SÁBADO, 16 DE ABRIL DE 2011
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debates
“Não é possível concorrer
com a China, Rússia ou
Índia, onde os encargos
sociais são quase a
metade do Brasil”
IVES GANDRA MARTINS
TRIBUTARISTA
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ESPECIAL
Artigo de Raí gera
debate sobre Copa
Publicado ontem na série espe-
cial Debates, de O VALE, o arti-
go do ex-jogador Raí abriu
uma discussão entre os leito-
res sobre as obras da Copa de
2014. “As obras da Copa estão
atrasadas e só serão alavanca-
das com dinheiro federal”, dis-
se leitor Heitor Marques. “É
mesmo necessário termos
uma Copa do Mundo no Bra-
sil?”, perguntou Íris Silva. !
Painel do impostrômetro em São Paulo; placa para contagem de impostos foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, em parceria com a Associação Comercial de São Paulo
SEU BOLSO OPOSIÇÃO APONTA: GOVERNO FOGE DA REFORMA TRIBUTÁRIA
Brasileiro paga muito imposto
Impostômetro aponta:
brasileiro já pagou mais
de R$ 401 bilhões em
impostos em 2011; valor
é considerado alto para
países do mesmo porte
EDUARDO CARVALHO
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
Até às 20h de ontem, o
Impostômetro, medidor que
simula a quantidade de tribu-
tos pagos pelo brasileiro,
apontava a arrecadação de
R$ 401,5 bilhões de impostos
no país em 2011.
O instrumento, criado pe-
lo Instituto Brasileiro de Pla-
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SEU BOLSO DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTOS É UM CAMINHO RELEVANTE PARA O BRASIL
Um pequeno debate
sobre reforma tributária
Guerra fiscal, excesso de tributos e legislação complicada ajudam país a ser o paraíso dos impostos
IVES GANDRA MARTINS
ESPECIAL PARA O VALE
A primeira revolução tribu-
tária no Brasil deu-se com a
edição da E.C. n. 18/65, do Có-
digo Tributário Nacional em
1966 e da Constituição de
1967. Sistematizou-se o novo
ramo do direito, com normas
hierarquizadas. Assim é que à
maior explicitação do sistema
pela Constituição, correspon-
deu a criação de uma lei --com
eficácia de lei complementar--
destinada a ordenar a legisla-
ção dos entes federativos.
Em 1988, a Constituição Fe-
deral, promulgada em 5 de ou-
tubro, conformou de vez uma
ordem tributária --dividida em
seis partes, cinco no sistema
tributário propriamente dito e
uma na ordem social.
Tão logo promulgada a Lei
Suprema começaram críticas,
não à parte principiológica,
mas à dos tributos em espécie,
projetos tendo sido apresenta-
das pelos governos Collor, Ita-
mar, FHC e Lula. Nenhum de-
les logrou êxito. Atribuo os
fracassos ao fato de tais proje-
tos trazerem conformações
globais do sistema, gerando ca-
deia de anticorpos no parla-
mento contrária à aprovação.
nejamento Tributário, alerta
para uma situação preocupan-
te: a demora de uma reforma
tributária pode custar ainda
mais caro para o cidadão.
De acordo com especialis-
tas em direito tributário, desde
1990 ocorreram três propostas
fracassadas de modificação na
forma de cobrança e repasse
dos impostos no país.
“Quando falam que vão tirar
um imposto para aliviar o bol-
so do contribuinte, os municí-
pios ou estados reclamam”,
afirmou Fernando Aurélio Zil-
veti, doutor em direito pela
Universidade de São Paulo e
professor de direito tributário
da Fundação Getúlio Vargas.
De acordo com Zilveti, a dis-
cussão nunca chega nas for-
VOCÊ JÁ LEU & VAI LER AINDA:
dia 5 mudanças climáticas
dia 6 quanto vale um vereador?
dia 7 a crise da escola pública
dia 8 desafios do Litoral Norte
Os principais problemas, en-
tão, detectados, disseram res-
peito ao princípio da não-
cumulatividade, complexida-
de fiscal, guerra fiscal entre
Estados e Municípios (ICMS e
ISS), a superposição de inci-
dências (IPI, ICMS, ISS, Co-
fins, Pis e Cides), além de ou-
tros de menor magnitude.
O fracasso de todos os presi-
dentes em reformar a ordem
tributária está levando a presi-
dente Dilma Rousseff a preten-
der promover uma reforma
segmentada --pois evitará a for-
mação de blocos contrários.
Guerra Fiscal. O maior pro-
blema reside na guerra fiscal
entre os Estados.
Um imposto de vocação na-
cional, como o ICMS, não pode-
ria ter sido regionalizado, co-
mo foi. Eis que, pelo princípio
da não-cumulatividade, incen-
tivos dados em um Estado ter-
minam refletindo, nas opera-
ções interestaduais, em ou-
tros. Em consequência, o Esta-
do que os concede oferta me-
lhores condições de competiti-
vidade às empresas estabeleci-
das em seu território em detri-
mento das que se encontram
sediadas em outros Estados.
Imagine-se uma empresa
mas de reduzir o impacto dos
principais tributos nacionais
como o ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e
Serviços) e o ISS (Imposto So-
bre Serviços). “Porque quem
mexer com isso, pode perder a
eleição”, afirmou.
Fatia. Uma das alternativas
propostas no Congresso é a
votação de uma reforma ‘fatia-
da’, com temas divididos.
A primeira proposta que se-
ria analisada se refere à
desoneração da folha de paga-
mento para empresários, uma
das reivindicações do empre-
sariado. De acordo com a
Fiesp (Federação das Indús-
trias do Estado de São Paulo),
um trabalhador com carteira
dia 9 drogas, o que fazer?
dia 10 carros & cidades
dia 12 a fila da saúde
dia 13 mulheres & poder
que não pague ICMS em sua
unidade federativa, mas gere
direito a crédito em outra. O
ICMS incidente sobre o produ-
to será apenas aquele do acrés-
cimo cobrado pelo outro Esta-
do, com o que seus produtos
ficarão mais baratos do que os
produzidos na unidade não-in-
centivada.
Propus, em audiência públi-
ca no Congresso, para termi-
SEM TRÉGUA
Os Estados não dese-
jam acabar com a guer-
ra fiscal e rejeitam as
propostas que pode-
riam extingui-la
BRASIL HOJE
A presidente Dilma vai
propor uma reforma
tributária segmentada
para evitar formação
de blocos contrários
nar de vez com a guerra fiscal
de ICMS, a introdução de ape-
nas dois dispositivos: uma alí-
quota única para todo o Brasil,
com o que se evitaria o turismo
de notas fiscais; e a proibição
absoluta de incentivos fiscais
no âmbito do ICMS.
SAIBA MAIS
k IMPOSTOS
Os principais tributos cobra-
dos no Brasil incidem sobre o
valor da renda (IR), do veículo
(IPVA), da propriedade (IPTU)
e sobre as finanças (IOF)
k SALÁRIO
A expectativa para 2011 é que
pelo menos 40% da renda do
brasileiro seja destinada para
pagamento de taxas e contri-
buições
k EM 2011
Até às 20h de ontem, o
Impostômetro indicava a arre-
cadação de R$ 400 bilhões
somente em tributos
dia 14 desafios da fé
ontem Copa & Olimpíadas
hoje paraíso dos impostos
amanhã aviação & futuro
Como os Estados não dese-
javam acabar com a guerra fis-
cal, a proposta foi rejeitada.
Tudo. Outro problema é a acu-
mulação de incidências. A
União Europeia adota um úni-
co tributo circulatório sobre
bens e serviços para todas os
Estados, o IVA (Imposto sobre
o Valor Agregado). No Brasil,
temos sobre a circulação de
bens e serviços a incidência de
variados tributos (IPI, ICMS,
ISS, Cofins, PIS, Cides), além
dos impostos regulatórios de
importação e exportação.
Uma simplificação seria in-
teressante. Talvez a criação de
um IVA nacional pertencente à
Federação, com a incorpora-
ção do IPI, ICMS e ISS --como
propus ao tempo da revisão
constitucional de 93-- e parti-
lhado entre União, Estados e
municípios.
Alemanha e Portugal têm
no IVA, no Imposto de Renda e
no tributo das corporações,
mais de 90% da receita. Nada
justifica no Brasil tal complexi-
dade, com 12 impostos, com
esferas de tributação autôno-
mas (União, Estados e municí-
pios) e, muitas vezes,
superposição de incidências,
como no IPI, ICMS e, PIS.
ARQUIVO/O VALE
O deputado federal Cândido
Vacarezza (PT): governo já
ajudou pequenas empresas
Folha. Desoneração da folha
de pagamentos é, além disso,
um outro caminho relevante,
visto que o Brasil, em encargos
sociais, bate todos os emergen-
tes e a maior parte dos países
desenvolvidos.
Não é possível concorrer
com a China, Rússia ou Índia,
onde os encargos sociais e a
carga tributária são quase a
metade do Brasil, se conside-
rarmos a média dos três países
em conjunto.
Por fim, descomplicar a le-
gislação e simplificar o sistema
é fundamental, para que não se
perca tanto tempo para cum-
prir obrigações tributárias.
Basta dizer que a média do
tempo perdido pelo empresá-
rio brasileiro por ano para cum-
pri-las é de 2.600 horas, sendo
pouco mais de 100 horas na
Alemanha, 300 horas nos Esta-
dos Unidos e, no mundo, em
torno de 400 horas. !
Ives Gandra Martins é profes-
sor emérito do Mackenzie, Ciee,
entre outras instituições. Presi-
dente do Conselho Superior de
Direito da Fecomercio-SP e da
Câmara Arbitral da Fecomercio
DIVULGAÇÃO
assinada custa 102% a mais
para a empresa devido aos en-
cargos. “Tem que eliminar o
tributo, sem criar uma reposi-
ção da arrecadação (as chama-
das contribuições sociais). O
correto é o Estado enxugar a
máquina, mas isso parece que
nunca vai acontecer. A refor-
ma fatiada não vai dar certo”,
afirmou o especialista.
Discussão. Uma nova refor-
ma foi proposta pelo ex-presi-
dente Luiz Inácio Lula da Silva,
em 2002, mas sem êxito.
De acordo com o deputado
federal Cândido Vacarezza
(PT-SP), líder do governo na
Câmara, a discussão ainda não
foi implementada no governo
Dilma Rousseff (PT). “Mas já
houve favorecimento para pe-
quenos empresários”, disse.
Para a oposição, foram ape-
nas ‘remendos’. “Acho difícil
uma reforma enquanto o gover-
no não pensar nos estados e
municípios”, disse o deputado
Vaz de Lima (PSDB-SP). !