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Copérnico: o governo tem que se justificar para o povo – Hobbes, Locke, Rousseau.
Freud possui um pensamento nascido dos sinais de ruptura com a modernidade. Nós,
que somos pós-modernos, qual o pensamento ético para esse momento?
Lacan fala muito de história em seu seminário sobre a ética. Porque a ética se
transforma no tempo, porque o modo de nos relacionarmos com os outros e com o
mundo se transforma no tempo. O sistema de valores se transforma.
O que pretendo fazer aqui, tarefa pouco modesta é percorrer os estágios da história da
humanidade até chegar no hoje, no agora, dessa saída de pandemia.
Fase anal: relação com o Outro por meio de um objeto de troca – o cíbalo. Dom e
contradom, aliança: as estruturas elementares do parentesco de Lèvi-Strauss.
Ritual xamânico e a catarse: nossos corpos são inscritos por significantes, entre o
psíquico e o somático, a pulsão. O ritual trabalha nesse domínio – ritual da parturiente,
rituais de iniciação.
O corpo como resposta arcaica. Exemplo do bebê – desenvolve uma febre patológica;
exemplo da histérica – desenvolve uma resposta somática. Como o desenvolvimento
dessa resposta teve um contexto, é possível buscar o significado do sintoma. Lacan no
Seminário 20 diz, os pais produzem a neurose, a psicanálise reproduz a neurose – tenta
encontrar mediação, um meio de manipulação da pulsão.
A catarse é uma significação que ocorre a nível libidinal de algo que só existia em
estado latente – a poética em Lacan: quando a interpretação surte efeito, a verdade se
revela em seu ser poético – o poema ou verso é a palavra que ressoa na alma.
A transgressão do tabu é sentida por toda a tribo – conforme aponta Freud. Qualquer ato
transgressor deve ser reintegrado no campo simbólico coletivo.
Mito faz enraizamento social – o análogo hoje é a ideologia; o neurótico é aquele que de
algum modo não participa de uma ideologia.
Superego: severidade do Pai – um jeito de não deixar a pulsão livre. Aquilo que é o
pecado original que nos vincula à Lei.
É nesse estágio que temos algo como a moral. No totemismo a tribo funciona como um
espaço simbólico coletivo e único, a transgressão do tabu é uma ameaça para toda a
comunidade, é o campo simbólico que ameaça desintegrar caso não seja sanada a
transgressão. Aqui temos um vínculo íntimo com o Pai, esse vínculo é o vínculo da
culpa ou da Lei, e onde há culpa há pressão moral. Na tribo a energia livre virava
narrativa e ritualística coletiva, aqui, vira pecado e superego.
O ritual mais esclarecedor desse estágio é o ritual jurídico: que nega o crime como
negação da comunidade, ofensa ao Pai ou Rei – rituais de suplício de Foucault.
O falo circula, não é fixo como no campo do mestre. Fetiche das mercadorias e não
mais fetiche entre pessoas, que são todas iguais. O mundo agora se mede, se quantifica,
os atores trocam de posição, o Rei não, é definido pela linhagem real. Koyré: o universo
não é mais hierárquico (ensaios sobre Copérnico e Newton).
A psicanálise é compartícipe da ciência, porque ela não dá sentido ao mundo, não é uma
visão de mundo.
Ética da psicanálise
Tensão entre o geral e o particular – nada preparado nem no microcosmo, nem no
macrocosmo para a felicidade.
3 ideais que Lacan comenta no seminário sobre a ética: amor – baseado em Eros e na
fase genital da psicanálise inglesa; autenticidade – baseado na liberdade ou não
alienação do sujeito, no sujeito cartesiano, ego independente da psicanálise americada;
profilaxia – estar preparado para lidar com tudo, Winicott é um dos alvos aqui.
Freud: quanto mais a civilização avança, mais há renúncia pulsional – tese de o mal-
estar na civilização. Essa tese deve ser lida como a falta de um ambiente simbólico onde
essas pulsões encontrem ligação. Daí uma definição de pulsão como energia não ligada.
Essa energia não ligada vai pra onde? Ela se expressão de modo cifrado como sintomas,
é uma atividade arcaica, corporal ou mítica. Daí outra definição de pulsão: ela sempre se
realiza.
Qual ética da psicanálise
A psicanálise não surgiu para propor uma ética, mas como um discurso novo sobre o
homem. A pergunta a ser feita é: qual a ética compatível com essa concepção de
homem? Sujeito cartesiano – ética kantiana; sujeito dos prazeres – ética humeana;
sujeito maximizador de vantagens – ética benthaniana. Nenhuma dessas concepções
pode ser a da psicanálise.
A causa atribuída à realidade sexual do sujeito é, por conseguinte, traumática no que ela
excede, pelo continuum do gozo não cifrável, à determinação significante constitutiva
do sujeito. Diversamente do deciframento analítico, pelo qual o analisante é enviado aos
determinantes ocultos do seu discurso, a interpretação correta deve incidir sobre a
instância traumática do non-sens, ou seja, sobre a tuxn [sorte] sexual da qual o sujeito,
tendo se constituído como resposta, não poderia fixar a significação.
O que a psicanálise nos ensina, com relação a isto, é que a causa do sentido não é senão
o próprio desejo. O desejo causa o sentido, e o que causa o desejo? O objeto pra sempre
perdido.
Um bom dogma ou tabu ou código libera o sujeito de ter que elaborar uma resposta
neurótica. Porque o sujeito moderno é centrado no eu e carente de ser – não encontra
seu fundamento no mundo. As formações sociais libertam os sujeitos de terem que
construir uma neurose.
Visão da psicanálise
A psicanálise ocupa o lugar deixado vazio pelo Bem supremo – a substância da
psicanálise se dá com a perda das coordenadas, isto é, o gozo. O significante inscrito
como letra é homólogo à letra das fórmulas físicas.
Religião, tradição: existem para lidar com o desamparo – evitar o pânico original.
Modernidade: cada pessoa é levada a ter um contato com um número cada vez maior de
estranhos. É seu ethos, a sua morada à qual ele se apega, que é questionada com o
nascimento ela cidade. (por isso a ética nasceu na Grécia, ela não era um império, que
tem moral, mas: a) adquiria cultura do império, b) era cosmopolita, várias cidades,
portanto, não formava uma ordem fechada.
HEGEL: A guilhotina se torna então a grande igualizadora da Razão, científica, da qual
ela é o traçado materializado. Matar o pai, em ato! É chocante, matou-se o totem, a
representação mística do Pai.
'Porque sofremos, reconhecemos termos errado", traduz Hegel o verso 916 de Antígona.
Freud falava também sobre levar uma vida além das hipocrisias e das inibições. Ética do
deixar falar – psicanálise. Melhor falar em nome do id do que permitir que ele fale
através de mim.
A psicanálise trata do sujeito dividido, não entre razão e emoção, corpo e mente, mas
entre o eu e o Outro, lugar de onde o sujeito é determinado sem que o eu tenha controle
sobre isso.
Seria talvez mais exato concluir, na linha deste argumento, que o recalque incide menos
sobre a representação dita insuportável do que sobre o próprio sujeito. Porquê, nós
preferimos aceder ao Outro do que a nós, porque aceder ao Outro também é gozo –
ganho secundário, mais-de-gozar: a pulsão sempre orienta. O Outro amparava na época
de Freud, hoje mais-de-gozamos no campo do Outro.
Mas porque abandonamos o gozo? Porque o mundo andou mais rápido que nós.
Renúncia pulsional.
a vida não tem sentido em produzir um covarde. Os pacientes ficam mais corajosos
(paciente que contou pro pai que é lésbica)
Um pouco sobre sublimação
A sublimação representa o desejo para o desejo e o sujeito para o Outro. O sujeito como
intercessão entre o real e o simbólico.
A sublimação tem um alcance próprio, pois ela nos permite enfrentar a falta-a-ser.
30. Por meio da Lei moral se presentifica o real (que está além da Lei, o qual a Lei dá
contorno).
Metapsicologia
43. Princípio do prazer cria um trilho, se inscreve como experiência. 276. Inconsciente:
é uma memória que se esquece!!!
71. Processo primário: coisas mudas – mas que têm relação com palavras.
Segundo: pensamento-ficção e seu outro lado da moeda, percepção-realidade.
62. O homem lida com pedaços escolhidos da realidade. 78-79. Nisso tudo, trata-se de
reconstruir uma forma.
70. Ding: fora-do-significado. 80. A coisa não é boa nem má, está além. 84. A Mãe é
das Ding. 85. Realização do incesto é o fim do mundo. 87. A Lei regula a distância
entre sujeito e das Ding – 10 mandamentos.
1ª- Identificação primária (I), amor apoio – amar a Deus sobre todas as coisas;
4º - ficção social;
5ª - Ideal do Eu;
155. No nosso arranjo, o Trieb, esse conceito, responde a uma crise de consciência que
estamos vivendo. 175. Mal-estar: ruptura de freios.
103. É a Lei a Coisa? Não, mas não se pode conhecer a Coisa senão pela Lei – “trevas
exteriores”.
Ding
Assim como falta ao sujeito o significante que confira identidade a seu ser no campo do
Outro, o Outro não dispõe de um significante que venha definir sua Alteridade. Eis, ao
que nos parece, o que leva Derrida a afirmar que "o centro da estrutura pode ser dito,
paradoxalmente, na estrutura e fora da estrutura”.
O centro não é o centro. " Em virtude desse descentramento, conclui Derrida, "o
conceito de estrutura centrada - embora represente a própria coerência, a condição de
cpisteme como filosofia ou como ciência - é contraditoriamente coerente. E como
sempre, a coerência na contradição exprime a força de um desejo.
212. A Lei serve para ser transgredida e assim renovar os laços sociais (Moralität em
Hegel); se a transgressão passa do ponto, muda-se a Lei.
Imaginário: comunidade.
251. O gozo não se satisfaz com alguma necessidade, mas com a pulsão, que tem uma
dimensão histórica.
262-263. Curar o sujeito das más traduções para seu desejo – até o limite do incurável.
274. A dimensão do Bem levanta uma muralha na dimensão do nosso desejo.
Sublimação
O Belo purga, a gente não suporta não saber o que tá rolando. 309. O sofrimento é uma
estase eu que se afirma que o que é não pode entrar de novo no nada de onde saiu;
137. Sublimação eleva o objeto à dignidade da coisa. 147-148. Significante como vazo,
para conter o vazio: sublimação. Criacionismo, porque cria no nada (ex nihilo).
A arte organiza o vazio; religião evita o vazio – mas ele permanece ali; ciência:
descrença; rejeição do sentido e da presença da Coisa.
331. O aspecto comovente da beleza faz vacilar o juízo crítico; entre o bem e o mal.
334. Em Antígona não houve sublimação, a criação de um mediador simbólico – ela não
cedeu em seu desejo e nem o Outro se rompeu.
352. O analista tem um desejo prevenido, ele não pode dar o impossível.
356. Quem se pretende analista deve se confrontar com o desamparo. [Ler esse pedaço]
359. O que a análise articula: é mais cômodo sujeitar-se ao interdito que incorrer na
castração – melhor se limitar do que encarar a desgraça.
373. A única coisa da qual se possa ser culpado é de ter cedido em seu desejo. 375.
Ceder em seu desejo é trair.
1) A única coisa da qual pode ser culpado é de ter cedido em seu desejo.
2) O herói pode impunemente ser traído – o herói não se vinga porque seu desejo
é maior.
3) A traição fode com o homem comum, o tira dos trilhos.
4) Não há outro bem senão o que se pode se servir para pagar o preço de acesso
ao desejo.
95. Kant (ética)/Newton (física) – no século XX, uma ética e técnica que já não trazem
nada de novo.
320 e segs. Antígona: entre a vida e a morte (sua vida e morte e vida e morte da
comunidade).