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© ReTORNG DA socieD~ve civiL © tema da sociedade civil tornou-se 0 centro do debate cultural e politico a partir do fim dos anos 1970 no ambito da chamada “revolugio neoconservadora” ou “neoliberal”. Opondo-se ra- dicalmente concepcio do Estado enquanto “su jeito ampliado”, para usar uma expressio grams- Giana, essa discussio sustenta hoje uma “supremacia da sociedade civil” (significando tal supremacia “uma forte reivindicagio do nao-estatal”), de sua ‘maior atuagio na vida econémica, no mercado, em contraposigio a0 Estado do bem-estar 50 A partir da metade do decénio seguinte, 0 con- ceito de sociedade civil também foi fundamental para processo de redefinigso, antes de tudo culeu- ral, por parte de uma determinada esquerda ~ que, por sua conta, demonstrou a necessidade de aban- donar o paradigma incerpretativo ligado a0 concei- to de classe, Tais tendéncias triunfaram no ano de 1989, com a crise dos modelos hiperestatistas autoritirios do socialismo real com os limites de gestio governamental apresentados pelos paises socialdemocraras do Welfare Stare. A cultura da po- Iitica da diteita tornou-se preponderante, em for- ima ¢ conteddo, sobre a esquerda, Em suma, as con- cepgdes que se impdem majoritariamente denero da “esquerda’ sio de mattizes liberais e sintetica~ mente indicamos como sendo a supremacia da so- ciedade civil sobre o Estado; a superioridade do ~ Publicado originalmente em G. Petrino & MP. Musil (orgs). Mars ¢ Gramici: memoria ¢ attwalied (Roma: Manifestolibri, 2001), pp. 69-80, «rad. Tatiana Fonseca Olivcrs, Professor de hiss do pensamenta politica contemporineo 1 Universidade da Caldbia, Redator chef da revista Crtice Massa ESTADO £ SOCIEDADE CIVIL DE MARX A GRAMSCI* (Guido Liguon™ econdmico sobre o politico; do privado sobre 0 piiblico; do mercado sobre a progeamagio estat. E podemos dizer ainda, conjuntamente com Marx, do burgués sobre 0 cidadio. Na verdade, para fugit do conceito de classe, a idéia de cidadania desde entio se tornou central para essa determinada esquerda liberal. Na “teoria do individuo” (também entendido como “ser hu- mano” que faz parte de uma comunidade politica nacional), proveniente do liberalismo clissico, 0 cidadao aparece “fortficado” enquanto portador dos direitos aparentemente iguais ¢ inaliendveis. Segun- do essa esquerda liberal, a nogio néo mais compac- tua com a realidade dos fatos, pois o individuo, 0 cidadao, esté afastado de toda possibilidade de fa- zer parte de uma subjetividade coletiva ~ que, Freqlientemente, aparece privada de todas as defe- sas ¢ dos direitos provindos dos iilimos duzentos anos de luta de classe Podemos, entdo, indicar duas posi mente no iguais, ainda que doradas de legalidades conceituais politicas semelhantes: aquela neoliberal, ou liberista, de uma parte, e aquela liberal cléssica, de outra, Para a esquerda liberal (ou “neoliberal”), © conceito de sociedade civil significa hoje, sobre- tudo, L..1 0 camplexa das agdes coletivas aurénomas, corporativas, distintas do poder do Estado [..]. a sociedade civil signifiea varias modalidades de cexperiéncias das vontades dos individues, indepen: dentemente do (e frequentemente em aberta oposigio a0) pader constituido, seja este econdmica, seja politica” Vé-se com isso, como tal definigio estd evi dentemente suprimindo conecito de classe (que, Por sua ver, se encontea mascarado por baixo do Novos Runes @ Avo 21 + w 46 + 2008 termo “corporativo”). Historicamente, essa nova visio de sociedade civil estd arrelada a uma inter- pretagio “idealista” sobre o fim de alguns regimes despéticos do Leste Europeu. Se isso € compreen- sivel, nao é, porém, de certo compartilhado, A re- vogagio dos direitos do nio-politico, ou do pré- politico, de fato, quase sempre termina por promulgar os direitos do mercado. Como eserevew Marx em A questdo judaica, © homem da sociedade civil termina sempre por assemelhat-se com 0 “ho- mem egoista’, cujo egoismo chama-se “liberdade civil”, Enfin do homem visto como aqui que se privado e seu arbicrio préprio”.’ Essa ‘antropo- logia atomista” concebe uma dupla agio na socie dade civil: a “liberista", baseada sobre o mercado, como a “liberal”, fundada sobre os dircitos ¢ suas bist a propésito do tema da sociedade civil, é Antonio Gramsci, cuja critica, no sem razio, estava volta da contra 0 taylorismo (critica, inclusive, também presente em Lénin em quase todo o marxismo da época). Trentin ao rediscutir o conceito de socieda- endermos a te: gumenta que se nao compre idade cm sua dimensio deter- ante, que é a do antagonismo de classe ~ ou seja, a realidade enquanto individuos incluidos, in- cegrados, através da luta de classes na sociedade civil -, chegaremos & forma de interpretagio noto- riamente discutivel, em larga medida errénea, co por exemplo a desenvolvida por Norherto Bobbio ramsci de 1967, em seu polémico estudo sobre A respeito desse tema, encontram-se unidos: Marx, Gramsci e a socieda- de civil. A particular leieura associagdes pré-estatais, que nio considera a exis- tac clases piso ve one peso 4 por Bobbi abe « a Mea individuo, € impelida a prescindir do seu ser-em- _conccito de sociedade civil i sociedade,’ do seu ser determinado pela complexa 4 obra de Gramsci nao ‘questo judiaica, o home da rede de relagées econdmicas, sociais e politicas, Pode constituir um ponto de ae panda sobre 2 presente | SoReal ana STETe Enquamto diferente tentativa de relangar 4 eso, sendo aber» propria iaearane acne auerda 0 conccico de socicdade civil, cimos © liv nterpretagto. de Graneel spe vro de Bruno Trentin, La cittt del lavoro.’ Resumin- “homem egoisi ..] do wma velha “quer? da equerds, sobretudo do i Mtcaciou, depots de Togliatti, para a rei dos seus Cadernos do cdreere na Itilia ¢ no mundo, séeulo XX, a favor ¢ contra Lénin ¢ 0 leninismo, epgio Trentin ~ se é de fato reproduror de alguma tese propria das correntes teéricas minoritérias do. mo- vimento operirio © comunista de Novecento de Dito de forma extremamente sintética,” sem Luxemburgo a Korsch -; lendo-os como notas de sustentar as divergincias de Gramsci a respeito de tum ponco de vista socil-politico (onde, talver em Mars, Bobbio nao argumenta de forma profunda meio a essa polémica é evidenciado pela primeira ver esse rermo), acaba opondo-se a um ponto de” Eo sto dé Cagis de 1967 “La sce civil in Grama vista de uma praxis, sobretudo politico-estatualisa ucts de scedade cn, rad. por Caras Nchon Coxtisho Um dos aucores que Trentin usa muito em sua obra Rio de Jancios Gel, 1982) Ano 21 + 10 46 + 2006 @) Novos Rumos 05 motivos de “autonomia” inter- pretativa gramsciana (0 que tem sido muito destacado) no que diz. respeito as tadigbes marxiseas, principalmen- te em relagio 4 particular acepgio do conceito de sociedade civil. Seman- ticamente, 0 raciocinio de Bobbio & 6 seguinte: seja para Marx, sea para Gramsci, a sociedade civil é 0 “ver- dadeiro teatro da historia” (a célebre expresso de Marx usada na Ideolo- ‘gia alema). Mas, para primeiro, ssa fax parte do momento estrutural, € para o segundo faz parte do superestrutural: para Marx o “teatro da histéria” & a estrutura, a econo: mia; para Gramsci, a superestrucura, a cultura, 0 mundo das idéias Mas as coisas esto verdadeiramente postas des sa forma? A sociepabe civi De Marx Liberemos 0 campo de um problema prelimi- nat, Wolfgang Fritz Haug, em uma intervengio fei- ta em 1989," indica que tem constatado freqiientes leicuras bobbianas na obra de Gramsci e Mars. Sus- tenta 0 autor que é errado eradurir a expressio burgerliche Gerellchaft como “sociedade civil”, certo seria traduzi-la como “sociedade burgues:’ Como € notério, as expressies alemas encontram se na sua maioria unidas, 0 que em quase todas as ‘outras linguas (de origem latina) estéo separadas. Essa ambivaléncia seméntica assinala 0 resto de uma verdade histérica: ndo se tem realmente uma “soci- edade civil” antes da sociedade burguesa? Mas em que sentido deveria ser compreendida 4 passagem em que Marx nos diz, no seu célebre “Preficio”, de 1859, de Para critica da economia politica, que [2] tanto as relagoesjurdicas quanto as relagdes do Estado [..] tém suas préprias raizes, antes nas relagdies materiais de cxisténcia © cujos camplexos vém abrangenda o que Hegel, eguindo o exemplo dosingleses cedos franceses no sé XVII, chama de “sociedade burguess"” ao invés de “sociedade civil”, como se é de hébito traduzir? A que acepgio “seguindo 0 exemplo dos in- gleses dos franceses” Marx, 20 ex- Por seu modelo tedrico, esti se refe- rindo? Nao poderia ser outra senao aquela historicamente (in)deter- minada, aquela civil society concei- tualizada na Gra-Bretanha e na Fr «a cuja referencia foi diversas vezes explicitada. Além do mais, as pala- vras que vém logo depois no rexto de Many (de que a anatomia da socieda- de civil é encontrada na economia Toot politica) sé certamente muito ambivalentes para o problema que estamos enfien- tando; isso porque a “sociedade civil” pode ser tam- bem substituida por “Sociedade burguesa”, mas a tradugio que prevalece provém da frase marxiana imediatamente precedente. Valentino Gerratana assinala em nota de sua edigio critica dos Cadernos que Gramsci também titubeou nos seus exercicios de tradugées em rela~ sao & passagem do entio “Preficio” de 1859 de Marx. Gramsci possuia no primeiro tempo a se- guinte tradugio “[...] agambarca com 0 nome de sociedade burguest, que porém a anatomia da s0- ciedade burguesa ¢ encontrada na economia politi ca." No segundo momento, segundo revela Gerratana, Gramsci passou a cancelar a palavra “burguesi” ¢ a substituiu por “evil” De modo geral, nio parece possivel traduzir, nesse tipo de contexto, birgerliche Gesellchafi como ‘sociedade burguesa". Para o italiano (e as linguas latinas), a expressio “sociedade burguesa” vem sen- do compreendida, seja na sua relagio com o Esta- do, seja com relagies extra-estatais. Termo inade- quado, portanto, para compreender a contraposicio insticuida por Marx entre as “formas do Estado cujas “raizes” so mais profundas. A “sociedade ci- vil” é um termo que deriva do latim societa civil (cradugées medievais do rego Koinomia politikd tum longo trabalho de depuragio his- através de série, foi passido a indicar a voters civilis sine imperio, distinea daquela cum imperi, isco & 0 Estado. Voltemos a Marx. & possive ob- servar que o tema “sociedade civ sua relagao com o Estado constitui uum dos seus temas centrais na época Novo Rumos Q) Avo 21 + 90 46 + 2006 nna sua obra de juventude. Na sua /n- sroducto 2 critica da filoofia do di- reito de Hegel (de 1843), Marx ~ se- guindo o procedimento aplicado por Feuerbach & ertica da religiio ~ abre © combate da relagio entre sujeto € predicado e afirma que em Hegel o sujelto é o Estado e o predicado € a sociedade civil, Sé que na tealidade demonstra o autor de O capital que isso procede no ambito real de for- ma inversa 0 sujeito & a prépria so ciedade civil. Escreve Mare que a familia 4 sociedade civil so os pressupastos do Estado, so esses propriamente os momentos eetvos, ou sj © meio eo fim. Nas especulagbes idealists isso foi concebido de forma contri, a ida foi transformads ‘em sucio, ali os sujito resis, sociedade civil, a farilia [1] foi se cornando os momentos objetivos da ila, Bobbio tem razéo quando afiema que em Marx © Estado ¢ 0 “[..] momento secundério ou subor- dinado & sociedade civil”. Essa posigao, que emerge desde 1843, seri defendida continuamente no per- ‘curso marxiano. Em /deolegia alemia, por exemplo, afirma que a “sociedade civil é o verdadeiro lar, 0 teatro de toda histéria’s é também, no ja citado “Preficio” de 1859 de Para erttica da economia poli rica, onde Marx escreve sobre a infludncia de Hegel nos anos de 1843-1844 e como desenvolveu, a par- tir do autor da Fenomenologia do expirto,"* a sua nogio de sociedade civil Na obra de Marx, todavia, € possivel encon trar elementos que indicam uma leitura mais com- plexa da dicoromia entre Estado x sociedade civil Uma leitura em parte diversa, que nfo pode negar 0 “avesso” operado por Hegel, mas problematizar seja o conceito de sociedade civil (e dos contetdos com os quais esse se nutre), seja a inteira valoriza- fo da separagio sociedade-Estado. Além do. mais © termo “sociedade” acena para uma questio terminolégica que merece ser indagada melhor: 0 fato € que Mars, na maturidade e na sua grande obra Critica da economia politica (O capital, nao usar mais “sociedade civil”, abandonaré totalmen. te 0 termo, preferindo usar “sociedade” tout court A respeito do termo “sociedade civil", Gerrara- na discutindo ~ e fazendo uma réplica a0 préprio. Bobbio ~ diz que nio é de todo verdadeiro que tal conceito em Marx agambarca somen- ceo momento da estrucura. Em A questio judaica, de 1843-1844, por exemplo, escreve © autor: Este confito mundane [..] 2 relagio do Estado politico com seus pressupostas, 40 por seus elementos materiais como a propriedade privada ete. ou espiituas, ‘como cultural, rcligio [.] a cso entee 0 Estado politica ¢ a sociedade civil, a eses contrastes mundanos, Bauer deixa subs- Os "pressupostos” do Estado, isto & 0 que precede o Estado sio tanto os elementos materiais quanto os elementos espirituais e culeu- nais, E, ainda, na mesma obra, s6 que mais adian- te, Marx indica como partes consticutivas simples da sociedade civil “[..] de um lado os individuos, do outta os elementos materiais espirituai Em outro caso, advoga Gerratana, referindo-se a0 “Preficio” de 1859, que quando Marx escreve que a “anatomia da socieda- de civil €encontrada na eco- nomia politica’, nao se vé por que se deva identificar a parte com 0 todo, isto & com a estrutura, Por conse- guinte, a “anatomia” da sociedade civil com os ele- mentos que essa estrurura sustenta € que nio sio suas fungées especificas."" Sabe- mos que esses elementos es- io na sociedade civil de Marx, sejam eles estrutue ras, sejam superestruturais, sendo estes tltimos (os superestrucurais) os centras. De modo geral, acredito que a dicotomia em (0 — para Marx ~ € propria da modernidade, q ou seja, mente, ou francamente sobreposta, ela indica a dicotomia entre burgués e cidadao, critcando-a em nome de uma sintese e de uma recomposicio supe- rior. Marx por isso nao se limita a inverter @rela- propria da sociedade burguesa; paralela «io Estado-sociedade hegeliana, mas se ope a essa tese; critica a dicotomia ante a esfera publica ¢ a privada, refuta 0 confinamento do politico no Esta- do e do socioeconémico na sociedade, mostra como © poder (¢ a polit bos os momentos.” E essa concepgio dialética que a) é a propria mediagao de am- ‘Ano 21 + 50 46 + 2006 @ Novo: Rumoe Emideologizabé, porexemplo, arma quea“sociedade chil Goverdadeiro lar, o teatro detoda historia” a “unidade real” & formada pelo Estado ¢ pela soci- edade, Um ao menos recordaremos. Trata-se do pa- rigrafo 38 do Caderno 4: ainda o liga a Hegel. E essa mesma dialética que também rastrearemos em Gramsci Em outros termos, tata-se de apreender as li mitagées das letras mecanicistas da relagio estru- tura-superestrutura da obra de Marx. Gramsci, contrariamente, soube rein- [1] se especula [.] sobre 4 distingso entre sociedade politica © sociedade civil e se afiema que a atividade econdmica é prépria da sociedade civil ea sociodade politica nao deve intervi na sua eegulamentagio. Mas, SS) tetpretar no sentido antide- EmBobbio,aesiuiuraea terministico a clissica pas- Wilda, ca dingo ¢puramentemetodogis, seer Gg deksesings) Mssmoaginic. Neconcren via hte, sci superestutura parecer gem (aqui refering) tiiren mci el oo anteame cobs De cele : dlo “Preficio” de 1859. De- também oliberaism deve ser intwodusido po le, pla Geterrinar uma.aoura vemos nos preocupar em pun inervia saber mo pode pico” | apontar as redugGes de uma eens | concepgio cujas determina- Existe ainda menos uma separagio rigida entre eterminaasuperestuturae | cs em iltima instincia de economia, politica c sociedade, Estado e sociedade ‘snares ). um e dos dois termos (es- nao sio realidades auténomas, a ideologia liberal ‘rutura ¢ superestrutura) es tejam ligadas forte ¢ imedi- atamente a um dinieo nivel da realidad: “teatro de toda histéria’, Em Bobbio, 4 estrutura € a superestrucura parecem determinar uuma a outra (s6 que para Mars a estrutura determi- rna a superestrutura € em Gramsci, 0 conteério) Na leitura de Bobbio, Gramsci soube atualizar Marx. No entanto, essas instancias (ou melhor, os elementos estruturais ¢ superestruturais) nao sto concebidas como momentos de unidade (e de au- tonomia), de agdes recfprocas entre os diversos ni- veis da realidade, préprios da concepgio dialética, como ¢ indicado por Gramsci. E como penso que seja a concepgio de Marx. Gramsci? UMA coNcercaa DIALETICA Nox Cadernos da edrcere, 0 discurso complica se ainda mais. Para melhor dizer, coma invidvel a tentativa de se ler essa obra de Gramsci, tio com- plexa ¢ rica, com os instrumentos categoria rigi- damente dicotdmicos indicados por Bobbio. Jé em Cagliari, em 1967, Jacques Texier fer objesies a Bobbio em meio a sua defesa de que *|..J 0 con- ccito fundamental de Gramsci nio € 0 da sociedade civil, mas o de ‘bloco histérico’”.®” O que quero advertir — como jé foi lembrado por Togliaeti dee anos antes, recuperando uma afirmagio expliciea de Gramsci ~ é que a distingio entre Estado e soci edade civil € de naturera metodol6gica € nao orgi- nica, itagdes possiveis dos Cader- nos, no entanto, € possivel afirmar que em Gramsci 10 muitas as {que 0s pinta como tais € explicitamente negada. Daqui nasce 0 conceito central nos Cadernos de “Estado ampliado/maximizado” Estrutura © superestrutura, economia, politi € cultura sio para Gramsci esferas unidas e a0 mes- ‘mo tempo autdnomas da realidade, Por isso mes- mo ha pouco sentido em contrapor a sociedade vil de Marx, momento, sobretudo, das relagdes econémicas, com a sociedade civil de Gramsci, onde prevalecem as relagbes politico-ideol6gicas. Gramsci, no momento que delineia alguns aspec- tos da sociedade civil, o faz sempre a partic de Marx es (pré-requisitos de sua concepcio dialética). Esforcar-se em ir adiante, registrando na teoria, como jf exposto, a nova forma de interven- io cultural e politica na histéria. Um dos pontos centrais do marxismo de Gramsci é, de fato, este de nao separar de modo hipostasiado alguns aspec- tos do real (economia, sociedade, Estado ¢ cultu- ra). Bobbio, cuja teoria politica é fortemente dicotdmica € procede por dualidades opositivas, defende como central no pensamento de Gramsci a dicoromia Estado-sociedade civil, negando, assim, © que no autor dos Cadernos & 0 mais importante: a nao separagio, ou seja, a unidade dialética entre politica e sociedade, entre economia ¢ Estado. Hoje, lamentavelmente, pode-se talver dizer que 0 con- ceito de sociedade civil tem uma nova acepgio, tem tum distanciamento daquele que encontramos ge- nuinamente em Gramsci (como, por exemplo, os limites idealistas das leituras liberais que sio feitas dos Cadernos, majoritirias no debate norte-ameri- cano). Contudo, podemos ainda afirmar que “Gramsci é o primeiro ¢ mais importante marxista ce de suas Ii Novos Runos @ Aro 21 = 146 + 2006

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