprimento, 57 de largura e, a capela-mor, 31 palmos
de largura e 22 de comprimento”. Além dele, em 1815, o Bispo do Rio de Janeiro, D. José
Caetano da Silva Coutinho, observou que “a igreja é magnífica por fora e por dentro; tem
duas torres com quatro bons sinos, excelente batistério, sete ricos altares, ótima sacristia,
Porta entalhada e friso em cantaria frontaria e uma Capela do Senhor dos Passos, muito bons ornamentos; enfim, tudo obra do
história Igreja Nossa Senhora da Conceição zelo e do dinheiro do respeitável Pe. João Diniz” (COUTINHO apud RUPERT, 1994, p.74).
O povoamento dos Campos de Viamão teve início em 1727 com os caminhos abertos pelos O pároco João Diniz, designado para o cargo em 1782, foi um dos mais importantes curas
tropeiros a partir de Laguna via Curitiba e Sorocaba. A região abrangia toda a planície lito- de Viamão e de grande préstimo à finalização do templo, auxiliando com vultosas doações
rânea localizada entre o rio Mampituba e o lago Guaíba e desenvolveu-se com os currais e
entrepostos das rotas, bem como através da distribuição de sesmarias que se transformaram
em fazendas de criação de gado vacum, cavalar e muar comercializados no centro do Brasil.
Em 1741, foi concedida uma licença a Francisco de Carvalho da Cunha, proprietário da
Estância Grande, nos Campos de Viamão, para construir uma capela em devoção à Nossa
Nota-se que Senhora da Conceição, para a qual Francisco da Cunha doou uma légua de terra de sua es-
esta provisão
foi realizada tância. Em 1746, a pequena capela foi consagrada e, em 1747, foi elevada à Paróquia, cons-
pelo bispo de tituindo-se na segunda paróquia fundada na Capitania, cujos limites abarcavam o território
são Paulo, pois à do rio Mampituba até o rio Pardo.
época (1746-1749)
o Continente No entorno da capela, formou-se um núcleo espontâneo de habitações, surgindo as pri-
do Rio Grande meiras ruas, casas e cemitério; logo, em 1751, a comunidade solicitou ao bispo do Rio de
de São Pedro Janeiro, D. Frei Antônio do Desterro, permissão para a construção de uma nova matriz, a
estava submetido Vista do óculo
qual foi concedida. O início das obras da nova igreja, contudo, só principiaram em 1767,
a este bispado, quadrifólio da
retornando em devido à instabilidade e insegurança no território da Capitania. fachada
1749 à jurisdição Igreja Nossa
Em 1763, Pedro de Ceballos (1715–1798), governador da Província de Buenos Aires, in-
do Bispado do Rio Senhora da
de Janeiro. vadiu a Vila de Rio Grande, fundada em 1737 e sede administrativa do Brasil meridional. Na Conceição
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(em uma ocasião doou 1200 rezes para a igreja); a ele se deve à construção, acabamento e ornamentação da igreja
Fachada da Igreja São José, início
com preciosas alfaias.
do século XX.

Durante o século XIX, prosseguiram as reformas na igreja. Em 1816, foram pintados e dourados os retábu- Fonte: (SILVA, 1972)
los; em 1822, foi refeito o forro do coro e, em 1823, nova pintura. Sem embargo, com o término da Revolução
Farroupilha, em 1845, o estado da matriz era muito precário e necessitava de reparos para não desabar. Em 1869,
foram realizadas novas obras, urgentes, no total de sete contos de réis remetidos pela Assembleia Provincial.
No século XX, prolongaram-se as intervenções. Em 1914, a matriz foi reformada interna e externamente; no
mesmo ano, os altares foram repintados com a aplicação de ouro em pó. Em 1919, foram realizadas pinturas mu-
rais e, em 1928, foi reunida uma comissão de obras, que destinou fundos para um novo telhado, madeiramento,
substituição do coro, assoalho e também introduziu a balaustrada que hoje encontra-se na frente da igreja – acre-
dita-se que nesta reforma o frontão triangular da igreja recebeu o perfil escalonado. Em 1930, o forro, retábulos,
paredes e capelas receberam uma nova pintura. Ainda, em 1948, foram reformadas a sacristia e a Capela do Se-
nhor dos Passos, localizada à esquerda da capela-mor. Em 1954, a comunidade construiu o salão e a casa paroquial,
onde outrora ficava a Capela do Divino Espírito Santo, a qual ruiu em 1928.
Nos últimos anos, entre 1980 e 1982, o telhado e o forro foram novamente consertados e, em 1999, efetivou-se
uma grande restauração, a qual recuperou os retábulos e imagens, restituindo a igreja à sua harmonia de antanho.

O OLHAR DOS VIAJANTES


Em 1849, o comerciante francês Nicolay Dreys (1781–
1843), publicou sua Notícia Descritiva da Província de São
Pedro do Rio Grande, na qual menciona a Matriz de Via-
mão: “seu frontispício, em razão do tempo e do local, é
um notável esforço da arquitetura religiosa e que pode
desafiar em comparação as outras igrejas da vizinhança, Urna mortuária do Padre
sem se excetuarem mesmo as da capital” (DREYS, 1961, João Dinis Álvares de Lima 
p.121). Em 1817, Dreys se estabeleu como negociante no
Rio de Janeiro e, em 1825, transferiu-se para Porto Ale-
gre, conhecendo, portanto, várias igrejas ao longo dos
anos em que residiu no Brasil.

O OLHAR DOS VIAJANTES


Auguste Saint-Hilaire (1779–1853), naturalista francês,
visitou a igreja no ano de 1820, referindo-se ao templo
no seu diário, Viagem ao Rio Grande do Sul (1820-1821): “o
arraial compõe-se principalmente de duas praças, contí-
guas e de formato irregular, em uma das quais se ergue
a igreja. Depois de São Paulo ainda não tinha visto ne-
nhum igreja comparável a essa, possuindo duas torres,
bem conservada, extremamente asseada, clara e orna-
mentada com gosto.” (SAINT-HILAIRE, 1999, p.28).

Fachada da Igreja São José, início do século XX.


Fonte: (SILVA, 1972)
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contrabalanceada por uma decoração calcada nos ele-
mentos arquitetônicos (cornijas, colunas, volutas) que,
pautados na geometria, transmitem uniformidade e
equilíbrio à vetustez do templo. Ainda, segundo Rocca Espanãda: termo em castelhano, sem tradução. De-
signa a elevação do plano da fachada com vãos para
e Gutierrez (2020), essa igreja compartilha de carac-
colocar os sinos, simulando uma torre.
terísticas da arquitetura religiosa hispânica, nas suas (ROCCA; GUTIERREZ, 2020, p.75)
proporções pesadas e nos campanários em paralele-
pípedo, também denominados de españadas, qualida-
des atribuídas ao partido espanhol.

JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA (1710–1792)


Igreja Nossa Senhora da Conceição, 1770

A FACHADA dos fundos da igreja, é ladeado por duas torres falsas


arrematadas por grimpas. As torres contam com aber-
A igreja de Viamão está assentada em sítio elevado, vi- turas para receber os sinos e são perfiladas por pilastras
rada para o noroeste e, ao contrário dos outros templos, terminadas em volutas. Consta que esses vãos para as
encontra-se menos próxima das margens do Rio Jacuí sineiras funcionavam como guaritas, conferindo ao
ou de sua foz, o Lago Guaíba, justamente pela situação templo mais um atributo de igreja-fortaleza. Os tra-
de defesa procurada na freguesia à época de sua edifica- mos são divididos por pilastras de pouca volumetria e,
ção. A matriz foi erigida na ampla praça central da cidade horizontalmente, por cornijamento tímido. No corpo
e sua entrada se dá através de um grande adro com es- central, o frontão é triangular com perfil escalonado,
cadaria e balaustrada. O historiador da arquitetura Rio- possivelmente uma modificação posterior; abaixo, um
pardense de Macedo a descreveu como uma matriz pro- óculo quadrifólio, duas aberturas com janelas que dão
jetada com a “majestade de um templo e a envergadura para o coro e uma porta central, com verga em canta-
de uma fortaleza” (MACEDO, 1987, p. 72), pois a igreja ria e almofadas entalhadas. Aos lados da porta, duas
impressiona pelo porte alteroso, pela modulação clássica colunas toscanas, de fuste liso, sustentam uma cimalha
de seus volumes e pelo desenho marcado pela severidade saliente a meia altura da fachada, aspecto da ornamen-
e contraste entre a alvenaria caiada de branco e a decora- tação que denota a erudição de seu projetista.
ção de sua portada em cantaria.
A utilização do repertório arquitetônico, de ma-
A fachada é condensada na volumetria, produzindo triz clássica, de forma decorativa e estrutural, confe-
um porte maciço, conferindo peso e solidez ao edifício. re maior dinamicidade ao risco de caráter comedido.
Modulada em três tramos, o central, melhor visualizado Deste modo, a simplicidade das linhas do templo é

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TOMBAMENTO
Em 1938, a igreja foi tombada pelo SPHAN, atual IPHAN – Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. À época, o intelectual
e escritor Augusto Meyer atuava como intendente da instituição no
Rio Grande do Sul e defendeu o tombamento da matriz pelo seu valor
histórico (a segunda igreja mais antiga do estado) e arquitetônico.

TERCEIRA MATRIZ
A investigação revelou informações sobre a existência de uma tercei-
ra igreja matriz construída no mesmo local, principiada em 1787. A
hipótese deste terceiro templo carece de pesquisas conclusivas, deste
modo, por ora, acreditamos que a “nova matriz” (3ª), possivelmente
consistia em uma ampliação e reforma daquela iniciada em 1767.

AS OBRAS DA IGREJA FORAM


PAGAS COM TRIGO
Pela dificuldade de transformar a produção primária em moeda
corrente e, visto que na região dos Campos de Viamão produzia-
se muito trigo, a irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa
Senhora da Conceição aprovou uma doação de 30 alqueires do
cereal para os pagamentos das obras da igreja. Em 1799, a produção
foi transportada para o Rio de Janeiro para ser vendida e, com o
dinheiro proveniente, foram adquiridos os materiais necessários
para a construção da matriz.

Vista da lateral direita


AUTORIA
Igreja Nossa Senhora Para Damasceno (1971) e Macedo
da Conceição (1987), o risco da igreja foi realizado por
José Custódio de Sá e Faria (1710–1792)
enquanto ocupava o posto de Governa-
dor da Capitania (1764–1769). Günter
Weimer (1992), porém, é contrário a
essa hipótese, afirmando que Sá e Faria
estaria muito envolvido com a defesa e
consolidação do território, não dispondo
de tempo para riscar a Matriz. Sem em-
bargo, no termo de contratação da obra
encontramos a assinatura do engenheiro,
São Miguel, Assinatura de José Custódio de Sá e Faria (1710– ainda que esta possa indicar somente o
Retábulo lateral de 1792). Fonte: (BALEM, 1952, p.39) cargo que ocupava como Governador e
São Miguel não a autoria do projeto.

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O INTERIOR
Internamente, a Matriz possui planta retangular de nave
única com capela-mor profunda. O forro, em arco aba-
tido, é constituído por ripas de madeira pintadas de azul
claro; as paredes são lisas e caiadas. No átrio, à esquerda,
um batistério simples, contendo apenas uma pia batismal
de pedra. Sobre a entrada, um grande coro de madeira,
sustentado por duas colunas discretas. A capela-mor é
dividida por arco-cruzeiro; à sua esquerda, encontra-se
a Capela do Senhor dos Passos, onde se preserva uma
antiquíssima imagem articulada do Cristo a Caminho do
Calvário e a urna mortuária do Pe. João Diniz; à direita,
localiza-se a sacristia, atualmente, secretaria da Paróquia.
O programa decorativo do templo é composto por sete
primorosos retábulos: um na capela-mor; quatro justa-
postos às paredes laterais da igreja e mais dois colaterais
junto ao arco-cruzeiro; todos estão pintados em tons
ocre e amarelo e possuem resquícios de douramento.
A talha da matriz nos apresenta um repertório orna-
mental híbrido, com elementos variados, em uma tran-
sição estilística que, embora a aparência homogênea, é
difícil definir. Os seis altares da nave possuem elementos
característicos do barroco joanino, nos riscos pomposos
e nas colunas salomônicas; nos elementos decorativos, os
adereços em talha são “rocaillizados”, em orelhas sinuo-
sas – porém simétricas – que encimam os arranques de
frontão que finalizam as colunas (também podendo ser
definidas como arremates em “labaredas” ou rocalhas);
tal dinamismo e leveza do rococó também é sugerido
Interior da Igreja Nossa
pelo esgarçamento do risco dos retábulos; ademais, ob- composição barroca no frontão, ao passo que, as co- quando comparadas àquelas das manifestações bar-
Senhora da Conceição
serva-se traços neoclássicos em alguns elementos estru- lunas de fuste liso em sua estrutura ecoam a influên- rocas; além disso, segundo Etzel (1974), a ênfase dos
turais, como as colunas de fustes retos no retábulo da cia neoclássica. No arremate do altar, destaca-se a entalhadores foi direcionada à singular volumetria
capela-mor. Destaca-se que este templo, dentre as igrejas belíssima tarja com a coroa de Nossa Senhora; no dos quartelões internos. Para mais, observa-se que
do Jacuí, é o que melhor conserva o decoro do conjunto nicho central, encontra-se a imagem de Nossa Se- os frontões de todos os altares, ainda que semelhan-
de sua ornamentação interna, de forma que os retábulos nhora da Conceição, e abaixo, as imagens de Nossa tes, diferenciam-se pelos recortados e pela variação
apresentam grandes similaridades, sugerindo a contem- Senhora do Parto e de Santa Rosa de Lima. dos desenhos; nota-se que, nos escudos centrais des-
poraneidade de sua realização. Ainda, estima-se que a A respeito dos altares da nave, à esquerda, estão ses frontões, há sempre um elemento simbólico alu-
decoração seja do último quartel do século XVIII e pri- assentados os retábulos de Nossa Senhora do Rosá- sivo à devoção do altar, em um diálogo iconográfico
meiros anos do século XIX. rio, Divino Espírito Santo e Sant’Anna; e, à direita, sofisticado.

Quanto às características dos altares, o retábulo-mor, os retábulos dedicados à Nossa Senhora das Dores, A autoria deste conjunto de retábulos ainda é
dedicado à Nossa Senhora da Conceição, apresenta uma São Miguel e Santa Bárbara. Nestes exemplares, as desconhecida. Na documentação averiguada, loca-
colunas são salomônicas, porém mais longilíneas
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lizou-se a feitura do retábulo-mor por Francisco
Retábulo-mor, c. 1768
da Costa Senne em 1768. Acredita-se, porém, que
este tenha sido recomposto na conclusão da ma-
triz durante as décadas de 1780 e 1790. Quanto aos
retábulos da nave, certamente realizados por uma
mesma oficina, ainda carecemos de dados conclu-
sivos; sabe-se que, em 1816, os altares foram pin-
tados e dourados pelo mestre pintor José Philadel-
pho da Orcy y Imada e que, anos antes, em 1787, Datas de nascimento e
morte desconhecidas.
o mestre carpinteiro Antônio José de Santa-
na arrematou as obras da Matriz de Viamão.
Mestre Santana também foi responsável pelos
retábulos da Matriz de Laguna (1803), dado
que pode indicar sua participação nos riscos
da decoração da igreja de Viamão. Esta infor-
mação, inédita, foi localizada na investigação
atual e nos convida a refletir sobre a circulação
dos entalhadores e artífices entre as freguesias do
Brasil meridional.

Vista do coro e do interior

22 23
OS SEIS RETÁBULOS DA NAVE
LADO ESQUERDO LADO DIREITO

Retábulo
lateral de Retábulo-
Retábulo- Sant’Anna colateral de
colateral de Nossa
No nicho central,
Sant’Anna com Maria; à
Nossa Senhora Retábulo
Senhora do Rosário esquerda, Santo Expedito das Dores lateral de
No nicho central, Nossa Senhora e à direita, Santa Luzia No nicho central, Nossa Santa Bárbara
do Rosário; à esquerda, São Senhora das Dores; abaixo,
Francisco de Paula e, à direita, Retábulo lateral em oratório envidraçado, No nicho central, Santa
Bárbara; à esquerda, São
São Caetano. À esquerda, a
São Benedito do Divino Espírito imagem de São João Batista Sebastião e, à direita,
Santo e, à direita, Santa Inês Retábulo Santo Isidoro

No nicho central, imagem do lateral de São


Divino Espírito Santo; à es- Miguel
querda, São Pedro e, à direita,
São José No nicho central, São
Miguel; à esquerda, Santo
Antônio e, à direita, São
Roque

24 25
NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
A imagem, em madeira, representa Nossa Senhora da
Conceição, orago da Matriz e entronada no altar-mor
SANTA ROSA DE LIMA da igreja. Está confeccionada em talha inteira e rece-
Santa Rosa de Lima, também chamada beu policromia. Apresenta feições joviais e serenas,
de “Rosa de Santa Maria”, nome que as mãos estão postas em oração e encontra-se apoia-
adotou ao dedicar-se à vida religiosa, da sobre nuvens com três querubins. Os cabelos são
NOSSA SENHORA DO viveu entre 1586 e 1617 na cidade de castanhos, a pele branca e a tez rosada. Veste túnica
BOM PARTO Lima, capital do Peru. Filha de espa- estofada em branco com pequenos detalhes de cruzes
nhóis, percebeu sua vocação religiosa páteas com douramento. Sobre o ombro direito, um
A devoção mariana de “Nossa Senhora manto azul claro com ornamentos dourados cobre
desde jovem, tomando Santa Catarina
SÃO CAETANO do Bom Parto” é celebrada no dia 18 de
de Siena como modelo. Teria vivido boa parte do lado direito de seu corpo. Tanto a posi-
dezembro e, como seu nome sugere, é ção do corpo como o panejamento colaboram para a
em reclusão e penitência, não descui-
Em 1798 o Pe. João Diniz retirou-se invocada pelas mulheres grávidas que criação de movimento.
dando, todavida, de prestar assistência
para uma de suas chácaras, ano em buscam a intercessão da Virgem para
aos pobres e doentes. Ingressou na Or- Essa devoção, celebrada em 08 de dezembro, re-
que assumiu o Pe. João Crisóstomo da que tenham uma “boa hora”. A imagem
dem Dominicana e foi a primeira san- presenta a “imaculada conceição de Maria”, ou seja, a
Silva. Natural do Rio de Janeiro,foi representa a jovem Nossa Senhora,
ta da América a ser canonizada, sendo ideia de que a Virgem nasceu sem a mancha do pe-
pároco de Viamão até em 1802. Sobre sobre nuvens e acompanhada de
considerada padroeira da América La- cado original e repleta pela graça de Deus. Nossa Se-
ele, o arcediago Vicente Zeferino Dias querubins; com seu manto azul e rosa
tina. Está representada com o hábito nhora da Conceição foi declarada padroeira do Brasil
Lopes (1891) nos informa que trouxe faz um berço para segurar o Menino
dominicano, composto por túnica e Colônia e também do Império, tornando-se uma das
consigo um bonito oratório da Fazenda Jesus. A composição está repleta
touca brancas, uma capa e um véu pre- invocações marianas mais difundidas no território,
de São Caetano, o qual, com a imagem ternura, destacando-se o mistério
tos. A imagem possui olhos de vidro. Seu
do Santo, conserva-se no altar colateral da “encarnação do verbo” através da principalmente, a partir de 1931, quando a “Imacula-
braço direito está estendido para frente.
direito da Matriz. relação entre mãe e filho. da Conceição Aparecida” foi oficializada padroeira da
Na mão esquerda, carrega rosas, atributo
República Brasileira.
que a identifica.
26 27
Cartela do retábulo-mor

São Benedito
Retábulo de Nossa Senhora do Rosário

28 29
buscar imagem em outro
angulo da fachada

DENOMINAÇÃO:  Igreja Matriz Senhor Bom


Jesus do Triunfo
PROJETO:  Manuel Vieira Leão (1727–1803)
LOCALIZAÇÃO:  Praça General Bento
Gonçalves, Município de Triunfo, PROTEÇÃO:  Tombamento Municipal (2010)
estado do Rio Grande do Sul
PADROEIROS:  Senhor Bom Jesus, 06 de agosto
FREGUESIA:  Fundação: 1754 Nossa Senhora do Rosário, 07 de outubro

IGREJA: Construção: 1754/1765-1872


Inauguração: 1765
Reforma(s): 1954

30 31
já havia sido levantada uma cruz na com as originais, contrastando com as linhas
povoação, onde também fora construída arquitetônicas do templo” (FREITAS, 1963,
uma rudimentar capela. Para Marino p.106). Na mesma remodelação, foram
Josetti de Almeida, autor da monografia suprimidas as datas indicativas da feitura
sobre o município (1931), a edificação da das torres (1765 e 1872) que se encontravam
Matriz principiou em 1754, enquanto inscritas nas mesmas. Além disso, também CURIOSIDADE
outras fontes: Günter Weimer, José foi feito um novo arco na altura da mesa da
Albano Wolkmer e Athos Damasceno comunhão e foram pintados dois quadros no Pelo histórico e pela concepção construtiva do edifício, é
estimam os anos de 1757, 1758 e 1765, forro, um dedicado à Santíssima Trindade possível afirmar que a fachada com as divisões em pilas-
respectivamente. Ainda, segundo Josetti, tras estava finalizada em 1765, pois não há descontinui-
e outro representando a Visita dos Reis
dade das alvenarias no plano da base da torre com a do
em 1765, a nave e a torre esquerda da Magos. Na década de 1990, ocorreram
corpo da igreja. A este aspecto técnico, também se acres-
Matriz estavam concluídas. (ALMEIDA, novas modificações, com a substituição da centa que, embora a base de alvenaria da torre esquerda
1931, p.265). cobertura e do forro da nave, ocasionando a estivesse finalizada, ela, provavelmente, encontrava-se
No século XIX, a igreja ainda perda destas pinturas. sem sua parte superior, ou seja, sem o segundo pavimento
encontrava-se inacabada. Em 1857, Por fim, em 2010, a Igreja de Nosso com a abertura para os campanários. Corrobora esta hi-
a Câmara de Vereadores de Triunfo Senhor Bom Jesus foi reconhecida como pótese o relato de José Caetano da Silva Coutinho (1768-
requereu ao Presidente da Província Patrimônio Histórico e tombada pela Câmara 1833), bispo do Rio de Janeiro, que em sua visita pastoral
dois contos de réis para a conclusão de Vereadores do município de Triunfo. à Triunfo em 1815, observou que a Matriz era pequena e
do pavimento superior, bem como pobre, embora com três altares e, além disso, possuía três
para reparos urgentes, pois a Matriz AUTORIA DO PROJETO pequenos sinos, “enforcados em paus”, denotando, por-
encontrava-se prestes a desabar. Tais tanto, que ainda não existiam as torres com as aberturas
Além das datas da construção da Matriz, para os campanários. (RUBERT, 1994, p.77)
obras só iniciaram em 1862, cinco
também permanecem dúvidas quanto ao
anos após a solicitação, e, em 1872, a autor do projeto. De acordo com Athos
torre direita foi erguida, finalizando-se, Damasceno (1971), o risco seria de José
assim, a construção. Custódio de Sá e Faria (1710–1792),
Enquanto o século XIX foi marcado destacado engenheiro militar português,
pela finalização do templo, o século XX que à época (1764-1769) era Governador da
testemunhou inúmeras modificações. Capitania; outrossim, para Günter Weimer
história (1992), a autoria seria de Manuel Vieira
Em 1918, na gestão do pároco João
Carlos Rech, a igreja foi reconstruída Leão (1727–1803) , também engenheiro
Localizada na margem esquerda do rio Jacuí, perto militar, discípulo de José Fernandes Pinto
interna e externamente, com aprovação
da foz do rio Taquari, a paróquia de Triunfo foi Alpoim (1700-1765), ajudante de ordens
de uma comissão nomeada pelo
criada em 1757 por provisão do Frei Antônio nas demarcação do Tratado dos Limites
Arcebispo Metropolitano D. João
do Desterro, bispo do Rio de Janeiro. À época, a e encarregado do risco das obras de Sá e
Becker. Nesta mesma data, foram Faria. De acordo com Weimer, ao contrário
povoação recebeu a alcunha de “Freguesia Nova”
adquiridos “três belos e vistosos altares, dos projetos de Faria, que privilegiavam o
por ser a primeira freguesia fundada na região,
Retábulo do estilo renascença”. No ano seguinte, traço verticalizado, a fachada de Triunfo é
constituindo-se a terceira freguesia do Rio Grande
Divino Espírito o pároco Guilherme Stamsem deu marcadamente horizontalizada, além disso,
do Sul.
Santo - Igreja continuidade aos melhoramentos, sua planta baixa e risco se assemelham
Senhor Bom Jesus De acordo com o arcediago Vicente Zeferino “duplicando a capela-mor ou coro” muito com a Matriz de Rio Grande (RS),
do Triunfo Dias Lopes em sua história eclesiástica do Rio Grande e promovendo diversos consertos cuja autoria é atribuída a Leão.
do Sul (1891), o terreno para a edificação da Matriz e pinturas. Em 1922, foi ampliada a
e a imagem de Nosso Senhor Bom Jesus do Triunfo escadaria em frente à Igreja (ALMEIDA,
foram doados por Antônia da Costa Barbosa, 1931).
proprietária da primeira sesmaria concedida na
Em 1954, em virtude da
região, em 1754. As obras da igreja ocorreram sob
comemoração do bicentenário da
administração do vigário Thomas Clarque (1700-
povoação (1754), foram realizadas
1779) que “empenhou-se na construção da Matriz,
outras reformas, nas quais, segundo
levando adiante a capela-mor e parte do corpo da
José Luiz de Freitas, “não foram
igreja”. (RUBERT, 1994, p.76)
poupadas as feições primitivas da Antiga pia batismal, lavrada em pedra, na qual
Não há unanimidade entre os historiadores Matriz, modificando-se as portas e Bento Gonçalves (1788–1847), líder da Revolução
quanto à data de início da obra. Consta que, em 1753, janelas que de modo algum condizem Farroupilha (1835-1845), foi batizado em 1788.

32 33
A Matriz de Triunfo possui risco severo e ordenado, com ênfase na linha A FACHADA
horizontal. A igreja está assentada sobre uma escadaria, em elevação, de-
fronte ao Rio Jacuí. Sua estrutura é formada por corpo central ladeado de
duas torres, divididas por pilastras que marcam a separação da alvenaria.
As torres são quadradas, austeras e pesadas e dialogam com o corpo central,
de forma que sua elevação superior, demarcada por cornija, pode ter sido
uma alteração do projeto original. O coroamento destas torres é em cúpula
semi-bulbóide demarcado por friso; ambas possuem vão para campanários
em arco pleno e são decoradas por pinhas. No arremate das cúpulas, duas
cruzes de metal encimam a composição. No primeiro nível de cada torre,
destaca-se um retângulo cego com moldura que, talvez, fosse destinado
à abertura de janela aos corredores laterais da nave. No corpo central, o
MANUEL VIEIRA
arremate é em frontão triangular; abaixo, uma abertura em porta única,
LEÃO (1727–1803)
com verga reta, possui dimensões desproporcionais ao conjunto do edifí-
(atribuição)
cio. Acima, um friso demarca o óculo redondo ladeado por decoração em
arabescos; arrematando o conjunto, há uma inscrição indicando o ano de
fundação do povoado, 1754. Nas laterais do prédio, as vergas das aberturas,
originalmente retas, foram modificadas para arco abatido.

Interior da Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo


O INTERIOR
A Matriz é dividida em nave, capela-mor e dois corredo- los colaterais, novos, dedicados, à direita, ao Sagrado
res laterais. As paredes são lisas e brancas; no transepto, Coração de Maria e, à esquerda, ao Sagrado Coração
o arco cruzeiro divide a nave da capela-mor. Esta possui de Jesus. Ainda, na nave, dois retábulos laterais foram
duas tribunas laterais, altar e duas placas em mármo- encaixados em nichos junto à estrutura da edificação,
re que identificam os jazigos, à esquerda, de Jerônimo os quais, embora muitíssimo modificados, possuem
de Ornelas (1691–1771) e, à direita, do padre Thomas um projeto arquitetônico notável, principalmente no
Clarque (1700–1779), ambos sepultados na Matriz. trabalho do cornijamento que encima as colunas e pi-
Ao adentrar o templo, à esquerda, observa-se uma lastras. No retábulo lateral esquerdo, encontra-se uma
capela em louvor ao Senhor Morto e à Nossa Senho- belíssima e antiga imagem de Nossa Senhora do Rosá-
ra das Dores, com estatuária do início do século XX. À rio, ladeada pelas imagens de São Francisco de Paula e
direita, há uma pia batismal lavrada em pedra, na qual Santa Teresinha. No retábulo lateral direito, observa-
Bento Gonçalves (1788–1847), líder da Revolução Far- mos a imagem do Divino Espírito Santo, ladeado por
roupilha, foi batizado em 1788. O lado esquerdo da nave São Cristóvão e Sant’Ana. A imagem do Divino desta-
possui, ainda, uma tribuna. No lado direito da nave, na ca-se pela erudição da escultura, cuja base é sustentada
altura da tribuna, foi erigida uma gruta à Nossa Senhora por três pés em volutas e cuja extensão é toda traba-
de Lourdes. lhada com decoração em sulcos que, embora a vertica-
lidade da peça, confere-lhe movimento e sinuosidade
Atualmente, a nave possui uma decoração eclética, rococó; esta base sustenta a Pomba do Divino que está
com cinco altares em madeira, de diferentes épocas, pin- inserida em um resplendor rodeado por querubins.
tados na cor amarela e com mínima ornamentação. Ob-
serva-se, ainda, que a atual decoração é singela, e no que Assim como em outras cidades que receberam ca-
tange ao trabalho de talha, quando presente, é composto sais açorianos, observa-se que o culto ao Divino era
por apliques de ornamentos. muito presente no município, sendo uma das únicas
cidades do Rio Grande do Sul que ainda mantém o
Na capela-mor, encontra-se o altar com a imagem “Império”, a casa do Divino, defronte à praça da igreja.
do Sr. Bom Jesus; junto ao arco cruzeiro, dois retábu-

34 35
Por fim, não podemos esquecer que as NOSSA SENHORA
imagens cultuadas no templo se relaciona- DO ROSÁRIO
vam às irmandades existentes na Fregue-
sia. Até os idos de 1893, funcionavam na A imagem de Nossa Senhora do Rosário,
Matriz quatro irmandades: as Irmandades em madeira, encontra-se no retábulo lateral
Unidas de Bom Jesus e do Santíssimo Sa- esquerdo da igreja. Sua expressão é grave,
cramento, fundadas em 1766; Irmandade o panejamento esvoaçante, e a policromia
São Miguel e Almas, 1777, Irmandade de clara. Com o braço esquerdo, Nossa
Nossa Senhora das Dores e Irmandade de Senhora segura o Menino Jesus e, com a
Nossa Senhora do Rosário das quais se des- mão direita, o rosário; seus pés repousam
conhece as datas de criação. Nas procissões em nuvens nas quais voejam três querubins.
e, principalmente, na festa do Bom Jesus Tanto a Virgem quanto o Menino possuem
do Triunfo, celebrado no dia seis de agos- olhos de vidro e portam coroas de metal
to, elas distinguiam-se pela cor das opas
dourado na cabeça. A imagem, antiga,
(vermelho, verde, roxa e branca) e pelas
recebeu repintura e é muito zelada pela
bandeiras envergadas.
comunidade, que a aformoseia com brincos
e unhas esmaltadas. No período colonial,
a irmandade devota à Nossa Senhora do
NOSSO SENHOR BOM JESUS Rosário era frequentemente constituída
O Senhor Bom Jesus do Triunfo é o orago da Igreja Ma- pela comunidade negra, auxiliando os
triz. A imagem, em madeira, localizada no altar-mor, irmãos, quando escravizados, a adquirir sua
consiste em uma peça de talha inteira complementada alforria. Essa invocação mariana é celebrada
por manto encarnado. A invocação, de origem portugue- no dia 7 de outubro.
sa, representa um dos episódios da Paixão de Cristo na
qual o “Senhor Bom Jesus” é apresentado por Pilatos ao
povo, após sofrer torturas e humilhações. Essa cena tam- Nossa Senhora do Rosário
bém se faz presente nas imagens chamadas de Ecce Homo, Retábulo lateral, Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo
que em latim significa “eis o homem”, frase que teria sido
proferida por Pilatos ao apresentar Cristo.
A figura encontra-se em pé, com as mãos cruzadas FESTIVIDADE
frontalmente e atadas por uma corda dourada. Possui pe- As festividades em honra do Bom
rizônio esculpido e policromado, e o restante do corpo Jesus (06 de agosto), Divino
foi encarnado, tendo a carnação representações de feri- Espírito Santo e Nossa Senhora do
mentos e sangue. O cabelo e a barba foram esculpidos Rosário eram muito concorridas
e policromados em marrom e os olhos em azul. Sua ex- e quase sempre abrilhantadas
por bandas de música. As
pressão é de tristeza contida, passando a imagem do Cris-
celebrações contavam, ainda,
to que aceita as dores para as quais está destinado. A ca-
com o desfile das Irmandades
beça é ornamentada por um resplendor dourado, e sobre com seus estandartes e fitas
os ombros recebeu um manto em veludo, bordado com coloridas e eram frequentadas
motivos florais a ouro e com franjas douradas na bar- pelos habitantes do município, de
ra. De acordo com Manoel Luís de Almeida (1972), o São Jerônimo e de Porto Alegre
manto foi doado pela senhora triunfense, D. Deolinda. que chegavam a Triunfo de vapor
Por fim, a imagem não apresenta a coroa de espinhos pelo rio Jacuí. A festa do Nosso
Detalhe de Senhor Bom Jesus, Senhor Bom Jesus segue sendo
ou a cana verde, atributos recorrentes na iconografia do
Senhor Bom Jesus, Altar-mor da Igreja Altar-mor da Igreja Senhor celebrada pela comunidade e é
Senhor Bom Jesus do Triunfo Senhor Bom Jesus. Bom Jesus do Triunfo muito prestigiada.
36 37
Jazigo de Jerônimo de Ornelas (1691–1771) direita
e Jazigo do padre Thomas Clarque (1700–1779) esquerda,
Capela-mor da Igreja Senhor Bom Jesus do Triunfo

RESPLENDOR DO
DIVINO ESPÍRITO
SANTO, SÉCULO
XVIII
O Espírito Santo, Terceira
Pessoa da Santíssima Trindade,
é simbolizado pela pomba e nele
reside o Amor Supremo entre o Pai
e o Filho. Os Sete Dons do Espírito
Santo: Sabedoria, Entendimento,
Conselho, Fortaleza, Ciência,
Piedade e Temor a Deus são
citados pela tradição católica
(Bíblia, no versículo 2 do capítulo
11 do Livro do Profeta Isaías ) e
se tornaram fonte de devoção
popular. No Divino Espírito Santo
da Matriz de Triunfo observamos
a pomba branca rodeada por sete
querubins, número alusivo aos
sete dons do Divino.

38 39
DENOMINAÇÃO:  Igreja Matriz Nossa Senhora PROJETO:  Francisco João Roscio (1733–1805)
do Rosário
PROTEÇÃO:  Tombamento Municipal (1980)
LOCALIZAÇÃO:  Rua Júlio de Castilhos (Rua da Tombamento Estadual IPHAE (2010)
Ladeira), Município de Rio Pardo, estado
do Rio Grande do Sul PADROEIROS:  Nossa Senhora do Rosário, 07 de
outubro
FREGUESIA: Fundação: 1762

IGREJA: Construção: 1791–1885


Inauguração: 1801
Reforma(s): 1847; 1885; 1930

40 41
O município de Rio Pardo está localizado à margem esquerda do
Rio Jacuí, junto à foz do rio Pardo, e desempenhou importante
papel na história do Brasil no século XVIII, principalmente na
defesa do território contra a coroa espanhola, motivo pelo qual
recebeu a alcunha de Tranqueira Invicta. Também foi importante
ponto de ligação comercial entre Porto Alegre e o oeste da
Capitania em virtude de seu porto, no rio Jacuí, que possuía grande
movimento. Ali “atracavam continuamente as embarcações que
traziam mercadorias de Porto Alegre para serem conduzidas por
carroças e carretas à serra e à fronteira”. Lembra-se que, na época,
o principal meio de acesso ao território era por via fluvial, “os rios
eram as estradas de água”, como nos descreve Dante de Laytano.
(LAYTANO, 1932, p.13)
história

Em 1752, o Capitão General Gomes


Freire de Andrade (1685–1763), Gover-
nador do Rio de Janeiro, no comando
da Expedição Demarcadora do Tratado
de Madrid (1750), iniciou os trabalhos
de demarcação das fronteiras e deter- Vista lateral da Igreja Nossa Senhora do Rosário, século XIX. Rio Pardo (RS)
minou a construção de um depósito de Fonte: Enciclopédia Rio-grandense (1956)
provisões no local hoje chamado Alto da Fonte: Relatório Técnico (1985).
Fortaleza, à margem esquerda do Jacuí, Arquivo Paróquia Nossa Senhora
centro do povoado, no alto da colina. No ano de 1762, do Rosário de Rio Pardo (RS).
próximo à foz do rio Pardo. Esse depósi- esta Capela foi elevado à Capela Curada, recebendo
Segundo o arcediago Vicente Zeferino Dias Lo-
to ficou sob a responsabilidade da guarda um cura residente e, em 1769, foi elevada à Paróquia,
pes, a construção iniciou em 1791 e, no ano de 1801,
portuguesa e ali foi edificada a fortaleza recebendo o orago de Nossa Senhora do Rosário.
a matriz foi inaugurada, embora ainda não estivesse
Jesus Maria José pelo engenheiro militar A antiga Capela de Santo Ângelo, onde atualmente
totalmente concluída. Esta nova edificação conservou
João Gomes de Melo. Neste local, ini- encontra-se a Igreja do Senhor dos Passos, foi sede
a mesma estrutura da antiga capela-mor do século
ciou-se o primeiro núcleo populacional da vida religiosa do povoado até 1778, quando foi
XVIII, como nos informa o bispo José Caetano da Sil-
de Rio Pardo, formado pelos militares fixada a pedra fundamental da nova matriz, a qual
va Coutinho (1768–1833), em 1815: “o corpo da igreja
e suas famílias, os quais possuíam como foi construída na parte baixa da cidade, próxima ao
é magnífico, mas não tem as torres acabadas; a capela-
espaço de culto a ermida da Sagrada Fa- antigo forte, na Rua da Ladeira, atual Av. Júlio de
-mor é acachapada e fica mais baixa porque é ainda a
mília construída junto à fortaleza em Castilhos. Em três de outubro de 1779, essa matriz
mesma da igreja velha”.
1753. foi inaugurada com a transladação das imagens da
No início do século XIX, com a conquista definiti-
Em virtude do fim da Guerra Gua- Capela para a nova Igreja. Esta edificação possuía
va do território das Missões pelos portugueses (1801),
ranítica (1754–1756), um período de uma estrutura rudimentar, em taipa de bairro, e,
Rio Pardo deixou paulatinamente seu posto de fron-
tranquilidade permitiu que a população rapidamente, começou a ruir, sendo substituída por
teira militar e começou a vivenciar um período de
saísse da zona delimitada pelo forte, es- Datas de nascimento e um templo de pedra e alvenaria, erigido no mesmo
morte desconhecidas. decadência econômica, conjuntura que afetou a con-
praiando-se pelas colinas do entorno. local. Seu risco, possivelmente de 1790, é atribuído
clusão da matriz. As obras da Igreja Nossa Senhora do
Deste modo, em 1759, as celebrações ao engenheiro militar Francisco João Roscio (1733–
Igreja Nossa Senhora do Rosário, início do século XX. Rosário, deste modo, prolongaram-se durante todo o
religiosas foram transferidas para a Ca- 1805), Governador da Capitania do Rio Grande de
Acervo Paróquia Nossa Senhora do Rosário século XIX e, neste processo, a igreja passou por inú-
pela Santo Ângelo, a qual fora erigida no São Pedro entre 1801 a 1803.
meras reformas.
42 43
Em 1833, o engenheiro alemão Johann devido à estagnação econômica e à desordem na italiano Serafim Corso, exímio arquiteto e decorador
Martin Buff (1800–1880), residente na Vila de Província. Somente em 1846, a matriz recebeu auxílio que já havia realizado trabalhos do gênero em São Pau-
Johann Martin Buff nasceu em Rodelheim, próximo de
Frankfur, Alemanha, onde provavelmente instruiu-se na Rio Pardo desde a década de 1820, e encarre- proveniente das Loterias da Assembleia de modo que, lo, e seu auxiliar, Vicente Prato, os quais também deco-
Escola de Engenharia. Chegou ao Brasil em 1824 e combateu na
guerra das Províncias Unidas do Rio da Prata (1825-1828); após o gado da Comissão de Obras da Província, re- em 1847, o engenheiro João Martinho Buff realizou raram a matriz. Para Schultz, a proposta arquitetônica
término do conflito, estabeleceu-se em Rio Pardo, trabalhando meteu à Câmara Municipal um relatório sobre um novo projeto para a igreja, com modificações na de Corso alterou o projeto precedente, acrescentando
como engenheiro e agrimensor. Levantou a planta da Vila de Rio
Pardo em 1829. a matriz, no qual apontava que a igreja encon- fachada e acréscimo das torres e do frontão. Em 1848, ao risco atributos neoclássicos, traços observados no
trava-se em “deplorável estado”, possuía um principiaram as obras, durante as quais, os ofícios frontão e na sua decoração em estuque, além do arre-
“triste aspecto”, “sem torres e com a capela-mor religiosos foram transferidos para a Capela da Ordem mate das torres. Na face sul da edificação, encontra-
em estado de ruína”. Nesta correspondência, o Terceira de São Francisco. Em 1854, foi finalizada a mos uma placa com indicação desta obra, na qual se lê:
Grifos em vermelho nessa página tem como fonte: Relatório Técnico
(1985). Arquivo Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo (RS). engenheiro solicitava mais de 40 contos para o torre norte e, em 1855, foram comprados dois sinos “Corso Seraphim Ital.Arch. Simul Vicentio Prato. Alte-
término na construção. para o campanário. Em 1857, chegou, proveniente do ra torre reformada HANC EREXIT ET FASTIGIUM
Além deste, outro relatório nos informa Rio de Janeiro, um relógio que também foi instalado DECORATIO ANE MOCCCLXXXV”. Igualmente,
sobre o aspecto da matriz em meados do sé- na dita torre. Em 1864, a capela-mor foi reformada, acredita-se que a alegoria do frontão, um baixo relevo,
culo XIX. Em 1835, o vigário Sebastião Pinto conservando-se o altar-mor original e, em 1867, em estuque, com a representação de duas figuras aladas,
do Rego solicitava auxílio ao Governador da Pelegrino Castilhoni foi encarregado da pintura da seja de autoria de Corso.
Província alertando para o estado de ruína da igreja. No ano seguinte, 1868, o engenheiro Carlos de
capela-mor, a mesma desde o primeiro templo, Scherin colaborou no projeto do adro. AUTORIA
que era “muito pequena em proporção ao cor- Foi somente em 1885 que a estrutura do templo e
Atribui-se o projeto da igreja matriz ao coronel
po, que parece acéfalo”. Não obstante, o vigário a torre sul foram concluídas. A obra foi realizada pelo
Francisco João Roscio (1733–1805). Modificações
Igreja Nossa Senhora do Rosário, elogiava as proporções da matriz, “cujas linhas
Datas de nascimento e morte desconhecidas. posteriores foram realizadas em 1847 pelo engenheiro
início do século XX. foram traçadas pelo erudito governador Ros-
Rio Pardo (RS). Acervo Paróquia alemão João Martinho Buff (1800–1880), e, em 1885,
cio” e soava esperançoso afirmando que, se os
Nossa Senhora do Rosário pelo arquiteto italiano Serafim Corso.
reparos fossem realizados, o templo ocuparia “o
Datas de nascimento e
primeiro lugar entre os melhores da Província”.
morte desconhecidas.
Além disso, também observava que, em sua ad- No século XX, ocorreram significativas mudanças es-
ministração, a igreja recebera “portas novas, truturais, principalmente entre os anos de 1927 e 1930.
púlpitos, coro, sacrário magnífico, assoalho Nesta reforma, a capela-mor e a sacristia, remanescentes
reparado” e todas as imagens encontravam-se do século XVIII, foram reconstruídas, sendo que a cape-
novamente encarnadas e envidraçadas. la-mor manteve as mesmas proporções e a sacristia foi
Pela descrição deste pároco, sabemos que, reerguida somente do lado sul. Internamente, os altares
no ano de 1835, a matriz contava, além do al- foram alterados, os púlpitos foram suprimidos e as pare-
tar-mor, com seis retábulos laterais: Divino des, outrora lisas e caiadas, receberam pintura decorativa
Espírito Santo, Nossa Senhora do Parto, Nossa de autoria do artista bávaro Fernando Schlatter (1870–
Senhora das Dores, Nossa Senhora do Rosá- 1949). Por fim, em 1948, foi inaugurada a casa canônica,
rio dos Pretos, São Miguel e São Francisco de que envolve a capela-mor pelos lados sul e leste, e cujo
Paula. Essa informação nos permite conhecer acesso, mais tarde, foi interligado à sacristia.
as irmandades que possuíam altares na Matriz. Em 1980, a matriz recebeu o título de Patrimônio
Vale notar que, dentre as confrarias fundadas Histórico e Cultural da cidade. Em 1983, foi realizado
da cidade, a do Senhor dos Passos (1805) e a da um projeto de restauro, o qual foi retomado em 2010,
Ordem Terceira de São Francisco (1785) já pos- mesmo ano em que recebeu o tombamento estadual
suíam seus templos particulares. pelo IPHAE – Instituto do Patrimônio Histórico e Artís- Placa indicativa da obra realizada em 1885 por
Serafim Corso
Durante os anos da Revolução Farroupilha tico do Rio Grande do Sul.
Fachada lateral leste,
(1835-1845) ocorreu a paralização das obras Igreja Nossa Senhora do Rosário, Rio Pardo (RS)
44 45
a fachada

A fachada da matriz destaca-se por seu porte


verticalizado, de grandes dimensões e enverga-
dura, com duas alterosas torres. O corpo é di-
vidido em três tramos, o frontão é triangular e
possui minucioso trabalho ornamental, no qual
observamos duas figuras aladas, em estuque,
portando um rosário. Ao centro, três janelas na
altura do coro e, abaixo, três vultosas portas, de
duas folhas de madeira, com ornamentação em
cantaria, onde lemos o ano da construção do edi-
fício, 1801.
A matriz, em virtude das sucessivas obras pe-
las quais passou ao longo dos séculos XIX e XX,
diferencia-se dos demais templos religiosos do
Rio Jacuí, com suas fachadas austeras, de fortale-
za, e de mínima ornamentação. Embora o proje-
to original seja de autoria do engenheiro-militar
Francisco João Roscio (1833–1805), é possível
observar modificações estilísticas transpostas
ao frontispício do templo, que descaracteriza-
ram-no e lhe imprimiram sua feição atual. Este
aspecto é notável no que concerne às torres, as
quais dialogam com o corpo da matriz até o nível
do frontão, porém, a partir deste ponto, erguem-
-se mais do que o previsto, alongando a fachada,
em uma manifestação afinada com o estilo neo-
clássico.
A respeito do caráter historicista e eclético
do frontispício, supõe-se que tal modificação foi
principiada pelo risco do engenheiro alemão João
Martinho Buff (1800–1880), na primeira metade
do século XIX. Contudo, a visualidade oitocen-
tista foi, certamente, reforçada pelas últimas re-
formas do arquiteto italiano Serafim Corso, em
1885, que atualizaram o frontispício do templo à
voga ornamental, de compleição eclética.

FRANCISCO JOÃO ROSCIO (1733–1805)


Igreja Nossa Senhora do Rosário
46 47
detalhes da fachada o interior

A matriz apresenta planta retangular. É constituída por adro, nave única e


capela-mor. Do lado norte da edificação, à esquerda, foi construído o con-
sistório, o qual possibilita acesso às tribunas deste lado da nave; o lado sul,
no entanto, carece deste complemento e, ali, as tribunas foram convertidas
em janelas.
Ao adentrarmos o templo, nos deparamos com o adro sob o coro; à sua
esquerda, encontra-se o batistério, e, à direita, o Mausoléu do Barão do
Triunfo, General Joaquim José de Andrade Neves (1807–1869), herói da
Guerra do Paraguai. Este monumento funerário, em mármore, foi erigido
em sua homenagem por sua filha e apresenta elegante traçado neoclássico.
As paredes e o forro são decorados com pintura ornamental; no arco
cruzeiro, um painel representa a celebração da Santa Ceia e, na capela-mor,
observamos igual pintura da nave. No altar-mor, encontra-se entronada
a imagem de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da cidade e orago da
matriz. À esquerda da capela-mor, localiza-se a Capela de Nossa Senhora
da Soledade e, à direita, a sacristia com acesso à casa paroquial. Ainda,
a matriz conta com sete retábulos, seis laterais e o altar-mor, todos em
Detalhe da alegoria do frontão madeira, em tons creme, com resquícios de policromia e douramento.
Igreja Nossa Senhora do Rosário Os seis retábulos estão dispostos de forma paralela, três em cada lado
da nave. Do lado do evangelho, encontram-se: retábulo-colateral de Nos-
Interior da Igreja sa Senhora das Dores, retábulo de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,
Nossa Senhora do Rosário

Detalhe da decoração em cantaria na fachada


Igreja Nossa Senhora do Rosário

48 49
atualmente, altar de Santa Terezinha, e retábulo
do Divino Espírito Santo. Do lado da epístola: re-
tábulo-colateral do Sagrado Coração de Jesus, re-
tábulo de São Francisco de Paula e o antigo altar
de Sant’Anna, no qual, atualmente, encontra-se
Nossa Senhora da Assunção.
No que tange ao desenho e ao trabalho
escultórico da talha, destacam-se, no retábulo-
mor, as vetustas colunas salomônicas sobre
mísulas e, no altar-colateral de Nossa Senhora
das Dores, o complexo risco, com elementos do
barroco joanino e da decoração rococó, bem como
os escudos ornamentais alusivos à Via Crucis, os
quais dialogam com as imagens ali entronizadas
(Nossa Senhora das Dores e Cristo Crucificado).
Ainda, o retábulo possui três elegantes anjos no
seu coroamento; um ao centro, sobre o escudo, e
dois primorosamente dispostos sobre os arranques
do frontão.
O retábulo de Nossa Senhora das Dores e o al-
tar-mor, deste modo, apresentam uma sofisticada
composição e são, possivelmente, datados dos últi-
mos anos do século XVIII; ademais, foram preser-
vados das reformas oitocentistas e diferenciam-se
sobremaneira dos retábulos da nave que, por sua
vez, exibem uma fatura mais simplificada e menos RETÁBULO-MOR
ornamental. DE NOSSA
Considera-se, portanto, que os altares da nave
SENHORA DO
ROSÁRIO
devem ter sido modificados nas várias reformas
ocorridas ao longo do século XIX. Sobre isso, im-
portante mencionar o caso do retábulo dedicado à
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cujo escu- Estima-se que o retábulo-mor de Nossa Senhora do No intercolúnio, dois nichos com peanhas e dossel
Rosário tenha sido realizado no final do século XVIII, para a colocação de imagens. O camarim é escalonado e
do foi remodelado e no qual, atualmente, a car- decorado com talha em rocaille e, ao centro, observa-se
com modificações do início do XIX. Ele apresenta uma
tela apresenta o orago da Ordem dos Carmelitas. talha volumosa, com elementos dos estilos barroco um rico nicho entalhado com dossel onde está assentada
Igualmente, o altar do Sagrado Coração de Jesus, joanino e rococó. Seu coroamento é em arcos e o arremate a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Nos degraus
é formado por rocalhas onde, ao centro, anteriormente, do camarim, estão dispostos seis anjos, três em cada
cuja imagem foi adquirida em 1918, foi alterado,
encontrava-se a cartela com o monograma de Nossa extremidade do trono. Na base do retábulo, um rico
uma vez que, outrora, era dedicado a São Miguel escudo trabalhado por talha esgarçada em estilo rocaille. A
Senhora.
Arcanjo, como frequentemente encontramos na mesa do altar possui escudo também ricamente trabalhado
tradição do século XVIII.
Fernando Schlatter (1870–1949) O corpo do retábulo é sustentado por mísulas e com elementos fitomorfos.
Pintura do forro da nave, 1930 constituído por colunas salomônicas, com o terço A imagem de Nossa Senhora do Rosário atualmente
inferior estriado em diagonal e fuste torso adornado disposta no altar-mor pertencia à antiga Irmandade de
com folhas de acanto e elementos fitomorfos nos Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em cujo altar,
terços superiores; ainda, é ladeado por colunas de fuste hoje, está disposta a imagem de Santa Terezinha. Esta
liso ornadas com guirlandas de flores em diagonal. substituição ocorreu em 1983 quando a antiga imagem da
Virgem, proveniente da Bahia, em 1797, foi furtada.
50 51
RETÁBULO COLATERAL DE
NOSSA SENHORA DAS DORES

O retábulo colateral esquerdo de Nossa Senhora das Dores apresenta uma talha escultórica, com elementos do
barroco joanino e do rococó. No coroamento do retábulo, encontra-se o escudo com a iconografia de Nossa
Senhora das Dores: o coração transpassado por uma lança, o qual é ornado por guirlandas e flores. Sobre os ar-
ranques de frontão, dois anjos ladeiam o coroamento do retábulo, sobre o qual, outro anjo, central, sustenta um
cálice. Os anjos laterais carregam, por sua vez, à esquerda, um martelo e, à direita, uma torquesa.
O corpo do altar é apoiado em mísulas e estruturado por colunas salomônicas, com o terço inferior estriado
em diagonal e decoração com folhas de acanto. A ornamentação em talha possui elementos fitomorfos e antropo-
morfos, com anjinhos, e cartelas com os símbolos da Via Crucis entalhados em baixo relevo.
O frontal do altar é ornado por guirlandas e elementos fitomorfos, com escudo central, onde observamos os
três punhais emoldurados pela coroa de espinhos, indicando a devoção à Nossa Senhora das Dores.
Por fim, os elementos iconográficos que decoram o altar são: à direita, a Santa Cruz com a lança e o cravo; à
esquerda, a escada com o chicote; na base do retábulo, à esquerda, a coluna e o punhal e, à direita, o Santo Sudário
contabilizando-se, assim, os sete elementos iconográficos da Via Crucis.

Nossa Senhora das Dores


Retábulo-colateral de
Nossa Senhora das Dores

Retábulo-colateral de
Nossa Senhora das Dores
52 53
OS SEIS RETÁBULOS DA NAVE
LADO ESQUERDO LADO DIREITO

Retábulo de
Santa Terezinha
Antigo retábulo de Nossa
Retábulo de São
Senhora do Rosário dos
Pretos Francisco de Paula Retábulo de
Sant’Anna
Retábulo de Retábulo do
Nossa Senhora Retábulo do Sagrado Coração
Atualmente, no nicho

das Dores
Divino Espírito de Jesus
central, encontra-se a
imagem Nossa Senhora
Santo da Assunção

54 55
Nossa Senhora do Rosário SENHOR MORTO E
Altar-mor da Igreja Nossa
Senhora do Rosário
NOSSA SENHORA DA SOLEDADE
Na capela de Nossa Senhora da Soledade, encontram-
-se duas esculturas devocionais, em madeira policro-
mada, muito importantes para as festividades da Se-
mana Santa em Rio Pardo: a imagem de roca de Nossa
Senhora da Soledade e a imagem articulada do Senhor
Morto.
Durante a Sexta-feira Santa, a imagem de Cristo
MARINO del FAVERO (1864–1943)
Sagrado Coração de Jesus c.1918 é apresentada na cruz para a adoração dos fiéis, sendo
Retábulo do Sagrado Coração de Jesus realizada uma dramatização de sua descida da cruz. A
partir disso, realiza-se a procissão do sepultamento,
em que são levadas as duas imagens acompanhadas
por um cortejo de fiéis. A imagem do Senhor Mor-
to possui a representação de ferimentos e manchas de
sangue espalhados pelo corpo, marcas de todo o mar-
tírio de que fala história de Cristo. Foi realizada na
Bahia e adquirida pela Irmandade de Nossa Senhora
das Dores em 1848 por 115 mil réis (LOPES, 1891,
p.42)
A invocação mariana da “Soledade”, por sua vez,
traduz a saudade e a solidão sentidas pela Virgem Maria
após a morte de seu filho. Com estrutura inferior em
NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO ripas de madeira e com braços articulados, a imagem
está vestida com túnica e manto roxos com detalhes em
A imagem de Nossa Senhora do Rosário, orago da dourado. O manto é bordado com delicadas e espaçadas Nossa Senhora da Soledade
Igreja Matriz, ocupa o nicho central do retábulo- flores e folhas. Também faz parte de sua ornamentação Capela de Nossa Senhora da Soledade
-mor. Trata-se de uma escultura em roca, realizada a cabeleira de fios naturais e uma coroa prateada e suas
em madeira policromada e semiarticulada. Vestida de mãos encontram-se cruzadas sobre o peito.
azul claro e com um manto branco, a Virgem Ma- Senhor Morto
ria segura em seus braços o Menino Jesus adereçado Capela de Nossa Senhora da Soledade
com uma bata branca. O elemento que caracteriza a
imagem mais claramente é a presença do rosário, que
perpassa o ombro esquerdo do Menino e a mão direi-
ta de Nossa Senhora. Possui base complexa e colorida
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS em forma de nuvens com a presença de querubins.
Essa devoção, tem sua origem em 1214 d.C., na ci-
A imagem do Sagrado Coração de Jesus, assentada no
dade de Toulouse, na França. São Domingos de Gus-
camarim do retábulo colateral direito, foi encomenda-
mão teria presenciado a aparição da Virgem Maria,
da pelo Apostolado do Coração em 1918 e consagrada
que, no momento, lhe entregou o rosário e o instruiu
no altar em 1922. A peça foi realizada pelo Atelier de
sobre a conversão dos homens através de sua adoração.
Arte Sacra de Marino del Favero (1864-1943), desta-
A partir desse episódio, a Ordem dos Pregadores, ou
cado artista italiano atuante na cidade de São Paulo no
dos Frades Dominicanos, se tornou responsável pela
final do século XIX e início do século XX. A compra
difusão do rosário.
da imagem, por iniciativa das zeladoras do Apostola-
A Imagem de Nossa Senhora do Rosário em questão
do Coração de Jesus, nos convida a refletir sobre as
provem da antiga irmandade de Nossa Senhora do Ro-
condições e aspirações da comunidade de Rio Pardo,
sário dos Pretos da matriz, a qual estava entronizada no
bem como a estima que a comunidade possuía para
altar da irmandade. A imagem Nossa Senhora do Ro-
com sua igreja, disposta a reunir fundos para adquirir
sário “original”, que ocupava o retábulo-mor, foi subs-
uma imagem de um dos mais proeminentes escultores
tituída pela Nossa Senhora do Rosário dos Pretos após
sacros, a nível nacional.
furto ocorrido na década de 1980.
56 57
O OLHAR DOS VIAJANTES
No ano de 1867, o político e historiador mineiro, Barão Em 1952, o historiador alemão Wolfgang
Homem de Melo (1837–1918), visitou Rio Pardo e Hoffmann Harnisch (1893–1965) esteve em Rio Pardo
sublinhou o porte da igreja, ainda em construção: “no e observou: “a matriz de Rio Pardo é um dos templos
largo da Matriz, logo à entrada da cidade, avulta à direita mais lindos do estado. De proporções magníficas,
a igreja paroquial, templo elegante e construído em a fachada é ornamentada com belíssima alegoria.
grandes proporções, só inferior na Província à igreja de Naves imponentes e altares requintadamente bonitos.
Viamão” (MELLO apud LAYTANO, 1946, p.28). (HARNISCH, 1952, p.404)

Antiga imagem de Nossa


Senhora do Rosário
entronizada no altar-mor,
Igreja Nossa Senhora do
Rosário,
Rio Pardo (RS)

Acervo Paróquia
Nossa Senhora do Rosário

58 59
DENOMINAÇÃO:  Igreja Matriz São José PROJETO:  José Custódio de Sá e Faria (1710–
1792)
LOCALIZAÇÃO:  Praça São José, Município de
Taquari, estado do Rio Grande do Sul PROTEÇÃO:  -

FREGUESIA:  1765 PADROEIRO:  São José, 19 de março

IGREJA: Construção: 1768; 1799–1803


Inauguração: 1803
Reforma(s): 1900; 1906; 1935

60 61
Antiga fachada da Igreja São José antes das reformas do século XX
história
Observamos a simplicidade da construção. A base da torre alcançava apenas a cumeeira do telhado, enquanto os
sinos localizavam-se em um campanário, doutro lado da edificação. Fonte: (FARIA, 1982)

O povoamento da região às margens do Rio Tebiquari (Taquari) iniciou em 1760 com a


chegada de 14 casais açorianos transferidos ao local pelo Governador da Capitania, o Coro-
nel Inácio Elói de Madureira (?–1764). A estes primeiros casais, foram incorporados mais
60, quando o novo Governador, José Custódio de Sá e Faria (1710–1792), fundou a povoa-
ção de São José do Taquari no ano de 1764. A escolha do nome teria sido um tributo de Sá
e Faria ao monarca português, D. José I (1714–1777). Além do núcleo, Sá e Faria também
erigiu um pequeno forte, de madeira, no Passo do Tebiquary, para a proteção dos habitantes.
No mesmo ano de 1764, foi construída uma capela, a qual foi elevada a Curato pelo Bis- Correspondência
po do Rio de Janeiro. Com o crescimento do povoado e enfatizando a estratégia administra- remetida por José
Custódio de Sá e
tiva portuguesa – da utilidade de se estabelecerem vilas, uma vez que “quanto mais povoada Faria para o Vice-rei,
a Província estiver, ter-se-á mais meios para a defesa das fronteiras com os espanhóis” – Sá Conde de Azambuja,
em 1768. Para
e Faria considerou pertinente a edificação de uma igreja de maiores proporções, recebendo, mais informações,
em 1765, autorização do Vice-rei, Conde da Cunha (1700–1791), para construir a matriz; consultar (SILVA,
1972, p.65)
na mesma provisão, o Curato também era elevado a Paróquia.
Transcrevemos, a seguir, um trecho da correspondência do Vice-rei, Conde da Cunha,
na qual este recomendava modéstia na edificação da nova matriz: ”pode V.S. principiar a Ofício do Vice-rei
do Brasil, Conde
nova igreja de São José, na forma em que ele [o Bispo] manda; porém, far-se-á esta obra tão da Cunha, dirigido
modicamente que possamos com a despesa e para que sirva de se celebrarem os ofícios divi- ao Governador
do Continente do
nos àqueles moradores e não para a vanglória nossa”. Na mesma carta, o Vice-rei prometia Rio Grande de São
a Sá e Faria os paramentos, pregos, e demais necessidades para as obras; além disso, também Pedro, Coronel
José Custódio de
enviava uma imagem de São José, a qual chegou a Taquari em 1766. Sá e Faria, em 1765.
Para consultar a
As obras da nova igreja, contudo, foram prejudicadas pela escassez de recursos, cujas transcrição, vide
somas eram, sobremaneira, destinadas aos aparatos de defesa do território. Sobre esta situa- (BALEM, 1952, p.22)
ção, Sá e Faria informava ao novo Vice-rei, Conde de Azambuja, que até aquele ano (1768)
apenas havia conseguido juntar a madeira para erigir a igreja, faltando-lhe os pregos, instru-
mentos e demais materiais que o outrora vice-rei, Conde da Cunha, havia-lhe prometido.
Sabe-se que as obras da igreja iniciaram em 1768; ainda, segundo relatos, em 1799, o
estado da matriz era lamentável, com o teto desabando e sua madeira apodrecida. Quanto
ao corpo do edifício, o relato do Monsenhor Pizarro(1753–1830) nos esclarece que a igreja Para mais informações,
era construída de pedra, cal e coberta de telha – ademais, possuía três altares. Em seu estudo consultar: PIZARRO,
José de Souza Azevedo
sobre a Matriz de Taquari, Mons. J.M. Balem (1952) nos informa sobre as doações, apon- e Araújo. Memórias
históricas do Rio de
tadas nos livros das irmandades do Santíssimo Sacramento e São José, para o término da Janeiro e das províncias
construção, cujas obras perduraram entre os anos de 1799 e 1803. annexas à jurisdicção do
Vice-Rei do Estado do
Brasil, dedicadas a El-Rei
A primeira etapa da edificação foi concluída em 1803, porém a igreja ainda encontra- Nosso Senhor D. João VI
va-se sem torre. À época, portanto, a construção possuía nave, base para receber a torre (1820–1822). Tomo V,
p.131
esquerda e um rústico campanário do lado direito. No dito ano de 1803, o mestre Francisco
Gomes Pereira e sua oficina concluíram a capela-mor, pelo que se estima que o retábulo-
Fachada da Igreja São José, início do século XX. Fonte: (SILVA, 1972)
-mor, de traços rococó, seja desta data e, talvez, de sua autoria.

62 63
Interior da Igreja São José, c. 1906.
Observamos, na imagem, os antigos retábulos laterais junto ao
arco-cruzeiro. Fonte (BALEM, 1952)
Sabe-se pouco sobre os reparos e obras ocorridos ao
longo do século XIX, pois tanto a fachada como seu en- AUTORIA
torno sofreram sucessivas intervenções. Um dos únicos
Ainda permanecem dúvidas quanto à autoria do
relatos encontra-se no jornal local, o Taquaryense, em ar-
projeto da igreja matriz de Taquari. Em 1764, o
tigo de 1899, transcrito por Augusto de Faria na sua mo-
nografia sobre o município (1912). O texto, entretanto, Vice-rei, Conde da Cunha, requereu à Sá e Faria
alude mais ao aspecto interior do templo, que portava a demarcação de terras e datas para os imigrantes
um “suntuoso altar-mor”, possivelmente o mesmo que açorianos. O engenheiro, deste modo, planejou o
observamos atualmente, e quatro altares laterais. povoado que, de acordo com Rocca (2020), foi o
único assentamento da Capitania do qual se tem
A torre foi concluída em 1900. Em 1906, a igreja pas-
o plano prévio. Todavia, também se atribui o de-
sou por reforma e repintura interna; em 1935, seu inte-
rior foi restaurado. Estas modificações foram concreti- senho da primeira planta de Taquari (1767) ao
zadas pela Ordem Franciscana (O.F.M.) que, que desde ajudante de ordens de Sá e Faria, o engenheiro-
o ano de 1933, assumiu a administração da Matriz. No -militar Manuel Vieira Leão (1727–1803). Não
final da década de 1980, foram realizados novos reparos. obstante, o risco da matriz, com apenas uma tor-
Atualmente, a igreja encontra-se em bom estado de con- re, apresenta programa semelhante ao projeto de
servação. Sá e Faria para a Capela de Canelones, no Uru-
guai, em 1784 – o que pode indicar que ele tenha
sido o autor da Matriz de São José.

CORRESPONDÊNCIA DO GOVERNADOR
JOSÉ CUSTÓDIO DE SÁ E FARIA, 1768

Em 1768, ocorreu a substituição do Vice-rei, Conde da Cunha, por D. Antônio Rubim de Moura Tava-
res, Conde de Azambuja. Em virtude deste fato, o Governador José Custódio de Sá e Faria remeteu ao
novo Vice-rei um extenso relatório sobre sua administração desde 1764. Neste depoimento, é possível
acompanhar as dificuldades que a povoação enfrentou para ver construída sua igreja matriz.
“Logo que cheguei a este governo, procurei dar cumprimento a esta importante ordem [do Conde
da Cunha, a respeito da organização dos casais açorianos], seguindo em tudo as de Sua Majestade que se
acham nesta provedoria a respeito das mesmas famílias, e com efeito fundei a primeira povoação junto
ao passo do rio Tebiquary, em situação que achei própria para as utilidades e lavouras dos mesmos po-
voadores, e lhe fiz com toda a regularidade em ruas, casas e praça; e, querendo dar princípio à igreja, só
pude conseguir tirar as madeiras para ela do mato, porém não tive meios para meter mãos à obra. Pedi ao
Sr. Conde da Cunha me mandasse as ferragens precisas, pregos e os paramentos para a dita igreja, e só
me mandou a imagem do Senhor S. José, cuja vocação lhe pus em memória do nome de Nosso Augusto
Soberano, e me avisou que os paramentos se ficavam fazendo, os quais não hão chegado, nem o mais,
havendo passado muito mais de dois anos”.

Correspondência remetida por José Custódio de Sá e Faria


para o Vice-rei, Conde de Azambuja, em 1768. Para mais Interior da Igreja São José, c. 1935
informações, consultar (SILVA, 1972, p.65) Fonte (BALEM, 1952)
64 65
JOSÉ CUSTÓDIO
DE SÁ E FARIA
(1710–1792) o interior
Igreja Matriz São
José, 1765
Atualmente, a matriz possui quatro altares: um retábulo-mor; dois retábulos colaterais; um retábulo lateral e uma
“grutinha” de Nossa Senhora de Lourdes – modificação, posterior, mencionada no artigo do Taquaryense de 1899.
Os retábulos foram confeccionados em madeira e possuem policromia clara, com ornamentação acobreada e
dourada. O altar-mor apresenta características do estilo rococó, típicas do final do século XVIII e início do século
XIX, porém, os outros dois altares são de fatura posterior, possivelmente de 1906, alterando consideravelmente
a ambientação da igreja. O retábulo colateral esquerda é dedicado a Nossa Senhora do Rosário, onde está disposta
uma belíssima imagem da Virgem, enquanto o retábulo colateral direito é dedicado a Santo Antônio. O forro é
em abóboda de berço e a matriz também conta com coro e para-vento.
O retábulo-mor, de autoria desconhecida, foi concluído em 1803, e conserva grande parte de sua fatura origi-
nal. Sua talha se caracteriza pelos ornamentos fitomorfos, com presença de festões e flores de desenho esgarçado;
além disso, tem como principal elemento decorativo as rocalhas, típicas do estilo rococó, tratam-se de conchas
estilizadas, ornamento muito difundido nas gravuras e manuais decorativos do século XVIII. Ainda, observa-se
que, ao contrário da assimetria do programa rococó, na decoração deste altar, as rocalhas, esgarçadas em filetes de
talha, apresentam uma composição simétrica. Quanto ao arremate do retábulo, sua ornamentação é mais pesada
no frontão curvo e vai suavizando-se à medida que se aproxima da mesa do altar. Nota-se, ainda, que é uma talha
em “apliques”, sem muita ênfase na estrutura arquitetônica.

a fachada
A Matriz de Taquari está assentada junto à Praça São planta baixa mais reduzida (WOLKMER, 1996, p.230).
José. Possui uma fachada simples, com uma torre qua- No corpo principal, uma porta em arco abatido; acima,
drangular arrematada por estrutura piramidal. Esta três janelas, com vitrais, iluminam o coro internamen-
foi erguida posteriormente, em 1900, ano indicado na te. Ao centro, no frontão triangular, um dos únicos de-
fachada, e destoa do restante do corpo do edifício – talhes ornamentais da fachada: uma reminiscência de
uma vez que não foi erigida no mesmo prumo da base, óculo, hoje remodelado, onde foi incrustado um lírio, Interior da Igreja São José
sendo concluída com a parte superior recuada e com a flor que nos remete ao orago da matriz, São José. Taquari (RS)

66 67
fitomorfas que emolduram a composição; ao cen-
tro, observamos um baixo relevo, simulando uma
custódia, desenhada por uma curva sinuosa. O sa-
crário do altar lateral esquerdo da nave está dispos-
to sobre o frontal, sua talha compartilha da fatura
rococó do altar-mor e sua estrutura está perfilada
por padrões fitomorfos; no arremate, o conjunto
é finalizado por uma pomba do Divino Espírito
Santo. Além disso, ainda é possível observar res-
quícios de pigmentação azul na sua estrutura.
Dentre as peças de imaginária, destacam-se, no
retábulo colateral esquerdo, a belíssima imagem
de Nossa Senhora do Rosário, em madeira e com
panejamento esvoaçante, e as imagens de São José
e do Cristo Morto, ambas preservadas na sacristia
da Paróquia.

detalhe do sacrário
do retábulo-mor,
c.1803

No nicho central do retábulo-mor, encontra-se a imagem do Retábulo-mor,


orago da matriz, São José – uma imagem contemporânea, em ges- c.1803

so –, ladeando o altar-mor, à esquerda, São Francisco de Paula, e à


direita, São Francisco de Assis. Ainda, destacam-se os belos anjos
sobrepostos na mesa do altar, cuja delicadeza e feição rafaelita nos
remete à estatuária, em gesso, do início do século XX. Estes anjos
foram realizados por Harry Roehe, fundador e sócio do Atelier
de Arte Christã Roehe & Allgayer, famosa casa de peças sacras da
cidade de Porto Alegre durante o século XX. Este dado, inédito,
foi localizado na presente investigação. HARRY ROEHE
Destacam-se, ainda, os sacrários presentes junto ao retábu- detalhe da Anjo, início do século XX
ornamentação Capela-mor, Igreja São
lo-mor e ao retábulo-lateral esquerdo da nave. Aquele anexo ao
do retábulo-mor, José, Taquari (RS)
retábulo-mor possui contorno de talha belíssimo, com elevações c.1803

68 69
Detalhe do sacrário
do retábulo lateral
Igreja São José

Detalhe da placa de identificação da escultura “Anjo’’


“Instituto de Arte Christã de Harry Roehe’’

HARRY ROEHE
Detalhe de anjos, início do século XX
Capela-mor, Igreja São José, Taquari (RS)
70 71
SÃO JOSÉ

Detalhe do trabalho de esgrafito na


veste da imagem de São José

A imagem do patrono São José encontra-se na sacristia da igreja. Considera-


se que, por ter sido presente do Vice-Rei, Conde da Cunha (1700–1791), seja
uma obra do terceiro quartel do século XVIII e de possível fatura portuguesa.
Em talha de corpo inteiro e madeira, a peça possui carnação realista do rosto,
pescoço e mãos; o menino, todavia, recebeu repintura. Ambos possuem olhos
de vidro. São José foi esculpido vestindo túnica e manto estofados nas cores azul
acinzentado e ocre, com douramento e detalhes de punção nos ornamentos em
formato de folhas. Sobre a cabeça possui um resplendor de metal prateado.
São José sustenta com o braço esquerdo a figura que representa o Menino
Jesus. Com o bracinho estendido, o menino parece estar se aproximando para
acarinhar o rosto do pai. Na mão direita, o Santo leva como atributo uma vara
florida de lírios brancos, que representa sua pureza e dignidade como pai adotivo
de Jesus. No mês de março, a paróquia realiza uma festa em homenagem a São
José, a qual se encerra no dia 19, quando, para dar fechamento às festividades, é
realizada a procissão em honra ao Santo. Detalhe do Menino Jesus,
imagem de São José

72 73
DENOMINAÇÃO:  Igreja Matriz Santo Amaro PROJETO:  Alexandre José Montanha (1730–
1800)
LOCALIZAÇÃO:  Santo Amaro do Sul, distrito
homônimo no Município de PROTEÇÃO:  Tombamento Federal – IPHAN
General Câmara, estado do Rio (1998)
Grande do Sul
PADROEIRO:  Santo Amaro, 15 de janeiro
FREGUESIA:  Fundação: 1773

IGREJA: Construção: 1774


Inauguração: 1787

74 75
história Em 1998, o conjunto histórico da cidade de San- Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Nesta em-
to Amaro foi tombado pelo Patrimônio Histórico e preitada, realizou-se pesquisa e trabalho de campo, além
Artístico Nacional-IPHAN. Este tombamento con- de escavações arqueológicas. A respeito destas foram en-
Na margem esquerda do rio Jacuí, três léguas
templou as 14 edificações da vila, a Matriz e a Praça contrados indícios de sepultamentos em torno da Ma-
acima da Freguesia do Senhor Bom Jesus do
Marechal Câmara. O traçado urbano de Santo Amaro, triz, bem como dentro de sua capela-mor.
Triunfo, estabeleceu-se em 1752 um depó-
mantido praticamente com sua conformação original
sito de provisões para auxiliar na Expedição
do século XVIII, foi um dos principais motivos para AUTORIA
Demarcatória do Tratado de Madri (1750),
o reconhecimento da vila como patrimônio nacional.
coordenada por Gomes Freire de Andrade O risco da igreja matriz Santo Amaro é atribuído ao en-
(1685–1763). No local, já havia um pequeno Nos anos mais recentes, entre 2006 e 2008, a genheiro-militar Alexandre José Montanha (1730-1800)
forte, construído por ordem de José da Sil- Matriz foi restaurada através de uma parceria entre por este ter sido responsável pelo traçado urbano da vila
va Paes (1679–1760) no terceiro decênio do o Centro de Memória e Cultura de Venâncio Aires em 1774.
século XVIII, onde fora erguida uma capela e o Centro de Pesquisas Arqueológicas – CEPA, da
dedicada a Santo Amaro.
A partir deste entreposto militar, em
1763, a Capela foi elevada a Curato. Anos
mais tarde, a região começou a receber no-
vos habitantes, principalmente, em 1771,
quando casais açorianos se estabeleceram no
entorno e, assim, por Provisão de 18 de ja-
neiro de 1773, o Curato passou à Paróquia,
desmembrando-se da Freguesia de Bom Je-
sus do Triunfo.
No ano de 1774, a pedido do Governa-
dor Marcelino de Figueiredo (1735–1814),
o Capitão e engenheiro-militar Alexandre
José Montanha (1730–1800) dirigiu-se à localidade para demarcar as datas e ris- Frontão e óculo da Igreja
car o traçado urbano da praça e das ruas, a fim de ali acomodar casais açorianos
que ainda encontravam-se sem fixação definitiva. Por este motivo, muitos pes-
quisadores atribuem a Montanha o traçado da Igreja, embora tal parecer não seja
conclusivo. Sabe-se, entretanto, que antes da atual matriz, existia uma primitiva
capela, a “matriz velha”, erigida junto ao forte.
Em 1786, a nova igreja já estava em construção e, em 1787, foi inaugurada. Para mais informações,
Esta data encontra-se registrada no friso sobre a porta do templo. Sobre o esta- consultar: PIZARRO,
José de Souza Azevedo
do da Matriz nos últimos decênios do século XVIII, Monsenhor Pizarro (1753–
e Araújo. Memórias
1830), representante do Bispo do Rio do Janeiro nas visitas pastorais, observou históricas do Rio de Janeiro
que a igreja era “construída de pedra, cal e coberta de telha”. e das províncias annexas à
jurisdicção do Vice-Rei do
Desconhecem-se maiores dados sobre a matriz ao longo dos séculos XIX e
Estado do Brasil, dedicadas a
XX. Somente nos foi possível averiguar que, assim como no momento de sua El-Rei Nosso Senhor D. João
construção, a Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Amaro permanece VI (1820–1822). Tomo V,
atuante como a instituição responsável pela manutenção da igreja. Entre suas p.128.
principais características, a confraria é formada exclusivamente por homens e
sua identificação é a opa em cor vermelha. Porta da Igreja Santo Amaro
76 77
A FACHADA
A igreja destaca-se pelo seu grande porte e
pela graciosa ornamentação em cantaria. Sua
fachada caracteriza-se pela horizontalidade e
é dividida por um corpo central ladeado por
dois prolongamentos de parede, que, por
sua vez, servem de base às sineiras. Estas
“falsas torres”, cuja divisão é demarcada por
pilastras, também dão suporte à estrutura do
edifício, na forma de contraventamentos de
alvenaria justapostos à frontaria. O frontão
é curvilíneo e onduloso e o conjunto, apesar
da sua envergadura e sisudez, é rendilhado
com graça. As pilastras do frontispício e das
falsas torres são decoradas por coruchéus
que dinamizam o coroamento da fachada.
Nota-se, também, que o desenho do fron-
tão é repetido no arremate das sineiras.
No frontão, destaca-se um óculo poli-
gonal emoldurado por friso e, abaixo, no
corpo central, três janelas com vitrais ilu-
minam o coro – o acesso ao coro, antanho,
era feito pela lateral da edificação. No pri-
meiro nível, observamos uma grande por-
ta com guarnições em pedra lioz, decora-
da por graciosos frisos sinuosos, nos quais
também foi delineado um coração com ra-
mos. Na porta, entre os frisos, foi indicado
o ano de inauguração da igreja, 1787.
Por fim, observa-se que a expressão
monumental do templo foi obtida através
das proporções avantajadas das falsas tor-
res, que transmitem uma escala maior do
que àquela existente – definida pelo corpo
central. As grandes dimensões da Matriz Alexandre José Montanha (1730–1800)
também permitem que a igreja seja reco- Igreja Santo Amaro, 1787
nhecida à distância, do outro lado da praça Santo Amaro do Sul, General Câmara (RS)
ou da margem do rio Jacuí. Esta qualidade,
de caráter estratégico, dialoga com o aspec-
to de fortaleza da edificação, partido adota-
do nos projetos de cariz castrense na Pro-
víncia e que, vale notar, possuíam à época
duas interpretações: abrigo, para os súditos
da Coroa e cautela – para os espanhóis que
intentassem invadir a Freguesia.
78 79
O INTERIOR dependente. O coroamento é em frontão estilo “ba-
lestra” apoiado por volutas e o corpo do retábulo é
O interior da igreja é formado por nave única e capela-
disposto por colunas de fuste reto, com terço in-
-mor. O átrio é delimitado pela presença de dois pilares
ferior torso, sobre bases misuladas. Ao centro, ca-
de madeira que estruturam o coro. Sob ele, à esquerda,
marim central ornado com perfil de tribuna e, na
encontra-se o batistério de pedra e à direita um peque-
extensão parietal, dois nichos laterais com peanha
no altar com uma réplica da imagem de Santo Amaro,
e dossel. Nota-se que no retábulo lateral direito, o
contemporânea, encomendada na Bahia.
altar é escalonado. As mesas de ambos retábulos são
A nave possui três retábulos (altar-mor e dois em formato trapezoidal.
colaterais), todos em madeira com pintura na cor
O frontão dos retábulos é decorado por guirlan-
amarela e azul, com elementos florais dourados. O
das de flores sustentadas por anjos apoiados sobre
retábulo-mor é dedicado a Santo Amaro e possui
arranques de frontão. Estes anjos foram esculpidos
Detalhe do campanário da uma talha esguia e simétrica, com padrões fitomor-
com formosidade, embora as camadas de repintu-
Igreja Santo Amaro fos e desenho esgarçado em estilo rococó, no fron-
ra impossibilitem análise mais apurada. Ao centro,
tão, um escudo envolto em resplendor apresenta as
uma tarja apresenta a invocação iconográfica de
insígnias de Santo Amaro: a mitra e o báculo; no
cada retábulo: no lado da Epístola, observamos a
centro do altar, a imagem do Santo.
imagem de duas balanças, identificando a invocação
Os retábulos colaterais se destacam por um ris- de São Miguel Arcanjo; no retábulo do Evangelho,
co longilíneo com ênfase na arquitetura. Acima dos centralizada no escudo, uma estrela contornada por
retábulos, foi disposta uma estrutura de sanefa, in- um rosário indica a devoção à Nossa Senhora. As

Interior da Igreja Santo Amaro

Detalhe dos frisos e da


inscrição “1787’’
Porta da Igreja Santo Amaro

Janelas da fachada da Igreja


Santo Amaro

80 81
imagens dispostas nestes altares não possuem fixa- Destaca-se que os anjos no arremate dos retábulos
ção definitiva e, portanto, estão desassociadas da também são encontrados na talha da igreja de Rio Par-
leitura iconográfica original. do e são comuns em retábulos de influência do barroco
joanino Nota-se, por fim, que a retabilística deste tem- Retábulo-colateral do lado
A partir da análise morfológica e estilística, es-
plo sofreu muitas intervenções e camadas de repintura do Evangelho (à esquerda)
tima-se que os altares foram realizados no final do
século XVIII, uma vez que sua tipologia e risco muito
e, além disso, segundo o relato de Monsenhor Pizarro Retábulo-mor (ao centro)
mencionado anteriormente, a Matriz contava com cin- Retábulo-colateral do lado
se assemelham aos exemplares encontrados nas igre-
co altares, que reformas posteriores suprimiram. da Epístola (à direita)
jas de Rio Pardo e de Viamão; o altar-mor, entretanto,
sugere um trabalho posterior, do início do século XIX.

82 83
SANTO AMARO:
NOME DO POVOADO
Francisco Pereira Rodrigues (2007) nos informa sobre a história do nome
do povoado: em 1635, após um longo dia de viagem, o bandeirante Luiz
Dias Leme e sua tropa pernoitaram em um arroio afluente do rio. No dia
seguinte, explorando o local, o bandeirante notou que as águas avançavam
para ambos os lados e se aprofundavam para o horizonte. Na paragem, ha-
via um enorme banco de areia que formava uma península e que, disposta
a favor da correnteza, voltava-se para a terra firme delineando uma en-
seada por um estreito gargalo. Dias Leme deu-lhe o nome de Forqueta de
Santo Amaro, forqueta, indicando a confluência dos dois cursos da água
em ângulo agudo (os rios Jacuí e Taquari), e Santo Amaro, em tributo ao
Santo de sua devoção.

Detalhe do frontão do retábulo-colateral


do lado da Epístola SANTO AMARO
No altar-mor está entronada a imagem de Santo
Amaro. Acredita-se que o Santo teria nascido em
Roma no século V d.C., e que teria se tornado discí-
pulo de São Bento ainda jovem. Suas principais carac-
terísticas são a obediência e a humildade, recorrentes
nos santos de vida monástica. Nessa imagem, Santo
Amaro é representado como um homem com barba
e bigode longos e grisalhos, vestindo batina e capa
pluvial. Como teria se tornado abade e responsável
por implantar o mosteiro beneditino na França, é
representado usando a mitra na cabeça, e segurando
o báculo na mão esquerda, insígnias também utili-
zadas pelos bispos. A mão direita está posta em sinal
de benção. Em 15 de janeiro, dia de Santo Amaro, é
realizada a procissão em que é levada essa imagem, e
que encerra as festividades do distrito histórico.

Anjo do frontão, retábulo-colateral

84 85
SÃO BENTO
São Bento foi o fundador da Ordem Beneditina em 529 d.C.,a mais
antiga ordem católica de clausura. A imagem, em madeira policro-
mada, é conferida de movimento a partir das linhas curvas do plane-
jamento; possui encarnação realista, expressão grave, olhos de vidro,
policromia escura e base simples.
A hagiografia de São Bento está repleta de milagres concedidos atra-
vés da oração. A ordem dos beneditinos tem como regra principal
“Ora et Labora”, ou seja, “ore e trabalhe”, e seus monges também
devem seguir um caminho de humildade, obediência, assistências
aos mais necessitados e promoção do ensino. Aparece como um pa-
triarca, vestindo o hábito preto com capuz, utilizado até hoje pelos
monges beneditinos, com barba e bigode longos grisalhos, em sinal
de sua sabedoria. A imagem encontra-se danificada, sem os dedos
da mão direita, que originalmente poderiam estar fazendo um sinal
de bênção, ou estar segurando um báculo, como pastor, guia de seus
monges e devotos. Com o braço esquerdo, levando em consideração
a posição em que se encontra, poderia estar segurando o livro de
regras da ordem que fundou.
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DENOMINAÇÃO:  Igreja Matriz Nossa Senhora
da Conceição PROJETO:  Francisco João Roscio (1733–1805)

LOCALIZAÇÃO:  Praça Baltazar de Bem, PROTEÇÃO:  Título de Monumento Histórico do


Município de Cachoeira do Sul, Município (1969)
estado do Rio Grande do Sul Tombamento da fachada -
COMPAHC (1985)
FREGUESIA:  Fundação: 1779
PADROEIRO:  Nossa Senhora da Conceição, 08
IGREJA: Construção: 1793 de dezembro
Inauguração: 1799
Reforma(s): 1874; 1930; 1963–1983

88 89
Igreja Nossa Senhora da Remodelação da fachada, c.1929. cipiaram um novo templo. A pedra fun-
Conceição c. 1880 Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul damental desta igreja foi lançada em 1793
Cachoeira do Sul (RS) – Patrono Edyr Lima
e a autoria do seu risco é atribuída ao en-
Antiga fachada da igreja genheiro-militar Francisco João Roscio
Nossa Senhora da Conceição
de Cachoeira do Sul após (1733–1805). A construção do templo ficou
a reforma de 1874. Acervo a cargo das irmandades, as quais, para faci-
Museu Municipal de Cachoeira litar os trabalhos, instalaram uma olaria nas
do Sul – Patrono Edyr Lima
várzeas da cidade, onde eram queimados os
tijolos utilizados na edificação.
Em 1798, assumiu o pároco Inácio
Francisco Xavier dos Santos, o qual foi
grande responsável por impulsionar as
obras da matriz e, logo, em 1799, o templo
foi inaugurado, mesmo não estando total-
mente concluído. Na primeira celebração,
ocorreu a transladação das imagens da an-
tiga capela para a nova matriz, onde está
localizada a atual igreja.
Em 1820, foi adquirida uma lâmpada
do Santíssimo, em prata, vinda do Rio de
história
Janeiro e, embora já se oficiasse missa, a
capela-mor permanecia sem retábulo; este
e o altar do Santíssimo Sacramento foram
A partir de 1750, a região de Cachoeira do Sul passou a ser ocu- Devido à criação da Paróquia (1779),
realizados em 1825 pelo entalhador cario-
pada por bandeirantes paulistas, os quais receberam sesmarias os habitantes reuniram fundos para
ca, residente em Porto Alegre, Maurílio
do governo português a fim de povoar o lugar denominado Ca- construir uma nova igreja, a qual foi eri-
Antônio Telles. Entre as décadas de 1820 e
choeira do Fandango, salto do rio Jacuí próximo ao rio Botuca- gida na principal praça da cidade. Esta Datas de
1830, a capela-mor e as paredes laterais estavam finalizadas, contudo, por falta de
raí. Em princípios de 1751, militares lusos, cumprindo ordens da primeira matriz, muito rudimentar, foi nascimento
e morte meios, a obra foi paralisada.
Expedição Demarcatória do Tratado de Limites, fundaram ali um logo considerada inapropriada pelos pá-
desconhecidas. Nas primeiras décadas do século XIX, o templo ainda encontrava-se sem a
pequeno forte, junto ao qual estabeleceu-se a pequena povoação, rocos. Em 1782, o Pe. Dr. Vicente José
composta por estancieiros, peões, indígenas e casais açorianos que da Gama Leal descreveu a igreja como elevação das torres. Em 1852, as irmandades receberam auxílio da Assembleia
chegaram à região em 1753. “inadequada” e “com suas imagens dete- Provincial, pois o consistório e a sacristia necessitavam de reparos urgentes. No
rioradas”; além deste, na visita canônica mesmo ano, uma comissão de obras da Matriz solicitou ao engenheiro Frederico
Em 1760, foi edificada uma capelinha junto ao forte, coberta
de 1790, o Pe. Agostinho José Mendes Heydtmann (1802–1876) uma nova planta para a igreja. O projeto e a descrição do
de capim, e dedicada a São Nicolau, onde os habitantes e os indí-
dos Reis defrontou-se com a mesma orçamento de todo material necessário para a elevação da torre sul foi remetido
genas missioneiros transferidos para Cachoeira, em 1759, realiza-
condição, reportando a “indecência da pelo profissional em 1854. As obras do corpo da matriz prosseguiram em 1862
vam seus cultos. Com o crescimento da população, o Governador
igreja e das imagens” e a “falta de asseio Atas da Câmara e, em 1865, foi reformado o telhado da capela-mor. No inicio de 1870, por fim,
Marcelino de Figueiredo (1735–1814) requereu ao Bispo do Rio
e cuidado no culto divino” (RUBERT, Municipal de a matriz estava quase concluída, não obstante, em 1874, a parede do frontispício
de Janeiro autorização para erguer uma capela independente, des-
1994. p. 105-108). Cachoeira do Sul: obras começou a ruir e foi necessário demolir toda a antiga e primeva fachada para re-
membrando a Capela de São Nicolau do Botucaraí, um dos prime- e melhoramentos. construí-la.
vos nomes de Cachoeira do Sul, da Freguesia de Rio Pardo. Em 10 A fim de remediar a situação, as ir- Correspondência de
de julho de 1779, a Capela de São Nicolau foi elevada à Freguesia, mandades do Santíssimo Sacramento e 9 de agosto de 1854. O ano de 1874, portanto, marca a primeira reforma, na qual o antigo óculo foi
Arquivo Municipal de modificado e o frontão triangular recebeu uma decoração neogótica, de provável
com a denominação de Nossa Senhora da Conceição. de Nossa Senhora da Conceição prin-
Cachoeira do Sul (RS). gosto ou influencia alemã – lembrando que os imigrantes alemães começaram a se es-
90 91
tabelecer na região a partir de 1857. A fachada, portanto,
assumiu uma gramática ornamental historicista, na qual o
frontão da matriz foi escalonado com pináculos. Este novo
risco, que muito se aparta da geometria e simplicidade mi-
litar, é atribuído a Frederico Heydtmann. Em 1875, foi co-
locado o relógio da torre e, em 1897, a matriz finalmente
estava concluída.
Durante o século XX, o templo sofreu várias modifi-
cações, as quais reverberam o discurso arquitetônico de
caráter positivista, alinhado com o estado laico, e desejoso
de modernização. Entre os anos de 1927 e 1929, ocorreu a
segunda reforma, obra realizada pelo arquiteto Victorino
Zani (1900–1960). Nascido em Caxias do Sul (RS) e filho
de imigrantes italianos, o projetista atuava em Porto Ale-
gre e tornou-se reconhecido em todo o Rio Grande do Sul
pela construção e reforma de igrejas.
Na matriz de Cachoeira do Sul, Zani remodelou o
frontispício, avançando o corpo da fachada, conceben-
do a base do monumento para a colocação da imagem de
Nossa Senhora da Conceição. Também elevou as torres,
que receberam um novo acabamento historicista com pi-
náculos, e projetou as portas e os adereços ornamentais.
Nesta intervenção, inaugurada em 1929, também foram
acrescentados os mosaicos do adro. Internamente, o novo
altar-mor foi consagrado em 1930.
No ano de 1954, foi realizada pintura externa e interna
da igreja pelo pintor Roman Riesch e, em 1963, princi-
piou-se a terceira reforma, com a intervenção e ampliação
da nave da igreja. Nesta, os retábulos foram removidos, as
capelas fundas foram alteradas e a nave foi ampliada, con-
servando-se apenas o retábulo do Santíssimo Sacramento.
Interior da Igreja Nossa Senhora da O OLHAR DOS VIAJANTES AUTORIA
Conceição, c. 1920.
Em 1983, concluíram-se as obras. Em 1991, foi criada a Na fotografia, observamos o antigo Em 1856, o político Dr. Luiz Alves de Oliveira Bello A autoria do primeiro risco da matriz de Cachoeira do
Diocese de Cachoeira do Sul. retábulo-mor, ladeado pelas imagens de (1817–1865) escreveu em seu Diário de uma excursão Sul é atribuída ao engenheiro-militar Francisco João
São João Baptista e São Francisco de Paula,
Em 1996, realizou-se nova pintura e, em 2002, ini- eleitoral pela Província, “vi a igreja, que é mais espa- Roscio (1733–1805); no entanto, com o passar dos
os retábulos laterais e as duas capelas
ciaram as obras de reforma do telhado. Em 2007, deu-se fundas da nave. Acervo Museu Municipal çosa do que a Catedral de Porto Alegre; tem cinco anos, a igreja apartou-se muito do projeto original. Em
seguimento ao novo projeto de restauração da igreja com de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima. altares e duas capelas fundas, além da capela-mor; 1874, o frontispício encontrava-se em ruínas e foi re-
reforço em uma das torres. Em 2014, foram inseridos os tem bons consistórios e é muito bem construída. Seu construído, conservando-se a estrutura original do cor-
atuais vitrais da nave e, em 2017, ocorreu a última obra de plano foi traçado pelo Coronel Roscio e sua constru- po do edifício e alterando-se sua fachada; obra cuja au-
restauração com pintura externa. ção é de 1793. É incontestavelmente um dos melho- toria, possivelmente, é do engenheiro alemão Frederico
Datas de
Por fim, sobre a proteção da edificação, em 1969, nascimento e morte res templos da Província. As torres, porém, ainda Heydtmann (1802–1876). Ademais, em 1929, a fachada
a Matriz recebeu o título de Monumento Histórico do desconhecidas. estão por acabar e todo o edifício necessita de rete- da matriz foi completamente remodelada pelo arquiteto
Para consultar o
Município e, em 1985, sua fachada foi tombada pelo relato completo, vide: lho, e de reboques no interior”. Victorino Zani (1900–1960), o qual imprimiu à igreja
COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histó- RIHGRGS, n.79(1940), sua feição atual, de visualidade eclética.
rico-Cultural) de Cachoeira do Sul. p.8-48.
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Antigo altar-mor, inaugurado em 1930 Antigo retábulo de Nossa Senhora do Rosário Retábulo do Santíssimo Sacramento
Igreja Nossa Senhora da Conceição, Cachoeira do Sul (RS) Igreja Nossa Senhora da Conceição, Cachoeira do Sul (RS) Igreja Nossa Senhora da Conceição, Cachoeira do Sul (RS)
Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima Acervo Museu Municipal de Cachoeira do Sul – Patrono Edyr Lima

Na imagem, observamos o retábulo antes da repintura da década de 1950.


Além disso, entronizada no camarim, vemos a escultura de Nossa Senhora
da Conceição, a qual, hoje, encontra-se na capela-mor da igreja.

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Francisco João Roscio (1733–1805) | Victorino
Zani (1900–1960)
Igreja Nossa Senhora da Conceição. Erigida
em 1793, reconstruída em 1874 e remodelada
em 1930

VICTORINO ZANI (1900–1960)


Escultura de Nossa Senhora da
Conceição, 1929.

VICTORINO ZANI (1900–1960)


Detalhe ornamental da
fachada, 1929

A FACHADA
O projeto inicial da matriz possuía a singeleza e austeridade das demais igrejas erigidas às margens do rio Jacuí. A
obra contemplava duas torres, frontão triangular com óculo, estrutura em alvenaria portante e grossas paredes.
No histórico, abrangemos algumas das reformas: primeiramente em 1874, quando se reconstruiu o frontispício
da igreja e, em 1929, quando a fachada foi reformulada.
Atualmente, a matriz de Cachoeira do Sul apresenta uma visualidade eclética, de repertório ornamental neo-
clássico. Seu frontispício possui duas torres elevadas com coroamento em pináculo. O corpo central foi avançado
e conta com três portas, uma rosácea e, ainda, uma estrutura de pilastras e colunas que sustentam uma edícula
sobre a qual está disposta a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Nesta fusão de estilos, observamos as várias modificações realizadas nos séculos XIX e XX: elevou-se a altura
do templo, a nave foi ampliada e sua fachada seccionada para dar mais leveza ao frontão. De acordo com Wolkmer
(1996), tais reformas visaram imprimir à matriz uma aparência atualizada, com atributos republicanos que, por
sua vez, suprimiram as características que vinculavam o templo ao período colonial. Deste modo, os elementos
compositivos, os traços geométricos, a horizontalidade e sobriedade que transmitiam a impressão severa e pesada
dos templos de antanho foram retirados, dissolvendo-se os aspectos que, outrora, a Matriz compartilhava com as
demais obras dos engenheiros-militares na Província.
96 97
MAURÍLIO ANTÔNIO TELLES
Retábulo do Santíssimo
Sacramento (1825–1829)
Capela do Santíssimo Sacramento

Interior da Igreja Nossa Senhora da Conceição

O INTERIOR
O interior da matriz é constituído por adro, coro, uma ampla nave e um altar-mor contemporâneo, onde estão
dispostas as imagens do Sr. Crucificado e de Nossa Senhora da Conceição. À direita do altar-mor, localiza-se a
Capela do Santíssimo Sacramento, na qual, ao fundo, ergue-se o belíssimo retábulo do Santíssimo realizado pelo
entalhador Maurílio Antônio Telles, em 1825. Esta capela, bem como o altar, receberam uma pintura decorativa
em tons rosa, creme e azul.
O retábulo do Santíssimo Sacramento, em madeira, possui elementos decorativos do estilo rococó, porém sua
estrutura arquitetônica é condicionada pela verticalidade e simetria, traços que já estão afinados com a corrente
neoclássica do século XIX. O retábulo é elegante e quase não possuiu decoração e ornamentos, seu porte é cons-
tituído por elementos arquitetônicos rendilhados, que sugerem movimento e leveza.
O coroamento do retábulo é apoiado em volutas sobre largo cornijamento e o arremate é ornamentado com
rocalhas; ao centro da cartela, um baixo relevo com um resplendor indica a invocação ao Santíssimo Sacramento.
O corpo do retábulo é sustentando por colunas de fustes retos, estriadas, e por pilastras em quartelões junto ao
nicho central; o camarim possui perfil de tribuna e, sobre um trono trapezoidal, está colocada a imagem do Divino
Espírito Santo. Toda a estrutura é apoiada em volumosas e bem esculpidas mísulas. O frontal do altar é decorado
com frisos e uma ânfora da qual saem ramos e flores.

98 99
MAURÍLIO ANTÔNIO TELLES,
entalhador dos retábulos da Matriz

Em 1825, a Irmandade do Santíssimo Sacramento e


Nossa Senhora da Conceição encomendou ao enta-
lhador carioca Maurílio Antônio Telles, residente em
Porto Alegre (RS), a feitura do retábulo-mor e do altar
do Santíssimo Sacramento os quais, juntos, somaram
mais de três contos de réis. Em 1829, foi pago ao Mes-
tre a última prestação dos altares, junto de uma vul-
tosa gratificação “pelo bem que desempenhou a obra
de que foi encarregado”, bem como pelo acréscimo de
peças e modificações realizadas nos retábulos e que não
estavam compreendidas nos riscos originais “mas que
se fizeram precisas para mais os aformoziar”, as quais
foram muitíssimo aprovadas pelos comitentes.

Livro Resolução de Mesa do Santíssimo


Sacramento e Nossa Senhora da Conceição (1824–
1852), 1825, f. 25v-26; 1829, f.29-30v.
Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)

Detalhe da assinatura do entalhador


Maurílio Antônio Telles, 1829
Livro Resolução de Mesa do Santíssimo
Sacramento e Nossa Senhora da Conceição
(1824–1852).
Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)
Pagamento da obra do retábulo-mor e do retábulo do
Santíssimo Sacramento, 1829
Contrato firmado entre as Irmandades do Santíssimo
Sacramento e Nossa Senhora da Conceição e o entalhador
Maurílio Antônio Telles em 1825.
Livro Resolução de Mesa do Santíssimo Sacramento e Nossa
Senhora da Conceição (1824–1852).
Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS)

100 101
SENHOR DOS PASSOS NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
A matriz possui uma antiga imagem do Se- A imagem localizada no altar mor, ao lado do crucifixo,
nhor dos Passos, a qual tem mais de 150 anos representa a devoção que dá nome à Catedral Nossa Senho-
e é tradicionalmente conduzida na procissão ra da Conceição. Essa invocação mariana retrata o dogma da
do Cristo Morto nas Sextas-feiras Santas. “Imaculada Conceição de Maria”, proclamado em 1854 pelo
Trata-se de uma imagem de vestir, em madei- Papa Pio IX, o qual preconiza que Maria foi concebida livre
ra, articulada, com cabelos humanos e olhos do “pecado original”, sendo “cheia da graça de Deus” desde
de vidro. Sua origem é desconhecida, entre- seu nascimento.
tanto, conta-se que a imagem surgiu em fren- O primeiro monarca Português, Dom Afonso Henri-
te à igreja matriz em um dia de tempestade. ques (1109-1185), proclamou Nossa Senhora da Conceição
Em 1985, a escultura foi tombada pelo COM- padroeira de seu reino, e, no século XV, sua festa já estava
difundida por toda Europa. No Brasil, essa devoção foi po-
PAHC (Conselho Municipal do Patrimônio
pularizada pelas ordens jesuítas e franciscanas.
Histórico-Cultural).
A escultura, em madeira, conta com elementos icono-
Em 2005, a imagem foi removida da ma- gráficos recorrentes nas representações dessa invocação.
triz para ser restaurada, contudo, durante Maria é representada com feição delicada e serena e suas
anos, seu paradeiro ficou desconhecido. Após mãos estão postas em oração. Seu traje é composto por tú-
investigação, em 2013, a peça foi recuperada nica e véu brancos, e um manto nas cores azul e rosa. Os pa-
e retornou à paróquia, graças, principalmen- nejamentos são esvoaçantes e ornamentados com motivos
te, às iniciativas do pároco Hélvio Cândido. A florais dourados. Sobre a cabeça, foi acrescentada uma
imagem, todavia, foi devolvida em péssimas cora de metal. A Virgem encontra-se sobre uma nuvem,
condições e foi necessário um novo trabalho acompanhada por quatro querubins. Sob seus pés está a lua
de restauro. Nestes reparos, descobriram-se, crescente, que funciona como uma espécie de metáfora: a
no estofo da escultura, páginas de antigos jor- luz que a lua parece emitir é, na verdade, o reflexo da luz
nais publicados no Rio de Janeiro no século Padre Hélvio Cândido junto ao Sr. dos Passos solar e, deste modo, toda graça de Maria seria um reflexo da
XIX, um indicativo da procedência da ima- Jornal do Povo, 23 e 24 de março de 2013 graça recebida de Deus e de seu filho Jesus. Maria é conside-
Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul (RS) rada, pelos católicos, como uma “luz guia em meio à escuri-
gem, que pode ter sido realizada na Corte.
dão”, uma intermediária entre as pessoas e Deus.

Procissão do Senhor dos Senhor dos Passos


Passos Igreja Nossa
Jornal do Povo, 19 e 20 Senhora da
de abril de 2014 Conceição,
Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul
Cachoeira do Sul (RS) (RS)

102 103
ROTEIRO DO PATRIMÔNIO SACRO
ARQUITETÔNICO DO RIO JACUÍ
Este roteiro indica as principais rotas de acesso para visitar as 6 Igrejas
do Jacuí, nos municípios de Viamão, Triunfo, Taquari, General
Câmara, Rio Pardo e Cachoeira do Sul, a partir da cidade de Porto
Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

104 105
1. IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO 3. IGREJA SÃO JOSÉ e 4. IGREJA SANTO AMARO
MUNICÍPIO: Viamão (RS), distância de Porto Alegre: Estas duas igrejas podem ser visitadas em um mesmo dia.
20km IGREJA SÃO JOSÉ

ENDEREÇO: Praça Cônego Bernardo Machado dos MUNICÍPIO: Taquari (RS), distância de Porto Alegre:
Santos 100km
ENDEREÇO: Praça São José
HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: terça a sexta das
8h às 12h e das 13h30min às 18h (aos HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: segunda a sexta, das
sábados até às 17h) 9h às 11h e das 15h às 17h
MISSAS: quarta às 18h, sábado às 19h e domingo às 9h
MISSAS: terça a sexta às 18h30min, sábado às 18h,
domingo às 9h e 18h IGREJA SANTO AMARO
Acesso pela Av. Bento Gonçalves/Rodovia Tapir MUNICÍPIO: General Câmara (RS), distância de Porto
Rocha/Av. Salgado Filho. Dirigir-se à rua Américo Alegre: 100km
Vespúcio Cabral, que leva ao centro do município de ENDEREÇO: Distrito de Santo Amaro do Sul
Viamão e à praça onde localiza-se a Matriz.
HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: sexta a domingo, das
13h30min às 17h
MISSAS: -
2. IGREJA DO NOSSO SENHOR BOM JESUS
DO TRIUNFO
Taquari (RS)
MUNICÍPIO: Triunfo (RS), distância de Porto Alegre: A partir da BR-448 (Rodovia do Parque) acessar a BR-
80km 386, em direção a Lajeado até o trevo de Tabaí; dali, seguir
ENDEREÇO: Praça General Bento Gonçalves na BR-287 até o trevo que dá acesso à RS-436, converter
à esquerda e seguir pela via até Taquari, passando pelo
HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: terça a sábado pórtico da cidade.
das 8h30min às 17h De Taquari (RS) para Santo Amaro do Sul (RS)
Em Taquari, dirigir-se ao bairro Praia, à beira do Rio
MISSAS: Quinta e sábado às 19h; domingo às 8h30min
Taquari, para utilizar a balsa que realiza a travessia para
General Câmara (RS). As embarcações saem de hora em
Utilizando a BR-448 (Rodovia do Parque), acessar a BR- hora e seu primeiro horário é às 5h30min e o último
386, em direção a Lajeado, seguindo por 28 quilômetros às 22h30min. Na outra margem do rio, do atracadouro
até à Rodovia municipal TF-045. Seguir e converter à da balsa, seguir pela RS-130 por cerca de 5 quilômetros
direita na TF-10, que conduz à cidade de Triunfo. A e converter à direita, junto à Unidade de Saúde ali
localizada, e acessar a RS-244 (o trecho entre a balsa e a
igreja Nosso Senhor Bom Jesus do Triunfo localiza-se
RS-244 é feito em estrada de chão). Seguir pela RS-244
no centro histórico da cidade. por 2,5 quilômetros até a estrada que dá acesso a Santo
Neste município, recomenda-se um dia de passeio Amaro do Sul e converter ali à direita, seguindo esse
caminho até o centro do povoado.
para conhecer as antigas ruas e prédios, pois Triunfo
No município de Taquari, além da Igreja São José,
conserva grande parte de sua edificação histórica, dos aproveite para conhecer a parte “baixa” da cidade, onde,
séculos XVIII e XIX. Sugere-se uma visita ao Museu junto ao bairro Navegantes, foi edificada a Capela de
Municipal (Museu Farroupilha, instalado na casa em Nossa Senhora das Dores, em 1863. No entorno da
que nasceu Bento Gonçalves) e à Biblioteca Pública. capela, localiza-se a prainha com o porto e a balsa.
Em Santo Amaro do Sul, após admirar a igreja e
Também vale a pena conferir o Império do Divino, ao
conferir o casario erigido em seu entorno, recomenda-se
lado da Igreja, e o Teatro União, construído em 1848. a visita ao Ponto de Cultura, coordenado por Anajara da
Além destes, também se recomenda uma caminhada Silva. Ali, encontra-se uma vasta biblioteca, com obras
pelo passeio, orla colorida com formosos plátanos que específicas sobre a cidade, e uma afetiva exposição com
perfilam o Rio Jacuí. diversos objetos vinculados à herança açoriana.

106 107
6. IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
5. IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO MUNICÍPIO: Cachoeira do Sul (RS), distância de Porto
MUNICÍPIO: Rio Pardo (RS), distância de Porto Alegre: 200km
Alegre: 150km
ENDEREÇO: Praça Baltazar de Bem
ENDEREÇO: Rua Júlio de Castilhos (Rua da Ladeira)
HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: segunda a sexta das
HORÁRIOS PARA VISITAÇÃO: segunda a sexta, 8h às 11h e das 13h às 18h30min, sábado
das 8h às 11h30min e das 14h às 17h e das 8h30min às 11h
sábado, das 8h às 11h30min
MISSAS: terça a sexta às 18h30min, sábado às 15h e
MISSAS: segunda a quarta, sexta e sábado às 19h, domingo às 9h e às 18h30min
quinta às 19h30min e domingo às 9h

Através da Ponte Móvel do Guaíba, seguir pela BR- Através da Ponte Móvel do Guaíba, seguir pela BR-116
116 por 20 quilômetros até o trevo de acesso à BR-290. por 20 quilômetros até o trevo de acesso à BR-290 e
Ali, converter à direita e seguir pela BR-290 até o trevo converter à direita. Seguir a BR-290 por aproximada-
de Pântano Grande, o qual liga à BR-471; seguir por mente 150 quilômetros, até acessar, à direita, a BR-153,
essa via até o trevo de acesso a Rio Pardo. Deste ponto, seguindo no sentido sul-norte até o trevo de acesso a Ca-
prosseguir pela Av. Andrade Neves até a Rua Júlio de choeira do Sul. Ali, converter à direita, em direção ao
Castilhos, onde está localizada a Igreja Nossa Senhora centro da cidade, na Av. Andrade Neves. Seguindo por
do Rosário. essa via, converter, novamente, à direita na Rua Moron,
A Matriz encontra-se próxima ao rio, na parte bai- que leva à Igreja Nossa Senhora da Conceição. A edifi-
xa da cidade. Sugere-se visitar o município com tempo, cação localiza-se no centro histórico, na parte antiga da
pois foram conservadas muitas edificações históricas, cidade, junto ao Château d’Eau  e ao Museu Municipal.
como o Solar do Almirante e a antiga Escola Militar, Sugere-se, além da visita à Igreja e ao Museu, degustar as
bem como a Igreja do Senhor dos Passos e as Capelas famosas “matracas”, tradicional casquinha doce vendida
de São Francisco e de São Nicolau. na cidade por ambulantes.

108 109
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Livro de Resolução de Mesa do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição dessa Vila (1824 –1852)
114 115
GLOSSÁRIO

B
BALAÚSTRE
Elemento vertical, em forma de pequena coluna ou pilar, que sustenta com
outros, intervalados, uma travessa ou um corrimão, formando assim uma
balaustrada.

C
CAMARIM
Vão, por cima ou na parte interna do Altar-Mor, ou de altares laterais, onde se
arma o trono para exposição do Santíssimo ou da imagem de um santo.

CAPELA-MOR
No interior das igrejas, é a capela onde se situa o retábulo-mor.

CAPITEL
Parte superior de uma coluna ou pilastra, que se eleva acima do fuste, ligando o
fuste ao entablamento.

CARNAÇÃO
Técnica de policromia aplicada para representar pele humana nas esculturas

CASAL DE NÚMERO
Refere-se às famílias açorianas e madeirenses enquadradas no programa de
migração subsidiada que entraram no Brasil pelo porto de Desterro entre
1748 e 1753.

CIMALHA
Arremate superior da parede que faz a concordância entre esta e o plano do
forro ou do beiral.

CORUCHÉU
Ornamento geralmente de pedra que decora fachadas, torres ou frontões
dos edifícios.

CURATO
Curato era um limite eclesiástico da Igreja Católica, de caráter geográfico e
administrativo, provido de cura residente filiado a uma paróquia. O curato
normalmente era dotado de uma igreja menor, como uma capela.

D
DATA
Extensão de terra doada pela coroa portuguesa a famílias para a colonização
dos territórios luso americanos, com uma área que variava entre um quarto de
légua em quadra (270ha) e três quartos de légua em quadra. (ROCCA, 2009)

DOURAMENTO
Técnica em que são aplicadas finíssimas folhas de ouro em uma das camadas
de policromia para ornamentar o estofamento de esculturas.

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E G
GRIMPA
EPÍSTOLA (lado):
Elemento que arremata o vértice de uma cobertura, principalmente no
Lado direito do interior da igreja, visto da entrada principal
coroamento das torres onde, por vezes, sustenta uma cruz.
em direção ao Altar-mor.

ESGRAFITO
H
HAGIOGRAFIA
Espécie de pintura ou desenho em que se calca, através do
uso de um estilete, a camada exterior da tinta para fazer com Nome que se dá às histórias de vida dos santos, geralmente escritas após
que a camada inferior fique descoberta. a morte e com teor heróico. Uma das obras hagiográficas mais populares
é a Legenda Áurea, escrita em 1843 pelo italiano Jacopo de Varazze, na
Detalhe do trabalho de esgrafito na qual encontram-se compiladas as hagiografias de diversos santos católi-
ESPANÃDA
veste da imagem de São José
Termo em castelhano, sem tradução. Designa a elevação do cos da antiguidade tardia e do medievo.
Igreja São José, Taquari (RS)
plano da fachada com vãos para colocar os sinos, simulando
uma torre. (GUTIERREZ; ROCCA, 2020, p.75) I
IMPÉRIO
ESPÍRITO SANTO
Império ou Capela do Divino é uma construção dedicada à devoção ao
O Espírito Santo, Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, é
Divino Espírito Santo. Característica da identidade cultural açoriana, o
simbolizado pela pomba e nele reside o Amor Supremo entre
o Pai e o Filho. Os Sete Dons do Espírito Santo: Sabedoria, culto surgiu na França durante o século XI, passando a Portugal e pos-
Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Te- teriormente às Ilhas dos Açores. No Brasil, a presença do Império nas
mor a Deus são citados pela tradição católica e se tornaram cidades identifica a contribuição açoriana local, principalmente em San-
fonte de devoção popular. ta Catarina e no Rio Grande do Sul.

ESTOFAMENTO
Técnica de policromia aplicada para representar os tecidos
nas esculturas.

EVANGELHO (lado):
Lado esquerdo do interior da igreja, vista da entrada princi-
pal em direção o Altar-mor.

F
Imagem do Divino Espírito FORRO
Santo, Igreja Nossa Senhora
Teto ou revestimento interno da parte superior dos cômodos
do Rosário, Rio Pardo (RS)
de uma construção.

FREGUESIA
Unidade administrativa da ordem eclesiástica que é sede de
uma paróquia.

FRONTAL Capela do Império do Divino Espírito Santo em Triunfo (RS)


Parte da frente da mesa do altar, revestido com talha ou pin-
tura.

FRONTÃO M
Parte superior, acima do forro, que fecha o vão formado pe- MÍSULA
Frontal, Retábulo-mor, Igreja Nossa
las duas águas da cobertura e coroa a parte central do frontis- Suporte ornamental, em pedra ou madeira, que serve para sustentação
Senhora da Conceição, Viamão (RS)
pício da edificação. de elementos de arquitetura ou peças móveis de decoração ou culto.
FUSTE
Parede ou tronco da coluna entre a base e o capitel. Podem N
ser retos, canelados ou torsos.
NAVE
Espaço interno da igreja desde a entrada até o arco-cruzeiro.

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O ROCA (Imagem de roca)
Tipologia de imagem devocional. Ao invés de
ÓCULO possuir os membros inferiores esculpidos, possui
Abertura ou janela circular ou elíptica destinada à entrada de luz e proje- uma estrutura em ripas de madeira, geralmente em
tada nas fachadas das igrejas. Para fins decorativos, pode assumir formatos formato cônico ou cilíndrico, que imita o volume
variados. corporal, dando dimensão para a vestimenta têxtil
que recebe.
OPA
Capa sem mangas e com aberturas para os braços usada em atos religiosos
ROCALHA
pelos irmãos de confrarias e irmandades leigas, com diversidade de cores e
Elemento decorativo empregado no estilo Rococó.
distintivos alusivos a estas corporações.
Espécie de concha estilizada em filetes esgarçados e
ORAGO de composição assimétrica.
Santidade da invocação a qual se dedica uma igreja ou capela.
ROCOCÓ
Estilo ornamental principiado na decoração pala-
P ciana do reinado de Luís XV (1710 –1774). Carac-
PANEJAMENTO teriza-se pelos ornatos assimétricos, pelas grinaldas
Palavra utilizada para se referir à representação de tecidos em esculturas. de flores, palmas e palmetas, conchas, rocailles,
folhas assimétricas, volutas e mascarões de perfil. A
PARÓQUIA aplicação desses elementos fica limitada aos princi-
Assentamento que é sede de uma unidade da administração religiosa. pais componentes das igrejas, tais quais retábulos,
arcos-cruzeiros e púlpitos. Também se observa
maior ênfase nos elementos arquitetônicos do que
PEANHA
escultóricos na estrutura dos retábulos e o emprego Rocalha, detalhe da ornamentação do retábu-
Pequena peça saliente de paredes e retábulos sobre a qual se colocam imagens,
de colunas de fuste reto com caneluras. lo-mor, Igreja Nossa Senhora da Conceição,
crucifixos etc.
Viamão (RS)

PERIZÔNIO
Termo usado para se referir ao tecido que envolve os quadris das imagens que
S
representam Cristo nas cenas da Paixão. SACRÁRIO
Pequeno cofre colocado ou embutido no retábulo
PILASTRA onde se guarda a âmbula (cálice no qual é conserva-
Nos retábulos, consiste em um pilar de quatro faces que se alterna com as co- da a hóstia consagrada para a comunhão).
lunas na composição. Na fachada, possui caráter ornamental, pois sua estrutu-
ra é aderida à edificação. SANEFA
Peça saliente de proteção e ornamento, colocada ao
PÚLPITO alto do retábulo.
Tribuna destinada às pregações ou sermões do sacerdote. Geralmente encon-
SESMARIA
tram-se dois púlpitos nas naves das igrejas.
As sesmarias eram terras devolutas, medindo em

Q regra 3 léguas por 1 légua (cerca de 13000ha). (PE-


SAVENTO, 1982)
QUARTELÃO (PILASTRA MISULADA)
SINEIRA
Quartela é uma peça que serve de sustentação a outra. Em projetos ornamentais,
Vão onde se colocam os sinos em torres, campaná-
o quartelão trata-se de uma pilastra com relevo entalhado, em forma de mísula.
rios etc.
Sacrário do retábulo lateral
R Igreja São José
T Taquari (RS)
RETÁBULO
O termo vem do latim retro tabulam, que significa atrás da mesa (mesa do TALHA
altar). Geralmente, o nome altar é atribuído a toda estrutura do retábulo, no Escultura ou ornato arquitetônico, em alto ou bai-
entanto, essa nomenclatura se aplica apenas à mesa que fica na sua frente. xo-relevo, executada, geralmente em madeira, por
desbastamento ou entalhe.
RISCO
Projeção desenhada da edificação. TOMBAMENTO
A palavra tombamento não se refere a “tombar” ou

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“fazer cair”. O sentido aqui empregado é aquele proveniente do português arcaico, quando “tombo” significava “in- AGRADECIMENTOS
ventário de quaisquer documentos”. Livros Tombo, logo, são livros de Registro e Inventário. Atualmente, quando se
tomba um bem, ele é inscrito (registrado no Livro Tombo) visando sua manutenção e preservação.

TORRE
Esta obra é fruto de um trabalho coletivo, somente possível através da
Parte saliente de uma edificação civil ou religiosa, de sentido vertical. colaboração de velhos e novos amigos e do empenho de todos os sujeitos
que participaram dos encontros, trocas e aprendizados que este projeto
TRIBUNA
proporcionou.
Lugar reservado e elevado, com aberturas em janelas ou varandas, para assistir as cerimonias religiosas.
Gostaria de agradecer, primeiramente, aos meus pais, cujo apoio foi
fundamental; ao querido Guilherme, aos estimados Pedro Von Mengden
V
Meirelles, Vanessa Gomes de Campos, Carol Zuchetti e Lucas Volpato,
VOLUTA
Ornato enrolado em forma de espiral.
colegas com quem tenho o prazer de compartilhar do encanto pelas igrejas,
irmandades, história e arquitetura do Rio Grande do Sul. E, carinhosamente,
à professora Paula Viviane Ramos, a quem devo o principal incentivo para
essa pesquisa.
Também agradeço imensamente a todos aqueles que acreditaram e se
envolveram na elaboração deste projeto: ao Padre Edison Stein e a comunidade
da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Viamão; ao Padre Ademar José
ENTENDENDO OS ELEMENTOS Ströher, à Samira de Souza Oliveira Jantsch e à Luciana Nedel, do Município
de Triunfo; ao Padre Maurizan Nascimento, Valquíria Machado, Daria, Rui,
Paulo, Alexandre, Teresinha, Cybele, Eloa, Ângela, Marisa, Helena e Lenita
da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo; ao Márcio Beyer
da Silva e à Neuza Terezinha Duarte de Quadros, do Arquivo Histórico
Sineira Front‹o îculo Biágio Soares Tarantino (Rio Pardo), ao Flávio Augusto Canto Wunderlich,
Cornija à Terezinha e à Ana Rezende, ambas da Irmandade do Senhor dos Passos
do Município de Rio Pardo; ao Frei Gastão Carlos Zart, à Maria de Fátima
CoruchŽu Cruz e à Paróquia São José do Município de Taquari; à Anajara da Silva e à
Leila Fraga, do Distrito de Santo Amaro do Sul e, por fim, ao Padre Nildo
Gaspar Rech, ao Museu Municipal e ao Arquivo Histórico do Município de
Cachoeira do Sul. Foi um prazer conhecê-los e desfrutar da sua companhia!
Muito obrigada!

Cimalha

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