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Site: direitomilitarnozoom.wordpress.com

Canal no Telegram: direito militar no zoom

“DICA QUENTE”: Live quinzenal no Instagram com


dicas de Direito Militar no perfil @prof.atalibaramos
(segunda-feira, 22:00h)

prof.atalibaramos

prof.atalibaramos

prof.atalibaramos

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Abreviaturas dos nomes de autores quando
mencionados:

Amin – Cláudio Amin Miguel

Coimbra – Cícero Robson Coimbra Neves

JCA – Jorge César de Assis

Lobão – Célio Lobão

Rosseto – Ênio Luiz Rosseto

Roth – Ronaldo João Roth

Marreiros – Adriano Alves Marreiros

Uzeda – Marcelo Uzeda

Brasileiro – Renato Brasileiro de Lima

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SETE DICAS que podem salvar a sua vida

em uma prova de Direito Militar

NOTA DO AUTOR

Este singelo ebook foi produzido com base em uma Live


ministrada no meu perfil de Instagram @prof.atalibaramos
com a finalidade de ser um material de consulta rápida ou,
na linguagem militar, um “papiro”, um “CABRAL”, um
“memento” para os estudantes de Direito Militar, os quais,
diante de tantos conteúdos a decorar e aprender, precisam
de estratégias que lhes ajudem a fixar o aprendizado.

Em hipótese alguma temos a pretensão de esgotar os


temas aqui abordados. Muito pelo contrário, os tópicos
servem como conhecimento básico, o mínimo necessário,
aquilo que ajuda a não “colar as placas”, a conquistar pelo
menos o “cinco bola, bola, de Caxias”, a fazer o “M1 A1” e

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“se safar”, para ter uma resposta coerente quando
perguntado acerca da temática.

Esperamos, sinceramente, que essas dicas rápidas


ajudem a salvar a sua vida em um momento de tensão de
provas que cobram o maravilhoso Direito Militar!

Que você as leia a ponto de gravá-las no coração!

BONS ESTUDOS!

Professor Ataliba Ramos

(Juiz Federal Substituto da Justiça Militar)

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DICA 1 – Use as Sandálias da Humildade:
Sistematize a classificação dos crimes
militares de modo simples em sua cabeça.

Há muita controvérsia na doutrina acerca do que


vem a ser o tal crime propriamente militar (ou
militar próprio, ou essencialmente militar).

Por isso, temos que conhecer, pelo menos, 5


Teorias acerca do assunto.

Boa diversão!

a) Teoria Clássica – com origem no Direito


Romano. O crime propriamente militar é aquele
que só pode ser cometido por militar (é o “crime do

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soldado”). O crime impropriamente militar pode ser
praticado por qualquer pessoa;

Gaivota “extra” – Esmeraldino Bandeira define o


crime propriamente militar como sendo o crime
“que só o soldado pode cometer”.

b) Teoria Topográfica – prestigiada entre alguns


autores de Direito Penal comum. O crime
propriamente militar é aquele só previsto no CPM
ou previsto de maneira diversa (art. 9º, I do CPM).
Já o crime impropriamente militar é previsto tanto
no CPM e CP.

c) Teoria Tricotômica (Amin e Ione de Souza


Cruz) – crime propriamente militar é aquele que só
pode ser cometido por militar. Crime tipicamente

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militar é aquele só previsto no CPM (ex:
insubmissão). Crime impropriamente militar é
previsto tanto no CPM e CP e pode ser cometido
por qualquer pessoa.

d) Teoria de Jorge Alberto Romeiro– o crime


propriamente militar é aquele cuja ação só pode
ser proposta contra o militar. Lobão critica essa
“Nova Teoria”, mas Cícero adota, fazendo a
ressalva de que se deve observar o princípio
“tempus regit actum”.

e) Teoria de Clóvis Beviláqua – classificava os


crimes militares em três grupos: os
essencialmente militares (próprios), os militares
por compreensão normal da função militar
(impróprios) e os acidentalmente militares
(praticados por civis).
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OBS: cuidado com esse segundo tipo da
classificação de Beviláqua (sublinhei): é o mais
difícil de decorar! Serve para cair em concurso, já
que, na prática, quase ninguém adota tal
nomenclatura.

Gaivotas andam em bando:

* Já que estamos falando de classificação dos


crimes militares, CUIDADO com a
INSUBMISSÃO.

É um crime que só está previsto no Código


Penal Militar, mas que só pode ser praticado
por civil. Então, não se “encaixa” no conceito de
crime propriamente militar na doutrina clássica. E
como fica?

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Há discussão na doutrina sobre a classificação
desse crime. Há quem entenda que ele seja:

a) Crime acidentalmente militar – JCA seguindo


a classificação de Clóvis Beviláqua

b) Crime propriamente militar– JAR, Alexandre


Saraiva.

c) Crime impropriamente militar – Lobão

d) Crime tipicamente militar– Amin

OBS: Jorge Alberto Romeiro o classifica como


propriamente militar sob o argumento de que o

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crime propriamente militar é aquele cuja ação só
pode ser intentada contra militar. Embora, quando
da prática do delito o agente seja civil, para a
propositura da ação, figura como condição de
procedibilidade a aquisição da condição de militar.

Ao nosso ver, a melhor forma de classificar a


INSUBMISSÃO é chamá-la de crime tipicamente
militar.

Gaivotas andam em bando:

Já que estamos falando da classificação dos


crimes militares, não deixe de ler sobre a “Teoria
do Cubo Impossível”, trazida por Marreiros.

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Já que estamos falando da classificação de
crime militar, não deixe de pesquisar os seguintes
temas em relação ao civil:

a) civil comete crime propriamente militar?

b) na Justiça Militar Estadual - que só processa e


julga militares estaduais por força do artigo 125 §
4º da CF/88 - o crime tipicamente militar cometido
por civil é fato atípico?

Tais respostas não serão aqui trazidas para não


fugir ao objetivo e característica do presente
ebook.

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DICA 2 – Lembre-se dos crimes militares por
extensão (crimes militares por equiparação à
legislação penal comum ou crimes extravagantes)

Com o advento da Lei 13.491/2017, houve um


impacto no tocante ao conceito de crime militar
impróprio. Ao dar ao inciso II, do art. 9º, deste
Código uma redação muito mais ampla, a
alteração legislativa mudou o conceito até então
pacífico sobre o que seria o crime militar impróprio.

Art. 9º Consideram-se crimes militares,


em tempo de paz:

I - os crimes de que trata êste


Código, quando definidos de modo
diverso na lei penal comum, ou nela não

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previstos, qualquer que seja o agente,
salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste


Código e os previstos na legislação
penal, quando praticados: (Redação
dada pela Lei nº 13.491, de 2017)

(...)

III - os crimes praticados por militar da


reserva, ou reformado, ou por civil, contra
as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no
inciso I, como os do inciso II, nos
seguintes casos:

Roth– usa a expressão delitos militares por


extensão. Vide artigo “Os delitos militares por

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extensão e a nova competência da Justiça Militar
(Lei 13.491/17)”. No esmo sentido JCA:

Portando, temos que a melhor


conceituação desta nova categoria de
crimes militares é a que foi dada por
Ronaldo Roth, ao conceituá-los
de crimes militares por extensão, ou
seja, os crimes existentes na legislação
comum que, episodicamente,
constituem-se crimes militares quando
preencherem um dos requisitos do inciso
II do artigo 9º do CPM [5]. Extensão de
quê? Das situações previstas no art. 9º
da lei penal castrense.

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Coimbra – usa a expressão crimes militares
extravagantes. Veja, por exemplo, o artigo “Crime
militar extravagante de lavagem de dinheiro”

STM - Por sua vez, tem utilizado com mais


frequência a expressão crimes militares por
extensão:

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO


(RSE). RECEBIMENTO COMO AGRAVO EM
EXECUÇÃO. LEI DE EXECUÇÕES PENAIS
(LEP). ADMISSÍVEL. OMISSÃO DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL MILITAR (CPPM).
INTEGRAÇÃO. MÉRITO. (...)

(...) V - Quanto aos efeitos que a citada


mudança legal produziu no Direito Penal
Militar, notável que por meio dessa se almejou

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tão só adequar os demais crimes praticados
por militares à configuração do "crime militar",
o que criou, em termo cunhado pela doutrina, a
nova categoria dos "crimes militares por
extensão", destacada no magistério de
Ronaldo João Roth, Cícero Coimbra e Jorge
César de Assis, dentre outros conceituados
autores de obras jurídicas. Diferentemente da
posição recorrida, constata-se que essa lei não
objetivou a derrogação das determinações
próprias do CPM em favor daqueles de outros
Diplomas. VI(...) X - Recurso admitido e conhecido
como Agravo em Execução e, no mérito, negado
provimento. Decisão Unânime. (Superior Tribunal
Militar. Recurso em Sentido Estrito nº 7000222-
55.2020.7.00.0000. Relator(a):Ministro(a)
PÉRICLES AURÉLIO LIMA DE QUEIROZ. Data
de Julgamento: 04/06/2020, Data de
Publicação: 12/06/2020)
17
EMENTA: HABEAS CORPUS. DEFESA
CONSTITUÍDA. ART. 282 DO CÓDIGO PENAL
COMUM. ARGUIÇÃO DE INCOMPETÊNCIA.
INDEFERIMENTO. PRELIMINAR DE NÃO
CONHECIMENTO ARGUIDA PELA
PROCURADORIA-GERAL DA JUSTIÇA
MILITAR. REJEIÇÃO. MAIORIA. MÉRITO.
DELITO MILITAR POR EXTENSÃO. ARTIGO 9º,
INCISO II, DO CÓDIGO PENAL MILITAR.
DENEGAÇÃO DA ORDEM. UNANIMIDADE. (...).
A arguição de incompetência foi apreciada pelo
Conselho Julgador de primeiro grau, tendo sido
rejeitada, dando ensejo ao presente writ,
observando-se, portanto, a dicção do art. 143 do
Código de Processo Penal Militar. Preliminar de
não conhecimento rejeitada. Decisão por maioria.
A novel redação do art. 9º do Código Penal

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Militar, dada pela Lei nº 13.491/2017, trouxe
verdadeira revolução no âmbito desta Justiça
Especializada no que tange ao aumento de sua
competência, fazendo inserir no rol dos crimes
militares não só os definidos no próprio Códex
Castrense, como também "(...) os previstos na
legislação penal (...)" no contexto das alíneas
do inciso segundo do referido dispositivo, aí
incluído o caso de agentes militares em
situação de atividade, "(...) contra o patrimônio
sob a administração militar, ou a ordem
administrativa militar." (artigo 9º, inciso II,
alínea "e"). Trata-se daquilo que a doutrina
passou a denominar "crime militar por
extensão". Nesse contexto, embora o bem
jurídico tutelado pela norma penal incriminadora
prevista no art. 282 do Código Penal comum tutele
a saúde pública, não se pode olvidar que o delito
militar por extensão, por integrar o Código Penal
19
Militar nas circunstâncias descritas pelo inciso II do
artigo 9º do referido Códex, passou a tutelar os
bens jurídicos diversos tais como a saúde, o
patrimônio, a fé pública, a dignidade sexual, entre
outros, como também objetiva assegurar a ordem,
a hierarquia e a disciplina castrenses, preceitos de
índole constitucional com base nos quais são
forjados os militares das Forças Armadas, nos
termos do art. 142 da Carta Magna. Denegação da
ordem. Decisão por unanimidade. (Superior
Tribunal Militar. Habeas Corpus nº 7000231-
17.2020.7.00.0000. Relator(a): Ministro(a)
CARLOS VUYK DE AQUINO. Data de
Julgamento: 07/05/2020, Data de Publicação:
22/05/2020)

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Gaivotas andam em bando:

OBS: Tome cuidado com os crimes eleitorais!

Como se trata de justiça especializada e com


competência constitucional, tais crimes serão lá
processados e não na justiça militar.

Nesse mesmo sentido, JCA no artigo “A Lei


13.491/17 e a alteração no conceito de crime
militar: primeiras impressões – primeiras
inquietações”.

Evidentemente, da Justiça Militar


escapam os chamados crimes
eleitorais [1], cujo processo e
julgamento foi devidamente
21
excepcionado pela Constituição Federal
que deu ênfase à sua especialidade [2].

QUESTÃO: o civil pode cometer um crime militar


por extensão?

Entendemos que SIM. O agente civil pode


cometer crime militar por extensão porque o inciso
III do artigo 9º do CPM expressamente faz
remissão ao inciso II (que foi alterado prevendo a
ampliação da competência).

Art. 9º Consideram-se crimes militares,


em tempo de paz:

(...)

III - os crimes praticados por militar da


reserva, ou reformado, ou por civil, contra
22
as instituições militares, considerando-se
como tais não só os compreendidos no
inciso I, como os do inciso II, nos
seguintes casos:

Exemplo: um traficante, no Rio de Janeiro, mata


um militar do Exército Brasileiro que atua em
Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Nesse caso, entendemos que o agente responde,
pelo princípio da especialidade, na pena constante
no artigo 121 § 2°, inciso VII do CP.

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte


anos.

(...)

§ 2° Se o homicídio é cometido:

23
(...)

VII – contra autoridade ou agente


descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição: (Incluído pela
Lei nº 13.142, de 2015)

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DICA 3 – Tenha sempre uma carta na manga:
Decore alguns crimes “próprios militares”:

NÃO confunda crime militar próprio com crime


próprio militar!

Crime próprio militar– é aquele que só está


previsto no Código Penal Militar e que só pode ser
cometido por militar em uma condição especial. Ou
seja: não é qualquer militar que pode cometê-lo.

Pode-se dizer que o crime próprio militar é uma


espécie do gênero crime militar próprio.

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Exemplos de crimes próprios militares:

a) os crimes do comandante (artigos 198 a 201,


372 e 378, todos do CPM)

b)os crimes praticados por subordinado


(desacato a superior, art. 298; violência contra
superior, art. 157; recusa de obediência, art. 163,
todos do CPM);

c) exercício de comércio por oficial da ativa, art.


204 do CPM, cujo autor invariavelmente será um
oficial da ativa.

Gaivotas andam em bando:

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Já que falamos sobre o artigo 204 do CPM,
saiba que há discussão na doutrina acerca desse
delito. Lobão, por exemplo, entende que a conduta
deveria ser resolvida na esfera administrativa. JCA
concorda.

Há operadores do Direito Militar que entendem,


ainda, que a distinção de tratamento entre oficiais
e graduados é inconstitucional, porque a restrição
ao exercício do comércio deveria abranger todos
os militares de carreira, oficiais ou não, inexistindo
justificativa plausível para a discriminação.

Todavia, o STM vem aplicando normalmente este


tipo penal:

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EMENTA: HABEAS CORPUS. EXERCÍCIO DE
COMÉRCIO POR OFICIAL. INEXISTÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL OU DE
IRREGULARIDADE NA INSTAURAÇÃO DA
AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE PERIGO DA
AFETAÇÃO DO STATUS LIBERTATIS DA
PACIENTE. DENEGAÇÃO ORDEM.
UNANIMIDADE. I - Descabe falar em atipicidade
da conduta quando não há ato de ilegalidade,
constrangimento ou afetação do status libertatis da
Paciente ante o curso da apuração do fato. II - O
remédio constitucional do habeas corpus visa
preservar a liberdade de locomoção do indivíduo
que a tem por prejudicada ou ameaçada, o que
não se constatou no presente caso. Ordem de
Habeas Corpus denegada. Decisão unânime.
(STM - HC 7000068-42.2017.7.00.0000, Relator
Ministro ODILSON SAMPAIO BENZI. Publicação
em 22/2/2018.) (Superior Tribunal Militar. Habeas
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Corpus nº 7000068-42.2017.7.00.0000.
Relator(a): Ministro(a) ODILSON SAMPAIO
BENZI. Data de Julgamento: 08/02/2018, Data de
Publicação: 22/02/2018)

OBS: Nesse caso concreto a agente foi, de fato,


processada e julgada perante a 1ª Auditoria da 3ª
CJM, sendo absolvida com base no artigo 439 “b”
do CPPM porque a conduta não se amoldava ao
tipo penal do artigo 204 do CPM.

APELAÇÃO. RECURSO DEFENSIVO. ART. 204


DO CPM. EXERCÍCIO DE COMÉRCIO POR
OFICIAL. SÓCIO-COTISTA EM SOCIEDADE DE
RESPONSABILIDADE LIMITADA.
HABITUALIDADE. LUCRATIVIDADE. OFENSA
À EXCLUSIVA DEDICAÇÃO AO SERVIÇO
MILITAR. CONDENAÇÃO. APELO DEFENSIVO
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DESPROVIDO. Viola o tipo incriminador do art.
204 do Código Penal Militar a ação de Oficial
das Forças Armadas que se dedica, com
habitualidade, à atividade típica da mercancia,
com consequente geração de lucros,
concomitantemente ao tempo em que ocupa o
posto no quadro de Oficiais. A nominada
conduta vai de encontro à exclusiva dedicação que
se espera do militar aos deveres inerentes à sua
profissão. Insofismável a atuação ilícita do
acusado ao ser revelada a realização de mais de
duzentas ligações telefônicas oriundas do ramal
exclusivo utilizado pelo Oficial na Organização
Militar (gerenciamento), além de relatos de
testemunhas de que frequentemente o militar
estava presente no local da empresa
(habitualidade). Ademais, documento fornecido
pela Junta Comercial Estadual informa que o nome
do Oficial, ora acusado, figura como sócio da
30
empresa, onde inclusive teve inúmeros bens
apreendidos pela Polícia Federal por falta de nota
fiscal. Apelo defensivo desprovido. Decisão
unânime. (Superior Tribunal Militar. Apelação nº
0000108-53.2012.7.01.0401. Relator(a):
Ministro(a) FRANCISCO JOSELI PARENTE
CAMELO. Data de Julgamento: 02/05/2017, Data
de Publicação: 11/05/2017)

Gaivota extra:

MPM. ARTIGO 204 DO CPM. EMPRESA


INATIVA. ATOS DE GESTÃO REALIZADOS SEM
HABITUALIDADE. ATOS INAPTOS A ATINGIR O
BEM JURÍDICO TUTELADO, DEDICAÇÃO
EXCLUSIVA AO SERVIÇO MILITAR. NÃO
PROVIMENTO. I. O exercício de comércio por
oficial é crime que exige habitualidade. A ausência
31
de habitualidade no desempenho das funções de
administração e gestão empresarial de uma
empresa que pode ser considerada inativa de fato
não tem o condão de afetar a dedicação exclusiva
ao serviço militar exigida do Oficial. II. A pena do
artigo 64, parágrafo único, do CPM, não pode
ser aplicada ao oficial temporário já licenciado
do serviço militar, uma vez que sua condição é
de reservista do serviço militar, diferente do
oficial da reserva remunerada, o qual é militar
de carreira. Preliminar de prescrição rejeitada.
Unânime. Recurso não provido. Decisão unânime.
(Superior Tribunal Militar. Apelação nº 0000083-
66.2014.7.12.0012. Relator(a): Ministro(a) JOSÉ
COÊLHO FERREIRA. Data de Julgamento:
18/08/2016, Data de Publicação: 08/09/2016)

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DICA 4 – Saiba a consequência de um crime ser
considerado propriamente militar (militar
próprio, essencialmente militar).

NÃO é discussão meramente acadêmica. Há


consequências práticas importantes. Vejamos:

1ª) Artigo 5º, inciso LXI da CF/88 (pode haver


prisão sem flagrante de delito e sem ordem
judicial)

LXI - ninguém será preso senão em


flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei;

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2ª) Artigo 18 do CPPM (pode ser aplicado
somente em casos de crimes propriamente
militares):

Detenção de indiciado

Art. 18. Independentemente de


flagrante delito, o indiciado poderá ficar
detido, durante as investigações
policiais, até trinta dias, comunicando-se
a detenção à autoridade judiciária
competente. Êsse prazo poderá ser
prorrogado, por mais vinte dias, pelo
comandante da Região, Distrito Naval ou
Zona Aérea, mediante solicitação
fundamentada do encarregado do
inquérito e por via hierárquica.

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3ª) Artigo 64, II do CP (não será considerado
reincidente)

Art. 64 - Para efeito de reincidência:

(...)

II - não se consideram os crimes


militares próprios e políticos.

4ª) Artigo 614, III do CPPM (causa de revogação


obrigatória do sursis)

Art. 614 - A suspensão será revogada se,


no curso do prazo, o beneficiário:

I - for condenado, na justiça militar


ou na comum, por sentença irrecorrível, a
pena privativa da liberdade

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II - não efetuar, sem motivo
justificado, a reparação do dano;

III - sendo militar, for punido por


crime próprio ou por transgressão
disciplinar considerada grave.

DICA 5 – Para uma prova, cuidado ao tipificar o


crime militar (seja exato)

Pela clareza da explicação, vamos nos valer das


lições trazidas por Brasileiro em sua obra “Manual
de Processo Penal” (2020, pag 448):

Crimes militares de tipificação direta - são


aqueles mencionados no art. 9º, inciso I, do CPM.
Versando esse inciso acerca dos crimes de que
trata o Código Penal Militar, quando definidos de

36
modo diverso na lei penal comum, ou nela não
previstos, qualquer que seja o agente, salvo
disposição especial, verifica-se que, para o juízo
de tipicidade de tais delitos, basta a descrição
típica da parte especial do Código Penal Militar, na
medida em que o inciso I do art. 9º não contém
qualquer circunstância que possa ser constitutiva
de um tipo penal. A título de exemplo, temos que
tanto o delito de deserção, previsto no art. 187 do
CPM, quanto o delito de ingresso clandestino,
previsto no art. 302 do CPM, e o de furto de uso
(CPM, art. 241) são crimes militares de tipificação
direta, pois não estão previstos na legislação penal
comum. Nesse caso, ao se fazer o juízo de
tipicidade, basta fazer menção ao artigo da Parte
Especial do Código Penal Militar, sem
necessidade de se apontar qualquer inciso ou
alínea do art. 9º do CPM. Não se pode confundir o
conceito de crime propriamente militar com o
37
conceito de crime militar de tipificação direta.
Como visto acima, crime propriamente militar é
aquele que só pode ser praticado por militar. Já os
crimes militares de tipificação direta podem ser
praticados tanto por militar quanto por civil.

Os crimes militares de tipificação indireta estão


previstos nos incisos II e III do art. 9º do CPM. São
aqueles previstos no Código Penal Militar e na
legislação penal. Como tais delitos também estão
previstos na lei penal comum, afigura-se
indispensável a conjugação dos elementos da
descrição típica da Parte Especial do Código Penal
Militar ou da Legislação Penal (Código Penal
Comum e Legislação Especial) com os elementos
de uma das alíneas dos incisos II e III do art. 9º do
CPM. Por exemplo, imaginando-se um estelionato
cometido por civil contra o patrimônio sob a

38
administração militar das Forças Armadas, não
basta que o órgão do Ministério Público Militar, ao
oferecer denúncia, faça menção ao art. 251, caput,
do CPM – cuja redação é idêntica à do art. 171 do
CP –, devendo, ademais, apontar a alínea “a” do
inciso III do art. 9º do CPM, haja vista tratar-se de
crime praticado por civil contra o patrimônio sob a
administração militar. Somente assim estará
aperfeiçoado o juízo de tipicidade, tipificando-se o
estelionato como crime militar. Na mesma linha de
raciocínio, caso um Soldado da Polícia Militar
ofenda a integridade corporal de outro Soldado da
Polícia Militar, ter-se á caracterizado o crime militar
de lesão corporal – art. 209, caput, c/c art. 9º,
inciso II, “a”, ambos do CPM.

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DICA 6 – Fixe em sua mente a diferença entre a
Justiça Militar da União e a Justiça Militar
Estadual.

Quanto ao tema, muito elucidativa também é essa


Tabela trazida por Brasileiro em sua obra Manual
de Processo Penal Militar (2020, pág 444):

Justiça Militar da União Justiça Militar Estadual

1. Competência criminal: 1. Competência criminal:


crimes militares. Com o crimes militares. Com o
advento da Lei n. advento da Lei n.
13.491/17, consideram-se 13.491/17, consideram-se
crimes militares não crimes militares não
apenas os crimes previstos apenas os crimes previstos
no Código Penal Militar, no Código Penal Militar,

40
mas também os previstos mas também os previstos
na legislação penal; na legislação penal;

1.1. Tem competência para 1.1. Não tem competência


o processo e julgamento de para o processo e
crimes dolosos contra a julgamento de crimes
vida cometidos por dolosos contra a vida
militares das Forças cometidos por militares
Armadas contra civis estaduais, ainda que em
(CPM, art. 9º, §2º, incluído serviço, contra civis (CF,
pela Lei n. 13.491/17); art. 125, §4º);

2. Competência cível: não 2. Competência cível: é


tem competência para o dotada de competência
processo e julgamento de para o processo e
ações judiciais contra atos julgamento de ações
disciplinares militares; judiciais contra atos
disciplinares militares;

3. Acusado: pode 3. Acusado: pode


processar e julgar tanto processar e julgar somente
civis quanto militares; os militares dos Estados;

41
5. Órgãos jurisdicionais de 5. Órgãos jurisdicionais de
1ª instância: a) Juízes 1ª instância: a) Juiz de
Federais da Justiça Militar: Direito do Juízo Militar:
têm competência julga, monocraticamente,
monocrática para o os crimes militares
processo e julgamento de cometidos contra civis e as
civis, e militares, quando ações judiciais contra atos
estes forem acusados disciplinares militares; b)
juntamente com aqueles Conselhos Especial e
no mesmo processo; b) Permanente de Justiça:
Conselhos Especial e julgam os demais crimes
Permanente de Justiça: militares;
julgam os crimes militares
praticados apenas por
militares federais;

6. Presidência dos 6. Presidência dos


Conselhos de Justiça: Juiz Conselhos de Justiça: Juiz
Federal da Justiça Militar; de Direito do Juízo Militar;

42
7. Órgão jurisdicional de 2ª 7. Órgão jurisdicional de 2ª
instância: Superior Tribunal instância: Tribunal de
Militar. Justiça Militar, nos estados
de Minas Gerais, São
Paulo e Rio Grande do Sul;
Tribunal de Justiça do
Estado, nos demais
estados da Federação.

Lembra da dica de pesquisa?

“na Justiça Militar Estadual - que só processa e


julga militares estaduais por força do artigo 125 §
4º da CF/88 - o crime tipicamente militar cometido
por civil é fato atípico?”

43
Sem querer dar spoiler, só vamos adiantar que há
entendimento no sentido de que, no âmbito
estadual, os crimes previstos no CPM praticados
pelo civil serão processados e julgados na justiça
comum somente se houver tipificação na
legislação penal comum (ex: violência contra
militar de serviço será processado e julgado como
lesão corporal).

O ingresso clandestino (artigo 302 CPM), por


exemplo, será fato atípico (não há crime na
legislação penal comum equivalente).

Mas há controvérsia! Pesquise!

44
DICA 7–Tenha sempre em mente o artigo 47 do
CPM quando estiver diante de uma situação de
crime militar envolvendo superior e inferior
hierárquico.

Esse artigo deve vir imediatamente à sua mente


quando, na narrativa de uma questão, o
examinador deixar claro que os militares
envolvidos não se conheciam.

Vejamos a aplicação prática dessa estratégia


naquilo que chamamos de “Caso do Scooby-Doo”.

45
BRIGA NA BOATE

Caio e Tício não se conheciam e brigaram em


uma boate. Caio deu um soco na face de Tício e o
deixou com olho roxo. Ambos foram levados à
Delegacia de Polícia e...

Lá chegando, descobriu-se que Caio era Sargento


do Exército e Tício era Capitão da Aeronáutica.

Gaivotas andam em bando:

Já que estamos falando de um crime


envolvendo dois militares, pergunta-se: De
quem é a competência para processar e julgar tal
fato? Qual o crime em questão?

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1ª Corrente (STF e STJ) – Para atrair a
competência da Justiça Militar (nesse caso a
JMU), não basta que o crime seja cometido por
militar contra militar (artigo 9º II, “a” do CPM).

No caso concreto, a briga não se deu em local


sujeito à Administração Militar. Os agentes nem
sabiam da condição de militar um do outro.
Portanto, a competência será da Justiça Comum
já que o fato nada tem a ver com a rotina da
caserna nem com hierarquia e disciplina.

2ª Corrente (STM) – a competência será da


Justiça Militar (nesse caso a JMU), pois o delito foi
cometido por militar contra militar (artigo 9º II, “a”
do CPM). O critério da lei é puramente objetivo.

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E qual será o crime em questão?

Lesão corporal. Em hipótese alguma (ainda que


julgado na Justiça Militar) será violência contra
superior, por força do artigo 47, inciso I do CPM:

Art. 47. Deixam de ser elementos


constitutivos do crime:

I – a qualidade de superior ou a de
inferior, quando não conhecida do
agente;

II – a qualidade de superior ou a
de inferior, a de oficial de dia, de
serviço ou de quarto, ou a de
sentinela, vigia, ou plantão, quando a
ação é praticada em repulsa a
agressão.

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OBS: É óbvio que, na sua prova, a expressão “que
não se conheciam”” não virá iluminada e negritada
como aqui. Mas, sinceramente, esperamos que,
em sua mente, seja como se estivesse, como
resultado desta dica, que fará acender a luz!

É isso pessoal! Espero que tenham gostado!

Carreguem essas dicas rápidas com vocês, até


que, da mente, desçam para o coração! Rsrsrsrs

BONS ESTUDOS!

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