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LUCIANA GAMA A retórica do

sublime no

Caramuru: “Há muitas cousas que nos


[metem medo:
Um Dragão nos seria
Poema Épico do [aborrecido,
Mas quando está na imagem
Descobrimento [parecido,
Em vez de dar espanto nos
[deleita:
da Bahia O próprio horror na imitação
[perfeita
Se tira; e ao mesmo tempo

n uma leitura da epopéia do Caramuru


(Durão, 1781) que pretende dar conta

dos procedimentos técnicos inseridos

na sua escritura, a partir das práticas


poéticas e retóricas em voga no Sete-

centos português, um deles convém


reter pela importância e recorrência que

toma em toda a epopéia. Trata-se da


“retórica do sublime”.
[purga a alma
Na mísera fraqueza e
[impulso amargo
Da aflição, da tristeza ou do
[letargo”
(Francisco de Pina de Sá e
Mello, Arte Poética).

Estamos sob o domínio do estilo su-

LUCIANA GAMA blime quando o que nos deleita não são


é professora de Literatura
Brasileira da Universidade os engenhos utilizados na imitação, mas
Estadual do Sudoeste da
Bahia (UESB). justamente quando o efeito é tão gran-

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de que não há espaço para que se per-

ceba a técnica utilizada. Deleite máximo


dessa técnica, é, portanto, estar preso

ao efeito que se sobrepõe aos efeitos


deleitosos, produzidos pela imitação.

Por isso o termo utilizado para o

efeito proposto pela técnica é “arreba-


tamento”. A metáfora para alegorizá-

la, como sabemos, é a do raio, do tro-

vão, do corisco. Ao mesmo tempo


elocução e metáfora, imagem carrega-

da de som, som carregado de imagem,


estrondo da engenhosidade, como é

sugerido pelo Tratado do Sublime, atri-


buído a Longino.

Não há dúvidas de que a técnica

estava em uso no Setecentos portu-


guês. Em um poeta como Bocage –

como demonstra Alcir Pécora (2001)

– a técnica era parte da estratégia retó-


rica para produzir cenas “que concen-

tram poder, força e energia e fazem


incidir sobre seus espectadores uma

ameaça potencial”. A própria tradução


do Tratado por Custódio José de Oli-

veira (1) repercute o projeto de ensino


da reforma pombalina, que impunha a

introdução do ensino do grego e da


retórica nos estudos secundários.

Em 1984, a Casa da Moeda/Impren-


sa Nacional de Lisboa reeditou a tradu- 1 A tradução portuguesa do Tra-
tado do Sublime foi composta
por Custódio José de Oliveira,
ção de Custódio de Oliveira com um em 1765, e impressa em Lis-
boa, na régia oficina tipográ-
estudo introdutório de Maria Leonor fica em 1771.

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Carvalhão Buescu, que sugere que as no- A técnica retórica do sublime, é inegá-
tas de rodapé introduzidas pelo padre po- vel, estava no ar. Mas é quase impossível
dem ser lidas “como um tratado de retórica circunscrevê-la nas práticas letradas do
portuguesa”. Para a autora, é significativo Setecentos português sem levar em conta a
2 Segundo nota da autora a “tra- que o Tratado do Sublime, composto no caracterização dos afetos patéticos que pro-
dução de Felinto Elísio foi
publicada em Paris, Obras século I, esquecido durante séculos, tenha duz. Aqui, os afetos devem ser impetuo-
Completas, 1819. A de Elpino
Duriense é apenas conhecida no século XVIII três traduções em Portu- sos, veementes, agitados, construídos com
por alusões indiretas”. gal: a de Custódio José de Oliveira, a de império e força para produzirem o efeito de
3 Para medir ou pesar em nos- Felinto Elísio e a de Elpino Duriense (2). perturbar a alma.
sas considerações os limites
do “sublime” adequado à aná- Sabe-se que a teoria aristotélico-horaciana Estamos, pois, estritamente usando o
lise do Caramuru, convém ob- recomendada nas “Instruções” pombalinas termo “sublime” para referir-se a técnicas
servar a apropriação do con-
ceito por Kant, que o modifica domina o pensamento dos doutrinadores retóricas e poéticas enfocadas no século
e ajusta a uma proposta mais
restrita ao sujeito. Segundo setecentistas, mas para ela é significativo XVIII em Portugal e não com vistas às lar-
Jens Kulenfampff, no ensaio “A “que um árcade como Correia Garção” cite gas, intensas e filosóficas discussões vin-
Estética Kantiana entre Antropo-
logia e Filosofia Transcenden- na Dissertação Segunda, juntamente com culadas à estética do sublime em Kant (3),
te”, a fenomenologia do subli-
me, que se encontra em Edmund
as poéticas de Horácio e de Aristóteles, a Hegel (4), Schiller, Vischer, Schopenhaeur
Burke e também em outros teó- retórica de Longino. ou Nietzsche nos séculos XVIII, XIX e XX
ricos do século XVII, tem suas
origens no tratado do sublime Mas não só: ao findar a carta sexta do na Alemanha, sem que com isso deixemos
atribuído a Longino. O autor Verdadeiro Método de Estudar, Verney de levar em conta as apreciações do inglês
salienta que, desde a tradução
feita por Boileau em 1674, o (1991) se dedicará aos conselhos finais aos Edmund Burke (5) no século XVIII sobre
tratado passou a fazer parte
“dos pontos de referência clás- estudantes portugueses. Estes devem ler e a técnica do sublime.
sicos”, ao lado da Arte Poética fazer exercícios em português. Ademais, Também queremos enfatizar que esta-
de Horácio e da Poética de
Aristóteles. devem ler Cícero, Quintiliano, Aristóteles mos utilizando a tradução de Custódio José
4 Um bom estudo introdutório que e Longino. Também encontramos referên- de Oliveira. Logo no início do Tratado, em
consultamos sobre a estética do cia ao Tratado nas vastas “Advertências nota, o tradutor vai esclarecer que “o mes-
sublime no idealismo alemão
pode ser encontrado em: Preliminares ao Poema Heróico da mo que Quintiliano diz a respeito da elo-
Carchia, 1994.
Henriqueida” (Menezes, 1741). Nela, Fran- qüência em geral, atribui Longino ao Su-
5 Edmund Burke possivelmente
seja o investigador do sublime cisco Xavier de Menezes, ao deliberar so- blime”. São cinco, pois, as fontes de subli-
e do belo que mais influencia bre os preceitos que utiliza para a constru- midade, sendo que o patético, afeto nobre,
a formulação do conceito
kantiano do sublime na Crítica ção da sua epopéia, argumenta que não só sempre concorre para elas:
da Faculdade do Juízo.
A primeira edição dessa inves-
segue Boileau na sua Arte Poética, mas que 1) certa elevação do espírito que nos faz
tigação foi impressa em 1757 esse “ilustre” crítico francês também o ti- pensar com abundância e felicidade;
e, após dois anos, veio a prelo
a segunda edição que, confor- nha ensinado “na sua tradução e observa- 2) afeto veemente e cheio de entusias-
me o autor, é “um pouco mais ções do Tratado do Grego do estilo sublime mo;
completa e fundamentada que
a primeira”. Embora aperfei- que escreveu Longino”. 3) certa disposição das figuras, as quais
çoada, o autor não encontra
razões suficientes para mudar Jerônimo Soares Barbosa cita-o, em são de duas espécies: umas pertencem ao
a “essência da teoria”, porém notas da sua tradução às Instituições Ora- modo de pensar, outras ao de dizer;
julgou necessário “explicá-la,
ilustrá-la e reforçá-la em muitas tórias de Quintiliano, vinte vezes, e Cândi- 4) a frase nobre, também dividida em
passagens”. Além disso, ane-
xa uma dissertação introdutória
do Lusitano (1758) demonstra adesão e duas classes: a escolha dos vocábulos e a
sobre o gosto. apreço na tradução da Arte Poética de dicção elegante;
Mote essencial às duas edições
foi Burke ter notado que “fre- Horácio quando da nota sobre a questão da 5) causa da grandeza e compreende em
qüentemente se confundiam as unidade e brevidade poéticas: si todas as antecedentes: é a composição em
idéias do sublime e do belo e
que ambas eram aplicadas in- toda sua dignidade e elevação.
discriminadamente a coisas
muito diferentes e algumas ve- “Quando pretendemos falar com termos Como podemos supor, uma fonte do su-
zes inteiramente opostas”. Re- sublimes, é sumamente difícil não cair- blime arrebata e acumula a outra como em
metendo-se a Longino, o autor
explanará que, apesar de o tra- mos em expressões inchadas; porque a uma crescente formação de nuvens com vis-
tado do século I ser “extraordi-
nário”, acabou por abrigar sob
afetação é o vício que está próximo à gran- tas a uma tempestade, o que torna compreen-
o nome de sublime coisas extre- deza do dizer […] Quem sobre esta maté- sível a aplicação da técnica de acumulação de
mamente discordantes. O abu-
so foi ainda maior com a pala- ria quiser larga instrução, leia o pormenores, predominante no Caramuru.
vra “beleza”, que se tornou uni- estimadíssimo tratado do Sublime que De ordinário, podemos traçar em pou-
versal e para Burke teve conse-
qüências bem piores. escreveu Longino […]”. cas linhas o que está condensado na pri-

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meira e segunda fonte do sublime: a natural no Tratado. O sublime não está na exten-
elevação dos pensamentos que se traduz são, mas na medida do salto. A força da
em pensamentos grandes, ou mesmo de- condensação, impulso que eleva.
monstração de grandeza de ânimo sem No entanto, mediano seria o seu cons-
palavras, de onde vem a tópica do silêncio tante uso, sua constante demonstração de
como argumento retórico em mais alto grau. força. A técnica do sublime exige um exí-
O exemplo do Tratado centra-se no Livro mio conhecimento e ajuste aos lugares apro-
XI da Odisséia, no silêncio de Ajax quando priados para o seu uso. Naturalmente, diz o
Ulisses, no inferno, fala às almas de alguns Tratado, todos aspiram ao sublime. Um dos
de seus companheiros. seus maiores vícios é o elogio. Pueril, quan-
A primeira fonte do sublime é a mais do se quer agradar, dizer coisas “extraordi-
considerável, cuja definição está por todo nárias” e “bem trabalhadas” caindo no ví-
o Tratado. Trata-se do que podemos consi- cio da afetação ridícula. A questão é funda-
derar como o caráter do orador, que em mental e também circula até o fim do Tra-
linhas gerais não deve ter espírito humilde tado:
e desprezível, já que “não é possível que
aqueles que são acostumados a pensar bai- “Pelo que não vimos a ser mais que uns
xa e servilmente e que nisto trabalham toda maravilhosos lisonjeiros […] ou ‘a lassi-
a sua vida, hajam de produzir coisa admi- dão do ânimo gasta e arruína os engenhos
rável e digna de toda a posteridade”. Ao de hoje; tirando poucos, vivemos todos sem
fim do Tratado, a questão volta, tratando ter a fadiga que pelo louvor e prazer e nun-
da esterilidade da eloqüência e conseqüen- ca jamais pela utilidade que seja digna de
temente do que a fecunda, a liberdade: “ne- honra e emulação’”.
nhum escravo vem a ser Orador; porque
neles sobrevém logo o temor de falar e de É fácil fracassar quando se aspira à téc-
ser como que encarcerados pelo costume nica da imitação mais elevada da arte poé-
de ver a mão levantada conforme o dito de tica. Recorrente também é trocar os luga-
Homero […]”. res, não usar o decoro específico para de-
A medida do sublime não é somente sua terminada situação discursiva, ou seja, usar
altura, mas o seu tempo, sua ação, pro- de afeto vão e tempestuoso onde não preci-
priedades vinculadas a seu efeito. O subli- sa de afetos e, ao contrário, usar de afeto
me caracteriza-se por sua agilidade, rapi- desmedido e forte onde deve haver mode-
dez e vigor, desde que não sejam constan- ração. O que talvez seja o mesmo que dizer
tes. A partir do momento em que haja uma que a liberdade da eloqüência é conhecer
constância dessas características alinhadas profundamente as preceptivas que a cir-
acima, perde-se o efeito da técnica, ou seja, cunscrevem. A chave está no discurso pa-
ela é justamente efetuada a partir da quebra tético: livre, porém, temerário e metodo-
do que pode ser constante: nesse sentido, a lógico para que se atinja o efeito desejado.
quebra do silêncio por um estrondo pode Varonil, a técnica do sublime exige do
ser sublime, bem como em meio a um alvo- orador tudo o que também atribui-se, ge-
roço ou burburinho, um grave silêncio pode ralmente, às propriedades do herói. O que
ser fatal. talvez nos exija ajuizar com algum direito
Nesse sentido, é vital explicar que tanto o porquê de o gênero épico, alto, exigir em
ir para o mais alto dos altos, quanto ao mais suas propriedades que, das representações 6 Como adverte Curtius (1996),
baixo dos baixos é técnica que, aliada à de propriedades e qualidades cabíveis, as a “idéia” do herói relaciona-
se com o valor vital da nobre-
engenhosidade, faz com que seja alto uma mais altas sejam as escolhidas (6). za, cuja virtude fundamental
é a nobreza de corpo e alma,
baixeza que atinja sua máxima altura e o Fontes do sublime adentro, motivadas sendo que sua virtude especí-
contrário também, ou seja, que algo alto pelo ânimo do orador, temos as escolhas. É fica é seu autocontrole. Tam-
bém não esquecendo que são
possa abaixar-se até as mais densas pro- notório que, sem uma vaga noção de os afetos patéticos que colo-
fundidades: “A distância não é menos que pluralidade que se condense num efeito cam em ação o gênero, “sem
heróis coléricos ou deus ran-
da terra ao céu” na representação contida unívoco, ou numa imagem unívoca onde coroso, não há epopéia”.

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não se percebam as pluralidades, não pode- péia, essa narração deve ser, além de sábia,
mos equacionar a técnica. Um efeito geral sublime, ordenada e adornada de episódios
feito de diversas particularidades compõe o nascidos dos mesmos assuntos. No caso de
sublime, sendo que jamais se chega a este uma epopéia como o Caramuru, se é con-
efeito particularizando o particular, mesmo siderável que o gênero comporte de ante-
com vistas ao efeito da unicidade. Chega-se mão o estilo sublime, não podemos tam-
ao efeito, mas não o torna torrencial, nem bém deixar de considerar que o efeito su-
vigoroso. É nesse sentido que as “escolhas blime, em uso nas letras do Setecentos
das circunstâncias mais principais é causa português e recorrente no Caramuru, acar-
do sublime”. Sempre plural para fundamen- reta nuances que comportam, além do gê-
tar o efeito. Talvez seja mais simples vi- nero, a preceptiva poética da épica e a do
sualizar com as suas atribuições metafóri- próprio Tratado.
cas: um raio é produzido pelo choque de Nesse sentido, na totalidade dos cantos
duas nuvens, uma tempestade de raios é do Caramuru temos várias circunstâncias
produzida pelo choque de várias nuvens. e episódios marcados pela duplicidade do
O Tratado desenvolve-se, no que con- arranjo: possuem efeito sublime no próprio
cerne ao sublime e suas fontes, passando canto e ligam-se entre eles para o efeito da
pela invenção, disposição e elocução ne- sublimidade total da narrativa.
cessárias para se compor o efeito. Sem to- No Canto I, tem-se: a descrição da tem-
das essas partes não se tem o efeito. Da pestade que leva ao naufrágio o navio de
escolha das circunstâncias à elocução va- Diogo Álvares; o encontro dos indígenas e
mos adentrar, então, o reino das figuras que dos náufragos na praia; o episódio lírico do
contribuem também para o sublime, sendo mancebo Fernando que entoa, por sua vez,
que, aqui também, entra a escolha vo- o sublime episódio do indígena Áureo, cujo
cabular, além das já conhecidas: perguntas corpo, após batismo e morte, é elevado até
e interrogações, assíndetos e dissoluções, transformar-se no pontiagudo pico da Ilha
conjunções, hipérbatos, poliptotos e trans- do Corvo; e a descrição final dos prepara-
gressões, os singulares com aparência do tivos para o ritual antropofágico.
sublime, coisas passadas apresentadas co- No Canto II, tem-se, sobretudo, a subli-
mo presentes, a mudança da pessoa grama- midade através do episódio do tiro da es-
tical, a passagem de uma pessoa para outra, pingarda de Diogo Álvares e a descrição do
da perífrase, do idiotismo, da multiplicidade efeito do tiro sobre os indígenas da tribo
de metáforas, das comparações e metáfo- dos tupinambás; já no Canto III, temos como
ras, hipérboles. patéticas a descrição pelo indígena Gupeva
De cima para baixo, do geral para o do “Anhangá” e do “inferno”, situado entre
particular, da invenção e da disposição à montanhas, bem como a narração da che-
elocução necessárias ao efeito sublime, o gada, ao fim do canto, dos indígenas caetés
Tratado termina voltando e amarrando to- para atacar os tupinambás.
das as partes, sendo que a última e quinta No Canto IV, por ser um canto somente
fonte do sublime é a composição, ou me- vinculado ao combate entre os tupinambás
lhor, a composição dos membros, a com- e caetés, há várias circunstâncias, descri-
posição de todas as partes, as quais, sepa- ções patéticas, bem como mais um tiro da
radas umas das outras, nada têm em si que espingarda de Diogo Álvares ao fim. O
seja notável, mas juntas todas entre si e Canto V faz as seguintes sublimidades: pri-
unidas enchem a perfeição do composto, sioneiros caetés – Embiara e Mexira – sen-
como traduz Custódio José de Oliveira. do preparados para os rituais antropofágicos
Composição dos membros, entenda-se, dos tupinambás; defesa violenta do indíge-
disposição de todas as partes. na Tojucáne; descrição da morte do indíge-
Como sabemos, cada um dos gêneros na Embiara; mais um ataque dos caetés (por
poéticos requer uma narração apropriada à mar) aos tupinambás; ataque de Diogo
sua natureza e finalidade. No caso da epo- Álvares com toda suas armas e artilharia;

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em terra; a patética descrição de Taparica A tópica na qual se atribui aos indíge-
por Jararaca; morte de Jararaca por um tiro nas o gosto por objetos sem valor algum
da espingarda de Diogo Álvares; o episó- para os portugueses, como cascavéis, ma-
dio da morte do indígena “Bambu”. nilhas, pentes, espelhos, “cousas para eles
No Canto VI, há o episódio patético da as maiores do mundo”, como salienta Si-
morte da indígena Moema e, na narração mão de Vasconcelos (1663) em sua Crôni-
de Diogo Álvares ao comandante Du Plessis ca, aplica-se também no Caramuru. No
sobre o descobrimento, temos agentes de Canto VI, quando da descrição do desco-
sublimidade quando da descrição do en- brimento do Brasil feita por Diogo ao co-
contro dos portugueses com os primeiros mandante Du Plessis, temos já o reflexo
indígenas feita por Diogo. dessa emulação com vistas ao patético, dado
No Canto VII, temos o elemento de su- que os indígenas assustam-se com a pró-
blimidade incidindo quando da chegada de pria imagem:
Paraguaçu à França e na descrição de alguns
animais típicos para o rei da França: são “Talvez os têm co’a cítara encantados;
monstruosos, portanto, cobras e baleias. Talvez com cascavéis todos suspendem;
No Canto VIII, a sublime visão de Para- Mas o objeto que a vista mais lhe assombra
guaçu – já Catarina Álvares – cuja narração He ver dentro do espelho a própria sombra:
centrada nas guerras da invasão francesa
descreve com rigor os detalhes dos comba- Extático qualquer notando admira
tes entre os tamoios e Mem de Sá contra Dentro ao terso cristal a horrível cara:
Villegaignon. No Canto IX, na continua- Pergunta-lhe quem é, como se ouvira,
ção da narração da visão do sonho de E crendo estar no inverso o que enxergara,
Catarina Álvares, o efeito sublime incide De uma parte a outra parte o espelho vira;
na descrição das guerras entre os portugue- E não topando o vulto na luz clara,
ses e holandeses no Recife. E, por fim, no Tal há que o vidro quebra, por ver dentro
Canto X, final, temos o resultado da vasta Se a imagem acha, que observou no centro”
empresa retórica e poética dos outros nove (Canto VI, estrofes LXVII e LXVIII).
cantos antecedentes.
Todas essas circunstâncias ou episódios Mas não só. Embora tenhamos aqui uma
estão ordenados na epopéia do Caramuru imagem alegórica da construção do indí-
através de arranjos minuciosos concer- gena na epopéia, a incidência com vistas ao
nentes ao engenho poético. Maximizando, patético, minuciosamente construída, é far-
é recorrente que as descrições das figuras ta quando se refere aos adornos, que meta-
patéticas construídas na epopéia incidam, forizam o sublime. Haja vista as descri-
em sua maioria, na representação dos indí- ções, pintura nos corpos ou enfeites nos
genas, nomeadamente, tupinambás, caetés indígenas do Caramuru:
e tamoios. É claro também que há outra
sublimidade, assimétrica, pois, que é esta- “[…] A cor vermelha em si, mostram tingida
belecida na representação do português De outra cor diferente que os afeia,
Diogo Álvares, herói que adquire valor ar- Pedras e paus de embiras enfiados,
gumentativo através dos vastos e ordena- Que na face e nariz trazem furados”
dos arranjos de figuras patéticas configu- (Canto I, estrofe XIX).
rados nos indígenas.
A ação, bem como o caráter do indígena, Ainda no Canto I, quando da descrição
é construída na epopéia através de diversos das indígenas anciãs no ritual antropofá-
ornatos que fortalecem o patético e conse- gico:
qüentemente tornam mais valorosas as con-
quistas de Diogo Álvares. Ornatos que, diga- “[…] Tão feias são, que a face está pintando
se de passagem, são emulados das fontes e a imagem propiíssima do Diabo
reordenados na epopéia com maestria. Tinto o corpo em verniz todo amarelo

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Ilustração de
Jean Baptiste
Debret

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Rosto tal, que a Medusa o faz ter belo” Apenas alguns exemplos. Intrínsecos
(Canto I, estrofe LXXX). aos cantos, principalmente nos das descri-
ções de guerras, como os Cantos IV e V,
“[…] Têm no colo as cruéis sacerdotisas bem como nos Cantos VIII e IX, aumen-
Por conta dos funestos sacrifícios, tam, contudo, o seu efeito porque articula-
Fios de dentes, que lhe são divisas, dos às descrições dos instrumentos utiliza-
De mais ou menos tempo em tais ofícios” dos pelos indígenas em ação. O som da
(Canto I, estrofe LXXXI). trombeta inimiga é referido por Custódio
José de Oliveira na sua tradução sobre a
No Canto IV, quando da descrição da sublimidade do horror: Homero pinta a
gala de valentes “Margates” que vinham ferida dos deuses, as contendas, as vingan-
com o chefe caeté Jararaca; as pinturas, a ças, as lágrimas, mas sobretudo a peleja
cor negra, contribuem para o efeito: dos deuses. Explorando, em nota, as des-
crições de Netuno em poetas portugueses,
“[…] Dez mil a negra cor trazem no alude aos sons da trombeta inimiga na es-
[aspecto, trofe XXVIII do Canto IV dos Lusíadas,
Tinta de escura noite a fronte impura; embora advirta que em Camões não haja
Negreja-lhe na teste um cinto preto, tanta sublimidade quanto há no verso
Negras as armas são, negras a figura” XXVI, Livro XIII, da Ilíada. Vejamos o
(Canto IV, estrofe XIV). lugar citado em Camões:

Na descrição do adorno à volta do pes- “Deu o sinal a trombeta castelhana,


coço de Cupaíba, feroz Margate: Horrendo, fero, ingente e temeroso;
Ouviu o monte Artabro, e Guadiana
“[…] À roda do pescoço um fio enlaça, Atrás tornou as ondas de medroso”.
Onde, de quantos come, enfia um dente,
Cordão que em tantas voltas traz cingido, Adequadas à matéria, a articulação bem
Que é já mais que cordão longo vestido” como a elocução dos instrumentos dos indí-
(Canto IV, estrofe XV). genas no Caramuru são hiperbólicas e bem
dispostas. Imagem e som devem confluir.
A descrição do modo como Samambaia, Dependendo da circunstância, é sublime a
indígena que conduzia outra turba, utiliza exatidão do silêncio além de saber pintar
as plumas como adereço: com energia o som das imagens, como o fez
Sófocles quando da pintura de Édipo mor-
“[…] Era de pluma um cinto, que ao redor rendo e enterrando a si mesmo ao som de
[se fecha; trovões espantosos. O som movimenta o
E até grudando as plumas pela cara, discurso, está claro. Quando sublime, mo-
Nova espécie de monstro excogitara” ver o ouvinte é arrebatá-lo junto.
(Canto IV, estrofe XVIII). Ásperas palavras, ásperos sons. Na com-
posição retórica elas enervam a oração para
Bem como a pintura concernente a estarem proporcionadas aos assuntos que
Tojucáne, quando ataca os irmãos caétes devem tratar. A composição inclui, neces-
Embiara e Mexira: sariamente, ajuntamento, ordem, período e
número. Os atributos da oração possuem
“[…] Um cinto de plumas sobre a frente, seus fundamentos nas palavras escolhidas,
Manto ao ombro de pluma entretecido: já sabemos, mas é melhor explicada por
Tinto de negro todo, a cor somente Don Gregório Mayans, preceptista espa-
Traz natural ao vulto enfurecido; nhol do século XVIII:
E por meter no horror maior respeito,
Com o beiço inf’rior varria o peito” “El ayuntamiento hace que la oración sea
(Canto XV, estrofe XX). por razón de la pronunciación, suave o

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áspera; por razón de la longura, grande o Apertassem no peito os seus filhinhos”
pequeña; por razón del sonido, más o me- (Canto III, estrofe LXXXVIII).
nos sonorosa. As palavras Ásperas, son las
que con dificultad se pronuncian, i por A questão do som, patético, é também
consiguiente desagradablemente se oyen. construída através do “marraque”, instru-
Se pronuncian con dificultad o porque mento musical:
tienen letras de sonido áspero, como la R,
en horror, terror, e, servem para causar “Pendem os seus marraques por bandeiras
terror i para significar la misma aspereza De longas hastes, que pelo ar batiam,
o dureza de las cosas (Mayans y Siscar, Suprindo nos incônditos rumores
1984). O ruído dos bélicos tambores”
(Canto IV, estrofe XXV).
A construção da representação do indí-
gena no Caramuru passa pela aspereza cuja Segundo a nota que consta na palavra o
finalidade, sem dúvida, é tornar as ações do instrumento “é uma haste, de que pende
herói Diogo Álvares mais grandiosas, que, um cabaço, ou coco cheio de pedras miú-
por sua vez, representa, como sabemos, a das, que, sacudindo-o, fazem rumor. É in-
tópica do esforço jesuítico/católico no des- sígnia Sacerdotal, e Militar entre estes
cobrimento, que, por sua vez, é argumento Bárbaros”. Sobre o uso desse instrumento,
fundamental inserido nas práticas letradas encontra-se descrito no dicionário de
em favor da volta da Companhia de Jesus Martinieri (1726) que:
no Setecentos português. Assim mesmo:
sem esta disposição de raciocínio não há “[…] ils ont encore dans le mains outre ces
elocução que viabilize a leitura da epopéia. ahonai, des calebasses creuses, pleines aussi
Os epítetos atribuídos às tribos (“povo de petit cailloux. Ils attachent ordinairement
convulso”, “multidão convulsa”, “multidão ces calebasses au bout d’un baton, & se
fremente”) ressoam com a ajuda das ima- donnent l’essor à la musique des cailloux.
gens/sons dos instrumentos adequados às Ce digne instrument s’apelle Maraque”.
cenas patéticas.
No ritual antropofágico do Canto I, pre- E quando do seu comento das cerimô-
parado para os náufragos da nau de Diogo nias ditas religiosas dos indígenas:
Álvares, as sacerdotisas, mais feias que a
medusa e adornadas com colares dos den- “[…] Enfin une de leurs fetes acheve de
tes de sacrificados, tornam-se mais cruéis persuader qu’ils ont connoissance d’un
embaladas por instrumentos: prince supériuer aux hommes. Ils
s’assemblant & font un troupe à laquelle
“[…] Gratas ao céu se crêem, de que président ces anciens, que j’ai appéles leurs
[indivisas prêtes. Ceux-ci entonnent de certains
Se inculcam por tartáreos malefícios; chansons & dansent au même temps, tenant
E em testemunho do mister nefando, chacun as Maraque.[…]
Nos seus cocos com faca vem tocando” […] On se met à danser une danse ronde en
(Canto I, estrofe LXXXI) . se tenant par la main, en pliant un peu le
corps, branlant & tirant un peu à foi la
Ao fim do terceiro Canto a conversa jambe droite, tenant la main gauche
teológica entre Diogo e Gupeva é rompida pendant & la droite sur les feffes. En cette
com a chegada dos inimigos Caetés: posture ils continuent à danser & à chanter.
Ils se divisent alors en trois cercles, & trois
“[…] Às armas, grita, às armas, e o eco ou quatre prette emplumés président à
[horrendo, chaque branle, & présentent aux danseurs
Retumbando nas árvores sombrias cette vénérable Maraque, d’où [sic] ils
Fez que as mães, escutando os murmurinhos disent que l’ésprit leur parle[…]”.

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No mesmo Canto, aumenta o horror da “Destes o luso campo acometido
narração quando, da chegada das tribos que De dardos, frechas, balas se embaraça,
acompanham o chefe Jararaca, Em sombra o seio todo escurecido,
As naus ocultam nuvens de fumaça;
“Ouve-se rouco som, que o ouvido atroa, E ao eco dos canhões entre o ruído,
Retumbando com eco a voz horrenda Tudo está cego, e surdo em campo e praça;
De um grosseiro instrumento, que a arma E no horrível relâmpago das peças
[soa, Caem por terra os bustos sem cabeça”
Com que se inflama entre eles a contenda: (Canto VIII, estrofe XLII).
E quando o horrível som mais desentoa,
Faz que no peito mais furor se acenda; A metáfora do raio continua quando da
De retorcidos paus são as cornetas; visão da batalha entre Villegaignon e
De ossos humanos fraturas e trombetas” Martim Afonso ajudado pelo tamoio Ararig:
(Canto IV, estrofe XXIX).
“Araribóia, como um raio ardente
Metáforas de atribuição, esses instru- Uns dormindo degola pela areia
mentos patéticos, bem como adornos, plu- Outros sem armas, que rendidos sente,
mas e colares, adquirem amplo sentido na Prisioneiros com cordas encadeia”
epopéia, simbólicos, por significarem um (Canto VIII, estrofe LXX).
conceito por meio de uma figura aparente.
Insígnias honrosas. Como já observamos acima, os exem-
No entanto, estão simetricamente enca- plos na epopéia do Caramuru sobre a téc-
deadas pelos instrumentos usados por nica da retórica do sublime são tantos que
Diogo Álvares, a saber, a espingarda e de- se tornam torrenciais, o que faz também
mais material bélico, que se torna mais com que a própria disposição das circuns-
patético e mais sublime, valorizando, por tâncias para o efeito em cada canto corro-
sua vez, o herói que é capaz de dominar bore para a unidade da técnica na epopéia.
tamanhas “feras” e aumentar a sua empre- Aqui, elencamos apenas alguns, como, por
sa, tornando-se um herói épico. exemplo, no Canto V, no episódio da morte
O efeito é construído na representação do indígena caeté Embiara, morto pelo
dos indígenas, sempre feras, para imedia- tupinambá Tojucáne e entregue para “pas-
tamente formar sua similaridade na repre- to”, “moquem” da tribo. Atente-se para a
sentação da personagem do herói. Seja atra- imagem patética que é construída, tal qual
vés do nome, Caramuru, que condensa toda a morte de uma cobra, que através do símile
a sublimidade do herói, mas também na efetua a comparação:
metáfora que lhe é atribuída também por
seus pensamentos, quando percebe que a “Qual se diz que a Tifeu subjuga um
indígena Paraguaçu pode servir-lhe de in- [monte,
térprete entre os indígenas: tal a planta cruel Embiara oprime;
E como a cobra faz, se junto à fonte
“No raio deste heróico pensamento Toda em nós quebranta se comprime:
Entanto Diogo refletiu consigo, Retorcendo em mil voltas cauda e fronte,
Ser para a língua um cômodo instrumento Que ergue, vibrando a língua, no ar sublime,
Do céu mandado, na Donzela amigo […]” Tal o infeliz morrendo em voltas anda
(Canto II, estrofe LXXXIV). E o espírito exalado às sombras anda”
(Canto V, estrofe XXVII).
Mas sublimes e valorosas são também
as descrições das guerras nas visões de O que também demanda, aqui, relem-
Paraguaçu, já Catarina Álvares, e a metá- brarmos a sublimidade da morte do indíge-
fora do “raio” enquadra-se também na ba- na Bambu, no mesmo Canto V. O efeito
talha entre Mem de Sá e os Franceses: sublime encontra-se na terrível imagem dos

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insetos cobrindo o corpo do indígena ensan- Para a compreensão do que é uma “des-
güentado, cujo sangue, também negro, es- crição” convém saber o que consta no Tra-
corria, e o indígena, como diz a estrofe, “imó- tado de Retórica de Gregório Mayans y
vel”, “insensível no tormento”. Momento Siscar, rétor espanhol do século XVIII. Se-
ideal para que o herói Diogo Álvares de- gundo ele, a descrição é uma outra sorte de
monstre seu caráter, oferecendo socorro ao explicação, que “é um agregamento de atri-
inimigo que morre. Contudo, o feroz indí- butos ainda que sejam acidentais, que se toma
gena não aceita tal liberdade, o que surpre- de qualquer tópica ou lugares comuns”, já a
ende o herói. São valorosos os indígenas, definição é “uma oração que breve e clara-
apenas ignorantes, na voz do narrador: mente explica o ser de uma coisa”.
Estamos a aludir a estes conceitos para
“Impossível parece ao sábio herói melhor delinearmos o valor argumentativo
O que vê e o que escuta, e que assim possa, de uma descrição. Após a definição de des-
Quando a carne mortal tanto se dói, crição de Gregório Mayans y Siscar temos
Vencer-se a dor na fantasia nossa: quais são os tipos de descrição possíveis e
Magoado interiormente se condói suas características principais.
De ver que no infeliz nada faz mossa; Nesse sentido, notamos exemplificadas
Mostrando na brutal rara constância as descrições dos poetas e também as des-
Com tal valor tão bárbara ignorância” crições dos historiadores, assim como as
(Canto V, estrofe LXVI). de tempestades, de um cavalo, das plantas,
de lugares (região, monte, casa, cidade ou
A primeira descrição de um ritual antro- porto), do campo, dos montes, dos rios, do
pofágico – no Canto I – alegoriza toda a tempo, de luta e de homens ricos.
argumentação trabalhada na epopéia, quan- O rétor adverte que, geralmente, nas
do na voz do poeta, após a descrição dos descrições das coisas materiais expostas aos
indígenas comendo Sancho, fidalgo portu- sentidos, convém começar por aquilo que
guês que naufragou: naturalmente se oferece à vista ou ao tato
para imitar melhor a natureza.
“‘Feras! Mas feras não, que mais Já nos conceitos de descrição utilizados
[monstruosos pelo rétor português Jerônimo Soares Bar-
São da nossa alma os bárbaros efeitos; bosa, há a enumeração de seis espécies de
E em corrupta razão mais furor cabe, pintura individual (enargia), sendo que a
que tanto um bruto imaginar não sabe’” hipotipose é a nomeação que se dá à descri-
(Canto I, estrofe XXV). ção de qualquer ação ou objeto.
Apenas como exemplo, podemos vol-
No Caramuru temos na maioria dos tar a considerar o Canto IV, que se baseia
cantos o procedimento da descrição ampa- na descrição chamada hipotipose por estar
rado nas ações dos indígenas em campo de todo ele vinculado à descrição da ação da
batalha e não uma descrição mais clara- guerra que acontece entre os indígenas
mente moral que visa a mostrar as caracte- tupinambás e caetés. No entanto, no Canto
rísticas espirituais do caráter indígena. Pro- IV, ela está inerentemente ligada à retórica
cedimento este que nos sugere que a inten- do sublime. Todos os instrumentos indíge-
cionalidade aqui é argumentar em favor da nas, bem como as nações citadas nas estro-
capacidade de organização e, portanto, fes, estão vinculados à pintura dos ritos de
política, da sociedade indígena, baseada no guerra ou mesmo da batalha propriamente
modo como estes utilizavam seus instru- dita. Levando-se em conta a disposição da
mentos. Por exemplo, no Canto II temos a narração dos cantos no que concerne à su-
etopéia, descrição centrada nas qualidades blimidade, percebe-se que, no Canto IV, os
morais de um personagem, e no Canto IV terríveis tupinambás do Canto I tornam-se
temos a acentuação da descrição prosopo- “bons” em relação às descrições que se refe-
gráfica, centrada nas qualidades físicas. rem aos caetés e ao seus aliados.

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Temos, portanto, níveis crescentes de São os feros Margates, em que Alecto
sublimidade que são formados pela constru- O Averno pinta sobre a sombra escura;
ção vocabular do terror do Canto I ao Canto Por timbre nacional cada pessoa
IV: no primeiro canto, os indígenas são ter- Rapa no meio do cabelo a coroa”.
ríveis até a sublimidade passar para o tiro da
espingarda de Diogo Álvares, no segundo E os instrumentos utilizados para a ba-
canto. No Canto IV o terror passa dos talha pelos indígenas também possuem
tupinambás e de Diogo Álvares para os caetés forma, som e finalidades terríveis:
e seus aliados, até voltar ao fim do canto
para as mãos de Diogo que, mais uma vez, “Ouve-se o rouco som que o ouvido atroa,
heroicamente, converte com mais um tiro Retumbando com eco a voz horrenda
da sua espingarda esses ferozes indígenas. De um grosseiro instrumento que a arma
O que mais se acentua nesse canto é a [soa,
sublimidade que o acompanha de ponta a Com que se inflama entre eles a contenda:
ponta não obstante o locus amoenus que E quando o horrível som mais desentoa,
inicia o canto com o ressonar de Paraguaçu. Faz que no peito mais furor se acenda;
No que concerne ao efeito da técnica do De retorcidos paus são as cornetas:
sublime no Caramuru ele sempre é forma- De ossos humanos frautas e trombetas”.
do ou incide sobre o indígena, sendo que
este pode ser considerado tanto agente quan- Ou:
to sujeito desse procedimento retórico que
está vinculado ao patético nas práticas le- “Corresponde o belígero instrumento
tradas do século XVIII. Da feral frauta ao bárbaro marraque;
Nesse sentido, queremos salientar que E promulgando a marcha aquelle acento,
também são propulsores do efeito sublime Tudo em ordem se pôs ao fero ataque:
a perícia da invenção, a ordem e disposição Marcham contra Gupeva com intento
da matéria; bem como a escolha das cir- De meter nas cabanas tudo a saque;
cunstâncias, a escolha das palavras, o que E porque tudo assombrem com terrores,
é fora do comum e extraordinário, hibérpo- Rompem o ar com bélicos clamores”.
les, e acomodar o vocabulário (mesmo que
seja ordinário ou baixo) à matéria, mas Observa-se também nesse canto como
nunca a baixeza do vocábulo pode estar as notações ao fim dele – nas palavras es-
colocada fora de propósito, ou seja, as pa- colhidas por Santa Rita Durão –, que deno-
lavras ou vozes devem corresponder à dig- minam os instrumentos de guerra, refor-
nidade do sujeito para melhor imitar a na- çam o efeito da descrição da estrofe, quan-
tureza. do aclarar significa, nesse tipo de nota,
A descrição dos instrumentos utiliza- tornar o obscuro mais obscuro, ou seja,
dos na descrição da ação da batalha no Canto ampliar a imagem através da descrição da
IV está vinculada à enumeração detalhada sua forma ou utilidade na nota; envolve o
desses caracteres, associando-se, necessa- sublime em mais sublimidade, como acon-
riamente, ao sublime, se levarmos em con- tece quando da notação das palavras aipi,
ta a escolha vocabular e as circunstâncias tacape, marraque, palmada, divina, uapis,
em que as palavras são utilizadas. e inúbia. Pode-se observar que todas as
Perceba-se na estrofe abaixo como a estrofes das palavras notadas estão em cir-
descrição da pintura corporal dos caetés é cunstâncias que podemos considerar vin-
construída através de vocabulário sublime: culadas à técnica do sublime, ligadas ne-
cessariamente ao patético, na epopéia do
“Dez mil a negra cor trazem no aspecto, Caramuru.
Tinta de escura noite a fronte impura, Em relação aos caetés, pode-se perce-
Negreja-lhe na testa um cinto preto, ber que nesse canto o indígena Gupeva pas-
Negras armas são, negra a figura. sa a ser mencionado como o “Bom Gupeva”

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(estrofe XLV), assim como os antes terrí- O verso há de ser belo, doce, claro, na-
veis e ferozes tupinambás tornam-se man- tural ou elevado, nervoso, ardente e cheio
sos em analogia à descrição dos indígenas na sua dicção, porém as imagens devem ser
caetés, o que nos relembra a tópica do esfor- patéticas, notando os afetos humanos, por-
ço da conversão e da dominação tanto pelos que o espanto, o susto, a alegria, a tristeza,
jesuítas quanto pelos primeiros povoadores a dor devem efetuar, nos ouvintes, a mes-
da América Portuguesa. Ou seja, quanto mais ma comoção do objeto pintado.
terrivelmente são apresentados os selvagens Quando, no Canto IV do Caramuru, as
indígenas, mais admirável se torna a domi- notas vinculam-se, como nos referimos
nação portuguesa destes, tendo em vista a acima, à explicação da descrição de pala-
disposição argumentativa do Canto IV em vras do vocabulário tupi-guarani que de-
relação aos outros cantos. signam instrumentos de usos e costumes
A descrição da guerra nesse canto ca- indígenas ou mesmo nome de nações, con-
racteriza-se, sobretudo, pela acumulação tribuem na sua explicação para o efeito do
de pormenores que, pintados em detalhes – patético, ou melhor, do sublime que está
os costumes de guerra tanto corporais quan- em evidência em todo esse canto.
to morais ou religiosos –, compõem a argu- Todos esses procedimentos, a saber: a
mentação principal da narrativa do Cara- descrição dos ritos que culmina na descri-
muru. O quadro geral é aparentemente ten- ção da batalha, a descrição dos utensílios e
so: terríveis indígenas com modos igual- instrumentos utilizados para essas descri-
mente brutos e selvagens que não obstante ções, o uso das notações em palavras que
revelam na violência de seus costumes estão inseridas nessa descrição, são emula-
noções de organização política e vestígios dos de uma fonte geográfica e histórica, ou
da luz da graça divina. seja, o Dicionário de Martinieri.
A tensão se dá quando não se leva em Um dicionário geográfico e histórico
conta a finalidade dessas descrições patéti- deve primar pelas descrições de lugar, bem
cas, que visam, sobretudo, a argumentar como dos costumes aos quais se referem.
em favor da maestria da colonização portu- Nesse canto do Caramuru percebe-se que
guesa por estas terras, sendo que a descri- há o aproveitamento da descrição que se
ção da ferocidade indígena é meio princi- encontra na fonte, porém não na mesma
pal para persuadir da eficácia desse traba- ordem, nem na mesma cena apresentada no
lho. Ou seja, quanto mais selvagens forem Dicionário; as cenas apresentadas no
os indígenas, maiores serão as mostras das Caramuru nesse canto, como, por exem-
qualidades e capacidades de conversão dos plo, o discurso do chefe Jararaca, bem como
mesmos pelos jesuítas que, como sabemos, a pintura negra dos corpos dos indígenas, a
estavam ligados politicamente à monarquia descrição de alguns ornatos de guerra como
portuguesa no século XVI, tempo em que o colar de dentes, e muitas das cenas onde
se passa a narrativa do Caramuru. é construída a utilização de instrumentos
Na poética a imitação da natureza pres- como o marraque e o tacape, não se encon-
supõe o deleite, artifício que lhe é inerente. tram no Dicionário, embora haja a imita-
Ou seja, o deleite da imitação consiste na ção do lugar do uso e da descrição do obje-
própria imitação, na técnica da representa- to imitado, revelando, na sua apropriação
ção, na causa e no efeito do verossímil. para a estrofe, artifício e engenho indis-
Nesse sentido, a pintura do patético, do pensáveis quando se trata de poética.
terrível e do estranho deleita quando está O uso dos costumes que devem estar de
representada, justamente por ser imitação, acordo com o caráter do personagem, pre-
e, nesse sentido também, a descrição, quan- ceito que também se evidencia na epopéia
to mais viva, mais perto do original, mais do Caramuru, tanto no herói Diogo Álva-
deleita, se o original não se encontrar di- res, quanto nas vozes dos indígenas como
verso do retrato. Para isso, contribuem os Gupeva, através de Paraguaçu e do chefe
ornatos que compõem uma descrição. Jararaca, encontramos na Arte Poética de

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Francisco de Pina e Mello esse preceito cas de um herói épico são proporcionais e
aplicado diretamente com exemplos que opostas às características dos que vencem
incidem também sobre o uso decoroso dos ou o impelem para sua ação principal. Ou
costumes indígenas: seja, um herói jamais pode combater ou
vencer medíocres, coisa que seria inveros-
“Deve a Poesia religiosamente símil. Valoroso, seus feitos e virtudes de-
sustentar os costumes: a Deidade vem ser proporcionais ao tamanho das
Há sempre de mostrar-se sem maldade, matérias dos obstáculos que ultrapassa ou
O herói com fama, o Sábio com doutrina, domina. No caso da epopéia do Caramuru,
Com valor o Soldado, com destreza cuja ação principal centra-se em tornar
O Engenheiro, o Pastor com singeleza. Diogo Álvares o herói dessa epopéia, os
Há de ser a donzela vergonhosa, indígenas são essa matéria.
Terna a Mãe, a criada cobiçosa: Toda a caracterização que há nos indíge-
Há de se conhecer pelo desejo, nas do Caramuru é construída na altura do
Ou pela propensão o China, o Indio, gênero: altamente bravos, ferozes e indó-
O Tapuia, o Hotentot, o Troglodita, ceis. Quando dominados ou vencidos, cor-
O Tartaro, o Laponio, o Thrace, o Schyta” respondem à altura do mando. Suas vozes,
(Mello, 1765, p. 22). nesse sentido, não poderiam ser medíocres,
o que os torna decorosamente eloqüentes e
Uma das propensões trabalhadas no retóricos. Eloqüência que chega a espantar
Caramuru, como temos visto, é a da tópica o retórico herói Diogo Álvares no Canto II,
de que os indígenas possuem a luz da gra- quando da descrição da memória religiosa
ça. Pelo desejo, no aproveitamento dessa dos tupinambás feita por Gupeva.
tópica jesuítica, temos a descrição de mui- Não há sombra na caracterização dos
tos vícios, que são utilizados para argumen- indígenas no Caramuru de um bom selva-
tar em favor de suas virtudes, ou seja, a gem. Contrário a essa concepção, há, por
tópica de que possuíam, sim, vestígios de detrás da pintura terrível, monstruosa e pa-
fé, lei e rei, argumentação que angaria ele- tética dos selvagens indígenas, a insistên-
mentos para persuadir não somente de que cia em favor da argumentação apologética,
faltava aos indígenas apenas a conversão vigente na época, da eficácia dos procedi-
ao catolicismo, mas principalmente que era mentos que se baseiam numa ação católica,
possível que isso acontecesse. No caso do construída aqui nessa epopéia através de
Caramuru, a apropriação e a emulação das fontes escritas por padres da Companhia de
fontes utilizadas fornecem elementos ou Jesus ou de historiadores que estavam a ser-
provas – intrínsecas ou extrínsecas – mas viço de um rei católico, no caso Felipe V,
sempre discursivas para persuadir sobre a como é o caso do Dicionário de Martinieri.
eficácia do passado e, conseqüentemente, Para tanto, o indígena é emulado através das
sobre as qualidades da Companhia de Je- descrições e narrações que constam nessas
sus, para fortalecer a argumentação em fontes, que se conjugam perfeitamente com
favor da volta da mesma Companhia em a retórica do sublime vigente na preceptiva
meio ao século XVIII português. poética do Setecentos português.
O indígena, nesse sentido, é matéria Eloqüência de eloqüência, no discurso
essencial na epopéia para a ação do poema do chefe dos caetés – incitação à guerra aos
que se baseia no naufrágio em terras baianas seus aliados e tribo –, supera toda a subli-
de Diogo Álvares Caramuru. Como se trata midade patética trabalhada pela represen-
de um gênero alto, cujo estilo deve ser da tação do raio e do trovão que há em Tupã,
altura do assunto, chama-se também subli- é superado pelo tiro da espingarda de Diogo
me. Ou seja, uma epopéia deve comportar Álvares que se torna então Caramuru:
a seguinte regra: “Quer um grande argu-
mento phrases grandes” (Mello, 1765, p. “Mas teme o seu trovão: e tanto oprime
17). Também sabemos que as característi- O medo aquele vil que não pondera

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Que por este trovão que não reprime, discursiva de que o poema foi “maiormente,
Há de se ver cheia de trovões a esfera? ordenado a colocar diante dos olhos, aos
Que grande mal será o raio imprime? libertinos, o que a natureza inspirou a ho-
Se o mundo por um raio se perdera, mens, que viviam tão remotos das que eles
Susto pudera ter, cobrar espanto: chamam preocupações de espíritos débeis”.
Porém morre de medo que é outro tanto. As “Reflexões Prévias e Argumento”,
proêmio da épica, são parte primeira e fun-
Eu só, eu próprio no geral desmaio damental da epopéia que, além de estar
Ao relâmpago irei sem mais socorro; ordenada, disponibiliza através de seu con-
E quando ele dispare o falso raio, teúdo textual, como “evidência discursiva”,
Ou descubro a impostura ou forte morro: a justificativa da escritura da epopéia. No
Será de nigromancia um torpe ensaio, entanto, o prólogo não deve ser lido como
Com que o astuto pretende, ao que independente da disposição geral dos dez
[discorro, cantos dessa mesma epopéia. Nesse senti-
Fazer que a nossa tropa desfaleça do, é uma transitio para a narrativa, onde se
Antes que a causa do terror conheça. deve captar a benevolência do leitor. As-
sim, possui estrutura retórica também pró-
Que se for (que não o creio) o estrondo pria, cuja finalidade é persuadir o leitor da
[insano argumentação que apresenta. No caso do
Do sublime Tupã triste ameaça, Caramuru, a argumentação tópica que jus-
Fará como costuma trovejando, tifica a criação da obra é fundamentada na
Que matando um ou outro a mais não passa: citação dos títulos os quais o autor usou
Se eu vir que o raio horrível vai vibrando, como fonte para a imitação poética: A His-
A um homem como eu nada embaraça: tória da América Portuguesa, de Rocha
Se for mortal quem causa tanto abalo Pita; A História da Guerra Brasílica, de
Por meio ao próprio raio irei matá-lo. Sebastião de Brito Freire; e A Crônica da
Companhia de Jesus, do padre Simão de
Sú, valentes, Sú, bravos companheiros, Vasconcelos.
Tomai coragem: que será no extremo? A argumentação primeva do Caramuru,
Embora seja um raio verdadeiro: em favor da volta da Companhia de Jesus no
Senão é Deus que o lança eu nada temo. reinado de D. Maria I, é proporcionada a
Seja quem for o autor primeiro, partir da imitação de um argumento históri-
Como não seja o Criador Supremo, co, a descoberta da Bahia por Diogo Álva-
Não há forças criadas que nos domem; res, bem como da representação dos indíge-
Que sobre tudo o mais domina o Homem” nas, eloqüentemente demarcados pelas fon-
(Canto IV, estrofes XXXVI a XXXIX). tes jesuíticas para exaltar os feitos e os esfor-
ços da ação católica no século XVI.
A construção da sublimidade na epo- Com efeito, o Caramuru não é débil,
péia do Caramuru ainda não atinge aqui monstruoso ou bruto. Com critérios de “bom
seu ponto mais alto. Embora haja a gosto”, que não leva em conta o patético,
conotação de que, após tantos momentos torna-se difícil deleitar-se com seus propo-
sublimes e terríveis que desencadeiam a sitais barrancos e penhas. Pincelar um epi-
submissão das tribos dos tupinambás ao sódio aqui e ali, sem percorrer a sua engenho-
fidalgo e herói Diogo Álvares, a ausência sidade minuciosamente construída e arti-
de medo do chefe Jararaca é terrificante, culada, é talvez julgá-lo demasiadamente
tendo em vista toda a construção do patéti- ao trancos. Nessa epopéia, é preciso tomar
co que foi necessário para que, por contra- a técnica pelo efeito, o efeito pela técnica.
posição, pudéssemos considerar os valores No entanto, a citação dessas autorida-
heróicos de Diogo Álvares Correia. des ao fim do prólogo torna-o verossímil,
Nas “Reflexões Prévias e Argumento”, crível, ao mesmo tempo que torna ainda
prólogo da epopéia, temos a evidência praticamente indiscutível a ação do poema

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que, como sabemos, deve ser uma só na levem em conta os fundamentos
preceptiva épica e, se possível, retirada da argumentativos/retóricos do seu prólogo
história. e das suas notas, intrínsecos à disposição
Não é plausível qualificar o Caramuru dos seus dez cantos.
como “cópia” ou “plágio” das fontes utili- Nesse sentido, o Caramuru é epopéia
zadas, visto que ainda vigorava na pre- que requer leitura integral, levando-se em
ceptiva poética no século XVIII português conta os preceitos poéticos e os preceitos
o conceito de imitação poética, bem como retóricos vigentes nos meados do Setecen-
a definição da épica que incide diretamente tos português. Fundamentalmente, está
sobre a causa e finalidade da escritura do inserida nas práticas letradas do Dezoito
Caramuru. português, em favor da volta da Compa-
Assim sendo, é lícito admitir que essa nhia de Jesus no reinado de D. Maria I. Não
epopéia requer estudo em que vigorem to- admitindo, neste viés, na sua materialidade
dos os seus cantos sem que se recorte, ar- textual em 1781, qualquer referência com
bitrariamente ou não, qualquer episódio vistas a um nacionalismo dito “brasileiro”
dela. Bem como não se deve admitir que, como ocorrerá quando da sua inserção, a
em um estudo sobre o Caramuru, não se partir do século XIX, na crítica literária.

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e primeiro provincial desta provincia , com sua vida, e morte digna de memoria: e algumas noticias antecedentes
curiosas, e necessarias das causas daquelle estado. Lisboa, na officina de Henrique Valente de Oliveira Impressor
DelRey, N.S, anno M.DC.LXIII.
VERNEY, Luis Antônio.Verdadeiro Método de Estudar, para ser útil à república e à igreja: proporcionado ao estilo e
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