Você está na página 1de 8

CAPÍTULO 8

ASSEMBLAGEM DE ELEMENTOS FINITOS

No Capítulo 3, foi apresentado com detalhe o caso da assemblagem de barras em


problemas unidimensionais. Neste capítulo apresenta-se de um modo sucinto a
adaptação da técnica já descrita ao caso dos elementos finitos com mais do que dois nós
e mais do que um grau de liberdade por nó [8.1].

8.1 - Simbologia

Apresenta-se em primeiro lugar a simbologia adoptada na descrição da assemblagem de


elementos finitos.

Tabela 8.1 - Simbologia relativa à assemblagem de elementos finitos.

x Coordenada cartesiana

a Deslocamentos nodais, nos graus de liberdade da estrutura, no referencial geral

ag Deslocamentos nodais, nos graus de liberdade do elemento finito, no


referencial geral

K Matriz de rigidez da estrutura no referencial geral

Kg Matriz de rigidez do elemento finito no referencial geral

F Forças nodais equivalentes à acção exterior, nos graus de liberdade da estrutura,


no referencial geral

Fg Forças nodais equivalentes à acção exterior, nos graus de liberdade do elemento


finito, no referencial geral

145
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

8.2 - Assemblagem da matriz de rigidez global e do vector solicitação

Depois de calculadas as matrizes de rigidez de todos os elementos finitos no referencial


geral ( Kg ), é necessário proceder ao cálculo da matriz de rigidez global da
estrutura ( K ). Uma operação semelhante tem de ser efectuada com os vectores
solicitação dos diversos elementos finitos.

A assemblagem das matrizes de rigidez dos diversos elementos finitos na matriz de


rigidez global é em seguida apresentada com base no exemplo da Figura 8.1.

a2 a4 a6
a1 a3 a5
1 2 B 3

A
a8 a10 C a12
x2
a7 a9 a11

4 5 6

x1

Fig. 8.1 - Estrutura constituída por um elemento de 4 nós (A), um elemento de 2 nós (B) e um
elemento de 3 nós (C).

A estrutura representada na Figura 8.1 tem seis nós (1 a 6) e três elementos finitos (A, B
e C). O elemento A tem quatro nós, o elemento B tem dois nós e o elemento C tem três
nós. Em cada nó existem dois graus de liberdade. Em correspondência com os doze
graus de liberdade da estrutura existem doze deslocamentos nodais ( a ) e doze forças
nodais equivalentes à acção exterior ( F ).

146
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

 a1   a11   F1   F11 
 a  a   F  F 
 2   12   2   12 
 a3   a21   F3   F21 
       
 a4  a22   F4   F22 
 a5   a31   F5   F31 
       
 a  a   F  F 
a =  6  =  32  F =  6  =  32  (1)
a a F F
 7   41   7   41 
 a8  a42   F8   F42 
 a  a   F  F 
 9   51   9   51 
a10  a52   F10   F52 
       
 a11   a61   F11   F61 
a12  a62   F12   F62 

De acordo com (1), nas considerações que se seguem é adoptada a numeração dos graus
de liberdade de 1 a 12.

Na relação de rigidez correspondente à estrutura

Ka=F (2)

a matriz de rigidez global ( K ) é uma matriz 12x12.

Nas Figuras 8.2, 8.3 e 8.4 encontram-se representados os elementos finitos que vão ser
assemblados e a respectiva numeração local (nós e graus de liberdade).

a8 a6
a7 a5
4 3

A
a2 a4
a1 a3

1 2

Fig. 8.2 - Numerações locais do elemento finito de 4 nós (A).

147
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

a2 a4
a1 a3
1 2

Fig. 8.3 - Numerações locais do elemento finito de 2 nós (B).

a6
a5
3

a2 C a4
a1 a3

1 2

Fig. 8.4 - Numerações locais do elemento finito de 3 nós (C).

São as seguintes as matrizes de rigidez dos três elementos finitos no referencial geral

 A11 A12 A13 A14 A15 A16 A17 A18 


A A22 A23 A24 A25 A26 A27 A28 
 21 
 A31 A32 A33 A34 A35 A36 A37 A38 
 
A A42 A43 A44 A45 A46 A47 A48 
K g =  41
A
Elemento A: (3)
 A51 A52 A53 A54 A55 A56 A57 A58 
 
 A61 A62 A63 A64 A65 A66 A67 A68 
 A71 A72 A73 A74 A75 A76 A77 A78 
 
 A81 A82 A83 A84 A85 A86 A87 A88 

 B11 B12 B13 B14 


B B22 B23 B24 
K g =  21 
B
Elemento B : (4)
 B31 B32 B33 B34 
 
 B41 B42 B43 B44 

148
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

C11 C12 C13 C14 C15 C16 


C C22 C23 C24 C25 C26 
 21 
C C32 C33 C34 C35 C36 
K g =  31
C
Elemento C :  (5)
C41 C42 C43 C44 C45 C46 
C51 C52 C53 C54 C55 C56 
 
C61 C62 C63 C64 C65 C66 

Atendendo à numeração global dos graus de liberdade indicada na Figura 8.1 (1 a 12),
as matrizes de rigidez dos elementos finitos passam a ser

 A77 A78 A75 A76 0 0 A71 A72 A73 A74 0 0


A A88 A85 A86 0 0 A81 A82 A83 A84 0 0
 87 
 A57 A58 A55 A56 0 0 A51 A52 A53 A54 0 0
 
 A67 A68 A65 A66 0 0 A61 A62 A63 A64 0 0
 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
K =
A
(6)
 A17 A18 A15 A16 0 0 A11 A12 A13 A14 0 0
 
 A27 A28 A25 A26 0 0 A21 A22 A23 A24 0 0
 A37 A38 A35 A36 0 0 A31 A32 A33 A34 0 0
 
 A47 A48 A45 A46 0 0 A41 A42 A43 A44 0 0
 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
 
 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
 
0 0 B11 B12 B13 B14 0 0 0 0 0 0
 
0 0 B21 B22 B23 B24 0 0 0 0 0 0
0 0 B31 B32 B33 B34 0 0 0 0 0 0
 
0 0 B41 B42 B43 B44 0 0 0 0 0 0
K =
B
(7)
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

149
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 C55 C56 0 0 C51 C52 C53 C54 
 
0 0 0 0 C65 C66 0 0 C61 C62 C63 C64 
K =
C
0
(8)
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
0 0 0 0 C15 C16 0 0 C11 C12 C13 C14 
 
0 0 0 0 C25 C26 0 0 C21 C22 C23 C24 
0 0 0 0 C35 C36 0 0 C31 C32 C33 C34 
 
0 0 0 0 C45 C46 0 0 C41 C42 C43 C44 

De acordo com o que foi exposto no Capítulo 3, a matriz de rigidez global é a soma
de (6), (7) e (8), resultando

K =K +K +K =
A B C

 A77 A78 A75 A76 0 0 A71 A72 A73 A74 0 0 


A A88 A85 A86 0 0 A81 A82 A83 A84 0 0 
 87 
 A57 A58 A55 + B11 A56 + B12 B13 B14 A51 A52 A53 A54 0 0 
 
 A67 A68 A65 + B21 A66 + B22 B23 B24 A61 A62 A63 A64 0 0 
 0 0 B31 B32 B33 + C55 B34 + C56 0 0 C51 C52 C53 C54 
  (9)
 0 0 B41 B42 B43 + C65 B44 + C66 0 0 C61 C62 C63 C64 
 A17 A18 A15 A16 0 0 A11 A12 A13 A14 0 0 
 
 A27 A28 A25 A26 0 0 A21 A22 A23 A24 0 0 
A A38 A35 A36 C15 C16 A31 A32 A33 + C11 A34 + C12 C13 C14 
 37 
 A47 A48 A45 A46 C25 C26 A41 A42 A43 + C21 A44 + C22 C23 C24 
 0 0 0 0 C35 C36 0 0 C31 C32 C33 C34 
 
 0 0 0 0 C45 C46 0 0 C41 C42 C43 C44 

Em correspondência com os graus de liberdade indicados nas Figuras 8.1 a 8.4, têm-se
as forças nodais equivalentes às acções exteriores sobre a estrutura. Assim, e de acordo
com o que foi exposto no Capítulo 3, são os seguintes os vectores solicitação
correspondentes a cada elemento finito, atendendo à numeração global da estrutura

150
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

 F7A  0  0
 A 0  0
 F8     
 F5A   F1B   0
 A  B  
 F6   F2   0
0  F3B   F5C 
   B  C
F =  A
F F
F = 4  F = 6 
A 0 B C
F  (10)
0  0
 1A     
 F2  0  0
F A  0  F1C 
 3A     C
 F4  0  F2 
0 0 F C 
     3C 
 0   0   F4 

O vector F é a soma destes três vectores

 F7A 
 A 
 F8 
 F5A + F1B 
 A B
 F6 + F2 
 F3B + F5C 
 B 
 F4 + F6C 
F =F +F +F =
A B C
 FA  (11)
 1

 F2 
A

F A + F C 
 3A 1

 F4 + F2 
C

 FC 
 3 
 F4C 

A relação de rigidez correspondente à totalidade dos graus de liberdade, no referencial


geral, é a seguinte (ver o Capítulo 3)

(K A
+K +K
B C
)a (
= F +F +F
A B C
) (12)

Ka=F (13)

151
Assemblagem de Elementos Finitos - Álvaro F. M. Azevedo

Depois de acrescentar a (13) as condições de apoio (ver o Capítulo 3), é possível


resolver o sistema de equações lineares que daí resulta e obter os deslocamentos
segundo todos os graus de liberdade da estrutura.

8.3 - Considerações finais

Neste capítulo foi apresentada a assemblagem da matriz de rigidez global com base no
armazenamento de todos os seus termos. A matriz de rigidez global apresenta uma
distribuição de termos particular, que, quando devidamente explorada, conduz a
significativas economias de recursos informáticos, nomeadamente a redução do número
de operações de cálculo e a diminuição da quantidade de memória consumida. A
característica mais simples de explorar é o facto de a matriz de rigidez global ser
simétrica, evitando-se assim o cálculo e o armazenamento dos termos do seu triângulo
inferior, bem como todas as operações de cálculo que sobre eles teriam de ser
efectuadas. Considerando apenas os termos do triângulo superior, é ainda vantajoso
atender ao facto de muitos desses termos serem nulos. O critério de selecção da técnica
de armazenamento dos termos da matriz depende do método que vai ser usado para
resolver o sistema de equações. As técnicas de armazenamento mais comuns são as
seguintes: armazenamento em semibanda de largura constante, armazenamento em
semibanda de largura variável, armazenamento em skyline e armazenamento
esparso [8.2].

BIBLIOGRAFIA

[8.1] - Zienkiewicz, O. C.; Taylor, R. L. - The Finite Element Method, Fourth Edition,
McGraw-Hill, 1988.

[8.2] - Cook, R. D.; Malkus, D. S.; Plesha, M. E.; Witt, R. J. - Concepts and
Applications of Finite Element Analysis, Fourth Edition, John Wiley & Sons, Inc.,
2002.

152

Você também pode gostar