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O julgamento oculto

As pessoas estão preocupadas: Manuel


Chang vai mesmo ser julgado? A grande
pergunta é realmente uma outra: afinal,
“onde” vai ele ser julgado? Essa pergunta
esconde uma outra interrogação que é
seguinte: “quem” vai finalmente julgar o
ex-ministro? Reina a percepção que, lá
fora, a justiça será mais rigorosa. Que lá
fora se evitará uma certeira lavagem de
culpas depois de uma alegada lavagem
de dinheiro. E todos sabemos: mundo
anda demasiado sujo por causa de tanta
lavagem.

Outras preocupações se juntam: mas é


só ele? E os outros? E quando se
pergunta por esses outros olha-se não
para o lado mas para cima. Quer-se dizer:
os que mandavam no Chang. Nunca se
falou tanto de um julgamento que ainda
está por haver. As pessoas falam porque
estão obviamente cansadas dos
julgamentos que ficam sempre por
acontecer. E agora, este Manuel Chang,
com ou sem culpa formada, resume num
só nome todos os nomes dos que
permaneceram acima da justiça. Manuel
Chang é um nome que se passou a dizer
no plural.

Partilho dessas interrogações. E tenho


mais uma: não é apenas do julgamento de
Chang que estamos a falar. Estamos a
falar do julgamento de milhões de
moçambicanos. De um julgamento que
nunca chegou a acontecer mas do qual
resultou uma sentença contra todos nós,
condenando-nos a pagar uma dívida de
milhões de dólares que terão ido parar
aos bolsos de uns poucos nacionais e
estrangeiros. Existe, pois, para além uma
dívida oculta, um julgamento oculto. Esse
julgamento produziu a mais insólita das
sentenças: os que foram roubados foram
declarados culpados e intimados a
indemnizar os que roubaram. Não foram
apenas os moçambicanos em idade
adulta que foram punidos: foram os
filhos, os netos e todos os que, antes de
saber o que é dinheiro, já sabem o que é
estar endividados.

Já que houve um julgamento sem tribunal


nem juiz que haja agora um novo
veredicto em que sejamos ilibados dessa
punição. Moçambique e moçambicanos
merecem libertos dessa ilegal sentença.

PS – Circulam por aí textos que são


indevidamente imputados à minha
pessoa. Outros como Teodato Hunguana
queixam-se do mesmo. Haverá, ao que
tudo indica, uma fábrica de falsificação
de textos de opinião. Por favor, a todos os
leitores peço: não divulguem textos sem
ter antes confirmado a sua autoria. O que
dá força aos cobardes falsificadores de
textos é a nossa apressada ingenuidade.
Não nos tornemos cúmplices dessas
desavergonhadas mentiras.

“Chapeiros” determinam suspensão


de pagamento de portagem

O Fundo Nacional de Estradas suspendeu


temporariamente o pagamento da
portagem na ponte sobre o rio Incomáti,
designadamente numa estrada terciária
que liga Moamba a Sabié. A medida foi
tomada depois dos protestos
protagonizados pelos transportadores
semi-colectivos de passageiros, na
manhã da última quarta-feira, os quais
paralisaram a circulação de veículos e
exigiram a interrupção do desembolso do
valor referente à taxa cobrada pelo uso
daquela infra-estrutura.

No decurso da manifestação, os
transportadores argumentaram que não
fazia sentido pagar uma portagem, ao
mesmo tempo que vão somando
prejuízos nas suas viaturas, dado o
estado avançado de degradação daquela
via, o que dificulta a sua
transitabilidade. Diante da pressão dos
“grevistas”, o Fundo Nacional de Estradas
viu-se obrigado a interromper a cobrança
de portagem, cedendo, deste modo, ao
desejo transportadores. (Carta)

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