Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE FERDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO


MESTRADO PROFISSIONAL EM ARQUITETURA, PROJETO E MEIO AMBIENTE

JOSÉ IDALÉCIO SATURNINO JÚNIOR


PAULO MÁRCIO DE LIMA

Teoria e Metodologia do Projeto em Arquitetura


REGIONALISMO CRÍTICO

NATAL – 2021
1. REGIONALISMO CRÍTICO - DEFINIÇÃO
Dito maneira breve o Regionalismo se coloca como uma crítica ao
modernismo Le Corbusiano.
Segundo Moore 2005, a perspectiva de um regionalismo progressista ou
crítico, pareia um antídoto para as fantasias regressivas do historicismo pós-
moderno.
O regionalismo crítico foi desenvolvido pelo historiador de arquitetura
britânico Kenneth Frampton. E ganhou muito destaque a partir da década de 60.
Que tinha como proposta o emprego de soluções locais ao invés de universais.
E nesse aspecto o geógrafo Jonh Agnew defende que é impossível compreender
os lugares dentro das dimensões limitadas da arquitetura ou da geografia física.
Ele argumenta que, as variáveis que caracterizam os lugares são polivalentes.
E oferece três elementos, ou escalas, para que possamos compreender o
fenômeno do lugar. Localização, Sentimento de lugar e localidade.
De acordo com o autor, o conceito de lugar é como um processo dinâmico
que liga humanos e não humanos no espaço, em uma variedade de escalas.
Para Frampton a valorização do lugar, se dá de diversas formas, enquanto que
para alguns valorizam um bom banho de rio, para outros a valorização se dá ao
fazer compras.
Do mesmo modo que o lugar é pensado tipicamente como algo que
possui, uma qualidade física, a tecnologia é, como o lugar, um campo em se
desenrola a luta entre interesses competitivos.
Segundo os sociólogos, Donald Mackenzie e Judith Wajcman, a
tecnologia inclui três qualidades “O conhecimento humano” os “Padrões de
Atividades Humanas” e os conjuntos de “Objetos Físicos”. Ou seja, é necessário
conhecimento não apenas para se construir os artefatos, mas também para
relacionar as condições naturais em que ele funciona e para usá-lo. Fica evidente
que os computadores, martelos e tratores são inúteis sem o conhecimento
humano e as práticas que os empregam.
E os aparatos tecnológicos podem ser chamados de rede técnica,
segundo Bruno Latour. Elas se referem não apenas a um conjunto de objetos,
mas as redes sociais que criam relações entre o conhecimento humano, as
práticas humanas e os recursos não humanos. Ela é essencialmente um
conceito espacial porque seu funcionamento depende da mobilização de
recursos humanos e não humanos existentes em diversos lugares. Um exemplo
disso são os arquitetos, seus clientes, os empreiteiros responsáveis pela
execução e os bancos que financiam, constituindo assim uma rede social de
construção.
A melhor maneira de compreender a tecnologia é através da geografia.
Por ela interpreta a realidade como acontecimentos humanos no espaço. Nos
faz compreender melhor como as redes técnicas dominam os lugares habitados
por humanos e não humanos.
O regionalismo crítico se propõe a valorizar tanto os meios tecnológicos e
a intimidade com o lugar como as forças históricas positivas. As doutrinas do
regionalismo crítico estão mais bem servidas pelas suposições não modernas.
O regionalismo crítico possui então uma ligação muito forte como não moderno,
no sentido de que não existe uma distância efetiva entre a cultura e natureza. E
que é difícil distinguir entre as qualidades de um lugar e as tecnologias
empregadas para cria-las, enquanto que o moderno existe uma separação entre
humano e objeto ou tecnologia.

2. SUA RELAÇÃO COM O MOVIMENTO MODERNISTA

Ele se propões a construir uma síntese não moderna positiva. E em


relação ao termo arquitetura crítica, o autor se apropria de um termo usado pelo
paisagista Jhon Tilmman Lyle, como “Arquitetura Regeneradora”. Isso porque
quando se usa o termo crítico, é necessário sempre se referir retroativamente
aos processos dialéticos modernos abraçados pela teoria crítica.
Lyle define um sistema regenerador como aquele que provê a substituição
permanente, através de seus próprios processos funcionais, da energia e dos
materiais utilizados no seu funcionamento. Esse termo usado como alternativa a
sustentabilidade, é feito, porque segundo seu ponto de vistam, sustentar as
atuais condições entrópicas não é suficiente.
O arquiteto Ando, reconhece que a arquitetura cria uma nova paisagem e
por isso tem a responsabilidade de ressaltar as características particulares de
um determinado lugar. E a arquitetura moderna tinha se tornado mecânica, e os
estilos pós modernos se empenharam em recuperar a riqueza formal que o
modernismo aparentemente descartava.
Na sociedade contemporânea, a arquitetura é condicionada por fatores
econômicos e na maior parte das vezes governada pela padronização e
mediocridade. O projetista sério deve questionar inclusive os requisitos dados e
refletir profundamente sobre o que realmente lhe está sendo encomendado.
A vida humana não tem a pretensão de se opor a natureza e não se
empenha em controla-la, mas antes, busca uma associação intima com a
natureza afim de se unir a ela.
Ao mesmo tempo que protege da natureza, uma habitação humana
deveria procurar trazer a própria natureza para dentro de casa.
Falamos anteriormente sobre o lugar, o regionalismo critico propunha
ainda uma análise desse entorno, para se apropriar das suas características
locais, relevo, entorno. Como foi o caso do conjunto Habitacional de Rokko, em
Kopbe situado numa encosta com 60º de inclinação. A ideia do projeto foi de
fazer a construção afogar-se ao longo da encosta, controlando a sua projeção
acima do solo afim de mistura-la a densa floresta ao seu redor.
A Abordagem do regionalismo crítico era o aproveitamento das
habilidades artesanais, dos materiais locais, além de uma receptividade a luz e
ao clima da região. Essas características ajudam a criar uma arquitetura mais
espacial e experimental do que orientar para a imagem.
De modo geral o regionalismo crítico incentiva a resistência a
homogeneização do ambiente construído. Framptom busca por uma arquitetura
que seja capaz de condensar o potencial artístico da região e ao mesmo tempo,
de reinterpretar as influências culturais vindas de fora.
E por que ele teve um impacto tão forte com relação ao modernismo?
Primeiro porque ele foi um movimento que surgiu como uma resposta aos
novos problemas criados pela globalização contemporânea.
E segundo, em 11 de fevereiro de 1948, foi realizado um debate público
no museu de arte moderna (MOMA) em Nova York, que tinha por tema “O que
esta acontecendo com a arquitetura moderna?”. Preocupados com isso, muitos
importantes arquitetos se reuniram para discutir esse assunto. Alguns dos
presentes foram: Alfred Barr Jr, diretor do Museu, Henry Russel Hitchcok, Phlip
Johnson, Walter Gropius, Marcel Brewer, Serge Chermayeff, George Nelson e o
Proprio Munford.
A maioria não entendeu a redefinição de Regionalismo apresentada por
Munford, e por isso foi criticado pela maioria. Suas ideias eram sempre lidas,
admiradas, mas respeitosamente ignoradas.
Quais era algumas das suas proposições:
Politicamente desejável e ecologicamente prudente.
Compreender os usos e abusos históricos do regionalismo, prestando
atenção especial na geografia das relações de poder.
Propor um movimento arquitetônico polêmico e não moderno
Muitos arquitetos aplicaram os fundamentos propostos pelo regionalismo
critico em seus projetos, por fazerem uso do relevo, dar atenção ao clima,
respeito pelo meio ambiente, ter um olhar especial para as edificações
existentes, aplicação dos materiais locais, uso de técnicas construtivas do lugar,
por ter um foco concentrado no contexto histórico e regional em que o projeto se
encontra. Apenas para mencionar algumas das características implantadas.
Para o regionalismo a cultura local é um ponto importante, mas não deve
ser um obstáculo para o emprego de novas técnicas arquitetônicas. Podemos
inseri-la entre a arquitetura vernacular e os edifícios internacionais.

3. ARQUITETOS E OBRAS REGIONALISTAS

No brasil temos o arquiteto Zanine Caldas que fez bom uso de madeiras
locais, em seus projetos.
Tadao Ando, com a igreja da luz no Japão.
Vittorio Gregotti, com seu projeto Unviversitá dela Calabria, na Itália.
Rafael Moneo com o Murcia City Hall na Espanha.
Luis Barragan com a Cuadra San Cristóbal no Méximo.
Alvaro Siza com o Pavilhão de Portugal em Portugal.
Podemos concluir que o regionalismo crítico não apenas nos alerta por
meio da poética de suas formas contra a perda da identidade do lugar e da
comunidade, mas também contra a nossa incapacidade reflexiva de tomarmos
consciência dessa perda no momento em que ela ocorre.
4. CONCLUSÃO

Não foram formuladas respostas as questões práticas como: “as casas de


madeira são menos atópicas do que as de concreto?” ou “as lanchonetes de
concreto são mais anômicas do que as de alvenaria?” Não foi feito uma lista de
critérios projetuais físicos de como ser um regionalista crítico. Porque ela não
contém uma lista de regras projetuais. Surgiu como uma das abordagem mais
interessantes na arquitetura contemporânea.

5. ANEXO
REFERENCIAS
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo:
Martins Fontes, 2008.

ANDO, Tadao. Igreja da Luz. 2011. Disponível em:


https://teturaarqui.wordpress.com/2011/02/02/igreja-da-luz-tadao-ando/. Acesso
em 08 abril 2021.

SP-ARTE 365, Centenário de Zanine Caldas. 2019. Disponível em:


https://www.sp-arte.com/editorial/zanine-o-projeto-para-o-desfrute/. Acesso em
08 abril 2021.
SIZA, Alvaro, Pavilhão de Portugal.2012. Disponível em:
https://dasculturas.com/2012/12/27/alvaro-siza-vieira-pavilhao-de-portugal-
expo-98/. Acesso em 08 abril 2021.
DAILY, Arch. Clássicos da Arquitetura: Quadra San Cristóbal e Fonte dos
Amantes / Luis Barragán. 2012. Disponível em:
https://www.archdaily.com.br/br/01-68137/classicos-da-arquitetura-quadra-san-
cristobal-e-fonte-dos-amantes-luis-barragan. Acesso em 08 abril 2021

MONEO, Rafael. MURCIA CITY HALL MURCIA, SPAIN 1991-1998.


Disponível em:
https://rafaelmoneo.com/en/projects/murcia-city-hall/. Acesso em 08 abril de
2021.

Você também pode gostar