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Clube recreativo tem responsabilidade

civil subjetiva
Por André da Silva Sacramento

Da relação entre clube e associado podem decorrer várias situações que desafiam a
interpretação do jurista. O presente artigo tem o escopo de analisar qual a natureza
jurídica da responsabilidade civil que nasce dessa relação – subjetiva ou objetiva – e,
em decorrência, se são aplicáveis os ditames do Código de Defesa do Consumidor.

Maria Helena Diniz define a responsabilidade civil como “a aplicação de medidas que
obriguem alguém a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiro em razão de
ato próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal
sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal
(responsabilidade objetiva).” [1]

Assim, é sabido que a responsabilidade subjetiva exige a presença do elemento culpa,


ao passo que a objetiva, decorre de lei, independentemente, da existência ou não da
culpa. A questão que se enfrenta nesse momento é se o conceito de fornecedor
apresentado no artigo 3º do CDC se estende aos clubes recreativos, e, via de
consequência, se a responsabilidade civil decorrente é objetiva. Dispõe o mencionado
dispositivo legal:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Ainda que os clubes, em regra, sejam associações, as quais têm caráter de ente
despersonalizado, para que se caracterize como fornecedor/prestador de serviço nos
termos do CDC, deve ser levado em conta o seu fim social. No caso dos clubes, sua
atividade não se enquadra em nenhuma daquelas previstas no artigo supra colacionado,
o que por si só já resolveria a questão.

A diferença existente entre clube e empresa com qualidade de fornecedor/prestador de


serviço é que, no primeiro, em decorrência de sua natureza, as decisões são tomadas
pelos próprios associados, ao passo que, nas demais, são tomadas exclusivamente pelos
proprietários/sócios da empresa sem que o interessado possa intervir de qualquer
maneira.

Assim, considerando que são os próprios associados dos clubes que deliberam acerca de
seus destinos, não se pode dizer que eventual serviço prestado seja caracterizado como
relação de consumo. José Geraldo Brito Filomeno, a respeito do assunto, ensina que
“quem delibera sobre seus destinos são os próprios interessados, não se podendo dizer
que eventuais serviços prestados pelos seus empregados, funcionários ou diretores,
síndico e demais dirigentes comunitários, sejam enquadráveis no rótulo 'fornecedores',
conforme nomenclatura do Código de Defesa do Consumidor.” [2]
Logo, como a questão não deve ser analisada segundo a ótica do Código de Defesa do
Consumidor, mas sim, do Código Civil, isso implica dizer que a responsabilidade será
sempre subjetiva e, não, objetiva.

Os eventos ocorridos nas dependências dos clubes recreativos devem ser solucionados
de acordo com o que foi ajustado pelos próprios associados, que devem se submeter ao
que restou decidido em assembleia ou, pelo conselho deliberativo, para todos os fins.
Esse entendimento restou pacificado perante o Superior Tribunal de Justiça:

A hipótese não é de ser assimilada a outras, em que este Tribunal tem reconhecido
a responsabilidade de quem propicia estacionamento, consagrado esse
entendimento na súmula 130. Ali se cuida das relações de empresas com seus
clientes. Teve-se em conta o proveito econômico que aqueles obtêm, na medida em
que ensejam possam os veículos ser estacionados em lugares que ofereçam
comodidade para a clientela, pois com isso visam exatamente a aumentá-la. E não
há um acordo de vontades entre a empresa e seus clientes de que resulte a exclusão
da responsabilidade. Na hipótese em exame, os sócios acordaram em que mais
convinha ao interesse de todos que a comunidade não se responsabilizasse pelo
pagamento dos questionados danos. Não há nisso ofensa a qualquer norma
jurídica, cuja observância seja inarredável, nem a algum princípio ético. Há de
prevalecer a disposição interna, fruto da vontade da maioria dos associados. (Resp
86.137/SP, Min. Eduardo Ribeiro, 3ª Turma)

Na omissão do regulamento interno do clube, a questão deverá ser enfrentada pela ótica
do Código Civil com a aplicação da responsabilidade subjetiva. Isso significa dizer que
para o clube ser responsabilizado deverá o associado demonstrar a existência da culpa
do agente na prática do ato ilícito nos termos do art. 186 do citado codex: “Art. 186.
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Demonstrada a existência do ato ilícito culposo, dano e nexo de causalidade,


caracterizada estará a obrigação de indenizar. Sendo que, quanto ao ônus da prova, deve
ser observada a regra do artigo 333, I do Código de Processo Civil.

Assim, diante de tais considerações, conclui-se que as relações entre clube e associado
devem ser regidas pelas deliberações da assembleia, bem como, pelas regras do Código
Civil Brasileiro, sendo aplicada a responsabilidade subjetiva.

Clube não deve indenizar por furto de


carro em estacionamento
Clubes não devem indenização a sócios que tiverem seus carros furtados na
dependência do estabelecimento, a não ser que haja norma expressa em que a entidade
assuma a responsabilidade pelos danos. O entendimento é da 4ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça. Os ministros acolheram recurso do Clube Mogiano, de São Paulo.

A sócia do clube, Márcia Sueli Campardo, entrou com ação de indenização na Justiça
porque sua moto foi furtada dentro do estabelecimento. A primeira instância condenou o
clube a pagar indenização por danos materiais, mas não reconheceu que houve danos
morais. As duas partes apelaram. O Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a
sentença.

O caso chegou ao STJ. O clube Mogiano alegou que é uma associação social e
recreativa, o que afastaria qualquer semelhança com um estacionamento remunerado de
veículos. Por isso, não seria responsável pela guarda deles.

A 4ª Turma acolheu o argumento. Usou a jurisprudência análoga para condomínios. De


acordo com o tribunal, “fazer todos os condôminos responderem pela perda de um dos
veículos corresponderia a uma espécie de seguro, em que os bens segurados seriam de
diferentes valores. Alguém que tivesse um veículo modesto poderia ser chamado a
pagar pela perda de um automóvel de luxo”, considerou.

O STJ reconheceu que só haveria a responsabilidade se estivesse expressamente


prevista em convenção, o que não ocorreu no caso. “Nessas condições, portanto, salvo
existindo norma expressa, taxativa, da entidade, assumindo a responsabilidade pelo
dano ao sócio, nenhuma indenização é devida”, finalizou o ministro Aldir Passarinho
Júnior, relator do caso.

REsp 310.953

SOLICITAÇÃO DE CERTIDÃO REGULARIDADE FISCAL

Prezado Sr(a) mario gonçalves de oliveira filho

Sua solicitação foi aceita em 12/03/2011.

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Número do Pedido: 16407 Ano: 2011

Contribuinte: mario gonçalves de oliveira filho

CPF: 247.566.527-00

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